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Capítulo 14 Pronome I 210 capítulo 14 1. Definição e classificação Introdução O que você deverá saber ao final deste estudo. 1. O que caracteriza os pronomes. • Quais são as funções morfológicas e sintáticas exercidas pelos pronomes. • Como identificar pronomes substantivos e pronomes adjetivos. • O que define os pronomes pessoais (e de tratamento) e os possessivos. • Quais são as características dos pronomes pessoais e dos pronomes de tratamento. • O que diferencia pronomes pessoais do caso reto de pronomes pessoais do caso oblíquo. • Quais são as características dos pronomes possessivos. Objetivos Observe a história em quadrinhos abaixo para responder às questões de 1 a 4. 1. Em qual dos sentidos apresentados a seguir o verbo conjugar é empregado no primeiro quadrinho? Por quê? Vasques, edgar. Rango. Porto alegre: L&PM, 2005. p. 34. Rango Edgar Vasques ed g a R Va sq u es Re pr od uç ão p ro ib id a. a rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . pronome I 211 1. unir(-se), ligar(-se), juntar(-se) harmonicamente a ou com (algo ou alguém); misturar(-se); combinar(-se). 2. flexionar[-se] (um verbo) em algum de seus tempos, modos, pessoas e números, acrescentando-se ao radical do verbo os sufixos flexionais verbais adequados. Houaiss, antônio e ViLLaR, Mauro de salles. dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: objetiva, 2001. p. 803. (Fragmento adaptado). Explique por que há, na resposta de Rango, uma referência ao outro significado apresentado. 2. Qual foi o modo encontrado por Rango para explicar ao filho o que significa conjugação de esforços? Os termos utilizados por Rango podem ser organizados segundo a relação que as pessoas por eles identificadas mantêm com quem fala. Faça isso. Essa função de identificar os seres em relação a quem fala é seme- lhante àquela exercida pelos substantivos. Explique por que, apesar disso, é possível perceber que os termos empregados por Rango não são substantivos. 3. Rango e seu filho moram em um lixão. Explique como Vasques utiliza uma pergunta aparentemente inocente para ilustrar uma separação que reflete a dura realidade de milhões de brasileiros. Qual a importância da escolha dos termos nós e eles para ilustrar essa visão crítica? 4. Considerando suas respostas anteriores, que sentido devemos atribuir à expressão conjugação de esforços a partir da explicação dada por Rango? Podemos concluir, da análise da tira do Rango, que existem determinadas palavras cuja função, na língua, é indicar a posição que ocupam os seres como pessoas do discurso. Eu, tu, ele, nós, vós e eles indicam qual é a relação dos seres referidos por Rango em relação a ele mesmo, já que é ele quem fala. Os papéis — ou lugares — discursivos, bem como as relações que en- tre eles se estabelecem, estão formalmente marcados na linguagem pelos pronomes. Pronomes substantivos e pronomes adjetivos Em termos da sua ocorrência, o pronome pode ocupar o lugar dos subs- tantivos. Pode, também, acompanhá-los, antecedendo-os ou seguindo-os, de forma a explicitar a relação dos seres referidos pelos substantivos com as pessoas do discurso. Pronome é a palavra variável que identifica, na língua, os participantes da in- terlocução (1a e 2a pessoas discursivas) e os seres, eventos ou situações aos quais o discurso faz referência (3a pessoa discursiva). Tome nota Identifica os participantes da interlocução (1a e 2a pessoas discursivas). Pronome Identifica os seres, eventos ou situações aos quais o discurso faz referência (3a pessoa discursiva). Re pr od uç ão p ro ib id a. a rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . g r a m á t i c a 212 capítulo 14 Na tira, o último homem diz: “O meu foi almoçar”. O pronome meu, nesse caso, está no lugar do substantivo gerente e é classificado como um pronome substantivo. Veja, agora, um exemplo em que o pronome acompanha um substantivo. Quando isso ocorre, ele é considerado um pronome adjetivo. Os pronomes podem desempenhar, portanto, funções equivalentes às exercidas pelos substantivos e adjetivos. Observe. LaeRte. Piratas do tietê. Folha de s.Paulo, são Paulo, 13 mar. 2004. PiRatas do tietê Laerte 28 o anuário. são Paulo: Clube de Criação de são Paulo, 2003. p. 91. Dia dos Namorados, dia de Sonho de Valsa. O amor tem esse sabor. Na frase “No Dia dos Namorados, todo presente gostaria de ser um Sonho de Valsa.”, o pronome todo acompanha o substantivo presente, desempenhando, portanto, uma função adjetiva. O mesmo acontece no enunciado que aparece no canto inferior direito: “O amor tem esse sabor”. O pronome esse, como acompanha o substantivo sabor, também exerce uma função adjetiva. yo u n g & R u bi C a M La eR te No Dia dos