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Amanda do Nascimento MED XXV EPIDEMIOLOGIA CLÍNICA: ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO ➔ É um estudo EXPERIMENTAL: é realizado algum tipo de intervenção. ➔ É o estudo com o segundo maior nível de evidência, ficando atrás apenas das revisões sistemáticas (as quais fazem uma análise de todos os estudos disponíveis na área). o Nível de evidência: avalia a confiabilidade dos resultados apresentados em um estudo. o O ECR tem muita confiabilidade, é mais sensível e representativo. ESTUDOS DE INTERVENÇÃO = EXPERIMENTAIS: ➔ “Estudo de intervenção” é sinônimo de “estudo experimental”. ➔ Pesquisador manipula o fator de exposição, o qual corresponde a intervenção. Isto é, provoca uma modificação intencional em algum aspecto do estado de saúde, através da introdução de um esquema profilático (exemplo: vacina) ou terapêutico (exemplo: hipoglicemiante). ➔ São classificados de acordo com a unidade de análise: o Indivíduos → ensaios clínicos. o Comunidades → ensaios de comunidade. DEFINIÇÃO ECR: ➔ É um estudo PROSPECTIVO, em SERES HUMANOS, que compara o efeito e o valor de uma intervenção com controles. o O efeito pode ser positivo ou negativo, eficiente ou não. o Posteriormente, deve ser avaliado o valor. o Portanto, efeito e valor são conceitos diferentes. ➔ Características do estudo: o Devem ser controlados. o Além disso, a população deve ser HOMOGÊNEA. o Deve haver alocação aleatória do fator de intervenção = RANDOMIZAÇÃO: ▪ Grupo experimental e controle são formados por um processo aleatório de decisão. Ou seja, um indivíduo deve ter a mesma chance de participação do grupo controle ou do grupo de intervenção. ▪ Objetivo: fazer com que variáveis que possam influenciar no desfecho em estudo sejam distribuídas de forma homogênea, tornando os grupos comparáveis. Evita a ocorrência de vieses. TIPOS DE RANDOMIZAÇÃO: ➔ SIMPLES: Amanda do Nascimento MED XXV o É a mais empregada. o Participantes são alocados diretamente nos grupos, sem etapas intermediárias. o É feito por meio de sorteios: programas de computador ou tabela de números aleatórios. ➔ BLOCO: o Formação de blocos de número fixo de indivíduos, de igual tamanho, dentro dos quais são distribuídos os tratamentos em questão bloco por bloco, até que termine o processo de alocação dos participantes da pesquisa. o É muito utilizado para analisar o exercício físico. ➔ PAREADA: o São formados pares de participantes (com características semelhantes) e a alocação aleatória é feita no interior do par, de tal forma que um indivíduo receba o tratamento em estudo e, o outro, o controle. o Exemplo: 2 mulheres de mesma faixa etária e com a mesma comorbidade. Posteriormente, pode-se realizar sorteio para ver qual que vai para cada grupo. ➔ ESTRATIFICADA: o São formados inicialmente estratos com características que possam interferir no desfecho em estudo (exemplo: idade, sexo, estadiamento do tumor) e a alocação aleatória é feita dentro de cada estrato para aumentar a chance de grupos balanceados quanto a esses fatores. ➔ MINIMIZAÇÃO: o Randomização simples. o Geralmente é feita no meio do estudo. o É responsável por minimizar as diferenças entre os grupos. o Após alguns indivíduos serem alocados, as características dos grupos são analisadas e os cálculos são refeitos. Dessa forma, se for necessário, são realizadas novas alocações para diminuir as diferenças que forem detectadas ou para manter o equilíbrio já alcançado. o Exemplo: o grupo controle tem pessoas mais velhas do que o grupo de intervenção. Dessa forma, os próximos indivíduos jovens que entrarem vão para o grupo controle. - Participantes