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1 AFECÇÕES BENIGNAS DA BOLSA ESCROTAL E SEU CONTEÚDO Gizelle Felinto VARICOCELE DEFINIÇÃO ➢ Nome derivado do latim → Varix (vaso tortuoso) + Kele (edema) ➢ A varicocele trata-se das varizes das veias testiculares do plexo panpiniforme ➢ Tem-se um edema provocado pela estase venosa ➢ Por ser uma doença facilmente identificável e tratável, já que se consegue resolver com uma cirurgia de pequeno porte, considera-se a varicocele como sendo a principal causa tratável de infertilidade masculina. Assim, quanto mais precoce for instaurado o tratamento, maiores as chances de reverter essa infertilidade, pois a varicocele é uma doença tempo- dependente EPIDEMIOLOGIA ➢ É a principal causa de infertilidade masculina ➢ 15 a 20% dos casais terão problemas de fertilidade, seja ele pelo fator masculino ou pelo feminino ➢ Prevalência → acomete cerca de 15 a 25% da população masculina ➢ É uma doença tempo-dependente: • A varicocele é rara na infância, com os primeiros casos surgindo apenas após 12 ou 13 anos de idade e a tendência é que o número de casos aumente com a idade • A prevalência e a gravidade da doença aumentam com a idade, com a varicocele começando leve e com o passar dos anos vai-se intensificando os sintomas ➢ Em relação à infertilidade: • A varicocele é responsável por cerca de: ▪ 40% dos homens com infertilidade primária (homens que nunca tiveram filhos) ▪ 80% dos homens com infertilidade secundária (homens que já tiveram 1 ou mais filhos, mas que não conseguem mais gerar filhos) • Atenção → mesmo a varicocele sendo a principal causa de infertilidade masculina, cerca de 80% dos homens com varicocele são férteis. Assim, diante dessa controvérsia, vê- se que a varicocele pode alterar, mas não altera em todos os pacientes a produção de espermatozoides ETIOLOGIA ➢ A varicocele está relacionada à vários fatores, como: • Aumento da pressão venosa • Insuficiência ou ausência valvar (das valvas venosas) → isso sugere que o surgimento de varicocele pode estar, muitas vezes, associado a doença hemorroidária e a varizes de membros inferiores • Variação anatômica de implantação venosa ➢ Papel Genético → ainda não é certo, mas acredita-se que há um risco aumentado (2 vezes maior) de varicocele naqueles homens que tem um parente de 1º grau com a doença. Porém, nunca se conseguiu comprovar qual o fator genético envolvido ➢ O que se sabe é que é uma doença, normalmente, sistêmica! ACOMETIMENTO DA VARICOCELE ➢ Bilateral (70 a 80% dos casos) → é bilateral porque, normalmente, é uma doença sistêmica • O acometimento à esquerda, geralmente, é mais exuberante do que à direita: ▪ Isso se deve porque a veia testicular esquerda drena para a veia renal esquerda, enquanto que a veia testicular direita drena para a veia cava. Assim, a angulação dessa implantação das veias testiculares nessas veias maiores favorece o maior aumento da pressão hidrostática do lado esquerdo, pois a veia renal é horizontal e a veia testicular esquerda se implanta em um ângulo de 90°, aumentando a pressão hidrostática nos testículos. Já a veia cava é vertical e a testicular direita se implanta em um ângulo obliquo, favorecendo uma pressão hidrostática menor. Além disso, a veia renal é cerca de 10 cm maior do que o ponto em que a veia gonadal se implanta na cava, o que aumenta pressão hidrostática no testículo esquerdo. Ainda, a veia renal, para se implantar na veia cava, passa entre a artéria mesentérica superior e a aorta, e nos movimentos de sístole tem-se o efeito quebra-noz, pois essas veias “pinçam” a veia renal, o que contribui para o aumento da pressão hidrostática do lado esquerdo ➢ Único à Direita → investigar acometimento retroperitoneal • Quando se tem o acometimento importante de varicocele único à direita (com o lado esquerdo sem doença), deve-se investigar doença retroperitoneal, pois pode-se encontrar alguma massa ou linfonodomegalia, por exemplo, que esteja comprimindo a veia gonadal e causando a varicocele 2 AFECÇÕES BENIGNAS DA BOLSA ESCROTAL E SEU CONTEÚDO Gizelle Felinto ➢ Único à Esquerda FISIOPATOLOGIA ➢ Por que a Varicocele causa infertilidade (por que as varizes testiculares impedem a produção de espermatozoides) → ao longo dos anos surgiram várias teorias, como: 1. 