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Autores: Prof. José Carlos Roncolato da Frota Prof. Fabio Arten Colaboradores: Profa. Lérida Malagueta Prof. Adalberto Oliveira da Silva Teoria e Prática Cambial Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Professores conteudistas: José Carlos Roncolato da Frota / Fabio Arten José Carlos Roncolato da Frota Possui graduação em Ciências Econômicas e pós‑graduação em Formação para Educação a Distância, ambas pela mesma instituição, Universidade Paulista (UNIP). É coordenador dos cursos de gestão na unidade Alphaville da UNIP, na qual também leciona, tanto na modalidade presencial quanto a distância, as disciplinas de Economia e Mercado, Teoria e Prática Cambial, Negócios Internacionais, Técnicas de Negociação e Mercado de Capitais. Atua ainda em outras instituições de Ensino Superior e na Coordenadoria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão (Cogeae) da PUC de São Paulo nos cursos de Recrutamento, Seleção por Competência e Gestão da Diversidade das Organizações. Fabio Arten Mestre em Administração de Empresas dedicado à pesquisa de redes de negócios. Na carreira docente, leciona para cursos superiores tecnológicos em Gestão e Negócios, cursos superiores tradicionais em Administração e Relações Internacionais, assim como, para MBA, na UNIP e em outras instituições. Na gestão educacional, tem experiência na coordenação do curso superior tecnológico em Gestão Financeira no Ensino a Distância da UNIP e de Iniciação Científica em outras instituições. Sua experiência profissional se resume às atividades de treinamento e consultoria empresarial e gestão de pequenos negócios, no setor varejista e de prestação de serviços, além de uma breve atuação na gestão pública como supervisor técnico na prefeitura municipal de São Paulo. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. U502.99 – 19 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) F941t Frota, José Carlos Roncolato da. Teoria e Prática Cambial. / José Carlos Roncolato da Frota. – São Paulo: Editora Sol, 2019. 112 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2‑210/19, ISSN 1517‑9230. 1. Mercado de câmbio. 2. Sistema financeiro nacional. 3. Fundos de investimentos. I. Título. CDU 336.76 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Giovanna Oliveira Kleber Souza Lucas Ricardi Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Sumário Teoria e Prática Cambial APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 10 Unidade I 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL ....................................................................... 11 1.1 O SFN após 1988 .................................................................................................................................. 14 1.2 Comércio exterior no Brasil .............................................................................................................. 16 2 MERCADO DE CÂMBIO ................................................................................................................................. 18 2.1 Participantes do mercado cambial ................................................................................................ 20 2.2 Negociação do câmbio ....................................................................................................................... 21 2.3 Funcionamento do mercado de câmbio ..................................................................................... 22 2.4 Subdivisões do mercado cambial ................................................................................................... 24 2.5 Controle cambial .................................................................................................................................. 26 2.5.1 Balanço de pagamentos....................................................................................................................... 26 2.5.2 Origens do controle cambial .............................................................................................................. 27 2.5.3 Modalidades de controle cambiais .................................................................................................. 27 2.5.4 Sistema de créditos recíprocos .......................................................................................................... 30 2.5.5 Controle cambial no Brasil .................................................................................................................. 31 2.6 Taxa de câmbio ...................................................................................................................................... 31 2.6.1 Formatação da taxa de câmbio ......................................................................................................... 32 2.6.2 Regimes cambiais ................................................................................................................................... 35 2.6.3 Tipos de taxa de câmbio....................................................................................................................... 36 2.6.4 Taxa de câmbio nominal versus taxa de câmbio real ............................................................... 37 Unidade II 3 TAXAS INTERNACIONAIS DE JUROS ........................................................................................................ 43 3.1 Conceito ................................................................................................................................................... 43 3.2 Subdivisões ............................................................................................................................................. 46 4 POLÍTICA OPERACIONAL ADOTADA PELOS BANCOS ......................................................................... 47 4.1 Conceitos ................................................................................................................................................. 47 4.2 Elementos a serem considerados ................................................................................................... 48 4.3 Transferências ao exterior .................................................................................................................50 4.4 Modalidades de pagamentos no comércio internacional ................................................... 51 4.4.1 Remessa antecipada .............................................................................................................................. 51 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 4.4.2 Remessa sem saque ............................................................................................................................... 52 4.4.3 Cobrança .................................................................................................................................................... 52 4.4.4 Carta de crédito (letter of credit) ..................................................................................................... 54 4.5 Contratos de câmbio ........................................................................................................................... 56 4.5.1 Conceito e noções elementares de um contrato de câmbio ................................................ 56 4.5.2 Modelos de contratos de câmbio ..................................................................................................... 58 4.5.3 Particularidades ....................................................................................................................................... 61 Unidade III 5 EXPORTAÇÃO E O CÂMBIO .......................................................................................................................... 66 5.1 Conceito ................................................................................................................................................... 66 5.2 Fundamento legal ................................................................................................................................ 67 5.2.1 Formas de exportação ........................................................................................................................... 67 5.2.2 Documentos necessários para a exportação ............................................................................... 68 5.2.3 Formas de contrato de câmbio para a exportação ................................................................... 71 5.3 Responsabilidade das partes ............................................................................................................ 72 5.4 Principais financiamentos à exportação ..................................................................................... 72 5.4.1 Adiantamento de contrato de câmbio (ACC) .............................................................................. 72 5.4.2 Adiantamento de cambiais entregues (ACE) ............................................................................... 73 6 IMPORTAÇÃO E O CÂMBIO .......................................................................................................................... 