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TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL
AULA 5
Prof. Joni Tadeu Borges
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CONVERSA INICIAL
O mercado de câmbio de exportação e importação movimenta bilhões de dólares todos os
meses. O Bacen divulga mensalmente várias estatísticas sobre o mercado de câmbio em sua
página na internet, entre elas, o ranking de câmbio por instituições financeiras. O relatório
divulgado em janeiro de 2022 apresentou o valor acumulado de US$ 223,6 bilhões, formalizados
em 505 mil contratos de câmbio de exportação nos 12 meses de 2021. Na importação, foram 1,4
milhão de contratos de câmbio para movimentar US$ 205 bilhões. Participaram 164 instituições
financeiras autorizadas pelo Bacen na movimentação dos 428,6 bilhões de dólares.
Esses números são importantes no contexto macroeconômico do país, mas o que dizer da
pequena empresa que fecha US$ 150 mil em 10 contratos de câmbio por ano? Será que ela está
preparada para operar no mercado cambial? Essa empresa realiza as operações cambiais com
segurança, observando as legislações e o custo financeiro? Mesmo as grandes empresas podem,
em algum momento, realizar alguma operação de câmbio que apresente complicações por não
cumprir a legislação ou que traga prejuízos comerciais ou financeiros. Portanto, conhecer a
legislação cambial e as práticas cambais inerentes às operações de câmbio de exportação e
importação são fundamentais para a sustentabilidade da empresa exportadora e importadora.
CONTEXTUALIZANDO
Nesta etapa, vamos conhecer os aspectos cambiais, inicialmente da exportação, em que
veremos como o exportador brasileiro pode receber pela venda de mercadorias ou serviços no
exterior, bem como os prazos para contratação de câmbio e a formalização do contrato de câmbio.
Na importação, os aspectos cambais são semelhantes à exportação, porém, há um controle maior
por parte das instituições financeiras e do Bacen porque saem divisas do país. Nas duas situações,
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cabe à instituição financeira contratante do câmbio observar os princípios básicos do mercado de
câmbio, principalmente a fundamentação econômica e a comprovação documental. Por fim,
trataremos da comissão de agente na exportação e importação e de situações que podem gerar
contratos de câmbio financeiro para transferir o valor da comissão para o agente.
TEMA 1 – ASPECTOS CAMBIAIS NA EXPORTAÇÃO – PARTE I
A regulamentação das operações cambiais decorrentes da exportação de mercadorias ou
serviços estão disciplinadas na Circular n. 3.691 do Banco Central do Brasil (Bacen, 2013) nos
seguintes artigos:
Art. 90. O exportador de mercadorias ou de serviços pode manter, no exterior, a integralidade
dos recursos relativos ao recebimento de suas exportações.
Art. 91. O ingresso, no País, dos valores de exportação pode se dar em moeda nacional ou
estrangeira, independentemente da moeda constante da documentação que ampara a
exportação, prévia ou posteriormente ao embarque da mercadoria ou à prestação dos serviços, e
os contratos de câmbio podem ser celebrados para liquidação pronta ou futura, observada a
regulamentação em vigor.
Antes de entrar propriamente nas operações cambiais de exportação ou operações
conceituadas com cobertura cambial, situação que configura a entrada de pagamentos com
contrapartida da saída de mercadorias do Brasil, vale lembrar que a legislação brasileira permite,
em casos específicos, a saída de mercadorias do país sem a necessidade de entrar o pagamento.
Portanto, não há operação cambial, ou simplesmente denominada operação sem cobertura
cambial. São exemplos de operações sem cobertura cambial:
• exportação temporária (mercadorias enviadas ao exterior para participação de feiras e
exposições ou eventos semelhantes);
• exportação sem expectativa de recebimento (amostra, divulgação comercial);
• exportação para conserto;
• exportação em consignação.
O Bacen autoriza que o exportador brasileiro receba pela venda de mercadorias e serviços
mediante as situações a seguir.
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1.1 MEDIANTE CRÉDITO EM CONTA DE DEPÓSITO EM BANCO NO EXTERIOR
EM NOME DO PRÓPRIO EXPORTADOR
Pessoas físicas ou pessoas jurídicas brasileiras podem abrir e manter uma conta bancária em
qualquer instituição financeira no exterior e utilizá-las para receber até 100% do valor da
exportação. Procedimento comum, principalmente, para as grandes empresas que movimentam
um grande volume de moeda estrangeira.
