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TÉCNICAS PSICANALÍTICAS

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TÉCNICAS PSICANALÍTICAS
	A clínica psicanalítica e a clínica médica	
A clínica Médica: A Medicina como ciência clínica aparece no século XIX. Segundo Foucault (1987), a clínica ligada à linguagem de uma “ciência positiva” aparece quando o médico substitui a pergunta “o que é que você tem?,” pela pergunta “onde lhe dói?.” Essa mudança se opera quando se admite que se pode associar a lesões de órgão (anatômica) definidas, grupos de sintomas estáveis. A anatomia e a clínica se unem e surge a anátomo- clínica. “Daí o aspecto que a anatomia patológica tomou em seu início: o de um fundamento enfim objetivo, real e indubitável da descrição das doenças” (p. 147). A anatomia patológica ordena o novo espaço clínico. A Medicina classificatória cede lugar à Medicina dos órgãos, do foco e das causas.
O médico clínico deve seguir um roteiro pormenorizado e rigoroso no processo de diagnóstico. Marcondes, Sustovich, & Ramos (1976), enfatizando a necessidade de considerações etiopatogênicas, fisiopatológicas e clínicas, descrevem os passos a serem seguidos que, resumidamen­te, são:
1) A observação clínica é o registro pormenorizado dos dados pessoais, dos sintomas e dos sinais apresentados pelo doente e obtidos durante a entrevista, e consta de identificação (I.D.), anamnese (queixa e duração: Q.D.), história pregressa da moléstia atual (H.P.M.A.), interrogatório sobre os diferentes aparelhos (I.S.D.A.), antecedentes pessoais (A.P.), antecedentes hereditários e familiares (A.F.) O exame clínico deve ser metódico e disciplinado para o bom raciocínio clínico. É necessário, nesse momento, o estabelecimento de hipótese diagnostica (H.D.)
2) O exame físico minucioso e sistemático do doente para a com- plementação da observação clínica (exame físico geral: E.F.G.; exame físico especial: E.F.E.). São necessárias hipóteses bem formuladas sobre os diagnósticos anatômico, funcional e etiológico. O diagnóstico deve ser preciso para a indicação de plano terapêutico eficiente e racional.
3) os exames subsidiários adequados, quando necessários.
Diagnóstico Médico: O diagnóstico médico serve para estabelecer o prognóstico (avaliação baseada no diagnóstico) no resultado ou indicação de uma possível doença para que se possa optar pelo tratamento mais adequado. 
É um ato médico mobilizado por dois objetivos:
· Objetivo de observação: destinado a determinar a natureza de uma afecção ou uma doença, a partir de uma semiologia. 
· Objetivo de classificação dos sintomas: que permite localizar um estado patológico no quadro de uma nosografia. O diagnóstico médico é, então, sempre colocado numa dupla perspectiva: a) em referência a um diagnóstico etiológico; b) em referência a um diagnóstico diferencial.
Além disso, o diagnóstico médico se propõe não só a estabelecer o prognóstico vital ou funcional da doença, mas ainda a escolher o tratamento mais apropriado. Para isto, o médico dispõe de um sistema de investigação anamnésica. Ele põe em curso, primeiramente, uma investigação armada recolher os fatos comemorativos da doença pelo viés da entrevista. Apoia-se, em seguida, em uma investigação armada a reunir informações, procedendo ao exame direto do doente, com a ajuda dos mediadores técnicos, instrumentais, biológicos, etc.
DIAGNÓSTICO PSIQUIATRIA: diagnósticos observáveis -> fenômenos -> mensuração e classificação (roteiros previamente definidos) -> rotulação sobre o adoecimento -> medicalização.
Diagnóstico para à Psicanálise: Apesar da origem psicanalítica se dar através da medicina, por exemplo medicina positivista, a Psicanalise de desvincula da medicina a medida que se debruça na dinâmica do psiquismo. A importância da avaliação diagnóstica na clínica psicanalítica já está presente nos primórdios de sua prática. Freud (1895) chama a atenção, no entanto, para uma questão que se coloca paradoxalmente em relação a essa avaliação: a de que, embora a pertinência do diagnóstico só possa ser confirmada após uma análise profunda, o estabelecimento de um diagnóstico é condição fundamental para a determinação do tratamento. O psicanalista em seu procedimento de investigação no campo da prática clínica privilegia a escuta. Sua avaliação é predominantemente subjetiva, pois baseia-se principalmente no discurso do paciente e na subjetividade do analista que ouve. Assim, a investigação diagnóstica privilegia o espaço intersubjetivo que se estabelece na comunicação de inconsciente para inconsciente. Segundo a metáfora da comunicação telefônica usada por Freud (1912), a escuta do analista capta e transforma, semelhante às vibrações telefônicas, segundo seu inconsciente, as ondas sonoras do dito do analisando com os derivativos de seu inconsciente.  Será, então, de imediato na ' dimensão do dizer e do dito que se delimitará o campo de investigação clínica. De fato, é o lugar onde vem se exprimir o desdobramento fantasmático; é também aquele em que o sujeito dá testemunho de sua própria cegueira, já que não sabe realmente o que diz através do que enuncia, do ponto de vista da verdade do seu desejo, do ponto de vista, então, daquilo que subtende o sintoma em seu transvesti mento. O analista deve estar apto a se apoiar em certos elementos estáveis, tanto na elaboração do diagnóstico quanto na escolha da condução da cura, que daí depende. O ato psicanalítico não pode se apoiar prontamente na identificação diagnostica como tal. Desde o início, Freud sublinha a importância do dispositivo do discurso livre, logo nas entrevistas preliminares. De fato, aí está o ponto fundamental que subtende o problema da avaliação diagnóstica, que se deve circunscrever na ordem do "dizer" do paciente, e não ao nível dos conteúdos na ordem do seu "dito". "E por que a primeira entrevista com o psicanalista é mais reveladora nas distorções do discurso que no seu próprio conteúdo."
Referências: 
DOR, J. Estruturas e clínica psicanalítica. Rio de Janeiro: Taurus Editora, 1991. (impressão 1997).
LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário da psicanálise. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
Chama, R. (Org.) Dicionário de Psicanálise. Porto Alegre: Larousse Artes Médicas Sul, 1995.
ROUDINESCO, Elisabeth e PLON, Michel. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
FIGUEIREDO, Ana Cristina; MACHADO, Ondina Maria Rodrigues. O diagnóstico em psicanálise: do fenômeno à estrutura. Ágora: estudos em teoria psicanalítica, v. 3, p. 65-8 
Escuta Psicanalítica
Freud que foi estudante da medicina e bastante influenciado por ela, se desvincula da medicina positivista ao emergir no mundo psicanalítico. Esse interesse se iniciou através da oportunidade de assistir às aulas de Charcot onde o mestre “... cria e elimina os sintomas pela palavra, mas não se trata de mágica, ele mostra que os fenômenos histéricos obedecem a leis” (p. 43). Charcot segue os princípios da clínica anatomopatológica e se vale também dos conhecimentos de fisiología. Freud em vez de tentar “encaixar” os pacientes nos moldes dos conhecimentos médicos, rompe com o saber médico (científico) vigente e constrói um sistema conceituai que tece os fundamentos que sustentam a constituição do saber psicanalítico e da clínica psicanalítica. Para a Psicanálise, “o analista não faz uso de qualquer instrumento, nem mesmo para examinar o paciente, nem receita quaisquer remédios” (Freud, 1926/1976d, p. 213). Assim, “... para buscar ou decifrar o sentido do sintoma, o psicanalista não submete a pessoa a uma observação clíni­ca, a um exame corporal, ou indica exames subsidiários, mas pede-lhe que fale de si mesmo sem censura ou crítica”. O objetivo, então, não é diretamente eliminar o sintoma, aliviar rapidamente o mal-estar, corrigir possíveis deficiências, porque ele tem um sentido rigorosamente subjetivo e é portador de uma verdade que precisa ser revelada ou desvendada. A cura do sintoma virá como um desdobramentodo próprio processo analítico. Freud, com a Psicanálise, introduz a noção de inconsciente e afirma que esse inconsciente determina tudo que a consciência e o sujeito sentem, pensam, fazem, falam, etc. Com isso, coloca “... uma poderosa li­mitação às pretensões da consciência para dominar e controlar a realidade e o conhecimento” (Chauí, 1996, p. 169), desloca a consciência de um lugar central na nossa vida psíquica, questiona a origem exclusivamente orgânica das doenças e mostra que a “fala” tem função terapêutica (talking cure) e que "... os distúrbios patológicos do corpo e da mente po­dem ser eliminados por ‘meras’ palavras” (Freud, 1905/1972, p. 297). Dessa forma, a escuta na clínica psicanalítica assume um papel essencial, um lugar, o lugar da escuta. Freud começou a ver a importância da escuta, a partir de uma paciente que o repreendeu, pedindo: “doutor por favor me escuta”, a partir desse momento se utiliza da associação livre. O psicanalista não ocupa lugar do mestre, de saber de tudo. Além de que precisa estar atento aos deslocamentos feito pelo paciente, e escutar o sintoma, a demanda e as repetições que o paciente vai trazer.
