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Sociologia
Volume 12
23
24
Sumário
Novas perspectivas sociológicas: as relações 
pessoais na Pós-Modernidade ..................... 4
Modernidade líquida e fluidez das relações sociais, de Zygmunt Bauman ..... 7
Transformação da intimidade, de Anthony Giddens ....................................... 12
Novas perspectivas sociológicas: poder e 
trabalho na Pós-Modernidade .................... 18
Relações de poder entre estabelecidos e outsiders, de Norbert Elias .............. 19
A corrosão do caráter, de Richard Sennett ...................................................... 24 
Acesse o livro digital e 
conheça os objetos digitais 
e slides deste volume.
Novas perspectivas
 
sociológicas: as rela
ções 
pessoais na 
Pós-Modernidade
Ponto de partida 
23
1. Até que ponto a Sociologia Clássica consegue explicar a realidade social em que vivemos atualmente?
2. Será que vivemos em uma sociedade na qual os estilos de vida, as crenças e as tradições do passado estão 
perdendo seu significado?
3. O desenvolvimento tecnológico afetou a forma como nos relacionamos com os outros?
©Shutterstock/Tithi Luadthong
4
Objetivos da unidade:
 compreender as definições de Modernidade e Pós-Modernidade; 
 compreender e problematizar os conceitos de Modernidade sólida e Modernidade 
líquida apresentados por Zygmunt Bauman; 
 problematizar as transformações na intimidade pela perspectiva teórica de Anthony 
Giddens.
nidade e Pós-Modernidade;
A Sociologia surgiu durante o século XIX como uma ciência que visava explicar as transformações sociais, políticas 
e culturais que ocorreram com o advento da Modernidade. Mas o que quer dizer Modernidade? Será que tem relação 
com o desenvolvimento tecnológico que estamos vivenciando nas últimas décadas? Será que ser moderno significa 
ser inovador e estar em constante processo de transformação?
O conceito sociológico de Modernidade se refere, especificamente, ao processo histórico de superação das tradi-
cionais formas de pensamento e organização social do Período Medieval. De modo geral, pode-se dizer que a Moder-
nidade propiciou o advento de uma nova concepção de sociedade e de ser humano. Nessa concepção, acreditava-se 
que a razão e a ciência possibilitariam o amplo domínio e o controle da natureza e da sociedade e, por consequência, 
o progresso da humanidade. Portanto, as antigas concepções religiosas que definiam o sentido das ações humanas 
perderam espaço como referências únicas, sendo substituídas de modo gradativo pela nova condição do indivíduo de 
atribuir significado à sua própria existência. 
Nesse contexto, pensadores sociais, como Karl Marx, Émile Durkheim, Max Weber e Georg Simmel, elaboraram 
teorias sociológicas que buscavam a compreensão dos principais elementos que caracterizaram as mudanças provo-
cadas pela Modernidade. Tais autores tinham por intuito explicar, cada qual a seu modo, como ocorreu a transição de 
uma mentalidade religiosa para uma concepção racional e científica de mundo, de uma economia feudal para uma 
economia capitalista e de uma sociedade agrária para uma sociedade urbano-industrial. 
Com o passar do tempo, a promessa de progresso da Modernidade, que seria conquistada por meio do pen-
samento racional e científico, começou a ser questionada. Percebia-se que a razão, a ciência e a técnica não eram 
capazes, por si só, de garantir o progresso e a estabilidade da humanidade. Embora as transformações associadas à 
Modernidade tenham libertado o indivíduo da concepção religiosa de mundo e da submissão às instituições tradi-
cionais (família patriarcal, igreja, aristocracia, etc.), verificava-se, por outro lado, o desenvolvimento de novos meca-
nismos de controle social.
OROZCO, Jose Clemente. Deuses 
do mundo moderno. 1932. 1 afresco. 
Detalhe do mural O Épico da 
Civilização Americana. Biblioteca 
Baker, Dartmouth College, 
Hanover, New Hampshire, EUA.
 O mural pintado por Orozco 
representa o saber formal e 
acadêmico como uma ossada 
de livros que se reproduz em 
novos fetos-esqueletos sob 
a chancela acadêmica dos 
doutores do saber científico 
e intelectual. É uma forma de 
expressar sua incredulidade 
na apregoada salvação que o 
conhecimento científico passou 
a deter na Modernidade, uma 
crítica ao saber formal em sua 
ineficiência em transformar a 
realidade social em prol de mais 
igualdade e liberdade.
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A Modernidade e a fé no futuro
[...] A autoconfiança moderna deu um brilho inteiramente novo à eterna curiosidade humana sobre 
o futuro. As utopias modernas nunca foram meras profecias, e menos ainda sonhos inúteis: abertamente 
ou de modo encoberto, eram tanto declarações de intenções quanto expressões de fé em que o que se 
deseja podia e devia ser realizado. O futuro era visto como os demais produtos de nossa sociedade de 
produtores: alguma coisa a ser pensada, projetada e acompanhada em seu processo de produção. O fu-
turo era a criação do trabalho, e o trabalho era a fonte de toda a criação. [...]
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p. 151.
Leitura sociológica
Atitude sociológica
 Como a obra Deuses do mundo moderno, do pintor mexicano José Clemente Orozco, serve de crítica à fé na Mo-
dernidade, mencionada por Zygmunt Bauman na Leitura sociológica? 
Nas primeiras décadas do século XX, os sociólogos Theodor Adorno e Max Horkheimer consideraram que o de-
senvolvimento tecnológico-industrial possibilitou não apenas a dominação da natureza, mas dos próprios indivíduos. 
Isso se deu por meio de mecanismos de controle e alienação das diversas esferas da vida. Desse modo, a hegemonia 
da racionalidade, que a princípio visava à emancipação dos indivíduos e ao progresso social, foi direcionada para a do-
minação política e econômica dos sujeitos. Enquanto no trabalho os seres humanos eram dominados pelos modelos 
de produção capitalista, em seus momentos de lazer e entretenimento eram direcionados ao consumo em massa por 
meio dos apelos publicitários da televisão e do rádio. Em suma, Adorno e Horkheimer apontam que o avanço tecno-
lógico passou a ser utilizado a serviço da lógica capitalista, no sentido de alienar e padronizar os indivíduos. Em vez de 
conferir autonomia, a Modernidade teria aprofundado o controle e a dominação.
Se, por um lado, o desenvolvimento científico e tecnológi-
co de forma inegável melhorou as condições de vida do indi-
víduo moderno, por outro também propiciou, paradoxalmente, 
consequências devastadoras para a humanidade, ao ser instru-
mentalizado para a dominação de outros povos e nações. Por 
isso, o sociólogo brasileiro Michael Löwy (1938- ) aponta que 
“nenhum século na história conheceu manifestações da barbá-
rie tão extensas, tão massivas e tão sistemáticas quanto o século XX”. 
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 Imagem do avião Enola Gay, responsável por 
lançar a primeira bomba atômica em Hiroshima, 
em 6 de agosto de 1945
6 Volume 12
O autor destaca que a Modernidade foi marcada por uma barbárie “civilizada”, em 
que as nações mais prósperas agiram no sentido de dominar, subjugar e, por vezes, 
suprimir, cultural e economicamente, as demais nações. Afinal, o século XX foi o 
palco das duas grandes guerras, marcadas pelo uso intenso de tecnologia científica 
avançada, bem como o momento histórico em que os meios de comunicação pro-
pagaram para todo o planeta a cultura e o estilo de vida de nações poderosas.
Diante da descrença em relação às promessas de progresso da Modernidade, 
muitos sociólogos e filósofos da atualidade afirmam que o momento histórico 
atual representa um divisor de águas. 
Tais autores denominam de Pós-Modernidade (ver Conceitos sociológicos) 
a desconstrução de conceitos, valores e instituições construídos na Modernidade, 
a fim de desfazer as amarras impostas ao indivíduo moderno. Outros autores afir-mam não se tratar de um novo fenômeno histórico, mas apenas da radicalização ou 
das consequências da própria Modernidade. Por isso, referem-se a conceitos como 
“Modernidade tardia”, “segunda Modernidade”, “Modernidade líquida” e “Hipermo-
dernidade”. Independentemente da nomenclatura, os estudos sociológicos volta- 
dos à compreensão da sociedade contemporânea dizem respeito a vários fenô-
menos, como a globalização, o avanço das tecnologias da informação, a crise das 
instituições políticas, a cultura do consumo, a conformação de uma sociedade mul-
ticultural e a relativização de valores e instituições. 
ISHIDA, Tetsuya. Despertar. 1998. 1 pintura acrílica sobre tela, color., 
Gagosian Gallery, Nova Iorque.
 O surrealismo e o dadaísmo, movimentos artísticos de vanguarda, 
representam uma crítica aos valores da sociedade burguesa no início do 
século XX, em particular à razão e à ciência. Tais movimentos artísticos 
antecipam aspectos do pós-modernismo, na medida em que rejeitam 
elementos centrais da Modernidade. Na imagem, observa-se um exemplo 
de surrealismo do pintor japonês Tetsuya Ishida, que retrata personagens 
com as mesmas feições para questionar a falta de identidade individual 
na cultura japonesa. 
 Bauman vivenciou momentos muito conturbados da História 
mundial, o que de alguma maneira influenciou suas reflexões 
sobre a realidade.
