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Eclesiologia Enéas Tognini Eclesiologia São Paulo / 2010 A doutrina da Igreja Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP-Brasil. Catalogação na fonte T645e Tognini, Enéas Eclesiologia, a doutrina da igreja / Enéas Tognini. _ São Paulo: Arte Editorial, 2010 198 p. : 14x21 cm ISBN 978-85-98172-71-2 1. Organização eclesiástica 2. Administração da Igreja 3. Igrejas I. Título CDD 262 Copyright © 2010 por Arte Editorial. Todos os direitos reservados. Essa obra foi escrita originalmente na língua portuguesa. Coordenação editorial e projeto gráfico: Magno Paganelli Revisão: João Guimarães 3ª Edição: 2010 Esta é uma edição de Rua Parapuã, 574 - Itaberaba 02831-000 - São Paulo - SP editora@arteeditorial.com.br www.arteeditorial.com.br Dedicatória Com estima e muito amor dedico este trabalho, entre muitos, aos gigantes do trabalho Batista no Brasil: Alberto Mazoni Andrade Antônio Neves de Mesquita Achilles Barbosa Ebenezer Gomes Cavalcanti José Rego do Nascimento Silas Botelho William Carey Taylor Enéas Tognini Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Posição Batista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 A Bíblia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 Cristianismo Estruturado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 Igrejas do Senhor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Ministério das Igrejas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 Ordenanças das Igrejas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 Governo das Igrejas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 Disciplina das Igrejas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 Diaconato das Igrejas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 Cisão nas Igrejas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 Pacto das Igrejas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 Estatutos das Igrejas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 Confissões de Fé das Igrejas Batistas. . . . . . . . . . . . . . . 141 A Igreja e o Estado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157 Cartas de Transferência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167 Cooperação Denominacional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173 Regras Parlamentares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179 Notas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189 Bibliografia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195 Sumário Introdução Uma Eclesiologia. E somente uma Eclesiologia. Noventa por cento das doutrinas dos grupos evangélicos são idênticas. Diferem apenas 10%. Destina-se este livro aos batistas nacio- nais, entretanto, pode ser usado, mutatis mutandis, por outros grupos evangélicos, realmente evangélicos. Nos Estados Unidos da América do Norte há nada menos de sessenta grupos batistas, que brigam entre si, nem tanto por questões doutrinárias, mas principalmente por problemas administrativos e missionários. Não desconhecemos o fato que, de uns trinta anos para cá, um grupo de batistas liberais ou modernistas, talvez operando dentro das Convenções e prin- cipalmente nos Seminários Teológicos, passou a negar parte da Bíblia. Seria esse grupo batista? Não é a Bíblia o alicerce, o fundamento da nossa estrutura da fé? E não crendo eles na Bíblia, como podem ser batistas? Esse vírus já começou a en- trar nas veias e nas artérias de alguns batistas brasileiros. E qual será o fim desse grupo? Em contrapartida, há um grupo já estabelecido no Brasil que trouxe da outra América, a do Norte, uma posição de superortodoxia e e esse grupo está convencido de que somente eles creem na Bíblia, são fiéis às palavras do Livro Santo. E se alguém não pactuar com os exageros e falta de amor do grupo, não é ortodoxo. Como vemos, são extremos perigosos. 1 0 E C L E S I O L O G I A No Brasil, temos nada menos de doze grupos batistas. Os mais heterogêneos. Até Batistas do Sétimo Dia temos. E todos são batistas e usam o nome batista. Para mim, o verdadeiro batista, o verdadeiro presbiteriano, o verdadeiro metodista, o verdadeiro congregacional, o verdadeiro pentecostal é o que crê na Bíblia toda, sem sombra de dúvida. Se não crê assim na Bíblia, não é evangélico, não é nada. Eu creio na Bíblia toda. E sempre cri nela de modo absoluto. Podem os “avançados” me chamar de “ingênuo”, “pueril”, mas creio de tal modo na Palavra de Deus que, se a Bíblia dissesse que Jonas engoliu o peixe, eu acreditaria de coração. A Bíblia não pode falhar. O saudoso pastor Dr. Ebenezer Gomes Cavalcanti,1 apreciando o meu livro Geografia da Terra Santa, escreveu: “Tognini já nos havia convencido de seu amor à Bíblia. E agora, depois de um longo silêncio, pelo menos a mim me surpreende com uma obra de fôlego... Tognini enriqueceu a literatura judaica e cristã. E o fez com admirável simplicidade e precisão comprovada”. Por eu ser ultraortodoxo na aceitação da Bíblia, jamais deixarei de amar o meu irmão que discorda de mim em pontinhos secun- dários. Precisamos tomar cuidado para não assumir a posição dos fariseus do tempo do Senhor Jesus, que por causa da letra e de seus acréscimos mataram o Rei da Glória. Afinal de contas, esta “Eclesiologia”, a que grupo batista pertence? É batista e tão-somente batista. O livro é de estrutura e na estrutura todos os batistas são iguais. Em 1965, 52 igrejas batistas foram expulsas da Convenção Batista Brasileira, no Caio Martins, em Niterói. O motivo foi, pelo menos alegaram, que tínhamos práticas “pentecostais”. Note-se que é prática e não doutrina. E em matéria de prática, excederíamos os batistas negros do sul dos Estados Unidos? O grupo de 52 igrejas em 1965 cresceu e hoje vai para 2000 igrejas e 2000 pastores, 1000 congregações e 16 seminários teológicos em 2010. E somos batistas e nunca abjuramos a um til nem um jota do corpo de doutrinas chamadas batistas. Em duas coisas di- I n t r O d u ç ã O 11 ferimos da Convenção Batista Brasileira: Batismo no Espírito Santo como bênção distinta do novo nascimento e dons espiri- tuais de 1Coríntios 12 e 14 como realidades para hoje. Se isso é batista eu não sei, mas que é bíblico é. E quem o pode negar? Conservamos intacto todo o corpo de doutrina que represen- ta a gloriosa tradição batista. Toda a nossa estrutura, nossos fundamentos, nossos princípios norteadores são os mesmos que orientam os demais batistas no mundo inteiro. Este livro se destina a todo o povo evangélico do Brasil e quiçá fora dele; mas foi escrito com o objetivo principal: ho- mogeneizar nossa família batista nacional. Queremos falar a mesma linguagem e dar uma estrutura mais sólida ao nosso povo, já que somos uma denominação jovem: nascemos em 1967. Não nos moveu nenhum propósito de polêmica com a feitura deste modesto trabalho. É possível que haja muita falha na apresentação do assunto. Não queremos ferir a este ou àquele. É um trabalho feito com oração e muito sacrifício. Deus o sabe. Estamos prontos a receber criticas ou apreciações de amados irmãos evangélicos. Orem por este trabalho. Entregamos ao amado povo de Deus no Brasil este despre- tensioso trabalho. Oro para que ele seja uma bênção nas mãos do Todo-poderoso Deus, e possa ajudar milhares e milhares de irmãos que amam a verdade e tudo fazem para glorificar o Senhor Jesus. Conto com suas orações. Enéas Tognini O Nome Batista. Há quem afirme que o nome “batista” não é bíblico. Do mesmo modo, podemos dizer que “católico roma- no”, “católico ortodoxo”, “católico armênio”, “presbiteriano”, “metodista”, “anglicano”, “luterano” também não são bíblicos. “Batista” aparece nas Escrituras adjetivandoJoão, o pode- roso profeta, precursor do Senhor Jesus Cristo. Literalmente significa “batizador”, ou “Aquele que batiza”. Citado nos Evan- gelhos e Atos nada menos de 90 vezes como João; dessas 90 vezes, apenas 11 aparece como “João Batista”. Assim vemos “Batista” aparecer dezenas de vezes no Novo Testamento. Com o Imperador Constantino, o cristianismo começou a entrar no cone de sombra até alcançar a Idade das Trevas. Sabemos que em diversos pontos da Europa2 houve, durante a Idade Média, grupos religiosos que viviam marginalizados, escondidos nas cavernas da terra, que lutavam contra a cor- rupção da Igreja dominante, combatendo-lhes as inovações heréticas e tinham como objetivo principal “batizar” os que apenas tinham sido “aspergidos”. Os de fora do grupo diziam que eles rebatizavam, daí vem o nome desse heroico grupo de servos de Jesus: “Anabatistas”. “Batista” é batizador, “aná” uma preposição grega que significa “outra vez”: batizar outra vez ou rebatizar. Na expressão pura da palavra, eles não eram “anabatistas”, mas somente “batistas”. E o nome “batista” nos fala de lutas, de guerras, de sofri- mento, de sangue e de morte. Foram duramente perseguidos pela Igreja Romana; e quando Lutero desfraldou a bandeira da Reforma, no século 16, comba- A Posição Batista 1 4 E C L E S I O L O G I A teu, não somente os romanistas, mas os anabatistas também. Na Inglaterra, os batistas foram perseguidos pela Igreja Oficial e por grupos de reformados. Com os “Pais Peregrinos”, deixaram a Europa e demandaram às Colônias Inglesas da América do Norte. Desembarcaram do “May Flower” e respira- ram ares puros de liberdade. E por não concordarem com certos princípios dos “reformados”, isolaram-se em Rhode Island, na Virgínia, onde formaram, sob a liderança de Roger Williams, a Primeira Igreja Batista da América do Norte. E desse insignifi- cante princípio (Zc 4:10) abriu-se a fonte da plena liberdade que inspirou as bases mestras da Constituição Norte-americana, da competência da alma humana, do valor supremo do indivíduo, da inviolabilidade da consciência, da igualdade de direitos e da separação da Igreja e Estado. Os princípios básicos que nos distinguem de grupos refor- mados são: 1) Igreja Autônoma: sempre local, razão por que não temos Igreja Batista do Brasil, mas Igreja Batista em tal bairro ou em tal cidade; 2) Batizamos exclusivamente pessoas convertidas; criancinhas antes da idade da razão ficam excluídas do batismo. A ordem rigorosa do Novo Testamento é invariável: primeiro conver- são, e depois o batismo, e nunca o inverso. 