O objetivo de manter uma conta no exterior é para reduzir o custo financeiro nas operações
cambiais e se proteger da variação da taxa de câmbio, e os recursos nela depositados podem ser
usados em investimentos, pagar as importações ou outros compromissos. Só não podem ser
usadas para emprestar a terceiros. Os valores creditados em contas no exterior devem ser
declarados à Receita Federal anualmente, conforme legislação específica. Caso o exportador
queira trazer as divisas para o Brasil, deverá contratar um câmbio de exportação, no qual venderá a
moeda estrangeira para a instituição financeira no Brasil.
1.2 MEDIANTE CRÉDITO EM CONTA MANTIDA NO EXTERIOR POR
INSTITUIÇÃO AUTORIZADA A OPERAR COM CÂMBIO NO BRASIL
É a maneira mais utilizada nas exportações brasileiras, em que o exportador brasileiro não
precisa ter uma conta no exterior para receber por sua venda. Nesse caso, o exportador tem que
orientar o importador estrangeiro para fazer o pagamento conforme instruções de pagamento,
normalmente informando na fatura comercial ou fatura proforma se for um pagamento
antecipado. Vimos anteriormente que as informações são o código SWIFT e o código IBAN.
Após o importador efetuar o pagamento conforme instruções, o valor será creditado na conta
do banco no exterior em nome do exportador brasileiro. O banco que mantém a conta no exterior
informa o banco de relacionamento do cliente no Brasil que o crédito está disponível. Após, cabe
ao exportador contratar o câmbio, vender a moeda estrangeira ao banco e receber os reais
equivalentes por meio de crédito dos reais em conta corrente aqui no Brasil.
Ainda, em menor escala, o exportador pode receber o pagamento por ordem de pagamento
em reais, oriundos do exterior, em espécie, cheque, cartão de crédito, vale postal conforme
regulamentação vigente. O Bacen proíbe o pagamento de qualquer valor de exportação a terceiros
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no exterior, exceto para pagamento de comissão de agente por ser residente ou domiciliado no
exterior, desde que as condições constem dos documentos comerciais de exportação ou para um
intermediário que conduza a operação de exportação com a empresa brasileira em valores não
superiores a US$ 10.000,00 ou seu equivalente em outras moedas.
TEMA 2 – ASPECTOS CAMBIAIS NA EXPORTAÇÃO – PARTE II
Neste tema, serão comentadas as principais características das operações no mercado de
câmbio relacionadas às exportações de mercadorias e serviços, conforme disposto na Circular
Bacen n. 3.691, Título IV, Capítulo I.
A contratação do câmbio deve ser realizada em nome do exportador, beneficiário do crédito.
Em situações específicas como fusão, cisão, incorporação de empresas, decisão judicial ou outras
previstas na legislação, a contratação de câmbio pode ser em nome de pessoa diferente do
exportador.
O Bacen alterou o prazo entre a contratação e a liquidação do contrato de câmbio de
exportação em razão dos efeitos negativos decorrentes da covid-19. O prazo era de até 750dias,
sendo que a contratação previamente ao embarque da mercadoria ou contratação do serviço era
de 360 dias. A partir de 16 de abril de 2020, o prazo entre a contatação e a liquidação do contrato
de câmbio passou a 1.500 dias (prazo único), não prevendo o prazo para o câmbio antecipado e
sendo considerados a data de embarque, a data de emissão do conhecimento de transporte
internacional. Na sua falta, vale a data da averbação do despacho aduaneiro na Receita Federal.
O exportador brasileiro pode negociar o prazo de pagamento com o importador estrangeiro
para a venda de mercadorias ou prestação de serviços nas seguintes condições.
2.1 PAGAMENTO ANTECIPADO
É quando o importador estrangeiro efetua o pagamento antes do embarque da mercadoria no
Brasil ou da prestação de serviço contratado. O embarque da mercadoria pode ocorrer até 360 dias
após a contratação do câmbio. A negociação comercial entre as partes envolve maior risco para o
importador porque este efetuará o pagamento antes de receber a mercadoria.