1960 (porém, essa teoria não foi comprovada) → devido ao refluxo dos metabólitos renais e adrenais, da veia renal e da veia cava, para dentro do testículo, o que provocaria uma vasoconstrição e toxicidade no parênquima testicular, prejudicando a produção de espermatozoides. Ou seja, tem- se alterações à nível de metabolismo intratesticular e, com isso, os espermatozoides não seriam produzidos 2. 1970 – Teoria da Disfunção do Eixo Hormonal (a relação causa-efeito não foi comprovada) → pacientes com varicocele podem cursar, pela alteração da função testicular, com redução da testosterona sérica. Isso foi visto em analises anatomopatológicas de testículos com varicocele, o que mostrou uma hiperplasia das células de Leydig, que sugere que essas células não estavam produzindo bem a testosterona, o que levava a uma falha na produção de espermatozoides 3. 1980 – 1990 → a presença de estase venosa, na qual o aumento da pressão hidrostática à nível intratesticular diminui o influxo de sangue arterial (pois o sangue não consegue entrar nesse ambiente com pressão mais aumentada), causa uma diminuição do suprimento sanguíneo. Além disso, associada a essa estase, a hipertermia testicular, que é causada pelo acumulo de sangue dentro dos testículos, leva a um prejuízo na espermatogênese (pois a espermogênese, em condições normais, ocorre em uma temperatura abaixo da temperatura corporal, sendo cerca de 34 a 35°C). Ainda, essa falta de suprimento sanguíneo provoca hipoxia com estresse oxidativo, levando a liberação de radicais livres que comprometeriam o DNA dos espermatozoides. Dessa forma, a associação de todos esses fatores levaria à infertilidade DIAGNÓSTICO ➢ Primeiramente, a Varicocele foi descoberta como uma “Bolsa de Vermes”, devido ao aspecto que a bolsa escrotal com as veias dilatadas adquire ➢ ANAMNESE + EXAME FÍSICO → deve ser realizada em sala e temperatura ideal (22 a 26°C) • Pois se a sala estiver muito fria, tem-se a vasoconstrição das veias testiculares, sendo mais difícil de dar o diagnóstico de varicocele ➢ EXAMES COMPLEMENTARES → são solicitados quando se tem uma situação suspeita • ULTRASSONOGRAFIA (USG) COM DOPPLER (padrão-ouro para o diagnóstico de Varicocele): ▪ Esse USG testicular visualiza: ✓ Dilatação das veias espermáticas/gonadais à nível de plexo pampiniforme ✓ Refluxo venoso após manobra de valsalva ➢ CLASSIFICAÇÃO DA VARICOCELE: CLASSIFICAÇÃO DIAGNÓSTICO RELEVÂNCIA CLÍNICA Subclínica Ultrassom com Doppler colorido Não Grau I - Não visível à olho nu - Palpável apenas com a manobra de Valsalva Não Grau II - Não visível à olho nu - Palpável sem a necessidade de manobra de Valsalva Sim Grau III - Visível à olho nu - Palpável sem a necessidade de manobra de Valsalva Sim • Subclínica → varicocele que é vista apenas ao ultrassom ▪ Exemplo: paciente em que se tem uma suspeita clínica, mas ao exame físico não se identifica. Porém, ao se fazer o ultrassom confirma-se que se trata de uma varicocele • O Grau II e o Grau III são os que possuem relevância clínica e, normalmente, há necessidade de operar. Porém, nem sempre isso acontece, pois podem existir pacientes que são Subclínicos ou Grau I em que se opera e há melhora dos parâmetros espermáticos. Dessa forma, a indicação cirúrgica não se baseia apenas