74 6.1 Conceito ................................................................................................................................................... 74 6.2 Regime cambial ..................................................................................................................................... 75 6.3 Tributos e despesas .............................................................................................................................. 76 6.4 Financiamento para cobrança e carta de crédito ................................................................... 77 6.5 Pagamento antecipado ...................................................................................................................... 78 6.6 Comissão de agente ............................................................................................................................ 79 Unidade IV 7 OPERAÇÕES DE CÂMBIO REFERENTES A FINANCIAMENTOS INTERNACIONAIS .................... 83 7.1 Financiamentos à exportação ......................................................................................................... 83 7.1.1 Pré‑pagamento ........................................................................................................................................ 83 7.1.2 Simplex ........................................................................................................................................................ 84 7.1.3 Programa de Financiamento às Exportações (Proex) ............................................................... 84 7.1.4 Financiamentos BNDES Exim ............................................................................................................. 85 7.1.5 Export notes .............................................................................................................................................. 87 7.1.6 Securitização de exportação .............................................................................................................. 88 7.2 Supplier’s e buyer’s credits ............................................................................................................... 88 7.2.1 Supplier’s credit ....................................................................................................................................... 88 7.2.2 Buyer’s credit ............................................................................................................................................ 88 7.3 Forfaiting ................................................................................................................................................. 88 7.4 Financiamento à importação .......................................................................................................... 89 7.4.1 Buyer’s credit ............................................................................................................................................ 89 7.4.2 Supplier’s credit ....................................................................................................................................... 89 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 7.4.3 Leasing internacional ............................................................................................................................ 90 7.4.4 BNDES – Finem ........................................................................................................................................ 90 7.5 Operações de garantia........................................................................................................................ 90 7.5.1 Aval bancário ............................................................................................................................................ 90 7.5.2 Fiança bancária ........................................................................................................................................ 91 7.5.3 Bid bond ..................................................................................................................................................... 91 7.5.4 Performance bond .................................................................................................................................. 91 7.5.5 Cartas de crédito ..................................................................................................................................... 91 8 FUNDOS DE INVESTIMENTOS ..................................................................................................................... 91 8.1 Commercial paper ................................................................................................................................ 92 8.2 Bônus e eurobônus de empresas ...................................................................................................92 8.3 Comunicado Firce 10 – Lei n. 4.131 .............................................................................................. 93 8.4 Empréstimos em moeda estrangeira ............................................................................................ 94 8.4.1 Resolução n. 63 ....................................................................................................................................... 94 8.4.2 Resolução n. 2.770 ................................................................................................................................. 95 8.4.3 Resolução n. 3.844 ................................................................................................................................. 96 8.4.4 Carta circular n. 5 (CC5) ....................................................................................................................... 97 8.4.5 Securitização de empréstimos........................................................................................................... 97 8.4.6 Derivativos de swaps ............................................................................................................................. 98 8.4.7 Hedges cambiais ...................................................................................................................................... 99 8.4.8 Debêntures cambiais ............................................................................................................................. 99 8.4.9 Warrants ..................................................................................................................................................... 99 9 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 APRESENTAÇÃO Uma das disciplinas mais interessantes e complexas para qualquer gestor da área de Comércio Exterior é a que lida com câmbio, tanto com respeito à teoria quanto à prática. Nesse sentido, esta disciplina tem por objetivo auxiliar o discente no entendimento do funcionamento da questão cambial em âmbito nacional e internacional. É importante compreender como essa prática impacta as decisões das empresas, tanto com relação às exportações quanto às importações. Ainda a respeito do câmbio, os estudantes poderão conhecer durante nosso percurso de estudos os principais conceitos de pagamentos internacionais, o que, no ramo corporativo, é de suma importância, dado que cada um desses conceitos poderá definir a continuidade do negócio ou não. Igualmente, as sociedades podem buscar no mercado formas de financiar suas exportações e, em menor amplitude, as importações. Tais financiamentos facilitam às corporações abrirem seus estoques e, desse modo, conquistarem mercados. O nível de competitividade imposto ao mundo dos negócios atualmente requer a percepção ideal a respeito de cada processo da companhia. Atrair mercado por meio do comércio internacional é uma das saídas para ganhos extras, entretanto, sem o devido planejamento, a mesma organização tende ao fracasso. Dessa forma, ao observar a relação cambial, é preciso que o gestor tenha consciência e ferramentas analíticas para reconhecer se o mercado ficará estável ou instável, orientando de forma correta a política da empresa. Estar em consonância com as frequentes alterações apresentadas pelo regime do governo, por exemplo, as questões de legislação, documentação exigida, entre outros aspectos também é fundamental a todo profissional da área de comércio exterior. Assim, não é possível desvincular o gestor da área do indivíduo responsável pelas informações necessárias à tomada de decisões. Estudaremos os conceitos referentes à estrutura do sistema financeiro nacional – SFN, baseando‑nos nas reformas de 1964‑1965 até a estrutura atual. Serão enfatizados os principais órgãos e funções do chamado sistema brasileiro de câmbio. Outro ponto pertinente para o desenvolvimento dos conceitos futuros é o conhecimento do mercado de câmbio, suas características e seu funcionamento. Os controles cambiais aplicados aos países serão discutidos e será demonstrada a estrutura do balanço de pagamentos. Além disso, faremos a análise do conceito de taxa de câmbio, de suas aplicabilidades e impactos aos exportadores e importadores. Dando prosseguimento aos nossos estudos, procuramos