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1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4 2 AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL (A.I.A) ........................................ 5 2.1 Conceito ............................................................................................... 5 2.2 Tipos De Empreendimentos ................................................................. 5 2.3 Etapas e Metas .................................................................................... 6 3 MONITORAMENTO AMBIENTAL .............................................................. 6 3.1 Conceito ............................................................................................... 6 3.2 Aspectos A Considerar ......................................................................... 7 3.3 Etapas Da Auditoria.............................................................................. 9 4 ANÁLISE DE RISCOS AMBIENTAIS.......................................................... 9 4.1 Tipos De Empreendimento ................................................................. 10 4.2 Aspectos a Considerar ....................................................................... 10 5 INSTRUMENTOS DE GERENCIAMENTO AMBIENTAL.......................... 10 5.1 Investigação Do Passivo Ambiental (Due Diligence) .......................... 10 6 SEGURO AMBIENTAL ............................................................................. 12 7 SISTEMA DE GERENCIAMENTO AMBIENTAL - SGA ............................ 13 8 CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL .................................................................. 14 9 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL DE REGIÕES GEOGRÁFICAS DELIMITADAS .......................................................................................................... 15 9.1 Bacias Hidrográficas........................................................................... 15 9.2 Unidades De Conservação Ambiental ................................................ 16 9.3 Áreas Costeiras .................................................................................. 17 9.4 Áreas Metropolitanas.......................................................................... 18 9.5 Considerações A Respeito De Avaliação Ambiental .......................... 19 2 10 AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL (AIA) ..................................... 21 11 ASPECTOS DOS EIA/RIMA .................................................................. 24 12 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS .......................................... 27 13 HISTÓRICO LEGISLATIVO DO AIA. .................................................... 27 14 ARRENDAMENTO E PARCERIA RURAL ............................................ 30 14.1 Direito Agrário No Brasil .................................................................. 30 14.2 A Autonomia Do Direito Agrário ...................................................... 31 15 ESTATUTO DA TERRA ........................................................................ 33 15.1 Função Social Da Propriedade Rural .............................................. 34 16 CONTRATOS TÍPICOS DO DIREITO AGRÁRIO .................................. 37 16.1 Do Arrendamento ............................................................................ 41 17 DA PARCERIA RURAL ......................................................................... 43 18 DIFERENÇAS ESSENCIAIS ENTRE OS CONTRATOS DE ARRENDAMENTO E A PARCERIA .......................................................................... 45 18.1 Do Contrato de Comodato .............................................................. 46 19 LEI Nº 11.443 DE 5 DE JANEIRO 2007 ................................................ 47 20 LOCAÇÕES URBANAS ........................................................................ 50 20.1 Sublocação (art. 14-16) ................................................................... 52 20.2 Aluguel (art. 17-21) ......................................................................... 53 20.3 Deveres do locador (art. 22) ............................................................ 53 20.4 Deveres do locatário (art. 23) .......................................................... 54 20.5 Benfeitorias (art. 35-36) ................................................................... 55 20.6 Garantias (art. 37-42) ...................................................................... 56 20.7 Preferência (art. 27-34) ................................................................... 57 20.8 Penalidades civis e criminais (art. 43-44) ........................................ 58 21 LOCAÇÃO RESIDENCIAL (ART. 46-47) ............................................... 58 21.1 Locação por temporada (art. 48-50) ................................................ 58 3 21.2 Locação não residencial (art. 51-57) ............................................... 59 21.3 Locação comercial .......................................................................... 59 21.4 Ação de despejo (art. 59-66) ........................................................... 60 21.5 Prazo para desocupação na Ação de Despejo ............................... 62 21.6 Ação de consignação de aluguel e acessórios da locação (art. 67) 63 21.7 Ação revisional de aluguel (art. 68/70) ............................................ 63 22 LEI Nº 12.112, DE 9 DE DEZEMBRO DE 2009. ................................... 64 23 OPERAÇÕES BUILT TO SUIT .............................................................. 71 24 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 76 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL (A.I.A) Fonte: greensavers 2.1 Conceito A Avaliação de Impacto Ambiental pode ser definida como uma série de procedimentos legais, institucionais e técnico-científicos, com o objetivo de caracterizar e identificar impactos potenciais na instalação futura de um empreendimento, ou seja, prever a magnitude e a importância desses impactos (Bitar & Ortega, 1998). 2.2 Tipos De Empreendimentos O Instrumento de Avaliação de Impacto Ambiental deve ser elaborado para qualquer empreendimento que possa acarretar danos ou impactos ambientais futuros, sendo executado antes da instalação do empreendimento. Com este enfoque, tem sido utilizado principalmente nos seguintes empreendimentos: minerações, 6 hidrelétricas, rodovias, aterros sanitários, oleodutos, indústrias, estações de tratamento de esgoto e loteamentos (Bitar & Ortega, 1998). 2.3 Etapas e Metas A A.I.A. é um instrumento bastante difundido no Brasil desde 1986, devido as exigências legais de realização do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). São 4 as etapas de um Estudo de Impacto Ambiental (E.I.A), Diagnóstico Ambiental, Análisedos Impactos Ambientais, Medidas Mitigadoras e Elaboração de Programas. Na Avaliação de Impacto Ambiental a caracterização e dimensionamento dos processos físicos são de fundamental importância para subsidiar as decisões em torno das medidas mitigadoras a serem empregadas pelo empreendimento. 3 MONITORAMENTO AMBIENTAL 3.1 Conceito Monitoramento Ambiental consiste na realização de medições e/ou observações específicas, dirigidas a alguns poucos indicadores e parâmetros, com a finalidade de verificar se determinados impactos ambientais estão ocorrendo, podendo ser dimensionada sua magnitude e avaliada a eficiência de eventuais medidas preventivas adotadas (Bitar & Ortega, 1998). Segundo Machado (1995), a elaboração de um registro dos resultados do monitoramento é de fundamental importância para o acompanhamento da situação, tanto para a empresa e para o Poder Público, como também para a realização de auditoria. Objetivos Verificar se determinados impactos ambientais estão ocorrendo; Dimensionar sua magnitude; Avaliar se as medidas mitigadoras de impactos são eficazes; 7 Propor, quando necessário, a adoção de medidas mitigadoras complementares. 3.2 Aspectos a Considerar Segundo Machado (1995), o monitoramento ambiental pode ser realizado pela empresa ou pelo Poder Público, de maneira isolada ou integrada, auxiliando na elaboração de outro instrumento ambiental, como por exemplo a auditoria. Nesses casos, o monitoramento é essencial para a auditoria pois, sem o registro de medições e/ou observações de períodos anteriores, a auditoria fica restrita apenas a uma avaliação da situação presente. Ainda segundo o autor citado, uma empresa que não efetua um monitoramento constante e/ou não registra adequadamente os resultados do monitoramento, não está apta a realizar uma auditoria ambiental completa e adequada. Auditoria Ambiental Exame sistemático, periódico, documentado e objetivo envolvendo análises, ensaios e confirmações de ações práticas realizadas em uma empresa em relação às exigências ambientais legais, normativas e de política interna (Fornasari Filho et al, 1994). A auditoria ambiental pode ser realizada pelo Poder Público ou pela empresa, sendo que a auditoria privada tem sido impulsionada pela "tomada de consciência das vantagens na concorrência, que pode conferir a certas empresas a adoção de medidas testemunhando sua 'consciência ecológica' no plano da estratégia de concorrência, dos novos produtos, das novas tecnologias e dos novos sistemas de gestão" (Boivin, 1992 apud Machado, 1995). Os resultados e as técnicas da auditoria ambiental podem ser utilizados de forma interna e/ou externa ao empreendimento, ou seja, no primeiro caso a auditoria fornece subsídios ao aprimoramento