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Autora: Profa. Emmanuelle da Silva Costa Colaboradoras: Profa. Fernanda Torello de Mello Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano Fisiologia Vegetal Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Professora conteudista: Emmanuelle da Silva Costa Emmanuelle da Silva Costa é bióloga formada pela Universidade Federal da Paraíba. Doutora em Botânica pelo Departamento de Botânica da Universidade de São Paulo. Possui experiência na área de Botânica com ênfase em Taxonomia e Biologia Molecular de algas marinhas, utilização de marcadores moleculares e Filogenia. Atua no ensino do nível superior desde 2013 no curso de graduação de Ciências Biológicas, ministrando as disciplinas das subáreas da Botânica (Botânica de Criptógamas, Botânica de Fanerógamas, Fisiologia Vegetal e Botânica Econômica). © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C837f Costa, Emanuelle da Silva. Fisiologia Vegetal. / Emanuelle da Silva Costa. – São Paulo: Editora Sol, 2016. 100 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2-082/16, ISSN 1517-9230. 1. Fisiologia vegetal. 2. Respiração celular. 3. Relações hídricas. I. Título. CDU 581 U502.87 – 19 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Marcilia Brito Juliana Mendes Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Sumário Fisiologia Vegetal APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 PROCESSOS FOTOSSINTETIZANTES E METABÓLICOS ...........................................................................9 1.1 A descoberta da fotossíntese .............................................................................................................9 1.2 Processos fotossintetizantes: fase fotoquímica e fase bioquímica ................................. 12 1.2.1 Absorção da energia luminosa .......................................................................................................... 12 1.2.2 Sistema antena ........................................................................................................................................ 14 1.3 Fase fotoquímica: como ocorre a passagem dos elétrons? ................................................ 15 1.4 Fase bioquímica ou fase de escuro ............................................................................................... 18 1.5 Fatores que afetam a fotossíntese ................................................................................................ 21 1.6 Metabolismo de plantas C3, C4 e CAM ....................................................................................... 22 1.6.1 Fotorrespiração ........................................................................................................................................ 23 1.6.2 Vantagem e desvantagem da fotorrespiração ............................................................................ 25 1.7 Fixação de plantas C4 e CAM .......................................................................................................... 25 1.7.1 Algumas vantagens do mecanismo C4 .......................................................................................... 26 1.7.2 Existe alguma desvantagem?............................................................................................................. 26 1.8 Fisiologia comparada das plantas C3, C4, CAM ....................................................................... 27 2 RESPIRAÇÃO CELULAR NAS PLANTAS .................................................................................................... 28 2.1 Respiração: glicólise ............................................................................................................................ 28 2.2 Respiração nos órgãos vegetais e a relação com a fotossíntese ...................................... 29 2.2.1 Respiração de crescimento ................................................................................................................. 29 2.2.2 Respiração de manutenção ................................................................................................................ 29 3 FATORES QUE AFETAM A RESPIRAÇÃO .................................................................................................. 30 4 HORMÔNIOS E MOVIMENTOS VEGETAIS ............................................................................................... 31 4.1 Hormônios vegetais ............................................................................................................................. 31 4.1.1 Auxinas ........................................................................................................................................................ 34 4.1.2 Citocinina ................................................................................................................................................... 