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Livro didático- Trabalho e Sociabilidade

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Autora: Profa. Angélica L. Carlini
Colaboradora: Profa. Amarilis Tudella
Trabalho e Sociabilidade
Professora conteudista: Angélica L. Carlini
Doutora em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Doutora em Educação 
pela PUC-SP. Mestre em Direito Civil pela UNIP. Mestre em História Contemporânea pela PUC-SP. Graduada em 
Direito pela PUC-SP. Pós-doutorado em Direito Constitucional pela PUC-RS. Docente da área de Direito da UNIP. 
Professora colaboradora do programa de mestrado em Administração da UNIP. Membro da Comissão de Qualificação 
e Avaliação da UNIP. Professora e Coordenadora do MBA de Gestão Jurídica de Seguros e Inovação da Escola de 
Negócios e Seguros (ENS). Vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito Contratual (IBDCONT). Membro do 
Conselho Científico do Comitê Ibero Latino-Americano da Associação Internacional de Direito de Seguro (Aida). 
Advogada e parecerista. Pesquisadora na área de inovação e seguro pelo centro de pesquisa e economia do seguro 
da Escola de Negócios e Seguros.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
 C282t Carlini, Angélica L.
Trabalho e Sociabilidade / Angélica L. Carlini. – São Paulo: 
Editora Sol, 2021.
148 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Sociedade. 2. Organização. 3. Trabalho. I. Título.
CDU 301.188.1
U511.73 – 21
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcello Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Bruno Barros
 Aline Ricciardi
Sumário
Trabalho e Sociabilidade
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO TRABALHO NAS SOCIEDADES ORGANIZADAS ...............................9
1.1 Formação do Estado e das formas de governo ........................................................................ 20
1.2 O absolutismo ........................................................................................................................................ 22
1.3 Revoluções burguesas: Inglaterra, Estados Unidos e França .............................................. 26
1.4 Os principais pensadores do Estado moderno .......................................................................... 31
1.5 A Revolução Industrial ....................................................................................................................... 43
2 PENSAMENTO LIBERAL E PENSAMENTO MARXISTA: PRODUÇÃO E TRABALHO .................... 50
3 ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL E A DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA ......................................... 59
4 CAPITALISMO HEGEMÔNICO E GLOBALIZAÇÃO ................................................................................. 70
Unidade II
5 DEFINIÇÃO DE TRABALHO: FORMAS DE ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL 
DO TRABALHO ...................................................................................................................................................... 79
5.1 Formas de organização empresarial ............................................................................................. 86
6 TECNOLOGIA, SOCIEDADE E PRODUÇÃO ECONÔMICA .................................................................... 96
7 NOVAS FORMAS DE PRODUÇÃO E TRABALHO: PLATAFORMAS DIGITAIS, 
EMPREENDEDORISMO DIGITAL E NECESSIDADE DE PROTEÇÃO JURÍDICA 
E SOCIAL DO TRABALHADOR ........................................................................................................................106
8 TRABALHO E SOCIABILIDADE ...................................................................................................................126
8.1 O papel do serviço social na sociedade 4.0 .............................................................................133
7
APRESENTAÇÃO
É um momento histórico importante para estudarmos trabalho e sociabilidade, tão relevantes 
para a vida humana, porque estamos em uma fase de transição migrando para uma sociedade cada 
vez mais conectada e digital.
As novas tecnologias de informação tornaram a sociedade mais dinâmica, em condições de saber 
em tempo real tudo o que acontece em qualquer parte do planeta, sempre com imagens que circulam 
rapidamente pelo mundo como também circulam pessoas, bens de consumo, vírus, novos hábitos, 
tendências culturais e políticas.
Esse mundo tecnológico já foi chamado de muitas formas diferentes pelos estudiosos: sociedade 
pós-moderna, sociedade em rede, sociedade de informação, sociedade de inovação entre outros. Mas o 
mais importante não é a denominação que possa ser dada ao conjunto de características da sociedade 
contemporânea. O mais importante é nos dedicarmos à reflexão de como essas novas características 
da sociedade afetam as relações sociais e, muito em especial, as relações de produção e trabalho.
Com aportes teóricos, reflexões e análises da realidade, o percurso pretende iluminar a prática 
dos profissionais de serviço social, para que ela se concretize de forma muito positiva em um mundo 
marcado por transformações importantes que precisam ser conhecidas, analisadas e compreendidas. 
A atuação dos profissionais de serviço social, assim como em outras categorias profissionais, educação, 
por exemplo, precisa estar afinada com as transformações dos modos de produção e da organização 
da vida em sociedade, para que os projetos e a construção das políticas públicas levem em conta as 
possibilidades e particularidades do nosso tempo.
Nosso olhar atento de estudiosos das relações sociais deve percorrer os diferentes aspectos que 
na atualidade caracterizam o mundo em que vivemos, como esses aspectos impactam o Brasil e sua 
sociedade e que reflexões poderemos construir para concretizarmos um país mais livre, justo e 
solidário que a Constituição Federal determinou como objetivo maior a ser alcançado.
INTRODUÇÃO
O fio condutor de nossos estudos são as relações que se constroem a partir do mundo do 
trabalho. É um objetivo vigoroso e complexo que vai exigir nossos melhores esforços de estudo, 
pesquisa e reflexão.
Para que possamos dar conta dos objetivos, vamos estudar, primeiramente, a trajetória histórica 
do trabalho nas sociedades organizadas; o pensamento liberal e o pensamento marxista nas relações 
de produção e de trabalho; e o estado de bem-estar social e os fundamentos da doutrina social da 
Igreja, que foram relevantes para a regulação das relações de trabalho. Vamos finalizar com a análise 
sobre o capitalismo como prática hegemônica e a globalização que vivemos no mundo a partir do fim 
da Guerra Fria, em 1989.
8
Depois, vamos nos dedicar a compreender a sociedade contemporânea, tecnológica e de 
informação e como se dá a produção nesse novo cenário. Em seguida, vamos analisar o mundo dotrabalho e suas relações nesse ambiente de predomínio tecnológico, em especial a terceirização, o 
teletrabalho, o trabalho intermitente, os novos espaços de trabalho (coworking e home office), e 
como os instrumentos tecnológicos impactam as relações de trabalho, com o uso da inteligência 
artificial, das máquinas que aprendem (machine learning) e outras tecnologias de produção.
Vamos encerrar refletindo sobre as novas formas de trabalho nas plataformas digitais, as relações 
sociais na sociedade em rede e, em especial, sobre o papel do profissional de serviço social nesse 
mundo em transição.
9
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Unidade I
1 TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO TRABALHO NAS SOCIEDADES ORGANIZADAS
Os estudos históricos e antropológicos apontam que os seres humanos sempre viveram em grupos. 
As pesquisas que conhecemos sobre a história da humanidade relatam que os homens sempre viveram 
em grupo para sobreviver, porque juntos possuíam maior força física para solucionar os problemas 
da alimentação, abrigo e defesa contra animais, contra outros grupos humanos e a defesa contra os 
imprevistos da natureza.
O grande temor dos primeiros habitantes humanos da Terra foram os fenômenos naturais, como 
chuvas, terremotos, raios e trovões, ou ainda o frio ou calor intensos que provocam riscos para a 
sobrevivência. Foi preciso utilizar força física, inteligência e capacidade de organização do grupo 
para garantir alimentação e abrigo para enfrentar as diferentes dificuldades naturais. Em grupos, 
os homens se protegeram, se defenderam e se organizaram para produzir de forma eficiente o 
necessário para sua sobrevivência, inclusive para a procriação de filhos para se constituírem em novos 
componentes do grupo.
Os estudos da área de antropologia, sociologia e outros permitem o conhecimento sobre as 
diferentes formas de organização social nas quais os homens criaram sua experiência no planeta Terra.
Em decorrência da existência desses estudos, pudemos saber que a história da humanidade 
foi construída por sociedades muito organizadas, outras, nem tanto; em alguns momentos pela 
predominância do poder matriarcal e, em outros, pelo predomínio do poder patriarcal. Tivemos 
grupos nômades e outros que se fixaram em territórios; conhecemos grupos que se relacionavam 
facilmente com outros e, ao contrário, outros grupos que não estabeleceram relações amistosas ou 
que demoraram paraEcoexistir com outros grupos organizados.
A história da humanidade é a história da diversidade nas formas de organização social e, 
principalmente, da diversidade de opções na produção, sobrevivência e bem-estar. Cada grupo social 
construiu maneiras diversas de organização social, de distribuição do poder e da produção e, por isso, 
refletir sobre essas diferentes formas é um ótimo exercício para compreendermos a sociedade como 
a conhecemos no mundo contemporâneo.
Vamos fazer uma rápida passagem por importantes marcos da história da humanidade, que 
certamente você já estudou em outros momentos, mas que agora servirão de balizadores para nossas 
reflexões em torno do trabalhos e da sociabilidade.
Parece ser possível afirmar que os homens sempre trabalharam mesmo no período que definimos 
como fase anterior à agrícola, e, para desenvolverem seu trabalho, produziram várias formas de 
10
Unidade I
conhecimento em relação ao meio em que viviam. Yuval Noah Harari, doutor em História pela 
Universidade de Oxford e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, faz importantes 
observações a respeito desse período. Leia com atenção:
 
Que generalizações podemos fazer sobre a vida no mundo pré-agrícola, 
então? Parece seguro afirmar que a grande maioria das pessoas vivia 
em pequenos bandos compostos de várias dezenas ou, no máximo, 
várias centenas de indivíduos e que todos esses indivíduos eram humanos. 