Namorados, todo presente gostaria de ser um Sonho de Valsa. Re pr od uç ão p ro ib id a. a rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . classes de palavras pronome I 213 1a pessoa – eu (singular); nós (plural) 2a pessoa – tu (singular); vós (plural) – pronomes de tratamento que, embora empregados com a forma verbal de 3a pessoa, referem-se à 2a pessoa do discurso: – você (singular); vocês (plural) – o senhor, a senhora (singular); os senhores, as senhoras (plural) – Vossa Excelência (singular); Vossas Excelências (plural) 3a pessoa – ele, ela (singular); eles, elas (plural) A mãe puxa a orelha do filho e, ao falar, aponta para o local para onde se dirigem os três Reis Magos carregando presentes. Em sua fala, fica evidente o caráter dêitico dos pronomes. “Ele ganha porque é um menino ajuizado! Você não ganha porque é um peste!!” Laerte LaeRte. deus segundo Laerte. são Paulo: olho d’Água, 2000. p. 18. Dêitico (do grego deiktikós) significa “o que mostra ou demonstra”. Tome nota Os pronomes pessoais, por servirem para fazer referência a seres, identificam explicitamente as pessoas do discurso, ou seja, as pessoas que participam da interlocução. Sua classificação é feita de acordo com a posição que a pessoa por eles identificada ocupa na interlocução. Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos, demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos. Nas próximas seções, vamos conhecer os pronomes pessoais (e de tratamento) e os possessivos. Os demais serão apresentados no próximo capítulo. Pronomes pessoais Os pronomes pessoais fazem referência explícita e direta às pessoas do discurso. Observe a tira. Em uma interlocução, a 1a pessoa é quem “fala”, o enunciador do discurso. A 2a pessoa identifica sempre o interlocutor, a pessoa a quem o enunciador se dirige. A 3a pessoa refere-se ao assunto (pode ser um ser humano ou não) dessa conversa, aquilo sobre o que falam os dois interlocutores. La eR te Re pr od uç ão p ro ib id a. a rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . g r a m á t i c a 214 capítulo 14 Na tira, o primeiro pássaro usa a forma a gente para identificar uma referên- cia de 1a pessoa do plural (ele e o outro pássaro que conversam no galho). Na fala, principalmente em contextos mais descontraídos, é frequente usarmos a expressão a gente em lugar do pronome de 1a pessoa do plural correspondente (nós). Nesse caso, é preciso cuidado com a concordância verbal, porque, embora identificando mais de uma pessoa, a gente é uma forma singular e os verbos que a ela se referirem devem ser flexionados na 3a pessoa do singular. de olho na fala Além de fazer referência precisa à 1a pessoa do plural (eu + alguém), o pronome nós também pode ser utilizado para promover a generalização do discurso. Isso acontece porque, em textos de caráter mais impessoal (geralmente com forte conteúdo analítico, expositivo e/ou argumentativo), é importante dar ao leitor a impressãode que a “voz” que fala no texto não representa uma perspectiva pessoal, mas sim apresenta a visão do bom senso, da razão, da objetividade. Quando é usado com essa finalidade, o pronome nós passa a fazer referência a um conjunto mais amplo de pessoas (os cidadãos de um país ou a humanidade de modo geral). Exemplo: Nós vivemos em um país que apresenta uma grande desigualdade social. (Nesse caso, o nós refere-se a todos os brasileiros). Formas dos pronomes pessoais Uma característica dos pronomes pessoais é a variação na forma que assu- mem, dependendo da função sintática que exercem na oração e da acentuação (átona ou tônica) que apresentam no desempenho de tal função. Pronomes pessoais do caso reto Quando desempenham a função de sujeito ou predicativo do sujeito da oração, os pronomes pessoais assumem suas formas chamadas retas, ou do caso reto. Pronomes pessoais do caso oblíquo Quando desempenham as funções de objeto direto, objeto indireto, comple- mento nominal, adjunto adverbial ou agente da passiva, os pronomes pessoais assumem suas formas chamadas oblíquas, ou do caso oblíquo. Mutts Patrick McDonnell MCdonneLL, Patrick. Mutts. o estado de s. Paulo, são Paulo, 22 dez. 2001. Faz referência à 1a pessoa do plural. Pronome nós Promove a generalização do discurso (equivale a um conjunto mais amplo, como os cidadãos de um país ou a humanidade em geral). 