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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA Departamento de Engenharia Ambiental Programa de Mestrado Profissional em Rede Nacional Gestão e Regulação de Recursos Hídricos PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS COMO COMPONENTE PARA SEGURANÇA HÍDRICA EM MANANCIAIS: CASO DE ESTUDO NA REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR, BAHIA. GENECI BRAZ DE SOUSA Salvador, BA. 2021 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA Departamento de Engenharia Ambiental Programa de Mestrado Profissional em Rede Nacional Gestão e Regulação de Recursos Hídricos GENECI BRAZ DE SOUSA PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS COMO COMPONENTE PARA SEGURANÇA HÍDRICA EM MANANCIAIS: CASO DE ESTUDO NA REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR, BAHIA. Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA) como parte dos requisitos para obtenção de Título de Mestre Profissional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos junto ao Programa de Mestrado Profissional em Rede Nacional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos - PROFÁGUA. Prof. Dr. Jaildo Santos Pereira Orientador Prof. Dr. Paulo Romero G. Serrano de Andrade Coorientador Salvador, BA. 2021 S725 Sousa, Geneci Braz de. Pagamento por serviços ambientais como componente para segurança hídrica em mananciais: caso de estudo na região metropolitana de Salvador, Bahia/ Geneci Braz de Sousa. – Salvador, 2021. 162 f.: il. color. Orientador: Prof. Dr. Jaildo Santos Pereira. Coorientador: Prof. Dr. Paulo Romero G. Serrano de Andrade. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica, 2021. 1. Serviços ambientais. 2. Pagamento por serviços ambientais 3. Mananciais. 4. Abastecimento de água. I. Pereira, Jaildo Santos. II. Andrade, Paulo Romero G. Serrano de. III. Universidade Federal da Bahia. IV. Título. CDD: 628.1 Ao meu velho Chico, que sempre nos ensinou a caminhar e lutar pela vida, não importando se pedras estivessem no caminho. Saudade eterna! AGRADECIMENTOS A Deus, pelo dom da vida, pela fé e perseverança para vencer os obstáculos e proporcionar a busca de novos desafios. Aos meus pais, irmãos e família pela orientação, dedicação e incentivo durante toda minha vida. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal Nível Superior – Brasil (CAPES), Código de Financiamento 001, e ao Programa de Mestrado Profissional em Rede Nacional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos – PROFÁGUA, Projeto CAPES/ANA/AUXPE No 2717/2015, pelo apoio técnico e científico aportado. Ao Orientador e Professor Dr. Jaildo Santos Pereira, pelo incentivo, dedicação e orientações ao longo do desenvolvimento do trabalho. Ao Coorientador Professor. Dr. Paulo Romero G. Serrano de Andrade, pelas contribuições. Aos professores Dr. Raymundo José Santos Garrido e Dr. Josival Santos Souza, pela participação na banca de qualificação e de defesa do mestrado, momentos em que contribuíram com valiosas observações para a pesquisa. À Coordenação do Curso de Mestrado Profissional em Rede Nacional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos – ProfÁgua, Pólo UFBA, Professora Yvonilde Medeiros e aos demais professores pelos ensinamentos e orientações. À Primeira Turma do Mestrado Profissional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos - ProfÁgua, Pólo UFBA, pela colaboração, aprendizado e amizade. Ao Geólogo Josival Almeida, do INEMA, ao Geógrafo Ismael Fiuza, à Geógrafa Ana Carolina Vilela e ao Engenheiro Civil Hermes Luis Barros Santos, pela presteza e contribuições na elaboração dos produtos cartográficos. Aos Engenheiros Agrônomos Evanildo Pereira de Lima e André Carvalho Figueirêdo, da EMBASA, pela atenção às solicitações e contribuições à pesquisa. Aos representantes institucionais da Unidade Gestora do Projeto (UGP) “Guardiães das Águas”, em especial aos agricultores, pelo convívio, aprendizados e ensinamentos. Não importa onde você parou ... Em que momento você cansou ... O que importa é que sempre é possível e necessário “Recomeçar”. Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo ... E renovar as esperanças na vida e, o mais importante ... Acreditar em você de novo ... (GAEFKE, 2020). RESUMO Os mananciais de abastecimento de água de Salvador e Região Metropolitana, em função de diferentes tipologias antrópicas e situações climáticas adversas a que estão submetidos, têm revelado situações de criticidade hídrica. O desafio reside na busca por soluções estratégicas que contemplem a conservação dos recursos naturais ali inseridos com vistas a garantir a continuidade da produção de água e o atendimento aos seus usos. Nesse contexto, o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) tem se traduzido como uma das opções contribuinte para a geração dos serviços ecossistêmicos e ambientais na perspectiva da conservação dos recursos hídricos. O trabalho pretende avaliar a situação atual do Projeto de Recuperação Florestal em Áreas de Preservação Permanente - entorno de nascentes e faixas marginais dos rios Joanes e Jacuípe (Guardiães das Águas), com vistas a oportunizar a utilização do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) como ferramenta para contribuir para a segurança hídrica de mananciais de abastecimento de água da capital baiana e cidades da Região Metropolitana. Utilizando procedimentos metodologicos de caráter exploratório, procedeu-se com a análise da base conceitual que sustenta a aplicação do mecanismo; o arcabouço legal que norteia sua funcionalidade no Brasil, os aspectos técnicos dos programas e projetos, buscando extrair lições de algumas experiências de aplicação prática na conservação de mananciais. O trabalho contribui com a indicação de estratégias para a implementação de sistemas de PSA nas bacias dos rios Joanes e Jacuípe, de forma a promover a melhoria do desempenho do mecanismo em mananciais que atendem grandes centros urbanos. Dessa forma, espera que os resultados obtidos contribuam para a implantação do mecanismo do PSA em mananciais altamente demandados para o abastecimento público, como contribuição à segurança hídrica, promovendo a conservação e melhoria da disponibilidade e da qualidade da água. Palavras-chave: Pagamento por Serviços Ambientais. Mananciais de abastecimento de água. Segurança Hídrica. Bacias Hidrográficas. ABSTRACT The water supply sources of Salvador and the Metropolitan Region, due to different anthropogenic types and adverse climatic situations to which they are submitted, have revealed situations of water criticality. The challenge lies in the search for strategic solutions that contemplate the conservation of the natural resources inserted there with a view to guaranteeing the continuity of water production and the attendance to its uses. In this context, Payment for Environmental Services (PES) has been translated as one of the options contributing to the generation of ecosystem and environmental services in the perspective of the conservation of water resources. The work intends to evaluate the current situation of the Forest Recovery Project in Permanent Preservation Areas - surrounding springs and marginal strips of the Joanes and Jacuípe rivers (Guardiães das Águas), with a view to making the use of Payment for Environmental Services (PSA) possible as an opportunity tool to contribute to the water security of water supply sources in the capital of Bahia and cities in theMetropolitan Region. Using exploratory methodological procedures, we proceeded with the analysis of the conceptual basis that supports the application of the mechanism; the legal framework that guides its functionality in Brazil, the technical aspects of programs and projects, seeking to extract lessons from some experiences of practical application in the conservation of springs. The work contributes with the indication of strategies for the implementation of PES systems in the Joanes and Jacuípe river basins, in order to promote the improvement of the mechanism's performance in water sources that serve large urban centers. Thus, it expects that the results obtained will contribute to the implementation of the PSA mechanism in water sources highly demanded for public supply, as a contribution to water security, promoting the conservation and improvement of water availability and quality. Keywords: Payment for Environmental Services. Water supply sources. Water Security. Watersheds. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Mecanismo de PSA na contribuição da proteção hídrica em bacias hidrográficas 24 Figura 2 - Arranjos institucionais para mecanismos de PSA 30 Figura 3 - Estrutura de governança do Projeto Pipiripau, DF 32 Figura 4 - Processo de elaboração e implementação de sistemas de PSA 33 Figura 5 - Modelo básico das etapas de execução dos projetos de PSA Hídrico 34 Figura 6 Procedimentos metodológicos desenvolvidos para o estudo 62 Figura 7 Localização das bacias dos rios Joanes e Jacuípe 65 Figura 8 Localização da área de estudo. Bacias dos rios Joanes e Jacuípe 66 Figura 9 Uso e ocupação do solo da área de estudo 70 Figura 10 Caracterização das Áreas de Preservação Permanente na área de estudo 72 Figura 11 Distribuição das sub-bacias dos rios Joanes e Jacuípe 73 Figura 12 Represa Joanes I 74 Figura 13 Vista aérea represa Joanes II 74 Figura 14 Barragem de Santa Helena 74 Figura 15 Captação no reservatório Santa Helena 74 Figura 16 Unidades de Conservação na área de estudo 76 Figura 17 Mapa de priorização das áreas para as ações do Projeto Guardiães das Águas nas bacias dos rios Joanes e Jacuípe 79 Figura 18 Localização das áreas objeto de intervenção do Projeto Guardiãos das Águas nas bacias Joanes e Jacuípe 82 Figura 19 Representação esquemática das intervenções para restauração florestal da Fazenda Petecaba, Candeias. Projeto Guardiães das Águas. 