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FOLHA DE RESPOSTA – TRABALHO AVALIATIVO (AVA) 1) Com base na leitura indicada pelo professor, confeccione uma resenha crítica do texto. Na elaboração da resenha, comente os pontos principais tratados pelo(a) autor(a), bem como se posicione criticamente acerca da temática, vale dizer, opine de maneira fundamentada sobre o tema tratado, apresentando pontos pessoais que te levam à eventual convergência ou à eventual divergência acerca da abordagem que foi realizada. Na elaboração da resenha, utilize ao menos um material (texto, livro, artigo, notícia, reportagem) que permita um diálogo com o texto (apresentando opinião semelhante ou servindo de contraponto); esse material deverá ser pesquisado pelo próprio aluno e citado ao final da resenha. RESENHA 1 REFERÊNCIA QUEIROZ, Paulo. Notas sobre a lei de drogas. Dez, 2014. Disponível em: http://www.pauloqueiroz.net/notas-sobre-a-lei-de-drogas/. In: Unidade 1 – Lei Nº 11.343/06 – Drogas. [Texto fornecido pelo professor]. 2 SÍNTESE O autor traz uma abordagem esclarecedora acerca da legislação vigente sobre a temática das drogas. Queiroz (2014) ressalta que o tráfico ilícito de entorpecentes nem sempre existiu, uma vez que as drogas eram produzidas, comercializadas e consumidas livremente. Considera que provavelmente no futuro, algumas das substâncias ilícitas, talvez todas elas, possam voltar a ser comercializadas com certo controle oficial, similar as drogas como cigarro, álcool, remédios e outros. Segundo o autor “proibir incondicionalmente, não é controlar; proibir significa apenas remeter as atividades proibidas para a clandestinidade, onde não existe DIREITO Trabalho Avaliativo – AVA Visto do Coordenador: Nome do aluno: Marcela Gomes do Carmo Matrícula: 13-1620096 Disciplina: Professor: LUCAS KAISER COSTA Período: Turma: Peso: 4,5 pontos Nota obtida: Data de entrega: / / IMPORTANTE: ATENÇÃO: A PRESENTE ATIVIDADE AVALIATIVA DEVERÁ SER POSTADA (ENTREGUE) PELO ALUNO NO SISTEMA, ATÉ O ÚLTIMO DIA DO PRAZO, CONFORME CONSTA NO CALENDÁRIO ACADÊMICO DO AVA. O ALUNO DEVE PREENCHER OS DADOS CONSTANTES DO CABEÇALHO DA FOLA (NOME E DISCIPLINA) O TRABALHO PODERÁ SER REALIZADO EM GRUPOS FORMADOS POR NO MÁXIMO 6 (SEIS) ALUNOS controle (oficial) algum, de modo que, a pretexto de reprimir a produção e o comércio de droga, a lei penal acaba por fomentar o próprio tráfico e novas formas de violência e criminalidade, transferindo o monopólio da droga para o chamado mercado negro”. O autor ainda cita países como Holanda e Suíça que optam por política de redução de danos a política repressiva, fundamentada em argumentos que sugerem que a proibição indiscriminada causa efeitos criminógenos como a promoção de preços artificiais e atrativos, tornando o tráfico rentável; surgimento do crime organizado com foco no tráfico; confrontos e mortes entre grupos rivais; confrontos e mortes entre traficantes e policiais; vitimização de inocentes por meio das “balas perdidas” e similares; lavagem de dinheiro; corrupção das polícias e agentes públicos; tráfico de armas; sonegação de tributos; rebeliões nos presídios; ameaça, extorsão e morte de usuários; criação de um poder político (militar ou paramilitar) paralelo ao Estado. O autor cita Moisés Naím que argumenta, “que em países em desenvolvimento e aqueles que fazem a transição do comunismo, as redes criminosas constituem o capital investido mais poderoso que confronta o governo. Em alguns países seus recursos e capacidades em influência política, controlam os partidos políticos, dominam meios de comunicação e são os maiores filantropos por trás das organizações não-governamentais, os traficantes tornam-se o grande empresariado nacional”. Nesse contexto, Queiroz (2014) assevera que proibir, absolutamente, o comércio de drogas é, o modo mais trágico e desastroso de administrar o problema. Partindo de tais pressupostos, o autor discursa acerca de crime e castigo na Lei n° 11.343/2006. Além de criminalizar um delito sem vítima, isto é, a produção, o comércio e o uso de droga, a lei vai além e tipifica, como regra, atos meramente preparatórios para um agir criminoso, como adquirir, vender a matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de droga tais como querosene, ácido entre outros. A lei penaliza ainda a simples associação para a realização dessas atividades (art. 35), isto é, tipifica a preparação da preparação ou o perigo do perigo. Em virtude da causa de diminuição de pena do art. 