20 06 k in g F ea tu Re s/ iP Re ss Re pr od uç ão p ro ib id a. a rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . classes de palavras pronome I 215 caso reto (podem ter a função de sujeito ou de predicativo do sujeito) Pronomes pessoais caso oblíquo (podem ter a função de objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, adjunto adverbial e agente da passiva) Na tira do Garfield, aparece uma estrutura considerada inadequada pela gramá- tica normativa, mas muito comum na linguagem coloquial: “Eles já não fabricam ela [comida para gato] mais tão fedida e repulsiva”. Como a função sintática a ser exercida pelo pronome, nesse caso, é de objeto direto do verbo fabricar, a gramática normativa recomenda o uso das formas oblíquas dos pronomes pessoais (“Eles já não a fabricam mais tão fedida e repulsiva”). O que se observa, porém, é que o uso dos pronomes oblíquos, nesse contexto, está cada vez mais restrito à escrita formal. Na fala, especialmente em um registro mais coloquial, a forma do pronome pessoal do caso reto é a mais frequente. de olho na fala Pessoas do discurso Pronomes pessoais retos Pronomes pessoais oblíquos Átonos Tônicos 1a pessoa Singular 2a pessoa 3a pessoa eu tu ele, ela me te o, a, lhe se mim, comigo ti, contigo ele, ela si, consigo 1a pessoa Plural 2a pessoa 3a pessoa nós vós eles, elas nos vos os, as, lhes se nós, conosco vós, convosco eles, elas si, consigo Os pronomes oblíquos e a ação reflexiva Os pronomes se, si, consigo são formas especiais de 3a pessoa para indicar ação reflexiva, isto é, são usados para indicar que o objeto direto ou indireto do verbo, ou seu adjunto adverbial de companhia, tem por referente o mesmo ser referido pelo sujeito da oração. O quadro abaixo permite uma melhor visualização da variação nas formas dos pronomes pessoais: gaRfield Jim Davis daVis, Jim. garfield. Folha de s.Paulo, são Paulo, 28 abr. 2004. 20 06 P aw s, in C. /d is tR ib u te d b y at La n ti C sy n d iC at io n Uma estrutura da língua costuma causar dúvida sobre o uso das formas retas ou oblíquas dos pronomes pessoais. Você certamente já ouviu muitas pessoas dizerem algo como: Ele pediu para mim fazer uma cópia da fotogra- fia. A gramática normativa recomenda, nesse contexto, que seja usado um pronome do caso reto: Ele pediu para eu fazer uma cópia da fotografia. O pronome pessoal de 1a pessoa, nessa frase, desempenha a função de sujeito do verbo fazer. Como vimos, são os pronomes pessoais do caso reto que atuam como sujeito nas estruturas do português. Re pr od uç ão p ro ib id a. a rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . g r a m á t i c a 216 capítulo 14 3a pessoa: se, si, consigo 1a pessoa: me, nos 2a pessoa: te, vos Ação reflexiva Observe os exemplos. o trabalhador feriu-se com o canivete. os vaidosos estão sempre a falar de si. os pais trouxeram consigo os filhos. No português do Brasil, o pronome consigo é sempre reflexivo. Por esse motivo, a gramática normativa não autoriza o emprego de consigo se o seu referente for a 2a pessoa do discurso. O correto é dizer: “Eu gostaria muito de falar com você”. E não: “Eu gostaria muito de falar consigo”. Em Portugal, por outro lado, essa forma é vista como perfeitamente adequada às normas gramaticais. Com relação à 1a e à 2a pessoa do discurso, a ação reflexiva vem expressa pelas mesmas formas oblíquas átonas me, te, nos, vos. Observe. Eu me cortei com a faca de cozinha. tu te penteias sempre depois que acordas? Nós nos vestimos às pressas porque estávamos atrasadíssimos. É por esse motivo que estruturas como Eu se cortei com a faca de cozinha são consideradas inadequadas. Se é pronome oblíquo de 3a pessoa e a ação reflexiva, nesse caso, ocorre sobre a 1a pessoa do discurso. O correto, portanto, é utilizar o pronome oblíquo de 1a pessoa: me. Os pronomes oblíquos e a ação recíproca As formas reflexivas do plural podem ser utilizadas também para indicar ação recíproca, ou seja, para indicar que a ação afeta simultaneamente dois ou mais indivíduos. Veja. paulo e o pai abraçaram-se emocionadamente, depois do longo período de separação. pedro e José se machucaram com o canivete. No último exemplo, o pronome tanto pode indicar ação reflexiva (Pedro e José machucaram-se, cada um com um instrumento cortante diferente) como ação recíproca (em uma briga, Pedro machucou José e José machucou Pedro). No primeiro caso, diz-se que o pronome é reflexivo; no segundo, diz-se que é recíproco. Funções sintáticas dos pronomes pessoais Os pronomes pessoais do caso reto podem desempenhar as seguintes funções: • Sujeito: Eu queria que ele entendesse os meus motivos. • Predicativo do sujeito: o vendedor será ele. • Vocativos (somente os pronomes tu e vós): Ó vós, que sois a minha esperança! Os pronomes pessoais do caso oblíquo, quando tônicos, podem ser: • Objeto direto: É a ele que eu amo de verdade. (Apesar da presença da preposição a, o objeto é direto, porque o verbo amar é transitivo direto. A construção com a preposição é excepcional.). • Objeto indireto: Mostre isso para mim. • Complemento nominal: Não sinto nenhuma necessidade de ti! • Adjunto adverbial: Você não quer dar um