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Normalmente, quando ocorre o pagamento antecipado, o importador faz uma pesquisa em
relação à idoneidade e capacidade produtiva do exportador. Na prática, temos o seguinte fluxo:
�. negociação entre as partes;
�. exportador encaminha a fatura proforma para o importador com as condições negociadas,
inclusive informando a provável data de embarque da mercadoria e as instruções de
pagamento;
�. o importador efetua o pagamento para o exportador;
�. o exportador apresenta a fatura proforma e contrata o câmbio com seu banco de
relacionamento, recebendo os reais equivalentes;
�. na data prevista, o exportador embarca a mercadoria para o país do importador;
�. o exportador apresenta os documentos comerciais (conhecimento de embarque e fatura
comercial) ao banco que contratou o câmbio para comprovar o embarque da mercadoria.
Quando o prazo para embarcar a mercadoria for maior que 360 dias da data da contratação de
câmbio, é considerado o recebimento de exportação de longo prazo. O exportador precisa registrar
no Bacen o Registro de Operações Financeiras (ROF) no qual deverá informar as condições da
negociação (identificação do exportador e importador, valor, taxa de juros se houver, prazo
previsto de embarque etc.).
2.2 PAGAMENTO À VISTA
A contratação de câmbio ocorre após o embarque da mercadoria. O exportador embarca a
mercadoria, aguarda o pagamento do importador para contratar o câmbio para depois entregar os
documentos originais (conhecimento de embarque e fatura comercial) ao importador, documentos
necessários para liberar a mercadoria no país de destino. O risco é mediano para o exportador.
2.3 PAGAMENTO A PRAZO
Após o embarque da mercadoria, o exportador envia os documentos comerciais originais para
o importador, que libera a mercadoria no seu país e na data acordada faz o pagamento.
Posteriormente, o exportador contrata o câmbio. Na venda a prazo, existe um maior risco para o
exportador, este deve consultar previamente a situação cadastral e financeira do importador. Os
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prazos comentados anteriormente podem confundir aqueles que não estão envolvidos no dia a dia
das operações cambiais.
O Bacen determina o prazo entre a contratação e a liquidação do contrato de câmbio, 1.500
dias, lembrando que a liquidação do contratado de câmbio ocorre quando há a entrega das duas
moedas negociadas. Já o prazo de negociação entre o exportador brasileiro e o importador
estrangeiro é livre, seja ele anterior ou posterior ao embarque da mercadoria ou prestação de
serviço. Ainda sobre o contrato de câmbio, além da liquidação é permitido fazer alteração,
cancelamento ou baixa, conforme a seguir.
• Liquidação do contrato: quando há entrega das moedas negociadas.
• Alteração do contrato: é possível alterar cláusulas, condições, prazos. Vimos anteriormente
que alguns campos do contrato são inalteráveis.
• Cancelamento do contrato: o cancelamento é um procedimento possível com o consenso das
partes e é formalizado por meio de um novo contrato de câmbio. Por exemplo: para cancelar
um contrato de câmbio de compra, faz-se um novo contrato de câmbio de venda. Se houver
diferença de taxa de câmbio, o cliente deverá pagar.
• Baixa do contrato de câmbio: representa a operação contábil bancária na qual a operação fica
regularizada perante o Bacen. As obrigações do cliente com a instituição financeira
continuam e poderão ser acionadas judicialmente caso não haja acordo entre as partes.
TEMA 3 – ASPECTOS CAMBIAIS NA IMPORTAÇÃO – PARTE I
A importação sem cobertura cambial, situação na qual ingressa produtos no Brasil sem a
contrapartida do pagamento ao exterior, pode ocorrer em situações específicas regulamentadas
pela Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais (Secint). São exemplos de
importação sem cobertura cambial:
• importação temporária;
• doação de máquinas ou mercadorias;
• leasing internacional;
• mercadoria importada com a finalidade de testes;
• mercadorias para demonstrações;
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• importação em moeda nacional.
As importações com cobertura cambial com prazo para pagamento de até 360 dias estão
regulamentadas na Circular Bacen n. 3.691. Entre as principais determinações impostas na
regulamentação, consta que o pagamento da importação pode ser realizado em reais ou em
moeda estrangeira e que nos documentos representativos da operação comercial deve haver a
data prevista para o pagamento da importação.