do desempenho ambiental do empreendimento. Já a auditoria externa objetiva a averiguação deste desempenho pelo órgão ambiental; a avaliação de clientes, consumidores e da sociedade; e a obtenção de certificação. No caso de auditoria externa, a mesma precisa ser obrigatoriamente 8 efetuada por auditor que não pertença ao quadro de funcionários do empreendimento (Fornasari Filho et al, 1994). A forma mais antiga de auditoria é a auditoria contábil, que remonta à Antiguidade. Mais recentemente, principalmente a partir de 1950, a auditoria de qualidade tornou-se bastante difundida, sendo regulamentada internacionalmente e incluídas nas normas técnicas da série ISO 9.000 e detalhada na ISO 10.000 (Fornasari Filho et al, 1994). Na década de 1970, as indústrias norte-americanas e europeias, principalmente as químicas, estavam interessadas em conhecer seus desempenhos ambientais. Neste contexto, começou a ser formulada e difundida a denominada auditoria ambiental. Em 1986, a U. S. Environmental Protection Agency (EPA) divulgou sua política de auditoria ambiental (modificado de Fornasari Filho et al, 1994). Fonte: vanzolini.org.br Outros acontecimentos que regulamentam a auditoria ambiental são apresentados a seguir: 1992 A British Standard Institution - BSI divulgou a BS7750, na qual a auditoria ambiental se constitui numa das etapas do Sistema de Gerenciamento Ambiental; 1993 O Conselho da Comunidade Européia (CEE) regulamentou o modelo de gerenciamento e auditoria ambiental (ou eco-auditoria) para todos os empreendimentos; 9 1994 A International Organization for Standardization, baseada na norma da BSI, divulga as minutas das normas da série 14.000, que tratam do Sistema de Gerenciamento e Auditoria Ambientais. No Brasil, algumas legislações estaduais e municipais tornam obrigatória a auditoria ambiental (Fornasari Filho et al, 1994): 1991 Município de Santos (SP) e o Estado do Rio de Janeiro; 1992 Estado de Minas Gerias; 1993 Estado do Espírito Santo. 3.3 Etapas Da Auditoria Pré-auditoria: executadas todas as atividades de preparação; Auditagem Local: identificadas e avaliadas todas as operações que compõem o processo produtivo do empreendimento, podendo envolver desde simples observações de campo até a realização de ensaios laboratoriais; Relatório final: contendo os resultados da auditoria efetuada; Pós-auditoria: recomendações são implementadas pela empresa por meio de um plano de ação. 4 ANÁLISE DE RISCOS AMBIENTAIS A Análise de Riscos Ambientais "corresponde a uma estimativa prévia da probabilidade de ocorrência de um acidente e a avaliação das suas consequências sociais, econômicas e ambientais" (Bitar & Ortega, 1998). Deste modo, esse instrumento trata da identificação de situações de risco em um empreendimento em funcionamento, bem como da caracterização das consequências potencias ao meio ambiente, à comunidade, ao empreendimento e seus funcionários, caso o acidente ocorra. 10 4.1 Tipos De Empreendimento O instrumento de Análise de Riscos Ambientais tem sido empregado principalmente em instalações industriais, barragens, hidrelétricas e disposição de resíduos urbanos e industriais, incluindo barramentos em projetos de retenção de rejeitos de mineração (Bitar & Ortega, 1998). A aplicação desse instrumento tem sido realizada principalmente em instalações químicas e petroquímicas de distritos industriais de grande porte. Como exemplo podemos citar a cidade de Cubatão (SP) que, devido a sua proximidade com as encostas íngremes da Serra do Mar, apresenta risco de ocorrência de escorregamentos (Bitar & Ortega, 1998). Com o processo de concessão de rodovias, esse instrumento também vem sendo largamente utilizado, embora de modo mais dirigido às condições de segurança de tráfego. 4.2 Aspectos a Considerar A Análise de Riscos Ambientais deve necessariamente levar em consideração os possíveis efeitos ambientais de um eventual acidente (Bitar & Ortega, 1998). A partir da identificação dos riscos ambientais e com a implantação de medidas preventivas associadas, o instrumento em questão acaba reduzindo a possibilidade de ocorrência de acidentes ambientais. Deste modo, a Análise de Riscos Ambientais deve fazer parte permanente de programas de gerenciamento ambiental, principalmente nos casos de empresas que operam substâncias com alto poder contaminante e de empresas que se encontrem em áreas onde os processos do meio físico possam acarretar acidentes. 5 INSTRUMENTOS DE GERENCIAMENTO AMBIENTAL 5.1 Investigação Do Passivo Ambiental (Due Diligence) "Conjunto de atividades voltado à identificação e avaliação de todos os problemas ambientais existentes em um empreendimento e que foram gerados no 11 passado". Envolve um conjunto de procedimentos que visa levantar o histórico das práticas adotadas pela empresa nos locais onde ela operou (Bitar & Ortega, 1998). Portanto, o instrumento denominado Passivo Ambiental, internacionalmente conhecido como due diligence, corresponde a um levantamento dos problemas ambientais existentesem uma área ou região e/ou que estejam associados a diferentes instalações de uma empresa. Este instrumento é utilizado para definir em termos econômicos o custo ambiental de uma área ou empresa, devido a degradação efetuada em tempo passados. O objetivo principal é informar previamente a futuros proprietários de um empreendimento os problemas que poderão enfrentar em razão de alguma degradação ambiental causada pelos proprietários atuais, ou seja, definir o custo ambiental que os compradores terão que arcar com a aquisição de uma empresa, empreendimento ou terreno. Exemplo: Processo de privatização de empresas públicas como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em 1991 (Bitar & Ortega, 1998): Passivo Ambiental: Associado à acidez das drenagens, devidas às pilhas de rejeitos ricos em sulfetos, provenientes das minas de carvão de Santa Catarina. No caso de empresas de grande porte a investigação do passivo ambiental está associada a uma análise complexa, que tem de levar em consideração todos os empreendimentos da empresa, que muitas vezes se localizam em estados e municípios diferentes, ou seja, estão submetidos a legislações e procedimentos legais distintos. Processo de Avaliação de Impacto Ambiental do projeto relativo ao Distrito Minerário de Araçariguama (SP) (Bitar & Ortega, 1998): Passivo Ambiental: Relativo à dimensão das áreas desmatadas pelos mineradores de areia, instalados na região há muitos anos. No caso da investigação do passivo ambiental em um município ou região, ocasionado por uma atividade degradante de diversas empresas, que em geral são de médio e pequeno porte, e atuam na área há certo tempo, o estudo deve levar em consideração o conjunto de empreendimentos e o problema ambiental regional 12 acarretado, como também cada empreendimento em particular atua ou atuou na degradação do meio ambiente. Neste contexto, a constituição de uma associação ou cooperativa das empresas degradantes diminui os custos e facilita a aplicação das medidas de recuperação. 6 SEGURO AMBIENTAL Instrumento que visa garantir a reparação de danos (pessoais ou materiais) causados involuntariamente a terceiros, em decorrência de poluição ambiental (Bitar & Ortega, 1998). Ressarcimento das despesas e indenizações, resultantes de responsabilidade civil atribuída pelo judiciário (Bitar & Ortega, 1998). Para a formalização do seguro ambiental, as seguradoras exigem que as empresas interessadas comprovem a existência de um eficiente sistema de controle ambiental, capaz de minimizar os efeitos de acidentes (Bitar & Ortega, 1998). O Seguro Ambiental ainda não é muito difundido no Brasil. Entretanto esta área apresenta grande potencial de crescimento, principalmente devido às exigências legais e às pressões cada vez maiores da comunidade, dos órgãos fiscalizadores e da mídia. Considerando as exigências legais, umas das penas restritivas instituídas no Art. 12, da Lei nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais) é a prestação pecuniária que "consiste no pagamento em dinheiro à vítima ou à entidade pública ou privada com fim social, de importância, fixada pelo juiz, não inferior a um salário mínimo nem superior a trezentos e sessenta salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual reparação civil a que for condenado o infrator". Mesmo possuindo um sistema de controle ambiental bem estabelecido, a empresa está sujeita a problemas que não estavam previstos, pois a resposta do meio ambiente nem sempre é aquela esperada. Neste contexto o seguro ambiental torna-se importante para a cobertura (total ou parcial) de prejuízos decorrentes de eventuais problemas ambientais causados a terceiros. http://www.rc.unesp.br/igce/aplicada/ead/estudos_ambientais/ea25a.html 13 7 SISTEMA DE GERENCIAMENTO AMBIENTAL - SGA Sistema estruturado que integra todas as atividades gerenciais no sentido de se alcançar o desempenho ambiental desejado, com base no atendimento das exigências ambientais, ou seja, envolve a montagem de uma estrutura organizacional, o estabelecimento de responsabilidades, a definição de procedimentos e a alocação de recursos com o objetivo principal de direcionar todas as ações para a contínua melhoria do desempenho ambiental da empresa (Bitar & Ortega, 1998). Também é usado o termo Sistema de Gestão Ambiental referindo ao mesmo conceito de Sistema de Gerenciamento Ambiental - SGA. Segundo Bitar & Ortega (1998), outro instrumento de gestão ambiental bastante difundido atualmente é o Sistema de Gestão Ambiental de Regiões Geográficas Delimitadas, ou seja, gestão ambiental de bacias