passeio conosco? • Agente da passiva: Esse problema terá de ser resolvido por mim. Re pr od uç ão p ro ib id a. a rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . classes de palavras pronome I 217 Os pronomes pessoais do caso oblíquo, quando átonos, podem ser: • Objeto direto: Meus pais me amam de verdade. • Objeto indireto: Só o trabalho nos pode garantir uma vida digna. • Adjunto adnominal: antônio aproximou-se de Marina e tocou-lhe os cabelos. (O pronome lhe tem valor possessivo: os cabelos de Marina.). • Sujeito de verbo no infinitivo: Mandei-o apanhar a encomenda. (Man- dei que ele apanhasse…). Emprego dos pronomes pessoais Os falantes da língua costumam confundir-se com relação à escolha da forma correta de alguns pronomes pessoais, em alguns contextos. Duas regras importantes orientam seu uso. Veja. Nunca devem ser usadas as formas eu e tu depois de preposições, a menos que essas formas pronominais desempenhem a função de sujeitos de verbos no infinitivo: por favor, leia esse trecho do jornal para mim. por favor, passe o jornal para eu ler. Este segredo deve ficar entre mim e você. As formas conosco e convosco devem ser substituídaspor com nós e com vós toda vez que vierem acompanhadas de alguma palavra que reforça seu sentido, como próprios, mesmos, outros, todos e ambos, ou por algum numeral. Veja: Eles vão ter de habituar-se a conviver conosco nesta casa. Eles vão ter de habituar-se a conviver com nós todos nesta casa. Pronomes de tratamento Os pronomes de tratamento são palavras e locuções utilizadas para designar o interlocutor. Por isso, funcionam como pronomes pessoais. Para que você conheça os principais pronomes de tratamento e as abre- viaturas que recebem, na escrita, veja o quadro abaixo. Emprego dos pronomes de tratamentoAbreviatura Tratamento Usado para V. A. Vossa Alteza príncipes, arquiduques, duques V. Em.a Vossa Eminência cardeais V. Ex. a Vossa Excelência altas autoridades do governo e oficiais das forças armadas V. Mag.a Vossa Magnificência reitores das universidades V. M. Vossa Majestade reis, imperadores V. Ex. a Rev.ma Vossa Excelência Reverendíssima bispos e arcebispos V. P. Vossa Paternidade abades, superiores dos conventos V. Rev.a V. Rev.ma Vossa Reverência ou Vossa Reverendíssima sacerdotes em geral V. S. Vossa Santidade papa V. S. a Vossa Senhoria funcionários públicos graduados, oficiais até coronel; na linguagem escrita, pessoas de cerimônia Re pr od uç ão p ro ib id a. a rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . g r a m á t i c a 218 capítulo 14 Emprego dos pronomes de tratamento Com relação ao uso dessas formas de tratamento, é importante lembrar que: • são usadas sempre com a forma verbal de 3a pessoa, embora este- jamos nos dirigindo diretamente à(s) pessoa(s) que requere(m) esse tratamento respeitoso: “Vossa Excelência consideraria a hipótese de votar a favor da emenda proposta pelo nosso partido?”. • são usadas com os possessivos sua, suas, em vez de vossa, vossas, quando, em conversa com o nosso interlocutor, fazemos referência a essa(s) pessoa(s) (ou seja, quando elas ocupam o lugar de 3a pessoa do discurso): “Imagine que Sua Excelência demonstrou enorme di- ficuldade em entender a argumentação do líder da oposição”. • são usadas com outros pronomes, quando for o caso, também na 3a pessoa gramatical: “Vossa Excelência poderia explicar melhor esse seu projeto de lei?” Também são considerados pronomes de tratamento o senhor, a senhora, você e vocês, empregados frequentemente na linguagem cotidiana. As formas você e vocês (usadas em muitas variedades do português do Brasil, em substituição a tu e a vós, para assinalar a 2a pessoa do discurso) originam-se das formas arcaicas de tratamento respeitoso Vossa(s) Mercê(s), das quais resultaram a partir de uma série de reduções fonológicas. Pronomes possessivos Pronomes possessivos são aqueles que fazem referência às pessoas do discurso indicando uma relação de posse. Observe. Época, são Paulo: globo, n. 405, p. 84, 20 fev. 2006. São os personagens do seriado lost. Se você também não quiser ficar perdido, corra já para a telinha. ed it o Ra g Lo bo Re pr od uç ão p ro ib id a. a rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . classes de palavras pronome I 219 Um possuidor Vários possuidores Um objeto Vários objetos Um objeto Vários objetos 1a pessoa masc. fem. meu minha meus minhas nosso nossa nossos nossas 2a pessoa masc. fem. teu tua teus tuas vosso vossa vossos vossas 3a pessoa masc. fem. seu sua seus suas seu sua seus suas O título da reportagem sobre lost, um dos seriados de maior sucesso na televisão americana em 2005, provoca os leitores da revista: “Já viu a cara deles”? O pronome possessivo, nesse caso, faz referência ao