3) Nosso batismo é exclusivamente “imersão”. Trata-se, como se vê, de uma redundância, porque “batismo” é “imersão”. E essa forma de batismo tem sido a bandeira que distingue nosso povo ao longo dos séculos.3 4) Liberdade de Consciência. Enquanto nossos filhos estão sob a tutela dos pais, os levamos à nossa igreja, ensina- mos-lhes nossas doutrinas e tudo fazemos para que sejam batistas. Ao se tornarem independentes, porém, seguem o que quiserem. Durante vinte anos trabalhei na direção de dois colégios batistas; ensinávamos a Bíblia aos alunos e nunca impusemos práticas religiosas, que seriam invasões A pOSIçãO bAtIStA 15 indevidas à consciência. E no poder da Palavra muitos alu- nos se converteram. 5) Separação entre Igreja e Estado. Há um campo de César e outro de Deus. Há limites de ação. Cada um tem sua esfera especifica. É certo que em muitos pontos se encontram, se tocam, mas isso não significa campo comum. Os primeiros batistas ingleses que imigraram para as colônias norte-a- mericanas separaram-se de seus irmãos reformados, quase que exclusivamente por causa desse princípio, para nós fundamental. Outros pontos esposados pelos batistas são importantes. No desenvolvimento dos capítulos deste trabalho, vamos ali- nhá-los e tratá-los. Grupos Batistas: Nos Estados Unidos da América do Norte, existem mais de 22 milhões de batistas e mais de sessenta grupos diferentes de batistas. No Brasil, há nada menos de doze grupos diferentes. O essencial de nossas divisões é quase sempre por questões administrativas e muito pouco de ordem doutrinária; se bem que há grupos batistas no infernal “mo- dernismo”, no que tange à inspiração da Bíblia. Divergimos no secundário, somos um no essencial. Existem princípios axiomáticos. Nesses não podemos dizer: “creio” e “não creio” e ponto final; “aceito” e “não aceito” e isso me define. Os pontos fundamentais são: 1) A existência de Deus 2) A inspiração total da Bíblia 3) Jesus Cristo é Deus 4) O Espírito Santo é Deus 5) Salvação pela graça mediante a fé 6) Céu é eterno 7) Eternidade do inferno Nestes, não podemos dizer “Creio” e “não creio”, mas, ou “creio” ou “não creio”. Em pontos secundários, porém, podemos 1 6 E C L E S I O L O G I A divergir e, nesses pontos, batistas não têm uniformidade. Daí a solidez da nossa união: homogeneidade na heterogeneidade. batistas, por exemplo, não têm uniformidade: 1) no batismo no Espírito Santo como bênção distinta do novo nascimento; 2) Dons espirituais (1Co 12 e 14) como realidade para hoje; 3) Ceia livre ou restrita ou ultra-restrita; 4) Tudo o que diz respeito a usos e costumes; 5) Liberdade para pertencer a organizações secretas; 6) Quanto à salvação, ser arminiano ou calvinista. Um grupo batista pode crer e praticar os pontos supracitados de um modo e outro de outro, ambos são batistas. Batistas não têm fogueira inquisitorial (pelo menos não de- veriam ter) para queimar os que creem em batismo no Espírito Santo, como bênção distinta do novo nascimento, nem praticar dons espirituais como se acham no Novo Testamento. O espírito de liberdade batista pode ser visto na igreja local, bem como nas convenções de âmbito nacional, e principalmente na Aliança Batista Mundial, que agrega no seu seio grupos batistas heterogêneos nos pontos secundários. E todos são batistas.4 Nos últimos tempos, principalmente no Brasil, alguns gru- pos batistas, em pontos secundários, formaram uma “parede doutrinária” e pontificam: se crê nisso, é batista, se não crê, não é batista. Já se vê que isso nunca foi batista, ao contrário, fere fron- talmente o mais fundamental princípio que é o livre exame da Bíblia. O Dr. E.Y. Mullins5 assim se expressa sobre o objetivo de seu livro, que bem serve para elucidar a finalidade deste capítulo: “O fim que tive em vista foi construtivo e pacífico no sentido mais elevado. Não há dúvidas que, ao expor os meus pontos de vista, tive de discutir francamente com os de outros credos, quando isso era necessário, e tirar as minhas conclusões. A pOSIçãO bAtIStA 17 Mas o fim principal foi sempre expor o cristianismo do Novo Testamento, em alguns dos seus aspectos mais importantes e fundamentais”. Exposto nosso objetivo para este livro, discutiremos em primeiro lugar a: ATITUDE BATISTA O citado Dr. Edgar Young Mullins, escreveu “Axiomas da Religião” para definir a atitude dos batistas diante dos outros credos religiosos. Dr. W.C. Taylor publicou “Manual das Igrejas”, com o mesmo objetivo. Há em inglês inúmeros livros e tratados sobre o assunto. O povo chamado “batista”, há séculos vem emprestando sua cooperação para a extensão do Reino de Deus na terra. Este povo trabalhador, consagrado e preparado, nem sempre tem recebido mérito que corresponda à sua dedicação e esforço. O povo batista tem sido uma grande força no mundo. Resis- tiu incólume a todos os embates a que a astúcia e intolerância do inimigo o submeteu. Tem uma consciência profunda de suas convicções doutrinárias em toda a Palavra de Deus; consciên- cia essa cristalizada ao longo dos séculos, por meio de lutas, sofrimento, degredos e sangue. Todos sabem da nossa atitude, da nossa posição, que numa síntese diríamos: “Fidelidade ao Senhor Jesus e à suaPalavra: letra e espírito”. Nem todos, entretanto, reconhecem nem res- peitam a nossa consciência e nossa atitude. A História nos faz justiça. Os batistas são conhecidos e reconhecidos na História como os lídimos propugnadores da liberdade de consciência. Nenhum outro credo pode se apre- sentar da mesma maneira como se apresentam os batistas nesse setor. Separação entre Igreja e Estado, por exemplo, é princípio multissecularmente defendido pelos batistas. São os batistas paladinos de todos os surtos de liberdade verdadeira que houve e há no mundo. Sem orgulho e sem qualquer favor, os batistas são os únicos que aceitam a Palavra de Deus na sua totalidade. 1 8 E C L E S I O L O G I A Os católicos romanos pregam: A Igreja está acima da Bíblia. A autoridade está com a Igreja e não com o Novo Testamento. O Novo Testamento foi produzido pela Igreja, de onde se conclui que a Igreja é maior do que ele. Assim sendo, a Igreja pode alterar o seu credo, o seu culto e suas doutrinas, à vontade. Reconhecem que o batismo nos dias apostólicos era imersão, mas a autoridade da Igreja o alterou para aspersão; reconhecem outras doutrinas como se apresentam no Novo Testamento, mas a Igreja modificou-as. O sofisma da tese é evidente. O Novo Testamento não foi escrito pela Igreja e sim, conforme 2Pedro 1.21 por “homens que falavam da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo”. A Palavra de Deus é a Palavra e não fantoche de concílios e eclesiasticismos humanos. Jesus nos admoesta em Mateus 5.18-19 e Apocalipse 22.18-20 a não alterarmos a sua Palavra, sob pena de maldição. Os evangélicos aceitam, na verdade, toda a letra das Escri- turas, mas não o espírito de todos os textos. Tudo no mundo está sujeito à alteração, argumentam alguns – logo, alguma coisa no Novo Testamento também deve ser mudada. E nessa hipótese constroem seu corpo doutrinário, como Igreja, Batis- mo, Ceia, Governo de Igreja, Ministério, Disciplina etc. O Dr. Taylor cita em seu “Manual das Igrejas”, uma lista de textos do Novo Testamento onde se exige fidelidade absoluta à Palavra inspirada: letra ou forma de espírito ou significação: Mateus 7.24; 24,35; 28.20; Marcos 8.38. Lucas 6.47. João 8.31,51. 12.48. 14.23-24. 15.3,14. 17.17 e Apocalipse 1.3. Os outros credos como os mórmons, os testemunhas de Jeová, espiritismo etc., aceitam das Escrituras só o que lhes convém. A coerência, porém, ensina-nos que devemos aceitar tudo ou nada. Cristo disse (Jo 15.14): “Vós sois meus amigos se fizerdes o que vos mando”. Fazer a vontade de Cristo deve ser nosso supremo ideal. Ora, a vontade de Cristo está expressa no Novo Testamento, portanto, obedecer à Palavra de Cristo é obedecer ao próprio Cristo. Obedecendo-o (não fazendo apenas A pOSIçãO bAtIStA 19 isto ou aquilo) estamos estreitando os laços de amizade entre nós e Cristo. O Espirito Batista é bem diferente. Procuramos fazer tudo quanto Jesus nos manda, com sinceridade e inteireza de cora- ção. Ouvi de um grande pastor batista, que foi padre, que após sua conversão, não se uniu a nenhuma seita evangélica. Muitos o procuraram. Passou seis meses estudando as denominações e por fim decidiu-se pelos batistas. Os outros lhe perguntaram por que se decidiu pelos batistas, e sua resposta pronta foi: “Porque desejo abrir a Bíblia e pregar sobre qualquer texto dela”. Nós os batistas, não tememos nenhum texto bíblico e damos a cada um deles interpretação natural, espontânea. Procuramos, através das Sagradas Escrituras, descobrir a mente de Cristo, e não acomodações às nossas preconcebidas ideias. Para nós batistas, evangelizar (Mt 28.19) é pregar o Evan- gelho de Cristo; arrependimento é mudança completa na vida do indivíduo operada diretamente pelo Espírito Santo; Fé é crença no sacrifício meritório de Cristo; Dízimo é a décima parte de tudo quanto ganhamos que pertence a Deus; Igrejas são assembleias (locais) dos regenerados, remidos do