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UNIDADE 4 desafios contemporâneos


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Capítulo 4 – Quais os desafios da sociedade 
moderna? 
Introdução 
O século XXI trouxe imensos desafios para as 
sociedades. A maioria, entretanto, é 
consequência de acontecimentos históricos 
vivenciados ao longo do século XX e que 
continuam a influenciar os dias atuais. A Guerra 
Fria é um bom exemplo. Com o fim da Segunda 
Guerra Mundial, iniciou-se um período de 
tensão, que dividiu o cenário internacional em 
dois blocos: um liderado pelos Estados Unidos, e 
outro pela União Soviética. Esse conflito 
reestruturou a geopolítica mundial, tendo como 
vencedor os Estados Unidos e seu modelo 
econômico. Além da vitória americana, ao longo 
da segunda metade do século XX, tem início uma 
nova forma de integração mundial, chamada de 
globalização, que vem reconfigurando o 
capitalismo internacional. Outra característica 
marcante do fim do século passado e início do 
XXI são as novas ondas migratórias, que 
desafiam, sobretudo, os países de destino dos 
migrantes. Completando o panorama, 
verificamos o risco do terrorismo em diversos 
países. 
A verdade é que o cenário atual é marcado por 
grandes incertezas. Por isso se faz necessário 
identificar as principais características deste 
momento, buscando compreendê-lo dentro de 
um contexto histórico, construído desde a 
Segunda Guerra Mundial e intensificado durante 
e após a Guerra Fria. Nesse sentido, são 
pertinentes as seguintes indagações: quais as 
consequências do fim do mundo socialista para a 
economia mundial? Como a globalização está 
interferindo na sociedade, principalmente sobre 
o Estado e a política? E qual o perfil das 
migrações e do terrorismo nesse início de 
século? Com isso, poderíamos refletir, ainda, 
quais seriam os desafios para a construção de 
sociedades mais justas. Deveriam as sociedades 
e suas organizações adotar medidas de 
responsabilidade social? Ao estudar essas 
questões, aprendemos um pouco mais sobre os 
contornos que a sociedade moderna vem 
tomando e podemos nos preparar melhor para 
as transformações que ainda virão. 
 
 
As tendências sociopolíticas do mundo 
global 
Para compreender as tendências atuais do 
mundo globalizado, é necessário fazer um recuo 
histórico até a Guerra Fria, pois foi neste período, 
nas décadas de 1950 a 1980, que se intensificou 
as disputas ideológicas permitindo o rearranjo do 
capitalismo verificado no presente. Mas o que foi 
a Guerra Fria? Quais suas principais 
características? E, finalmente, quais fatores 
contribuíram para o seu fim? 
Guerra fria: capitalismo X comunismo 
Com o fim da Segunda Guerra, duas potências 
mundiais emergiram: os Estados Unidos da 
América (EUA) e a União das Repúblicas 
Socialistas Soviéticas (URSS). De acordo com 
Miranda e Faria (2003), países como Alemanha, 
França, Inglaterra e Japão, que eram as potências 
tradicionais, ao fim da guerra encontravam-se 
com grandes dificuldades econômicas devido às 
perdas materiais e humanas durante os 
confrontos. Esse fato, dentre outros, abriu 
caminho para que os Estados Unidos e a União 
Soviética passassem a desempenhar o papel de 
líderes, disputando assim a hegemonia mundial. 
Aliados durante a Segunda Guerra, a 
incompatibilidade de seus interesses logo ficou 
evidente e os dois países travaram uma batalha 
ideológica, sempre na iminência de uma guerra. 
Devido ao fato de a guerra militar nunca ter 
ocorrido entre os dois países, recebeu o nome de 
Guerra Fria . 
Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos e a 
União Soviética estenderam suas influências a 
diversos países, muitas vezes de forma violenta. 
Além disso, os dois países patrocinaram uma 
série de episódios que viriam a intensificar as 
tensões mundiais, com a constante iminência de 
conflitos militares. Como pano de fundo dessa 
disputa de poder, estava a ideologia comunista 
ou socialista, por parte da União Soviética, e a 
ideologia capitalista, pelo lado dos Estados 
Unidos. O modelo comunista caracterizava-se 
pela economia fortemente controlada pelo 
Estado e fechada ao livre comércio global, ao 
passo que a ideologia capitalista apregoava o 
livre comércio, sem intervenção estatal. 
Um dos acontecimentos mais marcantes do 
período foi a construção de um muro dividindo a 
cidade de Berlim, capital da Alemanha, 
representando a separação do mundo em dois 
blocos, o comunista e o capitalista. O muro de 
Berlim passou a ser o símbolo da Guerra Fria 
(MIRANDA; FARIA, 2003). Com o passar do 
tempo, entretanto, a União Soviética foi 
perdendo forças. Com a economia estagnada e o 
desenvolvimento comprometido, era evidente 
que os comunistas estavam perdendo a corrida 
do desenvolvimento econômico e tecnológico. 