É importante observar esse último aspecto, porque ele está longe de ser 
óbvio. A maioria dos membros de sociedades agrícolas e industriais são 
animais domesticados.
[...]
A maioria dos bandos de sapiens vivia se deslocando, vagando de um lado 
para outro em busca de alimentos. Seus movimentos eram influenciados 
pela mudança de estações, pela migração anual de animais e pelo ciclo de 
crescimento das plantas. Eles costumavam viajar de um lado para outro 
no mesmo território, uma área cuja extensão ficava entre várias dezenas 
de muitas centenas de quilômetros quadrados.
Na maioria dos habitats, os bandos de sapiens se alimentavam de maneira 
versátil e oportunista. Eles saíam à procura de cupins, coletavam bagas, 
desenterravam raízes, capturavam coelhos e caçavam bisões e mamutes. 
Apesar da imagem difundida de “caçador”, a coleta era a atividade 
principal dos sapiens e lhe fornecia a maior parte de suas calorias, além de 
matérias-primas como sílex, madeira e bambu.
Os sapiens não saiam apenas à procura de alimentos e materiais. Também 
saíam à procura de conhecimento. Para sobreviver, precisavam de um 
detalhado mapa mental de seu território. Para maximizar, a eficiência de sua 
busca cotidiana por alimento, precisavam de informações sobre padrões 
de crescimento de cada planta e os hábitos de cada animal. Precisavam 
saber quais alimentos eram nutritivos, quais eram nocivos e quais podiam 
ser usados como remédio e de que forma. Precisavam conhecer o progresso 
das estações do ano e os sinais de alerta que precediam a uma tempestade 
ou um período de seca. Estudavam cada correte, nogueira, caverna de 
urso e depósito de sílex nas redondezas. Cada indivíduo precisava 
entender como fabricar uma faca de pedra, como remendar um manto 
rasgado, como preparar uma armadilha para um coelho e como enfrentar 
avalanches, picadas de cobra ou leões famintos. O domínio de cada uma 
dessas habilidades requeria anos de aprendizado e prática. [...]
11
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Em outras palavras, o caçador-coletor médio tinha conhecimentos mais 
abrangentes, mais profundos e mais variados de seu meio imediato do que 
a maioria de seus descendentes modernos. Hoje, a maioria das pessoas nas 
sociedades industriais não precisa saber muito para sobreviver. [...]
Há alguns indícios de que o tamanho médio do cérebro de um sapiens 
efetivamente diminuiu desde a era dos caçadores-coletores. A sobrevivência 
naquela época requeria de cada indivíduo habilidades mentais sofisticadas 
(HARARI, 2016, p. 54).
Figura 1 
É importante refletir sobre o fato de que os Homo sapiens não eram meros coletores da natureza, 
mas também desenvolviam atividade de construção de conhecimento para aprender habilidades que 
pudessem garantir sua subsistência. Isso, de fato, é muito semelhante ao que fazemos na atualidade 
em nossas atividades de trabalho: desenvolvemos o intelecto na construção de conhecimento a fim 
de desempenhar atividades pelas quais somos remunerados e pagar o que é necessário para uma vida 
digna como alimentos, moradia, roupas e outros.
O trabalho e suas diversas formas ao longo da história parece ser um importante fio condutor para 
compreendermos a trajetória da humanidade e das relações sociais.
12
Unidade I
 Observação
Alguns trabalhos do professor Yuval Harari têm como característica não 
serem escritos em formato acadêmico, tanto que se tornaram livros muito 
vendidos em todo o mundo, verdadeiros best sellers. Isso não retira deles o 
caráter científico e metodológico das informações, pois o currículo do 
professor Harari é muito bom e seu trabalho reflete a excelência de seus 
estudos e de sua formação. Escrever de forma simples e que facilite 
a compreensão de leigos não diminui a seriedade e confiabilidade 
das informações. Vale a pena conhecer as reflexões desse importante 
autor contemporâneo.
Vamos prosseguir acompanhando a linha do tempo da humanidade e suas relações como trabalho. 
Adhermar Marques afirma:
 
As primeiras civilizações desenvolveram-se em um período conhecido 
tradicionalmente como História Antiga. Esse período histórico engloba a 
Antiguidade Oriental e a Antiguidade Ocidental.
Durante aAntiguidade Oriental desenvolveram-se as sociedades que, de 
acordo com uma determinada concepção historiográfica, são consideradas 
“históricas”, uma vez que já dominavam a escrita.
Entre elas, destacaram-se as sociedades egípcia e mesopotâmica, 
consideradas civilizações agrícolas dos grandes rios. Além destas, 
destacaram-se, também, na região do Oriente Próximo, as civilizações 
desenvolvidas pelos fenícios, persas e hebreus.
Diferentemente dos demais povos das civilizações agrícolas, os fenícios 
destacaram-se como grandes navegadores, tendo no comércio marítimo a 
sua principal atividade econômica. Isso os habilitou a manter um intenso 
contato com outros povos, dos quais assimilaram valores culturais.
[...]
Aos fenícios é atribuída a criação do alfabeto, necessário para a elaboração 
de uma documentação simplificada essencial aos seus negócios. Esse 
alfabeto, que acabou substituindo os complicados sistemas hieroglífico 
dos egípcios e cuneiforme dos mesopotâmicos, foi posteriormente 
aperfeiçoado por gregos e romanos, sendo considerado, por muitos 
historiadores, o maior legado dessa civilização.
13
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Os persas construíram o maior império da Antiguidade Oriental, que se 
estendeu do Rio Nilo ao Rio Indo, diferentemente das civilizações agrícolas 
e da civilização marítima dos fenícios, tiveram como base de sua economia 
a atividade nômade-pastoril (MARQUES, 2006, p. 10).
Repare que tanto os fenícios como os persas desenvolveram atividades de produção – agrícola 
ou de comércio marítimo – e por meio delas, desenvolveram suas relações sociais e de organização. 
A necessidade de sobrevivência incentivou os grupos sociais para a produção de alimentos e de 
bens para sua proteção. Com o tempo, a sobrevivência deixou de ser a única razão do trabalho e 
da produção, surgindo novas necessidades sociais e de ampliação de domínios territoriais que levaram 
a humanidade por caminhos de sempre cada vez maior e intensa produção.
O trabalho está na base do da organização e da sobrevivência da humanidade e, nesse sentido, 
Adhemar Marques ressalta:
 
Todas as sociedades da Antiguidade Oriental desenvolveram-se a partir 
da chamada “Revolução Agrícola”, ocorrida há, aproximadamente, 8 mil 
anos. Tratou-se de um processo histórico que permitiu a fixação os grupos 
humanos em determinadas regiões (sedentarização), o que contribuiu 
para um significativo aumento demográfico em função do crescimento 
da oferta de alimentos (agricultura e criação de animais). Observaram-se 
também, nesse momento, uma complexidade maior da técnica 
aplicada às atividades produtivas e uma especialização do trabalho 
(MARQUES, 2006, p. 12).
Em razão das técnicas de cultivo – agricultura – e da criação de animais com a finalidade de 
contribuir para o trabalho e também para o alimento, grupos sociais puderam se fixar em determinadas 
regiões quase sempre mais produtivas, com facilidade de acesso à água, terras férteis e terrenos que 
viabilizem o plantio, ou seja, pouco pedregosos e inclinados, de forma a tornar a produção mais 
eficiente. Ao mesmo tempo, a fixação no mesmo território de grande quantidade de pessoas tornou 
relevante a organização dos grupos sociais e fez surgir a hierarquia entre os homens, classes sociais e 
outras formas de organização que os historiadores estudam incessantemente.
Adhemar Marques afirma que nas civilizações da chamada Antiguidade Oriental, algumas 
características merecem destaque, como, por exemplo:
 
— Economia baseada na agricultura e com a produção de excedentes.
— Construção de grandes obras de engenharia, como canais de 
irrigação e diques.
— Crescente divisão do trabalho e início da exploração social, uma vez 
que alguns homens passaram a se apropriar permanentemente dos 
excedentes produzidos.
14
Unidade I
— Surgimento de uma elite formada por líderes militares, sacerdotes e 
membros da realeza e nobres.
— Regime de trabalho predominantemente compulsório, prestado por 
servos e escravos.
— Centralização político-administrativa, que culminou com 
a constituição do Estado, no qual o poder encontrava-se 
institucionalizado e era exercido sobre o conjunto da sociedade 
num determinado território. Essa instituição foi importante 
para a mobilização de numerosos contingentes de trabalhadores 
indispensáveis à realização de obras de drenagem e irrigação e para 
a “agricultura de regadio” (MARQUES, 2006, p. 13).
Podemos perceber que algumas questões que atormentam a sociedade até hoje têm sua origem 
em um passado muito distante e que, nem por isso, conseguimos encontrar a solução para problemas 
como regime de trabalho compulsório ou escravo; surgimento de elite; e exploração social de alguns 
homens em relação a outros.
O trabalho como atividade humana de subsistência está presente em todas as diferentes épocas 
da história da humanidade como teremos oportunidade de analisar detalhadamente. Da produção 
agrícola inicial dos primeiros tempos históricos da agricultura, passando pela Revolução Industrial 
até chegar ao momento em que vivemos: a chamada sociedade de inovação, com automação da 
produção industrial e de muitas áreas de prestação de serviços, a Indústria 4.0. O trabalho e os 
trabalhadores foram e continuam sendo elementos essenciais para construirmos um diálogo com a 
organização do Estado e com as formas de governo, a fim de podermos analisar a história e contribuir 
para a construção do futuro.