potenciais → são convidados a participar do estudo. A participação no estudo de ensaio clínico deve ser VOLUNTÁRIA. - NÃO pode existir qualquer tipo de benefício/ recompensa para os participantes do estudo. - Os indivíduos que aceitam o convite são considerados participantes, os quais irão ser sorteados para ver quem irá participar do grupo de tratamento e do grupo de controle. Amanda do Nascimento MED XXV EFICÁCIA: ➔ Refere-se ao resultado de uma intervenção realizada sob condições IDEIAIS, bem controladas → trabalha-se com uma população controlada em um ambiente controlado. ➔ É quando o ECR é realizado em “centros de excelência”. EFETIVIDADE: ➔ Refere-se ao resultado de uma intervenção aplicada sob as condições HABITUAIS da prática médica, que incluem as imperfeições de implementação que caracterizam o mundo cotidiano. ➔ Exemplo: vacina do COVID → tecnologia já era conhecida. Dessa forma, não era necessário retornar para as fases iniciais de pesquisa. Devido a isso, foi direto para o ensaio clínico randomizado para verificar a segurança e a eficácia. Atualmente, pode-se afirmar que as vacinas são efetivas, visto que há comprovação da redução da mortalidade e de casos graves, sem ocasionar efeitos colaterais significativos. FASES DA PESQUISA: ➔ FASE PRÉ-CLÍNICA: o Realiza a caracterização química de uma medicação. o Realiza estudos bioquímicos. o Realiza estudos em modelos animais e/ou em culturas de células. ➔ FASE CLÍNICA: estudos com seres humanos. o FASE 1: ▪ Realiza avaliação da TOLERABILIDADE. ▪ São utilizadas doses crescentes de medicamento, para ajustar a dose ideal e a concentração sérica do fármaco. ▪ É feito com poucos indivíduos → 10 a 30 pessoas. ▪ Testa a SEGURANÇA. o FASE 2: ▪ Realiza a avaliação da ATIVIDADE. ▪ São utilizadas doses fixas do medicamento. ▪ É feito com um número maior de indivíduos → 30 a 100 participantes. ▪ Testa a SEGURANÇA. o FASE 3: ▪ Realiza a comparação do novo tratamento com o tratamento padrão. ▪ Randomização para dois ou mais grupos. ▪ É feito com centenas a milhares de indivíduos. ▪ Testa SEGURANÇA + EFICÁCIA. Esta fase seria o ensaio clínico em si. o FASE 4: ▪ Fase de vigilância pós comercialização: monitoramento dos efeitos adversos e estudos adicionais, em larga escala, em longo prazo, de morbidade e mortalidade. ▪ NÃO são ensaios clínicos randomizados. TAMANHO DA AMOSTRA: ➔ Quanto menor for o efeito estimado, maior será a população necessária para o estudo. Quanto maior for o efeito estimado, menor deve ser a população estudada. ➔ Critérios para a determinação do tamanho da amostra: o Qual o principal objetivo do ensaio. Exemplo: verificar se aspirina tem valor em prevenir a morte pós- infarto verificar se previne reinfarto se previne morte e reinfarto. o Qual a principal medida de desfecho. Exemplo: morte por qualquer causa durante o primeiro mês após o tratamento de morte por causa cardiovascular. o Como os dados serão analisados para que seja detectada uma diferença de tratamento. o Que tipos de resultados são antecipados com o tratamento padrão. Exemplo: espera-se que 10% dos pacientes no grupo controle morram no primeiro mês após o tratamento. Amanda do Nascimento MED XXV o Qual a menor diferença de tratamento considerada importante para ser detectada e com que grau de precisão. HIPÓTESES: ➔ Uma hipótese estatística é uma afirmação ou conjectura sobre um parâmetro da distribuição de uma variável aleatória. ➔ Hipótese nula: afirmação ou conjectura sobre o parâmetro contra a qual estaremos buscando evidência nos dados amostrais. ➔ Hipótese alternativa: afirmação ou conjectura sobre o parâmetro que esperamos ser verdadeira. ➔ Testar uma hipótese