São apontadas como causas do fim da União 
Soviética, dentre vários fatores, a sua defasagem 
tecnológica, os custos para manter sua defesa, a 
falta de democracia e liberdade, e o isolamento 
dos países comunistas, além das grandes 
transformações tecnológicas e sociais que 
estavam ocorrendo no ocidente. 
 
A queda do muro de Berlim, que reunificou a 
Alemanha em 1989, simbolizou o fim da Guerra 
Fria. A União Soviética desapareceu logo depois, 
em 1991. O fim da Guerra Fria e a dissolução da 
União Soviética representaram a ascensão do 
sistema capitalista mundial, que a partir de então 
prevalece sem que nenhum modelo econômico 
alternativo o ameace. 
Mundo globalizado 
O fim da Guerra Fria prenunciou um novo 
modelo de organização social. Contribuíram 
significativamente para isso os avanços 
tecnológicos que começaram a ser 
desenvolvidos a partir da segunda metade do 
século XX. As novas tecnologias de informação e 
comunicação, as TICs, aproximaram o mundo, 
intensificando o chamado processo de 
globalização (CASTELLS, 1999). Com o fim da 
União Soviética e a ascensão da ideologia 
capitalista, o fluxo de capitais entre os países 
passou a ser cada vez mais intenso (OLIVEIRA; 
COSTA, 2016). 
O fenômeno da globalização atinge, desde então, 
todos os países, mas em graus diferentes, 
variando de acordo com sua abertura comercial. 
Uma das principais características do modelo de 
globalização é o seu caráter liberal, ou seja, a 
liberalização econômica extrema. 
Consequentemente, instituições financeiras 
internacionais passaram a exercer influência 
crescente na política econômica dos países, 
sobretudo, nos subdesenvolvidos. Exemplos 
destas instituições são o Fundo Monetário 
Internacional (FMI), a Organização Mundial do 
Comércio (OMC) e o Banco Mundial (BIRD). As 
orientações das instituições aos países podem 
ser resumidas nos seguintes pontos principais: 
redução da interferência do Estado na economia; 
privatização de empresas Estatais; e livre 
comércio, sem barreiras alfandegárias e sem 
proteção às empresas nacionais. 
Joseph Stiglitz (2002) argumenta que a 
globalização possui muitos aspectos 
positivos, uma vez que reduziu o isolamento de 
alguns países, propiciando seu desenvolvimento 
econômico e também colaborou em campanhas 
globais, como as de combate a AIDS. Entretanto, 
o autor também salienta que para muitos países 
a globalização foi um desastre, porque 
as políticas de cunho neoliberal geraram des
emprego e pobreza. Uma das causas foi que os 
países ricos não seguiram as orientações que eles 
próprios recomendavam aos países pobres, ou 
seja, enquanto orientavam 
maior abertura econômica aos países 
periféricos, eles protegiam 
setores da sua própria economia. Dessa 
forma, os países subdesenvolvidos tiveram suas 
economias enfraquecidas (STIGLITZ, 2002). A 
globalização tem implicações nas mais diversas 
esferas da vida social como, por exemplo, na 
questão da imigração e as consequências 
que esse fenômeno traz, tema do nosso 
próximo tópico de estudo. 
Terrorismo e deslocamentos populacionais 
Impulsionada pela revolução nas tecnologias da 
comunicação nas últimas décadas, 
especialmente a partir da década de 1980, a 
globalização impacta a economia, a política, a 
cultura, a organização social e a questão 
ambiental. Suas consequências se fazem sentirtambém nos movimentos da população em 
torno do globo: com as possibilidades em termos 
de comunicação e transporte oferecidas pelo 
mundo globalizado, ao mesmo tempo em que se 
observa o aprofundamento das desigualdades 
sociais e a eclosão de guerras, uma grande massa 
populacional vislumbra na imigração uma nova 
oportunidade de vida. Tais projetos de vida, não 
raro, esbarram no protecionismo e nas barreiras 
impostas pelos países desenvolvidos para a 
imigração, barreiras estas que, cada vez mais, 
encontram no medo do terrorismo o argumento 
para promoção de políticas racistas e xenófobas. 
Mas antes de entrar na questão da relação 
imigração e terrorismo, é preciso abordar as 
características da globalização, o que vamos 
fazer a seguir. 
Saiba Mais 
Segundo a Agência da ONU para refugiados no 
Brasil Até o final de 2017, o Brasil reconheceu 
10.145 refugiados de diversas nacionalidades. O 
ano de 2017 foi o maior em número de pedidos 
de refúgio, desconsiderando a chegada dos 
venezuelanos e dos haitianos. Foram 13.639 
pedidos no ano passado, 6.287 em 2016, 13.383 
em 2015 e 11.405 em 2014. No total, 33.866 
pessoas solicitaram o reconhecimento da 
condição de refugiado no Brasil em 2017. Os 
venezuelanos representam mais da metade dos 
pedidos realizados, com 17.865 solicitações. Na 
sequência estão os cubanos (2.373), os haitianos 
(2.362) e os angolanos (2.036). Os estados com 
mais pedidos de refúgio são Roraima (15.955), 
São Paulo (9.591) e Amazonas (2.864), segundo 
dados da Polícia Federal. 
