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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Ciências - Campus Bauru Licenciatura em Pedagogia CARINA DE BARROS BARADEL DIDÁTICA: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS E CONCEPÇÕES DE PROFESSORES BAURU 2007 2 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Ciências - Campus Bauru Licenciatura em Pedagogia CARINA DE BARROS BARADEL DIDÁTICA: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS E CONCEPÇÕES DE PROFESSORES Monografia apresentada como exigência parcial para a Conclusão do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências – UNESP Campus Bauru sob a orientação da Profª. Dra. Vera Lúcia Messias Fialho Capellini. BAURU 2007 3 Ficha catalográfica BARADEL, Carina de Barros Didática: contribuições teóricas e concepções de professores BAURU, 2007. 65 FOLHAS. Monografia Apresentada Para A Conclusão do Curso de Graduação de Pedagogia Pela Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências Bauru, 2007. Área de Atuação: Pedagogia Orientadora: Profª. Dr.ª Vera Lúcia Messias Fialho Capellini. 1. Didática; 2. Concepção de professores; 3. Formação Inicial 4 CARINA DE BARROS BARADEL DIDÁTICA: Contribuições teóricas e concepções de professores Autora: Carina de Barros Baradel Orientadora: Drª. Vera Lúcia Messias Fialho Capellini Monografia apresentada como exigência parcial para a Conclusão do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências – UNESP Campus Bauru sob a orientação da Profª. Dra. Vera Lucia Messias Fialho Capellini. Banca Examinadora: Profª. Drª. Eliana Marques Zanata Profª. Msª. Rita Zuquieri Local: Bauru Data de defesa: 07/11/2007 5 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a todos que como eu acreditam que a didática é uma das chaves que abrem as portas para o professor vencer inúmeras dificuldades no processo de ensino e aprendizagem. 6 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus e a meus pais pela vida, a Marcos por me amar e me ajudar no desenvolvimento deste trabalho, a Profº Vera pela orientação, as minhas amigas de classe e a todos que de alguma forma me auxiliaram. 7 EPÍGRAFE Se não morre aquele que planta uma árvore e nem morre aquele que escreve um livro, com mais razões não deve morrer o educador. Pois ele semeia nas almas e escreve nos espíritos. Bertold Brecht 8 BARADEL, Carina de Barros. Didática: contribuições teóricas e concepções de professores. . 2007. 65 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Pedagogia da Faculdade de Ciências: UNESP, Bauru, 2007. RESUMO A didática é um dos principais fundamentos para o professor, pois se trata do estudo da arte do ensino, compreende conhecimentos científicos que fornecem bases teóricas aos futuros professores de modo possam atuar diante das situações práticas de ensino. Este conceito de didática encontra-se resumido aos termos, métodos e técnicas de ensino, que realmente são itens que a compõe, mas não a explicam por completo, reduzindo seu verdadeiro significado. A presente pesquisa buscou desenvolver uma análise teórica sobre o real significado da didática, bem como demonstrar a concepção de professores a respeito deste tema por meio de uma pesquisa de campo qualitativa e finalmente confrontou-as esperando trazer contribuições significativas para o ensino. Os resultados apontam que a concepção dos professores sobre a didática está evoluindo com o passar dos anos, mas esta caminhada é longa, percebemos também que muitos teóricos e educadores se preocupam com o ensino, pesquisa e estudos sobre a didática, pois, é através desta busca que se chega a novos aprendizados e conclusões. Palavras-chave: didática, formação de professores, prática de ensino. 9 ABSTRACT The didacticism is one of the main foundations for the teacher, because it is the study of tehe art of t the teaching and it includes scientific knowledge that provides theoretical bases to the futures teachers so that they can act due to the pratical situations of teaching. This didacticism concept is summarized in the terms, methods and taching techniques, those are really items that compose it, but they don’t explain it completely, omitting its true meaning. The current research sought to develop a theoretical analysis about the true meaning of the didacticism, as well as to demostrate the teachers’ conception regarding this theme through a qualitative field research and finally it confronted them hoping to bring significant contributions for the teaching. Keys – words: didacticism, formation of teachers, pratical of teaching. 10 SUMÁRIO Introdução 11 1 Discutindo a Didática 13 1.1 Histórico 15 1.2 Conceituação da didática 24 1.3 O que dizem as pesquisas do ENDIPE 26 2.0 A formação de professores e a didática 31 2.1 Os desafios atuais da didática 38 3.0 Desenvolvimento da pesquisa 40 3.1 Tipo de pesquisa 41 3.2 Local 3.3 Participantes 3.4 Procedimentos 3.5 Instrumentos de coleta de dados 3.6 Procedimento de apresentação e análise de resultados 41 42 42 43 43 4.0 Apresentação e Análise de resultados da pesquisa de campo 44 Considerações Finais 68 REFERÊNCIAS APÊNDICE 11 INTRODUÇÃO O que é Didática? Será que todos os professores conhecem realmente a sua essência, seus verdadeiros objetivos e propostas de estudo? Esta é uma questão muito importante e que deveria ser levada em consideração, pois a didática é um dos “pilares” mais importantes da prática pedagógica do professor. Suas primeiras abordagens surgem a partir dos estudos de Comênio e Ratíquio: COMÊNIO escreveu, entre outras obras, a Didática Magna, instituindo a nova disciplina como “arte de ensinar tudo a todos”. Dessa ambição participa também RATÍQUIO, e ambos, pautados por idéias ético-religiosos, acreditavam ter encontrado um método para cumprir aqueles desígnios de modo rápido e agradável (CASTRO, 2006, p. 16). Inicialmente (século XVII), a didática tinha seus pressupostos calcados na causa da Reforma Protestante, sendo um meio de luta contra o modelo de ensino da igreja católica medieval, ou seja, deveria ser um instrumento de libertação. Com o passar do tempo, novos estudos foram sendo realizados, e novas concepções surgiram em torno da didática, Rousseau, Pestalozzi, Herbart entre outros educadores contribuíram significativamente para esses avanços. Uma das principais constatações foi à percepção de que o método estaria tendo primazia frente ao ensino, ou seja, a didática estaria sendo interpretada de forma errônea. A didática é um dos principais fundamentos para o professor por se tratar do estudo da arte do ensino, que compreende vários fatores que influenciam diretamente no processo de ensino e aprendizagem e na relação professor-aluno, portanto, compreendê-la e buscar seus fundamentos é de vital importância para a prática pedagógica. Para Haydt (2003, p.13) a didática é o “estudo da situação instrucional, isto é, do processo de ensino e aprendizagem, e nesse sentido ela enfatiza a relação professor-aluno”. A arte do ensino vai além de uma visão técnica e metodológica, onde a produção de conhecimento é vazia, sem objetivos e finalidades, ela carrega consigo muitas outras concepções como a de fornecer ao professor base teórica sobre estudos da arte do ensino de modo que estes possam fundamentar sua prática pedagógica. 12 A didática e as metodologias específicas das disciplinas, apoiando-se em conhecimentos pedagógicose científico-técnicos, são disciplinas que orientam a ação docente partindo das situações concretas em que se realiza o ensino (LIBÂNEO, 1994, p.33). Há ainda outro aspecto muito importante que a didática engloba, a responsabilidade que o professor assume diante do ato de ensinar, pois sua função não é meramente ser um transmissor de conteúdos, mas sim, de se colocar como sujeito que propicia conhecimentos com bases científicas e reflexões para a formação de cidadãos onde, seus conteúdos e postura devem ser reflexos do contexto social e da realidade. A didática abrange ainda muitos outros conceitos que se fazem presente na prática do professor e sobre a arte do ensino, somente desenvolvendo estudos aprofundados e minuciosos será possível desvendá-los e refletir sobre eles de modo que possam contribuir como fundamentos pedagógicos. Na atualidade encontramos uma variedade de definições para o “fazer” do professor, tais como, prática pedagógica, pratica de ensino, metodologia, ensino, didática, estratégias de ensino, procedimento de ensino, competência pedagógica, ação pedagógica, método de ensino, etc. Diante de tantos nomes qual é de fato o conceito de Didática? Quais seus fundamentos? Qual sua importância no processo ensino-aprendizagem? Outro aspecto que nos pareceu importante diante dos problemas do ensino brasileiro seria qual a concepção que os professores têm sobre a Didática? Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivos desenvolver uma análise teórica sobre a didática, explicitando seus principais fundamentos para a atuação docente, verificar a concepção de professores sobre este tema e posteriormente confrontá-las a fim de que possam trazer contribuições significativas para o ensino. A fundamentação teórica (referencial) deste trabalho será apoiada em autores brasileiros que nas últimas décadas têm publicado sobre essa temática, tais como, José Carlos Libâneo, Regina C. Cazaux Haidt, Ilma P. A Veiga, Amélia D. Castro, Selma G. Pimenta, Michel Saint-Onge e Vera Maria Candau, que possuem diferentes visões e contribuições sobre o assunto, complementando assim, as informações do estudo em questão. 