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HISTORIA BRASIL CONTEMPORANEO DE 1930 ATE DIAS ATUAIS

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HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO: 
REVOLUÇÃO DE 30 ATÉ A ATUALIDADE 
INTRODUÇÃO 
 
Neste módulo, estudaremos um período histórico muito próximo ao nosso 
tempo vivido. Essa proximidade coloca certas dificuldades, pois ainda 
vivemos diretamente as consequências do que aqui será analisado. 
Podemos dizer que, sobretudo na parte final, alguns dos acontecimentos 
ainda estão em desdobramento. 
Iniciaremos a nossa trajetória compreendendo o que foi o período de 
transição ditatorial para a democracia. Como se deu e os motivos da 
derrota do movimento Diretas Já. As consequências da eleição indireta que 
levou o primeiro presidente civil ao poder, depois de 21 anos de ditadura. 
Compreenderemos o processo para a aprovação da Constituição de 1988, 
que é a que continua em vigência. Entenderemos os motivos para ser 
considerada e chamada de Constituição Cidadã. 
No mesmo período, teremos de entender como se deu a crise econômica 
que abateu o país como consequência do “milagre econômico” do período 
militar. Analisaremos o que foram os planos econômicos que buscaram 
combater e superar essa crise. 
A primeira eleição direta para presidência ocorreu em 1989. Ela foi vencida 
por Fernando Collor de Mello que, com uma proposta de mudanças no 
Estado e na economia e de combate à corrupção, foi escolhido pela maioria 
dos brasileiros. Seu governo foi alvo de denúncias de corrupção e ele sofreu 
o processo de impeachment, assumindo o posto seu vice, Itamar Franco. 
Com esses dois presidentes, iniciou-se no Brasil a influência das 
perspectivas neoliberais que se consolidaram durante a presidência 
seguinte, de Fernando Henrique Cardoso – diminuir o Estado, incentivar a 
livre concorrência e privatizar foram os centros de sua política. 
A crise econômica e a crise mais geral do neoliberalismo abriram caminho 
para a vitória de Luís Inácio Lula da Silva à presidência, dando início ao 
período de governo petista, que se estendeu por dois mandatos de Lula, até 
ser interrompido pelo processo de impeachment da presidente Dilma, no 
seu segundo mandato. O PT mudou, em parte, as políticas do período 
anterior, sobretudo na área social, mas o partido não resistiu diante das 
denúncias de corrupção que o acompanharam no poder. 
CONSTRUINDO A DEMOCRACIA 
 
DO MOVIMENTOS DIRETAS JÁ À 
ELEIÇÃO DIRETA 
Durante o governo do presidente militar, João Figueiredo (1979-1985), um 
movimento social de grandes proporções tomou conta do país: o 
movimento Diretas Já. Reunindo diferentes grupos sociais e organizações 
políticas, o movimento lutava pela aprovação pelo Congresso da lei que 
permitiria a primeira eleição direta para presidência da República, desde 
Jânio Quadros, em 1960. 
O movimento reuniu todos os grupos políticos que atuavam contra a 
ditadura, que chegava ao seu final. Assim, diferentes partidos políticos – 
que puderam se reorganizar com o fim do bipartidarismo –, lideranças 
sociais, artistas e intelectuais se juntaram para organizar passeatas e 
comícios. Eles buscaram mobilizar a população para levar às ruas vozes que 
demandavam por eleições diretas. Considerando as enormes mobilizações, 
a maior que o país conheceu até então, o movimento foi bem-sucedido. No 
entanto, vencer os grupos políticos vinculados à ditadura não era uma 
tarefa fácil. A proposta do deputado Dante de Oliveira pela eleição direta 
perdeu e a lei não foi aprovada. A proposta sofreu forte resistência dos 
apoiadores da ditadura articulados pelo deputado Paulo Maluf. 
Em 1985, ocorreu a eleição indireta, na qual disputaram Paulo Maluf, pelo 
PDS, partido governista, contra Tancredo Neves, pela Aliança Democrática. 
A vitória foi de Tancredo, mas ele não assumiu, pois faleceu no dia 21 de 
abril de 1985, provocando grande comoção nacional. 
Com a morte de Tancredo Neves, ocorreu um período de instabilidade, mas 
o vice, José Sarney, assumiu a presidência, dando início ao primeiro 
governo civil, depois de 21 anos de ditadura. Embora fosse vice de 
Tancredo, a trajetória política de Sarney era bastante distinta, pois ele era 
apoiador da ditadura e membro do partido governista, Arena, e depois do 
PSD. Durante a votação pelas Diretas Já, ele era líder do PSD e havia 
votado contra ela. A sua mudança do PSD para Aliança Democrática se deu 
no entorno dos conflitos internos na legenda, devido à candidatura de Paulo 
Maluf. Assim, Sarney despertava a desconfiança dos setores que defendiam 
a democracia. 
O governo Sarney aconteceu em um contexto de dificuldades para o país, e 
dois grandes desafios estavam colocados: 1-) uma nova constituição e 2-) 
superar a crise econômica. Duas mudanças significativas teriam de ser 
produzidas no país e Sarney, que havia prometido a Tancredo realizar as 
mudanças necessárias, deu origem ao que se convencionou chamar de 
“Nova República”. 
O Brasil República não tinha uma democracia consolidada. Mesmo quando 
observamos a história anterior, dos 21 anos em que os militares 
permaneceram no poder como ditadores, são poucos os períodos que 
podemos considerar como democráticos. Assim, o primeiro desafio do país 
estava em buscar consolidação da democracia, estabelecer um novo regime 
legal que ampliasse a participação e o poder dos cidadãos. 