 
Refugiados geralmente saem do seu país por que 
sentem medo de perseguição por serem de 
determinada raça, religião, nacionalidade, grupo 
social ou opinião política, mas na maioria dos 
casos é a guerra a principal causadora da fuga. 
Dados de 2018 nos mostram que mais de 70 
milhões se deslocaram pelo mundo. Vejamos no 
segundo gráfico, onde mostra os principais 
países de onde saem refugiados. 
 
A maioria dos refugiados em 2018 são sírios, 
segundo dados publicados no site da agência da 
ONU para refugiados, no Brasil 75% dos 
refugiados são venezuelanos. Assim como 
existem países que oprimem os direitos 
humanos, existem aqueles que acolhem os 
refugiados. 
 
As características políticas da globalização 
Desde a queda do Muro de Berlim e o avanço da 
liberalização econômica e da livre iniciativa de 
mercado, as consequências da globalização na 
economia se fazem sentir em todos os países do 
globo, o que reflete na organização política. O 
filósofo e sociólogo Jürgen Habermas (2002) tem 
chamado atenção para duas consequências 
políticas: por um lado, a desestruturação do 
Estado de bem-estar social (Welfare State), pois 
a globalização acarretaria uma diminuição da 
autonomia política dos países, e, por outro lado, 
o estabelecimento e a consolidação de blocos de 
países com enorme poder político e econômico 
ao mesmo tempo em que as desigualdades entre 
as nações se aprofundam (DANNER, 2014). O 
processo de acumulação econômica do 
capitalismo globalizado é avesso ao controle 
político das nações e, neste sentido, as funções 
regulatórias de promoção de parâmetros 
equitativos e de justiça social, derivados de 
diretivas políticas, seriam dificultadas (DANNER, 
2014). Assim, uma das principais características 
da dimensão política da globalização é a crise do 
Estado Nacional e a perda da soberania diante de 
grandes conglomerados econômicos globais. O 
Estado, portanto, tem perdido a autonomia para 
gerir a economia por suas próprias 
determinações políticas. 
 
Se por um lado a expansão global de grandes 
empresas para países periféricos reflete em 
investimentos, circulação da economia e geração 
de empregos, é inevitável observar que – em sua 
saga expansionista – as grandes empresas 
buscam a maximização de seus lucros por meio 
de um rol de concessões que garantam mão de 
obra e matéria-prima mais baratas, menor carga 
tributária e menor regulação estatal sobre a 
força de trabalho. Bauman (2012) observa que a 
fragmentação das demandas sociais, a limitação 
da ação política tradicional e a desilusão com as 
alternativas ao capitalismo, após a queda do 
muro de Berlim, contribuem para a fragilização 
do poder político nos dias de hoje. O 
esvaziamento do Estado como espaço de ação 
coletiva de construção de um projeto de 
sociedade abre espaço para o crescimento do 
poder da economia globalizada e para a ideologia 
de mercado, que é por si mesma individualista e 
sem preocupações éticas. Sendo assim, quais as 
consequências dessa ideologia para a sociedade? 
As consequências sociais da globalização 
Para Bauman (2012), as grandes corporações 
são, em termos econômicos, os maiores 
beneficiários da globalização. O que caracteriza 
as grandes corporações nesse período de 
mercado global é a sua não localidade, ou seja, 
estão presentes no mundo inteiro, mas os donos 
das empresas, os investidores, são estrangeiros. 
Sendo estrangeiros, eles visam, via de regra, o 
lucro de seus empreendimentos e não partilham 
do conhecimento da realidade e das condições 
de vida dos trabalhadores de suas empresas 
localizadas em outros países. Além disso, 
enquanto a empresa é global, isto é, pode se 
movimentar pelo globo de acordo com seus 
interesses e oportunidades, os trabalhadores são 
locais, estão presos ao seu espaço geográfico – 
cidade, país – e sofrem as consequências das 
decisões tomadas pelas grandes corporações 
(BAUMAN, 2012). 
Ao se sujeitar às regras do mercado global, os 
Estados-Nação – especialmente os países 
periféricos – ficam à mercê dos interesses da 
especulação financeira e da barganha de 
vantagens promovidas pelas empresas em troca 
de alguns poucos empregos e investimentos no 
país. Além disso, ficam obrigados a seguir regras 
que mantenham a estabilidade financeira e 
econômica mesmo que seja em detrimento de 
investimentos sociais. Bauman (2012) denuncia 
que a propalada igualdade social advinda do 
desenvolvimento econômico e do livre comércio 
tem se mostrado uma falácia. O que se verifica 
na realidade é um aumento do acumulo da 
riqueza entre os mais ricos e uma queda 
vertiginosa das condições de vida dos mais 
pobres. Ao contrário das maravilhas sonhadas 
pelos crentes no poder da ciência e da tecnologia 
em tornar o mundo menos injusto, a distribuição 
real das riquezas na era da globalização tem se 
mostrado extremamente desigual. 