Senhor, para promover os fins do Reino. Aceitamos todas as doutrinas e princípios exatamente como eles se apresentam no Livro de Deus. Aceitamos também o batismo, conforme sua origem grega – imersão e só para os crentes em Jesus. Aceitamos a Ceia do Senhor, não como sacramento, mas como ordenança, memorial, na sua simplicidade neotestamentária. Aceitamos o governo das igrejas, e não igreja, tudo conforme nos ensina o Novo Testamento. Sou batista há muitos anos, estudo regularmente a Bíblia e nunca encontrei um texto ou doutrina cuja interpretação me causasse embaraço por ser batista. Terminando, afirmo que o princípio que distingue os batis- tas ao longo dos séculos é: fidelidade absoluta a Jesus e à Sua Palavra: Letra, Forma, Espírito, tudo. 2 0 E C L E S I O L O G I A ECLESIOLOGIA6 Definição I. Etimológica: do grego: Ekklesía lógos, ou seja “Um tratado sobre a Igreja”. II. Definição Extensiva – É um estudo da Bíblia voltado para a igreja, nos seus problemas e deveres, cuja finalidade precípua é levar as igrejas a um ajustamento perfeito aos postulados da Palavra de Deus, proporcionando o crescimento dos reba- nhos do Senhor. O “Manual” das Igrejas é a Bíblia toda sem reservas. Dentro da Palavra de Deus destacamos dois livros – 1 e 2Corintios – que de modo particular tratam diretamente da eclesiologia. A esses acrescentamos Atos dos Apóstolos, Efésios, 1Timóteo e Tito. 1) O que é a) Bassepharin (Dn 9:2): isto no hebraico, é a língua em que foi escrito o Antigo Testamento. b) No grego, temos Biblion, singular; Bíblia, plural. c) Escrituras Sagradas = Hai graphai ta grammata. Os seguintes textos provam a verdade. Devem ser examinados: Hebreus 4.12 Mateus 21.42, Lucas 24.44. 2Timóteo 3.15, Marcos. 12.10 2Pedro 3.16, 1Pedro 1.25 2) Autoridade Final Nada além da palavra de Deus. Ela e nada mais: Gálatas 1.9 João 1.1 Única regra de fé e prática para o redimido fiel do Senhor. 3) Outras posições a) Modernista: Declaram: a Bíblia contém a Palavra de Deus b) Espírita: O papel aceita tudo. c) Romanista: A Igreja acima da Bíblia. A autoridade está com a Igreja. O Novo Testamento foi produzido pela Igreja. Tudo engano, já se vê. 4) Nada além da Palavra de Deus. Examinemos os seguintes textos: Mateus 7.24 João 8.31,51 Mateus 24.35 João 12.48 Mateus 20:20 João 4.3 Marcos 8.38 João 17.17 Lucas 6.47 Apocalipse 1.3 A BÍBLIA É A PALAVRA DE DEUS I – UMA DIFERENÇA A Bíblia 2 2 E C L E S I O L O G I A Uma corrente de interpretação, que já vem de alguns séculos, nega a inspiração divina da Bíblia. 1. Alguns dizem que a Bíblia contém apenas a Palavra de Deus, mas não é e nunca foi a Palavra de Deus. 2. Outra corrente nega o sobrenatural na Bíblia, circunscre- vendo todos os milagres relatados nela aos limites da razão humana. 3. Outra, entretanto, aceita a Bíblia como Palavra de Deus em parte. Então, seus defensores dizem ao povo o que na Bíblia é inspirado e o que não é. 4. Outros põem em dúvida autores da Bíblia, cronologia e autenticidade de uma boa parte dos 66 livros da Bíblia. Ora, vivendo os tempos difíceis e de trevas como os que nós vivemos, mais do que nunca devemos aceitar a Bíblia, não como contendo a Palavra de Deus, mas como a Palavra de Deus. Nos Estados Unidos, no século passado, certo pastor acei- tava e pregava do seu púlpito que apenas algumas partes da Bíblia eram inspiradas. Todo domingo, ao ler a Bíblia para pregar, dizia: “Esta escritura não é inspirada”. Uma ovelha sua que ouvia a mensagem, chegava em casa e cortava aquela parte “espúria”. E isso fez por alguns anos. Um dia, o pastor foi chamado a casa dessa sua ovelha. Estava ela perto da morte. Como o pastor não tivesse levado sua Bíblia, pediu a da referida irmã. Ao tomá-la na mão, deu com a mutilação do Livro Santo. “Que é isto, irmã? Por que cortou sua Bíblia assim?” “Toda vez que o senhor declarava uma parte “falsa”na Bíblia, ao chegar em casa, eu passava a tesoura nessa passagem. Minha Bíblia está assim por orientação do senhor.” II – O CONFLITO Nasceu no Éden. Os protagonistas foram o Senhor Deus, Adão e Eva e o demônio. Deus afirmou ao homem a respeito da árvore do conhecimento do bem e do mal: “Não comerás o seu fruto e nem nele tocarás”. Deus deu ordem ao homem, que A b í b L I A 2 3 foi clara, direta e boa. Mas veio o tentador e negou o que Deus afirmara, pôs tudo em dúvida. O que o diabo negou e levou o homem a negá-lo também foi a Palavra de Deus, usando às vezes pessoas importantes dentro dos arraiais evangélicos. Não importa, seja quem for, negou a Bíblia, não está na linha de Deus. “Há uma diferença entre a Bíblia e todos os outros livros. Os escritores em geral podem orar a Deus que os ajude, e dirija, e Deus realmente os ajuda e dirige. Há no mundo muitos livros bons, e cujos autores, sem dúvida, Deus ajudou a escrever. Mas ainda assim, os autores mais piedosos dificilmente teriam a presunção de alegar que Deus escreveu seus livros. Pois essa autoria divina é atribuída à Bíblia. Deus mesmo supervisionou, dirigiu e ditou a escrita de seus livros, tendo sob completo controle os autores humanos, e de tal modo que a redação é de Deus. “A Bíblia é a Palavra de Deus num sentido em que nenhum outro livro no mundo pode ser.”7 III – É OU NÃO É A PALAVRA DE DEUS? A Bíblia é a Palavra de Deus. Ela é santa, pura e perfeita. “Ela é fogo que consome” – Jeremias 23.29; “É martelo que esmiuça a penha” – Jeremias 23:29; “É a espada do Espírito” Efésios 6.17; “Ela é espada bigúmea – Hebreu 4.12. 1. Foi dada por inspiração de Deus Êxodo 24.4 e 34.27 Atos 3.21 1Corintios 14.37 2Timóteo 3.16 Apocalipse 1.1 2. Foi dada por inspiração do Espírito Santo 2Samuel 23.2 Atos 1.16 1Corintios 2.13 2 4 E C L E S I O L O G I A 1Pedro 1.11 2Pedro 1.21 3. Comunicada a Moisés Êxodo 24.12 Deuteronômio 5.22; 9.10 Atos 7.38 4. Comunicada aos Profetas Deuteronômio 18.18 1Samuel 3.21 1Reis 23.14 Isaías 51.16 Jeremias 1.9 Zacarias 1.6 2Pedro 1.19-20 5. Confiada aos Judeus Deuteronômio 4.8, 14 Romanos 3.2 6. Confiada aos Apóstolos Atos 20.24 Romanos 1.1, 2 Apocalipse 1.9 1João 1.1-3 7. Revela as Leis e Estatutos de Deus Êxodo 24.3 Neemias 9.14 8. É o Livro das Profecias Lucas 24.27 Romanos 16.26 1Pedro 1.19-21 e 3.2 9. É o Livro das Promessas Messiânicas Lucas 1.70-75 Colossenses 1.5 A b í b L I A 2 5 10. Dá Testemunho de Cristo Lucas 18.69,70 João 1.45 1Corintios 15.3 A BÍBLIA PROVA QUE A BÍBLIA É A PALAVRA DE DEUS 1. Em João 10.35, o Senhor Jesus afirmou que a “Escritura não pode falhar”. 2. Em Mateus 5.18, o Mestre diz que o céu e terra passarão, mas suas palavras jamais. 3. “...mediante a Palavra de Deus, a qual vive e é permanente. Pois toda carne é como a erva, e toda a sua glória como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a flor; a Palavra do Senhor, porém, permanece eternamente” – 1Pedro 1.23-24 (desta- ques do autor). 4. O próprio Jesus é chamado de a Palavra, isto é, o lógos – João 1.1,14; 1João 5.7 e Apocalipse 19.13: a) chamada a Palavra de vida 1João 1.1,2 b) Jesus apoiou-se na Palavra Mateus 4.4, 7, 10; 8.11; 1.5; João 6.45 c) Jesus ensinou segundo a Palavra Mateus 19.18, 19; Marcos 10.19; Lucas 10.26-28 d) Jesus explicou a Palavra Mateus 5.21-48; 12.3-7; Marcos 2.25, 26; 7.6-13; Lucas 22.37; 24.25-27, 45; João 13.18, 21 e) Jesus veio para cumprir a Palavra Mateus 3.15; 5.17; 26.56 Lucas 4.21; Romanos 10.4 2 6 E C L E S I O L O G I A 5. Como Palavra de Deus, a Bíblia: a) revela salvação a todos os homens Romanos 16.26; Efésios 1.13; 2Timóteo 1.9-10; Tito 1.1,3; Atos 13.26 b) é completa e suficiente para a salvação Lucas 16.29, 31; Tiago 1.21; c) é guia infalível Provérbios 6.23; 2Pedro 1.19 d) é útil para ensinar, corrigir... 2Timóteo 3.16,17 e) foi escrita para nosso proveito Romanos 15.4; 1Coríntios 10.11 f) é a verdade Salmo 119.160; Daniel 10.21; João 17.17; 2Coríntios 6.7 g) é a Vida Deuteronômio 32.47; João 6.68 h) é espírito e vida João 6.63 i) é pura Salmo 12.6; 18.30; 33.4; 119.140 j) é verdadeira Salmo 119.160; Apocalipse. 21.5; 22.6 k) é fiel e certa Salmo 19.7; 119.138; 1Timóteo 1.15 1) é viva e eficaz Hebreus 4.12 m) é luz – 1Pedro 18.19 n) é chuva e orvalho – Deuteronômio 32.2 – Isaías 55.10,11 o) é fogo e martelo – Jeremias 23.29 p) é espada – Efésios 6.17 A b í b L I A 2 7 q) é espada bigúmea – Hebreus 4.12 r) não pode falhar – João 10.35; Romanos 9.6 s) permanece para sempre – Salmo 119.89, 152; Isaías 40.8; 1Pedro 1.25 t) regenera – Efésios 5.26; Tiago 1.18; 1Pedro 1.23 u) produz bons frutos – Mateus 13.23 v) restaura a alma – Salmo 19.7 x) edifica – Hebreus 13.15 y) dá certeza de vida eterna – João 5.39 z) salva a alma – 1Coríntios 15. 1; Efésios 1.13 6. Essas são algumas das provas tiradas da própria Palavra de Deus. Se fôssemos, porém, citar tudo o que a Bíblia declara de sua própria natureza divina, teríamos, por certo, de co- piar a Bíblia toda. FORA DA BÍBLIA Conta-se a história de um velho cacique numa das ilhas do arquipélago de Fiji, e um conde inglês muito incrédulo, que visitava aquelas ilhas. Num encontro que o inglês teve com o chefe da tribo, disse a este: “Admiro-me em ver como o senhor, sendo o chefe da tribo, seja tão tolo a ponto de ouvir a esses missionários que aqui somente vêm para explorar. Hoje em dia ninguém quer mais acreditar nesse livro velho chamado a Bíblia, nem ouvir mais histórias desse Jesus Cristo. O povo hoje já tem mais juízo, e eu sinto muito que o senhor ainda seja tão tolo”. Apenas o conde assim falou, os olhos do chefe cintilaram e respondeu: “Tu estás vendo aquela pedra grande, acolá? Em cima dela quebrávamos as cabeças de nossas vítimas, ainda vivas. Tu vês também aquele forno? Nele assávamos os corpos humanos para nossos grandes banquetes. E tu! tu! – se não tivessem chegado aqueles missionários tão bons, entregando-nos aquele 2 8 E C L E S I O L O G I A velho livro e nos ensinando o grande amor de Jesus Cristo que nos transformou de selvagens para filhos de Deus, tu! tu nunca sairias deste mesmo lugar. Deves dar graças a Deus pelo Evan- gelho sem o qual terias sido morto, e assado naquele forno, para nos regalarmos em tua carne, nada mais, nada menos! “O Evangelho de Jesus Cristo transforma até um canibal em um homem pacífico e inofensivo; porém, sem o evangelho, os civilizados podem tornar-se tão ferozes e brutos como os piores canibais. Lembrai-vos dos ímpios franceses que há dois séculos passados, vestiam-se de peles humanas do seu costume em Meudon, e usavam cabelo suposto das vítimas que degolavam! . Lembrai-vos dos anarquistas, niilistas, e dinamitadores de hoje! Lembrai-vos em que se transformaria o mundo se a Bíblia fosse banida dele!” –Hastings – Escritor. 