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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI DIREITO- NOTURNO WILLIAM WALLACE DE SOUZA SILVA (RA: 21494256) LIBERDADE DE EXPRESSÃO APS- Direitos Humanos SÃO PAULO- SP 2020 Na sua 29ª edição, a Human Rights Watch analisou a prática de direitos humanos em mais de 100 países, no Relatório Mundial de 2019. Neste relatório foram abordados diversos temas em relação à segurança, a violência, ao preconceito, aos direitos da sociedade e como são tratados nos países. Entre os temas apresentados, está o Direito da Liberdade de Expressão no Brasil que é um pilar para a sustentação e condição essencial para a existência de uma verdadeira sociedade democrática, assegurando a garantia de qualquer indivíduo se manifestar, buscar e receber informações, seja por meio de linguagem oral, artística, escrita ou qualquer meio de comunicação. Se tratando de uma democracia, o princípio da Liberdade de Expressão deve ser protegido pela constituição, impedindo os ramos legislativo e executivo de impor uma censura sobre o povo. No direito brasileiro, a Constituição Federal de 1988 é o diploma jurídico mais importante e assegura a liberdade de expressão como um direito fundamental, como está expresso no seu artigo 5º que veremos a seguir: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: II – Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”. Além do artigo constitucional, o Pacto Internacional de Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH) DE 1948 explicita que: “Art. 19 todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão”. Assim sendo, não restam dúvidas de que o direito nos dá o respaldo sobre a liberdade de expressão. Portanto, com o fim da ditadura militar e a retomada da democracia não deveríamos conviver com a censura ou a tentativa dela, mas, ainda assim ela ainda existe e não está muito escondida diante de nossos olhos. Um caso que pode exemplificar essa afirmação é o citado no próprio Relatório Mundial de 2019, onde o Presidente da República Jair Bolsonaro, após vencer as eleições, disse que cortaria verba publicitária para veículos de imprensa que se comportassem de forma indigna, dando a entender um ato de violação à liberdade de imprensa com a censura que é claramente proibida, como pode- se encontrar, por exemplo, no Art. 220, §1º e §2° da Constituição Federal de 1988 que diz o seguinte: “Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nessa Constituição. §1° Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o dispositivo no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV; §2° É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.” Convém lembrar, como observa Norberto Bobbio, que a Constituição estabelece as normas básicas para o jogo democrático e estabelece penalidades para o descumprimento das normas democráticas. Contudo, a Constituição não garante a existência de um bom governo ou funcionamento ideal da democracia. Isso depende da vontade dos detentores e destinatários do poder, portanto, a Constituição não tem culpa pela existência de maus governos. Infelizmente, ao longo da história do Brasil, os detentores do poder sempre demonstraram má- vontade com os princípios democráticos inscritos nas Constituições. Inclusive os vários governos que se sucederam em relação a atual Constituição Federal, sempre consideraram uma constituição que não controla efetivamente o processo político. Porém, não vemos uma dificuldade na democracia somente no autoritarismo dos governantes com os governados, pois na sociedade também vemos comportamentos autoritários, tendo como exemplo as várias tentativas de censura em redes sociais de algumas pessoas com as outras, seja com estereótipos que buscam limitar as opiniões alheias ou os debates com violências verbais, sem um debate saudável. Uma pessoa pode se expressar livremente e o ideal é que o faça, porém essa liberdade não pode ter o sentido da desordem ou da falta de bom-senso. Isso é dito porque como vimos anteriormente, o direito à liberdade é um direito fundamental e, portanto não pode se sobrepor a outro direito, pois nenhum direito fundamental é absoluto, tendo que respeitar o princípio da proporcionalidade ou razoabilidade em casos concretos. Por exemplo: eu tenho a liberdade de me expressar sobre uma pessoa, mas se eu difamá- la moralmente, terei infringido o direito à honra dessa pessoa e, com isso, seria punido em responder ao crime de difamação, previsto no capítulo de crimes contra a honra do Código Penal Brasileiro. Nesse sentido, o limite da liberdade de expressão seria a responsabilização por eventuais condutas de dano na esfera cível ou criminal. Essa diferença entre censura e limitação pode ser retratada na ponderação por parte do STF (Supremo Tribunal Federal) considerando uma hipótese na decisão judicial em que vemos alguns trechos a seguir: “DECISÃO: Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL. RECLAMAÇÃO. LIBERDADE DE EXPRESSÃO. DECISÃO JUDICIAL QUE DETERMINOU A RETIRADA DE MATÉRIA JORNALÍSTICA DE SÍTIO ELETRÔNICO. CONCESSÃO DE MEDIDA CAUTELAR. (...) 