O início do tratamento: 
· Freud faz uma indicação fundamental para a abordagem inicial de um caso quando afirma que considera um paciente que acaba de procurá-lo, ou cuja situação não lhe seja suficientemente esclarecida, como uma espécie de candidato à análise. Ele realiza, portanto, uma “aceitação provisória” do caso. Esse período de investigação clínica é denominado por ele como uma “sondagem” para conhecer o caso e decidir se o mesmo é apropriado para a psicanálise. O início do tratamento é marcado pela atitude prudente de um “exame preliminar” (FREUD, 1913/1996, p. 140). Em seguida, os parâmetros desse tempo são demonstrados. Por um lado, Freud esclarece que este período já corresponde a um começo de análise. Ainda que seu desdobramento não se dê, aposta-se em repercussões de natureza analítica. Talvez esse ponto fique mais claro quando Freud, por outro lado, situa que o dispositivo aí instalado é o de realização de entrevistas, nas quais “se deixa o paciente falar quase todo o tempo e não se explica mais do que o absolutamente necessário para fazê-lo prosseguir no que está dizendo” (FREUD, 1913/1996, p. 140). São sobretudo as perguntas que possuem maior valor analítico neste momento. 
· Tal pesquisa se deve à necessidade de um consistente embasamento diagnóstico para a definição da direção de um possível tratamento. Torna-se recomendável “uma sábia precaução a mais” (FREUD, 1913/1996, p. 140). 
· É preciso que o psicanalista em formação adquira ferramentas sólidas sobre as distinções clínicas entre neuroses e psicoses. 
· Freud também examina as condições transferenciais para a realização do processo analítico. 
· O uso do divã, indiscutível remanescente do método hipnótico, é um instrumento que merece ser mantido, na concepção de Freud, não apenas pela conveniência de facilitar sua escuta ao impedir a presença fixa do olhar a ser suportada por várias horas.
· Para a primeira questão, a regra fundamental da associação livre lhe parece o melhor critério: “diga tudo o que lhe passa pela mente” (FREUD, 1913/1996, p. 150). O paciente pode escolher de que ponto começará sua fala. No entanto, mais do que uma conversa comum, encoraja-se que, ao falar, suspenda, tanto quanto possível, suas críticas e objeções. Espera-se que a associação livre seja em alguma medida enfraquecida ao longo do tratamento pelas resistências internas do sujeito.
O “trabalho terapêutico (therapeutische Arbeit) incide em duas fases” (Freud, 1916-1917/2010, p. 416, grifo do autor): na primeira, “a libido é retirada dos sintomas e concentrada na transferência” e, na segunda, “trava-se a luta por libertar (freigemacht) a libido deste objeto” (Freud, 1916-1917/2010, p. 416),
Referências:
PRISZKULNIK, Léia. Clínica (s): diagnóstico e tratamento. Psicologia USP, v. 11, p. 11-28, 2000.
FREUD, S. (1913). Sobre o início do tratamento (Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise I). In: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XII. 
FREUD, S. (1913). O início do tratamento (Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise I). In: Artigos sobre a técnica [1913-1916] - Obras Completas. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2019, Volume 10.
DUNKER, Christian. Como Freud falava do que fazia? Uma análise discursiva da conferência XXVIII sobre “A terapia analítica” de 1917. Natureza Humana-Revista Internacional de Filosofia e Psicanálise, v. 19, n. 1, 2017.
A sessão psicanalítica: características e elementos
Zimerman (1999) que “as semelhanças, diferenças, tangências e superposições entre o que se costuma denominar psicanálise e psicoterapia psicanalítica têm sido muito estudadas e discutidas, principalmente desde a década de 40, permanecendo na atualidade como um assunto controverso e polêmico” (p.31)
História da Psicoterapia: Psicoterapia era, em 1904, um método de trabalho pertencente à medicina, que procurava curar as doenças ditas nervosas por meios psíquicos e não por meios físicos. A psicoterapia era, inicialmente, um termo genérico empregado para designar qualquer tratamento realizado com método e propósitos psicológicos, sendo a psicanálise uma forma de psicoterapia (Zimerman, 1999; Schwartz, 200). Conforme Nicareta (2010), a história da psicoterapia remonta a Hipócrates (450 – 355 a.C.), que se ocupou do desenvolvimento de uma teoria dos humores e de um tratamento para as questões ligadas a distúrbios nestes humores. Contudo, Hipócrates não propôs uma psicoterapia, mas sim uma terapia de doenças mentais, pois não havia um método específico para tratá-las. Já com Fílon (30 a.C. – 30 d.C.), a psicoterapia adquiriu o status de tratamento psicológico, pois ele estabeleceu um conjunto de técnicas como meditação e jejum que restabeleceriam a saúde mental do doente. 
Técnicas Psicanalíticas e Psicoterapia psicanalítica:
· Técnicas bastante similares, sendo difícil a distinção entre elas; polos extremos de uma mesma abordagem, sendo possível oscilar de uma técnica a outra dentro de um mesmo tratamento essencialmente distintas, utilizando como critérios para diferenciação: duração da sessão, frequência e uso do divã, centralidade da transferência, objetivos e indicação terapêutica. Ambas se caracterizam pelo estabelecimento de uma investigação sobre as fantasias, os mecanismos de defesa e conflitos inconscientes do paciente, na busca da compreensão de fantasias subjacentes associadas. Em contrapartida, a fim de realizar tal distinção, os autores baseiam-se ora em fatores intrínsecos, ora em fatores extrínsecos aos tratamentos, conforme a caracterização de Gill (1954). Os fatores extrínsecos referem-se a elementos como duração da sessão, frequência e uso do divã. Já os fatores intrínsecos (análise da transferência; Objetivos: Psicoterapia - mudanças adaptativas; Psicanálise - reorganização estrutural) se referem às questões fundamentais pelas quais a análise é geralmente definida, como a neutralidade do terapeuta, objetivos do tratamento e centralidade da transferência. Afirmou que a psicanálise envolveria a possibilidade de uma reorganização fundamental estrutural por meio da qual os conflitos reprimidos poderiam ser integrados dentro do ego consciente, enquanto que na psicoterapia psicanalítica se faria uma reorganização parcial da estrutura psíquica no contexto de significantes mudanças sintomáticas.
Tratamento Psicanalítico: Surgiu com Freud. Inicialmente, Freud não fazia distinção entre os termos “psicoterapia” e “psicanálise”; a necessidade mais premente parecia ser distingui-la da medicina. Com a absorção da psicanálise – até então médica – pela psicologia, ciência que ganhava espaço na academia nos anos 1950, surgiu uma psicanálise que não era leiga (Freud, 1926/197b), mas técnica,aplicada e aprendida nas universidades nos cursos de psicologia. Por essa razão, de acordo com Nicareta (2010), os psicanalistas passaram a rechaçar a identificação da psicanálise como uma psicoterapia, como forma de tentar diferenciar uma “psicanálise pura” do conjunto das outras práticas que compunham o arsenal mais amplo das psicoterapias. Mas a mesma autora expôs a dificuldade dos psicanalistas de se distanciarem das psicoterapias, trazendo como exemplo o fato de que uma das primeiras práticas psicoterápicas instituídas após a segunda grande guerra, o humanismo criado por Rogers, estava carregada de elementos psicanalíticos. O tratamento psicanalítico propriamente dito inclui o uso do divã, frequência de 4 a 6 sessões semanais, seguindo os princípios da neutralidade e a regra da abstinência, e realiza trabalho interpretativo diante do estabelecimento de uma neurose de transferência para elaborar conflitos infantis. Freud caracterizou por quatro elementos: o inconsciente, a interpretação, a resistência e a transferência. Estes quatro elementos são essenciais para que um trabalho clínico possa ser chamado de psicanálise. Se uma forma qualquer de trabalho clínico não os emprega, não deve ser chamada de psicanálise. É para toda esta vasta gama de procedimentos que julgo adequado utilizar a designação de psicoterapias. 