Para a redemocratização era preciso uma nova constituição. Assim, uma 
Assembleia Nacional Constituinte foi formada e uma nova Constituição 
Federal foi promulgada, em 5 de outubro de 1988. A Constituição de 1988 – 
que continua em vigência – é a mais democrática da história do Brasil. Por 
essa razão, ela passou a ser chamada de Constituição Cidadã. 
REFLITA 
Quais são as leis que garantem a liberdade individual e a cidadania? 
 
A Constituição de 1988 estabelecia as garantias fundamentais à cidadania, 
como: igualdade jurídica, liberdade de pensamento, de crença religiosa, de 
expressão, de associação e de locomoção. Além das garantias à cidadania, 
a Constituição reconhecia os direitos dos excluídos e das minorias. 
Entre os avanços, podemos destacar: o reestabelecimento de eleições 
diretas para presidente, governador e prefeitos, com mandato de quatro 
anos, e os analfabetos ganharam direito ao voto. 
Para os trabalhadores, os benefícios trazidos pela Constituição foi a 
diminuição da jornada de trabalho de 48 para 44 horas semanais, a criação 
do abono de férias, do seguro-desemprego e do décimo terceiro salário para 
os aposentados. Ela ainda estendia os direitos aos trabalhadores para o 
campo e para os domésticos. Criou a licença-paternidade e o aumento da 
licença-maternidade de 90 para 120 dias. 
Para a população negra, a Constituição tornou o racismo crime, além de 
reconhecer o direito dos remanescentes dos quilombolas, com o 
reconhecimento da propriedade tradicional que ocupavam. Esse ato foi 
importante socialmente e simbolicamente, pois se deu no ano em que era 
lembrado os cem anos do fim do escravismo no país, abolido em 1888. 
Além desse aspecto, a Constituição reconhece o dever de proteger as 
manifestações culturais afro-brasileiras e indígenas. 
Sobre os indígenas, a Constituição reconhece o direito de posse das terras 
tradicionais que ocupam e a garantia do direito à diferença, sendo 
reconhecidos seus costumes lendas, tradições, organização social, em 
suma: a cultura indígena. Esse aspecto é bastante relevante com relação à 
população indígena, pois representa uma mudança de perspectiva do 
Estado. Até a Constituição de 1988, a perspectiva do Estado brasileiro não 
era o de proteger – e sim o de assimilar – os indígenas, ou seja, de uma 
forma ou de outra, acreditava-se que, com o passar do tempo, a cultura 
indígena e quilombola deixaria de existir, sendo absorvida (assimilada) pela 
sociedade maior. Assim, a Constituição reconhece e garante a preservação 
da cultura indígena como um direito. 
A Constituição Cidadã foi uma conquista para a sociedade brasileira, mas os 
problemas do Brasil estavam longe de serem resolvidos, pois, se o texto 
traz uma série de garantias, a lutaé colocá-las em prática no cotidiano – 
uma luta que persiste até os nossos dias. 
Figura 1: Deputado Ulysses Guimarães segurando uma cópia da 
Constituição de 1988. Fonte: Wikipedia (Links para um site externo.). 
O governo Sarney também teve de enfrentar uma severa crise econômica. 
O chamado “milagre econômico” propagandeado pela ditadura e pelos 
militares deixou uma conta pesada para o país. O tal milagre foi sustentado 
por uma grande quantia de empréstimos realizados no exterior com juros. 
Para pagá-los era necessário um crescimento econômico e de arrecadação 
que não ocorreu, tanto pelas circunstâncias externas – o choque no preço 
do petróleo – quanto pelo esgotamento do modelo de crescimento adotado. 
O efeito imediato desse desequilíbrio econômico era a alta inflação – na 
expressão da época, uma “inflação galopante”. 
Além disso, o crescimento econômico sem distribuição de renda criou um 
país profundamente desigual, com grande concentração de renda. O 
resultado social era um país que enfrentava a fome, a falta de serviços 
básicos, déficit de habitação, problemas no acesso à educação e à saúde. 
Enfim, apesar de estarmos entre as dez economias industriais do mundo, a 
pobreza da população era (e continua a ser) um problema grave. Uma 
percepção que os próprios militares já tinham. O presidente Emílio 
Garrastazu Médici, em pleno milagre econômico, disse uma frase que 
repercutiu e ficou famosa: “O Brasil vai bem, mas o povo vai mal”. A 
justificativa para esse crescimento sem distribuição de renda veio do 
ministro da fazenda, Delfim Netto, quando afirmou: “Primeiro temos de 
fazer o bolo crescer para depois distribuí-lo”. O país cresceu, mas o bolo 
nunca foi distribuído. 
Para enfrentar a crise, o governo Sarney lançou o Plano Cruzado, em 
fevereiro de 1986. O principal objetivo do plano era acabar com a inflação. 
Para isso, estabelecia o congelamento de preços das mercadorias, o 
congelamento dos salários, a extinção da moeda Cruzeiro, e a criação de 
uma nova moeda: o Cruzado. Para que os salários não ficassem defasados 
em relação à inflação, foi elaborado um mecanismo de correção, chamado 
de “gatilho salarial”. Quando a inflação chegasse a 20%, os salários eram 
corrigidos. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_brasileira_de_1988#/media/Ficheiro:Ulyssesguimaraesconstituicao.jpg
Inicialmente, o plano parecia dar resultados para conter a inflação e 
contava com o apoio da população para fiscalizar o tabelamento dos preços, 
mas o resultado durou pouco. Os produtos começaram a “desaparecer” das 
prateleiras dos supermercados e só se conseguia comprá-los no mercado 
paralelo por preços mais elevados. 