compreender, a princípio, as taxas de juros internacionais e como serão significavas para os próximos passos dentro da disciplina. As políticas dos bancos e os contratos de câmbio serão tratados na sequência. Destacaremos as instituições financeiras e suas formas de auxiliar os agentes relacionados ao comércio exterior, tanto na forma de pagamento como de recebimento de divisas. Por fim, serão examinados os contratos de câmbio, os quais formalizam a existência da moeda estrangeira a ser negociada, auxiliando‑nos na reflexão sobre se existe ou não a possibilidade de negociá‑los. 10 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 As operações cambiais para a exportação e importação serão objetos de nosso estudo na sequência, em que será focada a fundamentação legal da existência delas, além das responsabilidades existentes a cada uma das partes envolvidas no processo. De modo similar, analisaremos a questão das principais formas de garantia a importadores e exportadores; os dois principais tipos de financiamento voltados à exportação; o adiantamento de contrato de câmbio (ACC) e o adiantamento de cambiais entregues (ACE). Por fim, procuraremos compreender financiamentos elementares existentes no mercado internacional para os exportadores e importadores, bem como estudaremos os principais fundos de investimentos disponíveis, os quais se amparam na legislação brasileira. Vale ressaltar que a regulamentação do comércio exterior no Brasil terá especial destaque. Encerraremos nossos estudos com o exame dos empréstimos em moeda estrangeira autorizados pelo governo e as formas de proteção contra as oscilações cambiais. INTRODUÇÃO Tratar de câmbio não é tarefa fácil, porém esta disciplina de Teoria e Prática Cambial, aqui abordada, buscará argumentos esclarecedores e facilitadores sobre este tema. Os processos existentes na área de comércio exterior de uma organização geram inúmeras possibilidades de trabalho. As empresas procuram constantemente profissionais gabaritados para atuar na área. Desse modo, compreender as nuances referentes à área cambial é o objetivo principal do presente livro‑texto. Por meio da busca de referências atualizadas – sem desconsiderar de que forma cada um dos processos foi gerado e determinado –, teremos a capacidade de nos evadir do aspecto meramente teórico e aplicar de forma prática o conhecimento adquirido. Ao analisar a estrutura então desenvolvida, percebe‑se a necessidade de conceituar, além de esclarecer, as principais questões com as quais o profissional envolvido na área de comércio exterior se deparará. Atualmente, o número de organizações que buscam romper fronteiras e explorar novos mercados tem crescido e isso gera um excelente nicho de mercado. A premissa de que uma taxa de câmbio é favorável à exportação permite afirmar que esta seja a grande ocasião de o mercado alimentar um ledo engano, visto que no Brasil há uma enorme carência de bens de capital, dessa forma, o processo de importação, ainda que o câmbio esteja desfavorável, é bastante relevante. Com isso, espera‑se que este livro‑texto possa sanar grande parte das dúvidas, e por que não, dos anseios dos discentes, bem como possa despertar grande interesse pelo tema. 11 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Unidade I 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL O SFN, durante as décadas, passou por diversas transformações e adequações com o intuito de se adaptar às necessidades da economia brasileira (LOPES; ROSSETTI, 1998). Assim, ao analisar este sistema, é necessária uma compreensão mais detalhada sobre a sua evolução ao longo do tempo. A evolução do SFN pode ser dividida em cinco fases: • Desde o período do Império até a República. • O período entreguerras, que inclui a Grande Depressão. • O período que se inicia em 1945 e se prolonga até as reformas institucionais de 1964 e 1965. • Desde as reformas de 1964‑1965 até a promulgação da Constituição de 1988. • A partir da introdução dos bancos múltiplos e da necessidade de capital mínimo para abertura das instituições de intermediação financeira – o fim da carta patente. Saiba mais Para uma compreensão mais detalhada acerca das referidas fases, recomenda‑se a leitura da dissertação de mestrado de Nanci Souto de Assis. No primeiro capítulo ela aborda o contexto histórico do SFN: ASSIS, N. S. Análise dos efeitos da globalização monetária e financeira sobre a estrutura e o funcionamento do sistema financeiro brasileiro. 2007. Dissertação (Mestrado em Economia Política) – Pontifícia Universidade de Católica de São Paulo, São Paulo, 2007. Disponível em: <https://sapientia. pucsp.br/bitstream/handle/9324/1/Nanci%20Souto%20de%20Assis.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2019. O escopo do presente material didático não consiste em uma simples abordagem histórica e evolutiva do SFN. Assim, mesmo que reconheçamos a importância das duas fases iniciais desse esquema evolutivo, pretendemos, em nossa análise, deixá‑las para trás para nos concentrar nas três seguintes. Desse modo, nossa atenção se voltará principalmente ao período que se inicia no após a Segunda Guerra Mundial e se estende até a introdução do conceito de bancos múltiplos para as instituições financeiras. 12 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade I Esse recorte histórico se justifica especialmente no fato de que foi justamente a partir da terceira fase que se iniciou uma nova etapa para a economia brasileira, capaz de explicar com maior rigor o atual desenho, assim como a relevância que o SFN apresenta para a dinâmica econômica e dos negócios em nosso país. Nesse sentido, o contexto do SFN foi marcado por uma série de aspectos que o aperfeiçoaram, com destaque para: • Aumento expressivo no número de intermediários financeiros com o incremento do avanço no espaço geográfico nacional. • Criação da Sumoc (Superintendência da Moeda e do Crédito), que representou o primeiro passo para a introdução do Banco Central. • Criação de órgão para financiar a infraestrutura do país, inicialmente denominado BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico). • Criação de programas para redução das desigualdades regionais brasileiras por meio da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento do Amazonas) e Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), entre outros bancos de auxílio. • Desenvolvimento de companhias responsáveis pelo auxílio à população, por meio da ampliação do crédito, que apresentava demanda crescente por bens duráveis, assim como por bens de capital produzidos pelos novos setores da economia. Observação Bens de capital são aqueles usados para a produção de outros bens e que não são finalizados na produção, apenas se desgastam, como é o caso das máquinas e dos equipamentos. Já os bens de consumo duráveis são aqueles disponíveis para consumo da população e que serão utilizados diversas vezes, por exemplo, um automóvel. Em termos contextuais, o Estado brasileiro promoveu uma série de reformas entre 1964 e 1965, que foram introduzidas na dinâmica da sociedade por meio das seguintes leis: • Lei n. 4.380, de 21 de agosto de 1964: institui a correção monetária nos contratos imobiliários de interesse social, o sistema financeiro para aquisição da casa própria, cria o Banco Nacional da Habitação (BNH), as Sociedades de Crédito Imobiliário, as letras imobiliárias, o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo e dá outras providências. • Lei n. 4.595, de 31 de dezembro de 1964: dispõe sobre a política e as instituições monetárias, bancárias e creditícias; cria o Conselho Monetário Nacional e dá outras providências. Além disso, 13 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL estrutura o sistema: do Conselho Monetário Nacional; do Banco Central do Brasil; do Banco do Brasil; do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico; das demais instituições financeiras públicas e privadas. • Lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965: disciplina o mercado de capitais e estabelece medidas para o seu desenvolvimento. Costa (1999) argumenta que, apesar do objetivo de aprimorar e tornar mais dinâmico e confiável o processo de intermediação financeira, o efeito prático daquelas reformas no mercado financeiro demonstrou alguns novos aspectos de fragilidades do SFN. Os principais aspectos negativos relativos às reformas de 1964‑1965 são: • Falta de autonomia do Banco Central, que dependia do Poder Executivo do Estado. • Acúmulo de funções no Banco Central, que se configurava como executor da política monetária e da política cambial, banco emissor, banco dos bancos, “banqueiro” do governo, banco de fomento, controlador das operações com o exterior, fiscal do sistema financeiro. • Caráter híbrido do Banco do Brasil, com o acúmulo de funções de autoridade monetária, que poderiam ter sido transferidas para o Banco Central. • Conselho Monetário Nacional subordinado ao Ministério da Fazenda, que o tornou um mero órgão homologatório de decisões tomadas, mais uma vez, pelo Poder Executivo do Estado. • Ausência da unificação de orçamentos, com o orçamento monetário tornando‑se o segundo orçamento patrimonial da União, sem o controle do Poder Legislativo do Estado (Congresso). • Redução no prazo de vencimento dos títulos que lastreariam empréstimos de longo prazo no mercado financeiro. • Indefinição da figura do “poupador” como investidor institucional (fundos de pensão, seguradoras etc.), a partir da “poupança compulsória” coletiva (FGTS, PIS‑Pasep, Finsocial etc.), dadas as dificuldades inerentes à formação da “poupança voluntária” individual. • Abandono da política monetária de especialização em seus diferentes segmentos. Vale ressaltar ainda que, sob a perspectiva operacional, aquelas reformas desenvolveram o mercado financeiro, mesmo que ancorado proeminentemente em depósitos à vista, em detrimento da poupança com perfil de longo prazo. A conclusão dessa quarta fase ocorreu com a promulgação da Constituição Federal de 1988. O presidente à época, José Sarney, implementou o Plano Cruzado, que tinha como objetivo enfrentar as consequências da inflação no Brasil. 