42 4.1.3 Giberelina ................................................................................................................................................... 43 4.1.4 Ácido abscísico ......................................................................................................................................... 46 4.1.5 Etileno.......................................................................................................................................................... 47 4.1.6 Outros hormônios ................................................................................................................................... 50 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Unidade II 5 NUTRIÇÃO VEGETAL ....................................................................................................................................... 55 6 ELEMENTOS BENÉFICOS................................................................................................................................ 57 6.1 Alguns nutrientes e suas características..................................................................................... 58 6.2 Deficiência vegetal............................................................................................................................... 63 6.3 Fixação biológica de nitrogênio ..................................................................................................... 64 6.4 Absorção dos minerais .......................................................................................................................65 7 RELAÇÕES HÍDRICAS ..................................................................................................................................... 65 7.1 Importância da água para as plantas .......................................................................................... 66 7.2 Propriedades da água ......................................................................................................................... 66 7.3 Transporte de água .............................................................................................................................. 67 7.4 Potencial hídrico e componentes na célula vegetal .............................................................. 68 7.5 Absorção de água pelas raízes ........................................................................................................ 70 7.6 Teoria de Dixon ...................................................................................................................................... 71 7.7 Transpiração ............................................................................................................................................ 72 7.8 Abertura e fechamento estomático .............................................................................................. 73 7.9 Déficit hídrico ........................................................................................................................................ 74 8 FLORAÇÃO E RELAÇÕES COM O MEIO EXTERNO ................................................................................ 75 8.1 Ritmos circadianos............................................................................................................................... 77 8.2 Fitocromo ................................................................................................................................................. 78 8.3 Respostas fotoperiódicas .................................................................................................................. 80 8.4 Estiolamento .......................................................................................................................................... 82 8.5 Vernalização ........................................................................................................................................... 82 7 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 APRESENTAÇÃO A disciplina Fisiologia Vegetal aborda os principais mecanismos de sobrevivência das plantas, relacionados ao metabolismo primário e ao metabolismo secundário. Nesta disciplina são estudados os principais mecanismos fisiológicos dos vegetais: fotossíntese, produção e ação de hormônios, movimentos vegetais, suprimento hídrico e nutrição vegetal, além de outros mecanismos relacionados à floração. A disciplina tem o objetivo de reconhecer o funcionamento do metabolismo das plantas; relacionar a ação dos hormônios com as diferentes fases do desenvolvimento do vegetal, tais como o desenvolvimento de flores, frutos e queda das folhas; e reconhecer os principais aspectos da fotossíntese e relacioná-la à obtenção de água e nutrientes a partir do solo. Com esta abordagem, o aluno será capaz de: relacionar os eventos da vida de um vegetal e os tipos de metabólitos por ele produzidos; e relacionar o metabolismo do vegetal com os aspectos ambientais, tais como luz, recurso