1) Deus é harmonia. A estrutura do cristianismo: a) Deus Pai – Gálatas 1.4; Efésios 6.24 b) Deus Filho – Mateus 14.33; 16.16 c) Deus Espírito Santo – João 14.17 e 2Coríntios 13.13 2) A Obra de Deus é organizada a) a criação geral – Gênesis 1. l b) a ordenação do caos – Gênesis 1.2-31 c) a sustentação de tudo – Hebreus 1.3 d) a harmonia e perfeição do universo – Salmo 19.1-6 3) A Bíblia é organizada a) um versículo concorda com toda a Bíblia e toda a Bíblia concorda com um versículo 4) O trabalho de Jesus organizado a) Mateus 4.23 b) Mateus 9.35 c) Mateus 28.20 5) Organizado o trabalho dos Apóstolos a) a escolha de Matias – Atos 1 b) a escolha de diáconos – Atos 6 c) abertura de trabalhos 1. em Samaria – Atos 8 2. em Antioquia da Síria – Atos 11 3. o concílio em Jerusalém 1) Atos 15.4. igreja, os apóstolos, os presbíteros 2) reuniões de apóstolos e presbíteros – 15.6 3) toda a igreja – 15.12 4) apóstolos, presbíterose toda a igreja – 15.22. 6) Organizado o trabalho de Paulo a) estabelecendo trabalhos em grandes centros 1) Antioquia da Síria – Atos 11.19-30 2) Corinto – Atos 18 3) Éfeso – Atos 19 4) Roma – Atos 28 C r i s t i a n i s m o 3 0 E C L E S I O L O G I A 7) Jesus deixou um trabalho organizado a) deixou igrejas – Apocalipse 2.1 – 3.22 b) deixou ministros das igrejas – Efésios 2.11 c) deixou ordenanças – Mateus 28.19-20 e Lucas 22.19-20 d) deixou mandamentos no Novo Testamento.8 e) deixou governo para as igrejas – Atos 1.15, 23-26. 6.2; 15.22-28 f) deixou disciplina para as igrejas – Mateus 18.15-20 g) deixou métodos de cooperação – 1Coríntios 16.1-4 Cristo é o Legislador – Apocalipse 2.1-7 a Igreja é o Executivo – Apocalipse 2.11 O corpo humano é constituído de esqueleto e músculo; tam- bém o cristianismo tem o seu esqueleto, isto é, a sua estrutura. Cada igreja do Senhor é organizada: tem o seu rol de membros, sua escrita, tanto do histórico, como das finanças, tem seus estatutos devidamente registrados, seu C.G.C., a igreja tem o seu nome que a identifica. Enfim, tem o seu esqueleto, sem o qual ela não se sustenta. 1) Deus é harmonia Mateus 18.18 Apocalipse 2.7, 11, 17, 29, 3.6, 13, 22 I. Definição: 1) Etimológica: Ekklesía. F.A.J. Hort diz: “Não há fundamento para a noção largamente espalhada de que Ekklesía signi- fica um povo ou número de indivíduos chamados fora do mundo, ou da humanidade em geral. A chamada para fora era apenas a convocação dos cidadãos de uma cidade grega fora de suas casas pela trombeta do arauto para reuni-los em assembleia. Números 10 mostra que a convocação da assembleia judia (Qahal) era feita da mesma maneira”. Da CrIStIAnISmO EStruturAdO 31 mesma opinião é o erudito Thayer sobre o significado da palavra Ekklesía no seu uso corrente entre os gregos e como foi incorporada ao Novo Testamento. E Ekklesía para nós, hoje, vem a ser:9 i) “uma assembleia do povo convocada no lugar público do conselho para fins deliberativos”. ii) “uma assembleia de cristãos reunidos para culto”. iii) “uma companhia de cristãos”. iv) “reunião daqueles que, tendo em Jesus Cristo sua espe- rança de salvação eterna, observam seus próprios ritos religiosos, realizam suas próprias reuniões religiosas, e dirigem seus próprios afazeres com o regulamento pres- crito pelo corpo, cuja finalidade é a boa ordem. v) “A totalidade dos cristãos espalhados pelo mundo; de modo abrangente, todos quantos adoram a Deus e a seu Filho Jesus Cristo”. vi)”O nome ekklesía é transferido para a assembleia dos cristãos fiéis que já morreram e foram recebidos no céu” (1Ts 4.14-16). 2) Extensiva = A igreja (local) é a reunião de pessoas, homens e mulheres dentre povos, línguas e nações, nascidas de novo, regeneradas pelo Espírito do Senhor, batizadas em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, que se reúnem em determinados lugares para adorar o Deus vivo, e promover os fins do Reino de Deus na terra. II. Igreja e Sinagoga 1) Sinagoga = vem de Synagô, que quer dizer “juntar”. 2) Na versão Septuaginta, ekklesía ocorre 100 vezes, das quais 22 nos apócrifos. Representa o equivalente hebraico qahal. Em Gênesis, Levíticos e Números, Qahal é traduzida 21 vezes por Sinagogê. 3) Sinagogê é óxlos (multidão) ou pléthos (multidão) ocorrem Igrejas do Senhor 3 4 E C L E S I O L O G I A com mais frequência na Versão dos Setenta. 4) Além de qahal, o hebraico tem a palavra édâh. Esta é empre- gada para a comunidade da “aliança”, na sua totalidade, e aquele é a expressão cerimonial para a assembleia que resulta da “aliança”, para a comunidade do Sinai. 5) A Sinagoga no Antigo Testamento é uma instituição es- piritual e não apenas uma comunidade histórica. Nasceu no exílio babilônico, nos séculos 6 e 5 a.C; serviu para os judeus cativos, de Santuário (Ez 11.16). No mesmo livro de Ezequiel (8:1, 14.1 e 20.1) temos a gênese da sinagoga que aparece desenvolvida no Novo Testamento. Os anciãos dos judeus recorriam a Ezequiel que lhes transmitia a Palavra do Senhor. 6) O Novo Testamento apresenta a sinagoga de Nazaré e de Cafarnaum. Deveriam ser casas de alvenaria, como nossos templos modernos. As sinagogas tinham um tríplice propó- sito: adoração, educação e governo civil. 7) A Igreja do Novo Testamento nada tem a ver com a sinagoga judia. Nem ficou em lugar daquela. Jesus fundou a Igreja, como lemos em Mateus 16.18. Jesus fez tudo novo. Não pôs remendo novo em vestes velhas. III. Igreja e Reino de Deus 1) O estudo sobre o Reino de Deus comporta uma gama com- pleta de tópicos distribuídos entre o Reino no passado, no presente e no futuro. 2) “Reino de Deus vem a ser o governo soberano que Deus exerce no universo. Começou com o ministério real de Cristo na terra e será consumado nas bem-aventuranças do mundo eterno (Mt 25.31-46). O Reino dos Céus vem a ser mais ou menos a igreja invisível. É a república dos filhos de Deus, a verdadeira companhia de todo o povo fiel, representada pela igreja visível mas que é maior que ela em todas as idades do mundo.”10 IGrEjAS dO SEnhOr 35 3) A diferença entre Reino de Deus e igreja é muito significativa. a) o Reino é a totalidade da atividade remidora de Deus, em Cristo, neste mundo; a igreja é a assembleia daqueles que pertencem a Jesus Cristo; portanto, do Reino. b) Se traçarmos um círculo grande seria o Reino de Deus (o todo); dentro desse círculo, colocaríamos uma multipli- cidade de pontos, que viriam a ser as igrejas. Cristo é o centro de tudo. c) “A igreja é a assembleia daqueles que aceitam o evangelho do reino mediante a fé, que participam da salvação do reino, salvação essa que inclui o perdão de pecados, a adoção por parte de Deus, a presença do Espírito Santo no íntimo, a posse da vida eterna. São também aqueles em cuja vida o reino toma forma visível, e são vistos como a luz do mundo, o sal da terra; aqueles que tomaram sobre si mesmos o jugo do reino, os quais vivem conforme os mandamentos do seu Rei, e dele aprendem (Mt 11.28-30). A igreja, como expressão do reino, é exortada a confessar a Jesus como Cristo, e cabe-lhe a tarefa missionária da pregação do evangelho ao mundo. E é igualmente a co- munidade daqueles que aguardam a vinda do reino em glória. A igreja recebe a sua constituição do reino por todos os lados ela é limitada e orientada pela revelação do reino de Deus. Por conseguinte, o reino não se confi- na dentro de fronteiras de igreja. A soberania de Cristo é suprema acima de tudo. Onde tal soberania prevalece e é reconhecida, não somente o indivíduo humano é libertado, mas o padrão inteiro da vida é alterado; a mal- dição demoníaca desaparece e o temor de poderes hostis é desarraigado. Opera, não apenas externamente, como uma semente de mostarda, mas também internamente, como fermento. Prossegue abrindo caminho no mundo por meio do seu poder remidor.”11 4) O reino é o todo, as igrejas agências desse reino. 5) O reino é o poder, a influência de Deus na vida de seus 3 6 E C L E S I O L O G I A súditos, agrupados nas igrejas. 6) O reino é invisível, as igrejas visíveis. 7) O reino não é deste mundo – João 18.36. IV. O Novo Testamento apresenta a igreja como: 1) Corpo de Cristo: Rm 12.5; 1Coríntios 12.13; 2Coríntios 12.27; Efésios 1.23; 4.4; 12; 5.30; Colossenses 1.18, 24 2) Povo de Deus – Tito 2.14; 1Pedro 2.9, 10 3) Rebanho de Cristo – Lucas 12.32; João 10.16; Atos 20.28, 29; 1Pedro 5.2, 3. 4) Santuário de Deus – 1Coríntios 3.16, 17; 6.19, 2Coríntios 6.16; Efésios 2.21. 5) Coluna e baluarte da Verdade – 1Timóteo 3.15. 6) Candeeiro – Apocalipse 1.13,20. 7) Lavoura de Deus – 1Coríntios 3.9. 8) Edifício de Deus – 1Coríntios 3.9. 9) Família de Deus – Gálatas 6.10; Efésios 2.19 e 3.15. 10) Israel de Deus – Gálatas 6.16. 11) Nação Santa –1Pedro 2.9. 12) Sacerdócio Real – 1Pedro 2.9. 13) Noiva de Cristo – Apocalipse 21.9 e 22.17. 