nessa classificação diagnóstica TRATAMENTO ➢ O tratamento é CIRÚRGICO! ➢ TRATAMENTO CIRÚRGICO: • Não é indicado em todos os casos e não leva em consideração apenasa classificação diagnóstica da varicocele • Indicações: ▪ Infertilidade → é a principal indicação! ✓ Quando se tem alterações no espermograma Varicocele em bolsa escrotal esquerda - Tem-se uma massa renal do lado esquerdo que está comprimindo a veia espermática, causando a varicocele desse paciente “Bolsa de Vermes” - Vê-se isso quando a varicocele já pode ser visualizada à olho nu - Varicocele exuberante do lado esquerdo 3 AFECÇÕES BENIGNAS DA BOLSA ESCROTAL E SEU CONTEÚDO Gizelle Felinto ✓ Principalmente nos casos de infertilidade conjugal associada à varicocele → a infertilidade conjugal abrange aqueles pacientes que tem uma relação estável e que mesmo mantendo relações sexuais durante o período fértil de suas parceiras, não conseguem engravidá-las em um período de 1 ano ✓ Alguns estudos se contradizem em relação ao benefício da cirurgia, pois alguns afirma que melhora a taxa de gravidez e outros afirmam que não melhora. Porém, com a cirurgia, mesmo que não se melhore a taxa de gravidez (percentual de pacientes que conseguem engravidar a parceira depois de operar a varicocele), quando o paciente opta por uma fertilização in vitro tem- se uma redução na complexidade da técnica de reprodução, diminuindo as chances de insucesso e o custo das técnicas de reprodução assistida ✓ Atenção → é muito comum que pacientes cheguem no consultório reclamando de infertilidade há pouco tempo, como há cerca de 6 meses por exemplo, mas quando se examina e se solicita exames complementares vê-se que esse paciente não sofre de infertilidade, e com o passar do tempo ele consegue engravidar sua parceira. Nesses casos, é sempre bom investigar, principalmente para tranquilizar o paciente ou até mesmo para diagnosticar alguma possível doença que ele possa apresentar ▪ Dor Testicular → antes de indicar a cirurgia, deve-se investigar a fundo e excluir outras possíveis causas dessa dor. Só se realiza a cirurgia se a dor for decorrente da varicocele ✓ É comum o paciente com varicocele referir que tem uma sensação de peso e queimor testicular, que leva a um incômodo frequente, praticamente diário, que pode levar a uma limitação na qualidade de vida desse paciente ✓ Características da dor → dor em queimação e sensação de peso, que piora com o esforço ✓ Deve-se realizar exames e verificar se há ou não alguma outra alteração nesse paciente que justifique a dor ✓ Importante → se o paciente com varicocele tem dor testicular, mas essa dor é decorrente de outra causa (Ex: dor neurogênica idiopática), mesmo após a operação dessa varicocele ele continuará com a dor. Assim, é essencial que se tenha uma comprovação de que essa dor é provocada pela varicocele ✓ A dor melhora apenas em cerca de 70 a 85% dos casos de varicocele ✓ Se a dor não é devido à varicocele → se for uma dor neuropática, deve-se prescrever Analgésico e/ou Antidepressivo a longo prazo, deixando esse paciente conviver com essa dor, pois não se tem muito o que fazer nesses casos ▪ Azoospermia não Obstrutiva: ✓ Pacientes com azoospermia, após operar a varicocele, não começam imediatamente a produzir espermatozoides ✓ A operação nesses casos de azoospermia não obstrutiva irá melhorar o ambiente gonadal, à nível intratesticular, favorecendo a realização da fertilização in vitro, que precisará ser menos complexa do que se o paciente não operasse ▪ Disfunção Hormonal: ✓ Paciente com Hipogonadismo (alteração na testosterona) associado à Varicocele → quando se opera essa varicocele, ocorre melhora na taxa hormonal desse paciente • Como é a cirurgia: ▪ A cirurgia consiste na dissecção e ligadura das veias varicosas ▪ Existem