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20/10/2021 Isabela Leal – Ventilação Um único ciclo respiratório consiste em uma inspiração seguida por uma expiração. Os volumes pulmonares mudam durante a ventilação. Os fisiologistas e médicos avaliam a função pulmonar de uma pessoa medindo quanto ar ela move durante a respiração em repouso, e depois em esforço máximo. Estes testes de função pulmonar usam um espirômetro, um instrumento que mede o volume de ar movido a cada respiração. Atualmente, a maioria dos espirômetros em uso clínico são pequenas máquinas computadorizadas, em vez do espirômetro tradicional. Quando uma pessoa é conectada ao espirômetro tradicional por um bocal, e seu nariz é fechado com um grampo, o trato respiratório da pessoa e o espirômetro formam um sistema fechado. Quando a pessoa inspira, o ar move-se do espirômetro para dentro dos pulmões, e a pena de registro, a qual traça um gráfico em um cilindro que gira, move-se para cima. Quando a pessoa expira, o ar move-se dos pulmões de volta para o espirômetro, e a pena de registro move-se para baixo. Volumes Pulmonares O ar movido durante a respiração pode ser dividido em quatro volumes pulmonares: (1) Volume corrente; (2) Volume de reserva inspiratório; (3) Volume de reserva expiratório; (4) Volume residual. Os volumes pulmonares variam consideravelmente com a idade, o sexo, a altura e o peso, e, assim, os médicos usam algoritmos com base nesses parâmetros para calcular os volumes pulmonares. “Respire calmamente.” O volume de ar que se move durante uma única inspiração ou expiração é denominado volume corrente (Vc). O volume corrente médio durante uma respiração espontânea (ventilação basal) é de cerca de 500ml. É difícil respirar normalmente quando a pessoa está pensando sobre a sua respiração, por isso o examinador pode não dar essa instrução. “Agora, no final de uma inspiração tranquila, você deve inspirar o máximo de ar adicional que for possível.” O volume adicional inspirado, acima do volume corrente, representa o seu volume de reserva inspiratório (VRI). 20/10/2021 Isabela Leal Em um homem de 70kg, este volume é de cerca de 3000ml, aproximadamente seis vezes mais do que o volume corrente normal. “Agora, pare no final de uma expiração normal e, em seguida, expire tanto ar quanto for possível.” Essa quantidade de ar expirado vigorosamente após o final de uma expiração espontânea é o volume de reserva expiratório (VRE), que é, em média, cerca de 1100ml. O quarto volume não pode ser medido diretamente. Mesmo se você soprar o máximo de ar que puder, ainda restará ar nos pulmões e nas vias aéreas. O volume de ar presente no sistema respiratório após a expiração máxima – cerca de 1200ml – é chamado de volume residual (VR). A maior parte desse volume residual existe porque os pulmões são mantidos estirados aderidos pelo líquido pleural às costelas. Capacidades Pulmonares O somatório de dois ou mais volumes pulmonares é chamado de capacidade. A capacidade vital (CV) é a soma do volume de reserva inspiratório, volume de reserva expiratório e volume corrente. A capacidade vital represente a quantidade máxima de ar que pode ser voluntariamente movida para dentro ou para fora do sistema respiratório a cada respiração (ciclo ventilatório). Ela diminui com a idade, quando os músculos enfraquecem e os pulmões se tornam menos elásticos. Para medir a capacidade vital, a pessoa que está sendo testada inspira o máximo de volume possível e, em seguida, expira tudo o mais rápido que puder. Esse teste de capacidade vital forçada permite que o médico possa medir o quão rápido o ar deixa as vias aéreas no primeiro segundo da expiração, uma medida conhecida como VEF1, ou volume expiratório forçado em 1 segundo. O VEF1 diminui em certas doenças pulmonares, como a asma, e também com a idade. A capacidade vital somada ao volume residual é a capacidade pulmonar total (CPT). Outras capacidades importantes são a capacidade inspiratória (volume corrente + volume de reserva