14 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade I Aquele plano atingia o SFN com alterações profundas para o brasileiro, dentre as quais é possível destacar o fim da conta movimento (conhecida por ser o “cheque especial” do governo, que era mantida no Banco do Brasil), a autorização para que os bancos cobrassem pelos serviços prestados ao público, a criação do certificado de depósito interbancário (CDI) com o objetivo de distribuir recursos entre os agentes superavitários e deficitários, concentrados nas relações interbancárias. Ainda sobre a criação dos CDIs, aquelas operações permitiam que bancos comerciais que buscavam fechar as suas posições diáriaspudessem realizar empréstimos com outros bancos. Isto é, caso o “banco X” precisasse de dinheiro, pediria emprestado ao “banco Y”, e este, por sua vez, poderia pedir ao “banco Z”, e assim por diante. Essa operação, desde então, começou a ser viabilizada por meio do certificado de depósito interbancário. 1.1 O SFN após 1988 Esse período é marcado inicialmente pelo reordenamento do SFN, promovido pelo Conselho Monetário Nacional, com o apoio do Banco Mundial. A nova estruturação trouxe alterações fundamentais ao SFN, dentre as quais vale ressaltar o fim da carta patente que, por sua vez, consistia em uma espécie de autorização concedida pelo Banco Central àquela instituição financeira que buscava operar no mercado como um banco. Com a eliminação da carta patente, as instituições financeiras que quisessem ingressar no mercado teriam de, simplesmente, atender aos critérios técnicos, previstos em lei, na Constituição Federal de 1988 e essa alteração foi capaz de remover uma considerável barreira de entrada para novos concorrentes naquele setor da economia que passaram a ter de indicar um capital mínimo para cada carteira, com vistas a obter autorização para operar no SFN. Isso conferia às instituições financeiras autorização para atuarem como bancos múltiplos, isto é, os bancos poderiam, a partir daquele momento, possuir mais de uma carteira em sua estrutura, desde que demonstrassem capital mínimo para cada uma delas. Observação As carteiras de um banco podem ser: comerciais, quando basicamente captam depósitos à vista e oferecem crédito; investimentos, quando não possuem conta corrente para seus clientes, apenas fundos de investimentos e fornecem empréstimo de médio e longo prazo; desenvolvimento, quando têm como principal objetivo o fomento de estruturas e regiões; e múltiplos, quando, em termos simplificados, bancos que operam com duas ou mais carteiras. Em termos contemporâneos, o SFN consiste em um conjunto de instituições financeiras e de instrumentos financeiros que visam, em última análise, transferir recursos dos agentes econômicos (pessoas, empresas e governo) superavitários para os deficitários (ASSAF NETO, 2015). O SFN divide‑se em subsistema normativo e subsistema de intermediação, sendo possível destacá‑los a partir de suas características e objetivos. O subsistema normativo é a parte que trata dos mecanismos de regulação e controle do mercado instituídos por meio de diretrizes de atuação das instituições financeiras. Isto é, ele é responsável pelas normas e legislação que regulamentam o sistema financeiro. Fazem parte desse subsistema: o Conselho 15 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Monetário Nacional – CMN, o Banco Central do Brasil – Bacen, a Comissão de Valores Mobiliários – CVM e as chamadas instituições especiais, como o Banco do Brasil – BB, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES e a Caixa Econômica Federal – CEF. O subsistema de intermediação, por sua vez, tem por objetivo operacionalizar, de fato, a intermediação bancária entre deficitários (pessoas físicas ou jurídicas que necessitam de recursos financeiros para o consumo imediato no presente) e superavitários (pessoas físicas ou jurídicas que desejam poupar recursos financeiros no presente para consumir no futuro). Nesse subsistema coexistem: instituições financeiras bancárias, como bancos comerciais, bancos múltiplos e caixas econômicas; instituições financeiras não bancárias, como bancos de investimentos, bancos de desenvolvimento, sociedades de crédito, financiamento e investimento, sociedades de arrendamento mercantil e cooperativas de crédito. No subsistema de intermediação ainda operam o chamado Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo, protagonizado pela Caixa Econômica Federal, e outros bancos múltiplos com carteiras de crédito imobiliário para o devido funcionamento do sistema financeiro de habitação do Brasil; além das instituições auxiliares, como bolsas de valores, sociedades corretoras, sociedades distribuidoras e agentes autônomos de investimentos; por último, existem, também, as instituições não financeiras, como as sociedades de fomento comercial (factorings) e sociedades seguradoras. Caixa Econômica Federal (CEF) Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Instituições financeiras bancárias Instituições financeiras não bancárias Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) Instituições auxiliares Instituições não financeiras Comissão de Valores mobiliários (CVM) Instituições especiais Banco Central (Bacen) Su bs is te m a no rm at iv o Su bs is te m a de in te rm ed ia çã o Si st em a Fi na nc ei ro N ac io na l ( SF N ) Conselho Monetário Nacional (CMN) Comissões consultivas Banco do Brasil (BB) Figura 1 – Estrutura do SFN 16 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade I A partir dessa breve introdução histórica sobre o SFN, com base no escopo do presente material didático, todas as discussões conceituais estarão concentradas, exclusivamente, nas noções e ideias com capacidade efetiva de afetar a dinâmica do comércio exterior, a partir da compreensão reflexiva acerca da teoria e prática cambial. Saiba mais Para mais detalhes e esclarecimentos a respeito da economia monetária nacional, recomendamos a leitura da obra: ALMEIDA, J. R. N. Economia monetária: uma abordagem brasileira. São Paulo, Atlas: 2009. 1.2 Comércio exterior no Brasil No Brasil, o comércio exterior, em termos de regulação e fiscalização do Estado, está subordinado ao Ministério de Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). No entanto, a estrutura de papéis existentes para a chamada Secretaria de Comércio Exterior (Secex) determina que todas as operações sejam devidamente registradas e reguladas por outros organismos do governo, como é possível observar nas linhas de autoridade e comando no organograma apresentado na figura a seguir, com a divisão de trabalho e especialização de tarefas definidas por área do Estado brasileiro. Câmara de Comércio Exterior (Camex) Presidência da República Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) Secretaria de Comércio Exterior (Secex) Conselho Monetário Nacional Banco Central do Brasil (Bacen) Ministério da Fazenda Secretaria da Receita Federal (RFB) Figura 2 – Hierarquia e autoridade para a secretaria de comércio exterior 17 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL No detalhe, a partir do exposto na figura anterior, vale destacar o papel do Conselho Monetário Nacional – CMN, que consiste no órgão supremo do sistema financeiro. O CMN possui funções apenas normativas e não executivas e é responsável pelas diretrizes de política monetária, fiscal e cambial. Entre suas competências, destacam‑se: conciliar o volume dos meios de pagamentos às necessidades econômicas da sociedade brasileira; regular o valor interno e externo da moeda; direcionar a aplicação de recursos das instituições públicas e privadas; zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras; normatizar a política cambial e coordenar as políticas monetária, fiscal, creditícia, orçamentária fiscal e da dívida pública interna e externa do país. Atualmente o CMN é composto de Ministro da Fazenda (presidente do conselho), Ministro do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, assim como do presidentedo Banco Central do Brasil. Vale destacar o papel do Banco Central do Brasil (Bacen), que é o responsável pela execução das medidas determinadas pelo SFN, além de emitir papel‑moeda, executar serviços do meio circulante, receber depósitos compulsórios, realizar operações de redesconto e ser o banco executor da política monetária e ser o banco do