2. No julgamento da ADPF 130, o STF proibiu enfaticamente a censura de publicações jornalísticas, bem como tornou excepcional qualquer tipo de intervenção estatal na divulgação de notícias e de opiniões. (...) 4. Eventual uso abusivo da liberdade de expressão deve ser reparado, preferencialmente, por meio de retificação, direito de resposta ou indenização. Ao determinar a retirada de matéria de sítio eletrônico de meio de comunicação, a decisão reclamada violou essa orientação. (...) I. A HIPÓTESE 1. Trata-se de reclamação, com pedido liminar, contra decisão proferida em 26.05.2015, por Juíza de Direito da Comarca do Rio de Janeiro/RJ, que determinou que a parte reclamante retirasse, de seu sítio eletrônico, matéria referente ao reclamado, publicada em 05.06.2013, por entender que restou induvidosa a ofensa à sua honra e à sua dignidade. A decisão reclamada foi redigida nos seguintes termos: “Restando induvidosa a ofensa à honra e dignidade do autor, pela publicação de matéria no site da Revista Veja Rio intitulada ‘Um bicão na alta- roda’, que extrapolou os limites do direito de informação, com fulcro nas normas dos artigos 5º, X, da C.F. e 20 do Código Civil, defiro a antecipação para determinar à 2ª ré que retire de seu sítio eletrônico tal matéria, disponível no endereço indicado na inicial, no prazo de 48 horas, sob pena de multa diária de R$5.000,00. Intime-se e cite-se.” (...) No caso concreto, não resta dúvida de que a matéria jornalística publicada é de responsabilidade da agravante e que, embora tivesse o consentimento do agravado, extrapolouo exercício do direito de informação. (…)”. É claro que ainda existem casos específicos que confundem as pessoas e acabam causando muita polêmica como, por exemplo, o que ocorreu em março de 2018 em que um homem foi condenado a seis meses de prisão por insultar um soldado e três ministros do STF sustentaram que houve o crime de Desacato tipificado no artigo 331 do Código Penal, que consiste no “desrespeito” contra funcionários públicos com até dois anos de prisão. No entanto, um quarto ministro sustentou que a punição por desacato viola a liberdade de expressão além de outros três princípios constitucionais (da legalidade, da igualdade e do Estado Democrático de Direito) e, após isso, a Ordem dos Advogados do Brasil ingressou com uma ação que seja declarada a inconstitucionalidade do dispositivo de desacato no STF que, por sua vez, negou provimento a ação que pedia a inconstitucionalidade do crime de desacato, pois ao atuar no exercício de sua função, o agente público representa a administração pública, situação que lhe sujeita a um regime jurídico diferenciado de deveres e prerrogativas, então, se de um lado está sujeito a sanções próprias e mais rigorosas por eventuais desvios, por outro é razoável que se prevejam tipos penais protetivos de sua atuação. Ou seja, deve existir liberdade, mas caso venhamos a cometer alguma conduta antijurídica dentro desse direito, vamos responder por isso. Caso contrário, estaremos diante de uma censura, que é um ato intencional que visa limitar o direito à liberdade de expressão de forma impositiva e autoritária, contraria o exercício da democracia e o texto mais importante dentro do Estado, a constituição. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: https://www.hrw.org/pt/world-report/2019/country-chapters/325547 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constituicao- federal-de-1988 https://declaracao1948.com.br/declaracao-universal/declaracao-direitos- humanos/?gclid=CjwKCAiAtej9BRAvEiwA0UAWXp4nPZwWjLLn2lSQdQtpUS GNQWwoxq9AkQvPR_qwaqi1k_kosCU_7RoC80sQAvD_BwE https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10646742/artigo-220-da-constituicao- federal-de-1988 http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/visualizarEmenta.asp?s1=00023023 5&base=basePresidencia https://www.jusbrasil.com.br/noticias/busca?q=CRIME+CONTRA+A+HONRA +-+ART.+139+DO+C%C3%93DIGO+PENAL https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=446054&ori =1
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