Psicoterapia psicanalítica: O período em que se formam as primeiras psicoterapias propriamente ditas se dá entre 1880 e 1900. De um lado surgiram os laboratórios de psicologia experimental, com W. Wundt e W. James. Por outro lado, esse período também viu surgir as psicoterapias sugestivas e a psicanálise (Nicareta, 2010). Segundo Wallerstein (2005), com a fuga de psicanalistas europeus refugiados do nazismo para a América, especialmente para os Estados Unidos, houve a aliança e o intercâmbio de saberes entre estes e os psiquiatras norte-americanos, e a psicanálise se tornou então a voz dominante dentro das faculdades de medicina, hospitais-escola e clínicas psiquiátricas do país. Nesses locais, havia pacientes gravemente doentes, que diferiam dos neuróticos dos centros psicanalíticos europeus, em torno dos quais os preceitos técnicos da psicanálise haviam sido criados. Foi principalmente por essa razão, de acordo com Wallerstein, que os psicanalistas precisaram desenvolver modificações nas intervenções psicanalíticas para que estas pudessem se adequar às exigências clínicas de uma ampla gama de pacientes. Esse procedimento foi o grande responsável pelo surgimento da psicoterapia psicanalítica, ou seja, pela introdução de mudanças na psicanálise clássica (Eisold, 2005; Wallerstein, 2005). Se caracterizava pela possibilidade face-a-face, multiplicidade de intervenções, de frequência menor, a disposição face-a-face entre terapeuta e paciente e a utilização de intervenções variadas em detrimento da interpretação transferencial.Para compreendermos as particularidades da psicoterapia de orientação analítica, é fundamental situarmos o contexto histórico que propiciou o seu surgimento. A fim de evitar as controvérsias a respeito do termo “psicoterapia psicanalítica”, Green (2002) preferia nomear esta técnica como “psicanálise com modificação de enquadre” ou “relação psicanalítica com enquadre reformulado”. O autor definiu algumas variações da mesma: a) tratamento psicanalítico clássico com três características básicas: enquadre, regressão formal, neutralidade; b) tratamento com variações técnicas pontuais (setting, uso ou não do divã, frequência das sessões); c) tratamento com variações técnicas permanentes, o qual se daria no caso de pacientes com pouca capacidade para a regressão formal do modelo clássico, com os quais o analista precise buscar formas de facilitar a criação de representabilidade, como os pacientes em que há predomínio do soma sobre o psiquismo; d) psicoterapias praticadas por psicanalistas.
Hipnose: Não consegue dar conta das suas necessidades básicas, associada a outras formas de trabalho, sintomatologia muito exacerbeda, técnica complementar
Referências:
SILVA, M. da R.; GASPARETTO, L.; CAMPEZATTO, P. von M. Psicanálise e psicoterapia psicanalítica: tangências e superposições. Revista Psicolo-gia e Saúde, v. 7, n. 1, jan. /jun. 2015, p. 39-46 
MEZAN, R. Psicanálise e Psicoterapias. Revista Estudos avançados, 10 (27), 1996.
O Primeiro Contato. A entrevista inicial.
O primeiro contato do paciente com o analista: Comumente, o primeiro contato que um pretendente a tratamento analítico estabelece com o analista é por meio de uma chamada telefônica, ora falando diretamente, ora deixando um recado para que a ligação seja retornada. Assim, se ele vem protelando de longa data esse primeiro contato com o terapeuta que alguém lhe indicou (geralmente algum paciente ou ex-paciente desse analista, algum amigo, médico, familiar, ou por conhecimento prévio em determinadas circunstâncias, etc.), pode ser um sinal indicador de que ele ou não está suficientemente bem motivado para uma análise ou já esteja expressando temores próprios de uma caracterologia fóbica ou de uma típica indecisão obsessiva. Conduta ou linguagem do paciente podem estar expressando uma importante maneira de comunicação- um jeito seu de “ser”, em um nível que extrapola o da linguagem unicamente verbal. Observar: contato protelado por longo período, linguagem e entonação.
A entrevista inicial: Independentemente se o tratamento será sob a forma de uma análise clássica, com os seus conhecidos parâmetros mínimos, ou de alguma modalidade de terapia de base psicanalítica, é necessário que o analista tenha uma ideia razoavelmente clara das condições psíquicas e pragmáticas que tanto ele quanto retendente à análise possuem antes de enfrentar uma empreitada dessa envergadura. Também é útil destacar que no primeiro contato já se instala um estado de, digamos assim, pré-transferência.
“Tanto o analista quanto o paciente têm o direito de decidir se é com essa pessoa estranha que, reciprocamente, cada um deles tem à sua gente, desejam partilhar um convívio longo, íntimo e imprevisível.”
Conceituação de entrevista inicial: Momento que não tem um número de encontros,e tapa que vai trazer informações, tanto terapeuta, quanto paciente, “entrevista(s) inicial(ais)” antecede(m) o contrato, enquanto a “primeira sessão” concerne ao fato de que a análise já começou formalmente. 
Finalidades da entrevista inicial: Além dos objetivos mencionados, o propósito fundamental do contato preliminar é de o psicanalista avaliar as condições mentais, emocionais, materiais e circunstanciais da vida do paciente que o buscou; ajuizar os prós e os contras, as vantagens e as desvantagens, os prováveis riscos e os benefícios; o grau e o tipo de psicopatologia, de modo a permitir alguma impressão diagnóstica e prognóstica e reconhecer os efeitos contratransferências que lhe estão sendo despertados. Assim, balanceando todos esses fatores, poder discriminar qual a modalidade de terapia psicológica será a mais indicada para esse paciente e, mais ainda, no caso de a indicação ser uma análise, se ele realmente sente-se em condições e se, de fato, quer ser o terapeuta desse paciente. Se a sua teria de tratamento e de cura coincide com a do paciente.
Interpretação na entrevista inicial: As interpretações alusivas à neurose de transferência devem ser evitadas ao máximo; no entanto as interpretações compreensivas (dizer o suficiente para que o paciente se sinta compreendido), são necessárias para o estabelecimento do rapport, de uma necessária aliança terapêutica.
Uma outra abordagem para a elaboração de uma impressão diagnóstica consiste em considerar, distintamente, entre outros enfoques: 
1. Nosológico (uma determinada categoria clínica- história, desenvolvimento da pessoa).2. Dinâmico (a lógica do inconsciente), 
3. Evolutiva (cada etapa, com preponderância de vazios, carências orais, defesas obsessivas anais, etc., implica alguma adequação técnica específica). 
4. Funções do ego (por exemplo, a “capacidade sintética do ego” já é um nível elevado que permite simbolizar simultaneamente significações opostas e ou contraditórias). 
5. Configurações vinculares (dentro da família ou fora dela, nos grupos em gerais, etc.). 
6. Comunicacional (na atualidade, esse aspecto adquire uma grande relevância). 
7. Corporal (cuidados corporais, auto-imagem, presença de hipocondria ou de somatizações...). 8. Manifestações transferenciais e contratransferenciais, etc.
Critérios de analisabilidade e de acessibilidade: 
Anasibilidade: O primeiro é o critério clássico empregado para a referida indicação de análise, o qual se baseia fundamentalmente nos aspectos do diagnóstico clínico (pacientes psicóticos ou aqueles portadores de uma estrutura altamente regressiva, como borderlines, psicopatas, perversos, etc., eram quase sempre recusados, salvo nos casos de psicanalistas investigadores, como Rosenfeld, Segal, Meltzer e Bion, pioneiros na análise de psicóticos), e prognóstico, como uma antecipação de possíveis riscos e frustrações. 