inspiratório) e a capacidade residual funcional (volume de reserva expiratório +volume residual). Ventilação e Pressões O ar flui devido ao gradiente de pressão. A respiração é um processo ativo que requer contração muscular. O ar flui para dentro dos pulmões devido ao gradiente de pressão criado por uma bomba. No sistema respiratório, os músculos da caixa torácica e o diafragma funcionam como uma 20/10/2021 Isabela Leal bomba, uma vez que a maior parte do tecido pulmonar é um fino epitélio de troca. Quando esses músculos se contraem, os pulmões expandem-se, uma vez que estão presos à parede interna do tórax pelo líquido pleural. Os músculos primários envolvidos na respiração espontânea (respiração em repouso) são o diafragma, os intercostais externos e os escalenos. Durante a respiração forçada, outros músculos do tórax e do abdômen podem ser requisitados a auxiliar. O fluxo de ar no trato respiratório obedece às mesmas regras do fluxo sanguíneo: Esta equação significa que o fluxo de ar ocorre em resposta a um gradiente de pressão (ΔP) e o fluxo diminui à medida que a resistência (R) do sistema ao fluxo aumenta. A inspiração ocorre quando a pressão alveolar diminui. Para que o ar possa se mover para dentro dos alvéolos, a pressão dentro dos pulmões deve ser mais baixa do que a pressão atmosférica. De acordo com a lei de Boyle, um aumento no volume gera uma redução na pressão. Durante a inspiração, o volume torácico aumenta quando certos músculos esqueléticos da caixa torácica e o diafragma se contraem. Quando o diafragma contrai, ele desce em direção ao abdômen. Na respiração tranquila, o diafragma move-se cerca de 1,5cm, aumentando o volume torácico. A contração do diafragma causa de 60% a 75% da modificação do volume inspiratório durante uma respiração espontânea normal. O movimento da caixa torácica cria os 25% a 40% restantes da modificação do volume. Durante a inalação, os músculos intercostais externos e escalenos contraem e tracionam as costelas para cima e para fora. O movimento das costelas durante a inspiração tem sido comparado a uma ação de alavanca, que eleva toda a caixa torácica (as costelas movem-se para cima e para longe da coluna). E também com um movimento de alça de balde, uma vez que há um aumento da distância lateral entre as paredes do balde (as costelas movem- se para fora). 20/10/2021 Isabela Leal A combinação desses dois movimentos amplia a caixa torácica em todas as direções. À medida que o volume torácico aumenta, a pressão diminui, e o ar flui para dentro dos pulmões. Por muitos anos, a respiração espontânea ou basal foi atribuída somente à ação do diafragma e dos músculos intercostais externos. Pensava-se que os músculos escaleno e esternocleidomastóideo eram ativos apenas durante a respiração profunda. Entretanto, dados recentes têm mudado nosso entendimento de como esses músculos acessórios contribuem para a respiração basal. A inspiração e alterações na pressão alveolar. É importante interpretar os gráficos para entender todo o processo. Lembre-se que a pressão atmosférica recebe o valor de 0 mmHg. Números negativos designam pressões subatmosféricas, e números positivos denotam pressões maiores do que a atmosférica. Tempo 0 -> Na breve pausa entre as respirações, a pressão alveolar é igual à pressão atmosférica (0mmHg no ponto A1). Quando as pressões são iguais, não há fluxo de ar. Tempo 0 a 2 segundos: inspiração. Quando a inspiração inicia, os músculos inspiratórios contraem, e o volume torácico aumenta. Com o aumento do volume, a pressão alveolar diminui cerca de 1mmHg abaixo da pressão atmosférica (1mmHg, ponto A2), e o ar flui para dentro dos alvéolos (ponto C1 a C2). A mudança do volume torácico ocorre mais rapidamente do que a velocidade do ar fluindo para dentro dos pulmões, e, assim, a pressãoalveolar atinge o seu valor mais baixo no meio do processo de inspiração (ponto A2). Como o ar continua a fluir para dentro dos alvéolos, a pressão aumento até a caixa torácica parar de