rosto dos atores que interpretam as personagens de lost. Os pronomes possessivos mantêm com os pronomes pessoais uma estreita relação, pois designam aquilo que cabe ou pertence aos seres referidos pelos pronomes pessoais. Formas dos pronomes possessivos Os pronomes possessivos podem assumir as seguintes formas: Emprego dos pronomes possessivos Os pronomes possessivos ocorrem, na maioria das vezes, antes do subs- tantivo que determinam. Existem casos, porém, em que a posposição produz efeitos de sentido interessantes. Observe: Meu filho não anda de moto. Filho meu não anda de moto! No primeiro exemplo, conclui-se simplesmente que o falante tem um filho e que ele não anda de motocicleta. Já no segundo, o efeito da posposição do possessivo é o de deixar bem claro que o falante não admite em hipótese alguma que um filho seu (ou que porventura venha a ter) ande de moto. Os pronomes oblíquos me, lhe e te podem ser usados com valor de pos- sessivo em construções como: Ele beijou-me as mãos muito respeitosamente. (Ele beijou as minhas mãos.). comprei-te o carro porque estavas muito precisado de dinheiro. (Com- prei o teu carro…). amarrei-lhe as tranças com uma fita vermelha. (Amarrei as tranças dela…). Funções sintáticas Os pronomes possessivos podem acompanhar os substantivos, caso em que têm um valor adjetivo e são, por isso, chamados pronomes adjetivos. Os pronomes possessivos adjetivos funcionam sintaticamente como adjuntos adnominais. Deixei nossos disquetes ao lado do teu computador. Re pr od uç ão p ro ib id a. a rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . g r a m á t i c a 220 capítulo 14 Esses pronomes podem também ter valor substantivo, ocorrendo como núcleos de sintagmas nominais. São chamados, nesse caso, de pronomes substantivos. trouxe todas as roupas. Separe as tuas. Os pronomes possessivos substantivos funcionam sintaticamente como: • Sujeito: as minhas são estas! • Predicativo do sujeito: Estas compras são minhas. • Vocativo: Ô meu, vê se não perturba! • Objeto direto: por falar em ingressos, paulo só conseguiu comprar o teu. • Objeto indireto: De todos os quadros que vi, gostei mais do teu. • Complemento nominal: Quanto ao livro, não tenho mais necessidade do teu. • Adjunto adverbial: pinte aquela parede com o seu pincel, que eu pinto esta com o meu. • Agente da passiva: Meu cachorrinho foi mordido pelo seu. Lembre-se Sintagmas são unidades míni- mas entre as quais se estabelece uma relação de determinação. São nominais os sintagmas que têm por núcleo um substantivo. Exemplo: teu computador. Leia o texto abaixo para responder às questões 1 e 2. atividades sant’anna, affonso Romano de. Poesia reunida; 1965-1999. Porto alegre: L&PM, 2004. p. 157-158. eu defendo tu combates ele entrega. eu canto tu calas ele vaia. eu escrevo tu me lês ele apaga. eu falo tu ouves ele cala. eu procuro tu indagas ele esconde. eu planto tu adubas ele colhe. eu ajunto tu conservas ele rouba. Conjugação 1. O poema acima é intitulado “Conjugação”. O que, do ponto de vista gramatical, justifica esse título? Como são classificados os pronomes utilizados pelo eu lírico? Considerando as noções associadas aos pronomes utilizados, explique quem são as pessoas às quais os pronomes se referem no poema. Re pr od uç ão p ro ib id a. a rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . classes de palavras pronome I 221 2. O sentido do poema é construído pela relação estabelecida entre cada pronome e o sentido dos verbos a eles associados. Consideran- do essa afirmação, explique como se caracteriza o “ele” a quem se refere o eu lírico. Leia atentamente a tira abaixo para responder à questão 3. Calvin Bill Watterson 3. Na tira, há duas ocorrências do pronome você. Em que sentido o pronome foi utilizado na primeira ocorrência? Esse pronome não foi utilizado com o mesmo sentido na fala de Calvin. Explique por quê. Leia atentamente a tira abaixo para responder à questão 4. watteRson, bill. os dez anos de Calvin e Haroldo. são Paulo: best news, 1995. p. 14. v. 1. LaeRte. Classificados; livro 3.são Paulo/Lisboa: devir, 2004. p. 55. Laerte & semiótica: relativo ao sistema de significação dos signos. 20 06 w at te Rs o n /d is tR ib u te d b y at La n ti C sy n d iC at io n La eR te 4. No contexto da tira, o humor é obtido pelo uso de um pronome. Identifique-o. De que maneira o uso desse pronome contribui para a graça da tira? Justifique. Leia o texto a seguir para responder à questão 5. questão semiótica — Você é um ladrão! — o digníssimo colega não me falte com o decoro: “Você, não, ‘Vossa excelência’!” Caros amigos, ano V, n. 51, jun. 2001. Re pr od uç ão p ro ib id a. a rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . g r a m á t i c a 222 capítulo 14 5. A graça do texto da página anterior se deve à reação do interlocu- tor à acusação feita por seu colega. Considerando a primeira fala apresentada, que reação se esperaria que tivesse o interlocutor? A resposta dada pelo interlocutor quebra essa expectativa. Explique por quê. O que as formas pronominais digníssimo e Vossa Excelência indicam sobre a posição ocupada na sociedade por esses interlocutores? A propaganda abaixo serve de base para a questão 6. 