 As grandes guerras mundiais 
afetaram a crença de que a ciência 
e a tecnologia seriam os fatores 
propulsores do progresso da 
humanidade. No decorrer do século 
XX, o desenvolvimento científico 
também serviu a fins militares, 
aprimorando e intensificando 
as tecnologias bélicas e criando 
estratégias de destruição em 
massa, como as armas nucleares. A 
esperança depositada na ciência 
e na razão não foi suficiente para 
assegurar a paz mundial.
Modernidade líquida e fluidez das relações sociais, de 
Zygmunt Bauman
Zygmunt Bauman (1925-2017), sociólogo polonês, dedicou inúmeros livros à com-
preensão da Modernidade contemporânea. A produção teórica de Bauman visa trans-
mitir, de modo simples e dinâmico, os conteúdos das Ciências Sociais para o público 
leigo, que não está familiarizado com os conceitos e as análises próprios de tal área de 
estudo. Sua escrita tem um caráter jornalístico, priorizando temas de grande repercus-
são com uma abordagem que aproxima as contribuições teóricas das Ciências Sociais 
ao grande público. Como consequência, Zygmunt Bauman se tornou um dos sociólo-
gos mais conhecidos e influentes do mundo contemporâneo, com livros considerados 
verdadeiros best-sellers.
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Sociologia 7
A metáfora dos sólidos e dos líquidos nas relações humanas
[...] O que todas essas características dos fluidos mostram, em linguagem simples, é que os líquidos, 
diferentemente dos sólidos, não mantêm sua forma com facilidade. Os fluidos, por assim dizer, não fixam 
o espaço nem prendem o tempo. Enquanto os sólidos têm dimensões espaciais claras, mas neutralizam o 
impacto e, portanto, diminuem a significação do tempo (resistem efetivamente a seu fluxo ou o tornam 
irrelevante), os fluidos não se atêm muito a qualquer forma e estão constantemente prontos (e propen-
sos) a mudá-la; assim, para eles, o que conta é o tempo, mais do que o espaço que lhes toca ocupar; 
espaço que, afinal, preenchem apenas “por um momento”. Em certo sentido, os sólidos suprimem o 
tempo; para os líquidos, ao contrário, o tempo é o que importa. Ao descrever os sólidos, podemos igno-
rar inteiramente o tempo; ao descrever os fluidos, deixar o tempo de fora seria um grave erro. Descrições 
de líquidos são fotos instantâneas, que precisam ser datadas. [...]
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p. 8.
Leitura sociológica
 Considere a pintura surrealista de Salvador 
Dalí e responda à questão: de que forma a 
representação do tempo, presente na pintu-
ra, se relaciona com a metáfora dos sólidos 
e dos líquidos de Bauman?
Organize as ideias
DALÍ, Salvador. A persistência da memória. 1931. 
1 óleo sobre tela, color., 24 cm x 33 cm, Museu de Arte 
Moderna, Nova Iorque.
 O pintor espanhol Salvador Dalí, um dos expoentes 
do surrealismo, retrata nessa pintura relógios que 
derretem ou se curvam diante da ação da gravidade. 
A presença de formigas e de uma mosca sugere que 
os relógios estão em estado de putrefação.
Zygmunt Bauman se dedicou à compreensão da sociedade contemporânea, apresentando dois conceitos diversos 
e contrapostos: a Modernidade líquida e a Modernidade sólida (ver Conceitos sociológicos). Em seus livros, o soció-
logo utiliza a metáfora dos sólidos e dos líquidos como referência aos diferentes estágios da Modernidade: enquanto 
os líquidos têm como característica a mudança de forma, os sólidos são estáveis e resistentes. 
No livro Modernidade líquida, Bauman caracteriza tal conceito como o momento histórico atual, marcado pela 
extrema fluidez e fragilidade das relações humanas. Para Bauman, atualmente se vive em tempos de incertezas, em 
que tudo é temporário e muda com extrema velocidade, fazendo com que nada mais seja permanente ou seguro. 
Em oposição, a Modernidade sólida representaria um mundo previsível e administrável no qual as relações sociais são 
estáveis e duradouras.
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8 Volume 12
Atitude sociológica
Zygmunt Bauman estabelece algumas das características centrais da Modernidade sólida, entendida como o perío-
do no qual predominava a noção de que a realidade poderia ser classificada, compreendida e controlada pelo uso da 
razão, da ciência e da técnica. A ciência tinha como finalidade eliminar toda e qualquer incerteza e imprevisibilidade. 
No aspecto político, observa-se o surgimento do Estado moderno, com o objetivo de normatizar os comportamentos 
dos indivíduos e eliminar as possíveis contradições internas. 
Bauman aponta que os meios racionais, tão defendidos na Modernidade sólida, conduziram a humanidade a fins 
catastróficos, como as guerras, os campos de concentração e a tragédia nuclear. A descrença no projeto moderno, o 
desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação, assim como as novas dinâmicas relacionadas à globalização, 
foram responsáveis pela emergência de uma nova forma de viver e pensar. Esta foi denominada pelo autor de Moderni-
dade líquida.
Para Bauman, na Modernidade sólida, as relações sociais eram mais previsíveis, garantindo maior segurança para 
que os indivíduos pudessem planejar o futuro. A previsibilidade do comportamento dos outros indivíduos era estabe-
lecida por intermédio de aparatos de controle social, como a família, a escola, o trabalho, o Estado, etc. Tais instituições 
sociais tinham um importante papel na configuração das identidades dos indivíduos. Desse modo, eles, por mais que 
tivessem certa liberdade para construir suas vidas, ainda estavam submetidos às regras e aos padrões de comporta-
mento social.
É possível estabelecer a distinção entre Modernidade sólida e Modernidade líquida da seguinte forma: enquan-
to a primeira oferece segurança e estabilidade, a segunda desconstrói permanentemente a realidade, sem qualquer 
perspectiva de permanência. Na Modernidade líquida, os antigos padrões, regras e códigos deixaram de servir como 
referência aos indivíduos. Nela, tudo é temporário, de modo que instituições, estilos de vida, valores, crenças e con-
vicções mudam a todo instante, antes que venham solidificar novos costumes e hábitos. Por isso, Bauman considera a 
Modernidade líquida como destituída de ilusões, derretendo a solidez da Modernidade.
[...] Um retrato vívido das regiões de fazendas de Massachusetts sobrevive desde os idos de 1820. Era 
inverno, e sob a luz fraca da tarde a pequena propriedade agrícola da família Whittier estava em plena 
atividade: na cozinha, as mulheres trabalhavam;no celeiro, o velho cavalo relinchava “pedindo milho”; 
nos currais, o gado era alimentado com o feno preparado no verão; o galo cantava, o vento leste soprava 
prenunciando uma forte nevasca; as toras e os gravetos de lenha serrada eram empilhados, prontos para 
acender o fogo na sala, onde a família se reunia quando o trabalho do dia estava prestes a terminar. [...]
BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do mundo. Tradução de Tibério Novaes et al. São Paulo: Fundamento Educacional, 2011. p. 260.
 De que modo a rotina da família de camponeses do século XIX pode ser interpretada à luz da teoria de Zygmunt 
Bauman? 
Sociologia 9
Outro aspecto central na transição da Modernidade só-
lida para a Modernidade líquida está na transformação das 
identidades individuais. Na primeira, os indivíduos formam 
sua identidade por meio das instituições sociais em que se 
encontram inseridos, fixando seu modo de ser em confor-
midade com a comunidade, a família, o trabalho e a reli-
gião. Já na segunda, os indivíduos seriam “desenraizados”. A 
identidade deixou de ser única e imutável, passando a ser 
fluida e flexível. Os indivíduos estão em constante meta-
morfose, necessitando se adaptar às diferentes realidades 
nas quais estão inseridos, ao analisar a conveniência de 
seus hábitos e comportamentos.
AZEVEDO, Nele. Monumento mínimo. 2012. 1 instalação, Berlim. 
 A artista plástica brasileira Nele Azevedo realizou uma 
manifestação artística em Berlim, na Alemanha, com mil esculturas 
de gelo, que derreteram em apenas meia hora. A sociedade 
contemporânea se encontra em uma condição de temporalidade 
semelhante. Em um curto espaço de tempo, as certezas se 
desfazem e dão espaço a novas e infinitas possibilidades.
Atitude sociológica
Metamorfose ambulante 
Eu quero dizer
Agora o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
SEIXAS, Raul. Metamorfose ambulante. Intérprete: Raul Seixas. In: SEIXAS, Raul. Krig-ha, bandolo! Brasil: Philips Records, 1973. 1 LP. Faixa 3.
 Como a música de Raul Seixas, "Metamorfose ambulante", pode ser relacionada ao conceito de Modernidade líquida, 
de Bauman?
Imersos na Modernidade líquida, vive-se em um mundo marcado por infinitas oportunidades, com os excessos 
gerando nos indivíduos apreensão e agonia nos momentos de escolha. Inserido nessa realidade, um jovem se depara 
com inúmeras possibilidades de futuro pessoal e profissional. Conseguir um bom emprego ou ser aprovado em um 
vestibular já não são mais garantias de sucesso profissional, como no passado. A aprovação em uma faculdade repre-
senta apenas a primeira etapa de uma série sucessiva de escolhas e experiências futuras. Do mesmo modo, a conquista 
de um bom emprego já não representa mais estabilidade e segurança como antigamente.