84 Figura 20 Visita de campo, Candeias 87 Figura 21 - Reunião da UGP, Mata de São João 87 Figura 22 - Visita ao Projeto Produtor de Água Pratigi-Ibirapitanga, 2019 87 Figura 23 - Localização das áreas de intervenção do Projeto “Guardiães das Águas” e outras potenciais provedoras de serviços ambientais 91 Figura 24 - Delimitação de sub-bacias com indicativos de áreas provedoras de serviços ambientais 92 Figura 25 - Indicação de áreas provedoras de serviços ambientais com possivel formação de “corredor de integração de recursos hídricos e florestas” 92 Figura 26 - Perfil esquemático de um terraço 97 Figura 27 - Barraginhas ao longo da estrada 97 Figura 28 - Barraginha em área rural 97 Figura 29 - Fossa séptica simplificada 98 Figura 30 - Representação das linhas de plantio para restauração florestal em áreas não inundáveis. Projeto Guardiães das Águas 101 Figura 31 - Representação das linhas de plantio para restauração florestal em áreas inundáveis. Projeto Guardiães das Águas 101 Figura 32 Temáticas para PSA envolvendo ações de Educação Ambiental 104 Figura 33 Ilustração esquemática da localização de estruturas de monitoramento na comunidade Quilombola do Dandá, sub-bacia do rio Itamboatá 118 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Fórmula de cálculo do benefício no Projeto Oásis da FBPN 41 Tabela 2 - Projetos de PSA hídricos no âmbito do Programa Produtor de Água da ANA, com especificação dos valores de PSA 43 Tabela 3 - Remuneração do programa de PSA, segundo as modalidades. Cartago, Costa Rica 47 Tabela 4 - Valoração do PSA para o Projeto Produtor de Água do Rio Camboriú 53 Tabela 5 - Valores de referência de pagamentos do Produtor de Água no PCJ (R$/ha/ano) 56 Tabela 6 Unidades de cobertura, uso e ocupação do solo da área de estudo 69 Tabela 7 - Distribuição das sub-bacias dos rios Joanes e Jacuípe 73 Tabela 8 - Distribuição dos investimentos, segundo as metas do Projeto Guardiães das Águas 77 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Instrumentos normativos que abordam sobre PSA na esfera federal 24 Quadro 2 - Metodologias adotadas para valoração dos serviços ambientais em PSA Hídrico 39 Quadro 3 - Projetos de PSA Hídrico no âmbito do Programa Produtor de Água distribuídos no Brasil 45 Quadro 4 - Programas inerentes a PSA contemplados na Política de Mananciais PCJ 57 Quadro 5 - Caracterização dos grupos que integram a valoração do PSA Ibirapitanga, Bahia 59 Quadro 6 - Resultados do Programa Municipal de PSA de Ibirapitanga, 2015/ 2018 60 Quadro 7 - Resumo das estratégias utilizadas nos casos de estudo sobre a aplicabilidade de PSA em manancias de abastecimento 61 Quadro 8 Características das tipologias de solos ocorridos na área de estudo. Bacias dos rios Joanes e Jacuípe 68 Quadro 9 - Critérios para a seleção das áreas de intervenção do Projeto Guardiães das Águas nas bacias dos rios Joanes e Jacuípe 80 Quadro 10 - Áreas contempladas para o Projeto Guardiães das Águas dos rios Joanes e Jacuípe 81 Quadro 11 - Panorama da realização das atividades do Projeto Guardiães das Águas 87 Quadro 12 - Indicativo de áreas potenciais provedoras de serviços ambientais na área de estudo 90 Quadro 13 - Critérios para definição do valor do PSA Projeto Pratigi-Ibirapitanga 106 Quadro 14 Minuta de Tábua de Valoração para cálculo do valor do serviço ambiental promovido por propriedades rurais 107 Quadro 15 - Agrupamento de indicadores passíveis de uso em monitoramento de PSA Hídrico 117 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ADASA Agência Reguladora de Águas e Saneamento do Distrito Federal AEM Avaliação Ecossistêmica do Milênio AGESAN Agência Reguladora de Serviços de Saneamento Básico do Estado de Santa Catarina AGEVAB Agência da Bacia do Rio Paraíba do Sul ANA Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico ANM Agência Nacional de Mineração APA Área de Proteção Ambiental APP Área de Preservação Permanente ATUPA Área Total da Unidade de Produção Agrícola CAESB Companhia do Saneamento do Distrito Federal CAR Cadastro Ambiental Rural CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CATI Coordenação de Assistência Técnica Integral CBHRNI Comitê da Bacia Hidrográfica do Recôncavo Norte e Inhambupe CEAMA Centro de Apoio às Promotorias de Meio Ambiente e Urbanismo CEFIR Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais CERB Companhia de Engenharia Hídrica e de Saneamento da Bahia CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo CGP Comitê Gestor do Projeto CIRAM Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina CO Custo de Oportunidade da Terra COFIC Comitê de Fomento Industrial de Camaçari CONDER Companhia de Desenvolvimento Urbano da Bahia CPRM Centro de Pesquisa em Recursos Minerais CRA CRA Centro de Recursos Ambientais Cota de Reserva Ambiental DBO Demanda Biológica de Oxigênio EIA Estudo de Impacto Ambiental EMASA Empresa Municipal de Água e Saneamento EMATER Empresa de Assistencia Técnica e Extensão Rural EMBASA Empresa Baiana de Águas e Saneamento EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EPAGRI Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina ETA Estação de Tratamento de Água FERFA Fundo de Recursos para o Meio Ambiente FERHBAFundo Estadual de Recursos Hídricos da Bahia FMPSA Fundo Municipal de Pagamento por Serviços Ambientais FNMA Fundo Nacional do Meio Ambiente FNMC Fundo Nacional sobre Mudança do Clima FONAFIFO Fundo Nacional de Financiamento Florestal GAC Gestão Ambiental Compartilhada IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBRAM Instituto Brasília Ambiental ICMBIO Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços IEF Índice do Estado Florestal IEF-MG Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais IET Índice de Estado Trófico IFBA Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INEMA Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos IQA Índice de Qualidade da Água ITR Imposto Territorial Rural MPBA Ministério Público da Bahia NUMA Núcleo Mata Atlântica OCT Organização de Conservação da Terra PACUERA Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de Reservatório Artificial PAE Percentual de Abatimento de Erosão PAEPRNI Plano de Ações Estratégicas para Gerenciamento dos Recursos Hídricos das Bacias Hidrográficas do Rio Paraguaçu e do Recôncavo Norte e Inhambupe PARMS Plano de Abastecimento de Água de Salvador, Santo Amaro e Saubara PCJ Piracicaba, Capivari, Jundiaí PEPSA Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais PFPSA Programa Federal de Pagamento por Serviços Ambientais PIP Projeto Individual da Propriedade PMPSA Política Municipal de Pagamentos por Serviços Ambientais PNMC Política Nacional sobre Mudança do Clima PNPSA Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais PNRH Política Nacional de Recursos Hídricos PNSH Plano Nacional de Segurança Hídrica PPP Projeto Político Pedagógico PPSA Programa Pago por Servicios Ambientales PRA Programa de Recuperção Ambiental PRAD Projeto de Recuperção de Áreas Degradadas PROMABIENTE Programa de Desenvolvimeto Socioambiental da Produção Familar Rural PROMPSA Programa Municipal de Pagamento por Serviços Ambientais PSA Pagamentos por Serviços Ambientais PVF Pagamento Valor Fixo QBF Qualidade Biótica e Fitogeográfica RIMA Relatório de Impacto Ambiental RMS Região Metropolitana de Salvador RPGA Região de Planejamento e Gestão das Águas RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo SADEMA Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Meio Ambiente SAF Sistemas Agroflorestais SDR Secretaria de Desenvolvimento Rural SEIA Sistema Estadual de Informações Ambientais e Recursos Hídricos SEMA Secretaria do Meio Ambiente SENAR Serviço Nacional de Aprendizagem Rural SIAA Sistema Integrado de Abastecimento de Água SIHS Secretaria Estadual de Infraestrutura Hídrica e Saneamento SINRIH Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente SINGREH Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação STS Sólidos Totais em Suspensão SUDENE Superintendencia do Desenvolvimento do Nordeste TAC Termo de Ajuste de Conduta TNC The Nature Conservancy UCE Unidade Coordenadora de Execução UEFS Univesidade Estadual de Feira de Santana UFBA Universidade Federal da Bahia UFEX Unidade Fiscal do Município de Extrema UFM Unidade Fiscal Municipal UFRB Universidade Federal do Recôncavo da Bahia UFSB Universidade Federal do Sul da Bahia UGP Unidade Gestora dos Projetos UPFM Unidade Padrão Fiscal Municipal VPES Valor de Pagamentos Ambientais SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 17 2 OBJETIVOS 20 2.1 Objetivo Principal 20 2.2 Objetivos Específicos 20 3 MARCO CONCEITUAL, FUNDAMENTAÇÃO LEGAL E ANÁLISE DE EXPERIÊNCIAS DE APLICAÇÃO DE PSA EM MANANCIAIS 21 3.1 Fundamentação Conceitual do PSA 22 3.2 Arcabouço legal do PSA 24 3.3 Arranjo Institucional e Econômico do PSA no Brasil 29 3.4 Construção de Sistemas de PSA 32 3.4.1 Aspectos Técnicos dos Programas e Projetos de PSA 33 3.4.2 Elegibilidade para a seleção de intervenções com PSA 34 3.4.3 Modalidades de PSA 36 3.4.4 Processo de Habilitação e Certificação 37 3.4.5 Processo de Monitoramento 37 3.5 Metodologias Aplicadas na Valoração de PSA 38 3.5.1 Pagamento aos provedores pelos serviços ambientais 41 3.6 Experiências de Aplicação de PSA na Conservação de Mananciais 42 3.6.1 Costa Rica: Programa de Pagamento por Serviços Ambientais (PPSA) 46 3.6.2 Nova York, EUA: PSA nas Bacias Catskill-Delaware 47 3.6.3 Projeto Conservador das Águas, Extrema - MG 49 3.6.4 Produtor de Água