6. O sentido da propaganda é construído pelo uso reiterado de um determinado pronome. Identifique-o. A quem esse pronome se refere, considerando o contexto? A repetição do pronome possessivo tem uma função argumentativa na propaganda. Explique. Primeira Leitura, ed. 5, set. 2002. d es ig n V iC en te g iL Re pr od uç ão p ro ib id a. a rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . classes de palavras pronome I 223 Leia atentamente a tira abaixo para responder à questão 7. ituRRusgaRai, adão. aline. Folha de s.Paulo, são Paulo, 8 ago. 2002. aline Adão Iturrusgarai 7. Na tira, o cliente atendido por Aline se ofende. Que termo utilizado por Aline causa essa reação? O que, gramaticalmente, explicaria o fato de Aline adotar essa forma de tratamento para se dirigir ao comprador? Por que o comprador se ofende? Aline, depois de ser questionada, passa a tratar o comprador por você. Justifique essa mudança na forma de tratamento. A fala do comprador no último quadrinho, porém, é incoerente com sua atitude em relação ao emprego do pronome senhor. Explique essa incoerência. A propaganda abaixo serve de base para a questão 8. a d ã o it u RR u sg a Ra i/ Fo LH a iM a g eM istoÉ, são Paulo, três, n. 1673, 23 out. 2001. Nem vai dar tempo de sentir saudade do seu carro. Você vai ver ele to- dos os dias. d M 9/ d d b Chegou Oficina On-line. Agora você acompanha pela Internet, foto por foto, o conserto do seu carro na oficina. Entre no site, digite a placa e acompanhe o conserto do seu carro em uma das nossas oficinas especiais, verificando as fotos de cada etapa do conserto, desde a entrada até a entrega do veículo, com comentários atualizados. O serviço está disponível no estado de São Paulo e nas cidades do Rio de Janeiro e Belo Horizonte. E, breve, nas demais regiões do país. Mas não precisa ter pressa. Nem em foto a gente quer ver o seu carro na oficina. Consulte o seu corretor ou ligue 0800 164444. Re pr od uç ão p ro ib id a. a rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . g r a m á t i c a 224 capítulo 14 dR . k aR i L o u n at M a a /s PL -L at in st o Ck 8. Na propaganda da página anterior, o enunciado que aparece ao lado do anjo apresenta um pronome utilizado inadequadamente do ponto de vista da gramática normativa. Identifique-o, transcrevendo a passagem em que essa inadequação ocorre. Qual seria, de acordo com a gramática normativa, a forma adequada de redigir essa passagem? Por que o uso desse pronome, na propaganda, é inadequado de acordo com a norma culta? O que explicaria, considerando o uso que os falantes fazem da língua, a forma e a colocação do pronome nessa propaganda? Usos dos pronomes pessoais Observe como os pronomes pessoais do caso oblíquo (se), associados aos verbos acre- ditar e submeter ajudam a tornar mais abrangente o que está sendo afirmado. No caso, o autor do texto generaliza as informações de que, em mea- dos do século XIX, a crença corrente era a de que miasmas provocavam doenças e destaca o risco de quem se submetia a cirurgias. No segundo parágrafo, mais uma vez o pronome oblíquo (se) é utilizado. Sua função, nesta passagem, é diferente: associado ao verbo apresen- tar, cria uma forma reflexiva da ação verbal. Neste mesmo parágrafo, é interessante observar que o pronome do caso reto (elas) aparece para retomar o as- sunto do texto (bactérias) e não para particularizar a in- terlocução. Uma das importantes funções que certos pronomes desempenham em textos de natureza expositiva e argumentativa é garantir que o discurso assuma um tom mais impessoal e, assim, tenha um maior poder de convencimento. Em gêneros textuais como os editoriais, os artigos de opinião, as dissertações, etc., por exemplo, os leitores esperam encontrar as opiniões e as análises apresentadas de modo mais genérico, abrangente, como se a “voz” do texto fosse a da racionalidade. Para que esse efeito seja alcançado, é importante que o texto mantenha uma interlocução mais abrangente, sem especificar um “eu” e um “tu” que dialogam diretamente. Veja um exemplo dessa interlocução mais genérica no texto de um editorial publicado em um jornal de circulação nacional. novas bactérias se houve uma revolução que realmente causou impacto sobre o con- junto da humanidade foi a revolução médica. É o