[...] O mundo cheio de possibilidades é como uma mesa de bufê com tantos pratos deliciosos que 
nem o mais dedicado comensal poderia esperar provar de todos. Os comensais são consumidores, e a 
mais custosa e irritante das tarefas que se pode pôr diante de um consumidor é a necessidade de estabele-
cer prioridades: a necessidade de dispensar algumas opções inexploradas e abandoná-las. A infelicidade 
dos consumidores deriva do excesso e não da falta de escolha. [...]
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p. 75.
Leitura sociológica
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10 Volume 12
Atitude sociológica
Zygmunt Bauman aponta que o mundo do trabalho também sofreu grandes alterações com o advento da Moder-
nidade líquida. O autor afirma que o trabalho perdeu a centralidade que tinha na Modernidade sólida, na qual figurava 
como um valor dominante e seguro apresentando o firme propósito de definir identidades e projetos de vida. Se na 
Modernidade sólida os jovens que conseguissem seu primeiro emprego tinham a intenção de permanecer na mesma 
empresa até a aposentadoria, na Modernidade líquida a perspectiva de continuidade profissional em uma única em-
presa passou a ser de curto prazo. O trabalho deixou de estar associado à formação das identidades individuais e se 
transformou em uma dinâmica de jogo. Nele, os trabalhadores são como jogadores, que têm objetivos de curto prazo 
e antecipam seus movimentos visando à satisfação de objetivos imediatos, porém sem a perspectiva de continuidade 
ou permanência. Por isso, Bauman ironiza que “empregos seguros em empresas seguras parecem parte da nostalgia 
dos avós”, um passado que já não pertence à realidade contemporânea.
No livro Amor líquido, Zygmunt Bauman ressalta que, na Modernidade líquida, indivíduos, grupos e instituições 
sociais sofrem pressões constantes para se adaptarem às mudanças sociais. Como consequência, os vínculos de união 
e confiança estabelecidos entre eles se tornam mais frágeis, na medida em que cada vez menos se sabe o que esperar 
das demais pessoas com quem convivem. Até mesmo as relações amorosas são afetadas pela falta de lealdade, cons-
tância e confiança entre os indivíduos. Se, antes, os relacionamentos duravam “até que a morte os separe”, na Moder-
nidade líquida os relacionamentos afetivos se tornam cada vez mais breves, superficiais e instáveis. Isso ocorre porque 
haveria uma tendência de evitar os compromissos afetivos incondicionais e duradouros, com o intuito de impedir qual-
quer sofrimento futuro caso ocorra o término da relação. Todos anseiam por um relacionamento firme e duradouro, 
como nos grandes romances, porém a grande maioria não quer correr os riscos de enfrentar uma decepção amorosa. 
As relações humanas na sociedade líquida estão sendo direcionadas mais pela proximidade virtual do que pela 
proximidade física, visto que os relacionamentos pela internet têm como vantagem o menor esforço para sua ma-
nutenção e rapidez na interação. É frequentemente mais fácil estabelecer contato com amigos virtuais, por meio das 
redes sociais, do que com as pessoas de convívio cotidiano, no contato face a face. Pode-se notar tal mudança quando 
se comemora um aniversário. Enquanto há alguns anos as pessoas ligavam umas para as outras a fim de parabenizá-
-las pela data, na atualidade é bastante comum mandar e receber mensagens instantâneas por meio de aplicativos e 
redes sociais. As relações com os outros não foram cortadas, mas é óbvio que a intensidade e a qualidade delas foram 
modificadas pelo uso das tecnologias de informação. Conviver e dialogar pessoalmente, com amigos e parentes, não é 
o mesmo que estabelecer tais contatos apenas pelas redes sociais. A questão que se coloca é: até que ponto as relações 
face a face estão sendo substituídas pelas relações on-line?
 De que modo a charge ilustra 
o que Bauman entende por vir-
tualização das relações sociais? 
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Sociologia 11
Transformação da intimidade, de Anthony Giddens 
O sociólogo britânico Anthony Giddens (1938- ) apresenta importantes 
contribuições sobre o período histórico atual, problematizando as consequên-
cias da Modernidade no cotidiano contemporâneo. Giddens defende que, 
nas sociedades pré-modernas, a tradição tinha grande peso na manutenção 
da coesão social, sendo fator de orientação de ações e comportamentos dos 
indivíduos. Por outro lado, para esse sociólogo, nas sociedades modernas exis-
te uma ruptura com tudo o que representa o antigo, a tradição ou o passado, 
constituindo novas relações sociais, dinâmicas e mutáveis. 
Na concepção de Anthony Giddens, a Modernidade rompeu com os re-
ferenciais protetores dos indivíduos, anteriormente centrados na família, na 
religião e na comunidade, e instituiu novas dinâmicas nas relações sociais. 
Giddens destaca o caráter mutante das sociedades modernas, que faz com 
que hábitos, costumes, ideologias, valores e comportamentos sofram cons-
tantes transformações.E mais, o sociólogo considera que vivemos em uma 
época na qual os costumes e os hábitos próprios da Modernidade foram radi-
calizados. Por isso, ressalta que estamos vivendo as consequências da própria 
Modernidade e não a emergência de uma sociedade pós-moderna.
Giddens afirma que, atualmente, se vive um período de radicalização da 
Modernidade, a qual, ao mesmo tempo que gera uma contínua sensação de 
incerteza, induz a uma constante reflexão das práticas cotidianas. Essa carac-
terística é denominada por Giddens de reflexividade (ver Conceitos socioló-
gicos), que consiste na reflexão e na reformulação das ações cotidianas por 
meio de informações renovadas de modo constante. Isso significa, na concepção de Giddens, que na Modernidade 
os indivíduos se libertaram das antigas tradições que cumpriam sem questionamento ou reflexão. Assim, passaram a 
dispor de inúmeras possibilidades de escolha, podendo determinar livremente os modos de agir e os estilos de vida. 
Desse modo, na Modernidade, os indivíduos assumem uma postura mais autônoma, no sentido de poderem refletir, 
julgar, escolher e agir diante de diferentes caminhos a serem seguidos.
Um exemplo da reflexividade no cotidiano atual estaria nas mudanças que ocorreram nas relações entre pais e fi-
lhos. Se, antes, os pais detinham autoridade total sobre os filhos, tomando decisões que impactavam de maneira direta 
no futuro deles, na atualidade tal relação foi substituída por uma condição de maior diálogo e autonomia nas escolhas 
de vida. Desse modo, pais e filhos estão cada vez mais sujeitos a uma relação dinâmica e flexível, confrontando as re-
lações anteriormente pautadas no rigor, nos castigos físicos e na autoridade inquestionável. Isso tem propiciado uma 
relação mais próxima e reflexiva, em que os pais não têm papel tão determinante nas escolhas pessoais e profissionais 
dos filhos. 
Anthony Giddens também destaca as transformações da Modernidade que ocorreram nas relações afetivas e amo-
rosas. Para o autor, por muito tempo as relações de parentesco tinham como objetivo garantir estabilidade às relações 
sociais, fortalecendo os vínculos entre os indivíduos. Porém, observa-se na atualidade a predominância das relações 
amorosas, de afeto e amizade como elementos orientadores das preferências e dos vínculos sociais. 
Giddens distingue as diferenças de significado da amizade nas ordens sociais pré-moderna e moderna. A amizade 
no contexto social pré-moderno ocorria, de modo preciso, em espaços sociais bastante fechados em que havia a ní-
tida distinção entre os “nós” e os “outros”, os “de dentro” e os “de fora”, mais especificamente os “amigos” e os “inimigos”. 
Giddens demonstra que, nas culturas tradicionais, a amizade correspondia a um sistema de alianças, mais ou menos 
duradouras, centradas na camaradagem, em fraternidades de sangue ou de armas. A Modernidade, por sua vez, inseriu 
de maneira gradual novas formas de interação social com pessoas desconhecidas. Desse modo, não ser considerado 
“amigo” já não significa se tratar de um inimigo a ponto de ser hostilizado ou ignorado pelos demais membros do 
grupo, mas de ser possivelmente tratado como um “conhecido” ou um “colega”. 
 O sociólogo britânico Anthony 
Giddens é reconhecido por sua 
Teoria da Estruturação, na qual 
tem como propósito reexaminar 
a teoria sociológica sobre a 
Modernidade. Giddens critica a 
noção de Pós-Modernidade ao 
afirmar que estamos vivenciando 
a Modernidade reflexiva, 
caracterizada pela incorporação 
de novos conhecimentos e pelos 
processos de globalização. 
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12 Volume 12
O “estranho” na sociedade moderna
[...] Como Simmel salientou, o significado do termo “estranho” muda com o advento da moderni-
dade. Nas culturas pré-modernas, em que a comunidade local sempre permanece como base da orga-
nização social mais ampla, o “estranho” se refere a uma “pessoa toda” – alguém que vem de fora e que 
é potencialmente suspeito. Podem existir muitos motivos pelos quais uma pessoa que se muda de um 
outro lugar para uma pequena comunidade não consegue ganhar a confiança de seus membros, talvez 
mesmo depois de estar morando há muitos anos naquela comunidade. Nas sociedades modernas, em 
contraste, não interagimos comumente com estranhos como “pessoas todas” da mesma forma. Em mui-
tos cenários urbanos, particularmente, interagimos mais ou menos de forma contínua com outros que 
ou não conhecemos bem ou nunca encontramos antes – mas esta interação assume a forma de contatos 
relativamente efêmeros. [...]
GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. Tradução de Raul Fiker. São Paulo: Editora da Unesp, 1991. p. 74.
Leitura sociológica
Organize as ideias
 Explique qual é o significado de “estranho” como “pessoa toda” apresentado por Simmel e Giddens. Como as novas 
tecnologias alteram essas relações de proximidade e estranhamento?
Ainda no âmbito das relações pessoais e da vida íntima dos indivíduos, as temáticas sobre o amor e a sexualidade 
ganham relevância e também foram abordadas por Anthony Giddens. Se, no passado, falar sobre sexo era tabu, um 
assunto proibido nos círculos sociais, com o tempo se transformou em tema comum no cotidiano dos indivíduos. 
Giddens defende que tal mudança assegurou a democratização radical na vida pessoal. Assuntos referentes ao afeto, 
ao amor e à sexualidade deixaram de ser meros padrões de conduta impostos socialmente. Eles se transformaram 
em elementos passíveis de mudanças e transformações, em especial no âmbito das decisões pessoais dos indivíduos, 
adquirindo maior autonomia sobre suas escolhas e ações.
COMO ASSIM NÃO ABRE 
A PORTA? NÃO SOU UM 
ESTRANHO, SOU SEU AMIGO 
NA INTERNET. 
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Sociologia 13
Anthony Giddens demonstra como a sexuali-
dade deixou de ser assunto relacionado intrinseca-
mente ao casamento e à reprodução e passou a ser 
tratado de modo mais livre, como um dos âmbitos 
da vida íntima das pessoas. O autor defende que a 
Modernidade modificou de forma direta a tradicio-
nal concepção de casamento e, por consequência, a 
vida pessoal e íntima. 
Para Giddens, o casamento nas sociedades 
pré-modernas representava nada mais do que um 
contrato, um negócio arranjado pelos pais. Nele, as 
mulheres cumpriam com seus deveres de forma 
submissa e passiva, e os maridos mantinham o lar 
com autoridade e garantindo a subsistência. Ao 
casarem, as mulheres já assumiam seus deveres 
no novo lar, dedicando-se aos afazeres domésticos 
e à reprodução e criação dos filhos. Desse modo, a 
união entre os indivíduos, contraída por meio do ca-
samento, não era firmada para priorizar os vínculos afetivos ou amorosos entre o casal, pois tinha como intuito estabe-
lecer uma aliança política ou econômica entre duas famílias. 
Com o advento da Modernidade, e principalmente da ordem social burguesa, observou-se a substituição das an-
tigas tradições e convenções matrimoniais pelo ideal de amor romântico entre o casal. Giddens indica que o amor 
romântico despontou no fim do século XIX, diferenciando-se da paixão e dos meros impulsos sexuais. O amor român-
tico era caracterizado como relacionamento sólido e eterno, em oposição ao amor-paixão, intenso e pouco duradouro. 
Nesse contexto, o amor romântico tinha como virtude a formação de uma família e a criação de um lar pelo casal. 
A mulher assumia, no amor romântico, o importante papel de esposa e mãe. Portanto, a maternidade era identificada 
como atributo intrínseco da personalidade das mulheres, como elemento de realização da feminilidade. Tal modelo de 
amor sustentou ideologicamente o casamento heterossexual e monogâmico e a noção de família nuclear e patriarcal, 
na qual a mulher era subordinada ao homem e isolada do mundo exterior.
Casar por amor?
[...] O caráter intrinsecamente subversivo da ideia de amor romântico foi durante muito tempo man-
tido sob controle pela associação do amor com o casamento e com a maternidade; e pela ideia de queo 
amor verdadeiro, uma vez encontrado, é para sempre. Quando o casamento, para a maioria da popula-
ção, efetivamente era para sempre, a congruência estrutural entre o amor romântico e a parceira sexual 
estava bem delineada. O resultado pode, com frequência, ter sido anos de infelicidade, dada a conexão 
frágil entre o amor como uma fórmula para o casamento e as exigências para progredir posteriormente. 
Mas um casamento eficaz, ainda que não particularmente compensador, podia ser sustentado por uma 
divisão do trabalho entre os sexos, com o marido dominando o trabalho remunerado e a mulher, o tra-
balho doméstico. [...]
GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade: sexualidade, amor & erotismo nas sociedades modernas. Tradução de Magda Lopes. 
São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1993. p. 58.
Leitura sociológica
 O amor romântico é um produto da Modernidade, por meio do qual o 
matrimônio deixou de ser um mero acordo e passou a ser idealizado 
como uma forma de realização individual. A existência de esferas 
masculinas e femininas no âmbito da família é própria da noção de 
amor romântico na qual o homem exerce o papel de provedor e a 
mulher, de mantenedora do lar.
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14 Volume 12
Velhos hábitos e novos valores
[...] Na atualidade, as atitudes tradicionais existem 
ao lado de atitudes muito mais liberais para com a se-
xualidade [...]. Algumas pessoas, particularmente as in-
fluenciadas pelos ensinamentos cristãos, creem que o 
sexo pré-matrimonial é errado e geralmente veem com 
maus olhos qualquer forma de comportamento sexual, 
exceto a atividade heterossexual dentro dos limites do 
casamento [...]. Outros, ao contrário, [...] aprovam o 
sexo pré-matrimonial e têm atitudes tolerantes para 
com as práticas sexuais diferentes. [...]
GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 117-118.
Leitura sociológica
Atitude sociológica
 Em nossa sociedade, os casamentos ainda são realizados como 
acordos de conveniência? Quais características da vida familiar e 
matrimonial dos dias atuais se confrontam com os valores prati-
cados nas sociedades pré-modernas?
DICKSEE, Frank Bernard. Romeu e Julieta. 1884. 1 óleo sobre 
tela, color., 115 cm x 169 cm. Galeria de Arte de Southampton, 
Inglaterra. 
 A tragédia shakespeariana “Romeu e Julieta” é uma das histórias 
de amor mais conhecidas na Modernidade. A relação proibida 
entre os jovens, filhos de famílias inimigas, tornou-se uma 
referência de amor e romantismo e uma denúncia aos interesses 
econômicos e políticos. 
Essa realidade seria transformada no decorrer do século XX com 
as reivindicações das mulheres por direitos civis, políticos e sociais, 
que lhes garantiram, entre outras conquistas, o poder de decidir 
com quem casar. Giddens ressalta o progressivo declínio do contro-
le dos homens sobre as mulheres e a crise das relações hierarquiza-
das da família patriarcal. 
O casamento se transformou em escolha íntima e pessoal de homens e mulheres em que se observam relações 
mais igualitárias e menos hierárquicas entre os parceiros. De maneira gradual, o casamento, tradicionalmente regido 
pela dominação masculina, foi cedendo espaço a uma forma de relacionamento no qual a cumplicidade entre os 
parceiros ocorre por meio do diálogo e da negociação. Nessa nova forma de amor, definida por Giddens como amor 
confluente, os afetos e as decisões são partilhados de modo igual pelo casal.
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Sociologia 15
A tradição e a juventude
[...] O mesmo jovem que valoriza o trabalho e a família também tem atitudes conservadoras quando 
se trata de costumes e questões morais, ainda que a rejeição a alguns comportamentos tenha caído desde 
2007, quando o tema foi alvo de pesquisa anterior do Datafolha.
Ter comportamento homossexual era, há oito anos, moralmente inaceitável para quase metade dos 
brasileiros de 16 a 24 anos. Hoje, 30% ainda veem o comportamento dessa forma, enquanto 36% o acham 
aceitável.
[...]
Alguns jovens brasileiros adotam atitudes tradicionais para si mesmos, mas mostram tolerância com as 
escolhas dos outros.
LEITE, Paula; SOUZA, Mateus Luiz de. A geração conectada. Folha de S.Paulo, 8 jul. 2015. Disponível em: <http://temas.folha.uol.com.br/folha-
20-anos-na-internet/a-geracao-conectada/quase-30-ja-namoraram-alguem-que-conheceram-pela-internet.shtml>. Acesso em: 24 out. 2015.
 Como compreender o fenômeno da convivência de hábitos tão distintos (liberdade sexual e tradicionalismo) no com-
portamento íntimo dos jovens na cultura contemporânea? Utilize as contribuições dos autores da unidade para formu-
lar sua resposta.
A geração conectada
“Quando acaba a bateria, eu surto. Acho que o celular e a internet 
podem suprir a carência, é como ter amigos virtuais e amigos pre-
senciais”, diz a paulistana Luiza Sobral, 20. Para não correr o risco 
de ficar “longe” das pessoas queridas, ela tem seis carregadores. [...]
O celular sempre na mão do jovem também é essencial na vida 
social – para a geração dos nativos digitais, quase não existe separa-
ção entre o relacionamento on-line e o off-line.
[...]
“Tenho amigos da época da escola, mas a maioria dos meus amigos hoje foram feitos virtualmente”. [...]
LEITE, Paula; SOUZA, Mateus Luiz de. A geração conectada. Folha de S.Paulo, 8 jul. 2015. Disponível em: <http://temas.folha.uol.com.br/folha-
20-anos-na-internet/a-geracao-conectada/quase-30-ja-namoraram-alguem-que-conheceram-pela-internet.shtml>. Acesso em: 24 out. 2015.