Governo. Além desses, há outros órgãos que também são relevantes para a dinâmica do comércio exterior brasileiro, como a Câmara de Comércio Exterior (Camex), que foi reestruturada em 2001 e é responsável pela formulação, decisão e orientação de políticas e atividades relativas ao comércio exterior de bens e serviços. Dessa forma, fazem parte de suas principais atribuições: estabelecer as diretrizes e procedimentos relativos à implementação da política de comércio exterior do país; coordenar e orientar as ações no âmbito do comércio exterior; especificar normas e procedimentos para a atividade importadora e exportadora; estabelecer diretrizes para as negociações internacionais; orientar a política aduaneira; elaborar as diretrizes para a política tarifária; simplificar e racionalizar o comércio exterior; designar diretrizes e procedimentos para investigações relativas às práticas desleais; determinar a política de financiamento das exportações; fixar diretrizes e coordenar políticas de promoção de mercadorias e de serviços no exterior e de informação comercial; fixar as alíquotas do imposto de importação. A própria Secretaria de Comércio Exterior (Secex), que está vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), tem entre suas principais atribuições a condução das políticas de comércio exterior e gestão do controle comercial. Dessa forma, esse órgão do governo normatiza, supervisiona, orienta, planeja, controla e avalia as atividades de comércio exterior. Além disso, a Secex participa das negociações dos acordos comerciais internacionais do governo brasileiro, promove a cultura exportadora, defere atos concessórios de drawback, anui operações de exportação e importação, faz o exame de similaridade para averiguação de produção nacional, compila a balança comercial, promove a defesa comercial do país, entre outras competências. Observação De acordo com a Secretaria da Receita Federal (BRASIL, 2014), o regime aduaneiro especial de drawback, instituído em 1966 pelo Decreto‑lei n. 37, de 21 de novembro de 1966, consiste na suspensão ou eliminação de tributos incidentes sobre insumos importados para a utilização em produto 18 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade I exportado. O mecanismo funciona como um incentivo às exportações, pois reduz os custos de produção de produtos exportáveis, tornando‑os mais competitivos no mercado internacional. A importância do benefício é tanta que já chegou a corresponder a 29% de todo o benefício fiscal concedido pelo Governo Federal. Por fim, a Secretaria da Receita Federal está vinculada e subordinada ao Ministério da Fazenda e possui considerável grau de interferência nas atividades relativas ao comércio exterior no Brasil, pois é sua a responsabilidade de cuidar das questões tributárias federais; primar pelo aperfeiçoamento e regulamentação da legislação tributária; aplicar a legislação fiscal e correlata; acompanhar a política tributária e fiscal e seus desdobramentos; e articular‑se entre os diferentes órgãos da Administração Federal. Conforme destaca Vazquez (2009, p. 26), as “[...] Secretaria da Receita Federal, Secretaria de Comércio Exterior e [o] Banco Central do Brasil formam um triunvirato que exerce o maior poder sobre o comércio exterior brasileiro”. Conhecer a estrutura organizacional do SFN e os principais órgãos de comércio exterior possibilita ao operador de comércio exterior tratar dos problemas relativos às operações internacionais, isto é, como efetivamente comprar e pagar ou vender e receber em suas operações e transações externas. 2 MERCADO DE CÂMBIO A compreensão mais detalhada das estruturas do SFN e de suas relações com as atividades de comércio exterior no Brasil permite a discussão acerca de um dos mais relevantes problemas que envolvem as trocas entre os países: a efetuação dos pagamentos para outras nações com diferentes moedas. Esse é um problema para o qual o mercado cambial tem buscado soluções. Por isso, é muito importante entender as interações e o processo do mercado cambial. O mercado de câmbio é um dos componentes relativos ao chamado mercado financeiro, como é possível observar na figura a seguir: Mercado monetário Mercado de crédito Mercado de capitais Mercado cambial Mercado financeiro Figura 3 – Mercado cambial no contexto do mercado financeiro 19 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Saiba mais Para uma compreensão mais ampla sobre o mercado financeiro (incluindo o mercado cambial), sugerimos a leitura da obra: ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 13. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2015. O mercado de câmbio (também chamado de mercado cambial ou mercado de divisas) busca solucionar os problemas inerentes às transações de mercado que envolvem moeda estrangeira. Essas transações podem ocorrer por meio de dois atos: a compra e a venda de mercadorias e os serviços entre países abertos às transações externas. Isto é, quando um país adquire um produto no exterior, ele necessita enviar uma certa quantidade de moeda em troca, por outro lado, quando ele vende para outro país, espera receber do país estrangeiro moeda em troca. Considere as seguintes situações: A “empresa X”, brasileira, adquiriu um determinado produto em outro país, mais especificamente, importou‑o do Japão. Após receber a mercadoria e proceder todos os trâmites legais, a “empresa X” deverá efetuar um pagamento à sua vendedora japonesa. Assim, ela deverá, em tese, primeiramente trocar parte de suas moedas nacionais (reais) por divisas utilizadas no país de origem daquela mercadoria, o Japão, ou seja, por ienes. A “empresa Y”, nacional, vendeu produtos para uma outra estadunidense. Após todos os procedimentos legais, a sociedade estrangeira efetua o pagamento em dólares para sua fornecedora brasileira. Contudo, no ingresso daquela quantidade específica de moedas estrangeiras no Brasil, elas devem ser convertidas em real, ou seja, na divisa nacional. Em termos básicos, dois elementos compõem o mercado de câmbio: compradores e vendedores. Os primeiros são chamados de importadores e os últimos, por sua vez, configuram‑se como exportadores. No entanto, é interessante destacar que existem outras operações inerentes ao mercado internacional, como empréstimos, comércio turístico e transferências, os quais, da mesma forma, estão sujeitos às regras e à dinâmica cambial do mercado de câmbio. Ainda com relação às transações no comércio de câmbio, Ratti (2011) destaca cinco grandes categorias: • transações entre bancos e clientes dentro de um mesmo país; • transações entre bancos de um mesmo país; • transações entre bancos localizados em diferentes países; 20 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade I • transações entre bancos e bancos centrais dentro do mesmo país; • transações entre bancos centrais localizados em diferentes países. 2.1 Participantes do mercado cambial O comércio de câmbio é composto de importadores e exportadores, porém outros agentes também participam dele. Dessa forma, vale ressaltar quais são todos os participantes do mercado cambial: • Vendedores: são os que desejam vender divisas.Eles almejam trocar moeda estrangeira por moeda nacional. Podemos elencá‑los como exportadores, tomadores de divisas, turistas estrangeiros, prestadores de serviços e investidores estrangeiros. • Compradores: são os que tencionam comprar divisas. São os que possuem moeda nacional e necessitam de moeda estrangeira. Citando os principais componentes, observamos importadores, turistas nacionais no exterior, compradores de serviços, investidores e devedores no exterior. • Bancos: são os responsáveis por intermediar as operações de câmbio. Na maior parte dos países, eles são de intervenção obrigatória. No Brasil, todas as operações com moeda internacional devem passar por uma instituição financeira. Caso isso não ocorra, são consideradas ilegais. • Operadores de câmbio e corretoras de câmbio: são agentes especializados a orientar os clientes com relação à legislação cambial, bem como a operar com bancos, buscando condições favoráveis de compra e venda de divisas. Já os operadores são conhecidos como dealers e encarregam‑se de comprar e vender moedas, devendo sempre estar atentos ao funcionamento das praças internacionais. As corretoras, por sua vez, têm como objetivo aproximar bancos e clientes visando às melhores taxas e condições para seus clientes. • Operadores credenciados e agências de turismo e hotéis: trata‑se de uma série de agentes econômicos que, necessariamente, não são especializados e utilizam o mercado cambial como meio facilitador para suas respectivas atividades‑fim, em geral, relacionadas aos serviços de turismo. Observação Alguns países aceitam legalmente o papel do especulador. Nesses casos, eles servem como agentes equilibradores do mercado. A figura a seguir demonstra o processo de corretagem e os momentos de intervenção dos corretores de câmbio: 21 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Vendedor Banco Compradores Corretor Corretor Figura 4 – Operadores do mercado cambial Lembrete O termo “divisa” indica a quantidade de moeda estrangeira que um governo possui. Elas advêm de todas as operações realizadas no comércio exterior. 