Se a lógica da globalização amplia os processos 
de pobreza e desigualdade social, especialmente 
nos países periféricos, é necessário pensar em 
formas de subordinar a economia global a 
valores éticos e humanos. Em 1999, a 
Organização das Nações Unidas (ONU) publica o 
relatório “Globalização com uma face humana”, 
que denunciava a sobreposição de interesses 
financeiros e materiais aos interesses da nação e 
de seu povo. O relatório é um desdobramento de 
publicações e reuniões anteriores, como o 
primeiro Relatório do Desenvolvimento 
Humano, publicado em 1990, no qual a ONU 
defendia que “o objetivo do desenvolvimento é 
a criação de um ambiente que permita às 
pessoas desfrutarem de uma vida longa, 
saudável e criativa” (PNUD, 1999, apud RAMOS, 
2002, p. 106). 
 
Portanto, para uma versão mais humana do 
processo de globalização é necessário o 
estabelecimento de parâmetros éticos para o 
livre mercado e sua atuação local. Ramos (2002) 
sugere tratar a globalização em termos de 
política internacional de modo que haja uma 
ética nas comunicações, na economia, na política 
e na cultura, ética esta presidida pelas noções de 
justiça e solidariedade, valores universalmente 
presentes. A partir desse panorama sobre os 
impactos da globalização na economia e política, 
vamos agora para a questão dos deslocamentos 
populacionais e as novas configurações que o 
processo traz para as sociedades. 
A migração na era da globalização e os 
impactos do terrorismo internacional 
As migrações internacionais no século XXI são 
profundamente marcadas pela globalização. A 
diminuição de distâncias e o amploacesso à 
informação colocam no horizonte do aspirante à 
migração não apenas o espaço geográfico mais 
próximo – outra cidade, outro estado – mas o 
mundo inteiro. Por outro lado, as possibilidades 
migratórias se apresentam de formas distintas 
em função do perfil do migrante. Enquanto o 
capital financeiro flui livremente à revelia das 
fronteiras entre os países, a mobilidade dos 
trabalhadores é fortemente controlada por 
barreiras impostas pelos países desenvolvidos. 
O aumento do fluxo de informações acerca das 
oportunidades em países mais desenvolvidos 
seduz uma grande massa de trabalhadores de 
países periféricos, que partem em busca de 
melhores condições de vida. Mas se o acesso a 
informações e a facilidade de deslocamento, 
representada atualmente pelos meios de 
transportes globais e baratos, estimula o desejo 
de migração, as oportunidades para os migrantes 
ainda são muito restritas. Países desenvolvidos 
tendem a fechar suas fronteiras devido ao temor 
de receber enormes massas de migrantes sem 
estrutura e reais oportunidades para fixá-los. 
Porém, estudiosos do tema têm apontado uma 
série de possíveis vantagens da migração, 
considerando os ganhos dos lugares de destino: 
barateamento dos custos e da qualidade de vida 
da população, uma vez que migrantes realizam 
trabalhos que os nativos não têm interesse em 
fazer, e por custos mais baixos; a revitalização de 
sociedades envelhecidas, a partir da migração de 
pessoas jovens; o acesso a recursos humanos 
qualificados, cujos custos de qualificação foram 
assumidos por outros países; o aumento da 
produtividade; e o aumento de consumidores e 
contribuintes (MARTINE, 2005). 
A apreciação das vantagens da imigração 
esbarra, porém, em movimentos sociais cada vez 
mais numerosos no mundo e caracterizados por 
seu viés antimigrantes, racistas e xenófobos. 
Após os atentados terroristas de 11 de setembro 
de 2001, tais movimentos ganharam força e a 
identificação do outro – especialmente se o 
“outro” for de uma etnia, religião, idioma ou 
aparência diferente dos nativos locais – com o 
“inimigo” ou com o “terrorismo” vem 
aumentando a rejeição aos migrantes por parte 
das populações de países desenvolvidos . 
CASO 
A tendência da grande maioria dos países desenvolvidos 
atualmente é de fechar suas fronteiras para a imigração, 
tanto em decorrência da crise econômica que o mundo vem 
enfrentando, quanto pela pressão de grupos de extrema 
direita que alegam o receio de ações terroristas em seu 
território. Na contramão dessa tendência, países como o 
Canadá têm facilitado e incentivado o fluxo de imigrantes ao 
seu território, acolhendo, inclusive, refugiados de guerras 
como as que acontecem no Oriente Médio. Quais as razões 
que levam o Canadá a adotar essa postura diante do atual 
fluxo migratório global? Além das causas humanitárias em 
relação a refugiados de guerra e a postura enfática contra os 
crescentes movimentos xenófobos e racistas que eclodem no 
mundo, o governo canadense tem apostado nos fatores 
positivos da imigração: com uma população envelhecida, 
necessita de pessoas jovens para movimentar a economia e 
suprir o setor de serviços. Mas como colocar em prática essa 
postura? O sucesso do empreendimento repousa no 
planejamento e na criação de políticas que visem auxiliar e 
acompanhar a adaptação e inserção dos migrantes na 
sociedade canadense. 