No ano de 1987, o Brasil viveu uma crise severa, pois suas reservas 
cambiais eram insuficientes e sem condições de realizar pagamentos. 
Sarney decretou a moratória, o não pagamento da dívida externa. Esse ato 
tornou o país malvisto no exterior e levou à demissão do ministro Dilson 
Funaro. No seu lugar assumiu Bresser-Pereira, que buscou elaborar um 
novo plano econômico, mas que não teve sucesso, e também caiu, 
assumindo Maílson da Nóbrega, que criou o Plano Verão e uma nova moeda 
para o país: o Cruzado Novo. Apesar dos planos lançados pelo governo 
Sarney, a inflação não foi contida e, em março de 1990, ela chegou a mais 
de 80% no mês e o presidente se tornou impopular. 
Ao longo da década de 1980, a economia brasileira não se desenvolveu e 
não teve o crescimento que se desejava. Por essa razão, foi chamada de 
“década perdida”. 
O NEOLIBERALISMO CHEGA AO 
BRASIL: ENTRE COLLOR E 
FERNANDO HENRIQUE 
REFLITA 
Qual é o papel do Estado? Como o Estado deve intervir na economia? 
Enfrentando uma grave crise econômica, o governo Sarney chegou ao fim 
e, depois de 30 anos, uma eleição direta definiria o presidente da República, 
em 1989. Em uma disputa, marcada no segundo turno pelo enfrentamento 
entre Luís Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello, o país escolheu o 
último. 
Durante a eleição, Collor tinha duas bandeiras que o diferenciavam. Ele 
trazia um forte discurso contra a corrupção, apresentando-se como 
“caçador de marajás”. Em um país marcado pela miséria, o discurso contra 
o luxo dos políticos e dos altos funcionários públicos, além da corrupção, 
acabou ganhando apelo popular. A outra bandeira de Collor, a longo prazo, 
era mais importante. Ele trouxe nas eleições uma perspectiva de Estado e 
de economia que se consolidava, principalmente com os governos de 
Margaret Thatcher, na Inglaterra, e de Ronald Reagan, nos Estados Unidos: 
o neoliberalismo. 
SAIBA MAIS 
O conceito de neoliberalismo foi debatido e utilizado na academia por 
diferentes pesquisadores, sobretudo a partir dos anos 2000, quando foi 
utilizado por cientistas sociais como Pierre Bourdieu, Loïc Wacquant e David 
Harvey. Embora utilizado de diferentes formas, tem como primeira 
referência as formulações debatidas no Colóquio Walter Lippmann, em 
1938, e na primeira reunião da Sociedade de Mont Pèlerin, em 1947. Os 
participantes desse colóquio compartilhavam a mesma visão de mundo que 
pode ser sintetizada em: livre mercado, contrário ao intervencionismo 
econômico do Estado e contra o planejamento estatal centralizado, ou seja, 
o que se denominou posteriormente de Estado Mínimo. Essas perspectivas 
foram sustentadas por diferentes “escolas de economia” como Ordoliberais, 
de Freiburg, Escola Austríaca, Escola de Chicago da London School of 
Economics e da Manchester School. Na prática, o neoliberalismo é associado 
aos governos de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, Margaret Thatcher, na 
Inglaterra, e Pinochet, no Chile, por exemplo. Nesses governos houve a 
desmontagem das garantias sociais e dos direitos trabalhistas, 
privatizações, e defesa da propriedade e do livre mercado. 
Em sua campanha, Collor defendia a necessidade de “modernizar” o Estado, 
entendendo modernização por diminuir a burocracia e as obrigações do 
Estado na sociedade e na economia. Assim, ele defendeu um processo de 
privatização para que o “livre mercado” pudesse se desenvolver no país. 
Além disso, propunha abrir os mercados à concorrência internacional e 
combater os monopólios, favorecendo o livre mercado. 
Esse discurso antiestado do Collor – e, depois dele, dos neoliberais – 
repercutiu em parte da sociedade brasileira, pois ela via o Estado como 
ineficiente, corrupto e excessivamente caro de ser sustentado. Além disso, 
as limitações nas importações e na concorrência internacional tinham 
provocado o atraso tecnológico do país. Essa perspectiva ganhava força 
pela conjuntura internacional. 
Vale lembrar que o ano da eleição, 1989, foi marcado pela queda do Muro 
de Berlim e pelo início da unificação alemã. Esse fato foi simbólico para uma 
crise que os regimes comunistas vinham enfrentando no mundo e que, 
pouco depois, colocaria fim à União Soviética, em 1991. Assim, as 
perspectivas de esquerda, ou estatizantes, perdiam força de atração no 
momento em que as experiências socialistas chegavam ao fim na Europa e 
na Rússia. Em outras palavras, para muitos, a queda do Muro de Berlim e o 
fim da União Soviética significavam a vitória da economia de mercado. 
Nesse clima, Collor tomou medidas para combater a hiperinflação, que 
chegou a 2.700% ao ano. Um dia após sua posse, as autoridades 
econômicas do governo anunciaram o Plano Collor. Esse plano estabeleceu 
o bloqueio de contas e de aplicações financeiras nos bancos; e o confisco de 
cerca de 80% do dinheiro que circulava no país, o que incluía as cadernetas 
de poupança. Ele também reestabeleceu o Cruzeiro como moeda. Além 
disso, promoveu privatizações – como da holding Siderurgia Brasileira, 
Siderbrás, e Usiminas, além de terem sido dados passos para a privatização 
da Companhia Siderúrgica Nacional, CSN – iniciada no governo de Itamar 
Franco. 
O plano teve um impacto negativo no conjunto da população, pois, em 
muitos casos, acabou tomando grande parte das economias das famíliasda 
classe média. A popularidade de Collor caiu rapidamente. 