Acessibilidade: por sua vez, não valoriza unicamente o grau de patologia manifesta pelo paciente; antes, o interesse maior do analista é a reserva das suas capacidades positivas que ainda estão latentes, ocultas ou bloqueadas.
· Motivação, a disponibilidade, a coragem e a capacidade de o paciente permitir um acesso ao seu inconsciente, para o analista, para ele mesmo. 
O contrato: O contrato é um acordo simbólico. A palavra contrato pode ser decomposta em “con” + “trato”, isto é, ela significa que, além do indispensável acordo manifesto de algumas combinações práticas básicas que irão servir de referência à longa jornada da análise, há também um acordo latente que alude a como o analista e o paciente tratar-se-ão reciprocamente. O contrato, portanto, exige uma definição de papéis e funções, centrada na natureza de trabalho consciente (direitos e deveres de cada um, combinação de valores e forma de pagamento, horários, plano de férias, uso compulsório do divã, número de sessões, etc.), respectivamente por parte do psicanalista, do analisando e da vincularidade entre ambos, sendo útil considerá-los separadamente, sempre levando em conta que, subjacente às combinações conscientes, existem poderosos e ativos fatores inconscientes. Em segundo lugar, espera-se que o analisando reflita com seriedade sobre todos os itens das combinações que estão sendo propostas para o contrato analítico e que, desse contrato, ele participe ativamente e não de uma forma passiva e de mera submissão ao analista. 
Indicações e contraindicações: Persistem como contraindicações indiscutíveis para a análise como escolha prioritária os casos de alguma modalidade de degenerescência mental ou aqueles pacientes que não demonstram a condição mínima de abstração e simbolização, bem como também para os que apresentam motivação esdrúxula (pessoas que não querem fazer terapia foram enviadas por terceiro), além de outras situações afins.
O que se espera do psicanalista? Espera-se que ele tenha bem claro para si os seguintes aspectos?
1. O terapeuta deve estar em condições de reconhecer a natureza de suas contra-resistências, contratransferências e possíveis contra-actings;
2. A natureza da provável angustia; 
3. O grau de sua empatia ou rejeição pelo paciente;
4. Sensibilidade de perceber se é com ele que o paciente deseja estar;
5. Se ele vai trabalhar confortável diante das combinações feitas, como os valores que o paciente pode pagar, os horários esdrúxulos das sesso~es, que venham a pertubar o estilo de viver, etc.
6. A forma de como o paciente reage e contata com os assinalamentos ou as eventuais interpretações que lhe sejam feitas;
7. Como ele pensa e correlaciona os fatos psíquicos, se demonstra uma capacidade para simbolizar, abstrair, dar acesso ao seu inconsciente, e se revela condições para fazer insights;
8. Qual é a natureza de sua motivação predominante para aceitar tratar analiticamente uma certa pessoa: se é por um natural prazer profissional, ou prevalece uma oportunidade para uma determinada pesquisa; 
9. Ele deve ter definido para si qual é o seu projeto terapêutico, se o mesmo está mais voltado para a obtenção de “benefícios terapêuticos” ou de “resultados analíticos”;
10. Diante de um paciente bastante regressivo, o analista deve ponderar se ele reúne as condições de conhecimento teórico-técnico, notadamente das primitivas fases do desenvolvimento emocional primitivo;
11. Da mesma forma, ele deve avaliar se preenche aqueles atributos que Bion (1992) denomina “condições necessárias mínimas” e que aludem à empatia, continente, amor às verdades, etc.
12. Partindo da assertiva de que não deve haver uma maneira única, estereotipada e universal de psicanálise;
Três princípios básicos da relação terapêutica:
1- Ela não é simétrica (ou seja, os lugares ocupado e os papéis a serem desempenhados são desiguais, assimétricos, e obedecem a uma natural hierarquia, com direitos, deveres e privilégios distintos)
2- Não é similaridade (isto é, os dois do par analítico não são iguais)
3- A relação que o paciente reproduz com o analista é isomórfica (ou seja, na essência, eles se comportam de uma mesma forma, como seres humanos que são)
Referências:
ZIMERMAN, David E. O primeiro contato. A entrevista inicial. Os critérios da analisabilidade. O contrato. 2004.
O setting Terapêutico
Conceito: O setting compreende o contrato mas não se limita a ele. Toda terapia psicanalítica deve se processar em um ambiente especial, tanto do ponto de vista físico quanto de uma atmosfera emocional apropriada para a efetivação de continuadas e prolongadas experiências emocionais, em uma situação rara, única e singular. Tudo isso configura a formação de um setting (comumente traduzido em português por “enquadre”), que pode ser conceituado como a soma de todos os procedimentos que organizam, normatizam e possibilitam o processo psicanalítico. Além de que, ajuda a definir parâmetros de trabalho tanto do ponto de vista físico, como da atmosfera emocional, apropriada para efetivação de continuadas e prolongadas experiências emocionais em uma situação rara, única e singular. 
Assim, o setting resulta de uma conjunção de regras, atitudes e combinações, tanto as contidas no “contrato analítico” (conforme descrito no capítulo anterior) como também aquelas que vão se definindo durante a evolução da análise, como os dias e horários das sessões, os honorários com a respectiva modalidade de pagamento, o plano de férias, etc. É o conjunto das combinações que, cabe frisar – não deve ser o de uma mera imposição do analista, mas, sim, o de proposição, de sorte a, junto com o paciente, fazerem, dialeticamente, uma construção a dois. Destarte, o setting, por si mesmo, funciona como um importante fator terapêutico psicanalítico, pela criação de um novo espaço que possibilita ao paciente reproduzir, no vínculo transferencial, seus aspectos infantis e, a um mesmo tempo, poder usar a sua parte adulta para ajudar o crescimento daquelas partes infantis, possivelmente frágeis e algo desamparadas. Os terapeutas são guardiões do enquadre. 
· Pacientes que tentam transgredir é inadmissível que transgrida os princípios básicos: respeitar horários e cumprimentos. 
· Em se tratando de pacientes muito regressivos, como é o caso de crianças autistas, F. Tustin (1981) sugere que o setting analítico deve ser visto como uma incubadora, na qual o “prematuro psicológico” possa encontrar as gratificações básicas – calor, compreensão, amor e paz – que a criança ainda não realizou, porquanto, desde o nascer, ela ainda não teve as condições ambientais mínimas para satisfazê-las.
Funções terapêuticas do setting: O enquadre, conforme já destacado, formado com o paciente, vai muito além de uma mera medida prática, resumida a uma série de combinaçõesque possibilitem a realização do tratamento analítico. Pelo contrário, há muitas particularidades invisíveis – sutilezas, armadilhas, transgressões, a pessoa real do analista como um novo modelo de identificação, etc. Algumas das características que me parecem ser sobremodo relevantes na prática clínica:
1. Salas acolhedoras;
2. A responsabilidade de preservar o setting é do analista;
3. Ideações suicidas e autismo precisam de atenção diferenciada;
4. Deve se desvincular da pretensão de outras áreas da saúde;
5. De uma maneira geral, o setting analítico é o mesmo para qualquer tipo de paciente; no entanto, no caso de crianças autistas ou qualquer outro paciente que esteja protegido por uma densa cápsula autística, como já foi acentuado, é possível que o profissional seja mais ativo, aceite algumas mudanças em relação às medidas habituais, interaja mais com os familiares e tenha a liberdade para criar algumas formas de aproximação, incentivo e comunicação não unicamente verbal;
6. . O fato de o paciente com autismo psicógeno estar à espera de que seus vazios sejam preenchidos e que o setting funcione como uma verdadeira incubadora ou “útero” psicológico” não significa que o analista deva se comportar como uma “mãe substituta”, mas, sim, com uma nova condição de maternagem, que permita, por meio de sua atividade analítica, a suplementação de falhas e vazios originais;
7. Uma vez instituído, o setting deverá ser preservado ao máximo. Diante da habitual pergunta “se isso também vale para pacientes muito regredidos, como os psicóticos”, penso que uma resposta adequada seja a de que tal recomendação vale principalmente para esse tipo de pacientes
8. Assim, as regras do setting ajudam a prover uma necessária delimitação entre o “eu” e “os outros”, por meio de desfazer a indiscriminação e indiferenciação e, portanto, facilitando a obtenção das capacidades adultas de diferenciação, separação e individuação;
9. Igualmente, as regras que foram instituídas no enquadre auxiliam a definir a noção de limites, limitações, lugares e diferenças que provavelmente estão algo borradas pela influência da onipotência e onisciência;
10. No caso do terapeuta “bonzinho”, ele não só não saberá provocar eventuais frustrações a certos pedidos e expectativas do paciente como também não terá condições de colocar limites e definir limitações, nem propiciar a possibilidade de analisar sentimentos difíceis (mergulhar na depressão do paciente ou nas suas partes psicóticas, etc.) 