A eclosão de guerras em vários locais do globo, 
especialmente no Oriente Médio, tem deslocado 
um grande volume de pessoas que precisam 
fugir por questões de sobrevivência. A 
resistência dos países desenvolvidos em recebê-
las encontra argumento nas precauções contra o 
terrorismo. Martine (2005) ressalta, porém, que 
a relação entre migração e terrorismo é 
complexa, mas o que desencadeia ações 
terroristas não é a imigração, mas a crescente 
desigualdade entre os países. Uma maior 
abertura poderia, inclusive, reduzir o terrorismo, 
na medida em que reduz a desinformação e 
desconfiança entre os povos. 
 
As grandes ondas migratórias que assistimos 
atualmente são reflexo da condição de mundo 
globalizado: por um lado, a facilidade tecnológica 
em acessar informações e deslocar-se pelo 
globo; de outro, o 
protecionismo de países desenvolvidos e as 
barreiras à 
livre circulação dos trabalhadores, fenômeno 
que se retroalimenta do medo xenofóbico ao 
imigrante, identificado como inimigo 
da pátria e potencial terrorista. A livre 
circulação do capital e o liberalismo econômico 
acarretam consequências drásticas à autonomia 
dos Estados-Nação: em nome da economia 
global, impõe-se a economias periféricas uma 
série de obrigações que as obrigam a deixar em 
segundo plano as políticas 
de desenvolvimento social e distribuição de r
enda. Como consequência, observamos um a
profundamento das desigualdades sociais e a
umento da pobreza, enquanto poucos conglo
merados econômicos acentuam sua 
acumulação econômica. Vamos continuar nos
so estudo sobre os desafios da sociedade 
moderna com o tema da responsabilidade social. 
Responsabilidade social 
Atualmente, tanto a atuação das empresas 
quanto a dos indivíduos tem se pautado cada vez 
mais por um viés sustentável, ético, e que 
considere a responsabilidade social junto à 
sociedade e ao meio ambiente. Quando 
pensamos em desenvolvimento sustentável, nos 
remetemos a um equilíbrio entre os objetivos de 
desenvolvimento econômico, desenvolvimento 
social e conservação ambiental. A 
responsabilidade social corporativa vem atraindo 
olhares da sociedade e de estudiosos sobre o 
tema, especialmente em uma época de 
acentuamento das desigualdades sociais e do 
aprofundamento da degradação do meio 
ambiente. Mas quais são os fundamentos da 
responsabilidade social? E como ela se aplica na 
atuação das empresas e corporações? 
Os fundamentos da responsabilidade social 
O conceito de responsabilidade social tornou-se 
central a partir da emergência da discussão 
sobre a necessidade de um desenvolvimento 
sustentável, que leve em consideração a 
preservação do meio ambiente e a utilização 
consciente de recursos naturais. Mas a ideia de 
não é recente. Iniciativas empresariais que visam 
à atuação das corporações na sociedade de 
modo mais amplo, extrapolando seu objetivo 
imediato, que é a obtenção de lucro, existem 
desde o final do século XIX e início do século XX. 
Porém, nesse período, as ações das empresas 
orientavam-se por um viés mais filantrópico e 
assistencialista na sua atuação junto à sociedade. 
Atualmente, a utilização do termo “filantropia”, 
quando se trata de ações de responsabilidade 
social, é visto de forma pejorativa, pois remete a 
ações que não buscam a transformação da 
sociedade. 
A noção de responsabilidade social só ganhou 
forma a partir das décadas de 1960 e 1970, 
coincidindo com grandes transformações sociais, 
políticas e culturais do mundo, especialmente a 
crescente crítica às guerras e ao uso de armas 
químicas e nocivas à sociedade e ao meio 
ambiente. Já a partir da década de 1980 e a crise 
no Estado de bem-estar social nos países centrais 
do capitalismo, como Estados Unidos e da 
Europa, a participação das empresas e das 
corporações na manutenção dos níveis de 
emprego foi sendo cada vez mais valorizada 
(ALENCASTRO, 2012). 
No Brasil, a consolidação do termo 
“responsabilidade social” se deu a partir dos 
anos 1990, principalmente em função do 
crescimento de movimentos sociais que 
pressionavam setores da sociedade – como 
governo e iniciativa privada – pela diminuição da 
pobreza e da fome, bem como da desigualdade 
social. A criação do Instituto Ethos, em 1998, e a 
atuação do sociólogo Herbert de Souza na 
campanha contra a fome, foram grandes molas 
propulsoras da discussão sobre responsabilidade 
social nas empresas. 
Saiba Mais 
Herbert de Souza, o Betinho, foi sociólogo 
mineiro que se notabilizou pela criação da 
Campanha contra a Fome, a Miséria e Pela Vida 
e notabilizou a discussão sobre a misériae a 
desigualdade no país. Sua atuação em prol da 
dignidade humana lhe rendeu uma indicação ao 
prêmio Nobel da Paz em 1993. Hemofílico e 
soropositivo, Betinho faleceu em 1997, vítima de 
Hepatite B. 