2.2 Negociação do câmbio O Banco Central do Brasil (2014) define o mercado de câmbio da seguinte forma: [...] é regulamentado e fiscalizado pelo Banco Central e compreende as operações de compra e de venda de moeda estrangeira, as operações em moeda nacional entre residentes, domiciliados ou com sede no País e residentes, domiciliados ou com sede no exterior e as operações com ouro – instrumento cambial, realizadas por intermédio das instituições autorizadas a operar no mercado de câmbio pelo Banco Central, diretamente ou por meio de seus correspondentes (BACEN, 2014). De acordo com o Banco Central, ao realizar uma operação internacional de importação, exportação, ou prestação de serviços, é necessário emitir um contrato de câmbio. Esse contrato é responsável por ditar tudo o que foi acordado entre as partes e ele formaliza o processo de compra e venda de moeda estrangeira. Todo contrato de câmbio deve ser registrado em sistema específico do Bacen. Esse sistema é o chamado Sisbacen e tem por objetivo realizar a interface entre os bancos e o Banco Central. O Banco Central se serve das informações disponibilizadas no Sisbacen para compreender o comércio de câmbio no Brasil através de estatísticas e mapeamento por empresa. No entanto, vale ressaltar que nem todas as operações de compra e venda de moeda estrangeira obrigam a emissão de um contrato de câmbio, pois, conforme a legislação atual, as operações no valor de US$ 3.000 ou valor equivalente em outras moedas dispensam o contrato de câmbio. Porém, é obrigatória a identificação do cliente e o registro no sistema de câmbio (BACEN, 2017). Nessa parte da discussão, dois pontos merecem destaque em relação ao mercado de câmbio. O primeiro diz respeito ao fato de que os bancos são os grandes atores desse comércio, uma vez que são eles os responsáveis por circular a moeda estrangeira. Assim, se existe muita moeda estrangeira nos cofres de uma instituição financeira, ela vende parte delas para outro banco que tenha pouca moeda. 22 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade I O segundo aspecto a ser destacado refere‑se à ideia de que todas as operações acontecem por meio virtual, ou seja, não existe movimentação física de tais divisas. Vale lembrar que as transações no mercado de câmbio ocorrem em cinco categorias: • bancos e clientes dentro do país; • bancos do mesmo país; • bancos de diferentes países; • bancos e bancos centrais do mesmo país; • bancos centrais de diferentes países. 2.3 Funcionamento do mercado de câmbio Uma característica peculiar do mercado de câmbio consiste em seu horário de funcionamento, pois é importante compreender que, devido ao fuso horário existente ao redor do globo, o mercado necessita de um funcionamento do tipo 24 horas por dia. Isso ocorre porque, no momento em que os mercados asiáticos estão fechando, aqui no Brasil estamos dando início às operações, portanto, se faz necessário que o comércio cambial funcione o tempo todo. No negócio cambial diariamente estipula‑se a taxa de câmbio. Operadores e corretores verificam no mercado, em tempo real, qual a taxa ideal de operação. Para chegar a ela são levados em conta diversos elementos, por exemplo, a taxa do dia anterior, as informações econômicas, a natureza política, entre outros fatores que se demonstram necessários e adequados. A taxa de câmbio de abertura para compra e venda é aquela com a qual os bancos declaram que irão trabalhar no exato momento em que começam suas operações. Porém, dependendo do regime cambial adotado pelo país, essa taxa pode ser alterada ao longo do dia. Quando um determinado cliente da instituição bancária vende moeda para ela, o preço pago por essa moeda é o de compra. De modo mais específico, a instituição é a compradora da moeda, logo a taxa paga é a de compra. Essa taxa também é chamada de bid rate. No caso de um cliente que deseja comprar moeda estrangeira com o banco, ele pagará o preço de venda correspondente a ela. Isso acontece porque a instituição financeira é a vendedora. Nesse caso, a taxa recebe o nome de offer rate. O lucro da instituição financeira é gerado na diferença que ela consegue entre o preço de compra e o de venda. Esse resultado é denominado spread. No mercado cambial, ao buscar a cotação ideal, os agentes envolvidos com o câmbio devem verificar se o respectivo país “dá o certo” ou “o incerto”. O termo “dar o certo” significa a quantidade de moeda estrangeira que um indivíduo consegue adquirir com uma unidade de moeda nacional. Já o termo “dar o incerto” é a quantidade de moeda nacional adquirida com uma unidade de moeda estrangeira. 23 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Por exemplo, considere uma determinada situação na qual a taxa de câmbio para o dólar seja de R$ 3,26/US$ 1: • “Dar o certo”: R$ 1,00 = US$ 0,798 (essa é a quantidade de moeda estrangeira que um indivíduo consegue adquirir com uma unidade de moeda nacional). • “Dar o incerto”: US$ 1,00 = R$ 3,26 (essa é a quantidade de moeda nacional adquirida com uma unidade de moeda estrangeira). Observação Na prática do mercado cambial, em todo o mundo, quase todos os países “dão o incerto”. A Inglaterra é uma exceção. Nas terras da rainha, sempre será dado o certo. Conforme a dinâmica do mercado, as instituições financeiras, ao longo do dia, apresentam uma dada posição cambial. Elassão classificadas em termos de nivelada (balanced), comprada (long position) e vendida (short position). Em seguida, destacamos o significado de cada uma dessas posições. • Nivelada (balanced): nessa posição, os bancos operam a mesma quantidade de moeda tanto na compra quanto na venda. Assim, o saldo do banco fica igual a zero, logo, a sua posição está nivelada. • Comprada (long position): ao longo de um dia, foram realizadas operações nas quais a instituição adquiriu mais moeda do que vendeu. Dessa maneira, sua posição é comprada, pois possui saldo positivo. • Vendida (short position): as operações de venda foram superiores às de compra, logo, vendeu‑se mais do que se comprou. O caixa do banco fica negativo com essa operação vendida. Maia (2008), apresenta o seguinte exemplo, devidamente adaptado para as discussões do presente material didático: Considere que o “banco X” tenha comprado, ao longo de um dia, o total de US$ 10 milhões e vendido a quantia de US$ 8 milhões. Dessa forma, a sua posição ficou comprada (long position), pois seu saldo em caixa é de US$ 2 milhões. Suponha que, no dia seguinte, a mesma instituição bancária tenha comprado US$ 7 milhões, mas vendido US$ 15 milhões. O caixa do dia anterior era de US$ 2 milhões, com a compra e venda deste dia, o resultado em seu caixa é de US$ 6 milhões a débito, gerando uma posição vendida (short position). No terceiro dia, partindo de um saldo devedor de US$ 6 milhões, o banco compra US$ 10 milhões e vende US$ 4 milhões, nesse caso, nivela sua posição, o que resulta em um saldo igual a zero (balanced). Na prática, vale ressaltar que a posição vendida é algo que não poderia acontecer, pois nenhuma instituição financeira é capaz de vender o que não possui. No entanto, os bancos se servem de solicitação de pagamento por parte de outros. Assim, os bancos emitem a ordem de pagamento e pedem emprestado 24 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade I a outros. Quando a posição do solicitante do empréstimo for nivelada, ele quita sua obrigação com a instituição desse empréstimo. Saiba mais As moedas são denominadas em dólares devido ao acordo conhecido por Bretton Woods. Nele ficou definida a nova ordem do sistema financeiro internacional após as duas Grandes Guerras. Para melhor compreensão desse tema, leia o texto: EICHENGREEN, B. História e reforma do sistema monetário internacional. Economia e Sociedade, Campinas, v. 1, n. 4, p. 53‑78, jun. 1995. 2.4 Subdivisões do mercado cambial Segundo Ratti (2011), especialistas e operadores do mercado cambial usualmente segmentam‑no de acordo com a seguinte subdivisão: • mercado sacado; • mercado de câmbio manual; • mercado paralelo de câmbio; • mercado de câmbio primário; • mercado de câmbio secundário; • mercado de câmbio à vista; • mercado de câmbio a termo. Essa divisão ocorre por mera conveniência didática. Assim, o chamado mercado sacado compreende as operações dos bancos, nas quais compram‑se e vendem‑se divisas estrangeiras, representadas por depósitos, letras de câmbio, cheques, ordens de pagamento etc. Para que as operações nesse mercado ocorram, é necessário que o banco nacional possua um correspondente no exterior. As operações no mercado sacado sofrem uma divisão e podem ser classificadas como: financeiras, quando não estão diretamente ligadas à importação ou exportação, mas se aplicam a operações como donativos, royalties, juros, dividendos, amortização de empréstimos etc.; e comerciais, quando referem‑se a operações de importação e exportação de bens e serviços. O mercado de câmbio manual, por sua vez, é condicionado pelo uso de moeda em espécie e é pouco empregado, tendo em conta todas dificuldades relativas ao uso de moeda física. No entanto, trata‑se de uma prática observada, geralmente, por turistas ou viajantes, que utilizam os chamados 25 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL traveller’s