do Rio Camboriú, Balneário Camboriú e Camboriú - SC 52 3.6.5 Produtor de Água da Bacia Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) – SP 54 3.6.6 Projeto Produtor de Água Pratigi-Ibirapitanga – BA 57 3.6.7 Comparação entre as experiências de PSA 60 4 MATERIAIS E MÉTODOS 62 5 ÁREA DE ESTUDO: BACIAS DOS RIOS JOANES E JACUÍPE 65 5.1 Geologia e Geomorfologia 66 5.2 Relevo e Declividade 67 5.3 Solos 67 5.4 Aspectos Climáticos 69 5.5 Cobertura e uso da terra 69 5.6 Recursos Hídricos 72 5.7 Direitos Minerários 75 5.8 Atividades agropecuárias 75 5.9 Unidades de Conservação e Áreas Prioritárias para a Conservação 75 6 PROJETO GUARDIÃES DAS ÁGUAS 77 6.1 META 1: Mobilização de pequenos proprietários para o Cadastramento das propriedades no Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais (CEFIR) 78 6.2 META 2: Elaboração, Implementação e Manutenção de Projetos de Recuperação Florestal de APP e Educação Ambiental Crítica 78 6.2.1 Identificação das áreas potenciais para restauração nas bacias hidrográficas 78 6.2.2 Identificação das comunidades e das áreas de intervenção 79 6.2.3 Elaboração dos Projetos de Recuperação Florestal e Educação Ambiental 81 6.2.4 Estratégias de Recuperação Florestal 83 6.2.5 Educação Ambiental Crítica 84 6.2.6 Implementação e manutenção dos projetos de Recuperação Florestal e Educação Ambiental Crítica 85 6.3 META 3: Elaboração do Plano Regional de PSA 85 6.4 Gestão e Governança do Projeto Guardiães das Águas 86 6.5 Quadro síntese situacional das metas do Projeto Guardiães das Águas 87 7 CONTRIBUIÇÕES PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS DE PSA NAS BACIAS DOS RIOS JOANES E JACUÍPE 88 7.1 Indicativos das áreas prioritárias e perfil dos provedores 90 7.2 Indicativos de mecanismos financeiros e possíveis agentes financiadores 93 7.3 Indicativo de modalidades de intervenção para PSA nas Bacias Hidrográficas 95 7.4 Estratégias para conservação de água e solo e recuperação florestal 96 7.4.1 Técnicas de conservação da água e do solo 96 7.4.2 Práticas de recuperação florestal 98 7.5 Estratégias de mobilização social e Educação Ambiental 103 7.6 Proposição metodológica de valoração de PSA 105 7.7 Sistema de governança e construção do arranjo institucional 110 7.8 Estratégias de monitoramento 114 7.8.1 Monitoramento e avaliação em áreas de recuperação florestal 114 7.8.2 Monitoramento meteorológico 115 7.8.3 Monitoramento da qualidade das águas 115 7.8.4 Avaliação de dados fluviométricos 116 7.9 Estimativa orçamentária 118 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÃO 119 REFERENCIAS 127 ANEXO I: Espécies presentes em Mata Atlântica da região do Recôncavo e do Baixo Sul da Bahia sugeridas, classificadas por grupo de plantio 141 ANEXO II: Investimentos em serviços de restauração ecológica e manutenção de mata ciliar e nascentes 146 ANEXO III: Cotação de Obras e Serviços 149 ANEXO IV: Quadro de Investimentos 150 APÊNDICE A: Diretrizes metodológicas para a aplicabilidade do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) 151 17 1 INTRODUÇÃO A água é reconhecida como um recurso estratégico para a humanidade, assumindo importância ecológica, econômica e social em função de proporcionar a manutenção da vida, sustentar a dinâmica da biodiversidade,a produção de alimentos e dar suporte aos ciclos naturais. A interação entre o crescimento populacional, desenvolvimento socioeconômico e as mudanças nos padrões de consumo têm corroborado para que, desde a década de 1980 o uso da água venha aumentado à taxa equivalente a 1% ao ano em todo o planeta e, associado ao incremento do consumo do recurso pelos usos industrial e doméstico, principalmente, a demanda global deve continuar crescendo a taxas equivalentes até 2050, o que representará um aumento de 20% a 30% em relação aos valores atuais, conforme o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos (UNESCO, 2019). O desenvolvimento econômico contribui tanto para o crescimento das demandas, quanto à diversificação dos usos da água, tornando a gestão deste recurso uma tarefa especializada cada vez mais dependente de elevado nível de conhecimento técnico-científico. A Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9433/97), criada há mais de 20 anos, proporcionou diversos avanços, tais como: a gestão das águas passou a ser descentralizada, participativa, tendo a bacia hidrográfica como unidade territorial voltada a harmonizar os diferentes usos desse recurso; a água passou a ser definida como bem de domínio público, limitado e dotado de valor econômico; dentre outros, estabelecendo ainda, em seu Artigo 1º, inciso III, que em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais (BRASIL, 1997). Nesse contexto, por possuírem altas densidades populacionais e intensas atividades produtivas, as cidades demandam grandes quantidades de água, tanto para o abastecimento público quanto na diluição de despejos. Esse recurso, em sua maior parte, é armazenado em mananciais superficiais, onde a intensificação das ações antrópicas pode comprometer os seus usos e disponibilidade. Diante desse panorama, o desafio reside na busca por soluções que promovam intervenções nas bacias hidrográficas, não só do ponto de vista da implantação de obras estruturantes para o abastecimento de água e tratamento de efluentes que implicam em altos investimentos, como também da adoção de diferentes abordagens e estratégias com vistas a contemplar a preservação dos recursos naturais como aliada à segurança hídrica, visto que o 18 manejo e a ocupação do solo, assim como sua cobertura vegetal se destacam como contribuintes significativos na produção e na qualidade da água. A crescente intensidade de processos antrópicos aponta para a necessidade de integração do desenvolvimento econômico com a preservação ambiental mediante a implementação de projetos, planos e estratégias que conciliem distintos agentes ambientais, sociais e econômicos (ARAÚJO et al., 2009). Nesse sentido, Feltran-Barbieri (2018) destaca que nas últimas décadas, vêm ganhando força os programas caracterizados como de infraestrutura natural1, tendo como premissas a conservação e restauração de ecossistemas que visam diretamente melhorar a segurança hídrica. Essa perspectiva evidencia o surgimento de um novo mercado de serviços ambientais que, baseando-se em instrumentos econômicos, incentiva os provedores a garantir o fluxo contínuo do fornecimento desses benefícios por meio de instrumentos de compensação econômica (JARDIM e BURSZTYN, 2015) Em consonância com a Avaliação Ecossistêmica do Milênio (AEM) de 2005, “serviços ambientais”, são serviços cujos benefícios decorrem das iniciativas antrópicas sobre os sistemas ecológicos, a exemplo das atividades que visam a manutenção ou a recuperação dos componentes ecossistêmicos (MURADIAN et al., 2010). Já “serviços ecossistêmicos”, para a Agência Nacional de Águas (ANA), são aqueles cujos benefícios provêm dos ecossistemas, independentemente das interferências humanas (ANA, 2012). Diante desse cenário, a adoção do mecanismo de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) constitui um importante instrumento para a implementação de ações relacionadas à preservação e recuperação hidroambiental das bacias hidrográficas, bem como para reduzir a necessidade de investimentos. Integrantes das bacias hidrográficas dos rios Joanes e Jacuípe, a área de estudo envolve territórios situados a montante dos reservatórios Joanes I e II e Santa Helena, respectivamente, englobando trechos dos municípios de Conceição do Jacuípe, Amélia Rodrigues, Terra Nova, Santo Amaro, São Francisco do Conde, Candeias, Dias D’Ávila, São Sebastião do Passé, Mata de São João, Simões Filho, Camaçari, Lauro de Freitas e Salvador. 1 Infraestruturas naturais são ecossistemas manejados, restaurados ou conservados com capacidade de fornecer bens e serviços essenciais à produção material, à saúde e ao bem-estar humano. Dentre os inúmeros benefícios que a restauração da vegetação nativa pode trazer, a melhoria na qualidade da água está entre as mais importantes e mensuráveis (FELTRAN-BARBIERI, et al., 2018). 19 Em que pese se tratar de mananciais que representam elevado valor estratégico por serem responsáveis pelo atendimento de cerca de 40% das demandas de abastecimento de água da capital baiana e cidades da Região Metropolitana, vêm passando por intensos processos de antropização, evidenciado situações de criticidade hídrica, podendo comprometer seus distintos usos. É importante destacar que situação como essa, observada em bacias hidrográficas no entorno da capital baiana, também está presente com muita frequência em outras regiões densamente povoadas, indicando que os instrumentos tradicionais têm se mostrado insuficientes para garantir a proteção dos mananciais, mesmo aqueles que apresentam alto valor estratégico. É nesse contexto que o presente trabalho pretende analisar a situação atual do Projeto de Recuperação Florestal em Áreas de Preservação Permanente - entorno de nascentes e faixas marginais dos rios Joanes e Jacuípe (Guardiães das Águas) - com vistas a explorar a oportunidade de utilização de PSA como incentivo à adoção de práticas sustentáveis, visando contribuir para aumentar a segurança hídrica de mananciais de abastecimento de água que atendem grandes centros urbanos. Se traduz ainda, como mecanismo de integração às demais políticas setoriais e ambientais, em especial as Políticas Nacional do Meio Ambiente, da Biodiversidade, de Recursos Hídricos, sobre Mudança do Clima, de Educação Ambiental e, ainda, ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, conforme preconiza a recente Lei Nº 14.119/2021, que institui a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais. 20 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Principal Analisar a situação atual do Projeto de Recuperação Florestal em Áreas de Preservação Permanente - entorno de nascentes e faixas marginais dos rios Joanes e Jacuípe (Guardiães das Águas), com vistas a oportunizar a utilização do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) como ferramenta para contribuir para a segurança hídrica de mananciais de abastecimento de água que atendem grandes centros urbanos. 