 Como a inserção de novas tecnologias no cotidiano dos indivíduos altera a forma como as relações sociais são esta-
belecidas? Até que ponto elas favorecem a democratização das relações pessoais, citada por Giddens?
Atitude sociológica
Atitude sociológica
Anthony Giddens entende o amor confluente como processo decorrente da democratização das relações pes-
soais. Desse modo, os indivíduos tendem a estruturar seus relacionamentos amorosos baseados em valores, como 
a amizade, a igualdade e o companheirismo. Nesse contexto, é preciso ressaltar que, ainda que o relacionamento 
conjugal, heterossexual e com fins de constituição familiar seja uma referência muito importante socialmente, ele não 
exclui outras formas de relacionamento conjugal. Estas estão inseridas no processo de transformação da intimidade, 
como o casamento sem filhos, sem coabitação, etc. O contexto atual baseia-se na valorização das diversas formas de 
relacionamento afetivo e familiar que garante uma sociedade plural e democrática. 
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16 Volume 12
Hora de estudo
1. Leia o texto a seguir.
Nossos bisavôs eram de fato modernos, mas sua sociedade apresentava uma forma de “modernização 
simples”, ao passo que hoje ingressamos numa época de “modernização reflexiva”. Tal expressão significa 
que a era contemporânea se caracteriza por um alto grau de “reflexividade social”, como diz Giddens.
O’BRIEN, Martin. Uma introdução à sociologia de Anthony Giddens. In: GIDDENS, Anthony; PIERSON, Christopher. Conversas com Anthony 
Giddens: o sentido da modernidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000. p. 20.
 Analise as afirmativas abaixo e assinale a alternativa correta.
 I. Os processos modernos de transformação da realidade cultural e social contemporânea promovem o estabeleci-
mento de formas de comportamento cada vez mais tradicionais e conservadoras, unificando as formas de pensa-
mento na sociedade. 
 II. A Modernidade tardia representa um momento no qual as tradições não produzem os mesmos efeitos de respei-
tabilidade e confiabilidade aos seus portadores como no passado, tornando a escolha de suas referências sociais 
uma experiência livre e aberta a possibilidades. 
 III. A abertura das realidades pessoais a uma maior experimentação e diversificação na construção das identidades 
pessoais na sociedade moderna traduz a presençade uma democratização das práticas sociais na vida pública e 
privada. 
 Estão corretas as afirmativas:
a) I e II.
b) I e III.
c) II e III.
d) Somente a II.
e) Todas as alternativas. 
2. Leia o texto a seguir.
A fotógrafa polonesa Ilona Szwarc ficou impressionada 
quando chegou aos EUA, em 2008: as ruas estavam cheias de 
meninas vestidas como suas bonecas (ou seriam bonecas iguais 
às meninas?) – a maioria delas, sendo da marca de bonecas 
American Girl, que permite que a criança personalize o brin-
quedo como quiser e que se tornou febre nos EUA. Por isso, 
saiu fotografando e criou o projeto “American Girls”
BARBOSA, Jaque. Série fotográfica retrata meninas e suas bonecas quase gêmeas. 
Hypeness. Disponível em: <http://www.hypeness.com.br/2013/02/serie-fotografica-
retrata-meninas-e-suas-bonecas/>. Acesso em: 2 out. 2015.
 O projeto “American Girls”, desenvolvido pela fotógrafa polonesa Ilona Szwarc, expressa:
a) o desejo de consumo das crianças aliado à necessidade de reprodução dos papéis tradicionais indicados por seus 
familiares. 
b) a incorporação nas bonecas de características que as crianças imaginam como ideais, a fim de projetar a real 
identidade de suas proprietárias. 
c) a resistência ao consumismo desenfreado, por meio de ações de controle sobre as necessidades de bens materiais 
supérfluos. 
d) a representação customizada das bonecas com os mesmos traços das crianças, em uma dinâmica que reforça a 
reprodução de padrões estéticos e de práticas de consumo. 
e) a potencialização da imaginação infantil pela perspectiva de construírem suas próprias expressões corporificadas 
nas bonecas.
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Sociologia 17
Novas perspectivas
 
sociológicas: poder 
e 
trabalho na 
Pós-Modernidade
Ponto de partida 
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1. O que é poder? Em quais esferas sociais as relações de poder estão mais presentes?
2. Por que, ao longo da história, alguns grupos ou culturas quiseram afirmar sua superioridade em relação aos 
demais? 
3. Será que as formas de exploração e submissão nas relações de trabalho foram suprimidas? 
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Objetivos da unidade:
 compreender o conceito de processo civilizador de Norbert Elias;
 problematizar as relações de poder pela perspectiva de Norbert Elias e John Scotson;
 problematizar a influência das novas configurações do trabalho nas relações pessoais 
por meio das reflexões de Richard Sennett. 
civilizador de Norbert Elias;
Relações de poder entre estabelecidos e 
outsiders, de Norbert Elias
Por que existem grupos sociais e indivíduos com maior prestígio e poder em uma dada 
sociedade? Não é raro observar indivíduos que se reconhecem como “superiores”, como 
“pessoas de bem”, “detentoras dos bons costumes” em oposição a grupos que eles consi-
deram “inferiores”, “marginais”, “estranhos”, etc. Por que existem essas distinções entre indi-
víduos e grupos sociais?
Partindo desses questionamentos, a teoria sociológica de Norbert Elias é de extrema 
relevância para a análise do período histórico atual, em particular para a compreensão das 
relações de poder que são estabelecidas entre os indivíduos. 
Modernidade e o processo civilizador
Em O processo civilizador, uma das obras mais conhecidas de Norbert Elias, o sociólogo discorre sobre a gradual 
transformação dos costumes da sociedade europeia na transição para a Modernidade. Elias define como processo 
civilizador (ver Conceitos sociológicos) as modificações comportamentais que ocorreram ao longo da história e indu-
ziram os indivíduos ao autocontrole de seus impulsos e à interiorização de normas e códigos de conduta. Elias buscava 
compreender historicamente como os seres humanos passaram a assumir normas de conduta e comportamento nas 
relações sociais inserindo práticas de “boas maneiras” em seu cotidiano. 
O processo civilizador, na concepção de Elias, corresponde a uma mudança operada ao longo do tempo na con-
duta e nos sentimentos humanos, de forma que harmonizasse os interesses individuais com os interesses coletivos 
da sociedade. Para tanto, no início, o processo civilizador foi marcado por mecanismos de coerção dos indivíduos, 
como punições, penalidades e prisões, que de maneira gradual foram 
se transformando em mecanismos de autocoerção ou autocontrole dos 
próprios indivíduos. Desse modo, a educação e as normas de civilidade, 
que correspondiam a formas de autocontrole, tinham como objetivo 
garantir a boa convivência do indivíduo em sociedade. Além disso, o 
autor demonstra que, embora o pudor e a vergonha pareçam ser natu-
rais e inerentes aos seres humanos, na realidade trata-se de sentimentos 
ensinados e construídos historicamente nas relações sociais. 
 Norbert Elias (1897-1990) 
ficou conhecido por sua 
obra O processo civilizador, 
publicada em 1939, que 
aborda as transformações nos 
costumes ao longo da Idade 
Média e da Idade Moderna. 
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HOLBEIN, Hans. Retrato de Erasmo de Rotterdam. 1523. 1 óleo e têmpera sobre madeira. 
color., 76 cm × 51 cm. National Gallery, Londres.
 Erasmo de Rotterdam (1466-1536) escreveu, no século XVI, um dos principais manuais 
de civilidade do mundo ocidental, denominado A civilidade pueril. Na obra, Erasmo 
tem como intuito ensinar aos indivíduos determinadas regras de comportamento 
e convivência civilizada em diferentes ambientes (à mesa, na convivência com os 
outros, no modo de vestir-se, etc.), a fim de livrar os seres humanos da “bestialidade” 
de seus instintos e desejos. 
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Norbert Elias, ao explicar como ocorreu o longo e lento processo civilizador, aponta a atuação da aristocracia, no 
sentido de se distinguir dos demais estratos sociais. Utilizando-se de sua posição social privilegiada, a aristocracia ado-
tou diferentes hábitos e costumes, criando para si um novo 
status social. Como consequência, houve um empoderamen-
to daqueles que seguiam os costumes “nobres” ou “civiliza-
dos”, e a exclusão social da grande maioria das pessoas que 
não seguiam tais costumes e assim eram consideradas “sujas”, 
“rudes”, “sem modos”, em outras palavras, “incivilizadas”. 
Em outros termos, Norbert Elias observa que a nobreza 
se utilizou de elementos simbólicos, como as prescrições re-
lativas aos modos de comer, falar, vestir-se e comportar-se, 
para manter certo distanciamento dos demais grupos sociais 
e ampliar seu status social. No entanto, o autor destaca que, 
com o passar do tempo, os comportamentos pertencentes à 
aristocracia começaram a ser imitados pelos demais estratos 
sociais, em particular pela burguesia, que aspiravam aos mes-
mos privilégios e honras. 
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VIGÉE-LEBRUN, Elizabeth. Maria Antonieta em trajes de corte. 
1779-1788. 1 óleo sobre tela, color., 223 cm x 158 cm. Palácio de 
Versalhes, Versalhes.