33, §4°, da lei, é perfeitamente possível que o crime de tráfico seja punido com penas privativas de liberdade inferiores aos ditos tipos acessórios e menos graves. Desse modo, viola o princípio da proporcionalidade, a exigir especial prudência e senso crítico por parte dos juízes quando da individualização da pena. Com relação ao Bem jurídico protegido nos crimes de tráfico de droga e afins é a saúde pública, visto que o consumo de substâncias psicoativas prejudicaria a saúde dos usuários, levando-os, eventualmente, à morte, inclusive. A deterioração da saúde pública não se limita àquele que a ingere, mas põe em risco a própria integridade social, basicamente o que a lei visa a evitar é o dano causado à saúde pelo uso de droga. Queiroz destaca citação de vários outros autores Thomas Szasz, Antonio Escohotado, entre outros que mostram argumentos favoráveis a legalização das drogas, descriminalizando seu uso e atenuando seus efeitos nocivos, justificando que as drogas legais ou ilegais não são em si mesmas prejudiciais à saúde, tudo dependendo de quem as usa, como e quando o faz. Afirma que as drogas lícitas ou não são neutras, comparando-as a um martelo ou faca de cozinha, que podem ser usados eventualmente (também) para causar dano, ferir ou matar alguém. Consideram que a preocupação com a saúde pública, não deveria focar na criminalização da produção, do comércio e do consumo de droga, mas na sua legalização assim como as drogas lícitas, afirmando que a distinção essas é arbitrária. Contextualizando que a droga não deve ser tratada como problema de polícia, mas como um problema de saúde pública. Destaca concepção de Morris e Hawkins, para a lei criminal, todo homem tem o direito de ir para o inferno ou para o paraíso como quiser, se no caminho, não prejudicar as pessoas ou seus bens, acreditando que a lei criminal é um instrumento ineficaz para impor uma vida digna aos outros. Assevera, que a criminalização do tráfico de droga e afins não protege bem jurídico algum, ou, ao menos, não protege a saúde pública adequadamente. Acreditam que a intervenção penal relativa ao controle das drogas ilícitas deve ser considerada legítima, quando destinada à proteção de menores e incapazes de modo geral, como as drogas lícitas. A Lei n° 11.343/2006 (art. 28), aboliu o caráter criminoso da posse de drogas para consumo pessoal. Esse fato deixou de ser legalmente considerado crime, houve descriminalização formal, mas não legalização da droga. O Supremo Tribunal Federal decidiu que o que houve foi uma despenalização, o rompimento da imposição de penas privativas de liberdade como sanção principal ou substitutiva de toda infração penal. O autor reflete que se a lei não pode proibir, diretamente, o porte e uso de droga para consumo, não pode tampouco proibir tais condutas indiretamente por meio da criminalização das formas de acesso à droga produção e comercialização, logo a defesa da liberdade de consumo implica, na defesa da liberdade de produção e comércio para pessoas capazes. O art. 28 da lei pune a ação de quem adquire, guarda, tem em depósito, droga sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Já o art. 33 pune a ação de quem importa, exporta, vende, expõe à venda etc., droga, também sem autorização legal. A distinção entre um crime eoutro reside essencialmente no dolo, portanto: no porte para consumo, o agente tem a droga para uso próprio (dolo de consumir); no tráfico, no entanto, há dolo de produzir ou comercializar a droga para terceiro (dolo de traficar). O porte para consumo e o tráfico não são incompatíveis, podem eventualmente coexistir, caso em que haverá concurso de crimes formal ou material. Na matéria a, questão das mais relevantes refere-se à constitucionalidade das leis penais em branco. A doutrina em geral as tem como constitucionais e compatíveis com o princípio da reserva legal, embora exija o atendimento de certos requisitos. Os tipos penais em branco que remetem o complemento à norma inferior (tipos penais em branco heterogêneos) são inconstitucionais, por implicarem violação aos princípios da reserva legal e divisão de poderes. No tráfico ilícito de drogas, tem-se que a lei brasileira atende aos requisitos exigidos pelo tribunal espanhol, uma vez que, ao descrever o núcleo essencial da conduta típica, criminaliza mais de uma dezena de verbos e comina a pena cabível. Além disso, pode-se dizer que o bem jurídico supostamente protegido, a saúde pública, justifica plenamente a remissão. Quando a lei