Além dos problemas econômicos, Collor começou a enfrentar denúncias de 
corrupção que atingiam a cúpula do governo e envolviam membros de sua 
família. Como ele havia sido eleito com a bandeira do combate à corrupção, 
as denúncias derrubaram ainda mais a sua popularidade e confiança. 
Diante dessas denúncias, foi aberta uma CPI, Comissão Parlamentar de 
Inquérito, para investigá-las. Nesse processo, parte da população – 
sobretudo os jovens – foi para as ruas, com os rostos pintados: os 
chamados “caras-pintadas”. No final do trabalho da CPI, foi aberto um 
processo de impeachment contra Collor que foi aprovado em setembro de 
1992. No dia 2 do mês seguinte, Itamar Franco assumiu a presidência. 
Figura 2: Caras-pintadas em manifestação em frente ao Congresso 
Nacional, em Brasília, em setembro de 1992. Fonte: Wikipedia (Links 
para um site externo.) 
Itamar Franco assumiu a presidência para terminar o mandato e, para 
governar, reuniu políticos de diversos partidos para compor os ministérios, 
criando uma base de apoio e dando estabilidade ao governo. Entre os 
ministros, Fernando Henrique Cardoso para ministro das Relações 
Exteriores e, depois, da Fazenda. 
Para enfrentar a crise econômica Itamar lançou o Plano Real, criando uma 
nova moeda: o Real. O principal objetivo do plano era o de combater a 
inflação e estabilizar a economia do país que, em junho de 1994, era de 
50% ao mês. 
O Plano Real tinha como princípios: a busca pelo equilíbrio fiscal, política 
monetária restritiva, abertura econômica, taxa de câmbio valorizada e 
privatizações. Podemos entender um pouco melhor cada uma dessas 
medidas. 
O equilíbrio fiscal significava que o Estado não deveria apresentar déficit, ou 
seja, gastar mais do que arrecada. Para isso adotou-se como medida 
reduzir as despesas com corte nos investimentos, gastos públicos, além de 
reduzir a “máquina pública”, pois era considerada muito custosa. Assim, 
foram desligados mais de 20 mil funcionários públicos. Com relação à 
política monetária, elevou-se a taxa de juros e do aumento dos depósitos 
compulsórios dos bancos no Banco Central, visando a combater a inflação. 
A abertura econômica e a taxa de câmbio artificialmente valorizada tinham 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Caras-pintadas#/media/Ficheiro:Cara_pintadas.jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Caras-pintadas#/media/Ficheiro:Cara_pintadas.jpg
como função permitir a entrada de produtos estrangeiros no país, 
possibilitando uma maior concorrência e oferta de produtos. 
O plano teve resultado favorável no controle da inflação e possibilitou o 
aumento da popularidade de Fernando Henrique Cardoso, conhecido como 
FHC. Essa popularidade permitiu uma aliança entre PSDB e PFL para lançar 
a sua candidatura para presidência. A bandeira do Plano Real e o seu 
sucesso era muito forte e, com ele, FHC derrotou Lula ainda no primeiro 
turno, com 55 % dos votos. 
Em janeiro de 1995, Fernando Henrique Cardoso tomou posse como 
presidente da República. Mantendo os fundamentos do Plano Real, ele 
continuou combatendo a inflação. Ao mesmo tempo, a ideia de diminuir o 
Estado e sua participação na economia, seguindo os ditames do 
neoliberalismo, tiveram continuidade. Assim, FHC promoveu as 
privatizações de algumas das principais estatais do país, muitas delas 
lucrativas e eficientes, como a Vale do Rio Doce, hoje chamada só de Vale. 
Outra importante privatização, ainda no primeiro mandato, foi a da Telebras 
– a empresa foi dividida em doze empresas e leiloadas na Bolsa de Valores. 
Essa ação abriu o sistema de telefonia do Brasil para investimento do 
capital estrangeiro e para a entrada de empresas multinacionais de 
comunicação no país. No horizonte das privatizações, ainda estavam o 
Banco do Brasil e a Petrobras – o que ele não conseguiu realizar. 
As privatizações fizeram com que o Estado tivesse cada vez menos 
participação na produção de bens e serviços, reduzindo drasticamente a sua 
participação na economia. A diminuição do Estado na economia também o 
levou a ter menor interferência na organização social. 
SAIBA MAIS 
Consenso de Washington 
Em 1989, no International Institute for Economy, em Washington, capital 
dos Estados Unidos, foram apresentadas propostas para o desenvolvimento 
econômico e social no qual se adotou como perspectiva central o 
neoliberalismo. Nesse encontro estavam presentes representantes do Fundo 
Monetário Internacional, FMI, o Banco Mundial, importantes economistas, e 
governantes. No ano seguinte, essa perspectiva passou a ser adotada pelo 
FMI. Dessa forma, os países que necessitassem de suporte, como 
empréstimos, do Fundo Monetário Internacional precisariam se adequar e 
adotar o neoliberalismo como política. 
 
Na década de 1990, novos movimentos sociais se consolidaram pelo país, 
trazendo novas demandas sociais para a agenda política. Após a 
Constituição de 1988, a sociedade civil conquistou a liberdade de 
organização, de reunião e de expressão. Assim, novas vozes emergiram ou 
as vozes que haviam sido silenciadas pela truculência da política das 
décadas de 1960 e 1970 puderam se expressar. 