14) Agência do Reino de Deus – Atos 29.25 e 28.31. 15) Multiforme Sabedoria de Deus – Efésios 3.10. 16) Escola de Jesus – 1Coríntios 4.17 e Atos 20.20. V. Quando surgiu a Igreja? Quanto a Deus, a igreja existe desde a eternidade (Jo 17.5); no tempo, entretanto, nasceu: 1) com o Senhor Jesus: Mateus 16.18, 18.15-20. 2) como instituição operante, com os 120 discípulos de Jesus no Pentecostes, Atos 1 e 2. O Espírito Santo que desceu no IGrEjAS dO SEnhOr 37 Pentecostes já encontrou a igreja organizada. Batizou com poder a igreja que já existia. Desse dia em diante, a igreja está completa: a) constituída de pessoas regeneradas. b) batizadas em águas, em nome da Trindade. c) organizada nos padrões do Senhor Jesus. d) unida pelos laços da obediência e amor. e) batizada no Espírito Santo, portanto revestida de poder. f) pregando somente a palavra da verdade. g) ganhando almas para Jesus – Atos 2.41. h) testificando de Jesus – Atos 2.14-36; 4.19-20. i) fiéis à doutrina dos apóstolos – Atos 2.42. j) com dons espirituais – Atos 2.413. 1) operando milagres – Atos 3.1-10. m) igreja de oração – Atos 4.23-31. n) igreja disciplinada – Atos 5.1-11. o) igreja perseguida e sofredora – Atos 6, 7. p) igreja dispersa e pregando a Cristo – Atos 8.4. VI. Quem Fundou a Igreja? Todos estamos de acordo que foi o Senhor Jesus. A diver- gência começa quando perguntamos: sobre quem Jesus fundou a Igreja. 1) A Igreja Romana, baseada numa exegese infundada de Ma- teus 16.18, afirma: Sobre Pedro, que é a Pedra. 2) A Bíblia, entretanto, afirma que Jesus é a pedra – Mateus 21.42; Efésios 2.20; 1Pedro 2.4-8. O próprio Pedro afirma (1Pe 2.4, NTLH): “Venha ao Senhor, a Pedra Viva que foi rejeitada pelos homens como inútil, mas escolhida de Deus como de muito valor”. Jesus jamais edificaria sua igreja em 3 8 E C L E S I O L O G I A homem, falho e mortal; a igreja foi edificada, como Pedro afirmou, sobre o Senhor Jesus que vive e reina para sempre. VII. Variedade de Igrejas Pelo menos em três aspectos aparece Igreja no Novo Testa- mento: 1) UNIVERSAL – Esta acepção aparece em Efésios 3.10,21; 5.23,24,27,29,32; Colossenses 1.18, 24; 1Timóteo 3;5,15. Nessas escrituras, Igreja, que sempre aparece no singular, é mais ou menos equivalente a Reino de Deus. “A igreja universal, mística, composta de todos os crentes em todos os tempos e de todos os lugares, os quais aceitaram Cristo como cabeça. Essa igreja é considerada como organismo espiritual que tem Cristo por centro; e a união mística da igreja com Cristo se dá através do seu Espírito, e não devido a alguma organização. Portanto, transcende a denomina- ções evangélicas, que defendem, determinadas crenças ou governos eclesiásticos”. R. N. Champlin.12 Os textos acima indicados designam “igreja universal” nas seguintes formas: IGREJA DE DEUS – 1Coríntios 1.2,10.32 IGREJA DE CRISTO – Romanos. 16.16 e 1Tessalonicenses 1.1 2) LOCAL: No tempo de Jesus, o mundo era bilíngue. Os após- tolos, além do aramaico, falavam o grego. Os judeus tinham a sua assembleia, portanto Ekklesía. Os ajuntamentos dos judeus eram, geralmente, festivos e de caráter religioso. Nele podiam falar e podiam ouvir, portanto, sua natureza era essencialmente local. Um velho pensador cristão disse: “A igreja não é uma assembleia, mas pode se reunir em as- sembleia”. Mateus 18.15-20 descreve uma igreja local. Um indivíduo surpreende seu irmão em falta, repreende-o, leva testemunhas, finalmente informa à igreja. Trata-se, portan- to, de um organismo local e nunca nacional ou mundial. A natureza congregacional da igreja é demonstrada: IGrEjAS dO SEnhOr 39 a) pelo emprego plural do vocábulo igreja Atos 16.5; Romanos 16.4, 16; 1Coríntios 7.17; 11.16? 14.33; 16.1, 19; 2Coríntios 8.1,19, 23, 24; 11.8, 28; 12.13; Gálatas 1.2. 22; 2Tessalonicenses 1.4; b) pelo emprego localista do termo igreja Atos 5.11;8.1, 3;9.31; 11.22. 26; 12.1, 5; 5; 13.1; 14.23, 27; 15.3, 4, 22.41; 16.6; 18.22; 20.17, 28; Romanos 16.1, 5, 23;1Coríntios 1.2;4.-17; 11.28; 14.4, 5, 12, 19, 23, 28; 16.19; 2Coríntios 1.1; Colossenses 4.15; 1Tessalonicenses 1.1; 1Timó- teo 5.16; Filemom 2; Tiago 5.14; 3João 6, 9. 10; Apocalipse 1.4, 11, 20; 2.1. 7, 8, 11, 12, 17, 18, 23, 29; 3.1, 6, 7, 13, 14, 22; 22.16. De todas essas escrituras, concluímos que é impossível haver uma igreja nacional ou mundial, como algumas deno- minações evangélicas pretendem. Por essa razão, os batistas nacionais têm a sua convenção constituída, nas suas assem- bleias, não de igrejas, mas de mensageiros das igrejas. Porque Igreja ou é universal ou local: universal é equivalente a Reino de Deus, por isso não pode ser pregado o termo por qualquer conjunto de igrejas aqui na terra; e, portanto, tem que ser local e somente local. O que passar disso, foge da letra e do espírito do Novo Testamento. 3) dos PRIMOGÊNITOS: mencionada uma só vez em todo o Novo Testamento. Está em Hebreus 12.23. Vale a pena transcre- vermos aqui o NTLH: V. 22: “Ao contrário, vocês vieram ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial com seus milhares de anjos”. Versículo 23 “Vocês vieram à reunião alegre dos filhos mais velhos de Deus – aqueles que têm seus nomes escritos no céu. Vocês vieram a Deus, que é o juiz de todos os homens, e aos espíritos dos homens justos e que se tornaram perfeitos”. a) O autor descreve uma reunião festiva no céu, contrastando com o episódio do Sinai nos dias de Moisés. b) Esta reunião é descrita como dos primogênitos, isto lem- bra no Antigo Testamento os privilégios que o primeiro 4 0 E C L E S I O L O G I A filho desfrutava em bens e autoridade. c) Quem são estes primogênitos? Alguns intérpretes asso- ciam com os mártires de Apocalipse 6.9-11; outros com as “primícias das igrejas; outros ainda com os 144.000 de Apocalipse 7.4; e finalmente com os patriarcas do Antigo Testamento. d) Cremos que este grupo é constituído dos servos de Jesus, comprados pelo seu poderoso sangue, tendo cada um deles seu nome inscrito no livro da vida do Cordeiro (Lc 10.20 e Ap 13.8); estes já estão no céu. Já desfrutam da Glória e do gozo do Senhor. e) E o autor de Hebreus afirma aos leitores de sua carta: aquele grupo de primogênitos do Senhor, já está na “grande reunião”, agora cheguem vocês também, vocês que pertencem ao Senhor, seus nomes já estão arrolados nos céus, permaneçam firmes no Senhor; com a morte, cada um de vocês é introduzido nessa festa e, na con- sumação dos séculos, quando aqui na terra não houver mais igrejas, nem local, nem universal, todos estaremos nessa igreja dos primogênitos, na grande assembleia dos remidos do Senhor glorificando eternamente o Rei dos reis e Senhor dos senhores. IGREJA – CENTRO DE INFLUÊNCIA No Novo Testamento temos, pelo menos, dois centros de in- fluência do poder do Espírito Santo operando na vida de igrejas: 1) o primeiro é Jerusalém. Esta igreja começou com 120 mem- bros, passou para três mil, cinco mil e chegou a ter “deze- nas de milhares”, conforme lemos em Atos 21.20 (Rev. e Atualizada). Esta igreja se responsabilizou por trabalhos em Samaria (At 8), em Cesareia (At 10), em Antioquia da Síria (At 11) e noutros lugares, conforme lemos em At 9.31. 2) O segundo centro de influência foi Antioquia da Síria, voltado inteiramente para os gentios. Nesta havia diferentes dons do ministério (At 13.1,2) e por homens cheios do Espírito IGrEjAS dO SEnhOr 41 Santo evangelizou o mundo gentílico. Organizou igrejas em três continentes. Era independente da igreja de Jerusalém. O chamado concílio de Jerusalém (At 15) não demonstra superioridade de Jerusalém sobre Antioquia; apenas isto: o problema de Antioquia foi levado para Jerusalém, porque oproblema foi criado em Antioquia por membros de Jerusalém. Competia, portanto, a Jerusalém exercer disciplina sobre seus membros que perturbavam o trabalho do Senhor. I. Os termos 1) Para ministro, o grego tem nada menos de quatro vocábulos que, com algumas variações de sentido, expressam a mesma verdade: a) Huperetaí b) Leitoúrgos c) Sunergón d) Diákonos Paulo emprega quase que invariavelmente diákonos. O termo aparece, nas quatro formas, 25 vezes no Novo Testamento. 2) ministro: = a forma é sempre diakonia, empregada 24 vezes no Novo Testamento. 3) ministro: = diakonéo aparece cinco vezes no Novo Testa- mento. diakonia é traduzida por: distribuição de serviço socorro serviço ministério administração, como lemos em Atos 20.24; Efésios 6.21, e se referem ao apóstolo Paulo; em Marcos 10.45, Jesus é diákonos. II. Definição do Ministério 4 2 E C L E S I O L O G I A 1) Paulo foi um ministro (servo) do Senhor – Colossenses 1.24,35. 2) o ministério nos seus variados dons (1Co 12.28 e Ef 4.11) Foi posto na Igreja, e não num organismo de natureza imperial ou oligárquica. Um pastor batista pertence ao corpo de Cristo, que é a igreja; com ele é um, articula-se nele, com ele e nele se alegra ou se entristece. O trabalho de um pastor na igreja não é somente batizar, fazer casamentos, funerais, pregar sermões, fazer sermões, fazer estudos da Palavra, mas de acordo com Efésios 4.12-16: a) aperfeiçoar os santos para o desempenho do serviço de cada membro do corpo de Cristo. b) edificar o corpo de Cristo que é a igreja. 