permite que o núcleo essencial da proibição seja completado por simples ato administrativo, é o Poder Executivo quem dirá, em última análise, o que constitui ou não tráfico ilícito de drogas é ele que, de forma supostamente arbitraria, discriminará as drogas que devem constar do rol do núcleo essencial da proibição. Contudo, os tipos penais em branco não são sempre inconstitucionais; inconstitucional é apenas a remissão à norma inferior que não ostente o status de lei em sentido formal, bem assim o preceito de norma que não contenha o núcleo essencial da proibição ou que nem sequer preveja a pena. Nota-se que uma norma é especial em relação à outra, quando, além dos requisitos que esta prevê, ela contém outros elementos chamados especializantes, ausentes na descrição do tipo penal genérico, de tal modo que aquele que realiza o tipo especial realiza, necessariamente, o tipo geral, embora a recíproca não seja verdadeira. A lei n° 11.343/2006 predominará, sobre toda norma que se ocupe, eventualmente, do mesmo assunto, toda vez que se tratar de infração que se ajuste a algum dos tipos penais de que cuida tráfico de drogas e afins, a exemplo do contrabando ou descaminho (CP, art. 334) etc. Os crimes de tráfico e afins consumam-se com a realização de quaisquer das ações típicas (adquirir, receber, ocultar etc.). O único crime que não admite, absolutamente, tentativa é a prescrição culposa de droga (art. 38), visto que os crimes culposos são incompatíveis com a tentativa, instituto que diz respeito aos delitos dolosos, exclusivamente. Por seu turno, de acordo com a súmula 145 do Supremo Tribunal Federal, não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação, ou seja, não há crime quando o fato é preparado mediante provocação ou induzimento, direto ou por concurso, de autoridade, que o faz para fim de aprontar ou arranjar o flagrante. O autor também atenta para que não se deve confundir o flagrante provocado, do qual se ocupa a súmula, com o simplesmente esperado, que é aquele em que a polícia, previamente informada do crime que não provocou, simplesmente aguarda o momento de sua execução, a fim de proceder à prisão em flagrante. Para a aplicação da súmula, além da provocação, é necessário que o crime não chegue a consumar-se. Em caso da ação policial no sentido de evitar a consumação, o delito se consumar, haverá crime punível, visto que a incidência da súmula pressupõe a impossibilidade de consumação em razão da provocação policial. Em tese, é possível, inclusive, que também o policial provocador responda por crime, a título doloso ou culposo, conforme o caso. E ainda, é preciso não confundir o flagrante provocado com o simplesmente retardado (ou prorrogado), previstos em algumas leis especiais, como a Lei nº 11.343/2006, pois neste último não há nem pode haver nenhum tipo de induzimento, instigação ou auxílio por parte da polícia, sob pena de também se converter em flagrante provocado, tornando impossível o delito. O tráfico e afins são crimes dolosos, o dolo é a consciência e vontade dirigidas à realização de quaisquer das ações previstas no respectivo tipo, sabendo o autor que se trata de droga e que age sem autorização legal ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. E haverá culpa quando, fora do caso anterior, o agente atuar com imprudência, negligência ou imperícia; ou, nos temos da moderna teoria da imputação objetiva, criar um risco proibido e realizar este risco no resultado. O tráfico é o tipo penal fundamental, pois todos os demais o pressupõem, direta ou indiretamente. Exatamente por isso, a configuração de alguns dos crimes previstos na lei pressupõe, necessariamente, a existência de crime anterior de tráfico, razão pela qual, se não restar caracterizado ou provado o delito principal, tampouco se poderá cogitar do crime acessório. Assim, por exemplo, o financiamento para o tráfico (art. 36) requer prévia existência de tráfico e prova nesse sentido. O tráfico e afins são, como regra, crimes de perigo porque a lei presume, juris et de jure, que a produção, o comércio e o uso são nocivos à saúde pública ou individual, independentemente de prova em sentido contrário. Perigo abstrato é o que a lei presume, juris et de jure, inserto em determinado fato, pouco importando que não se realize, no caso concreto, por alguma circunstância excepcional, um perigo efetivo; já o perigo concreto é o que se verifica realmente, dependendo de tal verificação ocorrência a existência do crime. Também por