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Direitos Humanos - Aula 04 - Tribunal Internacional _ Parte II - 2017071214264564

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FOCUSCONCURSOS.COM.BR
Direitos Humanos| 
Professor Tiago Correia
9 MECANISMOS DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS: OS SISTEMAS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO À PESSOA 
A violação a um direito humano, pouco importa a gravidade e seja ele qual for, faz nascer para a vítima, isto é, para a 
pessoa humana que suportou a ofensa, 2 (dois) importantes direitos: o de pleitear a compensação pelos danos 
sofridos (por exemplo, compensação financeira) e o de exigir a responsabilização dos autores da violação (aplicando-
se-lhes, conforme o caso, uma pena). 
Dito de outro modo, se um direito humano foi desrespeitado pode a vítima (i) exigir a reparação dos danos que 
sofreu – danos morais ou materiais -, (ii) como também pode – e deve – exigir a punição daqueles que praticaram a 
violação. Não se trata, é preciso ressaltar, de uma mera faculdade ou de uma mera opção da vítima, mas sim de um 
verdadeiro dever, de uma pontual obrigação, haja vista que a efetiva punição dos autores (reparando o dano ou 
sendo punidos de alguma outra forma), além de reprimir o mal imposto, inibe, regra geral, condutas posteriores 
semelhantes. 
Com isso, tem lugar o seguinte questionamento: 
QUAIS SÃO AS AUTORIDADES COMPETENTES PARA CONHECER, INVESTIGAR E PUNIR OS 
RESPONSÁVEIS PELA VIOLAÇÃO A DIREITOS HUMANOS? 
A QUEM SOLICITAR A REPARAÇÃO DOS DANOS OU A PUNIÇÃO DOS RESPONSÁVEIS POR 
CONDUTAS QUE ATENTEM CONTRA A DIGNIDADE HUMANA? 
A pessoa humana que teve um direito humano desrespeitado deve procurar, em primeiro lugar, as AUTORIDADES DO 
SEU PAÍS, isto é, as AUTORIDADES NACIONAIS, e delas exigir a reparação (dos danos sofridos) e a punição dos 
responsáveis. Isto significa dizer, note, que a responsabilidade primária pela punição é incumbência do próprio PAÍS 
onde o fato violador foi praticado. 
SENDO ASSIM, O SISTEMA INTERNO É O PRIMEIRO SISTEMA DE DEFESA DOS DIREITOS DA PESSOA HUMANA, SENDO 
DESINCUMBIDO PELAS AUTORIDADES DO PAÍS ONDE AS VIOLAÇÕES OCORRERAM. 
Todavia, bem sabemos que em alguns ESTADOS esse “SISTEMA INTERNO DE PROTEÇÃO” não funciona à contento. Na 
verdade, em alguns PAÍSES ele nem existe. Daí que surgem alguns questionamentos: 
Suponhamos que você teve algum direito humano violado e comunicou as autoridades internas o desrespeito, só que 
não houve uma investigação séria à respeito, ou até houve, mas deixou muito a desejar. O que fazer? 
Ou suponhamos que essa violação foi ordenada pelo próprio Presidente do país ou pelo Chefe das Forças Armadas, e 
nenhuma autoridade interna detém coragem e nem poder para investigá-los. Como proceder? 
Ou então suponhamos que a investigação, o processo e o julgamento estão demorando demasiadamente. Qual a 
atitude a ser tomada? 
É justamente por isso, ou seja, pela evidente ineficiência do SISTEMA INTERNO DE PROTEÇÃO À PESSOA HUMANA 
que, após a 2ª Guerra Mundial, surgiram os chamados SISTEMAS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS 
HUMANOS, fundados na seguinte lógica: se o SISTEMA INTERNO não apreciar à contento ou em prazo razoável as 
violações que lhes forem submetidas, elas então serão analisadas por COMITÊS, COMISSÕES e CORTES 
INTERNACIONAIS DE DEFESA DOS DIREITOS DA PESSOA HUMANA, os quais, a depender do caso, poderão 
responsabilizar o PAÍS onde se deram os fatos ou, eventualmente, os próprios autores das arbitrariedades. 
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Direitos Humanos| 
Professor Tiago Correia
Em síntese: 
 
SISTEMA INTERNO DE PROTEÇÃO (composto pelas autoridades nacionais) – SE NÃO ATUAR À CONTENTO, SE DEIXAR 
À DESEJAR, SE DEMORAR EXCESSIVAMENTE, surge a possibilidade da entrada em cena dos SISTEMAS 
INTERNACIONAIS DE DEFESA. 
 
QUAIS SÃO OS SISTEMAS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS EXISTENTES NO MUNDO? 
 
Atualmente, existem 2 (dois) grandes SISTEMAS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS: o 
SISTEMA GLOBAL e o SISTEMA REGIONAL. 
 
O SISTEMA GLOBAL (também chamado de ONUSIANO) é gerenciado pela ONU e tem abrangência mundial. 
 