3) Paulo era um com a igreja como membro e estava sobre a igreja como oficial (At 20.28 e 1Ts, 5.12). “Como oficial, estava sujeito às instituições da igreja, que mandavam em seu ministério em trabalho do interesse da causa” (At 11.22; 13.2; 2Co 8.19,23). Paulo e Barnabé, separados pelo Espírito Santo, enviados pela igreja (e naturalmente por ela sustentados) – Ato 13.1-4, trabalharam e, na volta, prestaram relatório das atividades missionárias, à Igreja – Atos 14.26-28. Paulo, em 2Coríntios 1.24 classifica os ministros como cooperadores das igrejas. Esse ministro do Senhor foi chamado por Jesus, reconhecido pela igreja, preparado numa casa de profetas e posto na igreja para o desempenho da obra do Senhor. Disso concluímos que o ministro de Deus é um homem escolhido pelo Senhor, preparado para toda a boa obra. E uma vez na igreja como ministro, deve ficar anos e anos; deve crescer com o corpo de Cristo, trabalhar Ministério das Igrejas 4 4 E C L E S I O L O G I A para a glória do Senhor, e edificar a igreja que Jesus comprou com seu precioso sangue. 4) O supremo ideal do ministério é como em Mateus 28.20, ensinar tudo o que Jesus nos mandou; não é descambar para a unilateralidade de uma determinada verdade da Bíblia. Paulo foi fiel, ensinando “todo o conselho de Deus” em suas igrejas. Atos 20.20. Em Efésios 5.21, Paulo acena para o ponto mais alto do mi- nistério que é a sujeição de uns aos outros no temor de Cristo. Eu dependo de você e você depende de mim; é a realidade do corpo com suas dependências e interdependências. Pedro, de igual modo, expressa o ideal supremo do ministério, quando afirma em sua primeira carta (5.1-4): a) aconselha os pastores, seus companheiros de trabalho; b) Pedro é presbítero (pastor idoso) em pé de igualdade com os demais; c) devem pastorear o rebanho do Senhor com boa vontade (amor), não com violência, nem com sórdida ganância; d) devem agir e tudo fazer como exemplares modelos do rebanho. Neste espírito, nesta conduta, cada um receberá “a imarcescível coroa da glória”, que o Senhor reservou para os seus servos fiéis e cheios de amor; 5) O verdadeiro espírito do ministro não deve ser a ambição carnal de mandar ou ser servido, mas encarnar o que Jesus sempre fez no seu ministério terreno, que foi “não ser ser- vido, mas servir” (Mc 10.45). Os dois filhos de Zebedeu pediram diretamente, ou através de sua mãe, lugares destacados no reino de Jesus. Ouvindo isso, os dez se indignaram contra Tiago e João. O que se percebe, na realidade, é que os doze disputavam lugares proeminentes. Percebendo esse espírito, Jesus “os chamou para junto de si e disse-lhes: sabeis que os que são considerados governadores dos povos, têm-nos sob seu domínio, e sobre eles seus maiores exercem autoridade. Mas entre vós não é assim: pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos mInIStérIO dAS IGrEjAS 45 sirva; quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo de to- dos” (Mc 10.41-44). E no versículo 45, o Mestre dá o exemplo de sua própria vida. Dentre as muitas palavras gregas para servo, Paulo prefere dôulos (escravo) a que descreve posição de mais acentuada inferioridade em relação ao seu lugar no corpo de Cristo (2Co- ríntios 4.5). No prefácio e saudação de Romanos, Filipenses e Tito, Paulo se chama também dôulos de Jesus Cristo. Esta atitude do fiel apóstolo descreve na sua inteireza qual deve ser o espírito do pastor de ovelhas do rebanho do Senhor: a) não é um ditador despótico b) não é um ambicioso de poder c) não é um ganancioso de dinheiro d) não é um esportista e) não é um ocioso f) não é um voluntarioso g) não é um improvisado Mas um escravo que: 1) foi comprado (neste caso por Cristo) 2) não pertence a si mesmo 3) não faz o que quer 4) não vai para onde quer 5) não tem riqueza material 6) não tem hora para trabalhar Paulo foi um ministro assim e nós devemos seguir-lhe as pisadas (At 20.24). Chegamos a esta conclusão: o pastor é um servo. SENHOR é somente Jesus nosso Salvador. III. TÍTULOS BÍBLICOS DO MINISTÉRIO 1) Variedade de oficiais da igreja a) Os metodistas têm bispo e pastores. O bispo exerce auto- ridade sobre os pastores. 4 6 E C L E S I O L O G I A b) Os presbiterianos, assembleianos e um grande número de igrejas pentecostais têm pastores e diáconos. Entre pastores e diáconos, está colocado o Presbítero, que não é pastor, nem diácono. Ocupa uma posição intermediária, mas nada tem com o exercício ministerial. c) Os batistas têm somente pastor e diáconos. Estes voltados para os problemas temporais da igreja, e aqueles voltados para a oração e a Palavra (At 6.2-6). 2) os títulos bíblicos do ministério O Novo Testamento tem três palavras, realmente sinônimas. para descrever o ministério: a) PRESBÍTERO – Se este vocábulo fosse traduzido ao pé da letra, teríamos: velho, ancião. O primeiro registro no Novo Testamento está em Atos 11.30 e mais as seguintes: Atos 14.23; 15.2, 4 6, 22, 23; 16.4; 20.17; 21.18; 1Timóteo 5.17, 19; Tito 1.5; Tito 5.14; 1Pedro 5.1; 3João 1. Na primeira viagem missionária, Paulo e Barnabé, na ida, fizeram trabalho evangelístico e público; no retorno, em cada cidade por onde passaram reuniram os convertidos, organizaram igrejas e ordenaram presbíteros (At 14.21- 23). Deveriam ser homens de certa idade, firmes na fé, inabaláveis no amor e constantes na obra do Senhor. O plural em Atos 14.23 indica que havia mais de um. Fo- ram eleitos pelas igrejas. Estes homens desempenharam funções pastorais na Palavra de Deus, na realização de batismo, na celebração da Ceia do Senhor e tudo mais. Nessa ocasião diáconos não foram escolhidos. J.H. Thayer13 diz que “presbítero indica a dignidade de ofício, enquanto bispo indica a função”. b) PASTOR – O termo grego é Poimén e é empregado em relação ao Senhor Jesus: João 10.11, 14; Hebreus 13.20 e 1Pedro 2.25 e 5.4. Aplicado ao ministério, aparece uma só vez (Ef 4.11) e pastorear em Atos 20.28; João 21.26 e 1Pedro 5.25. W.C. Taylor14 diz: “O termo entre batistas é o mais precioso para expressar o afeto para mInIStérIO dAS IGrEjAS 47 com o ministério... A função pastoral é de intimidade, constante associação, supervisão pessoal do indivíduopara conservar unido o rebanho, liderança do indivíduo e da coletividade, zelo pela juventude... “Indica ternura, amor e carinho, além do cuidado e profundo senso de responsabilidade, tal qual o Senhor Jesus exigiu de Pedro (Jo 21.15). c) Bispo – Episkopos no grego empregado quatro vezes por Paulo (At 20.28; Filemom 1.1; 1Tm 3.2; Tito 1.7) para de- signar o ministério, e uma igreja (1Pe 2.25) em relação ao Senhor Jesus. Indica, não ofício, mas função, o trabalho específico de um pastor dotado de visão administrativa, um superintendente de Escola Bíblica Dominical, o feitor de uma fazenda, o gerente geral de uma empresa. Ele não faz todo o trabalho, mas organiza, providencia tudo e depois supervisiona. “O termo Episkopos era dado àquele que tinha a função de vigiar, fiscalizar, principalmente as embarcações. Os gregos e os romanos usavam este termo para designar superintendente de obras profanas e em sentido sagrado”.15 “O bispo como pastor tem a respon- sabilidade de ver que o serviço seja bem feito... Não se encontra no Novo Testamento o uso do vocábulo bispo no sentido de um oficial eclesiástico que tem autoridade sobre os outros ministros do Evangelho.”16 3) Três palavras, perfeitamente sinônimas para descrever o mesmo ofício, ou função pastoral. a) Ainda A, R. Crabtree17 diz: Pastor, trabalhador, heral- do, evangelista, mestre, presbítero e bispo são termos referentes às funções dos mensageiros de Deus, sem a mínima ideia. b) Em Atos 20.17, Paulo recebe os pastores de Éfeso no porto de Mileto. Nessa escritura os homens são chamados de presbíteros. No versículo 28 de Atos 20, o mesmo grupo, as mesmas pessoas, são chamadas de bispos, cujo trabalho é pastorear a Igreja 4 8 E C L E S I O L O G I A de Deus. Do exposto concluímos que “pastor”, “presbítero” e “bispo” são termos sinônimos. c) Em 1Timóteo 3 Paulo alinha instruções dos que “aspiram ao episcopado”, idênticas às de Tito l., onde aparece a palavra “presbítero”. Conclusão: São uma e a mesma coisa as funções de “presbítero” e “bispo”. d) Em 1Timóteo 5.17, o termo usado é “presbítero”. A Ver- são Revista e Atualizada diz “merecedores de dobrada honra”; A Linguagem de Hoje, porém, traduz: “merecem pagamento em dobro”; a de Jerusalém: “dignos de dupla remuneração”. O “presbítero”, que também é “pastor”, que também é “bispo” recebe salário do rebanho que apascenta, enquanto que os presbíteros calvinistas nada recebem. e) Tito 1.5 emprega o termo “presbítero” e logo no versículo 7 aparece “bispo”, de onde se conclui que são sinônimos. f) Em Filipenses 1.1, Paulo arrola os dois únicos oficiais bíblicos da igreja: “bispos” e “diáconos”. Bispo, na ter- minologia romanista, anglicana, metodista é sempre singular, ao passo que em Filipos é empregado o plural, exatamente como em Atos 11.30, referente a presbíte- ros. Logo, “bispo” do Novo Testamento não tem função hierárquica, mas está em pé de igualdade com “pastor” e “presbítero”. g) Pedro era apóstolo, portanto, “pastor”, e no entanto, se chama “presbítero” e ordenou aos demais presbíteros (Pastores – 1Pe 5.1,2): “Pastoreai o rebanho...” h) João, apesar de ser apóstolo, preferiu chamar-se “o pres- bítero”, porque realmente expressou o que ele era – um pastor (2Jo 1 e 3Jo 1). i) No Novo Testamento, o presbítero tem função pastoral, principalmente na pregação da Palavra e no ensino, como se declara em 1Timóteo 5.17. j) Atos 15.2, 4, 6, 22, 23 e 16.4 destaca de modo inconfundí- vel a função pastoral do “presbítero”, em pé de igualdade com mInIStérIO dAS IGrEjAS 49 os apóstolos, que outra não é senão de pastor. Outra função pastoral do “presbítero” aparece em Tiago 5.14. Dentre as qua- lidades exigidas por Paulo de um presbítero (Tt 1.9), está a de “tenha poder assim para exortar pelo reto ensino como para convencer os que contradizem”. E na de 1Timóteo 3.2 está a de “apto para ensinar”. A.H. Strong18 afirma que “o primeiro na História da Igreja a dividir presbítero, segundo Hebreus 13.7,17 em duas ordens eclesiásticas, foi João Calvino. IV. DONS DO MINISTÉRIO Duas séries de dons: Temos no Novo Testamento alinhadas: 1) espirituais (1Co 12 e 14) para os crentes em geral. 