hidrográficas, unidades de conservação ambiental, áreas costeiras, metrópoles, entre outras. O SGA engloba a estrutura organizacional, responsabilidades, procedimentos, processos e recursos necessários para o gerenciamento ambiental. Envolvimento das partes interessadas (funcionários, acionistas, seguradoras, clientes, consumidores, ambientalistas e público em geral); Preparação e manutenção de manual de gerenciamento ambiental; A auditoria do sistema é imprescindível. O Sistema de Gerenciamento ou Gestão Ambiental segue o modelo da normatização técnica inglesa (BS7750), a qual serviu de referência para a elaboração das normas apresentadas pela Internacional Organization for Standardization, que no Brasil foi editada pela ABNT e denominada de ISO Série 14000. A referida norma apresenta os procedimentos para a implantação de um Sistema de Gerenciamento Ambiental e para a obtenção da Certificação Ambiental, ou seja, o Sistema de Gerenciamento é o meio para uma empresa conseguir o reconhecimento de sua qualidade ambiental (Bitar & Ortega, 1998). De acordo com a BS 7750 e a ISO 14000 é fundamental a implementação e manutenção de Sistema de Gerenciamento Ambiental seguindo os objetivos e metas que o empreendimento quer alcançar (Fornasari Filho et al, 1994). Portanto, o gerenciamento ambiental consiste em estabelecer normas e parâmetros que devem ser seguidos pela empresa, que garantam um desempenho 14 ambiental adequado, em conformidade com a legislação ambiental vigente, das diversas etapas da atividade desenvolvida pelo empreendimento, envolvendo toda as partes interessadas no processo, desde os funcionários até a comunidade. 8 CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL A Certificação Ambiental é concedida a empresas que, nos processos de geração de seus produtos, respeitam os dispositivos legais referentes às questões ambientais e apresentam determinados procedimentos exigidos pelo órgão certificador. A Certificação Ambiental pode ser concedida tanto para empresas que geram produtos (indústrias em geral), como para prestadoras de serviços (consultorias, comércio, etc). A análise do processo produtivo deve envolver desde a obtenção de matéria prima, o descarte de resíduos, a qualidade ambiental do produto gerado, reciclagem, biodegrabilidade, etc. A Certificação Ambiental surgiu pela necessidade de diferenciar os produtos que apresentavam um desempenho ambiental adequado, considerando sua utilização pelo consumidor e todos os demais aspectos citados anteriormente. Com o tempo, o processo de produção, desde a matéria-prima até a disposição de resíduos, começou a ser o principal fator para a obtenção da certificação Ambiental (Bitar & Ortega, 1998). Portanto, atualmente o objetivo principal a ser alcançado por empresas que pretendem conseguir a Certificação Ambiental é com a qualidade ambiental de todo seu processo de produção, considerando todas as etapas de produção, transporte e comercialização. Um Sistema de Gerenciamento Ambiental efetivo constitui-se em um dos principais critérios de certificação (Fornasari Filho et al, 1994). A Auditoria é o instrumento de comprovação de conformidade com as exigências ambientais (Fornasari Filho et al, 1994). 15 9 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTALDE REGIÕES GEOGRÁFICAS DELIMITADAS Os Instrumentos de Gestão Ambiental de Regiões Geográficas Delimitadas é um segundo grupo de Instrumentos de Gestão Ambiental, que trata na maioria dos casos de áreas de grande extensão territorial e que apresentam importância tanto no que diz respeito à conservação do meio ambiente, como também a manutenção da qualidade de vida do ser humano. Atualmente no Brasil, as regiões geográficas onde o Sistema de Gestão Ambiental está sendo aplicado com maior ênfase são: Bacias Hidrográficas, Unidades de Conservação Ambiental, Áreas Costeiras e Áreas Metropolitanas. O Sistema de Gestão Ambiental de Regiões Geográficas Delimitadas apresenta uma complexidade muito grande por trabalhar com um enorme número de variáveis, ou seja, aborda questões nas áreas sociais, econômicas, ambientais e políticas, envolvendo a comunidade, empresas e poder público, das mais diferentes formas. Portanto, vamos tratar aqui somente dos aspectos básicos do Sistema de Gestão Ambiental das regiões geográficas citadas. 9.1 Bacias Hidrográficas A crescente preocupação com a qualidade dos recursos hídricos, devida à intensa deterioração causada pelo lançamento constante de efluentes poluidores e o perigo de escassez de água, tem promovido uma mobilização do poder público, de empresas e da comunidade, no intuito de criarem entidades para o gerenciamento ambiental de uma ou mais bacias hidrográficas. Neste contexto, tem sido formada agências, comitês, comissões, consórcios e outros tipos de organizações para promoverem a melhoria da qualidade dos recursos hídricos de uma região ou bacia. O Gerenciamento Ambiental de Bacias Hidrográficas envolve em geral as seguintes atividades (Bitar & Ortega, 1998): Identificação dos diferentes usos de recursos hídricos; Identificação das atividades que contribuem para a degradação da qualidade das águas; 16 Identificação e avaliação de degradações instaladas; Formulação e implementação de programas especiais de controle e de recuperação dos cursos e corpos d´água degradados; Avaliação e atualização periódica dos programas executados. Um bom exemplo são os consórcios intermunicipais do Estado de São Paulo, sendo um dos mais bem-sucedidos o Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba e Capivari, criado em 1989. As atividades realizadas por esses consórcios abrangem a recomposição das matas ciliares que compõem as referidas bacias e a elaboração e execução e projetos de tratamento de esgoto e de resíduos urbanos e industriais, barragens de regularização de vazão, entre outros, bem como o planejamento integrado para abastecimento público de água (Bitar & Ortega, 1998). 9.2 Unidades De Conservação Ambiental As Unidades de Conservação Ambiental são definidas, segundo Bitar & Ortega (1998), "como áreas definidas pelo Poder Público (federal, estadual ou municipal) com o objetivo de proteção, preservação, conservação ou controle ambiental de territórios que abrigam porções remanescentes de ecossistemas primitivos e cujos recursos naturais despertam algum tipo de interesse de uso ou aproveitamento econômico". Existem vários tipos de Unidades de Conservação Ambiental, por exemplo: Estação Ecológica, Área de Proteção Ambiental (APA), Parque Ecológico, Parque Nacional ou Estadual, Floresta Nacional ou Estadual, Área Natural Tombada, Monumento Natural, Reserva Ecológica, Reserva Indígena, entre outras. Cada um dos tipos de unidade de conservação apresenta critérios específicos para a implantação de atividades econômicas, ou seja, cada uma deve ter um Sistema de Gestão Ambiental próprio (Bitar & Ortega, 1998). Os instrumentos mais utilizados em unidades de conservação são o Plano de Manejo e o Zoneamento Ambiental, sendo que esses instrumentos apresentam um conteúdo e uma abordagem para cada tipo de unidade. 17 9.3 Áreas Costeiras A Constituição Federal, no Artigo 225, parágrafo 4º, estabelece que a Zona Costeira é um "patrimônio nacional e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais" (Machado, 1995). A Lei 7.661/88, Artigo 2º, parágrafo único, considera Zona Costeira "o espaço geográfico de interação do ar, mar e da terra, incluindo seus recursos renováveis ou não, abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre, que serão definidas pelo Plano” (Machado, 1995) - obs: o autor citado refere-se ao Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro. O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (aprovado pela Resolução 01 de 21/11/90, da Comissão Interministerial para Recursos do Mar), tem por objetivo principal "orientar a utilização racional dos recursos na zona costeira, de forma a contribuir para elevar a qualidade de vida de sua população e a proteção do seu patrimônio natural, histórico, étnico e cultural" (Machado, 1995). Os artigos 3 e 5 da Lei 7.661/88, definem que o referido plano deve conter o zoneamento de usos e atividades na zona costeira, devendo contemplar os seguintes aspectos: urbanização, ocupação e uso do solo, subsolo e das águas; parcelamento e remembramento do solo; sistema viário e de transportes; sistema de produção, transmissão e distribuição de energia; habitação e saneamento básico; turismo, recreação e lazer, patrimônio natural, histórico, étnico, cultural e paisagístico (Machado, 1995). O principal instrumento de Gerenciamento Ambiental Costeiro é o Zoneamento Ambiental, sendo as áreas costeiras divididas em grandes compartimentos, conforme suas potencialidades naturais e perspectivas de uso, tanto das porções continentais como das marítimas (Bitar & Ortega, 1998). Como exemplo podemos citar o Plano de Gerenciamento Costeiro do Estado de São Paulo, que contempla um "zoneamento ecológico-econômico, um sistema de informações, planos de ação e gestão, controle e monitoramento". O Litoral Norte Paulista apresenta um zoneamento ecológico-econômico, também denominado de macrozoneamento, na escala 1:50.000, no qual são definidas 5 diferentes zonas de acordo com suas características e objetivos, que são mostrados na tabela a seguir (Bitar & Ortega, 1998). 