2.2 Objetivos Específicos Apresentar a base conceitual; a fundamentação legal, os aspectos técnicos dos programas e projetos e a análise de algumas experiências de aplicação de PSA; Analisar o estágio de implantação do Projeto de Recuperação Florestal em Áreas de Preservação Permanente - entorno de nascentes e faixas marginais dos rios Joanes e Jacuípe (Guardiães das Águas) e suas perspectivas como mecanismo indutor de PSA; Contribuir com estratégias para a implementação de sistemas de PSA nas bacias dos rios Joanes e Jacuípe – mananciais que abastecem a Região Metropolitana de Salvador; Contribuir com estratégias para a melhoria do desempenho do mecanismo de PSA em mananciais que atendem grandes centros urbanos.21 3. MARCO CONCEITUAL, FUNDAMENTAÇÃO LEGAL, ASPECTOS TÉCNICOS E ANÁLISE DE EXPERIÊNCIAS DE APLICAÇÃO DE PSA NA CONSERVAÇÃO DE MANANCIAIS Analisando a disponibilidade e demanda por água no mundo, o Relatório das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos destaca que cerca de 4 bilhões de pessoas experimentam escassez severa de água durante pelo menos um mês do ano; mais de 2 bilhões vivem em países que enfrentam um alto estresse hídrico e que, à medida que a demanda por água aumenta e os efeitos das mudanças climáticas se intensificam, os níveis de estresse continuarão a ser incrementados (UNESCO, 2019). Nas últimas duas décadas, estudos revelam que a demanda pelo uso de água no Brasil tem se mostrado crescente, com aumento estimado de aproximadamente 80% no total retirado do recurso para os diversos usos, com previsões de que, até 2030, as captações aumentem 26% (ANA, 2019a). Este cenário está diretamente relacionado ao incremento das atividades econômicas intensivas em uso de água e ao processo de urbanização do país, evidenciado por desordens no uso e ocupação do solo, intervenções nas matas ciliares e, mais recentemente, às situações hidrológicas e climáticas extremas, associando a eventos de segurança hídrica (VEIGA et al., 2019, ANA, 2019a). Introduzindo essa abordagem, a segurança hídrica analisa os riscos da gestão sustentável da água quanto à oferta, em quantidade e qualidade, impactos sobre a sociedade, na infraestrutura e nos ambientes, estando estes diretamente relacionados com situações de vulnerabilidade às condições climáticas, da sociedade e do meio ambiente (TUCCI e CHAGAS, 2017). A segurança hídrica está intrinsecamente direcionada à implementação de ações voltadas à melhoria da gestão dos recursos hídricos e à implantação e execução de obras estruturantes (barragens, canais, eixos de integração e sistemas adutores de água), objetivando atender às grandes e crescentes demandas, bem como reduzir os efeitos dos eventos climáticos críticos (MACHADO, 2018). Aspectos estes corroborados a partir da análise do Plano Nacional de Segurança Hídrica (PNSH) (ANA, 2019b). No que tange às considerações elencadas sobre a temática, destaca-se a necessidade de incorporar um olhar diferenciado quando se trata da preservação das áreas naturais e sua biodiversidade e, consequentemente, aos serviços ecossistêmicos por elas gerados (JACOBI et al.,2015). Nesse aspecto, no contexto da segurança hídrica, torna-se imprescindível incluir e 22 ampliar a abordagem de infraestrutura natural, que considera a conservação e a restauração florestal na gestão dos recursos hídricos, por meio do fornecimento dos serviços ambientais que devem ter seu valor reconhecido nos sistemas econômicos (OZMENT et al., 2018). A partir de investimentos em infraestrutura natural, a aplicabilidade do PSA pode ser compreendida como um mecanismo efetivo de política pública de conservação ambiental estratégica para o enfrentamento dos desafios da gestão de espaços territoriais, notadamente vinculados aos recursos hídricos (ATANAZIO, 2019). 3.1 Fundamentação Conceitual do PSA O PSA, dentre os instrumentos econômicos, tem se caracterizado como um dos mais recentes e promissores mecanismos que oferece incentivos decorrentes da realização de práticas que resultem na recuperação, manutenção ou melhora dos serviços ecossistêmicos e ambientais (ALTMANN, 2015). De acordo com Wunder et al. (2005), os sistemas de PSA apresentam como principais características: i) acordo voluntário entre as partes; ii) o objeto do negócio é um serviço ambiental claramente definido, ou, por exemplo, o uso sustentável do solo, de forma a permitir assegurar o serviço ambiental; iii) é necessário a existência de pelo menos um comprador e um provedor do serviço; e iv) o provedor dos serviços ambientais deve assegurar a prestação desses serviços, gerando condicionalidade. Baseado no princípio do “provedor-recebedor”, o mecanismo de PSA preconiza que aqueles produtores ao executarem boas práticas que contribuem para melhorar a disponibilidade hídrica em qualidade e quantidade em uma bacia hidrográfica devem ser remunerados pelos serviços prestados (LIMA e RAMOS, 2018). À medida que os provedores dos serviços ambientais adotam práticas sustentáveis, considera-se que benefícios sociais são gerados, onde os usuários dos recursos hídricos passam, em princípio, a dispor de mais água para atendimento às suas demandas e aos usos múltiplos (SANTOS et al., 2013). O Manual Operativo do Programa Produtor de Água da ANA considera o PSA como sendo uma política de transferência de recursos financeiros, ou não, para aqueles que ajudam na preservação do meio ambiente por meio da conservação ou produção de serviços ambientais (ANA, 2012). Aprofundando essa questão, a aplicabilidade dos projetos de PSA está relacionada aos três pilares que regem o mercado: a existência da oferta dos produtos, representada pelos serviços fornecidos pelos produtores rurais ou ambientes naturais; os demandantes 23 compradores que passam a ser os beneficiários dos serviços disponibilizados e os comerciantes, caracterizados pelos usuários das terras responsáveis pelas decisões na gestão do meio ambiente e, portanto, disponibilizam os serviços ambientais (PAGIOLA et al., 2005). A recente Lei Nº 14.119/2021, que institui a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais (PNPSA) reforça os conceitos anteriores e considera o PSA como um mecanismo de natureza voluntária, onde se verifica a transferência de recursos financeiros ou outra modalidade de remuneração, de um pagador de serviços ambientais a um provedor desses serviços, mediante condições acordadas, em obediência às disposições legais e regulamentares pertinentes (BRASIL, 2021). Dentre as distintas modalidades de serviços ambientais comumente comercializados nos mercados mundiais, destacam-se o carbono, a água, a biodiversidade e a beleza cênica, que podem ser incluídos desde escalas globais a locais (SEEHUSEN e PREM, 2011; FRANCO e PRADO, 2014). Nos sistemas de PSA de carbono a remuneração se dá por tonelada de carbono que foi capturada da atmosfera ou armazenada; nas modalidades hídricas paga-se pelo aumento ou manutenção do recurso hídrico em quantidade e qualidade; nos sistemas de biodiversidade, o pagamento é realizado pela proteção de espécies ameaçadas por hectare de habitat em área natural protegida; já aqueles voltados à beleza cênica a remuneração é estabelecida pela prestação de serviços de turismo, recreação e permissão de registros de imagens (SEEHUSEN e PREM, 2011). No contexto dos programas e projetos que tratam de PSA hídrico, os esquemas evidenciam que os usuários do recurso remuneram os produtores rurais que potencializam e garantem a produção de água em qualidade e quantidade, mediante a proteção e restauração de ecossistemas naturais, em áreas estratégicas, a exemplo de nascentes, matas ciliares e áreas de captação, por meio da adoção de práticas de manejo do solo, assim como de recuperação e manutenção de áreas florestais (VEIGA e GAVALDÃO, 2011; FRANCO e PRADO, 2014). Ampliando este aspecto, de maneira geral, os investimentos em PSA hídricos têm sido direcionados para ações que visam a revitalização de bacias que atendem mananciais de abastecimento público, incorporando em seus arranjos, em alguns casos, usuários de maior expressividade, a exemplo de concessionárias de água e energia, indústrias de grande porte e comitês de bacias (INSTITUTO OIKOS DE AGROEOCOLOGIA, 2015). O esquema apresentado na Figura 1 ilustra o mecanismo de PSA na contribuição da proteção hídrica em bacias hidrográficas. 24 Figura 1: Mecanismo de PSA na contribuição da proteção hídrica em bacias hidrográficas Fonte: Veiga e Gavaldão, 2011. 