O contrato de câmbio de importação (contrato de câmbio de venda) pode ser celebrado por
pessoa diferente do importador em situações semelhantes às operações de câmbio de exportação
e o pagamento deve ser para o legítimo credor da dívida, o exportador estrangeiro ou outra pessoa
que represente documentalmente e legalmente o direito de receber pela venda da mercadoria ou
prestação de serviço.
Ao contratar o câmbio, o valor em reais equivalente ao valor da moeda estrangeira deve ser
debitado na conta corrente do importador mantida na instituição financeira. As operações de
importação podem ser classificas quanto ao prazo.
3.1 PAGAMENTO ANTECIPADO
O importador pode contratar o câmbio para efetuar um pagamento antecipado ao exportador
até 360 dias antes do embarque da mercadoria no exterior. Na compra de máquinas ou
equipamentos de longo ciclo, produção ou fabricação sob encomenda no exterior, o prazo da
antecipação do pagamento pode chegar até 1.800 dias respeitando a previsibilidade para a
produção e as condições contratuais entre as partes. Caso não ocorra o embarque da mercadoria
no exterior, o importador deve repatriar as divisas até 30 dias após a data prevista para embarque.
Ou seja, se o exportador não embarcar a mercadoria, tem que devolver o dinheiro pago pelo
importador.
Para a contratação de câmbio de um pagamento antecipado, em regra geral, a instituição
financeira contratante do câmbio solicita do importador a fatura proforma, uma vez que a
mercadoria ainda não foi embarcada. Na fatura proforma devem constar as condições da
negociação comercial (descrição da mercadoria, valor, incoterm, modalidade de pagamento,
instruções para pagamento e a data prevista para embarque). Lembramos que é o exportador
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quem emite a fatura proforma e a envia para o importador.
Outro detalhe importante para contratar um câmbio antecipado de importação é a
manutenção do cadastro atualizadodo importador na instituição financeira em que contrata o
câmbio. Esse procedimento tem a finalidade de evitar possíveis transferências de divisas ao
exterior enquadradas indevidamente como importação (lavagem de dinheiro).
3.2 PAGAMENTO À VISTA
A contratação do câmbio para uma negociação de pagamento à vista deve ocorrer após o
embarque da mercadoria, mas antes do desembaraço aduaneiro na alfândega brasileira. Portanto,
nessa situação, já houve o embarque da mercadoria no exterior. Assim, o importador pode
comprovar a operação comercial na instituição financeira, apresentando o conhecimento de
embarque e fatura comercial (original ou cópia).
3.3 PAGAMENTO A PRAZO
Nessa modalidade, a mercadoria já foi desembaraçada na alfândega. A apresentação da
Declaração Única de Importação (Duimp) é o suficiente para comprovar o embarque da
mercadoria, uma vez que todas as informações comerciais da negociação entre importador e
exportador estão registradas no documento eletrônico.
Tanto para as operações de importação de pagamento antecipado em que o prazo entre a
contratação de câmbio e o embarque seja maior de 360 dias como para pagamento de importação
com prazo superior a 360 dias da data de embarque haverá a necessidade de o importador fazer o
ROF no sistema do Bacen para registrar as seguintes informações:
• CNPJ do importador;
• identificação do credor;
• moeda de transação;
• valor da operação;
• taxa de juros, se houver;
• responsabilidade pelo Imposto de Renda (credor, devedor, ambos ou isento/não se aplica);
• informações complementares, se necessário (campo livre não obrigatório);
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• forma e condições de pagamento.
Como o próprio nome já identifica, o ROF é um registro. Se todas as informações registradas
estiverem de acordo com os parâmetros atribuídos pelo Bacen, o próprio sistema finaliza a
operação gerando um número. Caso tenha alguma incoerência que descaracterize a operação, o
Bacen solicitará ao importador que justifique tal informação. Independentemente do prazo de
pagamento negociado entre importador e exportador, cabe à instituição financeira se certificar de
se a contratação do câmbio atende aos princípios básicos do câmbio e definir quais documentos
devem ser apresentados para a comprovação cambial ou, se for o caso, dispensar a empresa de
apresentar os documentos.
TEMA 4 – ASPECTOS CAMBIAIS NA IMPORTAÇÃO – PARTE II
O importador negocia livremente as condições comerciais com o exportador estrangeiro
definindo várias condições, entre elas, o valor em moeda estrangeira e forma de pagamento. A
negociação, na maioria das vezes, é em moeda estrangeira (dólar, euro, iene, libra etc.). Dessa
maneira, haverá a necessidade de o importador comprar a moeda estrangeira para liquidar a dívida
com o exportador.