várias vias de abordagem, como: ✓ Abordagem Retroperitoneal ✓ Abordagem Laparoscópica → tem a desvantagem de necessitar de uma abordagem mais complexa, com anestesia geral ✓ Abordagem Inguinal → é feita quando o paciente tem hérnia associada ✓ Abordagem Radiológica → é de difícil acesso o Por meio da radiologia intervencionista, provoca-se a embolização dessas veias varicosas ✓ Abordagem Subinguinal → é a mais utilizada o Faz-se um corte ao nível do anel inguinal externo (na lateral do pênis), abre-se o tecido subcutâneo e vê-se o cordão espermático. Assim, disseca-se esse cordão e o puxa para cima, e depois disseca-se veia por veia o Deve-se ter bastante cuidado para não dissecar a artéria, pois, se isso ocorrer, haverá uma piora do quadro do paciente, uma vez que ele ficará com hipoxia VARICOCELE EM ADOLESCENTES ➢ O espermograma é pouco confiável → a Varicocele é tempo- dependente. Assim, quando se vê uma adolescente com 12 a 13 anos com suspeita de Varicocele, não se sabe até que ponto se pode confiar no espermograma desse paciente, pois pode-se realizar o exame em um adolescente de 12 anos, por exemplo, e ele ainda apresentar azoospermia por imaturidade do seu eixo hormonal. Dessa forma, não se sabe até que ponto se deve indicar uma cirurgia para esses adolescentes baseado apenas no espermograma ➢ Assim, quando se descobre uma varicocele em um paciente adolescente, deve-se realizar: ▪ Acompanhamento anual com: ✓ Exame Físico: 4 AFECÇÕES BENIGNAS DA BOLSA ESCROTAL E SEU CONTEÚDO Gizelle Felinto o Avaliar o tamanho do testículo por meio de um aparelho chamado Orquidômetro ✓ Ultrassonografia → mede o volume testicular ➢ TRATAMENTO CIRÚRGICO: • Indicação → a cirurgia é realizada quando, nesses acompanhamentos anuais, vê-se uma diferença de 20% do tamanho do testículo, ao se comparar com os outros anos de acompanhamento • Após a operação → tem-se uma recuperação testicular em cerca de 80% dos casos ➢ Marcadores que indicam alterações na espermatogênese → ainda estão em estudo, mas, no futuro, podem auxiliar na identificação dos casos em que se é ou não é necessário operar • HPSA2 • Perfil proteico do plasma seminal HIDROCELE CARACTERÍSTICAS ➢ DEFINIÇÃO → Hidrocele é o acúmulo de líquido/linfa na bolsa escrotal ➢ FISIOPATOLOGIA → esse acúmulo de líquidos é decorrente de um desequilíbrio do sistema linfático. Assim, não há reabsorção da linfa à nível da bolsa escrotal, fazendo com que ela comece a se acumular dentro da túnica vaginal, na região peritesticular. Com isso, essa bolsa escrotal começa a aumentar de tamanho e, normalmente, provoca um incômodo estético no paciente ➢ QUADRO CLÍNICO: • É comum de se encontrar uma hidrocele leve, sem repercussões, e que se vê apenas durante o exame físico ou quando se realiza um ultrassom de rotina → nesses casos, na maioria das vezes, realiza-se um tratamento conservador • Alguns casos, a hidrocele pode causar incômodo estético no paciente • Quando a hidrocele começa a crescer e a incomodar o paciente deve-se realizar a cirurgia • Em alguns casos, o acúmulo de líquido na túnica vaginal pode estar associado a malignidade (Tumores Testiculares): ▪ Quando a bolsa escrotal está volumosa, mas ao se colocar uma luz a transluminescencia não é tão evidente ou quando não se consegue palpar o testículo (palpa-se apenas a hidrocele e não se consegue palpar o testículo, devendo-se solicitar um ultrassom) ➢ DIAGNÓSTICO → é puramente CLÍNICO! • Anamnese • Exame Físico: ▪ Vê-se a bolsa escrotal com tamanho aumentado ▪ Pode-se realizar o Sinal da Transluminescência → quando se coloca uma luz no testículo do paciente com hidrocele há a transluminescência (se não houvesse hidrocele, ao se colocar a luz a bolsa escrotal ficaria apagada) • Ultrassonografia → deve ser solicitada