2) do ministério (Ef 4.11. Rm 12.7 e 1Co 12.28-31) reservados somente aos pastores. a) Apóstolo – Temos no sentido restrito como os “Doze” que não tiveram continuidade, e dom do ministério: como em Efésios 4.11; Romanos 1.1; 11.13; 1Coríntios 1.1; 4.9; 9.1, 2, 5; 12.28, 29; 15.9; 2Coríntios 1.1; Gálatas 1.1; Efésios 1.1; Colossenses 1.1; 1Timóteo 1.1; 2.7; 2Timó- teo 1.1, 11; Tito 1.1. Paulo apresentou as credenciais de verdadeiro apóstolo para contrastar com os falsos após- tolos de 2Coríntios 11.13. Um apóstolo com o dom do ministério não é: a) um cacique denominacional; b) um general a comandar grandes movimentos; c) um sol em lugar de Cristo; d) um pastor presidente; e) um “papinha”. Donald Gee19 diz: “Esse ministério (dom) exigia pratica- mente que um apóstolo reunisse num só homem quase todos os outros ministérios dentro do corpo de Cristo. Assim, ele participava da inspiração do profeta, fazia a obra de um evangelista, conhecia o pastoral “cuidado de todas as igrejas”, devia ser apto para ensinar, ao passo que, atendendo à administração de negócio, se seguia o exemplo do Senhor em não se esquivar dos deveres de um diácono, quando fosse necessário”. O apóstolo com o dom do ministério vem a ser um perito arquiteto como nos declara Paulo em 1Coríntios 3.10. Não é eleito por 5 0 E C L E S I O L O G I A qualquer organização denominacional, mas a própria co- munidade o reconhece e lhe dá espontaneamente o lugar, sem política e sem dinheiro. Há alguns desses “apóstolos” hoje no Brasil e no mundo, e nós os reconhecemos, não pelo que proclamam, mas pelo que são e pelo que fazem, com humildade para a glória de Cristo.20 b) Profetas – É dom do ministério e não se deve confundi-lo com “profeta” dos dons espirituais. O Espírito Santo con- fere esse “dom” a um pastor, como vemos em Atos 13.1; 15.32; 21.10; 1Coríntios 12.28, 29; 14.29, 37 e Efésios 4.11. O “profeta” não é um mero pregador da Palavra, um mestre da Bíblia, nem um preditor de futuro, nem um su- per-homem da igreja. O “profeta” é um ministro de Cristo, um pregador da Palavra, não usa os poderes da lógica, ainda que o que diga é lógico, não usa a erudição, nem os arroubos da oratória, nem psicologia; não apela para a ignorância, nem para o misticismo e muito menos para o “Senhor me revelou”; ele prega a Palavra e somente a Palavra na inspiração do Espírito Santo, apelando para os sentimentos e as emoções; este homem conhece o Autor da Palavra (At 4.13), é o homem do “discernimento” que lhe vem do conhecimento da Palavra, ninguém o engana, sabe provar os espíritos (1Jo 4.1). Presta grande auxílio na atividade profética da igreja. “Desde então o ofício de profeta permanece, não acrescenta algo à perfeita reve- lação das Escrituras, mas para edificar o Corpo de Cristo mediante o inspirado e inspirador dom de um ministério que interpreta e aplica essas Escrituras com nova luz, vida e poder, a cada operação e a cada circunstância, por uma renovada e imediata operação do Espírito Santo.21 c) Evangelistas – Três vezes apenas aparece o vocábulo: Efésios 4.11; Atos 21.8 e 2Timóteo 4.5. Evangelista, dom do ministério não é: a) um seminarista, b) um auxiliar do pastor (moço do profeta), c) dirigente de uma congrega- ção. Evangelista é um pastor itinerante, como Filipe que, mInIStérIO dAS IGrEjAS 51 escolhido como diácono, o Espírito Santo o chama para o ministério da Palavra, ganha almas em Samaria, Azoto, em Cesareia, é chamado “o evangelista”. Atos 21.8. No passado, tivemos João Wesley, George Whitefield, Finney, Moody e hoje Billy Graham dentre outros. O evangelista não fica preso a umaigreja, faz um trabalho itinerante. d) Pastor – Este magnífico dom ministerial aparece em Efésios 4.11 e pastoreai em Atos 20.28. Aplicado ao Se- nhor Jesus aparece em João 10.11, 14; Hebreus 13.20, e 1Pedro 2.25 e 5.4. Como apareceu o trabalho pastoral? Em Jerusalém surgiu o primeiro rebanho, pela obra direta do Espírito Santo. Constituído de 120 pessoas, no princípio (At 1.15), aumentou para 3.120 (At 2.41); foi crescendo, cres- cendo sempre até Atos 21.20, com “dezenas de milhares”. No princípio, os doze cuidavam de tudo. Houve problemas e os doze cuidaram da oração e da Palavra (At 6.2) e sete diáconos cuidaram do serviço das mesas. O trabalho do Senhor foi além de Jerusalém (At 9.31) e chegou até Antioquia da Síria. An- tioquia organizou trabalhos nos continentes. Em cada cidade havia presbíteros (At 14.23). Na era apostólica encontramos pluralidade de pastores em cada igreja (Fp 1.1). Os “presbí- teros” recrutados entre os convertidos das igrejas deveriam ser homens de negócios e de trabalho. Alguns se dedicaram grandemente ao trabalho do Senhor e passaram a dar tempo integral ao ministério e o apóstolo Paulo mandou dar a esses homens, salários dobrados (1Tm 5.17). Pelo retrato que a Bíblia guarda de alguns pastores, homens transformados pelo Espírito Santo, cheios da graça do Senhor, revestidos de poder, conduta exemplar, irrepreensíveis, consagrados, dedicados exclusiva- mente ao ministério da Palavra, bons chefes de família, sérios, operosos e humildes, encontramos reprodução perfeita hoje em muitos obreiros que se sacrificam por Cristo, colocam o Reino de Deus acima de tudo e constituem a galeria daqueles que vivem para glorificar o Senhor. A Bíblia alinha, nessa imortal galeria de pastores reais, Tiago, o irmão do Senhor, que foi 5 2 E C L E S I O L O G I A pastor da Igreja em Jerusalém (Tg 1.1; Gl 1.19; At 12.17; 15.13 e 21.18). Paulo e Barnabé somaram ao dom apostolar o dom pastoral. Um modelo de pastor nos tempos modernos foi no século passado Charles H. Spurgeon, do famoso Tabernáculo de Londres e milhares de outros famosos ou que viveram na sombra do anonimato, mas realizaram o imortal trabalho de conduzir almas a Cristo e apascentá-las com paciência e amor. e) Mestre – A NTLH traduz didáskalos por “Mestre da Igreja”. Este “mestre” é dom do ministério, e tem muito a ver com o dom espiritual de “conhecimento” de 1Coríntios 12.8. Conhe- ce, não “as coisas profundas de Satanás (Ap 2.24), mas as de Deus, ensina a Palavra com: a) graça, b) clareza, c), unção do Espírito, d) simplicidade, e) persuasão, f) com amor profundo. Ele é humilde como Jesus (Mt 11.29); submisso ao Senhor (Lc 10.39); interessado no aluno; almeja conhecer mais e mais do Mestre; anda com Deus (Gn 5.22); ama a verdade; e a verdade é a Palavra de Deus, e como Davi, ama a Lei do Senhor (Sl 119); leva uma vida de pureza (Sl 15); é dócil como Moisés (Nm 12.3); vive o que ensina; a Palavra de Cristo habita ricamente em seu coração (Cl 3.16); sua palavra é cheia de autoridade como a do Senhor Jesus (Mt 7.28,29); também ungida (Jo 7.46) e é cheio de compaixão (Mt 9.36). O que o mestre ensina? Jesus é o Mestre por excelência. Ao longo de suas jornadas, ensinava os discípulos (Mc 4.2). Moisés doutrinava o povo (Dt 32.2); Isaías 42.4 diz que “as terras do mar aguardarão a sua doutrina”. Importante é o en- sinamento no plano de Deus da redenção, tão importante que o Novo Testamento exorta a cada passo (Mt 7.28; 15.9; 16.12; 22.33; Mc 1.27; 7.7; 11.18; Jo 17.19; Rm 6.17; 1Co 14.6; Ef 4.17; Cl 2.22;1Tm 1.10; 4.6, 16; 6.1, 3; 2Tm 4.2, 3, Tt 2.1, 10; Hb 6.1; 13.9; 2Jo 9.10; Ap 2.14,15,24. O trabalho principal do pastor-mestre é alimentar o rebanho com a Palavra divina de poder e graça. Em 1Coríntios 3.6, Paulo diz: “Eu plantei, Apolo regou, mas o crescimento veio de Deus”. mInIStérIO dAS IGrEjAS 53 Paulo ganhou as almas para Cristo (plantou); Apolo ensinou a Palavra aos convertidos (regou), mas o crescimento (a obra efetiva e real) veio do Senhor. O homem não pode se gloriar de coisa alguma. Toda a glória é de Deus. Paulo era mestre fiel e dedicado, como constatamos de Atos 20.20. Os variados dons ministeriais, numa igreja, visam tornar o rebanho do Senhor um edifício (1Co 3.9; 2Co 5.1; Ef 2.21). Muitas igrejas nunca chegaram a ser Edifício; são montes de pedras, pilhas de tijolos, monte de areia, sacos de cimento e de cal, madeira, ferro, telhas etc. O chamado Testemunha de Jeová passa e leva parte do rebanho (desses montes de mate- rial), também o mórmon, o adventista. Levar material é fácil; impossível é levar um edifício. Conclusão: Cada pastor deve erigir o edifício de sua igreja. A igreja é também um corpo (12.12-27). E isso nos fala de unidade, de harmonia de crescimento. O corpo é constituído de muitas partes, mas o corpo é um e não pode ser fragmentado como em Corinto: “Eu sou de Paulo, e eu sou de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo (1Co 1.12). O corpo tem que ser UNO, indivisível, completo para estar em harmonia perfeita com a cabeça que é Cristo. Ponto de Partida A Igreja Romana emprega para Batismo e Ceia do Senhor além de outros engendrados pelo homem, a palavra sacramen- to. Esta palavra é genuinamente latina. A não ser a inscrição latina que Pilatos mandou colocar na cruz do Senhor “Iesu Nazarenus, Rex Iudaiorum” que não foi registrada no texto do Novo Testamento (os evangelhos conservaram somente o grego), não temos nada em latim no Novo Testamento. Ora, a palavra sacramentum é latina, logo é extrabíblica. E o que é sacramento? Laudelino Freire em “Grande Dicio- nário da Língua Portuguesa” diz: “Antigamente, juramento”. O Novo Dicionário da Bíblia (Vida Nova) diz: “Como o juramento de lealdade ao imperador feito pelo soldado romano”. O solda- 5 4 E C L E S I O L O G I A do romano jurava lealdade ao imperador, de vida ou de morte. Sua vida estava nas mãos do imperador. E por esse motivo ele ganhava um soldo muito