É do Instituto Ethos, que tem como objetivo 
orientar e incentivar empresas acerca de sua 
responsabilidade socioambiental, umas das 
definições mais corrente para o conceito de 
responsabilidade social: 
Responsabilidade social empresarial é a forma de 
gestão que se define pela relação ética e transparente 
da empresa com todos os públicos com os quais ela se 
relaciona e pelo estabelecimento de metas 
empresariais que impulsionem o desenvolvimento 
sustentável da sociedade, preservando recursos 
ambientais e culturais para as gerações futuras, 
respeitando a diversidade e promovendo a redução 
das desigualdades sociais (INSTITUTO ETHOS, apud 
ALENCASTRO, 2012, p. 134). 
O sociólogo John Elkington formulou o conceito 
de triple bottom line, ou tripé da 
sustentabilidade, isto é, para o autor, uma 
empresa é sustentável quando respeita três 
princípios básicos: ser financeiramente viável, 
ser socialmente justo e ser ambientalmente 
responsável (ALENCASTRO, 2012). Mas como 
podemos pensar a atuação da empresa dentro 
do paradigma da responsabilidade social e do 
tripé da sustentabilidade? 
A responsabilidade social na atuação 
empresarial 
Dentro das empresas, o conceito de 
responsabilidade social refere-se, segundo 
Alencastro (2012), ao oferecimento de produtos 
socialmente corretos, ao estabelecimento de um 
relacionamento ético com clientes, fornecedores 
e funcionários, bem como a preocupação com o 
passivo ambiental gerado pela atividade da 
empresa. A prática da responsabilidade social 
deve alcançar tanto o público interno, tais como 
os funcionários e seus familiares, quanto o 
público externo, a comunidade na qual se insere 
o meio ambiente. Na prática, a 
responsabilidade social refere-se a liderar e 
apoiar, dentro dos limites de recursos da 
corporação, ações de interesse social. 
No Brasil, o Instituto de Pesquisa Econômica e 
Aplicada (IPEA) realizou, em 2006, a pesquisa 
“Ação Social das Empresas”, que demonstrou as 
principais áreas e ações de responsabilidade 
social no país, bem como os públicos-alvo. Ações 
relativas à segurança alimentar, assistência 
social, saúde, educação e lazer e recreação 
formam os principais focos da responsabilidade 
social (IPEA, 2006). 
Empresas podem se guiar 
também por normas e indicadores de respon
sabilidade social, que estão na pauta da 
discussão pelo estabelecimento de referência
s e parâmetros para este tema. A ONG 
internacional 
Social Accountability International (SAI) propôs 
nove itens de verificação no que se 
refere ao público endógeno da empresa 
(ALENCASTRO, 2012): 
1. não emprego de trabalho infantil; 
2. não emprego de trabalho forçado; 
3. garantia de saúde e segurança no local 
de trabalho; 
4. garantia de liberdade de associação e 
negociação coletiva aos funcionários; 
5. não discriminação de qualquer 
natureza; 
6. proibição de práticas disciplinares; 
7. respeito à lei quanto à jornada de 
trabalho; 
8. remuneração digna; e 
9. garantia de que todos os requisitos da 
norma sejam aplicados corretamente 
Saiba Mais 
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) 
divulgou dados que mostram que mais de 40 
milhões de pessoas em todo o mundo foram 
vítimas de trabalho escravo em 2016. Estimativas 
apontam que as mulheres são as mais afetadas 
pelas modalidades modernas de escravidão, 
representando quase 29 milhões de meninas e 
mulheres, inclusive vítimas de trabalho forçado 
na indústria do sexo (CAZARRÉ, 2017). 
Aliar a responsabilidade social aos objetivos de 
produtividade e competitividade das 
corporações não é uma tarefa simples. Para 
obter maiores chances de êxito, é necessário que 
o compromisso com a responsabilidade 
socioambiental esteja presente já no 
planejamento estratégico das empresas, de 
modo a ser fator constitutivo de sua atuação 
desde a concepção do negócio. 
Antes de ser um entrave para os objetivos 
financeiros - que são legítimos em qualquer 
empresa privada - a responsabilidade social pode 
ser uma aliada e deve ser encarada como um 
investimento em médio e longo prazo. Os ganhos 
para a imagem da empresa, a identificação com 
setores progressistas da sociedade, cada vez 
mais preocupados com o impacto 
socioambiental das corporações, bem como o 
reconhecimento social e estatal, que pode 
reverter-se em futuros incentivos fiscais, são 
algumas das vantagens para enquadrar-se no 
paradigma cada vez mais presente no mundo 
corporativo: de atuação responsável e ética 
junto à sociedade e o meio ambiente. Em nosso 
próximo item, vamos abordar quais são os 
desafios para se chegar a uma sociedade justa e 
igualitária. 
Os desafios para a construção de uma 
sociedade justa 
Diante do cenário globalizado e regido pela 
lógica mercantil que caracteriza nosso tempo, as 
sociedades e nações, especialmente das 
economias periféricas, enfrentam grandes 
desafios para alcançar níveis de 
desenvolvimento social e econômico satisfatório 
em termos de igualdade, equidade e justiça 
social para sua população. Mas o que significa 
justiça social? Qual a sua relação com os desafios 
que marcam nossa época? Como dar 
materialidade à justiça social? 