18 ZONA CARACTERÍSTICAS E OBJETIVOS 1 "Manutenção da integridade e da biodiversidade da Mata Atlântica e dos ecossistemas marinhos" 2 "Manutenção funcional dos ecossistemas e proteção aos recursos hídricos para abastecimento e para a produtividade primária, a recuperação natural e preservação do patrimônio paisagístico" 3 "Manutenção das principais funções do ecossistema e a recuperação induzida para controle da erosão" 4 "Recuperação das principais funções do ecossistema, a conservação e/ou recuperação do patrimônio paisagístico" 5 "Saneamento ambiental e recuperação da qualidade de vida urbana com reintrodução de componentes ambientais compatíveis" Portanto, como vimos, o Sistema de Gestão Ambiental de Áreas Costeiras apresenta como seu principal instrumento o Zoneamento Ambiental. O zoneamento limitará áreas de acordo com os recursos naturais existentes e o uso mais adequado a que se destina, definindo medidas e atividades que devem ser desenvolvidas, para a melhor forma de interação entre o recurso natural e o uso humano. 9.4 Áreas Metropolitanas Com a acelerada expansão urbana e o processo de conurbação e a consequente formação de áreas metropolitanas, os problemas ambientais começaram a se tornar críticos para manutenção de uma qualidade ambiental mínima. Problemas como poluição do ar, disponibilidade de água, locais para disposição de resíduos, dentre outros, associados aos problemas decorrentes a indução de processo do meio físico, como escorregamentos, enchentes, contaminação de mananciais, tem incrementado cada vez mais uma deterioração da qualidade ambiental nas metrópoles (Bitar & Ortega, 1998). No âmbito do sistema de gerenciamentoexistem diversos tipos de instrumentos, tais como os planos de defesa civil e os zoneamentos que compõem os planos diretores municipais e metropolitanos, que apresentam como objetivo principal o equacionamento dos problemas ambientais (Bitar & Ortega, 1998). 19 Nesse contexto, o Gerenciamento Ambiental de Áreas Metropolitanas deveria ser uma das prioridades do Poder Público e da Comunidade, porém a falta de continuidade das políticas públicas e as ações pontuais tornam os sistemas de gerenciamento inoperantes, perdendo sua principal característica que é a continuidade das ações. 9.5 Considerações A Respeito De Avaliação Ambiental A avaliação dos impactos ambientais causados por empreendimentos, processos e produtos vem sendo estudada de maneira que na economia se possa internalizar os custos ocorridos com os impactos e uso dos recursos naturais. Ë grande o interesse mundial pela conservação, manutenção e recuperação dos recursos naturais, visando uma melhoria da qualidade de vida e do bem-estar social. A problemática da avaliação dos impactos ambientais passa por dois fatores de suma importância: a análise do problema e sua mensuração (valoração e custos incorridos). Assim, os critérios de avaliação ambiental passam pela determinação de critérios qualitativos e quantitativos. A questão da internalização econômica do uso dos recursos naturais, vem levantando o interesse de estudiosos e pesquisadores desde o início do século. Embora esta preocupação tenha ocorrido inicialmente em virtude do grande crescimento populacional e desenvolvimento industrial, visando suprir a vontade do homem em satisfazer suas necessidades, hoje seu caráter encontra-se atrelado à sustentabilidade. Ao mesmo tempo, há uma preocupação também com os suprimentos e direitos das gerações futuras, quanto ao meio ambiente. Assim, a área de gestão ambiental muito necessita, ou melhor, possui um campo vasto para pesquisa e trabalhos direcionados ao estudo dos custos atrelados ao processo e/ou produtos que fazem uso dos recursos naturais. Então o problema na área da avaliação dos impactos ambientais consiste em como internalizar e avaliar os custos do produto através do processo produtivo ou do projeto do produto, tendo em vista a utilização dos bens retirados do ambiente e dos gastos com tratamentos de efluentes, lançados ao meio ambiente. 20 Embora a avaliação das perdas e prejuízos ambientais para a área social venha sendo analisada na sua amplitude por diferentes áreas de estudo (ecologia, economia, etc.), tem-se observado que ainda são poucos os estudos científicos para a diversificação da questão. Desta maneira, o foco principal dos estudos de avaliação dos impactos ambientais passa a ser sua quantificação e a determinação do valor agregado, iniciando no projeto do produto, passando por sua fabricação (processo produtivo) até seu descarte final. Assim, conhecer e identificar quais são as variáveis que interferem no valor agregado do produto ou processo produtivo e como trabalhá-las, considerando-se a gestão ambiental, constitui-se o núcleo do trabalho de pesquisa para o tratamento dos custos e sua internalização. Desta forma, o estudo e aplicação de metodologias, técnicas, e métodos para identificar e avaliar os custos dentro da gestão ambiental passa a ser motivo de competitividade e fator de estratégia global da empresa que deseja vencer as barreiras de mercado e permanecer lucrativa. Considerando que a sobrevivência é hoje uma meta a que estão submetidas todas empresas, e que para tal, devam ser competitivas dentro dos seus setores de atuação, os custos decorrentes da variável ambiental passam a ser consideradas como uma das estratégias competitivas dentro da nova visão do mercado transnacional. Portanto, as questões relacionadas às perdas, ao uso indiscriminado dos recursos naturais e lançamentos de efluentes ao meio ambiente têm conduzido vários estudiosos a questionarem os custos das atividades e processos produtivos na busca de soluções para este problema. Este fato exige que seja conhecida a parcela dos custos ambientais que farão parte do cálculo dos custos do produto e quanto a sociedade encontra-se disposta a pagar pelo acréscimo no preço final do produto. A internalização dos custos com o uso dos recursos naturais e do tratamento de efluentes (sólidos, líquidos e gasosos) derivados do processo produtivo e do uso de produtos pode vir a se constituir em uma estratégia de conservação ambiental e melhoria da qualidade de vida. Apesar disso, há a necessidade de estudos teóricos e práticos desta questão, de forma mais aprofundada e nos mais variados setores produtivos (metal-mecânico, papel e celulose, etc.). 21 A importância dada aos processos e produtos com qualidade, também conduz as empresas a trabalharem o valor agregado e os custos ambientais como estratégias competitivas. Observa-se na literatura especializada, um aprimoramento nos modelos e metodologias de avaliação, decorrentes das exigências de mercado. Este aprimoramento tem sido estimulado principalmente pela globalização da economia e pela competitividade internacionalizada. Porém, ainda são escassas as informações estatísticas sistematizadas sobre os custos dos impactos ambientais no processo produtivo, pois elas provêm, em geral, de períodos recentes e encontradas somente em determinados setores industriais. Assim, atualmente as organizações têm no Gerenciamento Ambiental uma maneira para avaliar o seu desempenho quanto as perdas e o consumo de recursos naturais. Desta forma, os impactos ambientais tendem a ser minimizados, permitindo um gerenciamento dos custos, para que se tenha um custo ambiental mais baixo. 10 AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL (AIA) Fonte: https://i.ytimg.com A Avaliação de Impacto Ambiental tem sido utilizada há algum tempo como mecanismo para licenciamento para projetos com processos e/ou produtos que 22 venham a agredir o meio ambiente, tornando-se assim um instrumento da política nacional de meio ambiente, tanto para países industrializados quanto para os países em desenvolvimento. A Avaliação de Impacto Ambiental permite aos dirigentes da organização e comunidades uma visão ampla de todas as agressões que o empreendimento possa causar ao meio ambiente, ao ambiente de trabalho e à sua vizinhança, fazendo com que as decisões por alternativas estejam concentradas em conjunto, de maneira que as ações sejam orientadas pela meta da empresa e de seu Gerenciamento Ambiental. A Avaliação de Impacto Ambiental é estabelecida a partir dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA). Estes estudos são constituídos de um conjunto de atividades técnicas e científicas que incluem o diagnóstico ambiental com a característica de identificar, prevenir, medir e interpretar, quando possível, os impactos ambientais. Consequentemente é gerado o RIMA (Relatório de Impactos Ambientais) - documento que esclarece e sintetiza as conclusões dos EIA. Deste modo, o RIMA torna-se um instrumento importante para a política ambiental em geral, visando avaliar desde a proposta do empreendimento até o exame sistemático dos impactos ambientais de uma determinada ação. A AIA não é um instrumento de decisão, mas sim de subsídio ao processo de tomada de decisão. Seu propósito é de obter informações através do exame sistemático das atividades do projeto. Isto permite que se possa maximizar os benefícios, considerando os fatores saúde, bem-estar humano e meio ambiente como elementos dinâmicos no estudo para avaliação. A Avaliação de Impacto Ambiental pode ser considerada como uma componente integrada no desenvolvimento de projeto e como parte do processo de decisão, proporcionando uma retroalimentação contínua entre as conclusões e a concepção da proposta. Os problemas, conflitos e as agressões ao meio ambiente devem ser verificadossobre os seguintes pontos: danos à população, a empreendimentos vizinhos e ao meio físico e biológico, de maneira que se garanta o tratamento dos efluentes em seu estágio preliminar de planejamento do projeto. O objetivo da AIA enquanto instrumento de política ambiental como sendo o de tornar viável o desenvolvimento em harmonia com o uso dos recursos