checks ou o próprio dinheiro em espécie, nas operações comerciais (importação e exportação) de pequeno volume. O mercado paralelo de câmbio tem suas operações realizadas por pessoas físicas ou jurídicas não autorizadas a operar no mercado de câmbio. Definem‑se, portanto, essas operações como não legítimas. Mesmo assim, elas ocorrem tanto em mercado sacado quanto manual. Conforme Ratti (2011), dentre as razões para a existência desse mercado destacam‑se a instabilidade política e monetária, a existência da necessidade de remessas clandestinas de lucros, os pagamentos de mercadorias contrabandeadas, o tráfico de drogas e armas, a percepção de uma carga tributária excessiva e as restrições legais do mercado formal, a necessidade de obscurecer o pagamento de propinas e subornos, além do chamado câmbio português. Câmbio português é uma estratégia de exportadores brasileiros, usualmente de café, na qual os agentes de mercado não podem vender seu produto com preço abaixo do definido pelo governo. Legalmente o exportador vende o café ao preço determinado pelo governo, ao mesmo tempo que remete ao importador estrangeiro, pelo mercado paralelo, a diferença entre o preço total combinado com o importador e o preço legal constante da documentação de exportação (RATTI, 2011, p. 120). De volta para as subdivisões do mercado de câmbio, o mercado primário tem o objetivo de efetuar operações de entrega e recebimento de moeda de importadores e exportadores (não bancários) a uma instituição financeira, enquanto que o mercado de câmbio secundário, também conhecido como mercado de câmbio interbancário, executa as operações de compra e venda de moeda estrangeira por instituições financeiras (bancos) autorizadas a operar com câmbio. Nesse tipo de mercado, não há impacto sobre o balanço de pagamentos. Observação Balanço de pagamentos é o registro contábil de todas as operações realizadas entre os residentes e os não residentes de um país, servindo como referência para apontar sua situação econômica e financeira. Finalmente, observa‑se o mercado de câmbio à vista e o de câmbio a termo. O primeiro faz operações de compra e venda de moeda que deverão ser liquidadas à vista ou no prazo limite estipulado, em até dois dias úteis. Esse mercado é conhecido, tanto nacional quanto internacionalmente, como spot. O mercado de câmbio a termo abrange as operações que serão executadas no futuro, ou seja, aquelas que são efetuadas em uma determinada data, nas quais a entrega das divisas ocorrerá em outra data, mantendo um câmbio fixo. Esse mercado também é conhecido como mercado futuro no jargão bancário ou forward exchange. Existem vantagens e desvantagens em operações dessa natureza, principalmente relativas à flutuação das taxas de câmbio que poderiam permitir uma transação com menores custos, caso a taxa de câmbio se aprecie ou se deprecie no futuro, em relação às taxas de mercado no momento em que a transação foi efetuada. 26 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade I 2.5 Controle cambial Governos podem se utilizar de controles em relação ao câmbio. Assim, os objetivos desta seção de nosso livro‑texto são apresentar e esclarecer tais controles e compreender os que são realizados e previstos no Brasil. Para intensificar e aprimorar a discussão acerca do controle cambial, se faz necessária a elucidação sobre o conceito de balanço de pagamentos. 2.5.1 Balanço de pagamentos O balanço de pagamentos consiste em uma técnica de controle que surgiu a partir da necessidade encontrada pelos países abertos às transações externas e é definidacomo um “registro contábil de todas as transações, ocorridas em um certo período de tempo, entre residentes e não residentes de um país” (MONTELLA, 2004, p. 131). A estrutura desse balanço busca abranger as principais relações existentes naquelas transações externas. Assim, no caso das entradas de divisas, elas sempre serão lançadas com um sinal positivo, enquanto que as saídas, com sinal negativo. Igualmente existe o conceito das partidas dobradas, presente em balanços contábeis, ilustrado nas ciências contábeis pela noção de que todo débito possui um crédito. Quadro 1 – Balança de transações correntes (quadro resumido do balanço de pagamentos) Transações correntes (1) • Balança comercial — Exportações — Importações • Serviços — Viagens — Transportes — Seguros — Financeiros — Computação e informações — Royalties e licenças — Aluguel de equipamentos — Serviços governamentais — Outros • Rendas — Salários e ordenados — Rendas de investimentos (juros, lucros e dividendos) — Transferências unilaterais (donativos e manutenção de residentes no país) Conta capital (2) • Transferência de patrimônio 27 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Conta financeira (3) • Investimentos diretos • Investimentos em carteira • Derivativos • Outros investimentos Erros e omissões (4) = Saldo (1 + 2 + 3 + 4) 2.5.2 Origens do controle cambial O controle cambial busca corrigir ou minimizar os efeitos, na economia, decorrentes dos déficits na balança de pagamentos. De fato, o mundo passou por momentos de relativa estabilidade no período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial. Assim, uma taxa de câmbio fixa, poderia ser considerada viável, principalmente, em períodos de relativa estabilidade. No entanto, com a deflagração daquele conflito mundial em 1914, os países precisaram mudar suas respectivas políticas cambiais. Ao fim do conflito, em 1918, o regime cambial instituído, de modo geral, foi o chamado flutuante. Dessa forma, os balanços de pagamentos passaram a sofrer os efeitos da flexibilidade nas taxas de câmbio. Diante da necessidade dos países se protegerem de alguma forma desses impactos, foram criados os regimes de controles cambiais. 2.5.3 Modalidades de controle cambiais Os regimes cambiais buscam atender aos objetivos dos governos. Assim, as autoridades monetárias podem estabelecer os controles desses regimes por meio de barreiras alfandegárias e do próprio câmbio de moedas. Além desses dois tipos de fiscalização, existe um terceiro, baseado na mistura dos dois anteriores, conhecido como misto, ao qual se aplicam as barreiras tarifárias e o controle cambial. As barreiras tarifárias consistem nas diversas formas que o Estado tem de controlar a entrada de mercadorias estrangeiras no país. Nesse caso, é importante observar que não há controle sobre a quantidade de divisas estrangeiras, mas sobre a forma como elas serão empregadas. Para exercer esse tipo de controle, o governo restringe a importação de algumas mercadorias, podendo chegar à proibição total de entrada de determinado produto em território nacional. Também é possível solicitar uma série de licenças prévias para a importação, com a exigência de documentações emitidas por órgãos competentes que, após verificação minuciosa, aprovam ou não a continuidade no processo de importação. No controle exercido por meio do câmbio, realiza‑se o racionamento de divisas. O governo pode definir o quanto se pode adquirir de moeda estrangeira. Entretanto, nesse caso, a destinação das divisas não interessa ao governo. Assim, o controle cambial ocorre por dois meios: o primeiro corresponde ao estabelecimento de quotas para a compra de câmbio, o qual impõe limitações para a compra de moeda estrangeira, de acordo com os objetivos do governo (essa medida foi amplamente utilizada no país durante a década de 1970); o segundo implica a limitação de gastos no exterior, assim, o governo evita 28 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade I que os gastos no exterior sejam elevados, o que afeta diretamente as viagens, pois incentiva o turismo nacional em detrimento do internacional. Observação A licença de importação é um documento eletrônico processado através do Siscomex, utilizado para licenciar as importações de produtos cuja natureza ou tipo de operação está sujeita a controles de órgãos governamentais. Sempre é necessário verificar se a mercadoria a ser importada exige ou não esse documento. Ainda sobre o controle cambial baseado em quotas para compra de divisas, vale ressaltar que o importador de bens de capital pode não ter condições de efetuar o pagamento da mercadoria. Vale lembrar que os bens de capital são aqueles usados na produção, mas que não são consumidos por ela, e nesse conceito estão incluídas máquinas e equipamentos. Existem, também, os sistemas de controle de câmbio, que são adotados de forma separada ou conjuntamente. Esses sistemas são chamados de compensação privada; acordo de compensação; acordo de pagamento; clearing bilateral; clearing multilateral; conta bloqueada; racionamento de divisas e sistema de taxa única e de taxas múltiplas: • Compensação privada: consiste em um acordo no qual duas empresas, uma nacional e outra estrangeira, estabelecem acordo referente às mercadorias transacionadas, suas quantidades e seus valores. Nele, as duas organizações se comprometem a não deixar saldos monetários. Essa operação é denominada back‑to‑back, o que, em uma tradução livre, pode significar “um crédito contra o outro”. • Acordo de compensação: corresponde a um acordo no qual parte‑se do princípio da compensação privada, porém, em vez de ser efetuado entre sociedades, ocorre entre