No campo das relações de trabalho, os problemas e tensões precisam ser solucionados de forma 
institucional, ou seja, por meio da aprovação de normas para organização e proteção do trabalhador, 
da remuneração e para possibilidades de empregabilidade. A prevalência da força de alguns grupos 
sobre outros – povos conquistadores sobre conquistados –, ou da elite sobre os homens comuns não 
foi uma solução capaz de viabilizar harmonia e paz social. Ao contrário, os atritos na área das relações 
de trabalho sempre existiram e até hoje causam consequências sociais, econômicos e políticas.
O trabalho foi sempre uma relação essencial para a sociedade nas diferentes épocas históricas que 
a humanidade vivenciou. Da mesma maneira foi essencial para a formação do Estado e das formas de 
governo, bem como para a organização dos diferentes grupos humanos que agem em cada sociedade.
A ideia de Estado surge exatamente da necessidade de organizar os grupos sociais para que eles 
respeitem uma determinada ordem e, desse modo, vivam em paz e com oportunidade de garantir 
sobrevivência e bem-estar. Subjacente a essa ideia de organização está, evidentemente, a ideia de 
poder, como ele se constitui, se organiza e se mantém.
15
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Quem deve exercer o poder em um determinado grupo social?
Seja em uma tribo ou em uma cidade-Estado, como viviam os gregos, ou em um império, como 
viveram os romanos durante um largo período de tempo, não importa a forma como tenham se 
organizado, quem é que tem legitimidade para mandar e exigir obediência às suas ordens?
O poder deve ser exercido por aqueles que tenham mais força física ou por aqueles que tenham 
mais capacidade intelectual? O poder deve ser exercido isoladamente por um único membro do grupo 
ou deve ser exercido por diferentes membros em sistema de alternância? O poder deve ser absoluto ou 
seguir regras votadas por todo o grupo?
Como podemos perceber, existem muitas questões a serem discutidas e decididas pelos diferentes 
grupos sociais em todo o mundo, sob pena de não conseguirem se organizar de forma eficiente e 
adequada para suas necessidades e para manutenção de seus valores.
Todas essas questões que estamos começando a discutir estão na base da ideia de Estado 
politicamente organizado e, até hoje, podemos afirmar que não foi possível encontrar uma forma de 
governo que atenda todas as necessidades dos homens, que satisfaça todos os anseios de uma vida 
em paz e com garantia de qualidade de vida adequada para atender todas as necessidades dos seres 
humanos. Ao contrário,quanto mais avançamos nas questões de produção e de consumo, quanto 
mais complexas se tornaram as relações na sociedade contemporânea, mais difícil é encontrar uma 
forma de organização de Estado e de governo que agrade a todos os cidadãos, que traga paz social e 
condições dignas de vida para todos.
Na atualidade, em muitos países do mundo, assistimos diariamente a um desfile de problemas 
que estão diretamente relacionados com a organização do Estado e do governo, problemas variados 
e complexos que nos evidenciam que embora tenhamos avançado bastante enquanto sociedades 
organizadas, ainda não conseguimos encontrar formas de garantia da paz e do bem-estar para todos.
A história da humanidade é repleta de conflitos políticos e sociais que nada mais foram do que 
disputas pelo poder. No século XX, duas guerras mundiais convulsionaram a Europa em razão da 
luta pela tentativa de organização de um poder hegemônico, que dominasse grande parte daquele 
território, como pretendeu o nacional-socialismo ou nazismo, como ficou conhecido o movimento 
liderado por Adolf Hitler.
Mas no século XXI, ou seja, nesse exato momento em que vivemos e estudamos sobre trabalho e 
sociabilidade, a mesma Europa vivencia a triste experiência de assistir a grupos de refugiados políticos 
que se lançam em perigosas travessias marítimas ou terrestres para poderem chegar a outros países. 
Alimentam a esperança de encontrar em novos países meios melhores para viver.
16
Unidade I
Figura 2 
Observe a seguir os dados da Agência da Organização das Nações Unidas (ACNUR) sobre refugiados 
em todo o mundo no ano de 2019.
Figura 3 
São milhares de pessoas que deixaram a Síria, por exemplo, para fugir de uma guerra civil que 
teve início em 2010 e que ainda não terminou e gera grande número de mortos e feridos a cada ano, 
além de pessoas que não se sentem seguras naquele país e se refugiam em outro lugar até que a 
guerra termine.
17
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Repare que os sírios foram em 2019 o maior contingente de refugiados segundo o quadro da 
ACNUR, com seis milhões e seiscentos mil pessoas que se tornaram refugiados.
Parte dos europeus é favorável à chegada dos refugiados e defende que eles devem receber 
ajuda humanitária e que esforços sejam realizados para que eles sejam plenamente integrados nos 
novos países. A Turquia, por exemplo, foi o país do mundo que mais recebeu refugiados segundo 
dados da ACNUR.
Existem, porém, países contrários ao recebimento de refugiados, seja em decorrência de problemas 
econômicos que possuem e que poderão vir a ser potencializados em razão da chegada de mais 
pessoas, seja porque temem que entre os refugiados estejam membros de grupos extremistas com 
intenção de viabilizar práticas terroristas.
Os refugiados são diferentes dos imigrantes. Refugiados abandonam seu país porque estão em 
risco, porque podem ser atingidos por guerras internas, atos terroristas, perseguição de governos que 
se opõem às suas tendências políticas ou até mesmo a sua identidade étnica. Refugiados também 
fogem da escassez de alimentos e condições mínimas de vida segura, como acontece nas regiões 
devastadas por acidentes da natureza como terremotos, por exemplo. O Haiti é um dos exemplos mais 
frequentes de país com alto número de refugiados em decorrência das precárias condições sanitárias 
e de segurança alimentar decorrentes de terremotos que devastaram grandes áreas daquele país.
Imigrantes procuram novas opções de vida, de trabalho ou experiências culturais pelas quais 
se sentem atraídos. São diferentes dos refugiados que a rigor, não têm mais opção de vida com 
segurança em seus países e aceitam correr o risco de fugir para outro país em que nem sempre são 
bem recebidos ou morar em acampamentos de refugiados em condições muito precárias.
Figura 4 – Acampamento de refugiados da ACNUR
18
Unidade I
O que fazer com os refugiados?
Esse é um problema complexo para o qual a humanidade não encontrará soluções simples. E não é 
um problema tão distante da realidade brasileira como foi no passado. Leia a nota a seguir publicada 
no portal da ACNUR (2020) em janeiro de 2020:
A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) parabenizou hoje o Governo 
do Brasil pelo reconhecimento de cerca de 17 mil venezuelanos como 
refugiados. A decisão faz parte do procedimento facilitado de prima 
facie aprovado em dezembro de 2019 pelo Comitê Nacional para 
Refugiados (CONARE).
Desde que a primeira decisão do Comitê foi tomada, no início de dezembro, 
venezuelanas e venezuelanos solicitantes da condição de refugiado que 
atenderem aos critérios necessários terão seu procedimento acelerado, 
sem a necessidade de entrevista.
Com a decisão de hoje, foram considerados elegíveis para a condição 
de refugiado pessoas que tiveram até uma saída do Brasil desde 2016. 
Até o momento, mais de 37 mil venezuelanas e venezuelanos foram 
reconhecidos no Brasil, tornando-se o país com o maior número de 
refugiados venezuelanos reconhecidos na América Latina.
As pessoas não podem ter qualquer tipo de permissão de residência, devem 
ter mais de 18 anos, possuir um documento de identidade venezuelano e 
não ter antecedentes criminais.
Tal medida reforça o papel do Brasil na proteção de refugiados na região, 
e deriva do reconhecimento, em junho de 2019, da situação de grave e 
generalizada violação de direitos humanos na Venezuela, em linha com a 
Declaração de Cartagena de 1984 sobre os refugiados.
“O procedimento facilitado para o reconhecimento do status de refugiado 
é uma forma muito eficaz de garantir maior proteção a essas milhares de 
pessoas”, disse o representante da ACNUR no Brasil, José Egas, em Brasília. 
“Essa postura reforça o compromisso do governo brasileiro em garantir 
direitos às milhares de pessoas venezuelanas que buscam proteção no 
Brasil”, ressaltou (ACNUR, 2020).
Como sabemos, a Venezuela tem vivido período histórico de grave crise política e consequentemente 
econômica, que fez com que milhões de pessoas deixassem aquele país na condição de refugiados 
para tentar viver de forma mais segura e digna em outros países. A proximidade geográfica tornou o 
Brasil um dos destinos mais procurados pelos venezuelanos.
19
TRABALHO E SOCIABILIDADE
No passado recente e por motivos semelhantes, foram os bolivianos que deixaram seu país e 
vieram para o Brasil. Segundo dados da Polícia Federal e da Secretaria Municipal de Direitos Humanos 
e Cidadania de São Paulo, são mais de 75 mil bolivianos vivendo na capital do estado (apud SP2, 2020).
Os refugiados abandonam seus países, famílias, pertences, sua cultura, porque não enxergam 
mais possibilidades de vida digna onde estão. Precisam sair para poder tentar uma vida mais segura 
e com melhor qualidade. Quase sempre por trás dessa decisão difícil, estão problemas políticos e 
econômicos e, muitas vezes, é difícil saber qual deles começou primeiro: se o econômico ou o político. 