quando não se consegue palpar o testículo do paciente, palpando-se apenas o líquido da hidrocele. Porém, alguns médicos solicitam o ultrassom para todos os pacientes com suspeita de hidrocele, para que se descarte ou se confirme a presença deum tumor ➢ CLASSIFICAÇÃO DA HIDROCELE: • Hidrocele não Comunicante → é a mais comum • Hidrocele Comunicante → acontece mais na infância, estando relacionada à hérnia inguinal indireta, na qual fica a comunicação do pertuito peritôneo-vaginal e o liquido peritoneal vai para a bolsa escrotal ▪ Tratamento → nesses casos, deve-se operar a hidrocele e a hérnia, caso contrário a hidrocele irá retornar • Hidrocele de Cordão → ocorre na vida intraembrionária ➢ TRATAMENTO CIRÚRGICO: • Técnica Cirúrgica → abre-se a hidrocele e faz-se a eversão da túnica vaginal ▪ Após o procedimento, o corpo irá desenvolver novas vias linfáticas para drenar a linfa. Dessa forma, esses pacientes com hidrocele que realizam a operação ainda ficam alguns meses com a bolsa escrotal aumentada ▪ Em geral, é apenas cerca de 6 meses depois da cirurgia que a bolsa escrotal reduz para um tamanho normal • Quando se tem a Hidrocele associada a Tumores Testiculares deve-se fazer uma abordagem inguinal, para não violar a túnica vaginal e não permitir a disseminação da doença ESCROTO AGUDO CARACTERÍSTICAS ➢ DEFINIÇÃO → o escroto agudo consiste na dor e no aumento do volume testicular agudamente Sinal da Transluminescência - Paciente com Hidrocele Hidrocele não comunicante Normal Hidrocele comunicante Hidrocele de Cordão 5 AFECÇÕES BENIGNAS DA BOLSA ESCROTAL E SEU CONTEÚDO Gizelle Felinto ➢ DIAGNÓSTICO: • O escroto agudo necessita de um diagnóstico rápido e preciso → pois, caso seja uma torção testicular, por exemplo, quanto mais rápido o diagnóstico, maiores serão as chances de se preservar o testículo do paciente • É baseado na História Clínica e no Exame Físico, podendo ter o auxílio da Radiologia (ultrassom), caso esteja disponível ▪ Ultrassonografia com Doppler → deve ser realizada em caráter de urgência ✓ Exame alterado ou duvidoso → realizar a exploração cirúrgica imediatamente ➢ EXPLORAÇÃO CIRÚRGICA (pode ser indicada mesmo sem o diagnóstico radiológico) → quando se tem dificuldade de dar o diagnóstico, mas tem-se habilidade de realizar uma exploração cirúrgica, pode-se indicar a cirurgia mesmo sem o diagnóstico radiológico, principalmente quando se tem forte suspeita de torção testicular ➢ PATOLOGIAS: • Isquemia: ▪ Torção Testicular (de cordão espermático)* ▪ Torção do Apêndice Testicular* ▪ Infarto Testicular (condições tromboembólicas) ▪ Tumores de Testículo • Infecções: ▪ Orquiepididimite* ▪ Gangrena de Fournier • Inflamação: ▪ Púrpura de Henoch-Schoelein (Vasculite de Parede Testicular) • Trauma Testicular: ▪ Trauma testicular contuso – Ruptura e Hematocele ▪ Trauma testicular penetrante • Doenças Cutâneas • Outras causas *São as três principais causas de escroto agudo TORÇÃO TESTICULAR (TORÇÃO DE CORDÃO ESPERMÁTICO) ➢ DEFINIÇÃO: • O testículo “roda” no seu próprio eixo. Assim, quando isso ocorre, os vasos sanguíneos também são torcidos e o fluxo sanguíneo para o testículo é interrompido, fazendo com que o testículo comece a ter hipóxia, que pode evoluir para necrose e perda da função testicular • Esse processo de torção pode ser espontâneo ou desencadeado por trauma, causando dor decorrente de um evento isquêmico que, se não for revertido, evolui para necrose tecidual com perda funcional do órgão • Sempre que se está diante de um quadro de escroto agudo, o diagnóstico de torção testicular deve ser excluído ou confirmado já no atendimento primário do paciente com dor testicular • Atenção → o tempo é crucial, pois quanto mais tempo o testículo se encontrar torcido, maiores as chances de trombose dos