13 1 DISCUTINDO A DIDÁTICA A didática é um campo de estudo que se ocupa da busca do conhecimento necessário para a compreensão da prática pedagógica e da elaboração de formas adequadas de intervenção, de modo que o processo de ensino e aprendizagem se realize de maneira que viabilize a aprendizagem de toda a população. Quando falamos toda a população, referimo-nos também àqueles que se encontram entre os baixos níveis sócio-econômicos na sociedade, mas que tem direito à educação e de qualidade, para que possam adquirir, segundo Libâneo (1994, p.35) “um entendimento crítico da realidade através do estudo das matérias escolares...”, e assim os alunos podem expressar de forma elaborada os conhecimentos que correspondem aos interesses prioritários da sociedade e inserir-se ativamente nas lutas sociais, ou seja, defender seus ideais de acordo com sua realidade. O aluno então, aprende e compreende que a educação é fundamental para a sua inserção na sociedade, bem como a dimensão crítica e política que ela adquire quando desvendada sua ideologia. Para que o aluno, futuro cidadão, consiga absorver essa visão crítica e política da realidade, é necessário que seu percurso na escola seja repleto de conteúdos, atitudes e aprendizagens significativas, ou seja, contextualizadas em sua realidade social, como afirma Candau (1982, p.15), “[...] se todo processo de ensino- aprendizagem é ‘situado’, a dimensão político-social lhe é inerente”. O principal responsável por articular todos esses fatores no processo educativo será o professor. Neste ponto chegamos ao auge de nossa “discussão”, o professor está preparado para aplicar e buscar novos conhecimentos (bem como os que possuem) de modo a intervir no processo de ensino, possibilitando as melhores maneiras para ocorrer à aprendizagem, bem como permear nessas atitudes as dimensões críticas e política, que didática possui o professor? Muitos outros aspectos participam destas questões, como formação, realidade, compromisso profissional e político, amor, enfim, a didática é regida por todas essas dimensões entre outras, caracterizando-a. A formação do educador se constitui num dos principais pontos, pois é por meio dela que o professor buscará subsídios para o exercício de sua função. A frustração é o mais comum sentimento que o professor iniciante tem quando “pisa” em uma sala de aula. Este percebe não se sentir (na verdade não está) preparado 14 suficientemente para lecionar, e que a realidade (prática) está muito distante do que aprendeu em sua formação (teoria). Há casos em que o professor possui somente o conhecimento científico, e outros que conhecem apenas as técnicas de ensino, como afirma Candau (1982, p. 20) “[...]se um enfatiza o processo, o outro o produto”. Há uma dicotomia das dimensões da Didática, a teoria versus prática, no decorrer deste trabalho demonstraremos à supervalorização de outras dimensões da didática. Inicialmente essa separação gerou críticas em torno da teoria, alegando-se que nos cursos de formação de professores aprendiam-se “muitos conteúdos e nenhuma prática”. Devido a essas alegações o foco da formação docente recaiu sobre a prática o que gerou uma concepção de que o bom professor seria aquele que aprendesse a “dominar as técnicas e métodos pedagógicos”, pois estaria preparado para o mercado de trabalho. O professor necessita sim dominar as técnicas e métodos de ensino, mas também precisa de uma formação concreta com subsídios teóricos e práticos, e que um permeie o outro. A prática pela prática torna-se vazia, o processo de ensino não contextualizado torna- se não significativo para o aluno (para o professor também, às vezes ele próprio não percebe), não despertando seu interesse e muito menos proporcionando reflexões críticas que os levem aos seus posicionamentos políticos futuros. O próprio professor acentua o processo precário e ideológico em que a educação brasileira se encontra, e muitas vezes nem possui consciência disso. Luckesi (1982, p.32) diz que “[...]a didática como vem sendo ministrada e praticada, creio eu, acentua o senso comum ideológico dominante”, o que constatamos ser verdade. Acrescenta ainda que “aprende-se o caminho que conduz a algum lugar, sem saber para onde ir”. Quando o professor não questiona o “como fazer" e o “porque fazer”, mergulha num equivoco teórico/prático muito grande. O professor deve compreender e aprender que sua didática faz parte de um todo, base teórica, ações práticas, visão crítica e política, organização e planejamento, etc, e que essas dimensões devem caminhar juntas, pois a caracterizam e visam um significado real ao seu corpo, norteando seu trabalho. Luckesi (1983) diz que a “didática, ao exercer o seu papel específico, deverá apresentar-se como elo tradutor de posicionamentos teóricos em práticas educacionais” (p.34). 15 Para melhor compreendermos o papel da didática na educação e sua importância na formação do educador, faremos uma retrospectiva histórica da didática no próximo item deste capítulo. 1.1 HISTÓRICO A história da didática está relacionada ao aparecimento do ensino no decorrer da evolução da sociedade. Desde os primórdios dos tempos há indícios de processos de ensino na Antiguidade Clássica (Gregos e Romanos), estes sistemas de ensino existiam nas escolas, igrejas, universidades, entre outras instituições, mas a ação didática não estava presente nestas formas de ensino, como afirma Libâneo (1994, p.57) “[...] pode-se considerar esta uma forma de ação pedagógica, embora aí não esteja presente o ‘didático’ como forma estruturada de ensino”. O termo “didática” aparece somente quando há a intervenção intencional e planejada no processo de ensino-aprendizagem,deixando de ser assim um ato espontâneo. A escola se torna assim, um local onde o processo de ensino passa a ser sistematizado, estruturando o ensino de acordo com a idade e capacidade de cada criança. O responsável pela “teorização” da didática será Comênio: A formação da teoria da didática para investigar as ligações entre ensino aprendizagem e suas leis ocorre no século XVII, quando João Amós Comênio (1592-1670), um pastor protestante, escreve a primeira obra clássica sobre didática, a Didática Magna (LIBÂNEO, 1994, p.58). Foi o primeiro educador a formular a idéia da difusão dos conhecimentos educativos a todos, criou regras e princípios de ensino, desenvolvendo um estudo sobre a didática. Suas idéias eram calcadas na visão ética religiosa, mesmo assim eram inovadoras para a época e se contrapunham ás idéias conservadoras da nobreza e do clero, que exerciam uma grande influência naquele período. Algumas das principais características da didática de Comênio, segundo Libâneo (1994) eram de que a educação era um elo que conduzia a felicidade eterna com Deus, portanto, a educação é um direito natural de todos, a didática deveria estudar características e métodos de ensino que respeitem o desenvolvimento natural do homem, a idade, as percepções, observações; deveria-se também ensinar uma 16 coisa de cada vez, respeitando a compreensão da criança, partindo do conhecido para o desconhecido. Apesar de Comênio ter elaborado e apresentado todas essas novas idéias, cometeu alguns equívocos, como manter o caráter transmissor do ensino, método único, ensino simultâneo a todos, entre outros, no entanto, sua contribuição foi muito significativa, pois foi o primeiro educador a tentar desenvolver reflexões e métodos que auxiliassem no processo de ensino e aprendizagem, bem como querer que todos usufruíssem dele. As idéias de Comênio, infelizmente não obtiveram repercussão imediata naquela época (século XVII), o modelo de educação que prevalecia era o ensino intelectualista, verbalista e dogmático, os ensinamentos do professor (centro do ensino) eram baseados na repetição mecânica e memorização dos conteúdos, o aluno não deveria participar do processo, o ensino separava a vida da realidade. Com o passar dos anos e o desenvolvimento da sociedade, da ciência e dos meios de produção, o clero e a nobreza foram perdendo aos poucos seus “poderes”, enquanto crescia o da burguesia. Essas transformações fizeram crescer a necessidade de um ensino ligado ás exigências do mundo atual, que contemplasse o livre desenvolvimento das capacidades e dos interesses individuais de cada um. Jean Jacques Rousseau (1712–1778) foi um pensador que percebeu essas novas necessidades e propôs uma nova concepção de ensino, baseada nos interesses e necessidades imediatas da criança, sendo esse o centro de suas idéias. Enquanto Comênio, ao seguir as “pegadas da natureza”, pensava em “domar as paixões das crianças”, Rousseau parte da idéia da bondade natural do homem, corrompido pela sociedade (CASTRO, 2006, p. 17). Rousseau não colocou em prática suas idéias, nem chegou a elaborar uma teoria de ensino, apesar de ter contribuído expressivamente para esse novo foco da educação, quem desenvolveu suas idéias foi Henrique Pestalozzi (1746–1827), pedagogo suíço, que dedicou sua vida à educação de crianças pobres e a instituições dirigidas por ele próprio. Pestalozzi demonstrou grande importância ao ensino como meio de educação e desenvolvimento das capacidades humanas, como o cultivo do sentimento, da mente e do caráter, valorizava também a psicologia da criança como fonte do desenvolvimento do ensino. 