Mesmo quando se trata de eventos da natureza como furacões, tufões ou terremotos, em países de 
governos mais estáveis e economia produtiva, a recomposição da situação é razoavelmente rápida 
e as vítimas são assistidas naquilo que necessitam, sem que seja preciso fugir. Em países nos quais a 
estrutura econômica e estatal é precária, corroída pela corrupção e pelas práticas de governo pouco 
honestas, não existem recursos para atender as vítimas de tragédias da natureza. Nesses casos, fugir 
é a única solução para muitas pessoas.
A organização política e governamental está, quase sempre, na base dos problemas que a 
humanidade enfrenta e que geram milhões de vítimas em muitas partes do mundo.
Mesmo no Brasil vivemos nos últimos trinta anos problemas políticos e econômicos que têm em 
sua origem dificuldades para organizar o Estado e as formas de governo.
Já há algum tempo que o debate sobre corrupção, impeachment (perda do mandato por crime 
de responsabilidade, entre outros motivos previstos na Constituição Federal), recursos financeiros 
para campanhas políticas, caixa dois(dinheiro não contabilizado para fins tributários) e lavagem de 
dinheiro tomaram conta do cenário político brasileiro, desvendaram práticas de corrupção muito 
antigas e de desvio de dinheiro público lamentáveis e motivaram a população brasileira a participar 
de manifestações de rua que poucas vezes haviam ocorrido com tanta intensidade e quantidade.
Foram muitos momentos na história recente do país em que a população se organizou. 
Atualmente, por meio das redes sociais, foi às ruas das principais cidades do país e manifestou seu 
intenso desagrado pelas práticas de políticos e partidos, pela corrupção em empresas que eram ícones 
em produtividade, como a Petrobras e, principalmente, pelo mau uso do dinheiro público em muitos 
setores da administração governamental. Essas manifestações amplamente divulgadas pela imprensa 
mostraram que o país vive um período verdadeiramente democrático, em que a manifestação do 
pensamento é livre para todos e não pode ser proibida, salvo se praticada com irresponsabilidade ou 
com destruição de patrimônio público ou privado.
Em todas essas situações – guerras, refugiados, corrupção de políticos – as questões de Estado 
e formas de governo estão presentes e são um dos principais pontos do debate. Afinal, a forma de 
organização do Estado e do governo repercute no âmbito político, social e econômico, na geração 
de empregos, na distribuição de renda, na viabilidade de acesso de cada cidadão a uma vida digna ou 
marcada por condições precárias.
20
Unidade I
A depender da forma como o Estado e as formas de governo se organizam e atuam, os cidadãos 
terão melhores condições de acesso à saúde, à educação, à seguridade social, ao emprego, à 
aposentadoria, entre outros direitos sociais que no Brasil estão expressamente colocados no artigo 6º 
da Constituição Federal, lei mais importante do país.
Assim, é essencial conhecer a formação histórica e política do Estado e as formas de governo, porque 
isso pode aprimorar nossa percepção sobre diferentes situações políticas, históricas e sociais e auxiliar a 
construir opiniões críticas e propostas profissionais mais adequadas e eficientes em serviço social.
1.1 Formação do Estado e das formas de governo
A ideia de Estado está entre as mais antigas no pensamento político mundial.
Como vimos anteriormente, a opção por viver em grupo e de forma organizada foi adotada pelos 
primeiros seres humanos que habitaram o planeta Terra, mas, nem por isso, deixou de ser uma forma 
de vida marcada por embates e tensões, porque a luta pelo poder é um traço marcante na vivência 
dos diferentes grupos sociais.
Os estudos e pesquisas apontam que em cada um dos períodos da história da humanidade, 
existiram grupos e lideranças que foram responsáveis pela organização social, com o objetivo de 
garantir a preservação e a sobrevivência da espécie humana.
É razoável pensar que nos períodos mais antigos, o poder fosse exercido pelos mais fortes, por 
aqueles em melhores condições físicas para impor pela força a liderança das atividades sociais. 
Mas as atribuições dos grupos sociais foram se tornando complexas com a incorporação da tecnologia 
na agricultura, produção de excedentes, necessidade de construção de habitações nos lugares em 
que a produção agrícola era mais importante, organização dos grupos sociais que passaram a dividir 
o mesmo espaço territorial e a produção, ou seja, uma gama de novas necessidades que a cada 
momento eram incorporadas à vida dos homens e dos grupamentos sociais.
O desenvolvimento de técnicas e instrumentos para a prática da agricultura marca um importante 
momento da história da humanidade e, quase sempre, é tratado de forma muito detalhada pelos 
historiadores que associam as práticas agrícolas com melhoria de vida para a humanidade que, afinal, 
passava a ter o domínio da produção de alimentos e não estaria mais sob o risco de passar fome ou 
ter que usar a força física para ter acesso a meios de sobrevivência.
Há, no entanto, quem discorde do fato de que as técnicas e instrumentos agrícolas tenham sido 
benéficos para a humanidade. Essa opinião polêmica é de Yuval Noah Harari e é importante conhecê-lo 
porque o confronto de ideias é sempre uma forma positiva para construirmos reflexões ampliadas e 
que nos permitam avaliar diferentes pontos de vista.
21
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Harari polemiza ao afirmar:
 
Acadêmicos um dia declararam que a Revolução Agrícola foi um grande 
salto para a humanidade. Eles contaram uma história de progresso 
alimentado pela capacidade intelectual humana. A evolução, pouco a 
pouco, produziu pessoas cada vez mais inteligentes. As pessoas acabaram 
por se tornar tão inteligentes que foram capazes de decifrar segredos da 
natureza, o que lhes permitiu domar ovelhas e cultivar trigo. Assim que 
isso ocorreu, elas abandonaram alegremente a vida espartana, perigosa 
e muitas vezes parca dos caçadores-coletores, estabelecendo-se em uma 
região para aproveitar a vida farta e agradável dos agricultores.
Essa história é uma fantasia. Não há indícios de que as pessoas tenham 
se tornado mais inteligentes com o tempo. Os caçadores-coletores 
conheciam os segredos da natureza muito antes da Revolução Agrícola, 
já que sua sobrevivência dependia de um conhecimento íntimo dos 
animas que eles caçavam e das plantas que eles coletavam. Em vez 
de prenunciar uma nova era de vida tranquila, a Revolução Agrícola 
proporcionou aos agricultores uma vida em geral mais difícil e menos 
gratificante que a dos caçadores-coletores. Estes passavam o tempo com 
atividades mais variadas e estimulantes e estavam menos expostos à 
ameaça de fome e doença. A Revolução Agrícola certamente aumentou 
o total de alimentos à disposição da humanidade, mas os alimentos 
extras não se traduziram em uma dieta melhor ou em mais lazer. Em vez 
disso, se traduziram em explosões populacionais e elites favorecidas. Em 
média, um agricultor trabalhava mais que um caçador-coletor e obtinha 
em troca uma dieta pior. A Revolução Agrícola foi a maior fraude da 
história (HARARI, 2016, p. 88).
Sem dúvida é uma opinião polêmica e exatamente por isso é tão importante. Provoca reflexões e 
propõe que façamos mais pesquisa sobre o tema para aprofundar nosso conhecimento e conseguir 
opinar com fundamentação. De todo modo, para nós que estamos estudando trabalho e sociabilidade 
ao longo da trajetória histórica da humanidade, a compreensão de que a agricultura não foi apenas 
solução, mas também fonte de conflitos entre os diferentes atores históricos, é muito importante. 
Aliás, conflitos que em boa medida ainda não foram satisfatoriamente solucionados no mundo 
contemporâneo em muitas regiões do planeta, como no Brasil, em que ainda temos expressivos 
conflitos sobre o uso e a posse da terra, latifúndios, áreas improdutivas e tantos outros problemas. 
Voltaremos a esse tema um pouco mais à frente.
22
Unidade I
Figura 5 
Os diferentes períodos de organização social foram se sucedendo, das tribos para grupos 
maiores e produtores até chegar à sociedade em que vivemos e à organização política do Estado 
como conhecemos em nossos dias, a trajetória da humanidade foi longa e marcada por muitas 
tentativas e erros.
Nosso maior interesse, nesse momento, é o estudo do Estado, sua formação e suas principais 
características, porque o objetivo é explorar esse conhecimento a partir da perspectiva das relações 
de trabalho e sociabilidade. É o Estado por meio de leis que organiza as relações de trabalho e muitas 
outras relações sociais, mesmo as de caráter mais privado como casamento, separação, sucessão 
de bens, guarda de filhos e outras. A presença do Estado é antiga na história da humanidade e é 
importante compreender como essa ideia se consolidou.
Para isso vamos precisar de aportes teóricos das ciências políticas, da sociologia, do direito. Todas 
essas ciências têm contribuições para que seja possível estabelecer amplo diálogo com o serviço 
social e, assim, alargar as condições de análise e projetosde ação.
Vamos estudar a fase do absolutismo, as revoluções liberais e a formação do Estado a partir de 
pensadores que se destacaram na construção de importantes abordagens e conceitos.
1.2 O absolutismo
O final do período histórico da Idade Média foi marcado pelo ressurgimento das práticas de 
comércio e muito em especial pela organização de grandes feiras em diferentes regiões da Europa, 
com a presença de inúmeros mercadores.
Em razão da atividade comercial, surgiram importantes cidades, muitas das quais conhecemos até 
hoje, como Veneza e Gênova, na Itália; Bruges, na Bélgica; Colônia, na Alemanha, entre outras.
23
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Saes e Saes explicam como se organizava a atividade econômica nessas regiões:
 
Diferentemente do campo, nas cidades não existia servidão. E, embora 
muitas cidades tivessem se formado em terras de senhores feudais 
(devendo obrigações em relação a eles), a grande maioria tornou-se 
autônoma com base em uma carta de franquia concedida pelo senhor 
territorial (ou obtida por compra ou pela força das cidades).