Dessa forma, ganharam força o movimento das mulheres, o LGBT, o 
movimento negro, o movimento indígena, o ecológico – que traziam as suas 
demandas. Emergiram as ONGs (Organização Não Governamentais), que 
organizavam parcela da sociedade civil para ações, formação e pressão para 
a sua demanda. Observe que nenhum desses movimentos era uma 
novidade, todos tinham precedentes nas décadas anteriores, mas, na 
década de 1990, eles ganharam nova dimensão e suas vozes repercutiram 
na sociedade civil. 
Em certo sentido, esses movimentos desafiavam as visões mais tradicionais 
de política que vigoravam até então, tanto na esquerda quanto na direita. 
Os movimentos apresentavam novas demandas que, em geral, não eram 
consideradas como relevantes pelos partidos, ou eram secundárias – 
trazendo questões de identidade, gênero, e meio ambiente aos debates. 
A década de 1990 viu crescer o Movimento dos Sem Terra. O MST, ainda 
atuante, demanda por reforma agrária e por melhores condições dos 
trabalhadores no campo. Vale lembrar que o Brasil é um dos poucos países 
capitalistas que não passou por uma reforma agrária e há uma 
concentração fundiária e terras improdutivas espalhadas pelo território 
nacional. O MST organiza marchas, assentamentos e cooperativas. 
Combativo, ele protagonizou ocupações de fazendas para forçar a reforma 
agrária o que, não raramente, terminou em conflitos. Entre os momentos 
trágicos vividos pelo movimento está o massacre de Eldorado do Carajás, 
quando 21 camponeses foram mortos, em 17de abril de 1996. 
Em 1997, o Congresso Nacional aprovou a reeleição para presidente. Apesar 
das denúncias de corrupção que envolveram essa votação, elas nunca 
foram investigadas. 
Como a inflação estava sob controle e a estabilidade econômica parecia ter 
sido conquistada, FHC não teve dificuldade para vencer, mais uma vez, Lula 
nas eleições de 1998, novamente no primeiro turno. 
A principal bandeira de FHC era a de que ele poderia manter a estabilidade 
econômica, mas uma série de crises externas começou a ameaçar essa 
estabilidade – como as crises do México, em 1995; dos “tigres asiáticos”, 
em 1997; e da Rússia, em 1998. A crise se espalhava para os países que 
haviam adotado o neoliberalismo como modelo econômico, incluindo os 
nossos vizinhos, notadamente a Argentina, em 2001. Com as crises, houve 
uma forte pressão cambial e o Real teve de ser desvalorizado, em 1999. A 
crise também obrigou o governo a recorrer a empréstimos do FMI para 
fechar as suas contas e reequilibrar a economia do país. 
Como o governo havia cortado os investimentos públicos, o setor elétrico, 
em parte privatizado, entrou em colapso e houve um “apagão”. O Brasil 
produzia menos energia do que consumia e foi necessário diminuir o 
consumo. Essa diminuição levou com que as pessoasreduzissem os seus 
gastos com energia, assim como as empresas. O resultado da soma desses 
fatores foi uma crise de empregos. Essas crises derrubaram a popularidade 
de Fernando Henrique e era difícil para ele fazer o seu sucessor, pois a 
insatisfação se tornava cada vez mais presente. 
Diante da insatisfação, a eleição de 2002 foi marcada pela disputa entre 
José Serra, candidato do PSDB, apoiado por FHC, e novamente Lula, pelo 
PT. Após tantas candidaturas, Lula venceu Serra no segundo turno, com o 
slogan “a esperança vai vencer o medo”. 
Figura 3: Posse de Luís Inácio Lula da Silva, em 1º de janeiro de 2003.
Fonte: Wikipedia (Links para um site externo.). 
A ERA PT E A SUA CRISE 
Na sua quarta eleição para presidente, Luís Inácio Lula da Silva chegou à 
presidência da República. Na sua campanha, ao mesmo tempo em que 
lançava voz de mudanças e esperanças, dava sinais ao empresariado e à 
elite de que propostas mais radicais do PT tinham ficado para trás, como 
anunciou na “Carta ao povo brasileiro”. Essa sinalização para o 
empresariado ficou ainda mais evidente com a escolha do seu vice, o 
empresário José de Alencar. Como observa Fico: 
Lula chegou ao poder depois de abrir mão das posições radicais do PT, 
sobretudo em relação à economia, o que fez por meio do documento 
intitulado “Carta ao povo brasileiro”. Em junho de 2002, ele aparecia como 
favorito nas pesquisas, mas o mercado dava mostras de descontentamento 
com a possibilidade da chegada do “operário radical” ao poder. (FICO, 
2015, p. 136) 
A vitória de Lula tinha um simbolismo para além das suas propostas. Ele foi 
o primeiro líder sindical de origem popular a ocupar o cargo de presidente 
e, até o momento, o único. Esse aspecto lhe conferia, por um lado, uma 
maior proximidade com as classes mais baixas e, por outro, uma 
desconfiança das classes mais altas. 
A ideia de que o PT no poder não significaria uma grande ruptura com a 
política anterior ficou evidente já nos primeiros meses de governo. Lula 
manteve os fundamentos do Plano Real e um rígido controle das contas 
públicas, preservando a estabilidade da moeda e controlando a inflação, 
mesmo às custas de juros elevados. Se, por um lado, esses fundamentos 
estavam mantidos para a satisfação de industriais e banqueiros, por outro, 
Lula tinha de superar o problema do desemprego. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Henrique_Cardoso#/media/Ficheiro:Inauguration_of_Luiz_In%C3%A1cio_Lula_da_Silva_in_2003.jpeg
O PT tinha dois desafios principais: retomar o crescimento econômico, uma 
tarefa que não era fácil de ser realizada. Pela sua origem sindical e 
compromisso com os trabalhadores e com a parte menos favorecida da 
sociedade, o PT tinha de realizar ainda os compromissos sociais que havia 
defendido ao longo da sua história. 