Saiba Mais 
Existem várias iniciativas no Brasil que visam 
promover a redução a desigualdade social e a 
inclusão dos oprimidos na sociedade, o quadro 
abaixo traz três reportagens que nos mostram 
que ações priorizando essa causa precisam ser 
abraçadas com maior seriedade. 
 
O conceito de justiça social 
Com o advento da globalização e o agravamento 
das desigualdades sociais em grande parte dos 
países do mundo, a discussão acerca do que é 
uma sociedade justa e de como alcançá-la 
tornou-se uma questão de grande relevância. 
Nesse contexto, o conceito de justiça social é 
central e refere-se, de forma sucinta, ao 
problema de como uma sociedade deve, 
eticamente, distribuir os bens por ela produzida 
(SANTA HELENA, 2008). 
A construção de uma sociedade que se pretende 
justa não pode prescindir de dois princípios 
fundamentais: a igualdade e a equidade. A 
necessidade da construção de políticas públicas 
que leve em conta tais princípios é 
especialmente forte nas sociedades expostas ao 
sabor do livre mercado. Como vimos ao longo 
deste capítulo, o liberalismo econômico vem 
aprofundando as diferenças sociais, 
especialmente nos países periféricos, o que deve 
ser contrabalançado com políticas sociais que 
tenham como foco a redistribuição dos bens. 
Dessa forma, é na justiça distributiva que se 
ancora atualmente a discussão sobre justiça 
social. O conceito moderno de justiça 
distributiva, de acordo com Fleischacker (2006), 
tem no Estado o agente garantidor de que os 
bens sejam distribuídos na sociedade de modo a 
suprir necessidades e direitos básicos para a 
condição da cidadania. Já o filósofo John Rawls, 
em sua obra “Uma teoria da Justiça”, expõe as 
bases da teoria de justiça como equidade. Para o 
autor (2002), alcançar a equidade, condição da 
justiça social, são necessários três pontos 
fundamentais: 
• a garantia de liberdades fundamentais: 
refere-se ao direito de cada pessoa a um 
conjunto de liberdades básicas, que seja 
compatível com o conjunto de liberdades 
de toda a população, tais como a liberdade 
política, de associação, de palavra, de 
consciência e de direito à propriedade. 
• a igualdade de oportunidades; 
• a garantia de que as pessoas menos 
favorecidas na sociedade recebam 
benefícios que os alcem a condição de 
cidadania. 
A ênfase do conceito de justiça social no acesso 
aos direitos básicos da cidadania a toda 
população, o que demanda esforços distributivos 
por parte do Estado, é especialmente importante 
em países periféricos do capitalismo, nos quais a 
globalização impacta mais fortemente em suas 
características negativas. Políticas de 
compensação e distribuição derenda para 
pessoas em desvantagem social são 
fundamentais para que se alcance uma condição 
mínima de justiça social. E o que vem a ser justiça 
social? Aliás, justiça e direito tem o mesmo 
significado? Estes serão alguns dos assuntos 
tratados no tópico a seguir. 
 
As interfaces da justiça 
Embora as noções de Direito e Justiça 
pareçam sinônimos, é possível observar, ao l
ongo da história, períodos 
de maior ou menor afastamento entre os do
is conceitos. Na consciência coletiva, porém, 
essas noções se entrelaçam a ponto de ser 
considerada uma coisa só. Mas na prática, é 
possível afirmar que nem tudo o que direito é 
justo, do mesmo modo que nem tudo o que é 
justo, é direito (CAVALIERI FILHO, 2002). 
Enquanto a noção de justiça se refere a valores 
que são inerentes ao ser humano, como a 
liberdade e a igualdade, dignidade, equidade 
etc., que se relacionam com valores morais da 
sociedade, a noção de direito refere-se a um 
instrumento criado para a realização da justiça. 
Conforme Cavalieri Filho (2002), como a justiça é 
um sistema de valores em constante 
transformação, nem sempre o Direito é capaz de 
satisfazer as necessidades da Justiça. Isso pode 
se dar por diversos motivos: dificuldade do 
direito em acompanhar as mudanças sociais, 
dificuldades na própria concepção das regras do 
direito, falta de disposição política para 
implementá-lo, dentre outros. 
O direito, assim, torna-se um direito injusto. Para 
o autor, a finalidade do direito é a realização da 
justiça. Já a finalidade da justiça, é a 
transformação social, ou seja, a condução de 
uma sociedade à justiça social. Se o direito deve 
ser um instrumento para alcançar a justiça, o 
alcance da verdade é finalidade do direto para 
obter uma decisão justa (LUNARDI; DIMOULIS, 
2007). 