A compra deve ser por meio de uma instituição financeira autorizada a operar com câmbio
pelo Bacen e o contrato de câmbio de venda é o instrumento oficial que formaliza a negociação da
moeda estrangeira entre o importador e a instituição financeira. Na data acordada, o importador
deve fazer o pagamento ao exportador, independentemente se a negociação entre eles for na
modalidade antecipada, à vista ou a prazo.
Nessa data, o importador precisa ter os recursos (reais) disponíveis para comprar a moeda
estrangeira e, de preferência, estar com a situação cadastral regular em seu banco de
relacionamento. Vamos a seguir simular o pagamento de importação entre a empresa Comex Ltda
e a China Company.
4.1 SIMULAÇÃO DE PAGAMENTO DE IMPORTAÇÃO
Vamos a seguir imaginar a seguinte situação: em 10 de abril 202X, a empresa Comex Ltda
fechou uma negociação comercial com a empresa China Company nas seguintes condições: 
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• valor total FOB: US$ 100.000,00;
• data prevista para embarque: 30/08/20X2;
• condições de pagamento: 30% a 90 dias antes da data do embarque, 30% à vista, 40% a 120
dias da data do embarque.
Observação: Free on Board (FOB), incoterm que define a condição de embarque da
mercadoria. Neste incoterm, a responsabilidade do exportador é embarcar a mercadoria no navio
no porto de origem. Há outros incoterms equivalentes para os outros modais.
Para cada parcela de pagamento, o banco contratante do câmbio solicitará a documentação
correspondente:
• pagamento antecipado – fatura proforma;
• pagamento à vista – fatura comercial e conhecimento de embarque;
• pagamento a prazo – declaração única de importação (Duimp);
Deverá constar na documentação o domicílio bancário do exportador para que o banco
contratante transfira a moeda estrangeira para o banco do beneficiário. Os procedimentos serão
semelhantes no pagamento das três parcelas e podem ser resumidos no fluxo a seguir.
�. Importador entra em contato com o banco para fechar o câmbio de importação.
�. Importador envia os documentos comprobatórios da operação comercial.
�. Definição do fluxo do débito dos reais na conta do importador e crédito em moeda
estrangeira disponível na conta do exportador no exterior.
�. Em regra geral, é um câmbio pronto, no qual o débito dos reais é na data zero (D-0) e o
crédito da moeda estrangeira no segundo dia útil à contratação do câmbio (D-2).
�. Definido o fluxo das moedas, negocia-se a taxa de câmbio com base no mercado de taxa
interbancária. Caso o fluxo das moedas seja diferente do exposto no item 4, a taxa de câmbio
também será diferente.
�. Para o importador, quanto menor estiver a taxa de câmbio, menos reais gastará para pagar a
importação.
�. Como são três parcelas em datas diferentes, poderá haver a valorização ou desvalorização da
taxa de câmbio. Para o importador é interessante que a taxa de câmbio se valorize.
�. Após a contratação do câmbio, o banco prepara a mensagem SWIFT para solicitar o crédito
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na conta do exportador.
�. O valor em reais será debitado da conta do importador.
��. O valor em moeda estrangeira será debitado da conta do banco correspondente no exterior
do banco brasileiro que contratou o câmbio e transferido para o banco do exportador.
��. Conforme procedimentos da legislação cambial do país do exportador, o exportador recebe o
crédito.
��. O banco contratante do câmbio e importador assinam, manualmente ou digitalmente, o
contrato de câmbio.
A boa operação de câmbio para o importador é aquela fechada com profissionalismo,
amparada na legislação cambial e que não venha a trazer nenhum problema futuro com o Bacen.
Outro ponto importante é cumprir o acordo comercial realizado com o exportador, principalmente
não atrasar o pagamento. Em relação à taxa de câmbio, sempre haverá o risco da variação para
melhor ou pior, porém, há mecanismos de proteção cambial, que serão abordados futuramente.
TEMA 5 – COMISSÃO DE AGENTE DE EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO
Nem sempre o exportador e importador brasileiro negociam diretamente com as empresas no
exterior. As empresas brasileiras podem utilizar o serviço de um representante ou agente para
intermediar a negociação; esse intermediário pode ou não estar domiciliado no Brasil.