A organização da atividade econômica nas cidades seguia um padrão 
geral que comportava desvios em função das características peculiares de 
algumas delas. O artesanato e o comércio estruturavam-se nas chamadas 
corporações de ofício (guildas). A corporação tinha o monopólio do 
exercício do ofício no âmbito municipal. Assim, para cada ofício havia 
uma corporação que define as regras de acesso ao ofício. Em cada ofício, 
havia uma hierarquia: mestres, companheiros e aprendizes. Os mestres 
eram os únicos autorizados a manter uma oficina ou loja na cidade. Para 
ser considerado mestre do ofício, era preciso, antes de mais nada, ter 
completado o aprendizado do ofício e demonstrá-lo perante o governo 
da corporação. Em certas circunstâncias, a corporação poderia fazer 
outras exigências, inclusive de natureza econômica, se houve interesse em 
restringir o número de mestres naquele ofício. Portanto, ao controlar o 
número de mestres de ofício, a corporação também controlava o volume 
de produção, estabelecendo o monopólio da corporação sobre aquele 
tipo de produto. Além disso, a corporação também podia impor normas 
sobre o preço e a qualidade do produto, evitando qualquer tipo de 
concorrência entre os mestres vinculados à corporação.
Os aprendizes eram jovens, em geral filhos ou familiares de mestres, que 
viviam em suas casas e trabalhavam em suas oficinas com o objetivo de 
aprender o ofício. Concluído o aprendizado – e não sendo admitidos à 
condição de mestre – caracterizavam-se como companheiros: artesãos já 
qualificados para o ofício, mas que deviam trabalhar para um mestre em 
troca de remuneração (e, muitas vezes, vivendo na própria casa do mestre) 
(SAES; SAES, 2013, p. 65).
Vários aspectos importantes podem ser extraídos desse trecho da obra de Saes e Saes. O primeiro 
é a descrição do funcionamento das corporações de ofício ou guildas, que mostra a existência de 
uma hierarquia muito bem organizada e com o objetivo de estabelecer reserva de mercado, ou seja, 
restrição ao surgimento da concorrência.
A hierarquia das corporações de ofício era forte a ponto de determinar quem poderia e quem 
não poderia exercer determinada atividade profissional e quem poderia ou não organizar uma loja 
ou oficina de trabalho. Essas ideias seriam insustentáveis no mundo em que vivemos, marcado pela 
liberdade da atividade profissional e empresarial e pela forte concorrência como forma de proteção 
24
Unidade I
dos consumidores, porque, afinal, onde há concorrência, há, teoricamente, disputa para oferecer a 
melhor qualidade pelo melhor preço e, com isso, conquistar maior número de consumidores.
Outro aspecto relevante da lição de Saes e Saes é a prática do nepotismo, o favoritismo de 
parentes, que costumamos encontrar em práticas escusas na administração pública contemporânea 
– políticos eleitos que indicam parentes como assessores ou secretários de gabinete –, mas que nas 
corporações de ofício eram praticados pelos próprios organizadores em benefícios de seus filhos ou 
familiares próximos.
É importante observar, ainda, que a organização dos trabalhadores é antiga e teve início antes do 
processo de industrialização.
No plano político, o final da Idade Média, séculos XI a XV, foi marcado pela centralização do 
poder. O poder fragmentado dos senhores feudais e a universalidade da Igreja foi substituído pela 
centralização política exercida pela monarquia que passa a ter o poder político, militar e administrativo. 
Essa passagem de modelo de organização social não ocorre ao mesmo tempo em todas as regiões da 
Europa, mas, paulatinamente, ganha força e se estabelece como forma predominante.
Figura 6 – Porto de Gênova, Itália
O absolutismo não se firmou apenas por razões de ordem política, militar ou administrativa. 
A produção econômica exerceu influência marcante como explica Adhemar Marques:
 
[...] a centralização também atendeu às aspirações da nascente 
burguesia, interessada na unificação dos mercados e da moeda, na 
proteção contra a concorrência de comerciantes estrangeiros e na 
existência de uma legislação única, válida para todo o território nacional 
(MARQUES, 2016, p. 97).
25
TRABALHO E SOCIABILIDADE
De fato, uma das correntes históricas que explica o fortalecimento do absolutismo fundamenta 
suas explicações no fato de a burguesia ter se aliado aos reis para conseguir melhores condições para 
o comércio. Saes e Saes ao analisarem essa hipótese histórica relatam:
 
A fragmentação política típica da época feudal havia criado unidades 
autônomas em grande número, o que dificultava a circulação mercantil 
(...). Por exemplo, o transporte de mercadorias entre dois pontos da Europa 
exigia a passagem por várias unidades políticas autônomas (principados, 
ducados, condados etc.), com a cobrança, em cada uma delas, de pedágios e 
outros tributos. Além disso, a diversidade de moedas também tornava mais 
difícil o comércio entre várias regiões. A unificação de uma área mais ou 
menos vasta num Estado centralizado reduziria os problemas decorrentes 
da excessiva fragmentação política. Nesse sentido, é plausível afirmar que 
havia alguma oposição de interesses entre a nobreza feudal e a burguesia 
comercial em certas esferas da atividade econômica, justificando a ligação 
entre monarcas absolutos emergentes e a burguesia comercial. Ou seja, a 
burguesia daria seu apoio a um nobre pertencente a uma velha dinastia 
monárquica (ou a qualquer nobre com a pretensão de se tornar rei) na 
luta contra a nobreza feudal. Por seu turno, o rei (ou aquele que pretendia 
se tornar rei) dependia de recursos, em grande parte fornecidos pela 
burguesia comercial (SAES; SAES, 2013, p. 82).
O poder dos monarcas foi construído, assim, com o apoio da Igreja, cujos clérigos ocupavam 
lugar de destaque junto aos reis, pela burguesia comercial, que tinha interesse em aumentar seus 
lucros e diminuir impostos e também pelos membros da aristocracia, que tinham interesse em possuir 
privilégios que variavam da isenção de impostos a cargos de representação política. Uma aliança 
que vigorou por um bom tempo, mas que foi substituída quando novos interesses começaram a se 
construir de maneira mais forte.
Souto Maior traça as principais características do absolutismo e, com isso, facilita a nossa 
compreensão sobre as razões que levaram esse sistema a ser modificado. Ele afirma:
 
[...] o absolutismo estabeleceu-se apoiado na burguesia, havendo a 
realeza dominado a antiga nobreza feudal. Teoricamente fora inspirado 
pelos legistas da Idade Média e posteriormente pelos juristas modernos, 
os quais, baseados no princípio fundamental de que a “ordem” é o bem 
supremo de qualquer sociedade, afirmavam também governarem os reis 
por direito divino. De Deus receberiam os soberanos os seus mandamentos, 
competindo aos seus súditos obediência passiva à vontade de seu 
governante (SOUTO MAIOR, 1976, p. 309).
Tanto poder não demorou a causar conflitos, em especial,com a burguesia, que desejava maior 
liberdade para desenvolver suas atividades de comércio. As revoluções contra o absolutismo foram 
chamadas de revoluções burguesas exatamente por isso: foram lideradas por burgueses insatisfeitos 
26
Unidade I
com as práticas despóticas dos reis e, principalmente, com as regras que os impediam de ter maior 
lucratividade com suas atividades mercantis.
Vamos conhecer brevemente os principais aspectos das três revoluções mais importantes que 
determinaram o fim do absolutismo e a construção do Estado das leis, com alguma semelhança com 
o que conhecemos na atualidade.
1.3 Revoluções burguesas: Inglaterra, Estados Unidos e França
A primeira revolução burguesa correu no período de 1640 a 1688, na Inglaterra. Aquela sociedade 
fortemente hierarquizada e pródiga em manter privilégios de nascimento – apenas para os membros 
da realeza –, começava a perder a força. Os revolucionários eram homens que queriam assumir o 
protagonismo das decisões políticas e econômicas e não queriam mais se sujeitar aos mandos e 
desmandos de reis e rainhas. Além disso, desejavam maior estabilidade do poder político sem tantas 
guerras entre os descendentes da realeza para estabelecer de quem seria o poder, porque a instabilidade 
política era muito negativa para o desenvolvimento das atividades econômicas.
A burguesia e a realeza tinham projetos políticos e econômicos diferentes, e a forma encontrada 
para conciliá-los foi a criação de uma monarquia constitucional, ou seja, o rei poderia continuar 
reinando, porém, teria que obedecer às leis criadas por representantes do povo, eleitos para essa 
finalidade. Com isso, o arbítrio seria menor, porque as leis eram conhecidas de todos e a estabilidade 
poderia ser alcançada. De certa forma, o poder político mudou de mãos porque o rei não decidia 
mais sozinho, precisava obedecer à Constituição e tinha que ouvir o povo e dialogar com o 
Poder Legislativo.
A burguesia, os pequenos proprietários de terras e as massas populares apoiaram o poder legislativo 
e, em consequência, o poder absoluto do rei ficou enfraquecido.
A Declaração de Direitos de 1689, conhecida em inglês como Bill of Rights, foi o marco principal 
da Revolução Inglesa. Trata-se de uma declaração de direitos com o objetivo de limitar o poder do 
monarca e aumentar a influência do poder legislativo, ou parlamento, como esse poder é chamado 
até hoje na Inglaterra.