naturais e econômicos. Portanto, poderia ser encarada como ciência e arte que reflete as 23 preocupações com os aspectos técnicos que fornecem subsídios à tomada de decisão, considerando as vantagens e desvantagens de uma proposta em sua dimensão econômica, social e ecológica. Os métodos utilizados em uma AIA envolvem, além da inter e multidisciplinariedade exigida pelo tema, as questões de subjetividade, os parâmetros que permitam quantificação e os itens qualitativos e quantitativos. Desta forma, torna- se possível observar a magnitude de importância destes parâmetros e a probabilidade de os impactos ocorrerem, a fim de se obter dados que aproximem o estudo de uma conclusão mais realística. A AIA surgiu no Brasil por exigência de órgãos financiadores internacionais, sendo posteriormente incorporada como instrumento da política nacional do meio ambiente no início da década de 80. A legislação brasileira para AIA tem sua base na legislação dos Estados Unidos da América, que foi o primeiro país a exigir uma AIA para projetos, programas e atividades do governo, isto já no final dos anos de 1960, como instrumento de planejamento para prevenir impactos ao meio ambiente. A aplicação prática da legislação da AIA no Brasil encontra-se voltada para o licenciamento de projetos, da mesma forma que a abordagem francesa, a qual surgiu nos meados da década de 1970. Portanto, a legislação brasileira vincula a utilização da AIA aos sistemas de licenciamento de órgãos estaduais de controle ambiental para atividades poluidoras ou mitigadoras do meio ambiente, em três versões a serem requeridas pelos responsáveis dos empreendimentos, a saber: Licença Prévia (LP) - é utilizada na fase preliminar do projeto, contendo requisitos básicos para localização, instalação e operação, observando- se os planos municipais, estaduais e federais de uso do solo; Licença Instalação (LI) - autoriza o início da implantação, de acordo com as especificações constantes no projeto executivo aprovado; Licença de Operação (LO) - autoriza, após verificação, o início das atividades licenciadas e o funcionamento de seus equipamentos de controle de poluição. Nos EIA (Estudos de Impacto Ambiental) e RIMAs (Relatório de Impacto Ambiental), que dão origem à Avaliação de Impacto Ambiental para os licenciamentos exigidos por lei, três setores são estudados e enfocados por equipes 24 multidisciplinares, objetivando obter o cenário daquele momento, a fim de que se possa construir um programa que controle o uso múltiplo dos recursos naturais envolvidos. São eles: Meio Físico - estuda a climatologia, a qualidade do ar, o ruído, a geologia, a geomorfologia, os recursos hídricos (hidrologia, hidrologia superficial, oceanografia física, qualidade das águas, uso da água), e o solo; Meio Biológico - estuda o ecossistema terrestre, o ecossistema aquático e o ecossistema de transição; Meio Antrópico - estuda a dinâmica populacional, uso e ocupação do solo, nível de vida, estrutura produtiva e de serviço e organização social. Assim, a metodologia de AIA utiliza para uma proposta métodos e técnicas estruturadas para coletar, analisar, comparar e organizar informações e dados sobre impactos ambientais nestes três setores citados. Deve-se incluir os meios de comunicação para apresentação por escrito e visual dessas informações, conforme a disciplina envolvida no processo de avaliação. 11 ASPECTOS DOS EIA/RIMA Representam conjuntos de atividades de caracterização, análise, avaliação e planificação, destinadas a estabelecer a viabilidade ambiental da implantação, operação e manutenção de um projeto de empreendimento em uma dada região. Os estudos de impacto ambiental, denominados pelo apelido de EIA, identificam e caracterizam os impactos ambientais (ou efeitos ambientais), benéficos e adversos, ocorrentes e passíveis de ocorrência na região que receberá o empreendimento. Os impactos ambientais podem ser de natureza física, biológica e antrópica. Impactos físicos são efeitos ambientais causados sobre o Ar a Água e o Solo. Por esse motivo, são normais e necessárias análises e avaliações da região do empreendimento de ordem climática, meteorológica, geomorfológica, geológica, pedológica, espeleológica, hidrológica e oceanográfica, assim como sobre a qualidade da água dos corpos hídricos afetáveis, do ar e do solo. Impactos biológicos, por sua vez, são efeitos ambientais causados sobre a Flora e a Fauna. Assim sendo, são 25 realizadas análises e avaliações da região do empreendimento segundo as ordens limnológica, vegetacional, florística, botânica e faunística. Apenas no segmento relativo à fauna, os EIA podem envolver diversos subsegmentos, tais como mastofauna, avifauna, ictiofauna, herpetofauna, entomofauna, malacofauna e aracnofauna, dentre outros. Por fim, tem-se os impactos antrópicos, também denominados por impactos socioeconômicos e culturais. O fator ambiental afetado é o Ser humano e as análises e avaliações são realizadas através de todas as suas manifestações demográficas, sociais, econômicas, antropológicas, arqueológicas, infraestruturas, culturais e legais, dentre outras. Observa-se assim que um EIA pode demandar grandes equipes, em decorrência da variada gama de especialidades nele envolvidas. Os EIA são estruturados em capítulos, os quais, em síntese, devem conter: Caracterização do projeto do empreendimento, contendo suas justificativas, suas alternativas locacionais e tecnológicas, sua conformidade legal e sua conformidade com planos, programas e projetos localizados na mesma região, previstos e existentes; Determinação e caracterização da área de influência do empreendimento; Diagnósticos ambientais dos meios físico, biológico e antrópico; Prognósticos ambientais relativos ao comportamento dos meios físico, biológico e antrópico, face a presença do empreendimento; Avaliação dos impactos ambientais prognosticados; Planificação de programas, projetos, ações, medidas e recomendações institucionais capazes de realizar a viabilidade ambiental do projeto do empreendimento. Os EIA, de acordo com a legislação brasileira vigente, devem ser apresentados, através de audiência pública, às comunidades da região prevista para receber o empreendimento. Essa audiência, de caráter informativo, precede a aprovação dos órgãos ambientais públicos. No Brasil tem-se um Sistema Nacional do Meio Ambiente, denominado por SISNAMA. Ele é composto por órgãos e instituições de nível federal, estadual e municipal, aos quais cabem a realização da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 26 Federal No 6.938, de 31/08/81, Lei Federal No 7.804, de 31/08/81 e Decreto Federal No 99.274, de 31/08/81). Projetos de empreendimentos, em geral, com base na lei, são obrigados a cumprir um processo de licenciamento ambiental, de forma a obterem as licenças específicas para cada uma de suas fases, que vão desde o projeto executivo, passando pelas obras, e seguindo durante a sua etapa de operação. Cabem aos órgãos ambientais, através da avaliação dos EIA e de outros estudos eventualmente solicitados, emitir e renovar essas licenças. Os EIA, em âmbito federal, são regidos por diversas resoluções do CONAMA: Resolução CONAMA nº 001, de 23 de janeiro de 1986. Vincula o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente à elaboração de EIA - Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Rima - Relatório de Impacto Ambiental, a serem submetidos à aprovação do órgãocompetente. Resolução CONAMA nº 006, de 24 de janeiro de 1986. Regulamenta a publicação dos pedidos de renovações e concessões de licenças ambientais no jornal oficial do estado, e em um periódico de grande circulação regional ou local. Resolução CONAMA nº 009, de 3 de dezembro de 1987. Regulamenta, à nível federal, a realização de audiência pública referida no 2o parágrafo do Art. 11 da Resolução CONAMA 001/86. Decreto Federal nº 99.274, de 6 de junho de 1990. Regulamenta a Política Nacional do Meio Ambiente, e estabelece que a construção, instalação, ampliação e funcionamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras dependerão de prévio licenciamento do órgão estadual competente, integrante do SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente. Resolução CONAMA nº 11, de 04 de maio de 1994. Dispõe sobre a avaliação e/ou a revisão do Sistema de Licenciamento Ambiental. Resolução CONAMA nº 237, de 19 de dezembro de 1997. Dispõe, à nível federal, novos procedimentos para o licenciamento ambiental. 27 12 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS A implantação de qualquer atividade ou obra efetiva ou potencialmente degradadora deve submeter-se a uma análise e controle prévio, necessários para se antever os riscos e eventuais impactos ambientais a serem prevenidos, corrigidos, mitigados e/ou compensados quando da sua instalação, bem como as emissões de poluentes e de efluentes a serem monitorados na fase de operação. Com a AIA, analise-se a viabilidade ambiental de um projeto, programa ou plano. Tem por objetivo a degradação = alteração adversa das características do meio ambiente. 