 O vestuário, assim como os modos de falar e agir, era usado 
pela nobreza para se diferenciar das demais camadas sociais. 
Observe a postura, o traje e o penteado de Maria Antonieta, 
que ficou historicamente conhecida pelo uso de roupas e 
acessórios rebuscados e luxuosos na Corte francesa. 
O controle mais rigoroso de impulsos e emoções é, no início, imposto por elementos de alta categoria 
social aos seus inferiores ou, no máximo, aos seus socialmente iguais. Só relativamente mais tarde, quando 
a classe burguesa, compreendendo um maior número de pares sociais, torna-se a classe superior, gover-
nante, é que a família vem a ser a única – ou, para ser mais exata, a principal e dominante – instituição com 
a função de instilar controle de impulsos. Só então a dependência social da criança face aos pais torna-se 
particularmente importante como alavanca para a regulação e a moldagem socialmente requeridas dos 
impulsos e das emoções. 
ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. p. 142.
1. Com base na leitura do texto e nos seus conhecimentossobre o processo civilizador de Norbert Elias, descreva como 
ocorreu a transição dos mecanismos públicos de coerção dos indivíduos para as formas privadas de controle dos 
impulsos e das emoções.
2. Qual é a importância da família para o desenvolvimento do processo civilizador? Apresente exemplos práticos de como 
a família auxilia na “regulação e moldagem socialmente requeridas dos impulsos e das emoções”.
Atitude sociológica
20 Volume 12
Um estudo sobre os estabelecidos e os outsiders 
Na obra Os estabelecidos e os outsiders, Norbert Elias e John Scotson apresentam os resultados de uma pesquisa rea-
lizada no fim da década de 1950 e início de 1960. Nela, descrevem as relações de poder em uma pequena comunidade, 
de nome fictício Winston Parva, próxima à cidade de Leicester, na Inglaterra. Os autores descrevem a comunidade 
como sendo formada por três diferentes zonas ou bairros: 
Elias e Scotson identificaram um contexto bastante peculiar em Winston Parva: embora fosse constituída por uma 
população homogênea, havia uma nítida separação entre dois grupos sociais. Enquanto os moradores das zonas 1 e 2 
formavam o grupo estabelecido no local, ocupando posições de prestígio e poder na comunidade, os moradores da 
zona 3 assumiam a posição de outsiders (que pode ser traduzido como “marginais” ou “excluídos”), sendo marginali-
zados pelos demais habitantes. 
Os autores demonstram que não havia diferenças significativas entre os habitantes de Winston Parva em aspectos 
como nacionalidade, etnia, renda, ocupação, nível educacional e padrões habitacionais. As zonas 2 e 3 eram ocupadas 
predominantemente por trabalhadores e a única diferença consistia no tempo de residência. No entanto, os autores 
apontam que esse simples critério era suficiente para impor uma barreira de convivência entre os antigos moradores 
da região e seus vizinhos mais recentes. 
Ao observar o exemplo dessa comunidade, pode-se questionar sobre o que fundamenta a separação entre dois 
grupos sociais tão próximos e parecidos entre si. Afinal, quais seriam os fatores que justificariam, naquele contexto 
social, a segregação dos moradores mais recentes? 
Para Elias e Scotson, ao estarem estabelecidos na comunidade por gerações, os antigos habitantes formaram entre 
si fortes vínculos sociais, de parentesco e amizade. Tais moradores tinham uma história em comum, na qual compar-
tilhavam os acontecimentos particulares de suas vidas e da comunidade em que estavam inseridos. Por outro lado, os 
novos moradores não partilhavam dos mesmos vínculos sociais nem tinham laços com a comunidade em que ingres-
saram. Por esse motivo, na visão dos moradores antigos, os novos vizinhos representavam uma ameaça à estabilidade 
e à ordem social da comunidade, motivo pelo qual os tratavam como “humanamente inferiores”. 
A oposição entre estabelecidos e outsiders, entre os “de dentro” e os “de fora”, é explorada pelos pesquisadores a 
fim de explicar as relações de poder entre moradores antigos e recentes de uma mesma comunidade. Elias e Scotson 
perceberam as tensões e a distância social entre membros comunitários, em que os moradores recentes (outsiders) 
eram alvo constante de desconfiança, de fofocas depreciativas e do menosprezo dos antigos moradores do povoado 
(estabelecidos). Tal relação conflituosa também tinha como reflexo a exclusão dos novos moradores das organizações 
e instituições políticas da comunidade, como associações, igrejas, escolas, etc.
Zona 3: loteamento recente 
formado por famílias de operários.
Zona 2: região mais antiga da 
cidade, composta de famílias de 
operários que estão estabelecidas 
há duas ou três gerações. 
Zona 1: formada pela população 
mais privilegiada e corresponde à 
área de classe média da cidade. 
Comunidade de Winston Parva
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Sociologia 21
Atitude sociológica
Diante do conflito instaurado entre os habitantes 
de Winston Parva, os autores demonstram suas conse-
quências no aumento dos índices de criminalidade da 
comunidade. Isso acontece como desdobramento do 
processo de estigmatização dos novos moradores, que 
são rotulados negativamente e excluídos da vida comu-
nitária. Os autores compreendem que o preconceito e 
a estigmatização decorrem da necessidade dos antigos 
moradores de afirmar sua superioridade moral e seu 
status social privilegiado perante os demais.
Ante tal condição de exclusão, os indivíduos estig-
matizados podem apresentar diferentes formas de rea-
ção, como esforçar-se para serem aceitos pelo grupo 
ou agir com violência e agressividade. Nesse cenário, os 
autores constatam que a delinquência juvenil emerge 
como uma reação do grupo outsider ao sentimento de 
exclusão e estigmatização. Os atos de vandalismo se tornam uma forma particular de os jovens manifestarem seu 
sentimento de exclusão vivenciado desde a infância nas relações com outras pessoas da comunidade.
 Ações de preconceito e exclusão social ocorrem mesmo quando 
autoridades exercem legitimamente o uso de suas prerrogativas 
de poder. A distinção na forma de tratamento de diferentes grupos 
sociais perante uma mesma situação é reflexo do reconhecimento 
da atribuída legitimidade de uns e exclusão de outros de acordo 
com sua posição na sociedade.
'Trote universitário não é tradição, é relação de poder', diz especialista
[...] Apesar de as instituições de ensino superior incentivarem ações de entretenimento, humanitárias 
ou pedagógicas para receber novos alunos, caso de trotes abusivos carregados de preconceito ou violência 
continuam sendo registrados em todo o país nesta época do ano. Muitas práticas se repetem sob alegação 
de que são tradicionais e fazem parte da história de determinadas faculdades. [...]
Dinâmica dos estabelecidos e outsiders em Winston Parva
[...] Naquela pequena comunidade, a superioridade de forças do grupo estabelecido desde longa 
data [...] baseava-se no alto grau de coesão de famílias que se conheciam havia duas ou três gerações, 
em contraste com os recém-chegados, que eram estranhos não apenas para os antigos residentes como 
também entre si. Era graças a seu maior potencial de coesão, assim como à ativação deste pelo controle 
social, que os antigos residentes conseguiam reservar para as pessoas de seu tipo os cargos importantes 
das organizações locais, como o conselho, a escola ou o clube, e deles excluir firmemente os moradores 
da outra área, aos quais, como grupo, faltava coesão. Assim, a exclusão e a estigmatização dos outsiders 
pelo grupo estabelecido eram armas poderosas para que este último preservasse sua identidade e afirmas-
se sua superioridade, mantendo os outros firmemente em seu lugar. [...]
ELIAS, Norbert; SCOTSON, John L. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. 
Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p. 22. 
Leitura sociológica
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22 Volume 12
 Trote aplicado em calouros na USP
Embora o livro Os estabelecidos e os outsiders, de Norbert Elias e John Scotson, retrate uma pequena comunidade 
inglesa, suas conclusões se aplicam a casos concretos, como as inúmeras situações cotidianas e históricas em que um 
grupo age de modo que estigmatize, inferiorize e exclua indivíduos de outros grupos sociais. Os autores demonstram 
que as relações de poder entre estabelecidos e outsiders são construídas com base no sentimento de superioridade hu-
mana de um grupo sobre outro. Por mais que se trate de um livro publicado na década de 1960, o estudo desenvolvido 
pelos autores serve como reflexão necessária para pensar as dinâmicas de poder e exclusão que ainda são bastante 
recorrentes na atualidade.
“Não tem nada a ver com tradição, a questão 
do trote é relação de poder. Um grupo político 
disputa o controle da situação. O menino que 
vai para a rua pedir dinheiro [nas brincadeiras 
de pedágio] é o soldado raso em uma hierar-
quia que tem general”, afirma Antônio Ribeirode Almeida Júnior, professor do Departamento 
de Economia, Administração e Sociologia da 
Escola Superior de Agricultura (Esalq). [...]
FAJARDO, Vanessa. ‘Trote universitário não é tradição, é 
relação de poder’, diz especialista. G1 Educação, 24 mar. 
2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/educacao/
noticia/2013/03/trote-universitario-nao-e-tradicao-e-relacao-
de-poder-diz-especialista.html>. Acesso em: 28 out. 2015. 
 Considerando a reportagem, responda à questão: Como as contribuições de Norbert Elias sobre a noção de estabele-
cidos e outsiders podem ser aplicadas à realidade do trote universitário?