11. Também devemos considerar o fato de que o analista, que evita ao máximo frustrar o paciente em seus pedidos por mudanças nas combinações do setting, chegando a ponto de fazer alguns sacrifícios pessoais, pode estar encobrindo uma atitude sedutora a serviço de seu narcisismo ou o seu medo diante de uma possível revolta e rejeição por parte do analisando.
Referências:
ZIMERMAN, David E. O primeiro contato. A entrevista inicial. Os critérios da analisabilidade. O contrato. 2004.
Regras Técnicas Recomendadas por Freud
Ao longo dos seus trabalhos sobre técnica psicanalítica, mais consistentemente estudados e publicados no período de 1912 a 1915, Freud deixou um importante e fundamental legado para todos os psicanalistas das gerações vindouras: as regras mínimas que devem reger a técnica de qualquer processo psicanalítico. Muito embora Freud as tenha formulado como “recomendações”, elas são habitualmente conhecidas como “regras”, talvez pelo tom pedagógico e um tanto superegóico com que ele as empregou nos seus textos. Convém lembrar que, classicamente, são quatro essas regras: a regra fundamental (também conhecida como a regra da livre associação de ideias), a da abstinência, a da neutralidade e a da atenção flutuante. Creio que é legítimo acrescentar uma quinta regra: a do amor à verdade, tal foi a ênfase que Freud emprestou à verdade e à honestidade como uma condição sine-qua-non para a prática da psicanálise. Essas regras permanecem vigentes em sua essencialidade, porém vem se transformando por meio de algumas rupturas epistemológicas e inevitáveis mudanças que sucessivamente vêm se processando no perfil do paciente, do analista e da própria ideologia do processo analítico, com óbvias repercussões na prática clínica.
1. REGRA FUNDAMENTAL DA (LIVRE ASSOCIAÇÃO DE IDEIAS): Consiste no compromisso assumido pelo analisando em associar livremente as ideias que lhe surgissem de forma espontânea na mente e falar para o analista, independentemente de suas inibições do fato se ele as julgasse importantes ou não. “Contar tudo que lhe vem à cabeça, sem omitir nada.” No trabalho Dois artigos para enciclopédia (1923), Freud definiu com precisão as suas três recomendações fundamentais que, no início de qualquer análise, devem necessariamente constituir essa “regra da livre associação de ideias”: 1) o paciente deve se colocar em uma posição de “atenta e desapaixonada auto-observação”; 2) comprometer-se com a mais absoluta honestidade; 3) não reter qualquer ideia a ser comunicada, mesmo quando ele sente que “ela é desagradável, quando julga que ela é ridícula, não tão importante ou irrelevante para o que se procura”. Igualmente, na atualidade, a “associação livre” também é um requisito importante na pessoa do analista, ou seja, antes de formular a sua interpretação, ele deve proceder a um trabalho de elaboração interna, a partir de uma forma livre de processar as suas próprias associações de ideias e sentimentos.
2. REGRA DA ABSTINÂNCIA: 1912- época em que as análises eram curtas na clínica psicanalista eram pacientes predominantemente histéricos, que desenvolveram um estado de paixão e atração erótica como analista (desejo incestuoso, fantasia de sedução). Esta regra mostra a necessidade do psicanalista se abster de qualquer tipo de atividade que não queira interpretar, pois inclui a proibição de qualquer tipo de gratificação externa, sexual ou social, ao mesmo tempo que o terapeuta deve preservar ao máximo ou anonimato para o paciente. A maioria dos analistas atuais trabalham de forma mais descontraída, ou seja, clima de análise, adquirindo um estilo mais coloquial, com menor evasão de abordagem. Além disso, há um certo entendimento do superego analítico, possibilitando ao analista perguntar, ou rir, durante a sessão, responder a algumas questões particulares, dar algum tipo de orientação, mostrar algum tipo de emoção, não tenha medo que alguns vão aparecer. Ainda em relação à regra da abstinência, e intimamente ligada a ela, ganha relevância a recomendação de Bion de que o psicanalista deve se abster de funcionar com o seu psiquismo saturado por memórias, desejos e ânsia de compreensão, sendo que tal postulação nos remete à seguinte regra de Freud, a da “atenção flutuante”.
3. REGRA DA ATENÇÃO FLUTUANTE: O terapeuta deve ter condições de estabelecer uma comunicação do “inconsciente para o inconsciente” e que tanto o ideal sério quanto o analista possam ser artificialmente cegados para poder enxergá-lo. Bion argumenta que este estado de "atenção flutuante" é bastante útil para permitir ou emergir, na mente do analista, dá capacidade importante, latente em tudo, desde a intuição até o costume de se tornar ofuscado quando a percepção do analista e se dá conta apenas de fios de cabelo. Para pensa-se que tanto a "atenção flutuante" de Freud, quanto ou "sem memória, sem desejo ..." de Bion, equivale a um estado mental de pré-consciência que, portanto, propicia ao analista estar vinculado ao mesmo tempo aos fatores externos e conscientes, bem como uma área do inconsciente que possibilita um sistema intuitivo, que favorece a arte e a criatividade psicanalítica. 
4. REGRA DA NEUTRALIDADE: O psicanalista deve ser opaco para seus pacientes e, como um espelho, não mostra nada a não ser o que mostrou. Ou o conceito de neutralidade deve estender-se aos próprios desejos e fantasias do analista, para possibilitar ao analista colocar à sua disposição dos analisandos sérios, ao contrário de valores prévios, é necessário apelar a um reducionismo sistemático de seusvalores anteriores, bem como, também, de forma que você ocasionalmente aproveite uma interação profunda enquanto analisa e ressignificar suas próprias experiências emocionais antigas. Essa regra se refere diretamente à necessidade de o analista não se envolver afetuosamente como paciente. No sentido absoluto do termo, a neutralidade é um mito, impossível de ser alcançado, até mesmo porque o psicanalista é um ser humano como qualquer outro e, portanto, tem a sua ideologia e o seu próprio sistema de valores, os quais, quer ele queira ou não, são captadas pelo paciente.
· Contratransferência: consciência, clareza do que e como o que está sendo trazido me pega, terapia.
5. REGRA DO AMOR A VERDADE: Em diversas passagens de seus textos técnicos, Freud reiterou o quanto considerava a importância da verdade para a evolução exitosa do processo psicanalítico. Mais exatamente, a sua ênfase incidia na necessidade de que o psicanalista fosse uma pessoa veraz, honesta, verdadeira, e que somente a partir dessa condição fundamental é que a análise poderia, de fato, promover mudanças verdadeiras nos analisandos. Dessa firme posição de Freud, podemos tirar uma primeira conclusão: a de que mais do que unicamente uma obrigação de ordem ética, a regra do amor às verdades também se constitui como um elemento essencial de técnica de psicanálise. As verdades apresentam ao psiquismo o mesmo que os alimentos ao organismo (Bion). Entretanto, não é uma verdade moral. “Não se deve confundir amor a verdade com um desejo de certeza, pois, em nosso mundo relativo, toda certeza é uma mentira. ”
6. UMA OUTRA REGRA: A PRESERVAÇÃO DO SETTING: Além dos aspectos destacados, é inegável que um uso adequado das “regras técnicas” implica necessariamente a preservação do setting instituído. Como já foi visto, cabe ao enquadre a primacial função de normatizar, delimitar, estabelecer a assimetria (os lugares, os papéis e as funções do analista e do paciente não são simétricos), bem como a não-similaridade (eles não são iguais).
Referências:
Freud, Sigmund. (1976). Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Christiano Monteiro Oiticica, trad., Vol. 12. p. 145-159). Rio de Janeiro: Imago. (Texto original publicado em 1912).