17 As idéias de Comênio, Rousseau e Pestalozzi influenciaram muitos outros pedagogos, um deles foi Johann Friedrich Herbart (1766 – 1841), pedagogo alemão que exerceu influência relevante na didática e na prática docente, foi e continua sendo o grande inspirador da Pedagogia Conservadora (Tradicional). Para Herbart, o fim da educação é a moralidade, atingida por meio da instrução educativa. O ensino é entendido como um repasse de idéias do professor para a mente do aluno, a aprendizagem se torna mecânica e automática. Segundo Castro, Herbart defendia a: [...] educação pela instrução, bem como pela relevância do aspecto metodológico em sua obra. O método dos “passos formais” celebrizou o autor, que o considerava próprio a toda e qualquer situação de ensino (CASTRO, 2006, p.17). Seu intuito consistia em buscar a formulação de um método único de ensino, seus discípulos baseados em seu trabalho desenvolveram posteriormente a proposta dos cinco passos formais do ensino que eram a preparação, apresentação, assimilação, generalização e aplicação, “fórmula que ainda é muito usada por nossos professores na atualidade”. Tanto Herbart, quanto Comênio, Rousseau e Pestalozzi (além de muitos outros educadores) formaram a base do pensamento educativo europeu, difundidos depois para todo o mundo, caracterizando as concepções pedagógicas que hoje são conhecidas como Pedagogia Tradicional e Pedagogia Renovada. No Brasil, a retrospectiva histórica da didática segundo Veiga (2006a, p.33) parte do “ano de 1549”, ainda no período colonial, onde os jesuítas foram os principais educadores de quase toda essa época. A tarefa educativa destes religiosos estava voltada para a catequese e a instrução dos indígenas, entretanto, para a elite colonial outro tipo de educação era ministrada. A ação pedagógica dos jesuítas foi marcada pelas formas dogmáticas de pensamento e a não criticidade, buscava-se a formação do homem universal, humanista e cristão. Veiga (2006a, p.34) diz que “[...] dessa forma não se poderia pensar em uma prática pedagógica, e muito menos em uma perspectiva transformadora na educação”. A metodologia de ensino (didática) era entendida somente como um conjunto de regras e normas prescritivas que visam a orientação do ensino e do estudo. 18 Após os jesuítas não ocorreram no país grandes movimentos pedagógicos, a nova organização instituída por Pombal representou pedagogicamente, um retrocesso no sistema educativo, pois professores leigos começaram a ser admitidos para ministrar “aulas-régias”, introduzidas pela reforma pombalina. Somente por volta de 1870 com a passagem do modelo agrário-exportador (cafeeiro) para um modelo agrário-comercial-exportador, é que começou há haver mudanças significativas na educação brasileira. Em 1890 é aprovada a reforma Benjamin Constant, onde se sobressaem os ideais burgueses, suprimem-se o ensino religioso nas escolas públicas, passando o Estado a assumir a laicidade. A Pedagogia Tradicional começa a penetrar no Brasil como uma vertente leiga que possui pressupostos da “pedagogia de Herbart” e seus cinco passos formais, caráter dogmático aos conteúdos, métodos universais e o professor como centro do processo de ensino e aprendizagem, o aluno é considerado um ser passivo e receptivo, como afirma Veiga (2006a, p.36), a atividade docente é entendida como inteiramente autônoma em face da política, dissociada das questões entre escola e sociedade. Uma didática que separa teoria e prática. Essa vertente pedagógica refletia-se nas disciplinas do currículo das Escolas Normais, desde o início de sua criação em 1835. A inclusão da disciplina “didática” nos cursos de formação de professores ocorreu somente em meados de 1930. Nesta década o Brasil sofre profundas transformações devido à modificação do modelo sócio-econômico e a crise mundial da economia. Devido a todas estas transformações, ocorre no Brasil à Revolução de 1930 que indica o início de uma nova fase na história da República Brasileira. Vargas constitui o Ministério da Educação e em 1932 ocorre o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, com a liderança de Anísio Teixeira (entre outros que o apoiaram), que buscava mudanças no campo educacional. As novas mudançasna educação nesse período baseavam-se nas idéias do educador americano John Dewey (1859–1952), precursor do movimento “escolanovismo” ou “Escola Nova”. Essa nova vertente educacional se opunha a concepção Herbatiana (tradicional), há o predomínio do aspecto psicológico sobre o lógico, a criança é o centro do ensino, sendo considerada um ser ativo e que deve ter liberdade, iniciativa e autonomia no processo de ensino. 19 Para Veiga (2006a, p.38) dada a predominância da influência da pedagogia nova na legislação educacional e nos cursos de formação para o magistério, o professor absorveu seu ideário. O professor passa a entender a didática como um conjunto de idéias e métodos, privilegiando a dimensão técnica do processo de ensino, não considerando os aspectos sociais, políticos e econômicos, ou seja, o professor se transforma em um “técnico” que não considera a realidade. Este modelo pedagógico requeria muitos recursos, que infelizmente só a classe dominante dispunha, o que acentuou mais ainda a exclusão da maioria da população. Ainda em 1932, podemos citar como pontos importantes para a educação à criação da primeira faculdade brasileira, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, onde se aspiravam esperanças na mudança da formação através magistério, buscando-se a renovação do ensino, dando origem á disciplina didática nos cursos de formação, por volta de 1934. Em 1937, Vargas com o apoio de grupos militantes e da classe burguesa (conquistada pela ideologia), implanta o Estado Novo ditatorial que persistirá até 1945. A educação sofre a influência política, e os educadores condicionando-se as respectivas posições políticas. Por força do artigo 20 do Decreto-lei nº1.190/39, a didática foi instituída como curso e disciplina, com duração de um ano. A legislação educacional foi introduzindo alterações para que em 1941, o curso de didática ser considerado um curso independente, realizado após o término do bacharelado, esquema três mais um. A didática começa a ser percebida como disciplina fundamental na formação do educador, mas seu foco está somente na dimensão técnica, nos métodos. A partir de 1945, o país sofre novas mudanças econômicas e políticas, há uma abertura maior para as importações diversificadas e a introdução do capital estrangeiro, o modelo político é baseado nos princípios de democracia liberal, é o “Estado Populista”, representado pelo setor empresarial e os setores populares contra a oligarquia, mas esta união não durou muito, o poder conquistado fez com que ambas se separassem em busca dos interesses particulares de cada grupo. A política que rege a educação fica inserida neste contexto de divisão dos grupos no poder, sendo assim influenciada por elas. 20 Segundo Veiga(2006a): (...) em 1946, o Decreto-lei nº9.053 desobriga o curso de didática e, já sob a vigência da Lei de Diretrizes e Bases, lei nº 4.024/61, o esquema de três mais um foi extinto pelo parecer nº 242/62, do Conselho Federal de Educação. A didática perdeu seus qualificativos geral e especial e introduziu-se a prática de ensino sob a forma de estágio supervisionado (p.39). Como podemos notar a teoria e a prática estavam se distanciando cada vez mais, descaracterizando a didática e suas dimensões, o professor, dada a influência desta nova corrente pedagógica e a mudança de foco no processo ensino aprendizagem absorveu um ideário no qual, sua principal preocupação era com os métodos e técnicas de ensino. Começava a se desenvolver dessa forma uma nova linha pedagógica para o ensino á partir da escola nova, é o enfoque “renovador-tecnicista” ou tecnicismo, que crescia na base do escolanovismo. Entre 1948 e 1961, desenvolveram-se lutas ideológicas em torno da oposição entre escola particular e defensores da escola pública, a didática se situava neste contexto inspirando-se no liberalismo e no pragmatismo, enaltecendo os métodos e técnicas de ensino. A década de 60 foi marcada pela crise na pedagogia nova e a articulação da tendência tecnicista, o país foi assumido pelo grupo militar e tecnocrata, era a época da ditadura militar, que se instalou no ano de 1964. O sistema educacional era marcado pela influência dos acordos MEC/USAID (influência estrangeira) que serviram de base às reformas do ensino superior e posteriormente do ensino de 1º e 2º gruas. O modelo pedagógico que se instalava era o tecnicismo, sua base estava calcada na neutralidade científica, inspirada também nos princípios de racionalidade técnica, eficiência e produtividade, semelhante a uma fábrica, assim o ensino deveria funcionar. No tecnicismo a desvinculação entre a teoria e prática acentua-se, o professor torna-se mero executor de objetivos instrucionais, de estratégias de ensino e avaliação, sem questioná-los, como afirma Libâneo (1994, p.68), “[...] o professor é um administrador e executor do planejamento, o meio de previsão das ações a serem executadas e dos meios necessários para se atingir os objetivos”. Neste período de ditadura, podemos dizer que o sistema educacional brasileiro se estagnou, somente a partir de 1974 tem inicio a abertura gradual do regime político vigente e começam a surgir estudos empenhados em fazer a crítica da educação dominante, sua 21 ideologia e o caráter reprodutor da escola. Em 1972 ocorreu o I encontro Nacional de Didática, realizado na Universidade de Brasília que buscava construir a identidade da didática. Esses novos estudos foram denominados por Saviani (2003, p.16) “teorias crítico- reprodutivistas”, ou seja, teorias não críticas verdadeiramente. A didática infelizmente seguiu este mesmo caminho reprodutivista, e o quadro que se instalou foi o de uma total crítica ao sistema educacional vigente. A visão de consciência política estava implícita na educação, mas ao mesmo tempo nasceu uma repulsa pela dimensão técnica, ou seja, a teoria passou a ser mais valorizada do que à prática. Este quadro se instalou também nos cursos de formação de professores, onde a didática sofreu “distorções” comprometendo sua identidade e especificidade, como afirma Candau (1982, p.22) “competência