13 HISTÓRICO LEGISLATIVO DO AIA. Lei 6.938/81 Decreto regulamentador –Decreto 88.351, 1º de junho 1983 Decreto 99.274 de 6 de junho de 1990 Resolução CONAMA 001 de 23 de janeiro de 1986. Artigo 2º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental – RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA em caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como:” Como modalidade de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) o EIA é considerado hoje um dos mais notáveis instrumentos de compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente. “EIA é o todo: complexo, detalhado, muitas vezes com linguagem, dados e apresentação incompreensíveis para o leigo. O RIMA é a parte mais visível (ou compreensível) do procedimento, verdadeiro instrumento de comunicação do EIA ao administrador e ao público”. Ex: TUCURUÍ – USD$ 10 Bi, inundou + de 2.000km2 de florestas. Prejudicou índios e populações locais para produzir energia elétrica fornecida a preço subsidiado a empresas transnacionais que industrializam alumínio. Produzem aqui exatamente porque não querem 28 esse tipo de atividade nos países de origem, pelo alto custo financeiro e ambiental. Para a lei brasileira, impacto ambiental qualquer atividade que afete: a) A saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) As atividades sociais e econômicas; c) A biota; d) As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e) A qualidade dos recursos ambientais. EIA, como sendo um procedimento administrativo de prevenção e de monitoramento dos danos ambientais. É um estudo das prováveis modificações nas diversas características socioeconômicas e biofísicas do meio ambiente que podem resultar de um projeto proposto. Pressuposto do EIA = significativa degradação Resolução CONAMA 001/86 é de cunho exemplificativo. (É o que se deduz da expressão: “tais como”) É o caso dos incineradores de lixo doméstico ou industrial, não citados pela Resolução, apesar de seu grande potencial poluidor, com emissão de dioxinas, metais pesados e organoclorados de maneira geral. 2 situações, portanto: Presunção absoluta de necessidade do EIA. a) Rol de atividades onde a significância é presumida, vinculando o administrador que, preso a lei, não pode transigir. b) Engloba os casos rebeldes à lei, cuja apreciação específica para exigir ou dispensar o EIA, fica entregue ao poder discricionário do administrador do órgão de gestão ambiental. Momento da preparação do EIA Dado ao caráter preventivo é claro que deve ser elaborado antes da decisão administrativa de outorga da licença. A CF dá o nome de estudo prévio de impacto ambiental. 29 É um elemento integrante do processo de licenciamento, mas não pode ser visto como documento burocrático apenas. Seu objetivo é influir no mérito da decisão administrativa. De concessão da licença. Características do EIA Multidisciplinar Publicidade Participação pública Custeio Proponente do projeto, diz a lei. Mecanismos de controle a) Comunitário (ex: audiência pública, denúncias à imprensa, a agências financiadoras, pressão política, manifestações, etc). b) Realização de contra estudo de impacto elaborado por pessoas sem vinculação com o proponente do projeto. c) Controle Administrativo: exercido pela agência ambiental através do estabelecimento de diretrizes ou termos de referência específicos para o empreendimento. d) Controle Judicial: Ação civil pública, ação popular constitucional. Tanto para os vícios materiais (conteúdo inadequado) como os formais (não realização de audiência pública), permitem a impugnação judicial. 30 14 ARRENDAMENTO E PARCERIA RURAL Fonte: static.wixstatic.com 14.1 Direito Agrário No Brasil Apesar de uma parcela considerável do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro ser fruto do Agronegócio e o Brasil, consequentemente, ser um dos maiores exportadores de Commodities Agrícolas, pouco se estuda o Direito Agrário em si, bem como mal se reconhece a sua autonomia diante das outras esferas do Direito, dentre elas o Direito Civil. O Brasil é um país agrário por excelência, beneficiado por suas terras férteis e sua grande extensão, e apesar de atualmente enfrentar grandes entreves na comercialização dos grãos devido à falta de infraestrutura das rodovias e precariedade dos portos, o país ainda consegue se destacar no mercado futuro e ser altamente competitivo em comparação com países como os EUA. Diante disto, sendo o Direito um conjunto de normas que regulam a vida em sociedade, não poderia este ficar alheio à situação socioeconômica deste país, bem como às demandas que esta situação trazia consigo. As mudanças que envolveram a questão Agrária do país, que começou sua história nas Capitanias Hereditárias e no sistema das sesmarias, foram extremamente conflituosas, pois, segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), foi à partir deste período que nasceu o que hoje chamamos de Latifúndio. 31 Não bastasse isso, no campo do Direito, os conceitos e percepções sobre o que viria a ser posse e propriedade sofreram grandes mudanças. Em 1850, na época do Brasil Império, foi editada a Lei das Terras (Lei 601 de 18.09.1850) a fim de tentar mitigar os conflitos ocorridos entre os proprietários de terras e grileiros. No entanto, notou-se que, na prática, a Lei reforçou o poder dos latifundiários frente aos pequenos produtores, uma vez em que previa que a aquisição só se dava mediante o pagamento em dinheiro, o que fez com que o país, por muito tempo, tivesse o poder político concentrado nas mãos dos grandes latifundiários e coronéis, sendo que somente em meados dos anos de 1960, com o advento da Industrialização no Brasil, que a questão fundiária passou a ser amplamente debatida pela sociedade. Por fim, foi somente com a edição do Estatuto da Terra, Lei 4.504 de 30 de novembro de 1964, que podemos considerar que o Direito Agrário ganhou autonomia e ainda, em consequência desta Lei, veio à tona a questão da Reforma Agrária no paíse com ela uma série de medidas de melhoria na distribuição da terra. Várias foram as questões trazidas pelo Estatuto da Terra. No entanto, a tipificação de Contratos Agrários chama a atenção mostrando-se, por tal motivo, um importante objeto de estudo e reflexão 14.2 A Autonomia Do Direito Agrário O Direito Agrário possui determinados princípios próprios que o diferenciam dos demais ramos do Direito. Tais princípios fornecem a este ramo uma autonomia denominada de científica, reforçando, sobretudo, de que não se trata de um sub-ramo do Direito Civil ou Empresarial, como alguns doutrinadores insistem em defender, mas sim de uma Ciência Jurídica própria criada para entender e interferir nas relações do ser humano com o campo e com o meio ambiente, advindas, sobretudo, do modelo capitalista de produção. Historicamente, o marco da autonomia do Direito Agrário foi a emenda Constitucional nº10/64 que além de inovar prevendo a possibilidade de desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária, dispôs ainda que caberia privativamente à União legislar sobre Direito Agrário, deixando expressa a 32 autonomia legislativa deste ramo que passou a disciplinar as diversas questões sociais e econômicas decorrentes do exercício das atividades agrárias. Tal emenda veio de encontro com o anseio da população por uma melhor distribuição da Terra, que agora, deveria cumprir uma finalidade não só econômica como social. Era a luta pelo direito da terra, a qual crescia em todos os recantos do País, bem como a necessidade da política econômica do País, que se voltava para melhor produção e a implantação do agronegócio, já que todo sistema rural de produtividade era obsoleto, precário e ineficiente, que reclamava a mudança, não só no interesse público do Estado, como também, no interesse social, com muita terra em mãos de poucas pessoas. (BORGES, 2014, p.32) A autonomia deste ramo do Direito pôde ser melhor observada com o advento do Estatuto da Terra, o qual trouxe normas que regulamentavam as relações Agrárias de forma mais ampla e eficiente, pois como era de se esperar, as normas do Direito Civil existentes à época não eram suficientes para regular a situação agrária do país, ainda que o Código Civil de 1916 tenha trazido minguados dispositivos relacionados ao Contrato de Arrendamento e Parceria. Atualmente, a autonomia legislativa do Direito Agrário está prevista no artigo 22, I da atual Constituição Federal que por sua vez, nas palavras do professor Antônio Moura Borges, “absolveu si et in quantum na parte que tratou da Reforma e da Política Agrária as normas constantes do Estatuto da Terra”. Assim sendo, por todas as características que lhe são peculiares, vislumbra-se no Direito Agrário, o Direito Social, que rompe a dicotomia da Ciência Jurídica de Direito Público e Direito Privado, na visão de Antônio Moura Borges (2014, p.32). E não poderia ser diferente, uma vez em que o objeto da Edição da Lei foi a propriedade rural e o agronegócio visando a exploração racional e adequada da terra com o objetivo de que a mesma atinja o seu fim social, respeitando, acima de tudo, os recursos naturais, o meio ambiente e os Direitos Sociais. O Direito Agrário andou com dificuldade diante de embates jurídicos para conscientizar a Sociedade Brasileira do verdadeiro direito e natureza da propriedade rural, inclusive, no seu aspecto de real de bem jurídico de função social e, instrumento de garantia alimentar, ou como simplesmente disse Arthur E.S. Rios na sua monografia Direito Agrário, ed. 1974, fls.19, quando afirmou que: Direito Agrário Para Evitar a Fome. (BORGES, 2014, p.33) 33 A Constituição Federal de 1988 procurou ainda conceder ao Direito Agrário uma autonomia judiciária, quando, em seu artigo 126, previa expressamente que “Para dirimir conflitos fundiários, o Tribunal de Justiça proporá a criação de varas especializadas, com competência exclusiva para questões agrárias.”. No entanto, essas Varas especializadas ainda não existem em todo o País e nos Tribunais de Justiça onde as mesmas inexistem, cabe ao Juiz da Vara Cível Comum julgar os processos advindos de litígios agrários, o que para muitos estudiosos da área não se mostra como uma alternativa satisfatória. 