ZIMERMAN, David Epelbaum. Manual de Técnica Psicanalítica: Uma re-visão. Porto Alegre: Artmed, 2008. Pdf
Uma teoria Técnica?/ As resistências
Visão Histórico- Evolutiva
Desde os primórdios da psicanálise, o fenômeno resistência tem sido exaustivamente estudado em sua teoria e em sua técnica, mas, nem por isso, na atualidade, perdeu em significação e relevância. Na qualidade de conceito clínico, a concepção de resistência surgiu quando Freud discutiu as suas primeiras tentativas de fazer vir à tona as lembranças “esquecidas” de suas pacientes histéricas. Freud empregou o termo resistência pela primeira vez ao se referir a Elisabeth Von R. (1893), usando a palavra original widerstand, sendo que em alemão wider significa “contra”, como uma oposição ativa. Até então, a resistência era considerada exclusivamente obstáculo à análise, e a sua força corresponderia à quantidade de energia com que as ideias tinham sido reprimidas e expulsas de suas associações.
Em a interpretação dos sonhos (1900), os conceitos de resistência e de censura estão intimamente relacionados: a censura é para os sonhos aquilo que a resistência é para a associação livre. “uma das regras da psicanálise é que tudo o que interrompe o progresso do trabalho psicanalítico é uma resistência”(p. 551).
Freud aprofundou bastante o estudo sobre as resistências em Inibição, sintoma e angústia (1926), quando, utilizando a hipótese estrutural, descreveu cinco tipos e três fontes das mesmas. Os tipos derivados da fonte do ego eram: 1) resistência de repressão (consiste na repressão que o ego faz de toda percepção que cause algum sofrimento); 2) resistência de transferência (neste caso, o paciente manifesta uma resistência contra a emergência de uma transferência “negativa” ou “sexual” com o seu analista); 3) resistência de ganho secundário (pelo fato de que a própria doença concede um benefício a certos pacientes, como os histéricos, as personalidades imaturas e aqueles que estão pleiteando alguma forma de aposentadoria por motivo de doença, essas resistências são muito difíceis de serem abandonadas, eis que egossintônicas); 4) resistências provindas do Id (Freud as considerava como ligadas à “compulsão à repetição”, sendo que, juntamente com uma “adesividade da libido”, promovem uma resistência contra mudanças); 5) resistência oriunda do superego (a mais difícil de ser trabalhada, segundo Freud, por causa dos sentimentos de culpa que exigem punição).
Assim, de modo genérico, a resistência no analisando é conceituada como a resultante de forças, dentro dele, que se opõem ao analista ou aos processos e procedimentos da análise, isto é, que obstaculizam as funções de recordar, associar, elaborar, bem como ao desejo de mudar. 
Resistências na prática analítica:
1. A resistência tanto pode ser inconsciente quanto consciente, mas sempre provém do ego, ainda que possa vir orquestrada pelas demais instâncias psíquicas. Ela pode se expressar por meio de emoções, atitudes, idéias, impulsos, fantasias, linguagem, somatizações ou ações;
2. Na atualidade, além das intra e inter-relações entre id, ego e superego, é imprescindível incluir o ego ideal, o ideal do ego, o ego, o alter-ego, o contra-ego e o ego real, nas suas múltiplas formas de combinação entre si e com a realidade exterior;
3. Uma outra tentativa de sistematização seria a de baseá-la no tipo, grau e função das defesas mobilizadas. Assim, as organizações defensivas podem se constituir em: inibições, sintomas, angústia, estereotipias, traços caracterológicos, falsa identidade, formas obstrutivas de comunicação e linguagem, actings excessivos, etc.
4. . Pode-se classificar as resistências relacionando-as aos pontos de fixação patológicos que lhes deram origem. Assim, ter-se-ia, por exemplo, resistências de natureza narcisista, esquizoparanóide, maníaca, fóbica, obsessiva, histérica, etc;
5. Essas últimas situações representam organizações defensivas, rigidamente estruturadas, porquanto a necessidade de sobrevivência ocupa um espaço psíquico muito maior que o dos desejos edípicos. Dessa forma, na análise, resulta que quanto mais frágil for o ego do paciente, mais forte ele o é para resistir ao analista;
6. Pacientes que resistem à demonstração de emoções: muito comumente isso se deve ao fato de que, quando eram crianças, as mães podem ter sido muito dedicadas aos cuidados materiais (higiene, alimentação...), porém muito distanciadas afetivamente do filho, de modo que esse pode ter desenvolvido o uso dos órgãos sensoriais, e intelectivos, em detrimento dos emocionais;
7. É útil que o analista consiga discriminar dois estados mentais do paciente que são muito parecidos, porém que, essencialmente, são diferentes, de formas bem opostas: 1) um é a condição de resistência, para o fim de não mudar!; 2) o outro é um estado de “resiliência”, quando, então, o paciente parece que está resistindo, porque fica contestando e polemizando, porém faz isso com o propósito de se fazer escutar, de avançar na vida!
8. Ainda um outro tipo de resistência decorrente de fixações narcisistas é aquele de natureza que se poderia denominar “transferência de vingança” (em alusão à expressão que Freud utilizou para caracterizar sua paciente Dora, 1905, p. 116), a qual está presente em pacientes que, embora de forma latente, são cronicamente ressentidos e rancorosos.
Referências: 
ZIMERMAN, David Epelbaum. Manual de Técnica Psicanalítica: Uma re-visão. Porto Alegre: Artmed, 2008. pdf
Transferências. Transferência de Impasse. Psicose de Transferência
Transferência: O fenômeno transferencial como o conjunto de todas as formas pelas quais o paciente vivencia com a pessoa do psicanalista, na experiência emocional da relaçãoanalítica, todas as “representações” que ele tem do seu próprio self, as “relações objetais” que habitam o seu psiquismo, bem como os conteúdos psíquicos que estão organizados como “fantasias inconscientes”, com as respectivas distorções perceptivas, de modo a permitir “interpretações” do psicanalista que possibilitem a integração do presente com o passado, o imaginário com o real, o inconsciente com o consciente.
Extratransferência: Trata-se de um termo bastante conhecido e divulgado, que classicamente designa uma condição pela qual o analista percebe que o analisando demonstra, por meio dos inter-relacionamentos de sua vida cotidiana, a forma de como estão estruturadas as suas relações objetais internas. De modo geral, os analistas desvirtuam a extratransferência e apregoam que tais experiências emocionais só têm eficácia analítica se forem analisadas à luz da vivência do “aqui-agora-comigo” transferencial.
Transferência psicótica: Conforme o nome designa, trata-se de uma transferência que caracteriza os pacientes clinicamente psicóticos, sendo que, contrariamente à crença de Freud de que eles não seriam analisáveis, porquanto nunca desenvolveriam uma transferência (ele partia da ideia de que, nesses casos, toda libido estava investida auto-eroticamente), hoje é consensual que eles desenvolvem, sim, uma clara transferência, visto que, embora muitas vezes sejam inacessíveis à análise, muitas outras vezes esses pacientes possibilitam que se desenvolva um verdadeiro trabalho analítico.
Psicose de transferência: Consiste no fato, nada infrequente no curso das análises, de que, eventualmente, pacientes não-psicóticos ingressem em um estado transferencial de tamanho negativismo e distorção dos fatos reais, em relação ao analista, que chega a dar a impressão de uma situação psicótica, de fato. No entanto, a grande característica dessa psicose transferencial reside no fato de que fica restrita à situação da sessão analítica, finda a qual o analisando retoma a sua vida de forma completamente normal.
Aliança terapêutica: o fato de que um determinado paciente apresente uma condição mental, tanto de forma consciente quanto inconsciente, que permita que ele se mantenha verdadeiramente aliado à tarefa do psicanalista. Dizendo com outras palavras, a aliança terapêutica (A.T.) consiste no fato de que a parte observadora do paciente se alia ao analista e coopera para enfrentar seus aspectos doentes. Assim, na aliança terapêutica, mais do que na pessoa do analista, os pacientes se ligam no processo da análise, de modo que a aliança sempre implica em um mútuo reconhecimento que, preliminarmente, começa quando o paciente percebe que o terapeuta está comprometido, com emoções e sua crença no processo analítico.