técnica e política se contrapõe”. Alguns autores chegaram até a negar a dimensão prática no processo de ensino, considerando-a a vilã do caráter reprodutor da escola. No entanto, como diz o ditado “há males que vem para o bem”, se por um lado à teoria crítico-reprodutivista, gerou certas distorções na concepção de ensino, por outro fez com que começassem a germinar a semente da “crítica” na formação dos educadores e também nos professores, de modo que começassem a repensar sua prática pedagógica e considerassem o contexto, a realidade em que o processo de ensino, alunos e eles próprios estão inseridos, surgem então, as “teorias críticas da educação”. Somente á partir dos anos 80 é que essa nova visão crítica de educação começa a se disseminar, com o fim da ditadura militar, a instalação da nova república e a constante luta da classe operária (incluindo os professores), os ideais educacionais são novamente retomados. Um marco importante dessa nova década foi o I Seminário A Didática em Questão realizado na Universidade do Rio de Janeiro no ano de 1982, que buscava entre outras propostas, a discussão e disseminação dessa nova concepção crítica de educação que estava confusa até o presente momento. Devido a essa nova concepção de ensino, surgem então, duas novas correntes pedagógicas que buscavam contemplar esses novos ideais, a Pedagogia Libertadora e a Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos. A primeira trabalha com a proposta de Educação Popular, são discutidos temas sociais e políticos referentes à realidade dos alunos. O ensino 22 não se centra nos conteúdos sistematizados, mas no processo de ativas discussões e nas ações práticas sobre questões da realidade social imediata, valorizando temas geradores,relatos de experiências vividas, entre outros pontos de interesse geral importantes na formação e vida dos alunos. Libâneo (1994, p.69) afirma que “é uma didática que busca desenvolver o processo educativo como tarefa que se dá no interior dos grupos sociais [...]”, ou seja, é uma corrente que visa trabalhar diretamente com o povo, suas necessidades, direitos e condições reais. Na segunda corrente, a Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos, para Libâneo 1994, p.70 (...) a escola pública cumpre sua função social e política, assegurando a difusão dos conhecimentos sistematizados a todos, como condição para a efetiva participação do povo nas lutas sociais. Para o referido autor, a escola deve fornecer o conhecimento (conteúdos sistematizados) a todos de forma igual, para assim assegurar o acesso aos mesmos e garantir que cada aluno possa interiorizá-lo confrontando com suas experiências e realidade, sendo capaz de interpretá-los e usá-los a favor dos interesses de sua classe. A pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos atribui grande importância a didática, cujo objetivo de estudo é o processo de ensino inserido em suas relações com o meio e ligações com a aprendizagem, pois ela direciona esse processo (intenções), visando fins sócio-políticos e pedagógicos. Finalizando esta década e baseados nestas novas correntes pedagógicas, podemos citar uma frase de Veiga 2006a que nos leva a refletir sobre a função da didática hoje: Nesse sentido, a didática crítica busca superar o intelectualismo formal do enfoque tradicional, evitar os efeitos do espontaneísmo escolanovista, combater a orientação desmobilizadora do tecnicismo e recuperar as tarefas especificamente pedagógicas, desprestigiadas pelo discurso reprodutivista. Procura, ainda, compreender e analisar a realidade onde está inserida a escola. As teorias críticas da educação buscam uma didática que proponha mudanças no modo de pensar e agir do professor, bem como o ideal de democratização da escola pública, através da aprendizagem dos conteúdos sistemáticos, realidade social e interesses e direitos da “população”. 23 Na caminhada em nossa retrospectiva histórica, analisaremos desde a década de 90 até os dias atuais, que nos aponta um novo foco em nossa realidade educacional: “o mundo contemporâneo é marcado pela hegemonia do projeto neoliberal, consolidando-se no contexto internacional e nacional, dominado pelo pensamento técnico-científico” (VEIGA, 2006a, p.45). Acentuam-se e ampliam-se as formas de exclusão social e cultural, o individualismo e a ideologia de classe dominante através do neoliberalismo. O mundo globalizado traz novas regras econômicas de grande impacto social, e isso reflete também sobre a educação. Novas medidas e leis são impostas sobre o sistema educacional, nossos processos avaliativos são submetidos á modelos e exigências externas coordenados por interesses políticos globalizados. Neste novo período na educação, é discutido e questionado o papel da ditadura sob duas visões segundo Veiga: [...] a primeira voltada para a formação do tecnólogo de ensino; a segunda procura favorecer e aprofundar a perspectiva crítica, voltada para a formação do professor como agente social (2006a, p.46). Percebemos que esta conclusão de Veiga não é positiva na evolução educacional, a didática modernizadora baseada na legislação de ensino vigente, buscam formar um profissional com base em uma pedagogia por competências e ligada a avaliação e controle de resultados. Há uma grande junção de diferentes partes de várias correntes pedagógicas e enfoques teóricos, com cita Veiga (2006a, p.47), o “neobehavionismo”, que são impostos e cobrados dos professores. Nessa concepção, a didática é desvinculada do contexto social mais amplo, possibilitando a formação do professor como um técnico, mero executor de atividades rotineiras, impostas, automáticas e burocráticas. Desenvolve-se então, uma concepção de formação pragmatista em que, o processo de ensino tem por base a aprendizagem por competências com valorização dos métodos e técnicas, o educador acaba por fazer, mas não conhece os fundamentos deste fazer, empobrecendo cada vez mais sua formação e ação. O sistema de avaliação exigido dos professores é classificatório, autoritário e discriminatório, acentuando a exclusão e marginalização dos indivíduos do sistema educacional. A influência neoliberalista permeia essas concepções que distorcem a busca de uma escola democrática, ligada ao contexto social e a formação comprometida dos professores, 24 e esta influência, segundo autores da atualidade, é também um dos grandes desafios presentes em nosso sistema educacional nos dias de hoje. Finalizando podemos concluir que nestas duas últimas décadas, (que ainda estamos construindo) o esforço de educadores, pesquisadores e autores giram em torno da concepção política e crítica da didática, percebe-se que há uma maior preocupação da “ampliação do enfoque crítico” e preocupação da “educação como prática social”, compromisso com a democratização da escola pública e qualidade de ensino, formação consciente de nossa realidade e desenvolvimento de pesquisas na área de didática. Busca-se então, uma re-configuração da didática crítica, realizada na perspectiva de uma visão “contextualizada e multidimensional do processo pedagógico, não enfatizando ou reduzindo nenhuma dimensão, mas sim as articulando, e tendo o ensino como prática social concreta". 1.2 CONCEITUAÇÃO DA DIDÁTICA A didática não possui exatamente uma palavra ou termo que poderíamos chamar de seu sinônimo, sabemos que ela está intimamente ligada ao processo de ensino e aprendizagem. Na atualidade, educadores e pesquisadores defendem a idéia de que a didática é o estudo do processo de ensino e aprendizagem que compreendem formas de organização do ensino, uso e aplicação de técnicas e recursos pedagógicos, controle e a avaliação da aprendizagem, postura do professor e principalmente objetivos políticos-pedagógicos e críticos sobre o ensino. O que acontece geralmente é que muitos educadores acabam por enfatizar somente uma destas dimensões (ou algumas) didáticas e baseiam seu sistema de ensino e aprendizagem em um único foco gerando um reducionismo didático, que infelizmente empobrece todo o sistema educativo. Retomando o conceito de didática, temos Comênio, (como foi visto), considerado o “pai da didática”, é claro que outros pensadores contribuíram com pressupostos significativos, mas como afirma Libâneo (1994) ele foi o primeiro educador a teorizar a didática em sua obra “Didática Magna”, a formular a idéias da difusão dos conhecimentos a todos e criar princípios e regras de ensino. 25 Comênio acreditava poder definir um método capaz de ensinar tudo a todos, ou como ele cita em sua obra “a arte de ensinar tudo a todos” e esclarece: A proa e a popa de nossa Didática será investigar e descobrir o método segundo o qual os professores ensinem menos e os estudantes aprendam mais: nas escolas haja menos barulho, menos enfado, menos trabalho inútil, e, ao contrário, haja mais recolhimentos, mais atractivo e mais sólido progresso; na Cristandade, haja menos trevas, menos confusão, menos dissídios, e mais luz, mais ordem, mais paz, mais tranqüilidade (COMÊNIO apud VEIGA, 2006a, p.18). Suas ideais eram aguçados para a época, mas podemos perceber que Comênio possuía uma visão diferente de sistema de ensino, onde se buscava um novo meio de ensino e aprendizagem, mesmo com fundamentos religiosos, serviram de base para primeira conceituação sobre a didática. Entre outros educadores que contribuíram significativamente para a conceituação da didática, encontramos Rousseau, que baseava seus estudos sobre o ensino nos interesses e necessidades imediatas da criança; Pestalozzi que atribuía grande importância ao método intuitivo e a psicologia, consistindosuas idéias na educação intelectual; Herbart que acreditava que o fim da educação é a moralidade atingida através da instrução educativa e que deu origem a proposta dos cinco passos formais na educação, sendo um grande influenciador da Pedagogia Tradicional. Podemos citar também John Dewey (1859-1952) que propunha uma didática ativa, educação pela ação, colocando o aluno em primeiro plano e o professor em segundo. Montessori marcou a história da didática com suas teorias cognitivistas, além das teorias fenomenológicas e interacionistas, baseadas na psicologia genética de Piaget, grande estudioso francês que contribuiu para a percepção dessa dimensão no processo educativo. Paulo Freire, grande educador e criador da Pedagogia Libertadora pensava e concebia uma didática baseada no desenvolvimento de um processo de ensino e aprendizagem no interior dos grupos sociais. Na atualidade encontramos autores como Vera M. Candau e Ilma P. A Veiga que se preocupam com a dicotomização das dimensões da didática, aspecto crítico e político que a didática esta tomando, bem como a “fragmentada” formação e neutra que muitos professores estão recebendo e exercendo. 