estatística é estabelecer uma regra que nos permita, com base na informação de uma amostra, decidir pela rejeição ou não da hipótese nula. ➔ Será que a nossa conclusão está correta? o Ao decidir pela rejeição ou não da hipótese nula H, podemos cometer dois tipos de erros: ▪ Erro tipo 1 → rejeitar a hipótese, dado que essa hipótese é verdadeira (“falso negativo”). ▪ Erro tipo 2 → não rejeitar a hipótese, dado que essa hipótese é falsa (“falso positivo”). o As probabilidades de ocorrência destes dois tipos de erros são: ▪ =probabilidade de se cometer o Erro Tipo I → nível de significância. ▪ = probabilidade de se cometer o Erro Tipo II → poder. o ANALOGIA: o erro tipo I seria julgar o réu culpado, quando na realidade é inocente. O erro tipo II seria julgar o réu inocente, quando na realidade é culpado. ORGANIZAÇÃO, PLANEJAMENTO E MONITORAMENTO DO ENSAIO: ➔ Quais são os pacientes elegíveis: isso é estabelecido através de critérios de inclusão e exclusão bem definidos. ➔ Que tratamento está sendo avaliado. ➔ Quais são os desfechos de interesse a serem analisados. ➔ Como a resposta de cada paciente será verificada. TIPOS DE ANÁLISE: ➔ Pode ser feita de duas formas principais: o Entre aqueles que de fato completaram o tratamento em cada um dos grupos. o Ou então, segundo a “intenção de tratar”, na qual são incluídos todos os que foram randomizados para formar os grupos, independente de terem ou não completado o tratamento. ▪ Garante a manutenção dos grupos aleatórios e avalia o tratamento do mundo real com as suas imperfeições. Amanda do Nascimento MED XXV ▪ Porém é importante saber o porquê da interrupção do tratamento e se houve cruzamento entre os grupos, e a dimensão desses fatos, pois se for muito grande poderá introduzir um viés. MASCARAMENTO/ CEGAMENTO: ➔ Evita critérios subjetivos na avaliação dos resultados, pelo médico ou pelo próprio paciente. ➔ Simples: apenas o paciente é cegado. ➔ Duplo: paciente + investigador assistente são cegados. ➔ Triplo: além do paciente e do médico assistente, outro observador que irá interpretar os resultados deve ser cegado (um patologista que irá analisar as biópsias, por exemplo, ou um radiologista que irá classificar radiografias). ➔ Nem sempre é possível realizar o mascaramento. Exemplo: tratamento clínico vs tratamento cirúrgico → é um ensaio aberto. PLACEBO: ➔ Substância de aparência, forma e administração semelhante ao tratamento que está sendo avaliado, porém sem ter o princípio ativo da mesma. DESENHO: ➔ Desenho em PARALELO: cada grupo de participantes é exposto a apenas umas das intervenções estudadas. Ou seja, o grupo A vai acontecendo em paralelo com o grupo B. ➔ Desenho FATORIAL: efeitos de vários fatores são verificados em um único ensaio. o A vs B vs A +B vs CONTROLE o São comparados para verificar qual que tem mais efeito. ➔ CROSSOVER: são feitas comparações sequenciais no mesmo paciente, no qual cada paciente receberá mais de um tratamento de forma alternada. o Permite que cada participante aja como seu próprio controle. o Ou seja, primeiro um grupo é submetido a uma determinada intervenção e outro grupo a outra intervenção. Depois os dois grupos trocam. VIESES: ➔ Processo de seleção dos grupos. ➔ Alocação do tratamento. ➔ Perda de seguimento e não cooperação de participantes → devem ser sempre mencionadas, principalmente se diferentemente distribuídas entre os grupos tratado e controle. ➔ Viés de aferição: resulta de diferenças sistemáticas no modo que os dados sobre o evento de interesse são obtidos dos vários grupos de estudo. ➔ Viés de publicação: tendência a serem publicados os estudos com resultados positivos. ➔ Estratégias para