A discussão sobre a realização da justiça por 
meio da aplicação do direito evoca também 
outra faceta: a distinção entre justiça universal e 
justiça particular. Esta questão vem de 
Aristóteles e está intrinsecamente ligada ao 
debate sobre justiça como equidade (RAWLS, 
2002). A justiça universal relaciona-se à 
legalidade, ou seja, remete ao todo da 
sociedade. A lei e a justiça aplicam-
se a todos e a todas as situações, de forma 
abstrata, genérica e universal. 
Porém, existem casos 
particulares e específicos cuja justiça univers
al pode não alcançar critérios de justiça, mas 
ao contrário, provocar injustiça. Nestes casos
, entra em cena a justiça particular. Essa segunda 
forma de justiça relaciona-se à igualdade 
(ARISTÓTELES, 1979). Isso quer dizer que, casos 
em que a justiça universal não satisfaça os 
critérios de equidade 
de um indivíduo ou um grupo em particular, 
 devendo então a justiça guiar-se, não pela lei 
genérica, aplicável a todos, mas por critérios 
particulares que atendam a uma decisão justa 
e equitativa. A seguir, vamos tratar dos 
desafios enfrentados pela justiça social. 
Os desafios da justiça social 
O desenvolvimento econômico sem 
preocupação com o bem-estar coletivo favorece 
a concentração de renda nas mãos de poucas 
pessoas e, por consequência, a desigualdade 
social. O resultado disso são países que, mesmo 
com índices econômicos em ascensão, não 
conseguem traduzir esse crescimento em 
melhoria na condição de vida da população. O 
fato é que o mercado não é capaz de gerar justiça 
social e acesso à cidadania. É necessário que 
ações partam do Estado, tanto em termos de 
regulação da economia, quanto em termos de 
programas e ações que visem garantir a toda 
população diretos básicos e condições de vida 
dignas. 
No Brasil, a Constituição Federal de 1988, em seu 
artigo 3º, contempla aspectos referentes à 
diminuição da desigualdade social e promoção 
de uma sociedade justa: 
Constituem objetivos fundamentais da República 
Federativa do Brasil: i) construir uma sociedade livre, 
justa e solidária; ii) garantir o desenvolvimento 
nacional; iii) erradicar a pobreza e a marginalização e 
reduzir as desigualdades sociais e regionais; e iv) 
promover o bem de todos, sem preconceitos de 
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras 
formas de discriminação (BRASIL, 2002, p. 13). 
A aplicação dos desígnios da Constituição na 
prática, porém, é tarefa árdua e complexa. Ao 
longo de sua história, o Brasil sempre se 
estruturou como uma sociedade desigual, cujos 
interesses de uma parcela pequena da 
população prevaleciam sobre os interesses – e 
direitos – da grande maioria. Desde os primeiros 
anos do século XXI, observamos alguns avanços 
no sentido de universalizar o acesso a direitos 
básicos da população: programas de distribuição 
de renda, aumento do acesso de pessoas de 
baixa renda à educação superior, programas de 
segurança alimentar, regulamentação de 
profissões historicamente marginalizadas, como 
o caso do emprego doméstico, dentre outros. 
Saiba Mais 
O Programa Bolsa Família, criado em 2003 pelo 
Governo Federal, tornou-se um programa de 
referencia mundial em distribuição de renda. 
Estudos sobre o impacto do programa mostram 
que, com um baixo custo aos cofres públicos, o 
Bolsa Família contribui para o aquecimento da 
economia; superação da extrema pobreza; 
melhorias na saúde e na educação da população 
de baixa renda; redução do trabalho infantil; e 
empoderamento das mulheres (CAMPELO; NERI, 
2013). 
Os esforços, porém, são frágeis diante do abismo 
social vivenciado no país: segundo ranking de 
desigualdade social da ONU, o Brasil é o décimo 
país mais desigual do mundo (PNUD, 2016). John 
Rawls (2002), a partir de sua teoria da justiça 
como equidade, busca estabelecer princípios e 
instituições necessários para que se alcance a 
justiça social. Em primeiro lugar, aponta que o 
sistema educacional deva ser subsidiado pelo 
governo, de modo a garantir liberdade de 
consciência e igual acesso à educação para todos 
os cidadãos. Em segundo lugar, o governo deve 
garantir uma renda mínima a todas as famílias, 
de modo que os direitos básicos sejam 
garantidos. Rawls (2002) defende também que 
as instituições governamentais devam 
comportar programas de apoio para, por um 
lado, garantir a eficiência da economia do 
mercado, mantendo o sistema de preços em 
patamar competitivo e garantindo níveis de 
emprego; e por outro, garantir a equidade social 
por meio de impostos sobre herança e consumo 
e por políticas de transferência de renda para os 
setores mais fragilizados da população. 
Como vimos, os desafios da justiça social em 
tempos de globalização e livre circulação do 
capital econômico são imensos. Para que os 
países logrem sucesso, é necessário atentar para 
o fortalecimento de políticas do Estado frente às 
demandas e exigências do mercado. Além disso, 
ações de inclusão social e diminuição da 
desigualdade - em curto, médio e longo prazo - 
devem ser pensadas envolvendo todos os 
setores – sociedade civil, mercado e Governo.