Para equilibrar essas duas perspectivas, o governo adotou uma série de 
programas, como o de transferência de renda: o Bolsa Família. Além disso, 
apostou no aumento do poder de consumo e do mercado interno, com uma 
política de correção do salário-mínimo acima da inflação. Como analisa a 
economista Laura de Carvalho, até 2010, 
ao provocar um aumento mais acentuado dos salários nas ocupações 
que exigiam menor qualificação, tais alterações no padrão de consumo e na 
estrutura produtiva colaboraram com o círculo virtuoso de dinamismo do 
mercado interno e do mercado de trabalho. (CARVALHO, 2018, p. 23) 
Na área da educação, ampliou o ensino universitário com a expansão das 
universidades federais e financiando instituições privadas, com o ProUni e o 
FIES. No mesmo sentido, assumiu a ação afirmativa como política de 
inclusão, com a cota para negros no ensino superior. 
Buscando fazer o país crescer economicamente e superar o seu atraso, 
principalmente em infraestrutura, o governo lançou o PAC (Programa de 
Aceleração do Crescimento). O programa articulava um conjunto de 
investimentos e financiamentos para obras de infraestrutura para 
modernizar o país. 
No plano externo, o Brasil se aproximou dos países em desenvolvimento 
formando o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), além de se 
aproximar dos seus vizinhos, reforçando o Mercosul. Se aproximou também 
dos países da África, expandindo os parceiros comerciais e políticos. 
Durante o período Lula, as condições externas, do ponto de vista 
econômico, foram amplamente favoráveis ao Brasil, pois seus principais 
produtos de exportação estavam com grandes preços, trazendo divisas ao 
país. 
No entanto, em 2008 teve início uma grave crise econômica, que arrastou a 
economia europeia e dos Estados Unidos. Essa crise derrubou o preço dos 
produtos brasileiros e, aos poucos, começou a afetar a economia. 
Para aprovar todas essas medidas e reformas ao longo do seu mandato, o 
governo Lula teve de construir uma ampla base de partidos de apoio no 
Congresso, mesmo com partidos considerados adversários históricos. A 
base dessa aliança foi justamente o ponto que trouxe problemas para o 
governo, pois dela emergiram as denúncias de corrupção, principalmente o 
chamado “mensalão”. O mensalão consistia no pagamento, em dinheiro, em 
troca de apoio ao governo. Após as denúncias, o caso foi levado para 
investigação e julgamento. Em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) 
condenou vários dos envolvidos, entre políticos, funcionários públicos e 
pessoas do meio publicitário. Como observa Fico: 
O julgamento das denúncias do mensalão foi penoso, mas ao menos se 
deu. A sociedade estava esgotada diante de tantas e tão reiteradas 
denúncias de corrupção desde o fim da ditadura militar. Pela primeira vez 
na história brasileira, acusações contra parlamentares e altas autoridades 
da República foram conduzidas com destemor pelo Supremo Tribunal 
Federal (STF). (FICO, 2015, p. 138) 
Embora abalada pelo mensalão, a popularidade de Lula era um fenômeno 
que chegou a 85% e, após dois mandatos, ele ainda conseguiu fazer a sua 
sucessora: Dilma Rousseff. Como ministra, Dilma tinha se tornado um braço 
de Lula dentro do governo e conseguiu se destacar, mesmo nos momentos 
de crise. 
A presidenta – como gostava de ser chamada – Dilma Rousseff venceu as 
eleições e se tornou a primeira mulher na presidência. A promessa, ou 
expectativa, era de que o governo Dilma fosse uma continuidade do Lula. 
No entanto, as circunstâncias internacionais eram outras e as exportações, 
que haviam beneficiado o Brasil, começaram a apresentar problemas. 
Com a crise de 2008, os bancos centrais dos Estados Unidos e da Europa 
começaram a emitir moeda. Com maior circulação do euro e do dólar, o real 
ficou valorizado em relação às outras moedas. Assim, os produtos 
brasileiros começaram a ficar mais caros, enquanto os importados, mais 
baratos. A balança comercial, que vinha até então favorável, começou a 
mudar de sentido. Em resumo, o Brasil não exportava da mesma forma, em 
valores, e importava cada vez mais, o que colocou em dificuldade a 
indústria nacional. 
Para resolver o problema, ou ao menos tentar resolver, Dilma deu início a 
uma agenda de incentivos fiscais e redução de impostos para as empresas 
brasileiras, além de abrir os cofres públicos, sobretudo pelo BNDES, para 
créditos e empréstimos. Essas medidas foram comemoradas e apoiadas 
pelos industriais, sobretudo pela FIESP, Federação das Indústrias do Estado 
de São Paulo, junto à qual Dilma anunciou as medidas. Esse programa de 
incentivos do governo Dilma, a economista Laura de Carvalho denomina de 
“Agenda Fiesp”, que não trouxe o resultado esperado à economia, 
apresentando debilidade, devido ao pouco crescimento. Nas palavras de 
Laura de Carvalho: 
[...] no final do segundo mandato do presidente Lula, crescia a visão de 
que tal estratégia de crescimento, erroneamente interpretada como 
“liderada pelo consumo”, era insustentável. Empresários do setor industrial 
e boa parte dos economistas defendiam medidas que reduzissem os custos 
das empresas nacionais e elevassem sua competitividade dianteda 
concorrência estrangeira. A presidente Dilma atende a tais demandas: 
reduz a taxa de juros, desvaloriza o real, subsidia a lucratividade dos 
empresários por meio de desonerações tributárias, controle de tarifas 
energéticas e crédito a juros mais baixos. Essas medidas, de alto custo e 
pouco eficazes no estímulo ao crescimento, têm impacto negativo sobre as 
receitas do governo e dificultam a estabilização da dívida pública. 