[...] Vez por outra, podemos observar que os membros dos grupos mais poderosos que outros grupos 
interdependentes se pensam a si mesmos (e se autorrepresentam) como humanamente superiores. O 
sentido literal do termo “aristocracia” pode servir de exemplo. Tratava-se de um nome que a classe mais 
alta ateniense, composta de guerreiros que eram senhores de escravos, aplicava ao tipo de relação de 
poder, que permitia a seu grupo assumir a posição dominante em Ate-
nas. Mas significava, literalmente, “dominação dos melhores”. Até hoje 
o termo “nobre” preserva o duplo sentido de categoria social elevada 
e de atitude humana altamente valorizada, como na expressão “gesto 
nobre”; do mesmo modo, “vilão”, derivado de um termo que era apli-
cado a um grupo social de condição inferior e, portanto, de baixo valor 
humano, ainda conserva sua significação neste último sentido – como 
expressão designativa de uma pessoa de moral baixa. [...]
ELIAS, Norbert; SCOTSON, John L. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. 
Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p. 19. 
 Tendo como ponto de partida os conceitos de Norbert Elias de estabelecidos e outsiders, apresente outros 
exemplos que demonstrem a lógica de afirmação de superioridade de um grupo por meio da estigmatização e 
exclusão social de outro.
Leitura sociológica
O termo “vilão” indica tanto aquele que re-
side em vila, plebeu, ou que não pertence 
à nobreza, quanto pessoa desagradável, 
grosseira, rude; e ainda personagens com 
intenções maldosas. 
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Sociologia 23
A corrosão do caráter, de Richard Sennett
Diante de um mundo em constante mudança, o sociólogo estaduniden-
se Richard Sennett (1943- ) investiga como as transformações das relações de 
trabalho tiveram desdobramentos nas vidas pessoais dos indivíduos. Sennett 
busca compreender a transição do capitalismo fordista, centrado no modelo 
de gestão hierarquizado, em que a administração exerce controle sobre todos 
os departamentos, setores e indivíduos, para o capitalismo flexível (ver Con-
ceitos sociológicos). Neste, a gestão horizontalizada exige maior participação 
dos trabalhadores no processo de produção. Além disso, valoriza-se o trabalho 
criativo, inteligente e versátil. 
Embora pareça, à primeira vista, que as transformações recentes das rela-
ções de trabalho tenham sido positivas, pois tenderiam à valorização da auto-
nomia, cooperação e criatividade dos trabalhadores, Richard Sennett tece duras 
críticas ao novo modelo capitalista de produção. Para o autor, a substituição da 
gestão hierárquica por uma gestão “participativa”, em que os valores do trabalho em equipe são exaltados de modo 
constante, corresponde a uma nova forma de controle sobre os trabalhadores. 
No capitalismo flexível, os trabalhadores assumem múltiplas funções, conforme as necessidades imediatas de seus 
grupos de trabalho. Por um lado, os trabalhadores necessitam aderir à lógica de cooperação no interior das equipes 
de trabalho, a fim de alcançar o êxito conjunto. Mas, por outro, a competição se impõe entre as diversas equipes de 
trabalho, que são comparadas e avaliadas a todo instante.
Diante da ambígua relação de trabalho que envolve momentos de cooperação e competição, Sennett demonstra 
a estratégia adotada pelos trabalhadores da “arte de fingir”. Desse modo, o trabalho em equipe se converte em uma 
espécie de teatro e os trabalhadores se transformam em atores que utilizam as máscaras de cooperação, liderança, co-
municação e iniciativa na relação com os membros de sua equipe, em que dificilmente o trabalhador revela aos demais 
membros da empresa o seu verdadeiro “eu”. 
Além disso, a inserção do trabalho em equipe tem importante papel: a “concentração sem a centralização de poder”. 
Em tal modelo, a alta administração das empresas estabelece as metas e os objetivos a serem atingidos pelos trabalha-
dores, sem apontar os meios para tanto.
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Estratégias empresariais de “concentração sem centralização”
[...] O controle pode ser estabelecido instituindo-se metas de produção ou lucro para uma ampla 
variedade de grupos na organização, que cada unidade tem liberdade de cumprir da maneira que julgar 
adequada. Essa liberdade, no entanto, é especiosa. É raro as organizações flexíveis estabelecerem metas 
de fácil cumprimento; em geral as unidades são pressionadas a produzir ou ganhar muito mais do que 
está em suas capacidades imediatas. As realidades de oferta e procura raramente estão em sincronia com 
essas metas; o esforço é para forçar cada vez mais as unidades, apesar dessas realidades, uma pressão que 
vem da alta administração da instituição. [...]
SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo 
capitalismo. Tradução de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Record, 2009. p. 65.
Leitura sociológica
Especiosa: ilusória, enganosa. 
 Richard Sennett (1943- ) é professor de 
Sociologia da Universidade de Nova Iorque 
e da London School of Economics. Tornou-
-se reconhecido nos meios acadêmicos 
brasileiros por seus livros O declínio do 
homem público e A corrosão do caráter. 
24 Volume 12
Atitude sociológica
Capitalismo flexível e as dinâmicas de home office 
[...] Hoje as formas tradicionais de trabalho a distância diferenciam-se 
bastante do fenômeno a que assistimos hoje nas organizações. O Home-Office 
ou teletrabalho, viabilizado pelas TICs (Tecnologia da Informação e da 
Comunicação) que permitem a virtualização do espaço e do tempo, não é 
apenas nova forma de organizar o trabalho. Ele transforma o trabalho de 
“um lugar para ir” em uma atividade que pode ser feita a qualquer hora e 
em qualquer lugar. Mais do que isso, ele impacta o próprio significado de 
organização. Se os indivíduos podem trabalhar em qualquer lugar e a qual-
quer momento, não é mais tão fácil demarcar as organizações no espaço e 
no tempo: elas esticam suas fronteiras no espaço porque os teletrabalhado-
res podem estar em qualquer lugar; elas se esticam no tempo, porque o trabalho não está mais restrito aos 
horários convencionais do escritório [...].
ROSEMBERG, Lillian Deborah Freire; OLIVEIRA, Elizabeth Souza. A importância do home-office ou teletrabalho para a qualidade de 
vida nas empresas. Web Artigos, 25 out. 2012. Disponível em: <http://www.webartigos.com/artigos/a-importancia-do-home-office-ou-
teletrabalho-para-qualidade-de-vida-e-produtividade-nas-empresas/98314/#ixzz3oIgf3XJN>. Acesso em: 8 out. 2015.
 Como as relações sociais e profissionais de um indivíduo que exerce o home office ou teletrabalho podem ser afeta-
das? Quais são as consequências para a vida em sociedade?
Outro aspecto característico do capitalismo flexível diz respei-
to às novas experiências relacionadas ao tempo de trabalho. Em 
vez das jornadas fixas para todos os trabalhadores, observa-se a 
tentativa de compor um mosaico de tempo de trabalho, com pes-
soas trabalhando em horários e turnos diferentes, de modo que as 
empresas funcionem a todo instante. Ou, ainda, estratégias como 
a transferência do serviço que seria realizado na empresa para o 
trabalho em casa, também denominado “home office”. 
O autor sustenta que, por mais que essas rotinas flexíveis de tra-
balho aparentem garantir maior liberdade ao trabalhador,na realida-
de correspondem a uma nova forma de controle que se encontra à disposição da empresa em que ele trabalha. A própria 
experiência de trabalho em casa, por mais que aparente ser vantajosa ao trabalhador, tem causado grande ansiedade 
entre empregados e empregadores. Por um lado, existe a dificuldade do trabalhador em estabelecer os limites entre ati-
vidades profissionais e a vida pessoal. Por outro, os empregadores temem perder o controle sobre a produção e a rotina 
de seus empregados, estipulando diferentes formas de controle da rotina de trabalho, por meio de recursos tecnológicos 
como e-mails, telefones, videoconferências, etc. Nesse sentido, as relações de trabalho deixam de ser pautadas por formas 
de submissão face a face, para serem substituídas por aparatos de controle tecnológico.
 A almejada eficiência, estimulada pela distribuição 
de prêmios às equipes que alcançam as metas 
solicitadas, gera uma fiscalização entre os 
próprios subordinados.
No livro A corrosão do caráter, Richard Sennett demonstra como a “nova ordem” capitalista, definida como capitalis-
mo flexível, enfraquece a formação do caráter dos indivíduos, afetando valores humanos essenciais como a confiança, 
a lealdade e o compromisso. Para tanto, apresenta ao leitor as diferentes histórias de vida de Enrico e Rico, pai e filho, a 
fim de elucidar as consequências pessoais das novas dinâmicas do capitalismo flexível. 
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Sociologia 25
Sennett descreve Enrico como um imigrante que se estabeleceu nos Estados Unidos e conseguiu construir sua vida 
e de sua família trabalhando mais de 20 anos como faxineiro em um prédio comercial. O principal objetivo de vida de 
Enrico era cuidar de sua família e poupar economias para a futura faculdade dos filhos. O autor aponta que tanto Enrico 
como muitos outros de sua geração tinham uma visão linear do tempo em suas vidas, na qual as conquistas materiais 
e profissionais eram graduais, cumulativas e previsíveis. O trabalho de Enrico lhe permitiu comprar e, aos poucos, refor-
mar a casa em que morou por quase toda a vida, assim como investir na educação dos filhos. Desse modo, sua vida foi 
sendo construída aos poucos, sem mudanças abruptas, assentada sobre bases sólidas (trabalho, família, comunidade). 