caso de lembrar que os microrganismos patógenos são conhecidos da medicina há menos de 150 anos. antes disso, acreditava-se que doenças eram provocadas por miasmas ou mesmo por encantamentos. Já a antissepsia data de 1867. an- tes disso, submeter-se a uma cirurgia era mais ou menos como caminhar para o cadafalso, pois médicos não lavavam as mãos nem seus bisturis para operar. [...] doenças infecciosas ainda são a primeira causa de morte no mundo. nas últimas décadas, assistimos ao surgimento de várias delas, como aids, sars, ebola. [...] a ressurgência de doenças bacterianas é um fenômeno preocupante em todo o mundo. está relacionada ao problema da resistência a antibióticos. bactérias, como todos os seres vivos, apresentam-se com variabilidade gené- tica. quando submetidas a uma pressão seletiva, como um ataque por antibióti- cos, nem todas são afetadas. aquelas com maior resistência natural à droga sobrevi- vem. elas e sua descendência tendem a ser imunes ao fármaco. Re pr od uç ão p ro ib id a. a rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . classes de palavras pronome I 225 a má utilização das drogas antimicrobianas contribui enor- memente para a resistência, mas ela ocorreria de qualquer forma. as principais linhagens de bactérias resistentes circu- lam justamente nos hospitais [...]. a medicina vem lidando com esse problema, desenvolvendo novas drogas contra as quais as bactérias não têm defesas. a dificuldade é que, nos últimos anos, vem caindo o número de novos produtos que chegam ao mercado. Como mostrou reportagem do jornal washington Post, o problema é essencialmente econômico. desenvolver e lançar um medicamento custa em média us$ 900 milhões, num processo que pode levar até uma década. embora antibióticos sejam amplamente receitados, eles são utilizados por períodos curtos. assim, os laboratórios têm reduzido as atividades de suas divisões de antibióticos para apostar em drogas de uso crônico. É urgente reverter essa equação ou as bactérias poderão vencer a guerra contra os medicamentos. Folha de s.Paulo, são Paulo, 18 abr. 2004. editorial. disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1804200402.htm>. acesso em:19 abr. 2004. pronomes pessoais do caso reto pronomes possessivos pronomes pessoais do caso oblíquo pronomes indefinidos pronomes demonstrativos O texto transcrito é um editorial de jornal. Uma das características estru- turais definidoras desse gênero textual é o fato de ele apresentar uma análise sobre uma questão específica, organizada de modo a convencer leitores de perfil muito variável. Editoriais são escritos para todos os possíveis leitores de um jornal e não podem, portanto, criar uma situação de interlocução que pressuponha leitores muito específicos. Outra questão estrutural importante diz respeito ao objetivo de textos desse gênero: convencer seus leitores, por meio do encadeamento de informações e argumentos, da correção da análise apresentada. Para alcançar tal objetivo e para manter as características estruturais do gênero editorial, o autor do texto (um indivíduo específico) precisa criar uma estrutura discursiva mais genérica, mais abrangente. Dela, não poderão fazer parte um “eu” e um “tu/você” particulares. Embora essas posições discursivas sejam marcadas (há, no texto, “alguém” que fala de modo mais genérico com um “tu” também genérico, porque abrange todos os possíveis leitores do editorial), o que merece destaque e atenção é a 3a pessoa do discurso (o “ele”): o “assunto” (as novas bactérias). Além dos pronomes pessoais do caso reto e oblíquo, destacamos tam- bém, no texto, os demonstrativos (aquelas, esse, essa), os possessivos (seus, delas, sua, suas) e os indefinidos (todo, todos, todas). Mais uma vez, o que se observa são formas associadas à 3a pessoa do discurso, confirmando o foco no assunto. Esses pronomes compõem a rede interna de referências do texto, ligando novas informações a outras que haviam anteriormente sido apresentadas e garantindo, assim, que o leitor consiga entender a que cada uma das coisas ditas se refere. Novamente o pronome pessoal do caso reto (ela) cumpre a função de retomar o tópico an- teriormente referido (má utilização das drogas antimicrobianas). Nesse caso, o que se observa é a manutenção da estrutura discursiva: uma 1a pessoa (nesse caso, a “voz” do texto) dirige-se a um “tu” (ne- cessariamente genérico, porque abrange todos os possíveis leitores do editorial) sobre um as- sunto específico (a 3a pessoa do discurso que, no texto, define-se como as “novas bactérias”). Criada de modo genérico e impessoal para acomodar a estrutura textual própria do gênero editorial, essa estrutura discursiva precisa ser mantida até o fim pelo autor do texto. Para