vasos e necrose, com sofrimento testicular, e, muitas vezes, acaba-se perdendo o testículo ➢ FISIOPATOLOGIA: • A torção pode ocorrer: ▪ De forma Espontânea → provocado pelo reflexo cremastérico ✓ O cremáster é um músculo que desce ao redor do cordão espermático. Assim, em pacientes que tenham alteração na implantação do tubernáculo, durante o reflexo cremastérico o testículo pode sofrer essa torção, levando a uma dor testicular aguda o Tubernáculo → em indivíduos normais, é implantado na ponta do testículo, o que diminui as chances de torção. Porém, alguns indivíduos tem essa implantação alterada ▪ Por Traumatismo direto na bolsa escrotal • Torção Intravaginal x Extravaginal: ▪ Torção Intravaginal → é a mais comum ✓ “Testículo em Badalo de Sino” → está relacionada ao principal mecanismo de torção, que é o intravaginal o O testículo normal se encontra envolvido e fixado posteriormente à túnica vaginal, o que permite um certo grau de mobilidade. Porém, alguns indivíduos possuem essa alteração congênita, na qual essa fixação é mais proximal e permite que o testículo gire livremente no corsão espermático dentro da túnica vaginal ▪ Torção Extravaginal → ocorre na vida embrionária, quando o testículo ainda está descendo • Em neonatos → alguns, ainda no processo de descida para o escroto, quando a fixação testicular não se deu por completo, o cordão pode torcer em conjunto com a túnica vaginal e, mais raramente, causar torção extravaginal ➢ QUADRO CLÍNICO: • É decorrente da hipóxia. Desse modo, o testículo com pouco fluxo sanguíneo e oxigênio começa a doer e inchar pelo processo inflamatório • Sinais e Sintomas: ▪ Dor testicular súbita → pode vir associada a (ao): ✓ Aumento do volume testicular ✓ Febre ✓ Náuseas ✓ Dor abdominal → principalmente ao longo do trajeto do cordão espermático Torção Testicular 6 AFECÇÕES BENIGNAS DA BOLSA ESCROTAL E SEU CONTEÚDO Gizelle Felinto • Exame Físico: ▪ Testículo → tende a ser: ✓ Doloroso à palpação ✓ Horizontalizado → pois o normal do testículo é estar verticalizado ✓ Elevado (mais alto do que o testículo contralateral) ✓ Perdido o reflexo cremastérico: o Reflexo cremastérico → faz-se uma fricção na raiz da coxa e vê-se a contração do cremáster no paciente. Na presença de torção, esse reflexo é perdido ▪ Sinal de Prehn → quando se eleva o testículo ✓ Na torção testicular → não há melhora da dor com a elevação do testículo afetado, sendo esse sinal de Prehn negativo ➢ DIAGNÓSTICO: • O diagnóstico de suspeição é baseado na história clínica e no exame físico • Exames radiológicos → quando possível, devem ser realizados ▪ USG com Doppler: ✓ Sensibilidade: 63 a 100% ✓ Especificidade: 97 a 100% ✓ É rápido e de fácil realização, permitindo-se identificar se há diminuição do fluxo no testículo ✓ Na urgência, é o exame utilizado! ✓ Deve ser realizada com o objetivo de demonstrar alterações do fluxo sanguíneo e, se for realizada por um profissional experiente, pode identificar o local da lesão ▪ Ressonância Nuclear Magnética (RNM) e Cintilografia Testicular → são caros, demandam muito tempo para sua realização e nem sempre estão disponíveis nos hospitais ➢ TRATAMENTO → a conduta é CIRÚRGICA! • O tempo de torção é determinante na conduta → o ideal é que nas primeiras 6 horas de dor já se realize a abordagem cirúrgica no paciente • Exploração Cirúrgica → deve ser prontamente indicada no momento do diagnóstico, pois quando mais tempo se passar, maiores as chances de se perder o testículo ▪ Quando se tem uma alta suspeita e o tempo de evolução do quadro for favorável, mesmo sem exames radiológicos a exploração cirúrgica poderá ser indicada • Objetivo do Tratamento → destorção do cordão comprometido e fixação bilateral dos testículos ▪ Sabendo-se que o mecanismo que favoreceu a torção