3.2 Arcabouço Legal do PSA No Brasil, anteriormente à recenteaprovação da Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais (Lei 14.119/2021), registravam-se iniciativas que abordam o mecanismo financeiro em instrumentos jurídicos que tratam de temáticas relacionadas aos recursos hídricos; à gestão de unidades de conservação; à proteção, conservação e manejo de florestas nativas e às mudanças climáticas (IMAZON e FGV, 2012; VIEIRA DOS REIS e ALVES DA SILVA, 2019). Dentre eles, na esfera federal, merece destaque as normativas apresentadasno Quadro 1, seguindo de uma breve caracterização. Quadro1: Instrumentos normativos que abordam sobre PSA na esfera federal INSTRUMENTOS NORMATIVOS TEMÁTICA Lei No 9433/1997 Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) Lei N° 9.985/2000 Decreto N° 4.340/2002 Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) Regulamenta o SNUC Lei 12.187/2009 Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) Lei 12.114/2009 Decreto 7.343/2010 Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (FNMC) Regulamento do FNMC Decreto 7.572/2011 Regulamento Programa de Apoio à Conservação Ambiental Programa Bolsa Verde Lei 12.651/2012 (Código Florestal) Proteção da vegetação nativa Lei 14.119 de 13/01/2021 Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais Fonte: IMAZON e FGV, 2012; Vieira dos Reis e Alves da Silva, 2019; BRASIL, 2021. Inicialmente, como marco incentivador, é digna de relevância a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) - Lei No 9.433/1997 - considerada como um dos pilares para o http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12187.htm https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-14.119-de-13-de-janeiro-de-2021-298899394 25 estabelecimento de sistemas de PSA de proteção hídrica, ao revelar a preocupação com a conservação de áreas para a qualidade e quantidade de água. A cobrança pelo uso de recursos hídricos, possibilita o suporte de recursos financeiros para sustentar os programas e intervenções contempladas nos planos de recursos hídricos, fortalecendo os Comitês de Bacias Hidrográficas e as Agências de Bacias, aos quais compete o desafio da implementação de esquemas de PSA (VIEIRA DOS REIS e ALVES DA SILVA, 2019). Seguindo, na Lei N° 9.985/2.000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), os Artigos 47 e 48 apesar de não mencionarem PSA, instituíram a contribuição financeira para as Unidades de Conservação, a ser repassada pelas companhias de distribuição de água e geração de energia, ou por companhias que usam recursos hídricos disponibilizados pelos espaços protegidos ou que se beneficiam de outros serviços de proteção, porém, o país ainda carece de legislação específica regulamentando tais pagamentos (ORTIZ, 2012). Já o Artigo 36 da referida norma, regulamentado pelo Decreto N° 4.340/2002, traz a compensação ambiental como um dos mecanismos passíveis de utilização para intervenções de PSA (VIEIRA DOS REIS e ALVES DA SILVA, 2019). A Lei 12.187/2009, que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), a partir do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (FNMC) evidencia, entre as diretrizes, a previsão da utilização de instrumentos financeiros e econômicos para promover ações de mitigação e adaptação à mudança do clima, relacionando projetos de PSA que contribuam para a estocagem de carbono, aliados a outros serviços ambientais (IMAZON e FGV, 2012). O estabelecimento de políticas públicas sobre PSA ganhou ainda mais importância com a Lei Nº 12.651/2012 – Código Florestal – que trata da Proteção da Vegetação Nativa (FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO DE PROTEÇÃO À NATUREZA et al., 2017). O Artigo 41 da norma passou a autorizar o poder público federal a instituir programas de PSA como forma de apoio e incentivo às atividades de conservação e melhoria dos ecossistemas, gerando serviços ambientais, de forma isolada ou cumulativamente, tais como: a) o sequestro, a conservação, a manutenção e o aumento do estoque e a diminuição do fluxo de carbono; b) a conservação da beleza cênica natural; c) a conservação da biodiversidade; d) a conservação das águas e dos serviços hídricos; e) a regulação do clima; f) a valorização cultural e do conhecimento tradicional ecossistêmico; g) a conservação e o melhoramento do solo e; h) a manutenção de Áreas de Preservação Permanente (APP), de Reserva Legal e de uso restrito. Dentre os instrumentos para viabilização das compensações são destacados o crédito e seguro agrícolas, a dedução das APP, de Reserva Legal e de uso restrito da base de cálculo do 26 Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR), os recursos advindos pela cobrança pelo uso da água e a isenção de impostos (BRASIL, 2012). Para que as ações sejam executadas, é necessária a regulamentação do Artigo para indicação da forma operacional, a origem dos recursos, entre outras questões relevantes (FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO, 2019). Quanto à normativa federal específica para PSA, em 13/01/2021 foi sancionada a Lei 14.119/2021 que institui a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais (PNPSA), explicitando conceitos, objetivos, diretrizes e critérios para a execução da política, cuja gestão está atribuída ao Ministério do Meio Ambiente, órgão central do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), sendo destacados os seguintes itens (BRASIL, 2021): • Modalidades de pagamentos: I - direto, monetário ou não; II - prestação de melhorias sociais a comunidades rurais e urbanas; III - compensação vinculada a certificado de redução de emissões por desmatamento e degradação; IV - títulos verdes (greenbonds); V - comodato; VI - Cota de Reserva Ambiental (CRA), entre outras; • Programa Federal de Pagamento por Serviços Ambientais (PFPSA): objetiva remunerar as ações de manutenção, de recuperação ou de melhoria da cobertura vegetal nas áreas prioritárias para a conservação, de combate à fragmentação de habitats, de formação de corredores de biodiversidade e de conservação dos recursos hídricos; • Prioridades de contratação: comunidades tradicionais, povos indígenas, agricultores familiares e empreendedores familiares rurais, incluindo ainda, parcerias com cooperativas, associações civis e outras formas associativas; • Agentes financiadores: poder público, organização da sociedade civil, agente privado, pessoa física ou jurídica, de âmbito nacional ou internacional; • Modalidades de serviços elegíveis: I - conservação e recuperação da vegetação nativa, da vida silvestre e do ambiente natural em áreas rurais; II - conservação de remanescentes vegetais em áreas urbanas e periurbanas; III - conservação e melhoria da quantidade e da qualidade da água, especialmente em bacias hidrográficas com cobertura vegetal crítica importantes para o abastecimento humano e para a dessedentação animal ou em áreas sujeitas a risco de desastre; IV - conservação de paisagens de grande beleza cênica; V - recuperação e recomposição da cobertura vegetal nativa de áreas degradadas, por meio do plantio de espécies nativas ou por sistema agroflorestal; VI - manejo sustentável de sistemas agrícolas, agroflorestais e agrossilvopastoris; e VII - manutenção das áreas cobertas por vegetação nativa passíveis de supressão para uso alternativo do solo (grifo nosso); 27 • Áreas passíveis de recepcionar PSA: I - cobertas com vegetação nativa; II - sujeitas a restauração ecossistêmica, a recuperação da cobertura vegetal nativa ou ao plantio agroflorestal; III - unidades de conservação de proteção integral, reservas extrativistas e reservas de desenvolvimento sustentável (Lei Nº 9.985/2000); IV - terras indígenas, territórios quilombolas e outras legítimamente ocupadas por populações tradicionais; V - paisagens de relevante beleza cênica; VI - de exclusão de pesca; VII - prioritárias para a conservação da biodiversidade; • São elegíveis ainda: I – os imóveis privados rurais com Cadastro Ambiental Rural (CAR) e os urbanos em conformidadecom o plano diretor; II - Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) e as áreas das zonas de amortecimento e dos corredores ecológicos cobertas por vegetação nativa (Lei Nº 9.985/2000); III- Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal, preferencialmente aquelas situadas em bacias hidrográficas consideradas críticas para o abastecimento público de água ou em áreas prioritárias para conservação da biodiversidade em processo de desertificação ou avançada fragmentação; • Outras especificidades: I - o contrato pode ocorrer por termo de adesão; II – o pagamento depende de verificação e comprovação das ações de manutenção, de recuperação ou de melhoria da área objeto de contratação; III - fica vedado o pagamento com recursos públicos às pessoas físicas e jurídicas inadimplentes em relação a termo de ajustamento de conduta ou de compromisso firmado ou referente à área embargada pelos órgãos do SISNAMA; IV – o poder público fomentará assistência técnica e capacitação para a promoção dos serviços ambientais e para metodologias de valoração, de validação, de monitoramento, de verificação e de certificação, bem como de preservação e publicização das informações. No âmbito de alguns estados, conforme verificado no cenário nacional, tratativas referentes ao PSA estão inclusas em normativas que abordam temáticas diversas, a exemplo da lei sobre mudanças do clima de São Paulo e a política de conservação e revitalização de recursos hídricos do Rio de Janeiro (IMAZON e FGV, 2012; DE CASTRO et al., 2017; VIEIRA DOS REIS e ALVES DA SILVA, 2019). Entretanto, registram-se políticas específicas de PSA no Espírito Santo e Minas Gerais, em 2008; Acre e Santa Catarina, em 2010; Paraná, em 2012; Paraíba, em 2013; Bahia, em 2015; Pernambuco, em 2016 e Mato Grosso do Sul, em 2018 (IMAZON e FGV, 2012; VIEIRA DOS REIS e ALVES DA SILVA, 2019; SEMAGRO, 2020). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm 28 No cenário municipal, o Projeto Conservador de Águas, em execução no município de Extrema, em Minas Gerais, foi pioneiro no país em inaugurar a criação de uma legislação específica para PSA na modalidade hídrica (Lei No 2.100/2005) (PACHECO et al., 2017). Por sua vez, o bom desempenho do Programa Produtor de Água desenvolvido pela ANA desde 2005, tem contribuído para o fortalecimento da gestão ambiental local, com registros de 37 políticas municipais direcionadas ao PSA regulamentas no país (ANA, 2019a). Na Bahia, em que pese a aprovação da Lei Nº 13.233/2015, que institui a Política Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais e o Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais (PEPSA), ainda sem regulamentação, a ocorrência de experiências com PSA tem sido incipiente. Sendo o órgão executor a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA), na referida norma é possível destacar os seguintes aspectos (BAHIA, 2015): • Modalidades de serviços ambientais contemplados: (i) a proteção e manutenção de florestas nativas; (ii) o sequestro, a conservação, a manutenção e o aumento do estoque e a diminuição do fluxo de carbono; (iii) a conservação da biodiversidade; (iv) a conservação das águas e dos serviços de natureza hídrica; (v) a regulação do clima; (vi) a conservação e melhoramento do solo; (vii) a valorização cultural e do conhecimento tradicional ecossistêmico e ambiental; (viii) a formação ou melhoria de corredores ecológicos entre áreas legalmente protegidas e áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade; (ix) o fomento a ações de sensibilização e de educação ambiental para provedores e beneficiários de serviços ecossistêmicos e ambientais ou a sua execução direta ou indireta; dentre outras; • Subprogramas integrantes do PEPSA: (i) Captura e Sequestro de Carbono; (ii) Serviços Hidrológicos e; (iii) Serviços da Biodiversidade; • Público prioritário: especialmente povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares que prestam serviços ambientais; • Participação dos provedores de serviços ambientais no PEPSA: projetos públicos ou autônomos submetidos ao órgão executor (SEMA); • Sistema de Informação da Política Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais: agregar informações sobre os projetos públicos e autônomos participantes do PEPSA, áreas objeto do PSA e seus respectivos serviços ambientais, além da indicação sobre áreas potenciais para desenvolvimento de projetos de PSA; • Plano de Monitoramento e Verificação: objetiva comprovar o fornecimento dos serviços ambientais propostos nos projetos, como também avaliação do PEPSA; 29 • Financiamento do PEPSA: mediante recursos do Fundo de Recursos para o Meio Ambiente (FERFA) e o Fundo Estadual de Recursos Hídricos da Bahia (FERHBA), possibilitando que outras fontes de recursos possam ser definidas em Regulamento; • Fonte de Recursos: fundos públicos relacionados às mudanças climáticas, meio ambiente, recursos hídricos, dotações legais; contratos e convênios; doações de pessoas físicas ou jurídicas; cobrança pelo uso dos recursos hídricos e da Inspeção Ambiental Veicular. Como iniciativa pioneira em PSA Hídrico no território baiano, destaca-se o “Produtor de Água Pratigi-Ibirapitanga”, em execução no município de Ibirapitanga, região do Baixo Sul, mediante aprovação da Lei No 864/2014, que institui a Política Municipal de Pagamentos por Serviços Ambientais (PMPSA), cria o Programa Municipal de Pagamento por Serviços Ambientais (PROMPSA) e o Fundo Municipal de Pagamento por Serviços Ambientais (FMPSA), regulamentada pelo Decreto Municipal No 030/2015 (MOREIRA, 2018). Os municipios de Ituberá, Amélia Rodrigues, Alagoinhas e Vitória da Conquista criaram normativas que tratam de políticas públicas específicas de PSA, porém não há registros sobre a execução de iniciativas (DENDENEWS, 2015; PREFEITURA MUNICIPAL DE AMÉLIA RODRIGUES, 2016; PREFEITURA MUNICIPAL DE ALAGOINHAS, 2019; PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA DA CONQUISTA, 2020). Utilizando recursos do Edital 001/2015 do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) e, contemplando em uma de suas metas a elaboração de um Plano Regional de PSA, estão em execução dois projetos que visam a recuperação florestal no entorno de nascentes e faixas marginais dos mananciais que contribuem para os reservatórios da Região Metropolitana de Salvador (RMS) (MMA, 2015). Um dos projetos está sob a coordenação da Secretaria Estadual de Infraestrutura Hídrica e Saneamento (SIHS) e vem sendo executado junto às bacias hidrográficas dos rios Pojuca, Subaé e Paraguaçu, que drenam para a represa Pedra do Cavalo e, o outro sob a responsabilidade da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (EMBASA), atua nas bacias dos rios Joanes e Jacuípe, que contribuem para os reservatórios Joanes I e II e Santa Helena, na RMS (SIHS, 2017; EMBASA, 2015). 3.3 Arranjo Institucional e Econômico do PSA no Brasil Junto aos provedores dos serviços ambientais, os esquemas de PSA podem ser sustentados mediante a participação dos compradores privados, caracterizados pelos usuários dos serviços, pelo poder público ou ainda, a partir da formação de uma interação “hibrida”, 30 envolvendo o público e o privado (PAGIOLA, 2018). A Figura 2 ilustra a relação do mecanismo de PSA frente às diferentes modalidades de arranjos. Figura 2: Arranjos institucionais para os mecanismos de PSA MODALIDADE PRIVADA: a gestão dos arranjos é definida entre os compradores usuários e os provedores dos serviços ambientais, sendo propensa a ser mais eficiente, uma vez que conta com acompanhamento mais preciso da execução dos serviços por parte dos compradores (PAGIOLA et al., 2013). Entretanto, se caracteriza por ser de atuação mais tímida e com poucas iniciativas, com destaque para as realizadas pelas companhias de água e saneamento de Campo Grande (MS), Camboriú (SC), Guaratinguetá e Botucatu (SP), na proteção dos seus mananciais (INSTITUTO OIKOS DE AGROEOCOLOGIA,2015). PODER PÚBLICO COMO AGENTE FINANCIADOR: abrangendo as suas diversas instâncias, os parâmetros adotados são previamente definidos e estabelecidos em termos de referência, de acordo com as normativas legais e as modalidades do recurso financeiro. São exemplos, os programas estaduais Mina D’Água de São Paulo e o ProdutorES de Água do Espírito Santo, assim como diversos projetos executados pelas prefeituras municipais, a exemplo de Alta Floresta (MT), Campo Grande (MS), Extrema (MG), Nova Friburgo, Macaé (RJ), dentre outras (INSTITUTO OIKOS DE AGROEOCOLOGIA, 2015; ANA, 2020). Fonte: Adaptado a partir de Pagiola, 2018. 31 ARRANJOS PÚBLICO-PRIVADOS: De maneira geral, as iniciativas necessitam de mais de uma instituição para a sua condução, sendo esta a modalidade mais usual e predominante (INSTITUTO OIKOS DE AGROEOCOLOGIA, 2015). Verifica-se a ocorrência de esforços de gestão e no somatório de recursos provenientes de entidades privadas e do setor público, originando um fundo público privado, destacando-se o terceiro setor como importante mediador e apoiador técnico-institucional, além da participação dos comitês de bacias, como no caso do Projeto Produtor de Águas e Floresta na Bacia do Guandu (PRO-PSA) (RJ) e o Produtor de Água da Bacia PCJ (SP) (VEIGA e GAVALDÃO, 2011). Seja qual for a modalidade de arranjo a ser constituído, o importante é que se possa garantir a sustentabilidade econômica de longo prazo do projeto. Dessa forma, entre as fontes de recursos mais utilizados nas iniciativas de PSA, podem ser acessadas (ANA, 2012): • Dotação orçamentária própria: orçamentos de fundos de meio ambiente, específicos de PSA, de recursos hídricos, de mudanças climáticas, parcela do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) Ecológico; • Cobrança pelo uso ou exploração de recursos ambientais: royalties do petróleo, taxas sobre geração de energia, mineração, cobrança pelo uso de água; • Empréstimos ou doações provenientes de instituições públicas ou privadas: Fundo para o Meio Ambiente Global; Banco Mundial; Fundo da Amazônia; Fundações nacionais e internacionais, grandes empresas; • Mercados de ativos ambientais: com a comercialização de serviços ecossistêmicos bem definidos e lastreados em ativos originados a partir de projetos e programas certificados; • Termos de Ajustes de Conduta, compensação financeira, multas e compensação ambiental. Com o intuito de atingir os objetivos das iniciativas, o repasse de recursos é realizado por meio de contratos, acordos, convênios, termos de parceria ou outro instrumento. Acordos de Cooperação Técnica com prefeituras e estados, através de suas Secretarias de Meio Ambiente, sem repasse de recursos financeiros entre os partícipes, para capacitação, elaboração de estudos e fornecimento de ferramentas necessárias à estruturação e desenvolvimento de iniciativas de PSA, também são efetivados (FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO DE PROTEÇÃO À NATUREZA et al., 2017). Para melhor viabilizar suas ações, os projetos instituem a Unidade Gestora dos Projetos (UGP), formado por integrantes do arranjo institucional, em sua maior parte, tendo 32 como objetivo atuar junto à instituição coordenadora nos editais; avaliação das propostas e mecanismos de financiamento e identificação de fontes financeiras; fomentar capacitação; avaliar o desempenho dos projetos, dos resultados, da aplicação dos recursos; avaliar a sustentabilidade socioeconômica, visando garantir o fortalecimento e a continuidade das iniciativas (INSTITUTO OIKOS DE AGROEOCOLOGIA, 2015). A estrutura de governança do Programa Produtor de Água do Projeto Pipiripau, na bacia do Ribeirão Pipiripau, Distrito Federal, conta com os seguintes parceiros: Agência Reguladora de Águas e Saneamento do Distrito Federal (ADASA); ANA; Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB); The Nature Conservancy (TNC); Instituto Brasília Ambiental (IBRAM); Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Distrito Federal; Empresa de Assistencia Técnica e Extensão Rural (EMATER-DF); Universidade de Brasília, distribuídos por grupos de trabalho temáticos, conforme Figura 3. Figura 3: Estrutura de governança do Projeto Pipiripau, DF Fonte: Projeto Produtor de Água Pipiripau, 2020. 