minimizar: o Randomização = aleatorização: sorteio. Não pode haver nenhum tipo de aumento na probabilidade de algum indivíduo participar do grupo caso ou controle. o Cegamento = blinding: indivíduo participante e/ou pesquisador não sabem se ele está recebendo o tratamento teste ou o tratamento tradicional. VANTAGENS DO ECR: ➔ Considerado como padrão-ouro para análise de intervenções terapêuticas. ➔ Os grupos em estudo diferem somente pelo fator de intervenção. Portanto, há inferência direta na causalidade. ➔ Idealmente, consegue controlar viés de seleção e fatores de confusão que possam influenciar no resultado do estudo. LIMITAÇÕES: ➔ São estudos caros e demorados. ➔ Nem sempre factíveis por aspectos éticos. ➔ A ausência de cegamento, principalmente quando não pode ser aplicado, pode influenciar diretamente o resultado do estudo. ➔ Sujeito a perda de acompanhamento dos pacientes. Amanda do Nascimento MED XXV ➔ Geralmente avaliam cenários específicos de doença. ➔ Frequentemente realizados em cenário acadêmico, limitando generalização dos dados. ECR NA PRÁTICA: ➔ Exemplo 1: ✓ Os dados foram extraídos de um ensaio clínico controlado em que se alocou aleatoriamente 838 pacientes esquizofrênicos hospitalizados, de ambos os sexos, em dois grupos: clorpromazina e placebo. Os pacientes foram acompanhados por 24 semanas. Avaliado o agravamento dos sintomas psicóticos. Piora dos sintomas psicóticos: Sem piora dos sintomas psicóticos: Total: Clorpromazina 37 379 416 Placebo 70 142 212 Total: 107 521 628 ➔ RISCO RELATIVO (RR): taxa calculada com base na relação entre o risco tratável e o risco não tratável. o Risco no grupo tratado = 37/416 = 0,089 = 8,9% o Risco no grupo controle = 70/212 = 0,33 = 33% o Risco relativo = 8,9 = 0,27. 33 o INTERPRETAÇÃO → o grupo de pacientes com esquizofrenia que fez uso de clorpromazina apresentou um risco cuja magnitude equivale a 27% do risco encontrado para os pacientes que fizeram uso de placebo. Isto é, a magnitude do risco no grupo que recebeu clorpromazina foi de aproximadamente ¼ da magnitude do risco no grupo placebo. ➔ REDUÇÃO RELATIVA DE RISCO (RRR) = EFICÁCIA: representa a redução relativa do risco obtida com a intervenção. Isto é, redução percentual de eventos no grupo tratado (RT) em relação aos controles (RC). o RRR ou Eficácia = (1 - 0,27) x 100 = 73%. o INTERPRETAÇÃO → daqueles que foram tratados, 73% possuíram eficácia no tratamento. Ou seja, o uso da clorpromazina reduziu em 73% o risco de piora de pacientes ➔ EXCESSO RELATIVO DE RISCO (ERR): é utilizado quando o tratamento provocar um aumento do risco de algum evento. o No mesmo estudo, o risco de distonia foi de 5% nos usuários de clorpromazina contra 2% no grupo com placebo, levando a um risco relativo de 2,5. ▪ ERR = (2,5-1) x 100 = 150%. ▪ INTERPRETAÇÃO → a clorpromazina elevou em 150% o risco de distonia em comparação com o grupo que recebeu placebo. RR = risco no grupo TRATADO risco no grupo CONTROLE RRR = (1 – RR) X 100 ERR = (RR-1) x 100 Amanda do Nascimento MED XXV ➔ REDUÇÃO ABSOLUTA DE RISCO (RAR): representa a redução, em termos absolutos, do risco no grupo que sofreu a intervenção de interesse, em relação ao grupo controle. o RAR = (0,33-0,089) x 100 = 24,1% ➔ NÚMERO NECESSÁRIO PARA TRATAR (NNT): representa o número de pacientes que precisa tratar para se prevenir um evento indesejado (ex: morte, recaída). O NNT é calculado como o inverso da RAR. o NNT = 1 / 0,241 o Previne-se um caso de piora dos sintomas psicóticos em cada quatro pacientes com esquizofrenia que fazem uso de clorpromazina. RESUMINDO: RAR = [R(c) – R(t)] x 100 NNT = 1 / RAR
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