governos. Esse tipo de acordo determina quais mercadorias serão transacionadas e a que preços, sem a existência de saldos em aberto. Destaca‑se, também, a inexistência de uma contrapartida em moeda. • Acordo de pagamento: trata‑se de um acordo no qual alguns países podem passar por certas dificuldades para saldar seus débitos com outra nação. Dessa forma, são criados acordos que facilitam a quitação de tal dívida. Os países podem aplicar parte do que receberiam com as importações para esse pagamento e manterem a relação com seu credor. • Clearings bilaterais: devido ao fato de que alguns países possuem moedas inconversíveis internacionalmente, são firmados contratos entre eles para que possam negociar sem a necessidade de usar uma moeda forte para pagamento. Os países podem, então, conforme acordo estabelecido, definir se usam suas moedas ou as de outro país. Esse numerário é chamado de moeda de convênio. Desse modo, as transações acontecem e os saldos existentes não podem ser aproveitados, pois serão considerados inconversíveis, podendo ser usados 29 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL exclusivamente dentro dos países em questão. Após o vencimento desse acordo, as nações podem ou não renová‑los. Em caso de cancelamento, o pagamento dos saldos remanescentes deve ser realizado em ouro ou em moeda conversível internacionalmente. O esquema a seguir, proposto por Ratti (2011), auxilia a compreensão acerca do funcionamento de um sistema de clearing bilateral: País A E I’ Banco 1Banco central Banco 2 Banco central País B I E’ Figura 5 – Operadores do mercado cambial • Clearing multilateral: diferentemente do clearing bilateral, o multilateral busca agrupar um número maior de países em um mesmo trato. Nessecaso, os países podem transacionar entre eles e definir um organismo centralizador. Esse órgão fará o papel da compensação de todas as contas dos países com moeda inconversível e demais membros participantes. É possível identificar alguns acordos existentes que se assemelham a um clearing multilateral, como é o caso da União Europeia de Pagamentos (UEP) e do Sistema de Créditos Recíprocos da Associação Latino‑americana de Integração. • Contas bloqueadas (blocked accounts): os não residentes de um determinado país podem efetuar depósitos nelas. Devido a problemas de balanço de pagamentos ou a questões políticas entre os dois países, são impostos bloqueios de contas. Algumas vezes esses bloqueios são tão repentinos que os proprietários não têm tempo de reconduzir o dinheiro ao país de origem. Esses fundos, 30 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade I dependendo da decisão do governo, podem ser utilizados para investimentos no país bloqueador ou para liquidação de importações com o país com saldos bloqueados. Observação As chamadas contas bloqueadas não devem ser confundidas com contas congeladas. As congeladas surgem quando os países se tornam rivais, impedindo a movimentação de qualquer forma dos fundos. • Racionamento de divisas: ocorre quando o Banco Central, de posse das divisas adquiridas por meio dos bancos privados ou diretamente com os agentes exportadores, vende‑as divisas aos importadores através de quotas mensais ou semanais ou de leilões. Com o objetivo de manter o racionamento, o órgão regulador central do Estado também pode liberar licenças de importação. • Sistema de taxa única e de taxas múltiplas: o sistema de taxa única determina que exista apenas uma taxa de câmbio para qualquer tipo de operação, comercial ou financeira. Essa taxa pode ser definida pelo governo (fixa) ou flutuar de acordo com a dinâmica do mercado. Já no sistema de taxas múltiplas existem diferentes quotas para diferentes operações, como uma taxa de câmbio para os exportadores e outra para os importadores. Assim como a taxa única, as múltiplas podem ser fixas ou flutuantes, de acordo com o interesse do Estado. No Brasil, já vigorou o sistema de taxas múltiplas nos anos 1950. Esse sistema gerava muitos inconvenientes, pois resultava na existência de cinco diferentes taxas de câmbio. 2.5.4 Sistema de créditos recíprocos Com o objetivo de estimular a cooperação financeira e comercial na América Latina, foi criado, em 1965, o Sistema de Créditos Recíprocos para a Alalc (Associação Latino‑americana de Livre Comércio), que teve seu nome alterado para Associação Latino‑americana de Integração (Aladi). Em tese, a adoção de um sistema de compensação multilateral busca facilitar o alcance do objetivo de integração e cooperação, tanto financeira quanto comercial, entre os países latino‑americanos. O Banco Central de Reserva do Peru é o agente compensador do sistema. Os bancos centrais dos países‑membros devem informar quadrimestralmente as operações que ocorreram. Em contrapartida, o agente compensador informa o saldo de todos os participantes do sistema. Caso algum país esteja com saldo devedor, deverá efetuar o pagamento com o Banco da Reserva Federal em Nova York em favor do agente compensador. Na tentativa de atenuar as oscilações no balanço de pagamentos, os países componentes do acordo exigem que seus importadores negociem sempre com os membros do grupo. Já os exportadores devem negociar fora dele. 31 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL O Brasil possui sistema de crédito recíproco com Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, República Dominicana e Venezuela. Para os bancos privados, é voluntária a entrada ao sistema, porém, para poder participar dele, é necessária autorização do Banco Central. Observação Existem disposições especiais que restringem algumas pessoas, empresas e países acerca do relacionamento e dos negócios internacionais; entre os agentes que sofrem tais restrições estão: membros da Al‑Qaeda, Talibã e outros grupos associados a essas entidades, República Democrática do Congo, Sudão e membros do antigo governo do Iraque. Todos os citados possuem sanções para o trato no comércio exterior. 2.5.5 Controle cambial no Brasil No Brasil, o controle do câmbio é realizado pela autoridade monetária, que monitora e manipula o mercado cambial de acordo com seu momento econômico e político, ou para promover os negócios em um determinado setor que o governo considere estratégico e importante. Assim como fazem outros países, o Brasil se serve de restrições quantitativas e qualitativas. Lembrete As restrições quantitativas estão atreladas à intervenção direta no câmbio, elas são as quotas para compra e venda de câmbio para viajantes. Já as qualitativas correspondem às barreiras alfandegárias, ao licenciamento de importações, à reserva de mercado e ao registro de capitais ingressantes e remetidos. Em termos técnicos de responsabilidade, o controle do câmbio em território nacional é estabelecido por entes do SFN, entre eles: Conselho Monetário Nacional, Banco Central do Brasil, Secretaria da Receita Federal, Banco do Brasil, entre outros. 2.6 Taxa de câmbio Anteriormente discutimos os aspectos do chamado controle cambial e em diversos momentos citamos a taxa de câmbio. Para que uma nação possa exercer a atividade comercial com o exterior, precisa denominar a sua moeda em relação à outra estrangeira, isto é, regular o valor de sua moeda em relação à moeda estrangeira. Acentuamos que, apesar de algumas moedas serem inconversíveis, possuem um preço interno. Estudaremos a seguir como é formada a taxa de câmbio, quais são seus tipos e suas modalidades. 32 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade I 2.6.1 Formatação da taxa de câmbio Segundo Fortuna (2002, p. 313), “taxa de câmbio corresponde ao preço da moeda de um país em relação à outra de outro país”. Por isso, é apropriado compreender que as moedas dos países estrangeiros são, em essência, uma mercadoria como outra qualquer. Uma vez que os produtos ofertados nos mercados estão sujeitos à demanda dos consumidores, em termos econômicos, é possível concluir que as trocas de divisas estrangeiras possuem a mesma dinâmica resultante da interação entre oferta e demanda em termos de preços e quantidades de equilíbrio para esse tipo de mercado. Em termos simples, as escolhas dos ofertantes e demandantes dispõem que quando existe uma grande quantidade de um produto no mercado, o preço dele tende a cair (excesso de oferta) e o efeito contrário é observado quando um produto está escasso, assim, seu preço tende a aumentar (excesso de demanda). As figuras seguintes expressam as diferentes condições de mercado em termos de equilíbrio entre oferta e demanda. Observe, na figura a seguir, que, na condição de equilíbrio de mercado, a quantidade de demanda e de oferta por uma determinada moeda se equivalem, assim como a taxa de câmbio, isto é, o preço daquela moeda estrangeira. Pr eç o Quantidade Preço de equilíbrio ou taxa de câmbio de equilíbrio Quantidade de equilíbrio (oferta e demanda se equivalem) Ofe rta Demanda Figura 6 – Equilíbrio de mercado, no mercado de câmbio Já na figura a seguir vemos que, na condição de excesso de oferta, quantidade de demanda é inferior à quantidade de oferta por uma determinada moeda, portanto a taxa de câmbio, que está acima da taxa de equilíbrio, tende a cair, em direção ao preço de equilíbrio
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