(CARVALHO, 2018, p. 11) 
As medidas não surtiram os efeitos esperados, pelo contrário, 
aprofundaram a crise que começava a afetar a população. Durante os 
últimos anos, o crescimento econômico – junto com os programas sociais – 
havia garantido a uma grande parcela da população acesso a produtos e 
serviços. A crise econômica fez esse acesso ficar cada vez mais difícil e os 
empregos já não cresciam da mesma forma. Ao mesmo tempo, Dilma 
mantinha o seu compromisso com os programas sociais e, assim, com os 
gastos do Estado. 
O Brasil também havia se comprometido a realizar enormes obras – com a 
Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Os gastos 
exagerados com o que não era considerado essencial começaram a 
provocar descontentamento na população. 
Esses descontentamentos se agravaram com os escândalos de corrupção. 
Para governar e aprovar medidas no Congresso Nacional, Dilma, junto com 
PT, haviam costurado uma aliança de partidos, por meio da distribuição de 
cargos e benefícios aos aliados. Novamente o PT era acusado de participar 
de esquemas de corrupção. Além disso, as políticas de Dilma desagradavam 
os setores mais conservadores da sociedade que sempre tiveram dificuldade 
em aceitar uma mulher de esquerda no poder. 
O governo Dilma estabeleceu a Comissão Nacional da Verdade, uma 
comissão que deveria apurar os crimes cometidos durante a ditadura 
militar. Era uma dívida histórica que o país tinha com o seu passado – e 
ainda tem. Dilma havia lutado contra a ditadura, sendo presa e torturada. 
No seu governo, esses crimes seriam apurados, além de se buscar os 
corpos dos desaparecidos políticos, como os dos guerrilheiros do Araguaia. 
Essa comissão enfrentou grande resistência por parte dos militares e, 
principalmente, dos saudosistas da ditadura, pois, embora a Lei da Anistia 
impedisse a punição daqueles que cometeram crime contra a humanidade, 
a investigação dos crimes e a indenização dos perseguidos já foi o suficiente 
para provocar descontentamentos e um movimento contra a comissão e seu 
trabalho. Para enfrentar esse movimento, deputados até então com pouca 
relevância no quadro nacional – como Jair Bolsonaro, ligado aos militares – 
começaram a levantar a sua voz contra o governo do PT. 
Outro conflito do governo Dilma foi a aprovação do código ambiental – 
importante porque afirmava o compromisso do Brasil pela preservação 
ambiental. O código também contribuía com a imagem do país no exterior e 
para a entrada dos produtos brasileiros em mercados mais exigentes ou 
protegidos. Ocorre que nem todo agronegócio brasileiro é moderno e o 
setor rural – sobretudo aquele ligado a madeireiros, garimpeiros e que 
praticam uma agricultura pela devastação – se colocou contra as leis 
ambientais. Além disso, a demarcação das terras indígenas e dos 
quilombolas era outro foco de tensão no campo, pois a terra está sempre 
em disputa. Dessa forma, parte do campo também se colocou contra o 
governo. 
A parcela mais conservadora do país posicionava-se contra as ações 
afirmativas e contra as inclusões das minorias. Essa tensão era forte, 
sobretudo na educação. A reforma na educação, com a inclusão de 
educação sexual, cotas para negros, respeito à diversidade e à pluralidade 
da sociedade brasileira era inaceitável para aqueles que defendiam uma 
visão conservadora, muitas vezes, associada a perspectivas religiosas. O 
reconhecimento do direito dos LGBTQIA+, bem como a defesa dos direitos 
das mulheres, desagradava também a esses setores. 
Por fim, outro problema do governo do PT era a segurança pública. O país 
vivia uma crise de segurança que afetava estados e municípios, e o poder 
de reação do Estado não era adequado. Essa incapacidade de lidar com as 
questões de segurança abriu espaço para oportunistas, críticos dos “direitos 
humanos” que desejavam resolver o problema da violência com mais 
violência. Políticos defendiam a morte de “bandidos”, o “armamento da 
população”, e outras medidas que não têm efeitos sobre a segurança 
pública, mas ganham em apelo popular pela simplicidade de raciocínio e 
pela ilusão de segurança que o autoritarismo e a truculência apresentam. 
Toda essa conjuntura estourou em junho de 2013. As manifestações de rua 
tiveram início em São Paulo organizadas por movimentos que lutavam por 
melhores transportes públicos. Eram movimentos liderados, inicialmente, 
por uma juventude de esquerda e anarquistas (libertários), empolgados em 
copiar movimentos como Occupy Wall Street ou a Primavera Árabe. Os 
movimentos foram duramente reprimidos pela polícia, o que chamou a 
atenção da população. Em meio às manifestações, as ruas começaram a ser 
ocupadas por outros agentes políticos, como os diversos grupos de direita. 
Inicialmente restrito à internet e a pequenos círculos, jovens liberais e 
conservadores começaram a disputar espaço com a esquerda. Essa disputa 
deu voz para grupos conservadores, até então minoritários. Nas ruas, se 
juntaram todas as formas de descontentamento: os contrários às políticas 
sociais, os contrários às ações afirmativas e à política de cotas para negros. 
Havia os que não se conformavam com direitos trabalhistas para 
domésticas, saudosistas da ditadura militar, além de grupos fascistas, 
monarquistas, entre outros exotismos ideológicos. Em suma: tudo o que 
pudesse representar algo contra a esquerda em geral, e o PT 
especificamente, emergiu na política, abrangendo lideranças que vinham de 
jovens youtubers, pastores evangélicos, militares aposentados, ex-ator 
pornográfico, etc. Assim, 2013 foi o ano no qual a antiesquerda se reuniu. 