26 Dois autores da atualidade, Libâneo e Saviani buscam por meio da Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos e da Pedagogia Histórico Crítica uma didática que supere as teorias não críticas e críticas reproducionistas, numa escola democrática e que cumpra sua função social e política, num ensino que propicie a verdadeira formação cidadã, baseadas nos conteúdos sistematizados como preparo para a vida e engajado nas lutas sociais. Considerando o contexto histórico que a didática percorreu, percebemos que ela seguiu diferentes rumos de acordo com o modelo econômico do país (e suas transformações, interesses políticos e educacionais, influências estrangeiras, modismos, estudos e pesquisas em torno desta área). Na corrente tradicional, a didática visava um homem passivo, acrítico e fiel a “religião”. Na corrente Nova a didática deveria formar um homem capaz de aprender autonomamente, mas não a pensar e a criticar. Na corrente Tecnicista a didática é voltada para a formação de um “homem máquina”, que aprenda e viva mecanicamente e de forma neutra. Nas correntes “críticas da educação” (Pedagogia Libertadora, Crítico-Social dos Conteúdos e Histórico Crítica) a didática que se propõe visa formar um homem que possui e usufrui seus direitos e deveres, mediante sua aprendizagem na escola, posicionamento político e crítico diante da realidade. A formação do professor e do aluno, a postura política e crítica, os conteúdos, a avaliação, enfim, todos os componentes que fazem parte do processo de ensino caminham de acordo com as concepções políticas, somos nós educadores quem poderemos perceber e lutar para muda- la. Concluindo, podemos citar o significado que o dicionário nos traz sobre a palavra didática que é “a técnica de dirigir e orientar a aprendizagem”, realmente a técnica deve fazer parte do processo de ensino-aprendizagem, mas para um educador compromissado com a educação de qualidade e democrática, sabemos que há de existir muitas outras dimensões deste processo e que somente articulando–as se conseguirá uma educação plena. 1.3 O QUE DIZEM AS PESQUISAS DO ENDIPE Este item terá como base o livro que representa a união dos trabalhos de autores que participaram do XII ENDIPE (Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino) realizado em Curitiba–PR, realizado entre 29 de Agosto a 1 de Setembro de 2004, no 27 campus da PUC-PR. O livro em questão faz parte de um conjunto de quatro obras, sendo este a que nos referimos o primeiro volume e que possui nome em comum a todos de “Conhecimento Local e Conhecimento Universal” e possui o subtítulo “Pesquisa, Didática e Ação Docente”, com a organização de Joana Paulin Romanowski, Pura Lúcia Oliver Martins e Sérgio Rogério Azevedo Junqueira. Uma das principais contribuições do livro é a reflexão da formação do futuro professor, sua aprendizagem, sua didática e quais rumos á educação está tomando após a “crítica” feita aos modelos pedagógicos anteriores, as novas correntes propostas e a “crítica da crítica”. Veiga (2004, p.13) aponta em sua contribuição neste livro que, “a principal fragilidade ocorrida no processo didático foi tornar independente as dimensões ensinar e aprender”. Como é possível separar dimensões didáticas que são interdependentes, não podendo existir ensino sem aprendizagem, e vice-versa. Para que ocorra a aprendizagem é necessário que haja essa necessidade, o que gera o papel de alguém que ensine e a relação entre essas duas necessidades dará significado ao processo didático de ensino. Outro grande equívoco que Veiga aponta é a supervalorização de uma dimensão do processo didático, em detrimento de outras, que são em sua visão ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. A autora diz ainda que “o processo didático, assim, desenvolve-se mediante a ação recíproca e interdependente das dimensões fundamentais”. Devido a essa gama de correntes, críticas, cobranças de resultados, contradições entre teoria e prática, entre outros fatores, o professor acaba por basear seu ensino em uma única dimensão didática, desvalorizando as outras, empobrecendo assim seu repertório pedagógico. Uma das dimensões que o professor acaba excluindo é a político-social, ou seja, sua prática se torna descontextualizada da realidade, perdendo o significado real, principalmente para os alunos. Essas dimensões dependem umas das outra, não sendo isoladas, nem independentes, mas sim um conjunto, organizando assim uma unidade do processo educativo. Outro ponto importante que o XII ENDIPE nos traz é a preocupação com a didática que está sendo ensinada nos cursos de formação de professores. Aponta-se um ensino em que a didática é neutra, acritica, sem considerar a realidade política e social, e sobre tudo, pragmatista, como afirma Cunha (2004) : 28 A retomada da prática como fundante da compreensão e referência para novos caminhos na formação de professores colocou-se como um risco de aligeiramento da teoria, barateando os cursos de formação de professores, atingindo-os medularmente no seu estatuto acadêmico (p.35). As pesquisas atuais demonstram que a didática oferecida na formação do professor foca-se na prática, deixando a teoria em segundo plano, o que fragiliza e compromete sua capacidade de reflexão sobre sua própria prática criticamente, onde pudesse buscar soluções em suas bases, pesquisas e contexto real. Cunha (2004, p.18-19) enfatiza que “[...] na verdade o processo de ensinar envolve uma compreensão da totalidade, em que são mobilizados saberes indicativos de complexidade da docência”. A ação docente é complexa, e para tanto exige uma formação complexa e extensa, composta por uma multiplicidade de saberes e conhecimentos (filosóficos, políticos, teóricos, práticos, etc) dando bases ao futuro professor. Outro aspecto destacado no livro é a importância da formação do professor também com competências (não somente teoria), capaz de aprender, ensinar, pesquisar e avaliar. Sobre aprender as pesquisas do livro demonstram que o professor sempre deverá estar aprendendo, não somente no período de sua formação, mas também em sua atuação prática de cada dia, onde deverá consolidar essas duas dimensões objetivando o processo de ensino e aprendizagem. Este por sua vez busca dar resposta a uma outra necessidade, a do aluno, é necessário que o professor estabeleça uma profunda relação com este, para que o ensino possa “fluir”, como afirma Veiga (2004, p.15) “[...] ensinar significa mais do que transmitir conhecimento significa desenvolver potencialidades de uma pessoa”. Avaliar, este recurso deve ser compreendido pelo professor e aluno como um medidor de diagnóstico de qualidade da aprendizagem e de busca de melhorias, quando necessárias,ela não deve ser usada como um ato punitivo e discriminatório. Há ainda a última dimensão, a pesquisa, que é uma das preocupações também enaltecidas pelo XII ENDIPE, que está intimamente ligada ao processo didático e a ação docente. Percebemos que é evidente a preocupação com a formação do professor-pesquisador, tanto no âmbito de sua formação, quanto seu exercício profissional. Veiga (2004, p.23) afirma que “[...] pesquisar o que se aprende favorece a autocrítica. Permite uma revisão do que se aprendeu, sistematiza e amplia o conhecimento”. 29 O professor que aprende e cria o hábito da pesquisa enriquece seu repertório na medida em que dispõe de maior acesso ao conhecimento e seleção destes, desenvolvendo a criticidade e não ficando na neutralidade e no espontaneísmo de ideologias. O docente que faz uso deste recurso profundamente repercute esse aprendizado na formação de seus alunos, como também incentiva o uso da pesquisa por seus alunos. Sobre o termo pesquisa, o livro demonstra que os autores discutem a importância de pesquisas relacionadas à avaliação dos cursos de professores no âmbito das disciplinas de didática e da prática de ensino ministradas. Demonstra-se uma grande importância ao fato de formar educadores-pesquisadores, para que estes possam dar continuidade aos estudos e pesquisas que visem melhorias na prática da didática. Segundo Marli André (2004): Ouvir os próprios docentes ao quais as ações se destinam parece ser um caminho interessante, pois são atores privilegiados e podem revelar se suas expectativas foram – ou não - alcançadas; se sua ação docente foi - ou não - afetada positivamente; e quais aspectos poderiam ser melhor estruturados (p.205). Por meio do desenvolvimento de pesquisas com professores atuantes, busca-se encontrar as falhas ou acertos na formação, contribuindo assim, para discutir novamente e refletir sobre quais mudanças são necessárias ou não. Nesse sentido também percebemos a necessidade da formação de um professor-pesquisador capaz de ir além da prática pedagógica, ou seja, na construção e estruturação dela. Concluindo, podemos dizer que estes são os principais pontos abordados no XII ENDIPE sobre o tema “Pesquisa, Didática e Ação Docente”, a necessidade de se rever à formação docente, o conceito de didática nesse processo e a valorização da pesquisa em ambos os processos. Procurando enriquecer este capítulo que teve como base os trabalhos apresentados no XII ENDIPE acerca do tema didática, consultamos a última edição do evento que se realizou em Recife no ano de 2006. Após análise do material publicado, constatamos pelos títulos dos trabalhos apresentado no índice resumos que nenhum versava especificamente 30 sobre a Didática, pois o tema gerador do evento foi educação tecnológica, por isso optamos por manter como base somente o XII ENDIPE. 