Vínculo Transferencial: A transferência negativa é possível muitas vezes devido a AT; o que representa para o paciente estar dentro do processo; o paciente se liga no processo de análise e não na pessoa real do terapeuta. 
Match: Talvez a melhor tradução para este termo seja a de encontro psicanalítico. Ele alude diretamente ao que vem sendo denominado “relação real”. Trata-se de uma conceituação proposta por psicanalistas pesquisadores norte-americanos, como J. Kantrowitz e colaboradores (1989), e diz respeito ao fato de que uma relação analítica vai bastante além de uma simples relação transferencial, repetidora de vivências passadas. A investigação desses autores obedeceu a uma rigorosa metodologia científica e permitiu-lhes a conclusão de que os aspectos pessoais de cada psicanalista em relação com os de um determinado paciente constituem um match singular, o qual tem uma decisiva influência na evolução, exitosa ou não, da análise.
Pessoa real do analista: Observações equivalentes a essas últimas mencionadas estão convocando os analistas para se perguntarem quanto à importância que deve ser creditada (ou desacreditada) à pessoa real do analista na construção do vínculo transferencial-contratransferencial e, por conseguinte, no destino da análise. Tela Transferencial.
Tipos de Transferência:
1. Transferência positiva: Classicamente essa denominação referia-se a todas as pulsões e derivados relativos a libido, especialmente os sentimentos carinhosos e amistosos, mas também incluídos os desejos eróticos, desde que eles tenham sido sublimados sob a forma de amor não-sexual e não persistam como um vínculo erotizado.
2. Transferência idealizadora: Tal como antes foi referida, a transferência idealizadora, mesmo que em grau exagerado, quando parte de pacientes bastante regredidos, deve ser bem aceita pelo analista, pelo fato de que ela representa uma importante e necessária tentativa de contrair um vínculo primário. As “transferências histéricas”, de início, são altamente idealizadas e pertinazes, embora elas possam ser muito instáveis e lábeis, de modo que os analistas podem se entusiasmar muito rapidamente com os resultados da psicanálise, e depois sofrer decepções.
3. Transferência negativa: Com esse nome, Freud referia aquelas transferências nas quais predominava a existência de pulsões agressivas com os seus inúmeros derivados, sob a forma de inveja, ciúme, rivalidade, voracidade, ambição desmedida, algumas formas de destrutividade, as eróticas incluídas, etc.
4. Transferência especular: Na atualidade, é consensual entre os psicanalistas que a transferência não expressa unicamente conflitos, tais como aqueles que tipificam a “neurose de transferência”, mas também que ela traduz os problemas de déficit. Neste último caso, próprio dos pacientes com fortes fixações em etapas primitivas – nas quais as necessidades emocionais básicas não foram suficientemente satisfeitas pelos cuidados de uma adequada maternagem –, a transferência assume características de uma busca de algo em alguém.
5. Transferência erótica e erotizada: Em 1915, Freud referiu-se ao “amor de transferência” como uma complicação do processo psicanalítico, que acontece com frequência e no qual a(o) paciente diz-se “apaixonada(o)” pelo seu(sua) analista. Embora reconhecesse o caráter defensivo dessa forma transferencial, Freud alertava os terapeutas para que não confundissem essa reação com um amor verdadeiro, a um mesmo tempo em que os advertia contra as tentativas de eles reprimirem o amor desses pacientes, desde que “o tratassem como algo irreal e o rastreassem até suas origens inconscientes”. Freud também advertia quanto aos “casos graves de amor transferencial” e descrevia essas suas pacientes histéricas como “meninas que, por natureza de uma pulsão elementar, recusam aceitar o psíquico em lugar do material”, sendo que ele sugeria que a única forma de tratar esses casos é com uma tentativa de mudar de analista ou, então, com a interrupção da análise. Em contrapartida, a transferência erotizada designa a predominância de pulsões ligadas ao ódio, com as respectivas fantasias agressivas, que visam a um controle sobre o analista e a uma posse voraz dele. 
6. Transferência perversa: O termo “perverso” deve ser entendido como um “desvio da normalidade”, porém não deve ser tomado como sinônimo de uma “perversão”, clinicamente configurada como tal. Se refere aos pacientes que tentam “perverter” as combinações que eles aceitaram em relação ao setting analítico, procurando modificar “as regras do jogo”, traduzidas nas formas de pagamento, na obtenção de privilégios, em alguma forma de provocação para tirar o analista de seu lugar, etc.
7. Transferência de impasse: Embora essa denominação não costume aparecer na literatura psicanalítica, ela parece ser válida como uma forma de designar aqueles períodos transferenciais, típicos de situações de “impasses analíticos”, que, inclusive, podem culminar com a preocupante situação de uma “reação terapêutica negativa”. Nesses casos de impasse, a transferência do paciente tanto adquire uma forte tonalidade erotizada que, enquanto dura, pode impossibilitar o curso da análise, conforme foi descrito atrás, ou, como acontece mais comumente, o analisando fica invadido por ansiedades paranóides, de modo que todo o seudiscurso é concentrado em queixas e acusações ao seu analista, a um mesmo tempo que fica em um estado de tamanha defensividade que não consegue escutar o que seu analista diz. Em casos mais extremos, essa forma de transferência pode atingir o estado conhecido como psicose de transferência, tal como Rosenfeld a conceitua.
A transferência na prática analítica: 
Em relação ao setting
· A transferência é um fenômeno original no qual o presente dá forma ao passado, a um mesmo tempo em que este dá forma àquele. O que é, era; e o que era, é! A transferência não é, em si mesma, uma resistência, porém pode ser usada como tal;
· A análise não cria a transferência; apenas propicia a sua redescoberta, bastante facilitada pela instalação do setting, que favorece algum grau de regressão do paciente, por meio de uma intimidade;
· A transferência é a externalização de um “diálogo no interior do psiquismo”;
· A conceituação da transferência como repetição de necessidades – que não foram compreendidas e satisfeitas na devida época primitiva do desenvolvimento emocional – delega ao setting uma considerável importância no processo analítico, porquanto esse passa a representar para o paciente um novo e singular espaço, no qual ele poderá reexperimentar e transformar aquelas vivências emocionais traumáticas, mal resolvidas, desestruturantes e representadas no ego de forma patogênica;
· Os aspectos reais do analista que podem determinar uma influência na transferência do paciente dizem respeito desde os detalhes do consultório, o seu sexo, a idade, como também a sua ideologia (que o paciente logo percebe), a escolha do material a ser interpretado e a sua forma de interpretar. 
Em relação as resistências:
· Embora o clássico conceito de “resistência de transferência” venha rareando na literatura psicanalítica, é necessário lembrar que Freud, primeiramente, considerou a transferência como uma forma de resistência (...o analisando repete, em lugar de recordar – 1914, p.196), e, em um segundo momento, ele a concebeu como aquilo que é o próprio “resistido”;
· É útil estabelecer uma distinção entre dois tipos de relação entre transferência e resistência: um é a resistência contra a tomada de conhecimento da transferência, enquanto o outro tipo consiste em uma resistência contra a resolução transferencial;
· Ana Freud descreveu a “transferência de defesa”, que ela exemplifica com a possibilidade de o paciente manifestar uma transferência de hostilidade a qual o está protegendo do seu medo de amar.
Em relação às interpretações:
· Reduzir o momento da situação analítica a apenas uma única categoria transferencial, como seria, por exemplo, considerar somente a transferência “paterna” ou “materna”, sem levar em conta o fato de que cada um dos pais está introjetado em cada analisando, de uma forma bastante dissociada é limitado. Assim, cabe ao analista se perguntar: “Qual é o pai que esse paciente está transferindo, para mim, nesse momento? O amigo bom, o tirano mau, um substituto das falhas da mãe? A mãe boa que velou seu sono, alimentou-o e protegeu-o ou a mãe que está representada no seu ego, como invejosa, castradora, infantilizadora, etc.?”.
· Com outras palavras: independentemente do sexo biológico, o “analista-mãe” permite e facilita uma regressão do paciente a níveis simbióticos com ele(a); ao mesmo tempo que, como “analista-pai”, ele frustra, regula, normatiza e delimita essa aproximação, colocando-se na condição de uma “cunha interditora”, à moda de um “outro”, um terceiro, que é autônomo e diferente do paciente, assim rompendo com as ilusões narcisistas que este nutre pelo “analista-mãe”.