3.4 Construção de Sistemas de PSA Ao se debruçar sobre a análise de projetos que envolvem o mecanismo de PSA, constata-se a adoção de diferentes procedimentos metodológicos, em função da natureza da modalidade ao envolver, muitas vezes, articulações complexas, a exemplo de políticas e recursos públicos, com situações de campo adversas, além de contemplar provedores dos serviços ambientais com diferenças sociais e culturais, necessitando-se assim, que sejam procedidas as devidas adaptações às especificidades locais (CASTELLO BRANCO, 2015). 33 De acordo com Peralta (2014), para que o mecanismo venha a ser estabelecido, torna- se necessário, preliminarmente: i) Definir a modalidade do Programa; ii) Identificar o estado da questão (marco institucional, situação econômica, social, política e ambiental); iii) Definir as metas que deverão ser atingidas em um determinado período; iv) Definir como serão calculados os valores dos serviços ambientais que pretendem ser protegidos; v) Definir as categorias de gestão; vi) Identificar os possíveis provedores, beneficiários e os mecanismos de controle-condicionalidade; vii) Desenhar um mecanismo eficiente que permita captar recursos de financiamento para o Programa e; viii) Estabelecer mecanismos de avaliação do PSA (ex ante e ex post); ix) entre outros possíveis desafios iniciais. Na elaboração de um sistema PSA, Seehusen e Prem (2011) apresentam o resultado de uma experiência piloto conduzida no Peru, envolvendo a conservação, recuperação e o uso sustentável dos recursos naturais, cujo processo de desenvolvimento de PSA está formatado em três fases: diagnóstico, desenho e implementação, conforme Figura 4. Figura 4: Processo de elaboração e implementação de sistemas de PSA Fonte: Adaptado a partir de Seehusen e Prem, 2011. 3.4.1 Aspectos Técnicos dos Programas e Projetos de PSA O Manual Operativo do Programa Produtor de Água da ANA, destaca que os programas e projetos de PSA são implantados em determinada bacia hidrográfica baseados em critérios técnicos, sociais e econômicos, onde são adotadas as práticas conservacionistas, elencadas as parcerias, estabelecidos os instrumentos legais, selecionadas as propriedades rurais, remunerados os provedores, mediante a valoração dos serviços ambientais, a adoção de processos de acompanhamento e monitoramento, dentre outros (ANA, 2012). 34 Nesse contexto, no processo de condução dos projetos são encontrados vários formatos contemplando diversas etapas que, necessariamente não obedecem a uma ordem cronológica, tendo sido verificadas situações onde estas ocorrem simultaneamente (ANA, 2012). De forma sintética, a Figura 5 expressa uma sequência de etapas que normalmente vem sendo aplicada em projetos de PSA. Figura 5: Modelo básico de execução dos projetos de PSA Hídrico Fonte: ANA, 2012. 3.4.2 Elegibilidades para a seleção de intervenções com PSA Em se tratando de PSA hídrico, os critérios estabelecidos pelo Programa Produtor de Água da ANA e pelo Projeto Oásis da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza se traduzem como orientadores para a definição das bacias prioritárias (FIDALGO et al., 2017). O Manual Operativo do Programa Produtor de Água, ANA (2012), destaca que a elegibilidade de um projeto para ser contemplado deve priorizar a sub-bacia hidrográfica que atender pelo menos, a um dos critérios listados a seguir, considerando-se satisfatório, entretanto, aquela que atender ao maior número deles: a) Ser um manancial de abastecimento de água para uso urbano ou industrial; b) Ser um manancialde fornecimento de água para a geração de energia elétrica; c) Estar inserida em bacias hidrográficas que já tenham os instrumentos de gestão, previstos na Lei 9.443/97, implementados; d) Estar inserida em uma bacia hidrográfica cujo Plano de Recursos Hídricos identifique problemas de poluição difusa de origem rural, erosão e déficit de cobertura vegetal em áreas legalmente protegidas; Criar a Parceria envolvendo instituições relevantes Elaborar o diagnóstico Sócio- ambiental da bacia Fazer a valoração econômica do serviço ambiental Definir papéis e responsabilidades PSA suportado por arcabouço legal específico Fundos alocados para o PSA Engajar os proprietários rurais - Editalde Licitação - Celebração dos Contratos - Implantação das Ações - Metas verificadas ecertificadas - Pagamentos efetuados - Monitoramento Definir o valor do PSA 35 e) Ter um número mínimo de produtores rurais interessados que possa viabilizar a aplicação do Programa; f) Estar em situação de conflito de uso dos recursos hídricos; g) Estar sujeita a eventos hidrológicos críticos recorrentes. A partir de então, a seleção das propriedades rurais onde serão executadas as intervenções, se efetiva a partir de critérios constantes de edital de licitação, ou instrumento similar disponibilizado para a bacia hidrográfica objeto de intervenção, visando divulgar as regras de seleção e torná-las mais criteriosas, ao classificar as propriedades rurais por padrões técnicos (ANA, 2018a). Nesse aspecto, Fidalgo et al. (2017) apresentam os seguintes critérios de elegibilidade para seleção de áreas prioritárias para intervenção com PSA: Proporção de área natural ou proporção de área conservada; Proporção de APP conservada; Proporção de áreas de alta declividade; Proporção de áreas de alto risco de erosão; Proporção de diferentes usos da terra; Localização no entorno ou em áreas de unidades de conservação; Densidade de drenagem; Áreas de recarga hídrica; Número de nascentes; Prática de agricultura orgânica certificada; Desenvolvimento de agricultura familiar; Renda da propriedade; Participação em outros projetos já desenvolvidos. No que tange aos critérios atribuídos para a elegibilidade e prioridade na definição do público-alvo, analisando programas de PSA hídricos distribuídos no país, Coelho (2018) identificou as variáveis comumente atribuídas ao perfil e à situação de regularidade dos potenciais provedores dos serviços ambientais, estando assim elencadas: Ser caracterizado como agricultor familiar; Ser morador de Unidade de Conservação e entorno; Ser integrante de comunidades tradicionais; Ter sua principal economia exclusivamente para as atividades agropecuárias e; Ser integrante de Projetos de Assentados Rurais. Destaca ainda, que a maioria dos programas permite a participação de pessoas físicas e jurídicas na concorrência ao benefício, registrando-se iniciativas onde o PSA hídrico deva ser 36 destinado exclusivamente às pessoas físicas. No ato do cadastramento às propostas, os interessados devem apresentar documentação pessoal e não contar com pendências em cadastro de inadimplentes, com comprovação de regularidade fiscal e certidão negativa de débitos, aspectos também ressaltados em alguns dos programas (COELHO, 2018). 3.4.3 Modalidades de PSA Avaliando 42 Programas de PSA desenvolvidos no Brasil, Novaes (2014) destaca que a maioria, cerca de 55%, tiveram como foco principal os usos do solo voltados para a conservação e recuperação de cobertura vegetal nativa em áreas protegidas, notadamente as Áreas de Preservação Permanente, Reservas Legais e Unidades de Conservação, sobressaindo-se, entre estes, as iniciativas direcionadas à proteção aos recursos hídricos. Grande parte dos projetos de PSA hídrico em curso no país atribui valores financeiros à prática de conservação/restauração florestal e conservação do solo (CASTELLO BRANCO, 2015). Por sua vez, o Manual Operativo do Programa Produtor de Água contempla o apoio na execução das seguintes modalidades (ANA, 2012): I – Conservação de Solo: recompensar financeiramente o produtor rural que adote ou venha a adotar práticas de conservação de solo em sua área de agricultura e/ou pastagem; II – Restauração ou Conservação de APP e/ou Reserva Legal: recompensar financeiramente o produtor rural que restaurar ou conservar a vegetação da Reserva Legal e da Área de Preservação Permanente relacionadas às nascentes, cursos d’água, reservatórios, lagos e lagoas naturais; III – Conservação de remanescentes de vegetação nativa: recompensar financeiramente o produtor rural que proteger a vegetação nativa de sua propriedade, evitando alterar a cobertura vegetal nativa. Entretanto, considerando que o cenário referente ao saneamento básico tem se apresentado como situação crítica em parte representativa dos municípios brasileiros, ações relacionadas à temática estão sendo incorporadas em diversas iniciativas de PSA, visando recompensar financeiramente o produtor rural que executa ou venha a adotar práticas que visem o tratamento adequado ao abastecimento de água, dos efluentes domésticos e águas residuárias e ainda, a disposição dos resíduos sólidos das propriedades rurais (SANTOS et al., 2013; SAAE, 2018; PREFEITURA MUNICIPAL DE IBIRAPITANGA, 2019a). Ressalta-se que as diferentes modalidades previstas nos projetos de PSA irão direcionar os valores para remuneração aos provedores dos serviços ambientais. 