31 2.0 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES E A DIDÁTICA Para falar de formação de professores e didática primeiramente, contextualizaremos a situação atual de nosso sistema educacional e conseqüentemente o “aluno”, que é o principal alvo atingido em todo este processo. Apesar de constar na lei nacional que a educação é um direito de todo cidadão, esta mesma lei traz contradições, pois não explicita a obrigatoriedade em todos os níveis que são fundamentais para o desenvolvimento pleno de uma pessoa. Sabemos também que mesmo as situações de obrigatoriedade nem todas as crianças conseguem estudar, na medida em que o Estado não fornece as condições necessárias para o acesso, permanência e conclusão do curso com sucesso, acentuando as desigualdades e a discriminação social, pois administra o dinheiro público em favor de interesses políticos e privados. Nesse ritmo caminha nosso sistema de educação, as crianças brasileiras percorrem a jornada escolar mediante estas condições, como se não fossem suficientes todos estes aspectos negativos, há ainda o fato de que as próprias escolas públicas não estão conseguindo trabalhar pedagogicamente em favor da democratização do ensino e principalmente da aprendizagem de qualidade para o aluno menos favorecido, mantendo as diferenças sociais geradas pelo Estado e suas políticas em favor de seus interesses próprios. “Nesta escola” encontramos o professor, personagem de muita importância na construção deste processo e que se vê perdido entre um Estado que difunde uma ideologia neutra em suas leis, a realidade social do aluno (e do país) e sua formação, que em muitas vezes é falha, confusa, dicotomizada, insuficiente. Abordaremos agora um breve histórico sobre a criação do curso de formação do professores na Escola Normal (Magistério Técnico) percorrendo sua origem e desenvolvimento ao longo dos anos, bem como fatores que a influenciam até os dias atuais. Segundo Gonçalves e Pimenta (1992): “A formação do professor primário no Brasil pelas escolas normais data do ano de 1833, quando foi criada a Escola Normal de Niterói – RJ, seguida da criação de uma dezena até o final do século”. As escolas eram todas públicas, regidas por leis estaduais, pois não havia uma organização nacional para estas escolas ainda, sendo o Estado de São Paulo “contemplado” com essas novas escolas (p.96-97). 32 Neste período predominavam os ideais liberais, questionando o Império e defendendo os interesses individuais, a igualdade e a expansão do ensino primário para todos, impulsionando assim a necessidade de formação de professores, que na verdade ocorreu, mas de forma quantitativa apenas. Naquela época a escola normal era destinada exclusivamente aos homens, pois a função da mulher era ser “dona de casa”, essa situação começa a mudar somente no século XX. A partir deste século o número de escolas normais cresce, mas não atende á demanda do país, em 1945 o país contava apenas com 540 escolas. Na década de 1930 o país passa por profundas transformações políticas, econômicas e sociais com a crise internacional e há mudanças no sistema de produção do país, gerando a necessidade de maior qualificação operária, ou seja, que tenham o mínimo de instrução escolar. A população também reivindica a escolaridade mínima, percebendo a complexidade e exigências deste novo contexto, e a tem como fator de “ascensão social”. Segundo Gonçalves e Pimenta (1992, p 97), “[...] nessa sociedade com desenvolvimento econômico configurado, a educação escolar atua com coadjuvante, não primeiro, mas imprescindível”. É este o valor que a educação começa a ganhar, não como direito de todo cidadão para seu crescimento e desenvolvimento, mas para os interesses políticos e de mercado. A reivindicação da população encontra resposta por parte dos políticos nos anos da ditadura de Vargas (1937 a 1945), com a organização do sistema de ensino do país através das Leis Orgânicas, em abrangência nacional e não mais estadual como antes. Nas Leis Orgânicas, a preparação de professores para o ensino primário passou a ser organizado por diretrizes e normas de caráter nacional. A Lei Orgânica do Ensino Normal (Decreto-lei 8.530) data do mesmo dia em que se publicou a Lei Orgânica do Ensino Primário (Decreto-lei 8.529), evidenciando o propósito de integração entre esses dois tipos de ensino (GONÇALVES; PIMENTA, 1992, p. 98). As Leis Orgânicas propunham a integração entre o ensino primário e o normal e a preparação de todo o pessoal docente e técnico necessário às escolas destinadas á educação básica numa só instituição, o Instituto de Educação, que deveria funcionar como um centro que suprisse a necessidade tanto dos alunos, quanto relativos á formação dos professores. 33 Sobre a grade da formação do professor, percebemos que fica clara a não relevância da formação específica e sim o aspecto profissionalizante e técnico, na medida em que se limitam os conteúdos, como afirma Gonçalves e Pimenta (1992, p.100), “[...] relegar somente paraa 4ª série a inclusão de disciplinas que visam a preparação para a docência indica claramente esse descaso”. O professor preparado se encontra diante de um sistema seletivo e elitista, que refletia as contradições sociais daquele momento, de um lado uma escola reivindicada pelo povo, mas que era somente profissionalizante, de outro a que visava a formação do dominante, mantendo em seu conteúdo o cunho literário e acadêmico. Neste contexto, com a expansão das escolas “profissionalizantes”, a formação de professores recaiu neste mesmo aspecto, sendo considerada uma profissão de “nível buguês”, onde as mulheres tomaram sua frente, pois se considerava que o “professor (a)” deveria agir como uma “mãe” para seus alunos. Somente a parcela das mulheres que não conseguissem, por ventura se casar, é que seriam professoras – profissão digna, socialmente falando, que requeria “vocação”, abnegação e carinho para trabalhar com as crianças. Uma profissão na qual o salário pouco ou nada contava, uma vez que ser professora era quase uma extensão do lar (GONÇALVES, PIMENTA, 1992, p.101). Os professores possuíam também um modelo de “aluno ideal”, construído a partir do modelo da classe média alta, que dispunha de pré-requisitos e estrutura financeira e familiar, favorecendo a aprendizagem que a tendência escolanovista com seus métodos e exigências requeriam. Essa concepção de aluno e formação distanciava o professor cada vez mais da realidade educacional da época, pois à maioria das crianças eram oriundas das camadas populares (como é até hoje), e de pais que lutaram por este acesso à escola, onde seus filhos só foram usufruir realmente a partir da década de 50. A formação oferecida mostrava-se pouca e não condizente com a realidade dos alunos que representavam a maioria da população e que através da luta destes (entre outros fatores) se constituiu. Na década de 60, a formação de professores continuou da mesma forma, sendo realizada pelas Escolas Normais e pelos Institutos de Educação. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, nº4.024/61 apesar de representar um marco importante nas conquistas 34 educacionais, pois versava sobre todos os níveis de ensino nacionalmente, não alterou significativamente o ensino normal, mantendo o ensino médio dividido em ciclo ginasial e ciclo colegial. Este último compreenderia o ensino secundário e técnico que corresponderia à formação do professor primário. Esta lei já estava defasada ao ser editada, sua longa tramitação de treze anos (1948 a 1961) e suas mudanças não significativas contribuíram para essa defasagem. Neste contexto a profissão de professor transformou-se em um cargo tradicionalmente feminino e que, se antes era visto como um emprego que concederia a emancipação feminina passa gradativamente com os anos a sofrer as influências políticas e econômicas, que então foram “adequando” esta profissão, vamos dizer “ao nível da classe média assalariada que de certo modo a alcançou”. A mulher que agora podia ser professora teve de conciliar sua profissão aos afazeres domésticos, conseqüentemente passou a trabalhar em período integral, pois seu salário se torna fundamental, e não mais complementar, pois agora a mulher pode sustentar a casa sozinha. A profissão de professora deixa de ser uma opção para a mulher e passa a atender a necessidade da família inserida em uma sociedade capitalista que cria essa exigência, essa situação demonstra a desvalorização da profissão de educador, bem como o processo histórico das dificuldades do professor em se profissionalizar e se dedicar integralmente com amor e vontade a essa profissão, devido á fatores econômicos, políticos e sociais. Após o ano de 1964, o país sofreu transformações devido à intervenção e “dominação” militar, e conseqüentemente a educação. Esta passou a ser vista como um mecanismo para se atingir os objetivos econômicos e ideológicos desse período, estagnando as lutas por novas mudanças no sistema de ensino. Em 1971, com a nova Lei de Diretrizes e Bases para o ensino de 1º e 2º grau (lei 5.692), o curso do magistério transformou-se em Habilitação Específica para o Magistério em nível de 2º grau, sendo mais uma habilitação profissionalizante, e que pouco a pouco foi se transformando na única opção de formação para esta profissão. E a preparação de profissionais que lecionariam para esses futuros professores primários ficou restrita aos cursos superiores de pedagogia. 