Essas manifestações não se restringiram a São Paulo. De forma violenta, 
elas ocorreram no Rio de Janeiro, com questões locais, mas em um 
processo muito semelhante. Logo depois, os protestos se espalharam – 
mesmo em cidades menores pelo país. 
Ao longo do governo PT, de sua política social e econômica, diversos grupos 
se mostraram descontentes, pois uma grande parte da população brasileira 
tem uma visão conservadora do mundo. Esses grupos eram silenciados pelo 
sucesso econômico e pelos benefícios trazidos pelas políticas sociais 
implementadas por Lula. Quando esses ganhos entraram em crise, os 
descontentes apareceram em cena para se manifestar contra o PT no poder 
e contra a presidenta Dilma. A resposta da presidenta ao processo foi enviar 
ao Congresso um conjunto de leis e propostas anticorrupção. Ainda assim, 
ela chegou à eleição do ano seguinte, com a popularidade em baixa. 
A eleição de 2014 começou disputada, mas Dilma venceu, derrotando o 
candidato do PSDB, Aécio Neves. A derrota de Aécio não foi aceita pelos 
que o apoiaram. 
Dilma teve, logo de início, de enfrentar muita dificuldade. Essas dificuldades 
se ampliaram quando ela montou uma equipe econômica muito liberal e que 
buscou implementar uma política mais próxima ao neoliberalismo. Esse giro 
na economia desagradou a esquerda, que passou a ter dificuldades para 
defender o seu governo. Assim, Dilma, que já enfrentava diversos setores 
contra ela, também perdeu o entusiasmo da própria esquerda. 
A crise econômica se agravou junto com a crise moral. Dessa forma, Dilma 
teve de enfrentar, ao mesmo tempo, a elevação da inflação, dificuldades 
nas contas públicas, escândalos de corrupção nos órgãos públicos e, ainda, 
sem popularidade. 
SAIBA MAIS 
Sobre a crise e o impeachment de Dilma, um bom documentário (indicado 
ao Oscar) é Democracia em vertigem. Direção de Petra Costa. Netflix, 
2019. 
 
Os escândalos de corrupção ampliaram-secom a atuação da Operação Lava 
Jato que, a pretexto de combater a corrupção na Petrobras e na articulação 
de empreiteiras com o governo, colocou dirigentes petistas, sobretudo o ex-
presidente Lula, como alvo. A Operação Lava Jato teve como grande 
protagonista o juiz Sérgio Moro – aquele que deveria ser neutro para julgar. 
Dilma perdeu o apoio no Congresso e também nas ruas e, diante de sua 
fragilidade, o Congresso a acusou de cometer “pedaladas fiscais” e a 
enquadrou na Lei de Responsabilidade Fiscal. Após uma votação, que se 
transformou em um espetáculo constrangedor – em que até seu torturador 
foi homenageado –, Dilma foi afastada em agosto de 2016, colocando fim à 
era PT. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Ao longo deste módulo, abordamos o período de consolidação do Estado 
Democrático de Direito, depois de 21 anos de ditadura militar. Com todas as 
graves crises políticas e econômicas, a democracia e as instituições se 
consolidaram, mas com muitas dificuldades e contradições que caracterizam 
um país com uma sociedade profundamente desigual e com uma herança 
autoritária que se faz presente, sobretudo nos momentos de crise. 
Ainda assim, ao contrário dos períodos anteriores, não tivemos um golpe 
militar, ou golpe de Estado, interrompendo a institucionalidade ou 
revogando a Constituição. 
Para superar as dificuldades econômicas apresentadas pelo país, vimos a 
consolidação de um projeto neoliberal, que teve início no governo Collor e 
foi se consolidando ao longo do governo Fernando Henrique Cardoso. 
Mesmo com Lula, muitos dos fundamentos do neoliberalismo tiveram 
continuidade. As privatizações, por exemplo, não foram revertidas e a 
política econômica seguiu atuando no sentido de buscar o equilíbrio fiscal. 
O governo Lula contou com um cenário externo positivo e, com ele, pôde 
implementar um amplo programa social, cujo símbolo é o Bolsa Família. As 
políticas de Lula tiveram continuidade no primeiro governo Dilma, mas, com 
a crise externa, Dilma mudou a política e a crise econômica se abateu sobre 
o país. Junto com a crise, denúncias de corrupção diminuíram 
drasticamente o apoio ao governo, levando ao processo de impeachment, 
colocando fim ao período do PT. 
Com o impeachment da primeira mulher eleita para a presidência, tivemos 
dois processos de impeachment. Assim, assistimos somente a uma 
transição de presidentes eleitos, de Fernando Henrique para Lula. Esse fato 
nos demonstra o quanto a democracia ainda está em processo de 
consolidação – as suas dificuldades e os seus problemas, pois, na nossa 
história republicana, a democracia e o Estado de Direito ainda representam 
períodos muito curtos da nossa República e as ameaças autoritárias estão 
sempre nos rondando. 
REFERÊNCIAS 
BIBLIOGRÁFICAS & 
CONSULTADAS 
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Zahar Editor, 2014. [Minha Biblioteca] 
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ao fim do Estado Novo. São Paulo: Contexto, 2016. [Biblioteca Virtual] 
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[Biblioteca Virtual] 
SCHWARCZ, L. M.; STARLING, H. Brasil: uma biografia. São Paulo: 
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SOARES, R. G. História do Brasil II: o tempo das repúblicas. São Paulo: 
Saraiva, 2016. [Minha Biblioteca]

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