isso, são crimes de mera conduta, porque a lei não exige nenhum resultado para a sua consumação, bastando o cometimento de uma das ações típicas descritas. O tráfico e afins são crimes comissivos, visto que pressupõem a realização de um comportamento positivo, exportar, importar, vender, expor à venda. Haverá, porém, crime omissivo impróprio sempre que o agente, tendo o dever legal de agir e evitar o resultado, não o fizer, omitindo-se dolosamente, a exemplo de policiais e fiscais. O tráfico e afins são, como regra, crimes de múltipla ação, porque a lei refere, quase sempre, diversos verbos que, praticados isolada ou conjuntamente, implicam o cometimento de crime único. São, como regra, crimes instantâneos, porque o cometimento de uma das ações típicas já importa na pronta consumação do delito de que se trata. Excepcionalmente, são crimes permanentes, algumas ações são passíveis de diferimento no tempo, de modo que a consumação do crime se protrairá no tempo enquanto se mantiver a violação ao bem jurídico por decisão do agente. O tráfico e afins são, como regra, crimes comuns, porque os tipos não exigem nenhuma condição especial do agente, motivo pelo qual podem ser praticados por qualquer pessoa. Combinação de leis penais no caso de sucessão de leis, pode ocorrer de a nova lei ser em parte favorável e em parte desfavorável ao réu. Com efeito, apesar de a nova lei ter aumentado a pena cominada ao crime, de 3 a 12 anos de reclusão, para 5 a 15 anos de reclusão, passou a admitir uma causa de redução de pena, que não existia na lei revogada, de 1/6 a 2/3, para o réu primário, sem antecedentes criminais e sem envolvimento com organização criminosa. Os tipos exigem, como elemento constitutivo, que se trate de droga ilícita, isto é, substância definida em lei como tal. Atualmente está em vigor a Portaria SVS/MS no 344, de 12 de maio de 1998. Quando se tratar de substância não subsumível no conceito legal de droga ou cuidar-se de droga lícita, a lei não incidirá, sendo a conduta, em princípio, atípica. Tampouco haverá crime se o agente dispuser de autorizaçãolegal para manusear a droga em questão, exclusivamente. Em geral, a doutrina e a jurisprudência não admitem a incidência do princípio da insignificância no particular, por se tratar de crime de perigo abstrato que tutela bem jurídico não mensurável. Porém, quando se tratar da posse ou tráfico de droga em quantidade absolutamente irrisória, é de todo legítimo adotar-se o princípio da insignificância. Atualmente a Lei n° 8.072/90 (art. 2º, §2) prevê, para os crimes hediondos e eles equiparados, que o condenado poderá progredir quando tiver cumprido 2/5 da pena, se primário, e 3/5, se reincidente. Esse limite só é aplicável aos crimes hediondos cometidos, posteriormente à entrada em vigor da nova lei, de acordo com o princípio da irretroatividade, por admitir a progressão, a declaração de inconstitucionalidade pelo STF atinge todos aqueles que praticaram delito antes da nova lei, sobretudo com o advento da Resolução do Senado que suspendeu a eficácia da lei. A individualização judicial da pena dar-se-á na forma dos arts. 59 e 68 do Código Penal, adotando-se o critério trifásico. Inicialmente é fixada a pena- base com fundamento nas circunstâncias judiciais (art. 59); a fixação da pena provisória, considerar-se-ão as circunstâncias atenuantes e agravantes (CP, arts. 61, 62 e 65); e, por fim fixação da pena definitiva, as causas de diminuição e de aumento de pena previstas no Código Penal e na lei comentada (arts. 33, §4°, 40, 41 e 43). Compreende-se que assim seja, porque realmente não seria justo aplicar a mesma pena para quem trafica 1 kg de maconha e quem é surpreendido com 1.000kg de cocaína, por exemplo. Sobre a causa de redução de pena prevista no art. 33, §4°, da lei dispõe que, nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. Não têm, pois, direito à causa de redução de pena: a)os réus reincidentes (CP, art. 63); b)os possuidores de maus antecedentes; c)os criminosos habituais; d)integrantes de organização criminosa. Recentemente o STF decidiu que a natureza e a quantidade da droga apreendida podem figurar, na aplicação da pena, tanto como circunstância judicial (CP, art. 59) quanto como causa de redução de pena (Lei n° 11.343/2006, art. 33, §4°), pois essa dupla valoração não implica violação ao princípio ne bis in idem: ou seja, sempre que uma mesma circunstância (judicial, legal etc.) figurar mais de uma vez na dosimetria da pena sob o mesmo