A Declaração de Direitos foi aprovada no ano de 1689 e procurou garantir:
• que a estrutura do sistema de poder fosse organizada pela existência de três poderes, Legislativo, 
Executivo e Judiciário, em que o primeiro-ministro escolhido pelo Parlamento governava e 
o rei apenas representava o Estado. Esse modelo permanece em vigor até hoje na Inglaterra. 
A rainha tem obrigações de representação do país, mas não governa. O poder de governar é do 
primeiro-ministro escolhido pelo parlamento;
• que os cidadãos dispusessem de direitos individuais, em especial o de ter direito à propriedade 
privada de bens;
27
TRABALHO E SOCIABILIDADE
• que houvesse liberdade de imprensa;
• que as leis só pudessem entrar em vigor se aprovadas pelo poder legislativo;
• que o poder judiciário tivesse independência para julgar sem nenhuma interferência do rei;
• que o rei não obtivesse e nem utilizasse recursos públicos para uso pessoal, sem prévia aprovação 
do Poder Legislativo.
Em resumo, o documento denominado Bill of Rights colocou o rei no mesmo patamar de 
importância e de direitos do cidadão comum, representado no parlamento e protegido pelas leis. 
Isso foi uma mudança extraordinária e representou um marco na luta por igualdade de direitos e por 
organização justa das sociedades.
A revolução burguesa da Inglaterra foi um exemplo para outros países e contribuiu para 
incentivar a luta por mudanças, tanto na esfera de poder político como na autonomia para as 
atividades econômicas.
A segunda revolução burguesa ocorreu nos Estados Unidos da América e culminou com a 
Declaração de Independência, em 4 de julho de 1776, quando os norte-americanos declararam sua 
liberdade em relação à Inglaterra, de quem até então eram colônia.
O conflito que culminou com a revolução pela independência teve origem em razões de ordem 
econômica. A Inglaterra havia passado muito tempo em guerra e estava com suas finanças corroídas, 
por isso aumentou impostos em relação às mercadorias produzidas nos Estados Unidos, que à época 
era chamado de Treze Colônias, também reduziu a liberdade econômica da colônia.
Os norte-americanos não estavam dispostos a pagar maiores tributos e nem a reduzirem sua 
liberdade mercantil, por isso declararam a independência em relação à Inglaterra e afirmaram no 
texto da Declaração de Independência que o que o rei inglês havia violado os direitos mais básicos da 
liberdade, o que tornava insustentável a continuidade da relação colonial.
A Declaração de Independência norte-americana é semelhante ao relatório de uma sentença 
judicial, porque menciona os fatos um a um para concluir, ao final, que não existia outra opção a não 
ser a Declaração de Independência. É no mínimo uma forma elegante de separação política, porque 
permitiu aos ingleses conhecerem, de forma objetiva e muito clara, a motivação da separação política 
que estava sendo concretizada.
Vale a pena conhecer um trecho da Declaração de Independência norte-americana. Leia 
atentamente para poder analisar:
 
28
Unidade I
Quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna necessário a 
um povo dissolver os laços políticos que o ligavam a outro, e assumir, 
entre os poderes da Terra, posição igual e separada, a que lhe dão direito 
as leis da natureza e as do Deus da natureza, o respeito digno para 
com as opiniões dos homens exige que se declarem as causas que os levam 
a essa separação.
Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos 
os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos 
inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade.
Que a fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os 
homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos governados; 
que, sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins,
Cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, 
baseando-o em tais princípios e organizando-lhe os poderes pela forma que 
lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade.
Na realidade, a prudência recomenda que não se mudem os governos 
instituídos há muito tempo por motivos leves e passageiros; e, assim sendo, 
toda experiência tem mostrado que os homens estão mais dispostos a 
sofrer, enquanto os males são suportáveis, do que a se desagravar, abolindo 
as formas a que se acostumaram. Mas quando uma longa série de abusos 
e usurpações, perseguindo invariavelmente o mesmo objeto, indica o 
desígnio de reduzi-los ao despotismo absoluto, assistem-lhes o direito 
bem como o dever de abolir tais governos e instituir novos Guardiães para 
sua futura segurança. Tal tem sido o sofrimento paciente destas colônias 
e tal agora a necessidade que as força a alterar os sistemas anteriores de 
governo. A história do atual rei da Grã-Bretanha compõe-se de repetidas 
injúrias e usurpações, tendo todas por objetivo direto o estabelecimento 
da tirania absoluta sobre estes Estados (HANCOCK, [s.d.]).
Os norte-americanos decidiram que seriam um Estado independente no qual viveriam homens 
que haviam sido criados iguais e dotados pelo Criador dos mesmos direitos inalienáveis à vida, à 
liberdade e à procura da felicidade. O governo passaria a ser instituído com o objetivo de preservar 
esses direitos inalienáveis e, nos casos em que o governo se tornasse destrutivo desses fins, poderia o 
povo estabelecer um novo governo, sempre baseado nesses princípios imutáveis e importantes para 
todo o povo.
29
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Figura 7 – Monumento no Monte Rushmore, noestado de Dakota do Sul, em homenagem 
a presidentes famosos dos Estados Unidos, entre eles George Washington, 
primeiro presidente, no período de 1789 a 1797
A terceira revolução denominada burguesa foi a Revolução Francesa que teve início com o 
episódio que ficou conhecido como Queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789. A Bastilha era uma 
prisão situada em Paris, capital da França, e seu prédio foi demolido. Simbolicamente, na atualidade, 
no lugar em que se encontrava a Bastilha, existe um prédio estatal; na praça em frente ao prédio, há 
uma torre, que tem na ponta uma estátua que representa a liberdade.
Os historiadores apontam que o absolutismo na França foi marcado por inúmeros exemplos de 
irresponsabilidade e arbítrio dos reis, que resultaram em miséria e revolta do povo francês. Isso explica 
em parte porque a monarquia era odiada pelo povo e a violência imperou na revolução. Além da 
camada popular que vivia na miséria em razão dos desmandos da monarquia, também a burguesia 
estava insatisfeita, porque esses mesmos desmandos impediam o desenvolvimento das atividades 
econômicas, em especial do comércio.
Os reis franceses acreditavam que o poder se resumia à vontade deles e, em consequência, se 
consideravam no direito de vida e morte sobre as pessoas e de se apropriarem de todos os bens 
que considerassem necessários para seu bem-estar. Isso não poderia durar muito tempo e, de fato, 
não durou. Afinal, grande parte da população vivia em situação de total penúria, sem ter o mínimo 
necessário para sua sobrevivência.
De outro lado, a burguesia na França era muito forte, porque tinha o controle sobre o comércio, 
a indústria e as finanças, mas não tinha o poder político que desejava. O caminho mais curto para 
concretizar o projeto burguês de maior liberdade para agir foi derrubar a monarquia e, para isso, se 
uniu ao povo. A motivação era diferente, porém, naquele momento, a união de interesses foi mais 
forte e o resultado, positivo. Depois disso, a burguesia angariou maior poder, e a população voltou a 
sofrer com as dificuldades de subsistência.
30
Unidade I
As palavras que marcam a Revolução Francesa são “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. E a 
exemplo dos ingleses e norte-americanos, a revolução também produziu uma Declaração de Direitos 
do Homem e do Cidadão, votada pelos parlamentares franceses em 26 de agosto de 1789. Foi, sem 
dúvida, inspirada nas duas declarações anteriores.
Vale a pena conhecer as primeiras linhas da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão da 
França, de 1789:
Os representantes do povo francês, reunidos em Assembleia Nacional, 
considerando que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos 
do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos 
governos, resolveram expor, em uma Declaração solene, os direitos 
naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que essa Declaração, 
constantemente presente junto a todos os membros do corpo social, 
lembre-lhes permanentemente seus direitos e deveres; a fim de que os atos 
do Poder Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser, a todo instante, 
comparados ao objetivo de qualquer instituição política, sejam por isso mais 
respeitados; a fim de que as reivindicações dos cidadãos, doravante fundadas 
em princípios simples e incontestáveis, estejam sempre voltadas para a 
preservação da Constituição e para a felicidade geral (DECLARAÇÃO..., [s.d.]).
Como é possível constatar, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão colocou a lei 
acima de tudo, para ser cumprida por governantes e pelos cidadãos, de forma a garantir o que eles 
denominaram de “felicidade geral”.
As revoluções burguesas marcaram o fim do absolutismo. É possível perceber, ainda, que o 
surgimento do Estado da forma como o conhecemos hoje, com estabelecimento de leis de cumprimento 
obrigatório para todos, e de poderes que devem atuar de forma independente e colaborativa 
– Legislativo, Executivo e Judiciário –, foi decorrente de inúmeras mudanças ocorridas na ordem 
social, econômica e política ao longo da história.
As diversas maneiras como os grupos sociais se organizaram, produziram economicamente para 
sua subsistência e para a troca quando tiveram excedentes, e a forma como estabeleceram regras 
para o poder político, tudo isso criou as bases para a formação do Estado como o conhecemos hoje.
 Lembrete
Absolutismo é o período histórico que se caracteriza pelo fato de 
que os reis detinham poder de vida e morte sobre seus súditos. Os reis 
acreditavam que eram ungidos por Deus para ocupar o poder. O fim 
do absolutismo foi o momento propício para o nascimento do Estado 
fundado em leis que estabeleciam direitos e deveres para todos.
31
TRABALHO E SOCIABILIDADE
1.4 Os principais pensadores do Estado moderno
Maquiavel, Hobbes, Locke e Rousseau são considerados os principais pensadores teóricos 
da formação do Estado moderno. Conhecer o pensamento e as teorias que eles construíram será 
importante para a compreensão do que estamos estudando: o trabalho e a sociabilidade ao longo da 
trajetória histórica da humanidade.