35 Os conteúdos pertinentes á habilitação do magistério demonstravam claramente a distancia entre teoria e prática, na medida em que dividia a grade curricular entre conteúdos de núcleos comuns e específicos a habilitação profissional, o que gerou um caráter tecnicista na formação do professor. Segundo a Lei 5.692/71, concedeu um novo aspecto legal aos cursos de formação de professores, no entanto, um aspecto que não valorizava os alunos das camadas pobres, o que acentuou a fragmentação ainda maior do curso, todos estes fatores culminaram na expansão quantitativa de formação e causou a precariedade da qualidade do ensino. Podemos perceber que as legislações educacionais como um todo, traziam mudanças na formação do professor, mas sem considerar a realidade social e as reais necessidades dos alunos de baixa renda, formava-se (forma-se) professores que não eram capazes de ensinar o aluno pobre, sendo este o mais necessitado de um ensino de qualidade. Não podemos esquecer também a parcela que as universidades (pedagogias e licenciaturas) possuem nesta situação, a formação oferecida por estes cursos superiores não os preparavam plenamente, pois não possuíam vínculo com a realidade escolar, não formavam os futuros professores com bases concretas sobre as disciplinas gerais e específicas de ensino, o que refletia na formação da habilitação do magistério. A alfabetização, por exemplo, é umas das funções mais importantes e significativas do professor primário, se ele não receber uma formação que o capacite plenamente para esta atividade, seu desenvolvimento se refletirá diretamente na aprendizagem dos alunos, gerando repetência, exclusão e evasão escolar. No ano de 1982, a Lei 7.044/82 acabou por determinar a não obrigatoriedade da profissionalização no ensino de 2º grau, ou seja, primeiro houve um grande incentivo (obrigatoriedade) e depois descaso pela formação de professores, gerando a desvalorização profissional do magistério. Na Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL,1996b) é cobrado que os professores possuam cursos superiores de pedagogia (licenciatura plena), mas é aceita também a modalidade em nível médio do magistério, no entanto, não é citado nenhuma melhoria significativa ou benefício que incentive a formação superior: Art. 62º - A formão de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em 36 universidades e institutos de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. (BRASIL, 1996b, p. 22). Percebemos que a formação do professor á nível de magistério demonstra claramente ser regida por interesses econômicos, políticos e sociais, bem como sua manutenção ao longo dos anos. Infelizmente a atual situação desta profissão e o sistema de ensino são conseqüências destes fatores que historicamente traçaram distorções em seus desenvolvimentos, como por exemplo, no motivo da procura pela profissão, a importância que o governo e o mercado demonstraram pela educação, a formação do professor, a consciência crítica e social deste profissional em atuação, entre outros fatores. Refletindo sobre este breve histórico sobre o processo de formação de professores chegamos a outro ponto deste capítulo, a relação da didática com formação de professores. A didática deve ser umadisciplina na formação do professor que possui o objetivo de estudar o processo de ensino em seu conjunto, ou seja, suas finalidades, princípios, condições reais, meios, organização, objetivos sobre conteúdos, métodos, aprendizagem, avaliação, enfim, todos os aspectos que fazem parte deste processo e que o determinam. Segundo Libâneo (1994): A didática, assim, oferece uma contribuição indispensável á formação do professores, sintetizando no seu conteúdo a contribuição de conhecimentos de outras disciplinas que convergem para o esclarecimento dos fatores condicionantes do processo de instrução e ensino, intimamente vinculado com a educação e, ao mesmo tempo, provendo os conhecimentos específicos necessários para o exercício das tarefas docentes (p.74). Castro, afirma a importância da didática dizendo: Pois é certo que a didática tem uma determinada contribuição ao campo educacional, que nenhuma outra disciplina poderá cumprir. E nem a teoria social ou a econômica, nem a cibernética ou a tecnologia do ensino, nem a psicologia aplicada à educação atingem o seu núcleo central: o Ensino. (CASTRO, 2006, p.21). A didática é uma disciplina que permeia todas as outras, sendo interdisciplinar, pois será a “base comum” para que o professor busque a melhor forma de desenvolver sua 37 função. Podemos perceber que é clara a importância da didática na formação e ação docente, no entanto, notamos que no desenvolver histórico desta profissão, a didática não obteve (e ainda não têm) esta mesma relevância, e quando ministrada só enaltecia sua distorção e visão técnica, acentuando a distância entre teoria e prática. Atualmente percebemos que esta situação não mudou muito, existem pesquisas e estudos que buscam e apontam contradições e poucas melhorias neste processo, mas o que percebemos na “didática prática” (na sala de aula) é que muitos professores, tanto no decorrer de sua formação, quanto em sua atuação não possui os conhecimentos necessários para atuar e muito menos compreende o aspecto didático de todo este processo, pois também não aprendeu sobre sua importância e conteúdos. Muitos autores e pesquisadores reconhecem que não é suficiente apenas cobrar do professor atitudes didáticas e pedagógicas ou ainda condena-los por não dominar a teoria e a prática. Percebem que é necessário intervir na raiz do problema, ou seja, na formação do futuro professor, pois será através dela que se poderá buscar transformações que refletirão na postura do professor e conseqüentemente na sala de aula. A formação do futuro professor deve fundamentar-se com uma base teórica nas disciplinas de Filosofia, História e Sociologia da Educação e paralelamente devem ocorrer às disciplinas de aspectos práticos, sendo desenvolvidas conjuntamente, teoria e prática (incluindo o estágio), assim será possível que a teoria subsidie a prática e vice-versa, bem como expor as contradições e aproximações que ambas possuem, construindo uma nova visão sobre o processo de ensino-aprendizagem e a realidade onde estão inseridos. A didática é uma disciplina fundamental na formação do educador, juntamente com a Metodologia de Ensino, a Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado e as disciplinas de base teórica prepararão o futuro professor a estar apto a trabalhar na sala de aula (dependendo é claro de como forem ministradas), pois ele dominará os conteúdos científicos e práticos, e principalmente já estará diante da realidade de sala de aula (através do estágio) para poder perceber se o que aprende é realmente válido ou não, e poder questionar e cobrar seus aprendizados. Há que se superar também o enfatizar de uma única dimensão no processo de ensino e formação, tanto no aspecto teórico como no prático, que gera seu reducionismo, e 38 perceber que todas as disciplinas são fundamentais, pois formam um conjunto e separadas não possuem significados educativos. Concluindo, a didática como afirma Luckesi (1982, p.33), “[...] deverá ser um elo fundamental entre opções filosófico-políticas da educação, os conteúdos profissionalizantes e o exercício diuturno da educação”, ou seja, formação teórica e prática contextualizada e amor pela profissão. 2.1 OS DESAFIOS ATUAIS DA DIDÁTICA Nos capítulos anteriores percebemos que são muitas as questões que influenciam a didática e que se colocam como desafios ao seu desenvolvimento. Podemos citar os aspectos políticos, econômicos, sociais, de formação, amor, dedicação, pragmatismo, unidimensionalidade, enfim, a didática vem sendo conduzida por alguma finalidade que a transforma ou distorce de seu verdadeiro sentido. Segundo Castro (2006, p.22) os adjetivos que são acrescentados à didática parecem periodicamente cumprir esse papel de altera-la ao sabor do seu conteúdo. Atualmente podemos citar dois fatores (além dos já citados) que são grandes desafios não somente para a didática, mas para todo o sistema de ensino que são, a legislação educacional brasileira e a política neoliberal. Sabemos que estes fatores são regidos por influências políticas, que as conduzem mediante seus interesses. “Há um reducionismo técnico da didática orientada pelos documentos legais que norteiam a formação de professores” (VEIGA, 2006a, p.46-47). A legislação educacional é influenciada diretamente pela visão neoliberal, que busca formar o professor através de uma pedagogia por competências e ligada a avaliação de resultados, ou seja, um professor pragmático. Não há uma preocupação com a formação crítica e contextualizada, sendo assim, a didática e toda a formação do futuro professor fica desvinculada do contexto social, gerando a formação de caráter técnico, onde o professor é um mero executor de leis impostas pelo sistema e que não é nem capaz de enxergar a ideologia que o cerca, muito menos criticá-la buscando transformações. Tem-se assim, o professor pragmatista, que concebe a didática como um conjunto de