fundamento, por exemplo, haveria bis in idem, se, no homicídio qualificado por motivo fútil ou torpe, o juiz considerasse tais circunstâncias, primeiro, na fixação da pena-base, segundo, na determinação da pena provisória, invocando o art. 61, II, a, do CP. Portanto, deve prevalecer sempre a circunstância que mais aumenta ou que mais diminui a pena. No caso de Reincidência e tráfico privilegiado não faz jus à redução de pena do art. 33, 4°, da Lei 11.343/2006, o agente reincidente (CP, art. 63). Na prática, é comum o juiz agravar a pena pela reincidência e, em seguida, negar o benefício. Em consonância com o disposto no art. 68 do Código Penal e levando-se em consideração as circunstâncias judiciais no art. 42 da Lei nº 11.343/06, cumuladas com as do art. 59 do Código Penal, diante da natureza e quantidade da droga apreendida (mais de 100 kg de cocaína), a pena-base além do mínimo legal, é em 07 (sete) anos de reclusão. Ausente às condições previstas no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06, diante da reincidência específica, torno a pena de 12 anos de reclusão definitiva, por entender ser necessária e suficiente par a reprovação e prevenção do crime. Há aí bis in idem. Talvez por ser a aplicação da pena tema ordinariamente relegado a plano secundário, frequentes são os erros quando da sua fixação, consistentes sobretudo em revalorar elementos inerentes à estrutura do crime tipicidade, ilicitude e culpabilidade, tomando como circunstâncias judiciais os próprios pressupostos da condenação, incorrendo-se em bis in idem. Erro frequente também ocorre na avaliação da culpabilidade. Acontece que a culpabilidade tem uma dupla função, pois tanto é requisito do fato punível quanto é critério de apuração da pena justa. No caso de tráfico droga e afins, os erros mais comuns consistem em considerar, como circunstâncias judiciais ou legais: o objetivo de lucro, como se o tráfico já não fosse um comércio criminoso; a paga ou promessa de recompensa, que é inerente à própria atividade de tráfico ilícito; a ofensa à saúde pública, que constitui a própria lesão ao bem jurídico e o resultado inerente ao tipo consumado; que o tráfico provoca malefícios a toda sociedade e às gerações futuras, aplicando- se uma pena de caráter exemplificador, que não retrata o caso concreto; o motivo torpe, geralmente o fim de lucro, também inerente ao tipo; a falta de fiscalização nas fronteiras, como se o condenado fosse de algum modo corresponsável pela segurança nos territórios por onde passou. O artigo 45 da lei prevê duas causas excludentes de culpabilidade, dando como inimputável e, pois, inculpável, o agente que: em razão de dependência de droga, não for capaz de entendimento; que, sob o efeito de droga decorrente de caso fortuito ou força maior, for incapaz de entendimento. Em verdade, o artigo em questão trata de duas hipóteses diversas de embriaguez ou similares à embriaguez – isto é, perda total ou parcial da capacidade de autodeterminação em virtude do uso de droga lícita ou ilícita, já que resultantes de causas diversas. a dependência de droga constitui um caso de embriaguez (ou similar a ela) voluntária: o agente, sem nenhum tipo constrangimento físico ou moral exterior, torna-se dependente de droga, perdendo, em consequência, a capacidade de autodeterminar-se. No caso fortuito ou força maior um caso de embriaguez involuntária, decorrente de causas exteriores à sua vontade. Para a hipótese de dependência decorrente do uso de droga que implique inimputabilidade, embriaguez voluntária ou similar a ela, o agente só ficará isento de pena, mas não de medida de segurança, que será aplicada, sempre e quando o juiz julgá-la adequada. De acordo com o art. 40, VII, a pena será aumentada, de um sexto a dois terço, se o agente financiar ou custear a prática do crime. Esta causa de aumento viola o princípio ne bis in idem, que veda a dupla punição de um só e mesmo fato, visto que o financiamento constitui crime autônomo (art. 36), motivo pelo qual o citado aumento não pode incidir. O mesmo pode ocorrer com o aumento decorrente da transnacionalidade (inciso I), relativamente ao tráfico, porque o crime de tráfico consistirá justamente no ato de exportar ou importar droga. Por fim, quanto à causa de aumento do art. 40, III, da Lei infração cometida nas dependências de ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares etc.. 3 CONSIDERAÇÃO DO RESENHISTA A impunidade continua cada vez mais desnuda aos olhos da sociedade, sabe- se, no