Entre as várias teorias criadas para explicar o Estado, talvez a mais conhecida seja a teoria do contrato 
social, que tem na obra de Jean-Jacques Rousseau que leva o mesmo nome – O contrato social –, um 
estudo até hoje bastante debatido entre os estudiosos.
Mas Rousseau não foi o primeiro estudioso a propor essa ideia. Antes dele, dois outros pensadores 
justificaram a organização política social a partir da formação de um contrato entre as pessoas que 
desejavam viver em sociedades organizadas e, com isso, abrir mão de uma parte de sua liberdade em 
troca de segurança e garantia para seus direitos.
Essa é a ideia central que orienta a formação do Estado: todos terão direitos e deveres, o que 
significa que terão de agir em conformidade com as leis aprovadas por aquele grupo social e que serão 
de cumprimento obrigatório para todos, independentemente do poder econômico, político ou social de 
cada um.
O primeiro a estudar e teorizar sobre o Estado foi Thomas Hobbes, inglês, nascido em 1588 e 
falecido em 1679. Foi filósofo e cientista político e viveu em um período especialmente conturbado 
da história da Inglaterra, marcado por guerras e disputas de poder político.
Hobbes escreveu uma obra considerada fundamental para a compreensão do Estado, o livro se 
chama Leviatã e faz alusão a um monstro bíblico. A capa da primeira edição do livro em 1642 tinha 
a imagem do Leviatã.
O Leviatã, na visão de Hobbes, representaria o Estado como um homem artificial dotado de 
escamas, que são seus súditos. Hobbes era um adepto do absolutismo, e o Leviatã representava que a 
vontade dos súditos deve ser restrita. Por meio de um pacto social, os súditos outorgariam ao Estado 
o poder soberano para que o exercesse conforme a vontade do governante.
Hobbes tinha seu entendimento no sentido de que a humanidade, naturalmente, tende a viver 
em conflito porque todos os homens desejam ter direitos ilimitados. O exercício de direitos ilimitados 
gera luta pelo poder, insegurança e guerras.
Por acreditar nessa tendência natural da humanidade, Hobbes afirmava que “O homem é o lobo 
do homem”, frase que ficou bastante famosa e, não raro, é utilizada ainda em nossos dias. Para esse 
pensador, o homem em estado de natureza é um ser que age na concretização de seus próprios 
interesses, sem se importar com os demais. Para obter o que acredita que tem direito, o homem 
emprega a força e pode, inclusive, matar outros homens, pois não há limites para a sua ação.
32
Unidade I
Se a tendência natural do homem é pelo uso da força para garantia de direitos ilimitados, a 
necessidade de autopreservação faz com que o homem concorde em viver sob o comando de um 
Estado, ao qual caberá organizar direitos e deveres com o objetivo de preservar a segurança de todos.
O Estado para Hobbes é o poder comum que garante segurança para todos os homens, que 
reduz os direitos de forma coercitiva porquepune aqueles que não cumprem as regras, mas, ao 
mesmo tempo, se aplica a todos. Os homens concordam em se submeter voluntariamente ao poder 
do Estado para alcançar o objetivo de viver em paz, harmonia e construir progresso material por 
meio do desenvolvimento de atividades econômicas.
 Saiba mais
Pesquise na internet a capa do livro Leviatã para conhecer a figura do 
monstro bíblico e suas escamas de pessoas. É uma imagem impactante que 
vale a pena conhecer e que nos provoca interessantes reflexões. Assista 
também ao filme que propõe importantes temas de reflexão sobre a relação 
do cidadão comum com o Estado:
LEVIATÃ. Direção: Andrey Zvyagintsev. Rússia: Non-Stop Productions; 
A Company Russia, 2015. 140 minutos.
John Locke, que nasceu em 1632, em Bristol, Inglaterra, e faleceu em 1704, é outro importante 
pensador da teoria do Estado. Ele estudou em Westminster e Oxford, escolas inglesas muito tradicionais 
onde estudaram os representantes da elite econômica e política. Exerceu vários cargos políticos e 
viveu na França de 1674 a 1679. Depois foi obrigado a se exilar na Holanda, em 1683, em decorrência 
de perseguições políticas, e só retornou à Inglaterra em 1689. Suas principais reflexões ocorreram 
durante o período de conflitos vividos pela Inglaterra no século XVII.
Locke se opunha ao absolutismo e foi exatamente por isso que teve de se refugiar na Holanda 
durante um período de tempo. Só retornou à Inglaterra após o triunfo da revolução burguesa e a 
mudança das relações de poder naquele país.
Para Locke, o homem vivia em um estado de natureza onde era livre e só concorda em sair dessa 
situação para firmar um acordo, um contrato social, por meio do qual todas as pessoas terão direitos 
e obrigações, sem privilégios de nascimento ou de qualquer outra natureza.
A diferença no pensamento de Hobbes e de Locke é que, para este, o estado de natureza não era o 
espaço de conflitos e de medo; ao contrário, era uma situação de relativa paz e harmonia. Para Locke, 
a guerra entre os homens no estado de natureza era apenas uma possibilidade, porque não acreditava 
na teoria de que os homens poderiam se destruir por qualquer motivo. A possibilidade existia, mas 
não foi o medo o fator determinante para que os homens decidissem viver no regime de direitos e 
33
TRABALHO E SOCIABILIDADE
deveres, sob a organização do Estado. O fator que determina a opção pela organização da vida em um 
Estado é a garantia de estabilidade no governo e a tranquilidade social.
Viver em sociedade é melhor para Locke com a organização de um poder central e a escolha de 
juízes para solucionarem eventuais conflitos.
Um aspecto muito importante para os nossos estudos é que Locke define a propriedade como um 
direito amplo, que inclui a vida, a liberdade e os bens. Por isso é que as sociedades precisam de 
um governo que proteja o direito de propriedade de seus cidadãos. O mais importante direito do estado 
de natureza é mantido pelo Estado, que é o direito de propriedade; e o único direito retirado dos homens 
é o de realizar justiça por conta própria utilizando a força física. Esse direito é subtraído dos indivíduos, 
mas é garantido ao Estado, porque Locke acredita que este deve possuir poder de vida e morte sobre 
aqueles que a ele se submetem.
Para Locke, ao ingressar na vida em sociedade, os indivíduos conservam o direito de propriedade 
que nasce no estado de natureza, na medida que é um direito que não depende do reconhecimento 
de outros, mas da ação do trabalho. Ele se refere à propriedade da terra e acredita que ela deve 
pertencer àqueles que nela trabalham e produzem.
Ele defende, ainda, que o Estado não tem poder contra a propriedade e deve respeitá-la e protegê-la. 
Podem imaginar como essas ideias agradaram a burguesia?
É claro que agradaram porque a burguesia tinha como objetivo que a propriedade fosse 
respeitada por todos, inclusive pelo Estado, a quem caberia também defendê-la de ameaças. Não há 
produção econômica sem segurança política! Aliás, uma lição que se mantém até hoje na sociedade 
contemporânea em que vivemos.
John Locke acredita que a propriedade é um direito que os homens possuem pelo simples fato 
de existirem. Não é o Estado e nem a sociedade que criam a propriedade privada, é a capacidade de 
trabalho de cada ser humano. Ao Estado, compete apenas respeitar e fazer respeitar o direito 
de propriedade.
Para ele, o homem se torna proprietário da terra pelo trabalho e deve ser dono do local em que 
trabalha. Ele destaca que é o esforço pelo trabalho que torna o homem proprietário da terra, por isso, 
ela é um direito natural.
Assim, para Locke, a vida na sociedade organizada tem por objetivo principal proteger o direito 
natural, que é, fundamentalmente, o direito de propriedade. Ele afirma que o Estado será tirânico 
todas as vezes em que desrespeitar a propriedade, e nessas situações o indivíduo terá direito de 
resistir, de se voltar contra o Estado porque estará ancorado em um direito natural.
Por essas ideias e convicções, John Locke é considerado o fundador da doutrina política liberal, 
que vamos estudar aqui.
34
Unidade I
As ideias de Locke nos permitem refletir sobre o fato de que a propriedade como um direito natural 
de quem trabalha nela é uma concepção muito antiga na trajetória da humanidade. Com o passar do 
tempo, nos países de matriz econômica capitalista, essa ideia foi substituída por propriedade como 
direito de quem a adquire, e não de quem trabalha. Esse é um ponto de conflito ainda presente em 
muitos países como no Brasil, por exemplo.
A maior parte dos trabalhadores na agricultura e na pecuária não são donos da terra e nem 
sempre são remunerados de forma adequada para garantir sua subsistência com dignidade. 
Ao mesmo tempo, na atualidade, a produção econômica globalizada incentiva a utilização de 
tecnologia na agricultura e na pecuária, o que torna os investimentos mais vultosos e acessíveis 
apenas aos grandes grupos econômicos.
Figura 8 
O último pensador importante da teoria do contrato social como fundamento para a organização 
Estado é Jean-Jacques Rousseau, que nasceu em 1712 em Genebra, que era uma república protestante, 
e faleceu em 1778, em Paris. Sua mãe morreu no seu parto e seu pai era um relojoeiro sem muitas 
posses, por isso Rousseau teve infância pobre, seu pai teve que se exilar por motivos políticos. Sem o 
pai, ele foi obrigado a viver com um familiar e depois em abrigos e orfanatos, uma vida difícil e sofrida, 
que marcou sua existência.