Na exportação, a função do agente é representar a empresa brasileira no exterior tendo com
principais objetivos:
• manter os clientes tradicionais;
• buscar novos clientes;
• agenciar o processo logístico;
• negociar em nome da empresa brasileira;
• oferecer suporte técnico e documental;
• orientar a empresa brasileira sobre os aspectos culturais e costumes do outro país;
• acompanhar todo o processo e, inclusive, o pós-venda.
A função do agente é fundamental para a empresa brasileira que não quer se envolvernos
processos operacionais, administrativos ou comerciais da exportação. Além disso, o agente
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conhece a legislação e costumes do país que negociam com o Brasil, fatores que facilitam a
realização do negócio. O agente deve ter todos os pré-requisitos indicados anteriormente e ser um
profissional qualificado para representar a empresa brasileira. Pelo serviço prestado, o agente
cobra uma comissão do exportador (comissão de agente) sobre o valor FOB.
Nas importações brasileiras, o agente é contratado pelo exportador estrangeiro para
representá-lo nas vendas de mercadorias às empresas brasileiras. O pagamento da comissão aos
agentes que representam o exportador nas operações comerciais internacionais é diferente na
exportação e importação brasileira.
5.1 COMISSÃO DE AGENTE NA EXPORTAÇÃO
O percentual máximo da comissão de agente é atribuído por Nomenclatura Comum do
Mercosul (NCM) e está vinculado no Portal Único Siscomex. Havendo a comissão de agente, o
exportador tem que informar na Declaração Única de Exportação (DU-E).
• Capítulos 01-24: até 10%.
• Capítulos 25-83: até 15%.
• Capítulos 84-97: até 20%.
Na exportação, há três modalidades de comissão de agente.
5.1.1 Conta gráfica
Tabela 1 – Exemplo: Conta gráfica
Valor da Fatura Comercial (FOB) US$ 10.000,00
Valor registrado na DU-E US$ 10.000,00
Comissão de agente (G) – 10% US$ 1.000,00
Importador paga ao exportador US$ 10.000,00
Exportador contrata câmbio US$ 9.000,00
Banco contratante do câmbio transfere para o agente no Brasil ou no exterior US$ 1.000,00
Se o agente for domiciliado no Brasil, receberá uma ordem de pagamento de US$ 1.000,00 e
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deverá contratar um câmbio para vender os dólares e receber os reais equivalentes.
5.1.2 A remeter
Tabela 2 – Exemplo: A remeter
Valor da Fatura Comercial (FOB) US$
10.000,00
Valor registrado na DU-E US$
10.000,00
Comissão de agente (R) – 10% US$ 1.000,00
Importador paga ao exportador US$
10.000,00
Exportador contrata câmbio US$
10.000,00
Exportador, na data acordada com o agente, contrata o câmbio para comprar os dólares para pagar o
agente.
US$ 1.000,00
Portanto, nesse exemplo há dois contratos de câmbio. Um para o exportador receber o valor
total da exportação – contrato de câmbio de compra de US$ 10.000,00; e outro para o exportador
pagar o agente – contrato de câmbio de venda de US$ 1.000,00.
5.1.3 Deduzida da fatura
Tabela 3 – Exemplo: Deduzida da fatura
Valor da Exportação US$ 10.000,00
Valor da Fatura Comercial (FOB) US$ 9.000,00
Valor registrado na DU-E US$ 9.000,00
Comissão de agente (F) – 10% US$ 1.000,00
Importador paga ao exportador US$ 9.000,00
Exportador contrata câmbio US$ 9.000,00
Esse tipo de comissão de agente ocorre, normalmente, quando o exportador é o próprio
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agente. Ele deduz a o valor da comissão na fatura comercial.
5.2 COMISSÃO DE AGENTE NA IMPORTAÇÃO
Na importação, são duas modalidades de comissão de agente.
5.2.1 Retida no país
Tabela 4 – Exemplo: retida no país
Valor da Importação US$ 10.000,00
Valor da Fatura Comercial (FOB) US$ 10.000,00
Valor registrado na DUIMP US$ 10.000,00
Comissão de agente – 10% US$ 1.000,00
Importador contrata câmbio US$ 10.000,00
Banco contratante do câmbio transfere para o exportador US$ 9.000,00
Banco contratante do câmbio transfere para o agente US$ 1.000,00
A transferência da comissão é para conta bancária do agente no Brasil. O agente também
deverá contratar um câmbio para vender os dólares e receber os reais equivalentes.