O SISTEMA REGIONAL, por sua vez, está subdivido em 3 (três) SUBSISTEMAS, os quais, como o próprio nome sugere, 
abrangem, cada qual, determinadas regiões do planeta, na verdade, abrangem 3 (três) continentes: EUROPEU, 
AFRICANO e AMERICANO. Daí que podemos falar em Sistema Regional Europeu, Sistema Regional Africano e Sistema 
Regional Interamericano 
 
 
SISTEMA GLOBAL 
 
O SISTEMA GLOBAL ou ONUSIANO é, em linhas gerais, administrado pela Organização das Nações Unidas (ONU). 
Possui, e o próprio nome isso deixa claro, abrangência mundial, logo, detém, ao menos em tese, atribuição para 
analisar eventuais violações aos direitos humanos ocorridas em qualquer parte do planeta. 
O SISTEMA GLOBAL, vale esclarecer, tem como pilares de sustentação, basicamente, 4 (quatro) importantes 
documentos internacionais, quais sejam: 
 
CARTA DE SÃO FRANCISCO (tratado internacional que, em 26.06.1945, criou a ONU); 
 
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (DUDH, de 10.12.1948); 
 
PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS (PIDCP, 1966); e 
 
PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS (PIDESC, 1966) – esses dois 
últimos, lembre-se, conhecidos como “PACTOS DE NOVA IORQUE”. 
 
Com efeito, em linhas gerais, a ONU possui 2 (dois) órgãos destinados à proteção e salvaguarda dos direitos humanos 
à nível mundial, a saber: o ALTO COMISSARIADO DE DIREITOS HUMANOS e o CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS. 
O CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS, conhecido pela sigla CDH, com sede em Genebra, organismo ligado à 
Assembleia Geral da ONU, é responsável por receber denúncias versando sobre violações de direitos humanos 
mundo afora, bem como, por, dentre outras coisas, avaliar, através de um mecanismo denominado Revisão Periódica 
Universal (RPU), a situação em matéria de direitos humanos nos 193 países membros da Organização das Nações 
Unidas. 
 
 
SISTEMA INTERAMERICANO 
 
Surge com a criação da OEA, pela Carta de Bogotá, e também, na mesma ocasião, pela instituição da Declaração 
Americana dos Direitos e Deveres do Homem. 
 
Em 1969 é proclamada a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (o Pacto de San José da Costa Rica), que 
prevê o seu monitoramento por 2 (dois) órgãos de fiscalização: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos 
(CIDH) e a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CorteIDH). 
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Direitos Humanos| 
Professor Tiago Correia
 
A CIDH é responsável por receber petições e comunicações contendo denúncias de violação à Convenção Americana. 
Instaura, com isso, um procedimento, passível de culminar na apresentação de um caso à CorteIDH. 
Perante a CorteIDH apenas a CIDH e os Estados-partes podem demandar. 
A CorteIDH exerce jurisdição consultiva e jurisdição contenciosa. 
Suas sentenças são definitivas e inapeláveis. 
 
 
DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL 
 
Em regra, as Cortes Internacionais são criadas para julgar ESTADOS, e não pessoas. 
 NO CONTEXTO DO SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO, EXISTE A POSSIBILIDADE DE PUNIÇÃO NÃO DO ESTADO, MAS 
DA(S) PRÓPRIA(S) PESSOA(S) RESPONSÁVEL(IS) PELA VIOLAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS? 
 
Até 1998 a resposta era uma só: NÃO, uma vez que inexistia uma CORTE PERMANENTE que tivesse como propósito o 
julgamento de PESSOAS acusadas da prática de violações aos direitos da pessoa humana. O CONSELHO DE DIREITOS 
HUMANOS responsabiliza ESTADOS, podendo, no máximo, propor a eles a punição em âmbito interno dos 
verdadeiros responsáveis. 
 
Em 1998, foi promulgado o ESTATUTO DE ROMA, tratado internacional que criou o TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL 
(TPI), essa sim uma Corte Internacional destinada a julgar PESSOAS – e não PAÍSES. 
 
O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL (TPI), que tem sede na Haia, foi instituído em 1998 pelo Estatuto de Roma, que 
é um tratado internacional sobre direitos humanos. 
 
O TPI, como é conhecido, possui personalidade jurídica própria, o que significa dizer que não está vinculado à ONU, 
diferentemente do que ocorre, por exemplo, com o CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS. 
 
Até 1998 alguns tribunais internacionais foram criadospara fazer frente à situações específicas. Por exemplo, o 
Tribunal de Nuremberg e o Tribunal de Tóquio, ambos formados com o claro propósito de concretizar essa 
necessidade de punição internacional dos violadores de direitos humanos. 
 
O Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente, ou simplesmente Tribunal de Tóquio, foi idealizado para 
julgar os líderes do império japonês por crimes cometidos durante a 2ª Guerra Mundial. 
 
Esses dois tribunais, assim como outros que foram criados ao longo do tempo para tratar de episódios determinados, 
pecavam pelo fato de, designadamente, serem Tribunais de Exceção, ou seja, cortes judiciais criadas 
excepcionalmente para analisar fatos que aconteceram antes da sua criação e que, finalizados os julgamentos, se 
desconstituem, logo, caracterizam-se por ser tribunais transitórios, não permanentes. 
 