Rousseau viveu no chamado Século das Luzes, ou seja, no século XVIII, período em que a ciência e 
o conhecimento passaram a ser muito valorizados como resultado da ação humana, da racionalidade 
e do uso do método científico, comprobatório das teorias e experiências. Foi um período em que a 
humanidade abandonou as ideias de predeterminação próprias da Idade Média e passou a valorizar o 
uso da razão, da ciência, como forma de conseguir progresso.
35
TRABALHO E SOCIABILIDADE
Essa fase histórica, que também é chamada de Iluminismo, foi marcada pela utilização do raciocínio 
lógico e objetivo em todas as áreas do conhecimento e pelo abandono das crendices e superstições, 
que não combinavam com a racionalidade que era vista como a base do desenvolvimento econômico, 
científico e social.
 Lembrete
O Iluminismo foi um período marcante para a construção das grandes 
ideias sobre política e sociedade. Muitos filósofos importantes como 
Voltaire (1694-1778), Diderot (1713-1784), D’Alembert (1717-1783), 
entre outros, contribuíram com suas reflexões para a formação do 
Estado moderno e da organização social e política que conhecemos até 
nossos dias.
Apesar de ter vivido nesse período, Rousseau acreditava que o homem selvagem, ou seja, quando 
vivia no estado de natureza, sem leis e sem a organização do Estado, era livre e feliz porque tinha 
plena liberdade. Para ele, o homem natural é o bom selvagem, ideia totalmente diferente daquela que 
aprendemos em Hobbes, para quem“o homem era o lobo do homem”.
Por qual razão, então, o homem teria concordado em viver em sociedade e sob um regime de leis 
se ele era mais feliz antes? Bem, Rousseau acreditava que a apropriação de conhecimento nas áreas 
de metalurgia e agricultura tinha sido possível apenas para alguns homens, e não para todos. Isso 
teria criado uma divisão no trabalho e, em consequência, os homens com maior conhecimento de 
técnicas agrícolas e de metalurgia haviam se tornado mais poderosos que os demais.
Para ele, é nesse momento que os bens da natureza, antes disponíveis para o uso de todos, passam 
a ser propriedade somente de alguns. E, no pensamento de Rousseau, disso decorrem a escravidão e a 
miséria e também os conflitos sociais.
É importante refletir sobre como as ideias de Rousseau são atuais e ainda podem estar na base da 
compreensão do mundo contemporâneo, principalmente para a construção da crítica da meritocracia, 
tema sobre o qual refletiremos adiante.
No livro O contrato social, Rousseau reflete sobre a possibilidade de construção de uma nova ordem 
jurídica, política e social. Uma sociedade radicalmente democrática, fundamentada na vontade geral 
como elemento fundamental de sua existência e organização. Para ele, a vontade geral dos homens 
é a única vontade legítima, e a vida em sociedade deve ter por função a realização do bem comum.
Para Rousseau, o Estado deve ser o resultado da participação ativa dos homens, e o governo deve 
ser subordinado ao povo e exercido pelos membros da sociedade. Ele acredita que a participação 
política do povo deve ocorrer de forma direta e contínua e que, para isso, todos deverão ter boa 
educação e formação moral. Essas são, para Rousseau, as ferramentas essenciais para que o povo se 
previna de governos tirânicos, mantenha sua liberdade e garanta sempre a proteção do bem comum.
36
Unidade I
Novamente, nesse aspecto, a abordagem é muito semelhante àquela que temos na sociedade 
contemporânea, principalmente em relação à necessidade de educação com qualidade para que a 
população possa exercer corretamente seus direitos e, principalmente, possa cobrar os deveres das 
autoridades. Também é fundamental que a educação capacite a população para escolher corretamente 
seus representantes em todos os níveis políticos: federal, estadual e municipal.
As fotografias a seguir são do Panteão, em Paris, local em que está enterrado o corpo de Jean-Jacques 
Rousseau. Esse lugar presta uma homenagem a grandes pensadores, cientistas e políticos que fizeram 
a glória da França e de seu povo. Justa homenagem a esse pensador tão importante.
Figura 9 – Panteão, em Paris, França
Figura 10 – Túmulo de Rousseau no Panteão em Paris, França
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TRABALHO E SOCIABILIDADE
Vamos alinhar as ideias mais importantes?
São três importantes pensadores – Hobbes, Locke e Rousseau – chamados de contratualistas 
porque têm em comum a ideia de explicar a formação do Estado, do governo, das leis que estabelece 
direitos e deveres para cada indivíduo, a partir da noção de um contrato que todos teriam concordado 
em cumprir. O homem abandona a liberdade plena do chamado estado de natureza para viver em 
uma sociedade organizada, com leis de cumprimento obrigatório para todos, que limitam a liberdade, 
mas trazem, em contrapartida, respeito aos direitos e, em especial, ao direito à vida e à propriedade.
Assim surge a ideia central para explicar o que hoje entendemos como Estado. O espaço de 
organização política, social e econômica no qual nossa liberdade é limitada por leis que definem o que 
podemos e não podemos fazer, ou seja, o que são nossos direitos e nossos deveres. Essa organização 
social deve nos garantir, em tese, segurança e possibilidades de acesso a tudo que é essencial para que 
nossa vida tenha qualidade e dignidade.
Os estudos de De Cicco e Gonzaga sobre Estado apontam que:
 
O termo Estado advém do substantivo latino status, relaciona-se com o 
verbo stare, que significa estar firme. Uma denotação possível, portanto, 
é que Estado está etimologicamente relacionado à ideia de estabilidade. 
Daí que o conceito de Estado chegou a ser utilizado para designar 
sociedade política estabilizada por um senhor soberano que controla e 
orienta os demais senhores.
Historicamente, o termo Estado foi empregado pela primeira vez por 
Nicolau Maquiavel, no início de sua obra O Príncipe, escrita em 1513 e 
publicada em 1532.
Uma definição abrangente que apresentamos de Estado seria “uma 
instituição organizada política, social e juridicamente, que ocupa um 
território definido e, na maioria das vezes, sua lei maior é uma Constituição 
escrita. É dirigido por um governo soberano reconhecido interna e 
externamente, sendo responsável pela organização e pelo controle social, 
pois detém o monopólio legítimo do uso da força e da coerção (DE CICCO; 
GONZAGA, 2015, p. 113).
Maquiavel teria sido o primeiro a utilizar a expressão Estado. Ele é um pensador importante cujo 
nome deu origem à expressão “maquiavélico”. Vamos conhecer um pouco mais sobre esse importante 
pensador político?
Nicolau Maquiavel nasceu em Florença em 1469 e faleceu em 1527. Florença nasceu como uma 
colônia romana em 59 a.C. e na Idade Média tornou-se uma cidade-Estado independente. No século XIII, 
foi um dos polos comerciais mais importantes do mundo, assim como um notável centro cultural 
e intelectual da Europa. Além da riqueza econômica, Florença também foi detentora de enorme 
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Unidade I
riqueza artística e intelectual, porque Dante Alighieri, Petrarca, Maquiavel, Botticelli, Michelangelo e 
Donatello foram pensadores e artistas florentinos.
Maquiavel foi funcionário público do governo de Florença durante vários anos e foi, também, 
escritor, historiador e músico. Mas, sem nenhuma dúvida, ele foi, principalmente, um pensador 
político que exerceu influência em razão de suas ideias.
Ele recebeu educação clássica já com vistas a uma futura carreira pública, mas, como a vida 
política em Florença era muito conturbada, sua trajetória profissional sofreu impacto desses conflitos 
e nem sempre foi muito bem-sucedida. Ele trabalhou para o governo que expulsou os Médici de 
Florença e, mais tarde, serviu aos Médici quando estes retornaram ao poder.
Os Médici foram uma poderosa família de Florença que viveu seu apogeu político entre os 
séculos XV e XVII. Sua riqueza era oriunda do comércio de produtos têxteis e da participação na 
guilda da Arte della Lana. Alguns dos Médici foram banqueiros, políticos, nobres, clérigos e até papa, 
Giovanni Médici (1475-1521), que foi o papa Leão X.
Maquiavel escreveu o livro O príncipe em 1513 e dedicou a obra a Lorenzo, filho de Piero de 
Médici. Provavelmente, sua intenção com a obra tenha sido agradar os governantes da época e obter 
benefícios políticos.
As imagens a seguir são de Florença, a cidade em que Maquiavel nasceu e viveu. Uma é da 
Catedral de Florença, e a outra, de uma parte do Palácio dos Médici.
Figura 11 – Catedral de Florença, Itália
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TRABALHO E SOCIABILIDADE
Figura 12 – Parte do Castelo dos Médici, em Florença, na Itália
Maquiavel em suas reflexões políticas separava a virtude política da virtude moral. Além disso, 
não acreditava em poder político como ação política orientada pelo sentido divino, ou seja, para 
ele, a política é uma ação exclusivamente humana. Mas essa ruptura com o poder oriundo da igreja 
não rendeu bons resultados para Maquiavel. A Igreja Católica como reação passou a utilizar o termo 
“maquiavélico” como sinônimo daquilo que é ruim ou perverso. Até hoje, em pleno século XXI, nós 
utilizamos essa expressão para designar uma pessoa ardilosa, que usa métodos pouco transparentes 
para obter os resultados que deseja. Referimo-nos a pessoas que articulam de forma obscura para obter 
vantagens. O termo é sempre utilizado em sentido pejorativo, como crítica, ou, até mesmo, ofensa.
Maquiavel defendia a ideia de que um governante deve ter um conjunto de qualidades 
que possibilitem o exercício do poder e destacava,

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