37 3.4.4 Processo de Habilitação e Certificação No Programa Produtor de Água da ANA, a seleção dos Projetos Individuais das Propriedades (PIP) é realizada mediante critérios que priorizam aqueles que, tendo como indicadores diretos a redução da erosão e a melhoria da infiltração de água proporcionam maiores benefícios ambientais. Após a seleção, ocorre a contratação dos projetos e os provedores de serviços ambientais podem ser remunerados simultaneamente pela conservação de solo e água, recuperação e/ou preservação da vegetação natural (ANA, 2012). Conforme acordo estabelecido em contrato, a certificação das ações realizadas na propriedade rural se apresenta como pré-requisito para que ocorra a remuneração pelos serviços ambientais, sendo efetivada mediante as seguintes etapas (ANA, 2012): • O produtor participante solicita, em datas pré-estabelecidas no contrato, a vistoria de certificação do abatimento de erosão, ampliação e preservação de áreas florestadas existentes; • O contratante, mediante a UGP ou órgão credenciado, vistoria a propriedade e prepara um laudo técnico, onde devem constar informações que indiquem, objetivamente, o grau de atingimento das metas estabelecidas no contrato; • Atingido o critério contratual mínimo, o contratante realiza a respectiva remuneração e, do contrário, o produtor pode estar sujeito às penalidades contratuais. 3.4.5 Processo de Monitoramento Esta etapa representa uma lacuna nas iniciativas de PSA, uma vez que, na prática, poucos projetos contam com sistemas de monitoramento funcionando plenamente (CASTELLO BRANCO, 2015). Além de dificuldades financeiras e técnicas, os resultados das ações realizadas visando a conservação ambiental não são perceptivos em curto prazo, especialmente quando se trata de parâmetros relacionados à qualidade e disponibilidade hídrica, além de outras variáveis hidrológicas da bacia, incluindo-se, além destes, aqueles referentes às mudanças nos padrões de cobertura e uso do solo e nas condições socioeconômicas dos provedores (INSTITUTO OIKOS DE AGROEOCOLOGIA, 2015). Os projetos devem identificar uma linha de base a partir da qual possa ser avaliado e monitorado o impacto das ações de conservação sobre os recursos hídricos, assim como as outras tendências de mudança de uso e ocupação do solo, paraque possa ser comparada no tempo, mesmo que no longo prazo (VEIGA e GAVALDÃO, 2011; GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO et al., 2015). 38 Nos programas de PSA Hídricos no território brasileiro, avaliados por Novaes (2014), cerca de 56% apresentaram resultados de monitoramento da qualidade e da quantidade de água, porém, se constata nessas iniciativas, a adoção de diferentes padrões de avaliação vinculados às finalidades de cada projeto e aos aspectos territoriais, uma vez que não se tem definido o conteúdo mínimo dos planos de monitoramento de PSA (FIORE et al., 2017). Quanto ao monitoramento dos dados hidrológicos, primordiais na avaliação do sucesso de projetos de PSA, Matsuoka (2019) ao analisar as experiências de Extrema (MG), Camboriú (SC) e de Catskill-Delaware, em Nova York, apresenta as seguintes interpretações: • Nos projetos de Extrema e Camboriú, os dados hidrológicos são coletados pela ANA, passando a integrar o Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SINRIH), sendo utilizados para avaliar as condições de cada bacia hidrográfica e subsidiar processos decisórios junto aos comitês de bacia. Nesses dois casos, não foram encontradas evidências de utilização dos dados hidrológicos para monitorar a efetividade das atividades executadas e avaliar se as mudanças dos parâmetros foram influenciadas pelos projetos. • No caso de Nova York, que objetiva melhorar a qualidade da água das bacias Catskill-Delaware, o monitoramento dos dados hidrológicos é considerado um dos alicerces para o sucesso do projeto, tendo sido realizado com freqüência a avaliação da qualidade hídrica, tanto na bacia quanto nos diversos pontos de distribuição da água na cidade. 3.5 Metodologias Aplicadas na Valoração de PSA O emprego das metodologias de valoração, aliado à definição de critérios de elegibilidade para a seleção das propriedades e produtores beneficiários das iniciativas de PSA se apresentam como etapas primordiais (COELHO, 2018). Não é recomendado atuar com rigor na adoção de metodologias de valoração de serviços ambientais, assim como no direcionamento para a adoção de modelos únicos definidos nas políticas públicas de PSA, mas que sejam conduzidas considerando as particularidades socioambientais das regiões e das áreas de intervenção (FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO DE PROTEÇÃO À NATUREZA et al., 2017). Dentro dos arranjos de PSA, a compensação aos provedores dos serviços ambientais representa valores da ordem de 5 a 25% do custo total de implantação e transação dos projetos, não se constituindo, portanto, no custo mais elevado das iniciativas, nem o mais significativo benefício para os provedores, ficando as práticas de serviços ambientais com as maiores demandas dos recursos (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO et al., 2015). 39 Nesse aspecto, tem-se observado nas experiências de PSA no país, inclusive hídricas, intensa variedade de métodos e de diferentes parâmetros de referência, assim como nas suas formas de ressarcimento onde, além da remuneração financeira, alguns programas incorporam meios considerados “não monetários” para efetuarem os pagamentos (BRANT, 2011). Nessa abordagem, em grande parte dos projetos são considerados alguns critérios: a recompensa de forma diferenciada para propriedades que contam com melhor estado de conservação de suas áreas naturais, solos e águas; a extensão de áreas disponibilizadas pelos proprietários e produtores para ações de PSA; o estabelecimento de valores-limite de PSA por unidade territorial e também por propriedade, além do tempo de duração total dos projetos (INSTITUTO OIKOS DE AGROEOCOLOGIA, 2015). Avaliando iniciativas de PSA Hídrico no país, Coelho (2018), diferenciou onze grupos de metodologias adotadas para valoração dos serviços ambientais, cujas características estão sintetizadas no Quadro 2. Entretanto, em que pese essa variabilidade, as metodologias do Projeto Oásis, da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e o Programa Produtor de Água da ANA, têm se caracterizado como as mais aplicadas em PSA (YOUNG, 2016). Quadro 2: Metodologias adotadas para valoração dos serviços ambientais em PSA Hídrico METODOLOGIAS CARACTERÍSTICAS ANA (Programa Produtor de Água) Os pagamentos aos beneficiários são proporcionais ao abatimento de sedimentação dos corpos d'águas, por meio do cálculo do Percentual de Abatimento de Erosão (PAE), que incorpora variáveis do manejo e uso do solo. Oásis (Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza) Aplica critérios de qualificação ambiental, atribuindo pesos e importâncias diferenciadas para aspectos distintos das áreas selecionadas. Bolsa Verde (MG) Uso de valor fixo anual pela prestação de serviços ambientais PROMATA (MG) Uso de valor fixo anual pela prestação de serviços ambientais, considera fatores físicos ambientais e socioeconômicos para priorizar as propriedades. Ecocrédito (MG) Incentiva o proprietário rural a delimitar áreas para preservação ambiental, sendo a remuneração via Unidade Padrão Fiscal Municipal (UPFM), a ser aplicado na quitação de tributos locais. Mina d'Água (SP) Remunera os proprietários rurais na proteção de nascentes, em áreas de abastecimento. Considera o estado de conservação e a localização na bacia. ProdutorES e Reflorestar (ES) Incentiva os produtores rurais a conservar ou restaurar a cobertura florestal da propriedade a para proteção do solo. A remuneração considera o estágio de regeneração da cobertura florestal e a topografia do terreno (potencial erosivo). Bolsa Floresta (AM) e Bolsa Verde (âmbito nacional) Não exclusivo para água, incorporando a valoração em outros serviços. O PSA é prioritário no desenvolvimento social e na melhoria da qualidade de vida de grupos sociais de baixa renda. Utilizam valor fixo para pagamento. Própria Utilizam metodologias particulares Fonte: Adaptado a partir de Coelho, 2018. 40 O Guia para Formulação de Políticas Públicas de PSA agrupa as principais formas para determinação dos valores das negociações dos programas de PSA, de forma geral, em cinco tipologias: a) Cálculo do Custo de Oportunidade; b) Percentual de Abatimento de Erosão das práticas de conservação de solo; c) Cálculo a partir do indexador Unidade de Valor Fiscal (UVF) e de fórmulas que levam em consideração outros fatores; d) Cálculo baseado na qualidade biótica da vegetação e na região fitogeográfica e; e) Um arranjo destas (FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO DE PROTEÇÃO À NATUREZA et al., 2017). CUSTO DE OPORTUNIDADE: caracterizado como o mais utilizado na definição de valoração em programas de PSA no Brasil (BRANT, 2011). A sua aplicabilidade é verificada à medida que os prestadores dos serviços ambientais disponibilizam suas áreas produtivas para restauração ambiental ou dispensam da exploração novas áreas da sua propriedade para manter os recursos naturais protegidos e, consequentemente, garantir a continuidade da produção dos serviços ecossistêmicos (ALEXANDRE, 2015). Entende-se a partir de então, que o ganho econômico do proprietário da terra que adota atividades que mantém e provêm serviços ambientais, deve tornar-se mais atrativo economicamente do que as alternativas dominantes, compensando o custo de oportunidade da terra (GUEDES e SEEHUSEN, 2011). Considerando essa abordagem, quanto mais baixo for o custo de oportunidade ou, mesmo, quando este custo é basicamente nulo, maiores serão as oportunidades de sucesso de um programa de PSA (ANA, 2012). No Sistema Guandu, principal fonte de abastecimento de água para Região Metropolitana do Rio de Janeiro, estudos de PSA apresentam um custo de oportunidade da terra de R$ 400,00/ha/ano, equivalente ao arrendamento para pecuária (R$ 35,00/cabeça/mês, com uma taxa de lotação de R$ 0,954 cabeça/ha), ficando substituído, a partir de então, o custo de oportunidade para o valor equivalente ao PSA que vem sendo cotado
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