Referências: 
ZIMERMAN, David Epelbaum. Manual de Técnica Psicanalítica: Uma re-visão. Porto Alegre: Artmed, 2008. pdf
Contratransferência
Freud: a primeira menção, explícita, ao fenômeno da contratransferência, coube a Freud (1910, p. 130), que a ele se referiu, no congresso de psicanálise de Nuremberg, com a denominação original de Gegenubertragung, o que alguns autores traduziram como transferência recíproca. Nessa ocasião, Freud usou este termo para referir-se à resistência inconsciente do analista como sendo um obstáculo que o impedia de ajudar o paciente a enfrentar áreas da psicopatologia que ele próprio não conseguia enfrentar. Para Freud, a contratransferência consistia nos “sentimentos que surgem no inconsciente do terapeuta como influência nele dos sentimentos inconscientes do paciente”, e ele destacava o quanto era imprescindível que o analista “reconhecesse essa contratransferência em si próprio, e a necessidade de superá-la”. Chamada Transferência recíproca. 
Autores kleinianos: Todos os autores que estudam o fenômeno transferencial contratransferencial utilizam, de uma forma ou outra, os conceitos kleinianos de dissociação e de identificação projetiva e introjetiva, a verdade é que M. Klein, da mesma forma que Freud, sempre sustentou energicamente a sua posição de que a contratransferência não era mais do que um obstáculo para a análise, pois ela corresponderia a núcleos inconscientes do analista, insatisfatoriamente analisados.
Conceituação: A constante interação entre analista e paciente implica em um processo de recíproca introjeção das identificações projetivas do outro. Quando isso ocorre, mais especificamente na pessoa do analista, pode mobilizar nele, durante a sessão, uma resposta emocional – surda ou manifesta – sob a forma de um conjunto de sentimentos, afetos, associações, fantasias, evocações, lapsos, imagens, sonhos, sensações corporais, etc. Dizendo com outras palavras, o fenômeno contratransferencial resulta das identificações projetivas oriundas do analisando, as quais provocam no analista um estado de contraidentificação projetiva, segundo conceituação de Grinberg (1963), para quem os conflitos particulares do analista não são os que determinam a contratransferência; o que simplesmente acontece é que ele fica impregnado com as maciças cargas das identificações projetivas do paciente e fica sendo, passivamente, dirigido a sentir e a executar determinados papéis que o paciente “colocou” e despertou dentro do terapeuta. Na atualidade, predomina entre os psicanalistas a aceitação do tríplice aspecto da contratransferência: como obstáculo, como instrumento técnico e como um campo, no qual o paciente pode reviver as fortes experiências emocionais que originalmente teve. 
As maiores controvérsias entre os autores giram em torno das questões relativas:
a) Se o fenômeno contratransferencial, durante a sessão, é unicamente inconsciente ou também pode ser pré-consciente e consciente.
b) Se não há o risco de se confundirem os sentimentos do analista como uma resposta sua às identificações projetivas do paciente quando, na verdade, esses sentimentos podem ser exclusivamente do próprio terapeuta. 
c) Se a contratransferência pode ficar a serviço da empatia e da intuição. 
d) Se o analista pode interpretar a partir de seus sentimentos contratransferenciais. 
e) Se deve “confessar” isso ao analisando, ou não, etc. Existem outros questionamentos equivalentes que, a seguir, serão abordados separadamente.
A contratransferência é sempre inconsciente? Mais comumente, a contratransferência é considerada o resultado de uma interação mediante a qual “o inconsciente do analista põe-se em comunicação com o inconsciente do paciente. ”
Continente-Conteúdo: As necessidades, desejos, demandas, angústias e defesas de todo e qualquer paciente, mais particularmente a de pacientes muito regredidos, constituem um “conteúdo”, que urge por encontrar um “continente”, no qual elas possam ser acolhidas. Cabe ao analista o papel e a função de ser o continente do seu analisando; no entanto, reciprocamente, também o paciente funciona como continente do conteúdo do analista, como pode ser exemplificado com o acolhimento que ele vier a fazer das interpretações daquele.
Empatia: Cabe afirmar que as identificações projetivas do paciente podem invadir a mente do analista de modo que este fique perdido em meio aos sentimentos que lhe foram despertados,tal como no exemplo apresentado, sendo que isso pode redundar numa contratransferência patológica. Quando isso ocorre – o que não é nada raro – o analista trabalha com um grande desgaste emocional, é invadido por sentimentos contra (oposição) o paciente, por um estado de confusão e de impotência, podendo levá-lo a cometer contra-actings, somatizações e inadequadas interpretações, do tipo “superegóico”. De alguma forma, toda essa situação corresponde e deriva daquilo que Racker conceituou como “contratransferência complementar”.
Conluios inconscientes: Toda relação transferencial-contratransferencial implica a existência de vínculos que, conforme Bion, são elos relacionais e emocionais que unem duas ou mais pessoas, assim como também a duas ou mais partes de uma mesma pessoa. Assim, os vínculos de amor, ódio e conhecimento (aos quais venho propondo a inclusão do vínculo do “reconhecimento”, o qual alude à necessidade vital de qualquer ser humano, em qualquer etapa de sua vida, de ser reconhecido pelos outros) estão invariavelmente sempre presentes em toda situação analítica, ainda que em graus e modalidades distintos, com a prevalência maior de um ou de outro, etc.
Contratransferência erotizada: Um(a) analista sentir sensações e desejos eróticos que lhe são despertados pela(o) paciente constitui situação analítica absolutamente normal, inclusive como um útil indicador de possíveis sentimentos ocultos da área da sexualidade desse paciente e que, na situação transferencial, estão sendo transmitidos pela via dos efeitos contratransferenciais. A normalidade dessa contratransferência erótica pressupõe que o analista assume o que ele está sentindo, de modo a que a sua atividade, perceptiva e interpretativa, não sofra nenhum prejuízo.
Contratransferência somatizada: Uma forma manifesta de contratransferência que é pouco descrita, embora pareçame ser relativamente frequente – caso a observarmos mais detidamente – é aquela que se manifesta durante determinados momentos da situação analítica sob a forma de somatizações na pessoa do terapeuta. Essas manifestações variam na forma e intensidade, desde algum discreto desconforto físico, até a possibilidade de o analista vir a ser tomado de uma invencível sonolência ou de fortes sensações e sintomas corporais.
Implicações na técnica: 
1. A importância da origem, reconhecimento e manejo da contratransferência, após um longo período opaco na psicanálise, vem ganhando um espaço cada vez maior na medida em que o tratamento psicanalítico ampliou o alcance da analisibilidade para crianças, psicóticos e pacientes regressivos em geral, como no caso de perversões, borderlines, somatizadores, etc. Além disso, a contemporânea psicanálise vincular, obviamente, implica em uma especial relevância aos aspectos transferenciais-contratransferenciais. 
2. As reações contratransferenciais manifestam-se como percepções físicas, emocionais e somatossensoriais.
3. Nem tudo que o analista sente ou pensa deve ser significado como sendo uma contratransferência promovida pelo paciente. Tal recomendação vale principalmente para aqueles que, diante de qualquer dificuldade na situação analítica, logo responsabilizam “a minha contratransferência me impediu de...”. 
4. A contratransferência costuma surgir em uma dessas três possibilidades: a) em relação à pessoa do paciente; b) em relação ao material clínico que o paciente esteja narrando e sentindo; c) à reação que o paciente esteja manifestando de forma negativa em relação ao analista. 
5. Deve ficar bastante claro para todos nós que os difíceis sentimentos contratransferenciais não são exclusivos dos analistas iniciantes, como equivalentes às conhecidas “dores do crescimento”. Qualquer analista, por mais veterano e experimentado que seja, também está sujeito a isso; no entanto, a provável diferença é que esses últimos têm mais facilidade de não ficar envolvido de forma patológica, pelo contrário, é bem possível que consiga transformá-la em empatia. 
Referências: 
ZIMERMAN, David Epelbaum. Manual de Técnica Psicanalítica: Uma re-visão. Porto Alegre: Artmed, 2008. pdf

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