Vinte e cinco anos depois, Sennett encontra, em um aeroporto, Rico, o filho de Enrico, e observa a distância nos 
estilos de vida do pai e do filho. Sennett descobre que Rico se formou em Engenharia Elétrica, concretizando o desejo 
do pai de mobilidade social. No entanto, diferentemente da história de vida do pai, marcada pela tradição e estabilida-
de, o filho defendia a necessidade de se manter aberto às mudanças e oportunidades, mesmo que elas implicassem 
possíveis riscos. Diante de tal pensamento, Rico e sua família mudaram de cidade pelo menos quatro vezes, nos últimos 
14 anos, todos em razão de novas oportunidades profissionais. 
Rico manifesta que, embora tenha alcançado o tão esperado sucesso material e profissional, isso não significou a 
garantia de sua realização pessoal. Ele relata seu temor em perder o controle sobre a própria vida, na medida em que 
percebe as consequências de uma lógica imediatista, voltada para as conquistas de curto prazo e para as constantes 
mudanças às quais é obrigado a se submeter. Seguindo essa linha de raciocínio, Rico argumenta: como é possível 
manter relacionamentos familiares sólidos, com valores como compromisso mútuo e confiança, em meio à escassez 
de valores das relações de trabalho e consumo? Como buscar objetivos familiares de longo prazo em uma sociedade 
de curto prazo? E, mesmo, como manter relações sociais duráveis em um mundo onde tudo é descartável?
[...] Enrico tinha uma narrativa para a sua vida, linear e cumulativa, uma narrativa que fazia sentido 
num mundo altamente burocrático. Rico vive num mundo caracterizado, ao contrário, pela flexibilidade 
e o fluxo a curto prazo; esse mundo não oferece muita coisa, econômica ou socialmente, para a narrativa. 
As empresas se dividem ou fundem, empregos surgem e desaparecem, como fatos sem ligações. [...] A 
maioria das pessoas, porém, não se sente à vontade com a mudança desse modo indiferente, negligente. 
[...]
SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Tradução de Marcos Santarrita. Rio de 
Janeiro: Record, 2009. p. 31-32. 
Leitura sociológica
 O conflito geracional presente nas diferentes expectativas pessoais e 
profissionais dos indivíduos reflete como as transformações na organização do 
trabalho e na produção material de bens afetam a maneira como as relações 
familiares e pessoais são estabelecidas. 
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Com base no relato de Rico, Richard Sennett demonstra que 
as dinâmicas de trabalho no capitalismo flexível, marcadas por 
relações de curto prazo, enfraqueceram os laços sociais entre os 
indivíduos. As relações de “curto prazo” corroem a confiança, a 
lealdade e o compromisso mútuo entre as pessoas. Isso porque 
as experiências de confiança entre as pessoas só se consolidam 
com o tempo de convivência. A flexibilidade e a rapidez das re-
lações de trabalho se sobrepõem à vida familiar dos indivíduos.
26 Volume 12
Atitude sociológica
Ana era psicanalista e virou publicitária, Marina fazia pesquisas de 
genética e hoje é designer floral, enquanto Esteban deixou a vida de 
executivo de multinacional para ser professor universitário e consultor. 
Esses profissionais mudaram completamente o rumo da carreira depois 
dos 35 anos, quando estavam bem encaminhados do ponto de vista 
pessoal e profissional.
"A noção do que é carreira mudou: antes era apenas uma sucessão 
de empregos, hoje são as experiências acumuladas ao longo da vida", 
diz Tania Casado, coordenadora de um programa de orientação profis-
sional da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da 
USP. [...]
REVERBEL, Paula. Pessoas que mudaram de carreira após os 35 mostram como executar o plano B. Folha de S.Paulo, 19 maio 2013. 
Disponível em: <http://abrhba.org.br/noticia/pessoas-que-mudaram-de-carreira-apos-os-35-mostram-como-executar-o-plano-b>. Acesso em: 
17 set. 2015.
 Quais fatores presentes no capitalismo flexível permitem que as identidades profissionais mudem de forma tão drás-
tica? Como isso afeta sua escolha para o vestibular?
Capitalismo flexível: a expressão “capitalismo flexível” 
descreve na atualidade um sistema que enfatiza a flexi-
bilidade ao atacar as formas rígidas de burocracia e tam-
bém os males da rotina cega. Exige-se dos trabalhadores 
que sejam ágeis, estejam abertos a mudanças em curto 
prazo, assumam riscos continuamente e dependam cada 
vez menos de leis e procedimentos formais.
Modernidade líquida: referência de Zygmunt Bauman 
para o período atual, caracterizado por liquidez, volati-
lidade, incerteza e insegurança. A Modernidade líquida 
representa a dissolução gradual de valores, tradições e 
referenciais da Modernidade sólida, sem que novos pa-
drões de conduta se transformem em rotina ou tradição.
Modernidade sólida: referência do sociólogo Zygmunt 
Bauman para o período que teve início com a consoli-
dação do conjunto estável de valores e modos de vida 
cultural e político da Modernidade. A Modernidade sólida 
é caracterizada pelo projeto de controle do mundo pela 
razão e conta com dois elementos centrais para sua con-
cretização: a ciência e os Estados-Nações. 
Pós-Modernidade: o filósofo francês Jean-François 
Lyotard a define como o momento histórico em que 
todas as grandes narrativas ou representações do mundo 
entram em crise. 
Processo civilizador: conceito desenvolvido pelo soció-
logo Norbert Elias, que designa o processo histórico que 
envolve a progressiva multiplicação de restrições e proi-
bições aos indivíduos e a pacificação física da sociedade. 
A transformação da sensibilidade ocorreu inicialmente 
entre a aristocraciaeuropeia, sendo adotado mais tarde 
pelas classes média e trabalhadora. 
Reflexividade: segundo Anthony Giddens, consiste na 
capacidade racional dos indivíduos de analisar e reformu-
lar constantemente suas práticas sociais e conceber es-
tratégias de atuação com o objetivo de transformar suas 
condições de existência.
Conceitos sociológicos
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Sociologia 27
Hora de estudo
1. Observe a charge.
 
 Analise as afirmativas relacionando a charge aos conhe-
cimentos sobre a teoria de Norbert Elias.
 I. A luta de paulistanos pela valorização de sua cultura 
sugere que regionalismos de outras partes do país 
devem ser agregados ao caldo cultural da megaló-
pole como forma de incrementar a diversidade e a 
convivência pacífica de grupos tão diversos. 
 II. A charge denota que manifestações em prol da pre-
sença de migrantes nordestinos são comuns como 
forma de reconhecer e valorizar as contribuições de 
um grupo predominante, estabelecido e legitimado 
em suas particularidades. 
 III. A exclusão social de grupos migrantes menos fa-
vorecidos é uma tônica no contexto cultural de São 
Paulo, manifestando uma postura de estigmatiza-
ção, em especial, perante os nordestinos. 
 Assinale a alternativa correta:
a) I e II estão corretas. 
b) II e III estão corretas. 
c) I e III estão corretas.
d) Apenas a afirmativa III está correta.
e) Todas as afirmativas estão corretas.
2. (ENEM)
 Texto I
O que vemos no país é uma espécie de es-
praiamento e a manifestação da agressividade 
através da violência. Isso se desdobra de maneira 
evidente na criminalidade, que está presente em 
todos os redutos – seja nas áreas abandonadas 
pelo poder público, seja na política ou no fu-
tebol. O brasileiro não é mais violento do que 
outros povos, mas a fragilidade do exercício e 
o reconhecimento da cidadania e a ausência do 
Estado em vários territórios do país se impõem 
como um caldo de cultura no qual a agressivida-
de e a violência fincam suas raízes. 
(Entrevista com Joel Birman. A corrupção é um crime sem rosto. 
IstoÉ. Edição 2099, 3 fev. 2010).
 Texto II
Nenhuma sociedade pode sobreviver sem ca-
nalizar as pulsões e emoções do indivíduo, sem 
um controle muito específico de seu comporta-
mento. Nenhum controle desse tipo é possível 
sem que as pessoas anteponham limitações umas 
às outras, e todas as limitações são convertidas, 
na pessoa a quem são impostas, em medo de um 
ou outro tipo. 
(ELIAS, N. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 
1993.)
 Considerando-se a dinâmica do processo civilizador, tal 
como descrito no Texto II, o argumento do Texto I acer-
ca da violência e agressividade na sociedade brasileira 
expressa a:
a) incompatibilidade entre os modos democráticos de 
convívio social e a presença de aparatos de controle 
policial. 
b) manutenção de práticas repressivas herdadas 
dos períodos ditatoriais sob a forma de leis e atos 
administrativos. 
c) inabilidade das forças militares em conter a violên-
cia decorrente das ondas migratórias nas grandes 
cidades brasileiras. 
d) dificuldade histórica da sociedade brasileira em ins-
titucionalizar formas de controle social compatíveis 
com valores democráticos. 
e) incapacidade das instituições político-legislativas 
em formular mecanismos de controle social espe-
cíficos à realidade social brasileira. 
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