informações técnicas apenas, distorcendo-a. 39 Outro ponto muito importante que a didática possui como desafio atualmente é à busca da qualidade e democratização do ensino, como é possível que um professor que vive preso a uma ideologia de concepção de ensino, regida por interesses políticos e que exerce uma didática passiva e acritica, lute pela qualidade e acesso de um ensino para todos. O professor deve ter primeiro, certeza de seu objetivo como educador para posteriormente compreender que suas escolhas e postura é que afirmarão se está percorrendo o caminho certo. Se o professor opta por ser um profissional crítico, suas atitudes deveram ser críticas, justas e reflexivas, não somente em palavras, mas em ações concretas. Caso escolha ser um profissional neutro, seguirá a ideologias impostas, cobrará apenas resultados á partir de técnicas de ensino, sem considerar a realidade em que os alunos vivem e aprendem. Podemos perceber que a busca atualmente é por uma formação do professor que possua uma didática condizente com o momento e a realidade de nossos dias e que irá atuar futuramente, essa formação deverá compreender subsídios que conscientizem o futuro professor de que a maioria das crianças que educará advém da classe média baixa (clientela da escola pública), pois elas caracterizam a situação econômica e realidade social do país, e que possuem o direito de acesso e qualidade de ensino que, inclusive está prevista em lei. Os profissionais da educação que se disponibilizarem a levar a sério esta profissão deverão fazer valer os direitos de cada criança, enquanto cidadão, só assim o professor demonstrará competência, criticidade e respeito em sua profissão, podendo exigir o mesmo de todos, pois “... a incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor” não somente a autoridade sobre a classe, mas sobre toda a sociedade (FREIRE, 2004, p. 93). 40 3.0 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISANa área educacional tem sido considerado cada vez mais importante a necessidade de conhecer e explicar, com caráter científico, a natureza dos fenômenos educativos. Portanto, adotamos uma abordagem qualitativa, que segundo Bogdan e Biklen (1994) é “uma metodologia de investigação que enfatiza a descrição, a indução, a teoria fundamentada e o estudo das percepções pessoais". Tal abordagem, para esses autores, tende a assumir um forte cunho descritivo e interpretativo. A pesquisa de campo foi desenvolvida com o intuito de coletar dados sobre a concepção dos professores a cerca do tema Didática. Participaram da pesquisa professores de quatro escolas, sendo todas públicas. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um questionário sobre a concepção dos professores sobre a Didática, contendo 13 questões, sendo dez fechadas e três abertas abordando conhecimentos gerais sobre o professor como o nível de ensino e tempo de atuação, idade, sexo, formação, quantas instituições atuam, e específicos sobre seu conhecimento à cerca da didática, se freqüentou disciplinas sobre didática em sua formação, seu conceito sobre didática, ensino, aprendizagem e docência (Apêndice A). Segundo Lakatos e Marconi (1999) o questionário é instrumento de coleta de dados constituído por uma série de perguntas, que devem ser respondidas por escrito. Os autores ressaltam que como em todo instrumento de coleta de dados o questionário também possui vantagens e limitações. Algumas vantagens comumente citadas: pode-se obter uma boa amostra da população, o anonimato é garantido, não há pressão por parte do entrevistador, a tabulação de dados pode ser feita com maior facilidade e rapidez que outros instrumentos (entrevista, por exemplo), o custo é reduzido (não há necessidade de entrevistadores), rapidez e ausência de vieses por parte dos entrevistadores na aplicação. Como desvantagem principal, todos citaram a percentagem pequena de devoluções (LAKATOS e MARCONI, 1999; GIL, 1996). Foram distribuídos um total de 60 questionários, entre as quatro escolas participantes, dos quais retornaram apenas 21 respondidos e nos quais a pesquisa de campo se baseou. 41 De acordo com Lakatos & Marconi, (1995) a pesquisa bibliográfica não é apenas uma repetição do que já foi publicado sobre o tema, mas propicia uma análise sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras. Por meio da fundamentação teórica citada o presente trabalho se subsidiará e posteriormente será confrontada com as concepções dos professores coletadas na pesquisa de campo a cerca da didática, buscando dessa forma analisar as divergências e aproximações tanto na teoria, quanto na prática docente sobre a didática. A seguir especificaremos mais detalhadamente cada item deste capítulo. 3.1 TIPO DE PESQUISA O tipo de pesquisa abordado foi à qualitativa, por ser considerada um a metodologia eficaz e que proporciona uma profunda investigação e análise de caráter descritivo e interpretativo, o que enriquece sua contribuição ao trabalho. Outro fator pela preferência deste tipo de pesquisa é devido à qualidade dos resultados obtidos, a pesquisa qualitativa requer maior atenção, tempo e dedicação, mas proporciona resultados satisfatórios para uma pesquisa. 3.2 LOCAL A pesquisa de campo foi realizada em quatro escolas, todas públicas, sendo duas da cidade de Barra Bonita e duas de Bauru. Não se optou anteriormente que todas as escolas participantes devessem ser públicas, chegou-se até cogitar a importância da participação de uma escola particular, mas em função da receptividade do convite e disponibilidade para a aplicação da pesquisa foram selecionadas as que se manifestaram positivamente e que teríamos melhor acesso. As escolas participantes foram: - Creche e Escola de Educação Infantil de Barra Bonita - Escola Municipal de Barra Bonita (Ensino Fundamental 1ª à 4ª série); - Escola Estadual de Bauru (Ensino Fundamental 1ª à 4ª série); 42 - Universidade Estadual de Bauru (Ensino Superior; participaram da pesquisa alunos do curso de Pedagogia que já atuam como professores). 3.3 PARTICIPANTES Foram convidados a participarem da pesquisa professores que atuam na Educação Infantil até o Ensino Superior. Foram distribuídos um total de sessenta questionários entre as quatro escolas citadas, dos quais retornaram apenas vinte e um respondidos, sendo estes os participantes efetivos e que foram contabilizados no desenvolvimento integral da pesquisa. 3.4 PROCEDIMENTOS Os procedimentos foram divididos em etapas de desenvolvimento para uma melhor compreensão, as quais são: 1ª Etapa: Nesta etapa foi desenvolvida uma breve pesquisa a respeito do tema do trabalho, observando quais as dúvidas que perduram sobre a didática e que investigadas nesta pesquisa poderiam trazer alguma contribuição na discussão deste tema e no desenvolvimento do trabalho. 2ª Etapa: Baseando-se nos fundamentos e argumentos teóricos elaboramos um questionário (apêndice A) com perguntas gerais e específicas, contendo ao todo treze questões, sendo dez “fechadas” e três “abertas” de caráter investigativo sobre o tema do trabalho, que contribuíram significativamente com suas respostas sobre a realidade que a didática está inserida. 3ª Etapa: Nesta etapa foram visitadas as escolas e convidadas a participarem da pesquisa, posteriormente foram distribuídos os questionários necessários a cada instituição, bem com agendada a data de devolução dos mesmos. 43 4ª Etapa: Nesta etapa foram recolhidos os questionários devolvidos pelas escolas e contabilizados em seu total para posterior apresentação a análise dos dados obtidos. 3.5 INSTRUMENTO DE COLETA Um questionário investigativo foi utilizado como instrumento da coleta de dados. O questionário (apêndice A) possui treze questões ao total, sendo dez “fechadas” e três “abertas”. Algumas questões são para conhecimentos gerais sobre o profissional, já as outras abordam o tema da pesquisa, buscando saber do educador em questão, seus conhecimentos sobre didática tanto prática, como teórica, e questões que estão diretamente ligadas a esse processo e que possam contribuir com o trabalho. 3.6 PROCEDIMENTOS DE APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Os dados obtidos na pesquisa foram analisados juntamente com a apresentação de resultados, utilizando-se de gráficos representativos e quadros com categorias estabelecidas de acordo com as respostas das questões. Houveram questões que foram subsidiadas teoricamente e transcrito exemplos de respostas reais dos professores, quando julgados necessários, a fim de expor a veracidade do processo de apresentação e análise dos dados. 44 4.0 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO Neste capítulo apresentamos os resultados, bem como sua análise mediante os dados obtidos na pesquisa de campo que apontaram as concepções dos professores á cerca do tema Didática, centro do trabalho, a fundamentação teórica e a transcrita de exemplos de respostas, quando adequadas e necessárias em relação à questão. Este capítulo será dividido entre as questões “fechadas” e “abertas” contidas nos questionário investigativo proposto aos professores participantes, que serão demonstradas através de gráficos representativos ou quadros e suas respectivas categorias. Iniciando nossa apresentação e análise de dados, temos o gráfico abaixo que apresenta a porcentagem de respostas referente ao nível de ensino que o professor leciona. Nível de ensino que o professor leciona 29% 38%3% 6% 3% 21% 0% Educação Infantil Ensino Fundamental (1ª à 4ª série) Ensino Fundamental (5ª à 8ª série) Ensino Médio Ensino Superior Mais de um nível de ensino NDA Figura 1 - Nível de ensino que o professor leciona Analisando os dados obtidos referentes
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