5.2.2 Transferida ao exterior
Tabela 4 – Exemplo: transferida ao exterior
Valor da Fatura Comercial (FOB) US$ 10.000,00
Valor registrado na DUIMP US$ 10.000,00
Comissão de agente – 10% US$ 1.000,00
Importador paga exportador US$ 10.000,00
Importador contrata câmbio US$ 10.000,00
O Exportador no exterior faz o pagamento ao agente. US$ 1.000,00
A responsabilidade de pagar o agente é do exportador.
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A contratação de câmbio de comissão de agente é considerada uma operação de câmbio
financeiro com enquadramento específico estabelecido pelo Bacen. O pagamento de comissão de
agente é formalizado por meio de um contrato de prestação de serviços entre o exportador e o
agente.
Sejam nas operações de exportações ou nas importações brasileiras, as informações sobre a
comissão de agente devem estar declaradas nos documentos comerciais e eletrônicos registrados
no Portal Único Siscomex.
TROCANDO IDEIAS
Durante a fase em curso, vamos consultar as estatísticas divulgadas pelo Bacen e tirar
conclusões sobre o mercado de câmbio de exportação e importação.
Figura 1 – Estatísticas de operações de câmbio
Fonte: Bacen, 2022.
NA PRÁTICA
Vamos considerar que a empresa Comex Ltda. fará no ano de 202X o total de US$ 5 milhões de
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exportação e US$ 4 milhões de importação. Como gerentes responsáveis pelo controle financeiro e
pelas operações de câmbio da empresa, qual seria a nossa estratégia para operar nove milhões de
dólares?
GABARITO (SUGESTÃO DE RESPOSTA)
�. Inicialmente, a empresa Comex Ltda deve ter amplo conhecimento do fluxo de caixa que
trabalhará no ano de 202X.
�. Caso não tenha uma conta no exterior, deverá abrir a conta em um banco confiável que
ofereça os serviços necessários à empresa, como também deve ser observado qual será o
custo para manter a conta corrente e utilização dos serviços.
�. Direcionar US$ 4 milhões para a conta no exterior e utilizá-los para pagar as importações.
Dessa maneira, a empresa faz um hedge natural, desvinculando a variação cambial da sua
carteira de comércio exterior.
�. O valor de um milhão de dólares também poderá direcionar para a conta mantida no exterior.
Quando necessário, ou para aproveitar uma taxa de câmbio favorável, poderá internalizá-lo
por meio da contratação de câmbio.
�. Declarar à Receita Federal os valores mantidos em moeda estrangeira no exterior.
FINALIZANDO
Conseguimos passar por temas que são praticados no dia a dia das empresas exportadoras e
importadoras, como também nas instituições financeiras que intermedeiam a compra e venda de
moeda estrangeira.
Na exportação, o exportador pode manter os recursos em contas de sua titularidade no
exterior ou solicitar que seja depositado em seu nome na conta de um banco no exterior autorizado
pelo Bacen. Na importação, o importador precisa ter os reais disponíveis em conta para comprar a
moeda estrangeira e pagar o exportador no exterior.
Vimos as condições permitidas pelo Bacen em relação aos prazos entre a contratação e a
liquidação de câmbio. As instituições financeiras têm a responsabilidade de proceder à
comprovação documental e outras determinações impostas na regulamentação para a contratação
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de câmbio. Ainda, pode haver operações de câmbio de comissão de agente que estão vinculadas
com as operações comerciais entre o exportador e importador.
Conhecendo as práticas cambiais, a possibilidade de haver problemas na contratação de
câmbio diminui muito. Bom para a empresa!
REFERÊNCIAS
BACEN. Circular n. 3.691, de 16 de dezembro de 2013. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17
dez. 2013. Disponível em: https://normativos.bcb.gov.br/Lists/Normativos/Attachments/48815
/Circ_3691_v26_P.pdf. Acesso em: 13 maio 2022.
ESTATÍSTICAS sobre câmbio. Bacen. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/estatisticas/estatisticascambio. Acesso em: 13 maio 2022.
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