expandir-se, imediatamente antes do término da inspiração. O movimento do ar continua por mais uma fração de segundo, até que a pressão dentro dos pulmões se iguala à pressão atmosférica (ponto A3). Ao término da inspiração, o volume pulmonar está no seu valor máximo no ciclo respiratório (ponto C2), e a pressão alveolar é igual à pressão atmosférica. A expiração e alterações na pressão alveolar. A expiração ocorre quando a pressão alveolar aumenta. Ao final da inspiração, os impulsos dos neurônios motores somáticos para os músculos inspiratórios cessam, e os músculos relaxam. A retração elástica dos pulmões e da caixa torácica leva o diafragma e as costelas para as suas posições originais relaxadas, da mesma 20/10/2021 Isabela Leal maneira que um elástico esticado retorna ao seu tamanho original quando é solto. Devido ao fato de a expiração durante a respiração em repouso envolver a retração elástica passiva, em vez da contração muscular ativa, ela é chamada de expiração passiva. Tempo de 2 a 4 segundos: expiração. Como os volumes pulmonares e torácicos diminuem durante a expiração, a pressão de ar nos pulmões aumenta, atingindo cerca de 1mmHg acima da pressão atmosférica no ponto A4. A pressão alveolar é agora maior do que a pressão atmosférica, de modo que o fluxo de ar se inverte, e o ar move-se para fora dos pulmões. Tempo 4 segundos -> No final da expiração, o movimento de ar cessa quando a pressão alveolar novamente se iguala à pressão atmosférica (ponto A5). O volume pulmonar atinge o seu valor mínimo dentro do ciclo respiratório (ponto C3). Nesse ponto, o ciclo respiratório terminou e está pronto para ser iniciado novamente com a próxima respiração. As diferenças de pressão aplicam-se à respiração em repouso (basal). Durante o exercício ou a respiração forçada, esse volume se torna proporcionalmente maior. A expiração ativa ocorre durante a exalação voluntária e quando a ventilação excede 30 a 40 ciclos ventilatórios por minuto. A taxa de ventilação normal em repouso é de 12 a 20 ciclos ventilatórios por minuto para um adulto. A expiração ativa usa os músculos intercostais internos e os músculos abdominais, os quais não são utilizados durante a inspiração. Esses músculos são coletivamente chamados de músculos expiratórios. Os músculos intercostais internos revestem a superfície interna da caixa torácica. Quando se contraem, eles puxam as costelas para dentro, reduzindo o volume da cavidade torácica. Os intercostais internos e os intercostais externos funcionam como grupos de músculos antagonistas para alterar a posição e o volume da caixa torácica durante a ventilação. O diafragma, entretanto, não possui músculos antagonistas. Em vez disso, os músculos abdominais contraem durante a expiração ativa para suplementar a atividade dos intercostais internos. Pressão Intrapleural e Ventilação A ventilação requer que os pulmões, os quais não podem se contrair ou se expandir por conta própria, movam-se em associação com a contração e o relaxamento do tórax. Como observamos no início deste capítulo, os pulmões estão inseridos no saco pleural. A superfície dos pulmões é coberta pela pleura visceral, e a porção pleural que reveste a cavidade torácica é chamada de pleura parietal. As forças de coesão do líquido intrapleural promovem a adesão dos pulmões à caixa torácica. Quando a caixa torácica se movimenta durante a respiração, os pulmões movem-se junto. Pressão Intrapleural Subatmosférica A pressão intrapleural no fluido entre as membranas pleurais é normalmente subatmosférica. Esta pressão subatmosférica surge durante o desenvolvimento fetal, quando a caixa torácica associada com sua membrana pleural cresce mais rapidamente que o pulmão com sua membrana pleural associada. 