15 ESTATUTO DA TERRA Fonte: imirante.com O Estatuto da Terra surgiu, não só como uma resposta às aclamações da população rural mais desfavorecida (trabalhadores em geral, arrendatários e parceiros outorgados), mas, sobretudo como um meio de viabilizar a expansão do capitalismo no campo. Podemos dizer que, a grosso modo, depois da implementação do mesmo e do avanço tecnológico ocorrido no Brasil, o país passou de grande importador de gêneros alimentícios a principal exportador. Assim sendo, é facilmente visível que tal Lei, 34 também denominada de Código Rural, possui um cunho não só social, mas principalmente econômico. A principal crítica de muitos estudiosos com relação à Lei é no sentido de que somente o seu viés econômico conseguiu gerar efeitos na sociedade, ficando o Interesse Social, apoiado principalmente na questão da Reforma Agrária, como um segundo plano de lenta e ineficaz aplicação. Há ainda quem defenda que o contexto atual do campo não é mais aquele existente à época da promulgação da Lei e que esta encontra-se defasada atualmente, tendo em vista que se de alguma forma foi considerado como hipossuficiente a pessoa do arrendatário e do parceiro outorgado, hoje em dia, diante da exploração da terra por grandes corporações e empresários rurais, percebe-se que em grande parte, a hipossuficiência encontra-se na figura do proprietário da terra. Diante desses fatores, pode-se observar que, da edição do Estatuto da Terra até os tempos atuais, o Direito Agrário vem demonstrando a sua importância enquanto ciência autônoma dentro do cenário de um país altamente agrário como o Brasil. 15.1 Função Social Da Propriedade Rural Não há um conceito pacífico do que venha a ser propriedade, mas a mesma pode ser entendida como o direito de usar, gozar, dispor e reivindicar a coisa (bem móvel ou imóvel) e representa um dos mais amplos Direitos Reais. Dada a sua amplitude e consequências no mundo fático, a propriedade sofre certas limitações: Ao lado das restrições voluntárias ao direito de propriedade, como a superfície, as servidões, o usufruto ou as cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade ou incomunicabilidade, há limitações oriundas da própria natureza do direito de propriedade ou imposição legal [...]; restrição relativa aos direitos de vizinhança etc.[...] (DINIZ, 2014, p.127) De todas as limitações oriundas da própria natureza do direito de propriedade, a que tem maior relevância é, sem sombra de dúvidas, a função social da propriedade, isto porque: A função social da propriedade é imprescindível para que se tenha um mínimo de condições para a convivência social. A Constituição Federal, no art. 5º, XXII, garante o direito de propriedade, mas requer, como vimos, que ele seja exercido atendendo a sua função social. Com isso, a função social da propriedade a vincula não só à produtividade do bem, como também aos 35 reclamos da justiça social, visto que deve ser exercida em prol da coletividade. (DINIZ, 2014, p.127) No que diz respeito ao Campo, a função social da propriedade rural foi positivada, de forma mais ampla, no Estatuto da Terra, que a trazia como um poder- dever do proprietário que se estendia a dois aspectos principais: servir o interesse econômico do dono e satisfazer o fim social ao qual ela se destina. Desta forma, a propriedade rural ficou condicionada pela função social contida na Lei 4.504/64, a qual só estaria sendo integralmente desempenhada quando o proprietário simultaneamente: a) favorecesse o bem-estar dos proprietários e trabalhadores e suas famílias; b) mantivesse da produtividadeda terra num nível satisfatório; c) assegurasse a conservação dos recursos naturais; d) observasse as disposições legais que regulam as relações de trabalho entre os proprietários das terras e os que a cultivam. Com o advento da Constituição Federal de 1988, a função social da propriedade rural sofreu uma constitucionalização, tornando-se então um direito consubstanciado no poder-dever por causa do bem estar social (BORGES, 2014): Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: aproveitamento racional e adequado; utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; observância das disposições que regulam as relações de trabalho; exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. Como forma de sanção, foi estabelecido que, o proprietário que violar quaisquer dos requisitos constantes no artigo supracitado estará passível de sofrer desapropriação, pois não estará cumprindo a função social de sua propriedade, abrindo caminho para o que então chamam de “Democratização da propriedade rural” que se dá através da Reforma Agrária, também prevista no mesmo ordenamento. 36 Diante desses fatores, podemos dizer que a questão da Função social da propriedade rural é um pouco mais delicada que a urbana, ainda que neste caso também existam conflitos. No caso do campo, por conta da questão de Reforma Agrária, muito se questiona sobre quem, realmente, pode cumprir a função social da propriedade. Esta pode ser cumprida tanto pelo proprietário quanto pelo possuidor, que neste caso podemos considerar que seja o Arrendatário, Comodatário, Parceiro- Outorgado ou ainda quem nela exerça a posse e porventura o animus domini – a fim de usucapi-la. No entanto, vendo o quadro atual no qual o Brasil se encontra, ao admitirmos que a função social da propriedade possa ser cumprida por possuidores através de contratos rurais de concessão temporária de uso da terra (entendendo que estes manterão o desempenho econômico e produtivo do imóvel para interesse próprio), nos encontramos diante de um dilema. Isto porque, o imóvel estará fora dos critérios de imóveis passíveis de desapropriação para fins de reforma agrária e justa distribuição da terra. Mas ao mesmo tempo, encontram-se como um empecilho ao acesso à terra, pois o proprietário poderá continuar com o monopólio da terra com a finalidade única de ceder o seu uso para exploração de outrem, havendo, então, um conflito entre a função social e a Justiça Social, pois neste caso, talvez o cumprimento da função social não implique, necessariamente, em um bem para a coletividade. O contexto legal que se insere a propriedade não justifica um empreendimento rural que, mesmo possuindo modernos instrumentos tecnológicos ou altos índices de produtividade e lucro, negue direitos trabalhistas ou explore o trabalho escravo, comprometa os recursos hídricos e a biodiversidade, não crie emprego ou ocupação produtiva e não contribua para a soberania alimentar do povo. É preciso ter em mente que sempre que se fala em função social da propriedade, fala-se de uma convergência entre o direito pessoal e o coletivo, por isso tal princípio configura uma limitação ao direito em tela. Nenhum direito, em tese, deveria ser exercido em detrimento dos outros direitos. Percebe-se que o Estatuto da Terra, de certa forma, se contradiz, pois ao mesmo tempo em que traz dispositivos que visam assegurar o acesso à Terra, por outro, cria mecanismos que restringem o acesso à mesma. Desta forma, questiona- se se o Brasil realmente tem condições e interesse em efetuar a Reforma Agrária. 37 16 CONTRATOS TÍPICOS DO DIREITO AGRÁRIO Apesar do Código Civil de 1916 ter previsto algumas das regras aplicáveis aos Contratos Agrários, no que diz respeito aos prédios rústicos, dispostas nos artigos 1.211 a 1.215, e também ao Contrato de Parceria Agrícola em específico, dispostas nos artigos 1.410 a 1.423, tal código se mostrava essencialmente urbano e não foi capaz de regular de forma ampla as relações advindas no campo, o que somente ocorreu após a entrada em vigor do Estatuto da Terra. O atual Código Civil em vigor não trouxe para si os dispositivos supracitados, tendo em vista que toda a regulação dos mesmos já estava amplamente abrangida pelo Estatuto da Terra e pelo Decreto 59.566/66. Além do mais, não foi só porque já existia uma legislação específica que tais dispositivos não foram trazidos para o Código de 2002, mas também, conforme já tratamos, porque o Direito Agrário é um ramo autônomo e assim o sendo, não haveria por que as regras dos Contratos Agrários estarem positivadas sob o âmbito das regras civis. Vale destacar ainda que conforme o próprio Estatuto da Terra prevê em seu artigo 92, §9, somente nos casos em que a Lei foi omissa, aplicar-se-á o Código Civil. Assim sendo, fica nítida a ideia de que, aqui, o ramo subsidiário é o Direito Civil, o que amplia mais uma vez a Autonomia do Direito Agrário. Os Contratos Agrários típicos são apenas dois: O Arrendamento e a Parceria. No entanto, a depender do seu objeto e de sua finalidade, tais contratos sofrem um desdobramento. Assim sendo, temos o contrato de Arrendamento Agrícola e o contrato de Arrendamento Pecuário, bem como o Contrato de Parceria Agrícola e o Contrato de Parceria Pecuária, Agroindustrial e extrativa, podendo estes serem escritos, verbais ou ainda tácitos. Apesar de tais contatos terem sido previstos no Estatuto da Terra, foi no Decreto 59.566/66 que eles encontraram a sua regulamentação. Por fim, além dos contratos acima elencados, muitos outros são utilizados no meio agrário, mas somente estes são considerados Contratos Típicos. Assim sendo, todos os demais contratos usados no meio rural serão então regulados pelo nosso atual Código Civil. O artigo 92 do Estatuto da Terra regula de forma geral os Contratos de Arrendamento e Parceria. Nele podemos ver disposições que protegem o arrendatário 38 e o parceiro outorgado no que diz respeito à manutenção do equilíbrio