ga- rantir que isso ocorra, ele não pode particularizar, em momento algum, o “eu” e o “tu” desse “diálogo”. Por esse motivo, não vemos, no texto, o uso das formas de 1a pessoa do singular dos pronomes pessoais (retos e oblíquos). Re pr od uç ão p ro ib id a. a rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . g r a m á t i c a 226 capítulo 14 pratique Agora que você viu como um uso cuidadoso dos pronomes pessoais ajuda a tornar o discurso mais genérico e abrangente, sua tarefa será fazer as alterações necessárias no texto transcrito abaixo para alcançar uma maior generalização. não convém se preocupar demais com seus micró- bios. Louis Pasteur, o grande químico e bacteriologista francês, ficou tão preocupado com eles que passou a examinar com uma lente de aumento todos os pratos que lhe eram servidos, hábito que não deve ter agra- dado muito aos anfitriões quando ele era convidado para jantar. na verdade, não adianta tentar se esquivar das suas bactérias, pois elas estão sempre presentes, em números que você nem consegue imaginar. se você goza de boa saúde e tem bons hábitos de higie- ne, terá um rebanho de cerca de 1 trilhão de bactérias pastando em suas planícies carnudas — cerca de 100 mil em cada centímetro quadrado de pele. elas estão ali para consumir os aproximadamente 10 bilhões de flocos de pele que você perde todo dia, além dos óleos saborosos e minerais fortificantes que gotejam de cada poro e fissura. Você é para elas o supremo centro de alimentação, com a conveniência do calor e da mobilidade constantes. [...] e essas são apenas as bactérias que habitam a sua pele. existem mais trilhões escondidas em suas tripas e nos orifícios nasais, presas a seus cabelos e cílios, nadando na superfície de seus olhos, perfurando o esmalte de seus dentes. seu sistema digestivo sozinho abriga mais de 100 trilhões de micróbios, de pelo menos quatrocentos tipos. alguns lidam com açúcares, outros com amidos, alguns atacam outras bactérias. [...] Como nós, seres humanos, somos grandes e inteli- gentes o bastante para produzir e utilizar antibióticos e desinfetantes, convencemo-nos facilmente de que banimos as bactérias para a periferia da existência. não acredite nisso. as bactérias podem não construir cidades nem ter vidas sociais interessantes, mas elas es- tarão presentes quando o sol explodir. este é o planeta delas, e só vivemos nele porque elas permitem. não se esqueça de que as bactérias progrediram por bilhões de anos sem nós. não conseguiríamos sobreviver um dia sem elas. elas processam os nossos resíduos e os tornam novamente utilizáveis: sem sua mastigação diligente, nada apodreceria. as bactérias purificam nossa água e mantêm produtivos nossos solos. sintetizam vitaminas em nossos intestinos, convertem os alimentos ingeridos em açúcares e po- lissacarídeos úteis e declaram guerra aos micróbios estranhos que descem por nossa garganta. Mundo pequeno bRyson, bill. breve história de quase tudo. tradução: ivo korytowski. são Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 308-309. (Fragmento). Lembre-se de que o importante para promover a generalização do discurso é garantir que a interlocução aconteça sem torná-la particular, ou seja, sem deixar muito marcados o eu e o tu/você presentes no diálogo estabelecido pelo texto. Antes de decidir quais pronomes deverão ser utilizados (e onde eles devem aparecer), sugerimos que você identifique as passagens em que o autor do texto assume um tom muito pessoal. Em seguida, se for o caso, veja qual a melhor ma- neira de reescrever essas passagens de modo a manter as informações essenciais, garantindo que elas não se refiram somente a uma pessoa específica. Re pr od uç ão p ro ib id a. a rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . O objetivo desta atividade é auxiliar os alunos a perceberem a importância do uso dos pronomes na particulariza- ção ou generalização do discurso. Essa é uma habilidade relevante, porque a capacidade de manter um tom mais impessoal e abrangente será necessária na construção de textos expositivos e argumentativos, de modo geral. No momento de avaliar o resultado da tarefa proposta, é essencial verificar se eles foram capazes de eliminar, do texto de Bill Bryson, a maior pessoalidade provocada pelo uso constante do pronome você. No Guia de recursos, há uma adaptação possível do texto para atender ao que foi proposto. É bom lembrar que há outros modos de reescrevê-lo e obter o mesmo efeito. Essa adap- tação, portanto, deve ser encarada como um exemplo e não como a única resposta “correta”. No texto adaptado, os prono- mes estão destacados para que a intervenção realizada possa ser identificada mais facilmente.
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