hídrico e temperatura. Como material auxiliar para a disciplina, este livro-texto está estruturado em unidades dedicadas a introduzir o conhecimento dos processos de fotossíntese, os tipos de metabolismo fotossintetizantes para plantas (C3, C4 e CAM) e a relação da respiração com a fotossíntese. Também abordaremos os hormônios vegetais e seus mecanismos de ação no corpo da planta, aplicações e usos pelo homem, assim como os movimentos vegetais e a influência hormonal. Além disso, trataremos do processo de nutrição vegetal e dos principais elementos utilizados, assim como da absorção de água no solo através da relação hídrica nos vegetais. Por fim, os mecanismos de floração e relações com o ambiente externo, ritmos circadianos, fitocromo e controle do desenvolvimento vegetal. INTRODUÇÃO As plantas possuem um papel fundamental na manutenção da vida no planeta, permitindo que todos os seres vivos possam respirar o oxigênio produzido através das reações de fotossíntese, capacidade esta apresentada pelos vegetais, os quais são denominados organismos fotossintetizantes. Através da capacidade dos vegetais de transformarem energia luminosa em carboidratos é que se tornou possível a vida na terra, pois além do O2 utilizado na respiração, as plantas fornecem os carboidratos necessários para a nossa manutenção e o nosso crescimento. O homem e os demais seres vivos dependem direta ou indiretamente das plantas, não apenas para o fornecimento de alimento, como também de moradia e abrigo, e mesmo para produção de substâncias que previnem e curam doenças. Além da capacidade desses vegetais de sequestrar moléculas de CO2 mitigando os efeitos do aquecimento global, o que torna o ambiente mais agradável. As plantas também embelezam o mundo com o verde e com toda a biodiversidade existente nos grupos dos vegetais. A dependência e o enorme interesse pelos vegetais culminaram no desenvolvimento de diversas áreas: o conhecimento da sua estrutura através da morfologia, a origem e o desenvolvimento dos 8 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 diversos tecidos e órgãos que compõem o corpo do vegetal e seus processos de desenvolvimento e diferenciação da histomorfogênese. Assim como sua classificação e as relações filogenéticas através da taxonomia e sistemática, dentre outros aspectos estudados e seus mecanismos fisiológicos, para que se possa pela disciplina Fisiologia Vegetal, compreender o seu funcionamento. 9 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 FISIOLOGIA VEGETAL Unidade I 1 PROCESSOS FOTOSSINTETIZANTES E METABÓLICOS 1.1 A descoberta da fotossíntese Até meados do século XVII, os pesquisadores acreditavam que as plantas conseguissem sobreviver e crescer através da absorção dos nutrientes fornecidos pelo solo. Foi nesse período que o médico e alquimista Jan Baptist Van Helmont (1580-1644) chegou à conclusão de que tal afirmação não era verdadeira. Através da realização de um experimento feito com um pequeno salgueiro (Salix sp.), em que água foi fornecida à planta durante cinco anos, ao término desse tempo, verificou-se que a terra havia perdido 57 gramas, enquanto a planta inicialmente com 2 quilos passou a pesar 75 quilos. Esses resultados levaram Van Helmont a concluir que os nutrientes necessários para o crescimento da planta eram fornecidos pela água, e não pelo solo. 1 Massa da planta = 2 kg A planta cresceu Massa da planta - 75 kg Salix sp. Tampa Inicialmente foram pesados o vaso, o substrato e a planta. A planta foi envasada, e uma tampa foi colocada sobre o vaso para que o substrato não fosse perdido. A água foi fornecida durante 5 anos. Os orgãos vegetativos foram coletados e pesados. Também se pesou a terra, que apenas sofreu ligeira perda em massa. 3 2 4 Figura 1 – Experimento realizado com planta de salgueiro (Salix sp.), demonstrando a contribuição da água na massa da planta Observação O cloroplasto é uma organela que surgiu através de um processo entre organismos procariotos fotossintetizantes (algas azuis), que se instalaram em células primitivas eucariontes aeróbicas. Esse mecanismo é conhecido como endossimbiose, responsável pelo surgimento de todos os vegetais. Essa 10 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Unidade I endossimbiose, há cerca de 1,2 bilhões de anos, teria dado origem às algas vermelhas, depois às algas pardas e verdes e aos vegetais superiores.Durante o processo evolutivo, as bactérias precursoras dos cloroplastos transferiram parte de seu material genético para o DNA da célula hospedeira, assim passaram a depender do genoma da célula hospedeira para a produção de muitas de suas proteínas. Em outro experimento, realizado no século XVIII, o químico Joseph Priestley colocou ratos confinados numa campânula de vidro hermeticamente fechada e percebeu que os ratos morriam ao se esgotar o ar no interior da campânula, entretanto colocando o rato junto a uma planta ambos se mantinham vivos. Assim, em 1778, Jan Ingenhousz repetiu os experimentos