20/10/2021 Isabela Leal As duas membranas pleurais são mantidas unidas pelo líquido pleural, de modo que os pulmões são forçados a se estirarem, a fim de se adaptarem ao maior volume da cavidade torácica. Ao mesmo tempo, no entanto, o recolhimento elástico dos pulmões cria uma força direcionada para dentro, que tenta puxar os pulmões para longe da caixa torácica. A combinação da caixa torácica puxando para fora e a retração elástica dos pulmões puxando para dentro cria uma pressão intrapleural subatmosférica de cerca de -3mmHg. Ventilação Complacência/Surfactante Complacência A ventilação adequada depende da habilidade dos pulmões de se expandirem normalmente. A maior parte do trabalho respiratório é gasto para superar a resistência elástica dos pulmões e da caixa torácica ao estiramento. Clinicamente, a habilidade do pulmão de se estirar é chamada de complacência. Complacência refere-se à quantidade de força que deve ser exercida sobre um corpo para o deformar. No pulmão, podemos expressar a complacência como uma alteração do volume (V), que é resultado de uma força ou pressão (P) exercida sobre o pulmão: V/P. Um pulmão de alta complacência pode ser estirado facialmente Um pulmão com baixa complacência requer mais força dos músculos inspiratórios para estirado. A complacência é o inverso da elastância (recuo elástico), que é a capacidade de resistir à deformação mecânica. A elastância também se refere à capacidade que um corpo tem de voltar à sua forma original quando a força que promove a sua deformação é removida. Surfactante O surfactante diminui o trabalho respiratório. Durante anos, os fisiologistas assumiram que a elastina e outras fibras elásticas eram a fonte primária da resistência ao estiramento no pulmão. Contudo, estudos comparando o trabalho necessário para expandir pulmões cheios de ar e pulmões cheios de solução salina mostraram que os cheios de ar são mais difíceis de se inflar. Em qualquer interface ar-líquido, a superfície do líquido está sob tensão, como uma fina membrana sendo esticada. Quando o líquido é a água, a tensão superficial ocorre devido às ligações de hidrogênio entre as moléculas de água. As moléculas de água da superfície do líquido são atraídas por outras moléculas de água, localizadas abaixo e ao lado delas, porém não são atraídas para os gases do ar na interface ar- líquido. A lei de LaPlace é uma expressão dessa pressão. Ela estabelece que a pressão (P) dentro de uma bolha formada por uma fina película de líquido é uma função de dois fatores: a tensão superficial do líquido (T) e o raio da bolha (r). 20/10/2021 Isabela Leal Essa relação é expressa pela equação. Se duas bolhas tiverem diâmetros diferentes, mas forem formadas por fluidos com a mesma tensão superficial, a pressão no interior da bolha menor é maior do que a pressão no interior da bolha maior? Como isso se aplica aos pulmões? Em fisiologia, podemos comparar a bolha ao alvéolo revestido por líquido (embora o alvéolo não seja uma esfera perfeita). O líquido que reveste todos os alvéolos gera tensão superficial. Se a tensão superficial (T) do líquido fosse a mesma nos alvéolos pequenos e nos grandes, os alvéolos pequenos teriam uma pressão maior dirigida para o interior do alvéolo do que os alvéolos maiores, e maior resistência ao estiramento. Como resultado, mais trabalho seria necessário para expandir os alvéolos menores. Normalmente, contudo, nossos pulmões secretam um surfactante que reduz a tensão superficial. Em inglês, “surface active agentes”, “agentes ativos de superfície” são moléculas que rompem as forças coesivas entre as moléculas de água ao se substituírem por água junto à superfície. Nos pulmões, o surfactante diminui a tensão superficial do líquido alveolar e, assim, diminui a resistência do pulmão ao estiramento. O surfactante é mais concentrado em alvéolos menores, tornandoa sua tensão superficial menor do que nos alvéolos maiores. A menor tensão superficial ajuda a igualar a pressão entre alvéolos de diferentes tamanhos e torna mais fácil inflar os alvéolos menores. Com uma tensão superficial menor, o trabalho necessário para expandir os alvéolos em cada ciclo ventilatório é bastante reduzido. Anotações do quadro:
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