entanto, que as prisões estão cheias de traficantes e usuários, que formam uma rede infinita de quadrilhas estrategicamente estruturadas. Contudo, o grande criminoso, aquele que tem importância continua atuando na sociedade, e quando um deles é preso, sabe-se que o seu advogado chega junto ou até mesmo antes dele na delegacia. Logo, observa-se uma lacuna onde nitidamente constata-se que a Constituição e toda a legislação brasileira não estão de certa forma preparada para combater o crime do tráfico de drogas e extremamente deficitária no combate ao crime organizado. Contudo, as considerações de Queiroz (2014) e diversos autores que defendem a liberação das drogas como solução para a criminalidade, podem ser concebidas como no mínimoequivocadas, haja vista que a cultura e a condição da sociedade atual no Brasil não esta preparada para essa evolução, haja vista que o crime organizado, o tráfico de drogas e de armas entre outros ilícitos se encontram intimamente associado ao processo de corrupção e aparelhamento do estado e dos órgão que deveriam atuar em prol da justiça e não a favor de bandidos como vem ocorrendo na atualidade. O Sistema Jurídico Penal brasileiro é fundamentado por ideias concebidas e difundidas pelas Escolas Penais, levando em consideração que os limites ao direito de punir estão descritos na Constituição Federal da República (1988), com direitos e garantias individuais e coletivos, bem como, diversos dispositivos limitando não só o direito de punir em si, mas também até mesmo a própria atividade investigatória. Entende-se que para o autor o sistema neoliberal produz um paradoxo das drogas, por um lado, estimula a produção e circulação dela; e por outro lado constrói um arsenal jurídico e ideológico de criminalização desta mercadoria. Quando assevera que “as drogas, lícitas ou não, são neutras, como o é um martelo ou uma faca de cozinha, que podem ser usados eventualmente (também) para ferir ou matar alguém”. Demonstram uma profundo indiferença para os grandes problemas que a droga produz, na família, na comunidade, na sociedade, na saúde e segurança pública, minimizando os efeitos abusivos, criminais e destrutivo que o consumo e o comercio de drogas produz na sociedade. Em virtude da complexidade e abrangência do problema a legislação deveria ser mais rígida com as drogas licitas e ilícitas, suprimindo as lacunas e suprimindo benesses aos infratores envolvidos com o tráfico de entorpecentes. Considera-se, portanto, assim como discursa Silva (2016) que a Lei nº 11.343/2006, não se mostra perfeita, apresenta lacunas e imperfeições, porém tem o mérito de constituir um novo sistema, no qual usuário, dependente e traficante de entorpecentes são tratados de maneira diferenciada. Para os usuários, não há possibilidade de prisão ou detenção, aplicando-lhes penas restritivas de direitos. Para o traficante, sabiamente, a lei prevê sanções penais mais severas, embora defina distinção entre o pequeno, o grande e o eventual traficante e profissional do tráfico, que terá penas mais duras. Para o dependente, prevê a imposição de tratamento médico ou atenuação da pena. Em consonância com Queiroz (2014), pode-se entender que “somente” leis mais severas não inibem o tráfico de drogas, contudo, discordando de sua narrativa, a legalização e descriminalização do uso, produção e comercio de entorpecentes, também não promovera redução na criminalidade e redução do problema no Brasil. Compreende-se que apenas com políticas públicas, com ênfase na educação, sem ideologia ou alienação é que o fenômeno do narcotráfico poderá ser minimizado. E contrariamente ao que considera o autor do texto resenhado, compreende-se que leis amenas, não punitivas, ou descriminalizantes somente irão incentivar a criminalidade, principalmente a organizada, que se respalda na impunidade, no aparelhamento do estado e na deterioração do sistema jurídico brasileiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Dark Blacker de. Análise crítica e dogmática do artigo 28 da Lei n.° 11.343 de 2006. Conteúdo Jurídico, Brasília-DF: 19 maio 2020. Disponível em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/49089/analise-critica-e-dogmatica- do-artigo-28-da-lei-n-11-343-de-2006. Acesso em: 19 maio 2020. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1998. SILVA, César Dario Mariano da Lei de drogas comentada. 2. ed. São Paulo: APMP - Associação Paulista do Ministério Público, 2016.
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