A missão do TPI resume-se ao julgamento dos chamados CRIMES CONTRA A HUMANIDADE (ou CRIMES DE LESA-
HUMANIDADE). 
 
Nessa perspectiva, o artigo 5º do Estatuto de Roma estabelece quais são os CRIMES DE LESA HUMANIDADE passíveis 
de conduzir quem os pratique a julgamento perante o Tribunal Penal Internacional. Podem ser eles de 4 (quatro) 
espécies, acompanhe: 
 
CRIME DE GENOCÍDIO; 
CRIMES CONTRA A HUMANIDADE; 
CRIMES DE GUERRA; 
CRIME DE AGRESSÃO. 
 
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Direitos Humanos| 
Professor Tiago Correia
Com efeito, registre-se, e nunca é demais destacar, que o TPI é uma Corte Internacional de proteção aos direitos 
humanos que não julga ESTADOS, mas sim PESSOAS, logo, para ser julgada perante o TPI a PESSOA terá de ter 
cometido necessariamente algum dos 4 (quatro) crimes acima listados. 
 
Vale aqui a mesma ideia lançada anteriormente: para o TPI ser acionado, é preciso o esgotamento do SISTEMA 
INTERNO DE PROTEÇÃO, ou seja, é preciso que as AUTORIDADES NACIONAIS tenham se omitido, falhado ou 
demorado na punição daqueles que praticaram algum dos 4 (quatro) crimes de LESA-HUMANIDADE. 
 
1ª INDAGAÇÃO: 
 
A CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA, NO ARTIGO 5º, INCISO LI, VEDA A EXTRADIÇÃO DE BRASILEIRO NATO. 
SENDO ASSIM, SUPONHANDO QUE UM BRASILEIRO NATO TENHA PRATICADO UM DOS 4 (QUATRO) CRIMES DE 
LESA-HUMANIDADE ACIMA VISTOS, É OBRIGAÇÃO DO BRASIL ENTREGÁ-LO AO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL 
PARA JULGAMENTO, MESMO QUE A NOSSA CONSTITUIÇÃO PROÍBA A EXTRADIÇÃO DE BRASILEIRO NATO? 
 
Resposta: Sim, o Brasil será obrigado a entregá-lo ao TPI. Por dois motivos, vejamo-los: 
 
1. Extradição é ato entre países (por exemplo, Brasil e Itália no caso Cesare Battisti), por meio do qual um país solicita 
ao outro a entrega de uma determinada pessoa. Repetindo: é ato firmado entre PAÍSES. Só que o que ocorre entre 
um ESTADO e o TPI não é propriamente o instituto da extradição, mas sim o instituto da ENTREGA. É que ENTREGA é 
o ato entre um PAÍS e o Tribunal Penal Internacional, através do qual o ESTADO entrega uma pessoa para julgamento. 
Com efeito, a Constituição Brasileira, perceba, veda a EXTRADIÇÃO, mas não a ENTREGA; 
 
2. O Brasil assinou o Estatuto de Roma e na ocasião não fez nenhuma ressalva quanto a aplicação dos seus 
dispositivos, ou seja, aceitou cumprir rigorosamente a todos os ditames, sem exceção, logo, está obrigado a cumpri-
lo integralmente. 
 
2ª INDAGAÇÃO: 
 
A CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA, NO ARTIGO 5º, INCISO XLVII, letra “B”, VEDA A EXISTÊNCIA DE PENA DE 
CARÁTER PERPÉTUO. O ESTATUTO DE ROMA, POR SUA VEZ, ESTABELECE A PRISÃO PERPÉTUA COMO UMA DE SUAS 
PENAS. SENDO ASSIM, SUPONHANDO QUE UM BRASILEIRO NATO TENHA SIDO ENTREGUE AO TPI, POR TER 
PRATICADO UM DOS 4 (QUATRO) CRIMES DE LESA-HUMANIDADE VISTOS ANTERIORMENTE, PODERÁ O TRIBUNAL 
CONDENÁ-LO À PRISÃO PERPÉTUA, MESMO SABENDO QUE NO BRASIL ESSA PENALIDADE É PROIBIDA PELA 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL? 
 
Resposta: Sim, uma vez que a Constituição brasileira, ao vedar a pena de prisão perpétua, está direcionando a 
determinação proibitiva aos legisladores brasileiros, ou seja, a nossa legislação não pode prever esse tipo de 
penalidade e ninguém pode cumprir em solo brasileiro uma pena perpétua, o que não impede, porém, a previsão em 
legislação internacional, no caso, o Estatuto de Roma, assinado e ratificado pelo Brasil. 
Agora, atenção! Se o brasileiro nato entregue ao Tribunal for condenado à pena de prisão perpétua, obviamente que 
essa penalidade, pelas razões acima, não poderá ser cumprida no Brasil, e sim em outra localidade a ser determinada 
pela própria Corte de Haia.

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