do cordão de um lado também costuma estar presente do outro, deve-se fazer também essa fixação contralateral • Como é feito o procedimento → deve ser realizado no momento do diagnóstico, para distorcer o testículo e, normalmente, coloca-se em soro morno, para que hajauma vasodilatação e para ver se realmente haverá um fluxo sanguíneo adequado para o testículo. Assim, se o testículo melhorar a sua coloração, faz-se a fixação bilateral dos testículos, que deve ser feita com no mínimo 2 pontos e com fio inabsorvível ▪ Descrição mais detalhada do procedimento → a incisão na bolsa pode ser mediana na rafe ou transversal em cada hemibolsa. Após a destorção do testículo comprometido envolvemos em compressa umedecida em soro fisiológico morno. Realiza-se então a fixação do testículo contralateral com, no mínimo, dois pontos de fio não absorvível envolvendo as túnicas albugínea, vaginal e dartos. É importante ressaltar que a utilização de apenas um ponto de fixação pode permitir nova torção no futuro e que a ressecção de apêndices testiculares, caso estejam presentes, deve ser realizada para evitar dúvidas diagnósticas futuras ▪ Após a fixação deve-se observar se o testículo acometido assumiu uma coloração indicativa de boa perfusão tecidual ou se permanece com o aspecto isquêmico/necrótico • Orquiectomia → é realizada quando não se tem como preservar o órgão, quando o testículo já se encontra necrosado ▪ A taxas ao redor do mundo variam de 30 a 60% ▪ Depois da orquiectomia, faz-se a orquidopexia (fixação) do testículo contralateral ➢ DIAGNÓSTICO TARDIO: • Definição → alguns pacientes que apresentam torção testicular não procuram o serviço de saúde, mesmo sentindo essa dor intensa. Assim, com o passar do tempo essa dor vai cessando, pois o testículo e suas terminações nervosas vão necrosando. Dessa forma, a dor para e o testículo fica atrófico • Tratamento → nesses casos, existem uma discussão em relação ao tempo de abordagem, em relação a uma abordagem imediata, para evitar uma possível infecção, ou a uma abordagem mais tardia, deixando-se o testículo atrofiar para depois se colocar uma prótese testicular TORÇÃO DE APÊNDICE TESTICULAR ➢ DEFINIÇÃO: • Apêndice Testicular → trata-se dos resquícios dos ductos de Muller e de Wolff • Esse apêndice pode torcer sobre o próprio eixo, causando dor por isquemia ➢ QUADRO CLÍNICO → é mais brando, pois é uma estrutura pequena Prótese Testicular - Serve apenas para questões estéticas 7 AFECÇÕES BENIGNAS DA BOLSA ESCROTAL E SEU CONTEÚDO Gizelle Felinto • Dor por isquemia • Edema e inchaço menos intensos • O quadro clínico, geralmente, melhora em 2 a 3 dias, pois esse apêndice necrosa e cai. Assim, muitas vezes, pode-se ter uma torção do apêndice testicular e o tratamento ser conservador ou até mesmo o paciente não procura um médico, pois com o tempo essa dor passa ➢ TRATAMENTO: • Quando se identifica durante o quadro de dor → deve-se abordar cirurgicamente, retirando-se todos os apêndices que o paciente apresente • Não é necessária a Orquidopexia (fixação) • Muitas vezes, quando o cenário clínico não é identificado a tempo (pois a dor cessa após cerca de 2 a 3 dias) → tem- se apenas a atrofia desses apêndices, sem maiores complicações ao paciente ORQUITE ➢ DEFINIÇÃO: • É a inflamação do testículo • Infecção bacteriana → é rara, pois o testículo tem muitos vasos, o que facilita a chegada dos agentes de defesa do organismo ➢ FISIOPATOLOGIA: • Quando se tem uma inflamação testicular, normalmente, ela é oriunda do epidídimo que, por contiguidade atinge o testículo ➢ DIAGNÓSTICO: • Quando se tem uma orquite pura, deve-se pensar em Tuberculose Testicular ou nas Orquites Virais ▪ Orquite da Caxumba → é relativamente comum e entra no diagnóstico diferencial de torção ORQUIEPIDIDIMITE ➢ DEFINIÇÃO: • É o grande diagnóstico diferencial da torção testicular • A orquiepididimite é a infecção bacteriana ascendente do epidídimo, que causa um quadro de dor aguda e aumento do volume testicular, normalmente necessitando de uma avaliação de emergência ➢ FISIOPATOLOGIA: • Geralmente, o quadro infeccioso ocorre por via ascendente através do ducto deferente e costuma estar associado a infecções do trato urinário baixo e uropatia obstrutiva baixa ▪ A bactéria entra pela uretra, passa pelo ducto deferente e se instala do epidídimo ➢ ETIOLOGIA: • Agentes causais mais comuns → variam de acordo com a idade: ▪ Clamídia e Gonococo → adultos jovens sexualmente ativos ▪ Gram-negativos da infecção urinária → comuns nos homens acima de 35 anos ➢ QUADRO CLÍNICO → tem evolução gradual, com piora progressiva dos sintomas • Dor • Eritema • Aumento de volume testicular → pode tomar grandes proporções • Também é comum haver: ▪ Prostração ▪ Febre com calafrios ▪ Anorexia ➢ DIAGNÓSTICO: • Anamnese + Exame Físico + Ultrassonografia: ▪ Exame físico: ✓ Testículo com tamanho aumentado e doloroso à palpação ✓ Diferentemente da torção, na orquiepididimite o testículo se encontra na sua posição anatômica, verticalizado ✓ Reflexo cremastérico → está presente na orquiepididimite (é ausente na torção testicular) ✓ Sinal de Prehn → quando se eleva o testículo, pela diminuição do fluxo sanguíneo, há um alívio imediato da dor (na torção testicular não há esse alívio) ▪ Ultrassonografia com Doppler → auxilia no diagnóstico ✓ Evidencia o aumento do fluxo sanguíneo ✓ Pode direcionar a intervenção cirúrgica para possíveis complicações, como abscessos locais ➢ TRATAMENTO: • Geralmente, é uma Antibioticoterapia Empírica, de acordo com os agentes causais: ▪ Gonococo e Clamídia: CEFTRIAXONA + DOXICICLINA 100mg ▪ Gram-negativos em pacientes com idade avançada: QUINOLONAS • Normalmente, os antibióticos são orais e à nível ambulatorial, sendo apenas os casos mais graves (casos complicados que evoluem com abscessos) tratados à nível hospitalar • Medidas Gerais: ▪ Cuidados locais, como: ✓ Suspensório escrotal ✓ Uso de gelo e repouso Torção de Apêndice Testicular 8 AFECÇÕES BENIGNAS DA BOLSA ESCROTAL E SEU CONTEÚDO Gizelle Felinto ▪ Analgesia TORÇÃO TESTICULAR x ORQUIEPIDIDIMITE ORQUIEPIDIDIMITE TORÇÃO TESTICULAR Idade Sexualmente ativos abaixo de 35 anos Primeiro ano de vida e puberdade Dor Gradual Súbita Sintomas Urinários Presente Ausente Sinal de Prehen Presente Ausente Reflexo Cremastérico Presente Ausente GANGRENA DE FOURNIER ➢ DEFINIÇÃO: • É uma fasceíte necrotizante de origem perineal, na qual uma infecção multibacteriana associada a sistema imunocomprometido faz com que se tinha uma rápida disseminação desse quadro infeccioso (disseminação de 2 a 3cm por hora). Assim, existem pacientes que, ao diagnóstico, apresentam necrose apenas na bolsa escrotal e, por outro lado, tem-se outros pacientes que já apresentam acometimento de pênis, abdômen, região inguinal e nádegas, por exemplo • A infecção vai comprometendo e necrosando as fáscias • Tem uma rápida progressão devido às fáscias → progressão pela fáscia de Colles (superficialmente), de Buck e Dartos (pênis e escroto), de Scarpa (parede abdominal) • Evolui facilmente para sepse e óbito ➢ TRATAMENTO: • Debridamento Cirúrgico → esse é um debridamento agressivo, retirando-se todo o tecido inviável CONDIÇÕES CRÔNICAS AGUDIZADAS ➢ Essas condições provocam um quadro de dor aguda e entram no diagnóstico diferencial de escroto agudo, mas ao se fazer um exame físico e um ultrassom bem feitos consegue-se identificar e tratar adequadamente essas patologias ➢ VARICOCELE ➢ HIDROCELE ➢ HÉRNIAS INGUINOESCROTAIS ENCARCERADAS Gangrena de Fornier
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