maior. Daí vem o significado na Igreja Romana e algumas denominações evangélicas que sacramento é um veículo de graça. Como o tubo conduz a água, o sacramen- to conduz ao pecador as bênçãos celestiais. Esta concepção é puramente pagã. O Novo Testamento grego emprega a palavra misterion: cinco vezes nos evangelhos, 18 vezes por Paulo e 4 no Apocalipse. A Bíblia de Jerusalém traduz corretamente o grego e emprega mistério; as versões romanistas antigas traduziram o grego misterion por sacramento, erradamente já se vê. No Novo Testamento, não temos sacramento, e muito menos veículos de graça. O que temos, isto sim, são ordens do Senhor Jesus. Não temos, sete sacramentos e como a Igreja Romana, mas duas ordenanças de Jesus: batismo e Ceia do Senhor. Em Mateus 28.19, na sua autoridade absoluta, no céu e na terra, o Senhor Jesus ordenou: “Batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Esta sublime e terminante declaração do Senhor é iniciada com o imperativo “IDE”. De igual modo, a Ceia do Senhor é outra ordem de Jesus: (Mt 26.26) “Tomai e comei”; sobre o cálice ordenou: “Bebei dele todos” (Mt 26.27). Em Lucas 22.19,20 temos os mesmos imperativos. E 1Coríntios 11.17-34 registra a ordem terminante de Jesus. Há dois extremos a evitar: o primeiro, apoiar o exagero sacramentalista; e o segundo desprezar a verdade bíblica, portanto, a ordem do Senhor Jesus a nós escravos seus; o que Ele ordena, devemos obedecer sem questionar. BATISMO – A PRIMEIRA ORDENANÇA 1) A palavra batismo= no grego é baptismo. Não foi traduzi- da, mas transliterada, à semelhança da palavra presbítero. Aparece na forma de verbo e de outras categorias gramati- cais. O infinitivo baptízein significa imergir, mergulhar. O outro vocábulo, que muitos gostariam de ver nele, batismo é rantizo, cujo significado é aspergit. 2) O ato do batismo: – Em referência ao batismo, o grego nuncausa rantizo, mas baptismo. Portanto, batismo é imersão, mergulho. Vamos aos exemplos da Bíblia: a) Mateus 3.13-17 – João Batista realizava batismos no Jordão. Jesus chegou um dia para ser batizado por João. O versículo 16 diz que “Jesus saiu logo da água”. Se saiu é porque entrou. E entrou para que: receber gotas d”água na cabeça? Não. O texto diz que ele foi batizado, portanto imerso. b) Em Marcos 1.9-11, temos a mesma verdade: o versículo 10, diz: “Logo ao sair da água...”. c) Lucas 3.21-22 afirma que Jesus foi batizado, portanto, imerso. d) João 1.32-34 declara que Jesus foi batizado. e) Atos 2.41 diz que os três mil convertidos no dia de Pen- tecostes foram batizados, portanto imersos. f) Atos 8.36-39 registra a conversão e o batismo do Eunuco etíope. Esse homem abastado e importante caravaneava Ordenanças das Igrejas 5 6 E C L E S I O L O G I A por ermo deserto; deveria levar em seu carro muita água, mas, ao encontrar um lugar com muita água, mandou parar o carro, desceu com Filipe e foi batizado, portanto imerso. g) Em Atos 9 temos o relato da conversão maravilhosa de Saulo, e três dias depois, o seu batismo por Ananias. No versículo 18, lemos: “A seguir levantou-se e foi batizado”. Os aspersionistas veem no verbo “Levantou-se” a aspersão. Bastaria mudarmos os verbos e leríamos assim: “Levantou- se e foi dormir”. Será que dormiu de pés? Fica, portanto, claro e fora de qualquer dúvida, pela Bíblia, que batismo é imersão, porque a palavra batismo significa imersão. O Dr. W.C. Taylor22 alinha traduções antigas da Bíblia da palavra batismo: 1)Tertuliano traduziu: baptizein por tinguere. Tertuliano diz não haver confusão entre as duas línguas faladas em Roma: grego e latim. Quando aparecia o grego baptizein, o povo pronunciava tinguere (latim antigo).23 2) Cipriano afirma que no siríaco, no copto e no etíope, baptizo é traduzido imergir. 3) Na antiga versão gótica, ulfilas não transliterou baptizo, mas traduziu por daupjan, latim mergere e, em Lucas 3.21 e 7.29 por ufdaupjan – Submergir. 4) A primeira Bíblia do baixo-saxão (1470-1480), baptízo é vertido por doepen (DIP é imergir). 5) A Bíblia alemã de Augsburgo (1473-1475) traduziu bap- tismo por tauffen; mergulhar. 6) Lutero traduziu baptismo por tauffen, mergulhar. 7) A versão holandesa (1526), empregou doopen; imergir 8) O Dr. I. A. Schott (1839) traduziu o grego batizo para o latim destinado aos universitários por immergo. 9) William Carey traduziu a Bíblia para diversas línguas da Índia. Em todas traduziu baptizo por imersão. OrdEnAnçAS dAS IGrEjAS 57 10) Judson estudou muito para se defender dos batistas e verteu baptizo por imersão. 11) William Rainey Harper, da Universidade de Chicago, João A. Broadus e João R. Sampey, ambos presidentes do Seminário de Louisville. EUA, deram ao mundo uma versão da Bíblia e sempre traduziram baptizo por imergir. 12) Algumas versões romanistas reconhecem que batismo no primeiro século cristão era imersão.24 13) A Septuaginta no caso de Naamã, diz que foi ebaptízato no Jordão sete vezes. E não somente em 2Reis 5.14, mas em outras escrituras, como Isaías 21.4; Judite 12.7; Eclesiás- tico 34.30,31. No caso de Naamã, a versão de Almeida, a Brasileira, a Francesa, a Norte-americana de 1901, Moffat traduzem ebaptízato por “desceu ele e mergulhou-se sete vezes no Jordão”. 14) Testemunho dos Dicionários25 a) Prof. C. G. Wilke – “Clavis Novi Testamenti Philológica” em dois volumes (Alemanha 1851)26 traduziu “Baptizo: 1. Propriamente mergulhar repetidas vezes, imergir, submergir. 2. Purificar por imergir ou submergir, lavar, limpar com água. 3. Metaforicamente: Submergir... em calamidades”. b) A Sociedade Bíblica de Samuel Bagster e Filhos, Londres, publicou com o Novo Testamento de Westcott and Hort um Dicionário Grego-Inglês do Novo Testamento. Sobre BATISMO temos nesse dicionário: “Baptízo, propriamente mergulhar, imergir, purificar por lavagem... Baptísma= Imersão”. c) Hermann Cremer,27 notável helenista alemão luterano traduziu: “Baptízo = imergir, submergir. d) Outros famosos lexicógrafos, como Dr. Samuel G. Green, de Londres, Dr. A.T. Robertson, Moulton (metodista e Milligan, presbiteriano) e tantos outros, traduzem Bap- tízo por imersão”. 15) Testemunhos de Liturgia e Credos 5 8 E C L E S I O L O G I A W. C. Taylor28 cita Connant, nos seguintes exemplos: a) Ritual dos gregos, de GOAR.29 Ofício da Santa Imersão (Batismo) – (após as cerimônias preparatórias). E quando o corpo inteiro tiver ungido, o sacerdote imerge a criança mantendo-a ereta para o oriente dizendo: “O servo de Deus, chamando o nome dele, é imerso em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; agora e para sempre, até os séculos dos séculos. Amém”. Em cada imersão o candidato é deitado e levantado. E depois da imersão, o sacerdote lava as mãos, cantando com o povo: Felizes são aqueles cujos pecados foram perdoados”. b) A Igreja Latina: Sacramentaruim Gregoriannun, Sive Sa- cramentarum ordo Sancto Gregório I Papa compositus30 cita trecho longo de perguntas pelo sacerdote ministrante e o batizando até esta importante declaração: “Deinde baptize sacerdos sub trina mersione tantun sanctuam Trinitatem Semel invocans, ita dicendo: Et ego te baptizo in nomine Patris Et merg semel. Et Filii Et mergat semel Et Spiritus Sancti Et mergat semel” c) Primeiro livro de Oração Comum e Administração dos Sa- cramentos – Rei Eduardo VI; 154931: “Então o sacerdote tomará a criança nas suas mãos e perguntará o nome dela. E, pronunciando-lhe o nome, a imergirá em água três vezes. Primeiro, mergulhando o lado direito, segundo o lado esquerdo, e a terceira vez, mergulhando-a com o rosto da criança para a pia: Assim seja feito discreta e cautelosamente dizendo: (nome do batizando). Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém. E se a criança for fraca, será suficiente derramar água sobre ela, dizendo as palavras citadas”. d) “E o Concílio de Calchuth, em 816, cap. XI diz: Saibam os OrdEnAnçAS dAS IGrEjAS 59 presbíteros que, quando administram o santo batismo, não derramar água santa sobre as cabeças dos infantes, mas sempre sejam estes imersos na pia, como o Filho de Deus deu exemplo de si mesmo a cada crente quando ele foi três vezes imerso nas ondas do Jordão.” e) Schaff32. sobre a Confissão Helvética Posterior – (1566), sobre o batismo diz (Schaff era presbiteriano): “O batismo foi instituído e consagrado por Deus; e o primeiro que batizou foi João, que imergiu Cristo em água do Jordão”. f) Ainda Schaff sobre o Catecismo Pequeno de Lutero “Que significa batizar com água? Significa que em nós, o velho Adão é afogado por diária tristeza e arrependimento, pe- rece com todos os pecados e más concupiscências, e que o novo homem deve diariamente surgir e se levantar, o qual viverá perante Deus em justiça e pureza para sempre...”. 16) Testemunhas da Atualidade Ainda seguimos W. C. Taylor33 a) Enciclopédia e Dicionário Internacional: “Até o século 14, os pintores representavam o batismo de Jesus por imersão” (Vol. II – p. 1190). b) Giovanni Papini (História de Cristo): “Mesmo assim Je- sus veio, no meio da turba de pecadores, imergir-se no Jordão” – p. 60. c) Dr. David Smith, em “The Life and Letters of St. Paul”, diz: “São Paulo claramente tinha em vista o ato de imersão, em resposta à acusação de que seria doutrina de Justifi- cação pela Fé sem obras, implicou o antinomianismo...”. d) Rev. J.R. Conv – em “St. Paul in the Light of Modern Research”. “O batismo era o rito pelo qual os conversos eram admitidos na igreja. Paulo toma por concedido que cada cristão é batizado... A imersão total era a regra.” e) Os Franciscanos. da Bahia, na sua tradução e notas do Novo Testamento (1915), dizem: “Alude aqui ao batismo (como se administrava
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