contratual de forma geral. Dentre estes dispositivos, verifica-se que, se por acaso, na vigência do Contrato de Arrendamento ou do Contrato de Parceria, o proprietário deseje aliená-lo, deverá notificar o arrendatário ou parceiro outorgado para que este possa exercer seu direito de preferência dentro do prazo estabelecido na Lei. Caso o arrendatário ou o parceiro outorgado não tenham sido notificados da venda, poderão estes, após o depósito do preço e obedecidos os demais requisitos previstos no artigo supracitado, adjudicar o imóvel através de Ação própria. Contudo, caso ocorra a alienação ou ainda a imposição de ônus real sobre o imóvel, nenhum desses fatores interromperá a vigência dos contratos de Arrendamento ou Parceria conforme preceitua a Lei, sendo certo que, nesta hipótese, o adquirente sub-rogar-se-á nos direitos e obrigações do alienante, podendo-se falar até em caso de cessão de posição contratual. Ainda sob o preceito da manutenção do equilíbrio contratual, verifica-se neste artigo a vedação de cláusulas consideradas abusivas, sendo estas consideradas nulas ou ineficazes (BORGES, 2014). A priori, podemos dizer que os contratos agrários são típicos, ou seja, são previstos e regulados em Lei, podendo ainda ser considerados como nominados. Apesar de possuírem características próprias que os diferenciam entre si, os Contratos Agrários possuem classificação semelhante. No que diz respeito à natureza da obrigação estipulada, tais contratos são bilaterais uma vez em que há uma reciprocidade simultânea das prestações, sendo as partes credoras e devedoras umas das outras, ocorrendo, então, uma relação sinalagmática. São também contratos onerosos e comutativos.São onerosos, segundo a doutrinadora Maria Helena Diniz, pois trazem vantagens para ambas as partes, bem como estas sofrem um sacrifício patrimonial correspondente àquele proveito ora almejado e comutativos, pois cada contraente recebe de sua contraparte uma prestação relativamente equivalente à sua, podendo verificar, de imediato, tal equivalência. Com relação à pessoa do contratante, tais contratos são tidos como intuitu personae. Ocorre que a pessoa do contratante, principalmente no que diz respeito ao Contrato de Parceria, é um dos elementos determinantes da relação contratual: 39 A pessoa do contratante, nesses contratos, tem influência decisiva no consentimento do outro, que tem interesse em que as obrigações contratuais sejam por ele cumpridas, por sua habilidade particular, competência, idoneidade, etc. Segundo a mesma doutrinadora, os contratos pessoais ou intuitu personae possuem ainda como consequência serem intransmissíveis e não poderem ser cedidos. Esta última consequência está disposta, inclusive, no artigo 95, VI da Lei 4.504/64 que diz “sem expresso consentimento do proprietário é vedado subarrendamento”. Geralmente esta proibição deve constar de cláusula contratual, porque em caso de omissão a jurisprudência tem entendido que o arrendatário pode subarrendar, porque neste aspecto estaria na liberdade de dispor de seus bens e direitos. (BORGES, 2014) Quanto à forma, os Contratos Agrários, são consensuais ou ainda, não solenes. Isto porque eles se formam mediante a mera convergência da vontade das partes, sem ser necessário, para o seu aperfeiçoamento, qualquer outro ato. No entanto, é sempre aconselhável, para que tenha efeitos contra terceiros, que os Contratos de Arrendamento e Parceria sejam sempre, quando possível, averbados na matrícula do imóvel. A necessidade de registro desses contratos no Cartório de Registro de Imóveis é mais prática do que legal. A Lei não faz essa exigência. No entanto, sabemos que os agricultores, em geral, precisam financiar a safra, seja por meio privado ou público e para tanto, constituem direito real sobre a safra armazenada, pendente ou em vias de formação. Sabemos também que em alguns contratos há a estipulação do pagamento da renda em sacas do produto cultivado na área arrendada ou ainda, como é o caso da Parceria Agrícola, há a estipulação da quota parte de cada Parceiro. Assim sendo, em alguns casos, pode haver um conflito de preferência sobre o grão entre o credor da CPR e o Arrendador e/ou Parceiro-Outorgado. Alguns magistrados entendem que, a Garantia Cedular da CPR, uma vez que esta estiver devidamente registrada, configura direito real e possui preferência sobre o Contrato, como podemos ver no julgado abaixo: Assim, há de se entender que o penhor agrícola, devidamente registrado no Cartório Imobiliário, tem preferência sobre o contrato de arrendamento, com promessa de pagamento através da mesma safra, ainda que registrado em 40 Cartório de Títulos e Documentos, mesmo porque tal preferência foi estipulada pelo próprio arrendatário. (Apelação Cível 1.0035.03.0236778/001, Relator(a): Des.(a) Guilherme Luciano Baeta Nunes, 15ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 29/06/2006, publicação da súmula em 01/08/2006) Seguindo o mesmo entendimento de que o registro confere preferência sobre a safra, podemos verificar o Acórdão do TJGO. No entanto, no caso em tela, vemos o contrário do que ocorreu no julgado anterior, pois aqui o Contrato de Arrendamento é que havia sido registrado em data anterior, adquirindo então o direito de preferência sobre a Cédula de Produto Rural: AGRAVO DE INSTRUMENTO EM AÇÃO DE EMBARGOS DE TERCEIRO. PREFERÊNCIA. PRIMEIRO REGISTRO. CONTRATO. BOA-FÉ. 1 - Considerando que a cédula do produtor rural foi registrada em data posterior ao registro do contrato de arrendamento rural, deve-se reconhecer a boa-fé do arrendador e assegurar-lhe o direito aos frutos da renda de sua propriedade rural. Recurso conhecido e provido. (TJGO, AGRAVO DE INSTRUMENTO 177636-44.2011.8.09.0000, Rel. DES. ROGERIO AREDIO FERREIRA, 3A CAMARA CIVEL, julgado em 20/09/2011, DJe 960 de 14/12/2011) Ainda que o Contrato de Arrendamento e/ou Parceira não gere efeitos reais, o seu registro no Cartório de Registros de Imóveis é revestido dos efeitos inerentes ao ato, sendo o mais importante efeito, a Oponibilidade Erga Omnes: A oponibilidade é o primeiro e mais fundamental dos efeitos que resultam da inscrição de um título no Registro de imóveis e demais registros públicos. Por meio da oponibilidade, impõe-se ao terceiro a realidade do direito registrável, cujo conteúdo lhe é imposto, independentemente do conhecimento efetivo do registro. Como em geral, têm acesso ao sistema de registro de imóveis os direitos reais imobiliários, cujos efeitos são erga omnes, isto é, vinculam toda comunidade, a consequência óbvia é que niguém pode se considerar alheio à obrigação de observar os direitos de usar, gozar e dispor do titular do direito real registrado. O mesmo se aplica a outros direitos ou situações jurídicas que, sem terem natureza real, também podem ser oponíveis às demais pessoas da comunidade, uma vez tenham tido acesso ao fólio real. (LOUREIRO, Luiz Guilherme. 2014, p. 304) Por tal motivo, a fim de revestir o Contrato de presunção iuris et de iuris e evitar conflitos e inseguranças jurídicas, recomenda-se que tais contratos, bem como os seus respectivos aditivos, sejam submetidos à inscrição no Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de onde se localiza o imóvel objeto da concessão de uso. 41 16.1 Do Arrendamento O Arrendamento Rural, conforme preceitua o art. 3º do Decreto 59.566/66, caracteriza-se por ser um Contrato Agrário no qual o proprietário do imóvel rural, denominado arrendante, cede ao arrendatário o uso e gozo do imóvel - que pode ser cedido no todo ou em partes, junto ou não com as suas benfeitorias, bens e demais facilidades - por um período de tempo determinado ou não. A finalidade primordial do uso da terra, pelo arrendatário, é para que este nela possa exercer atividades de exploração agropecuária, agroindustrial extrativa ou mista, mediante contraprestação de aluguel ou renda, dentro dos limites e condições legais. Há de se observar que o pagamento da renda do arrendamento deve ser estipulado, necessariamente, em reais. Isto porque, segundo o decreto 59.566/66, caso seja combinado de forma diversa da prevista, o contrato estará descaracterizado. Podendo, a depender do caso concreto, ser considerado como Parceria. No que diz respeito ao objeto da exploração, podemos ter os seguintes contratos: a) Arrendamento agrícola, que se destina à exploração da lavoura de plantações como café, soja, milho, cana-de-açúcar etc; b) Arrendamento Pecuário, que se destina à criação de gado, suínos, aves, etc., onde criam-se, recriam-se, engordam, invernam ou extraem matéria prima destes; c) Arrendamento Agroindustrial, que se destina ao beneficiamento dos produtos oriundos da exploração agrícola, pecuária ou vegetais no próprio local de sua produção uma vez em que as instalações industriais necessárias para tanto são do Arrendador; d) Arrendamento Extrativo, onde visa-se a exploração de florestas, desde que, claro, o projeto seja aprovado pelo IBAMA e sempre vise respeitar o meio ambiente e os recursos naturais, conforme preceitua o Estatuto da Terra e a Carta Maior. O Decreto 59.566/66 previu ainda a possibilidade de subarrendamento, onde o arrendatário transfere a outrem, no todo ou em parte, os direitos e obrigações do seu contrato de arrendamento originário, desde que, haja o consentimento do Arrendador sob pena de rescisão do contrato. 42 Há de se observar que, a importância do consentimento, além de seguir uma disposição legal, consiste em uma segurança jurídica ao próprio subarrendatário. Isto porque, o Arrendador, não estando
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