de Priestley e chegou à conclusão de que os animais, ao respirarem, “esgotam” o gás oxigênio O2, enquanto as plantas, por produzirem O2 durante a fotossíntese, “recuperam” o ar, o que possibilita a ambos permanecerem vivos. Todos os seres vivos necessitam de energia para sobreviver, daí a necessidade de nos alimentarmos, pois o alimento é o combustível fundamental para que o nosso corpo tenha condições de realizar as atividades diárias. Assim, como nós precisamos dessa energia diária, as plantas também possuem essa necessidade para que possam crescer e se desenvolver; no entanto, diferentemente dos animais, os vegetais possuem a capacidade de produzir seu próprio alimento (autótrofos) através de um processo denominado fotossíntese (síntese de energia), daí serem considerados organismos fotossintetizantes. A fotossíntese é um processo energético realizado pelos vegetais, capazes de capturar a energia do sol convertendo-a em energia química. Esse processo fotossintetizante é a fonte primária de energia, fundamental para todos os seres vivos. As plantas absorvem uma parte da energia luminosa e a estocam na molécula de clorofila, pigmento verde existente nas células vegetais. Através das raízes as plantas absorvem água, que por meio do processo da fotólise (quebra da molécula de água na presença de energia) fornece gás oxigênio (O2) para o meio ambiente, elétrons que serão transportados através das proteínas carreadoras na cadeia transportadora de elétrons existentes nas membranas dos tilacoides e os prótons H+ que serão enviados ao lúmen e ao estroma, criando um gradiente de concentração. Fotólise da água: 2H2O 4H + + 4e- + O2 A equação geral da fotossíntese representa um processo de oxidorredução, em que a molécula de água (H2O) irá doar elétrons (H) para reduzir o gás carbônico (CO2) e posteriormente convertê-lo em carboidrato. Esquema da equação: 6CO2 + 12H2O Luz C6H12O6+ 6H2O+O2 Os organismos fotossintetizantes possuem clorofila, uma molécula existente no interior dos cloroplastos. Os cloroplastos são similares à mitocôndria, possuindo DNA, RNA e ribossomos próprios. Assim, sabe-se que algumas proteínas existentes nos cloroplastos são produtos da transcrição e tradução que ocorrem no próprio cloroplasto, enquanto outras são codificadas através do DNA nuclear. Além disso, os cloroplastos também possuem em seu interior grânulos de amido e gotículas de lipídio. A molécula de clorofila está 11 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 FISIOLOGIA VEGETAL localizada na membrana dos tilacoides, responsável pela absorção da energia em conjunto com outros pigmentos denominados de acessórios, a exemplo da xantofila e do caroteno. Os cloroplastos são organelas formadas por uma dupla membrana e em seu interior encontram-se os tilacoides, os quais podem estar empilhados ou não. A região empilhada corresponde à lamela dos grana, enquanto a região não empilhada corresponde à lamela do estroma. Dessa forma, temos que as reações de absorção da energia ocorrem na região onde se encontram os pigmentos, enquanto as reações de síntese de carboidratos ocorrem na região do estroma. Espaço intermembranas Tilacoide Membrana externa A) Membrana interna Lamelas do estroma Estroma Granun (pilha de tilacoides) G ra nu n Tilacoide B) Figura 2 – (a) Esquema do cloroplasto (b) suas respectivas estruturas e organização das membranas do tilacoide As folhas representam o órgão-fonte de realização da fotossíntese devido à presença do cloroplasto, no entanto o caule também é capaz de realizá-la, uma vez que nele também se encontram cloroplastos. Na região do mesofilo foliar ocorre a conversão da energia luminosa em carboidratos, através de uma série de reações bioquímicas. O processo da fotossíntese contribui para neutralizar o carbono no ambiente. Dessa forma, as plantas contribuem no sequestro do gás carbônico, minimizando as consequências do efeito estufa. Epiderme adaxial Parênquima paliçádico Parênquima lacunoso Epiderme abaxial Mesofilo Figura 3 – Aspecto geral mesofilo foliar 12 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Unidade I 1.2 Processos fotossintetizantes: fase fotoquímica e fase bioquímica 1.2.1 Absorção da energia luminosa As clorofilas a e b são os pigmentos relacionados com o processo de fotossíntese; elas possuem a capacidade de absorver energia luminosa correspondente ao comprimento de onda 680 e 700, assim os comprimentos de onda existentes abaixo desse valor ou acima não são absorvidos pelas clorofilas, mas sim pelos pigmentos acessórios. A clorofila tem a capacidade de absorver a luz correspondente ao espectro vermelho e violeta, refletindo os valores intermediários. As moléculas de clorofila possuem uma estrutura em anel, contendo um átomo de magnésio (Mg2+) no centro. 400 0 0 20 20 40 40 60 60 80 80 100 100 500 600 700 Espectro de ação da fotossíntese Clorofila b Carotenoides Clorofila a Ab so rb ân ci a es tim ad a (p er ce nt ua l) Comprimento de onda (nanômetros) Ta xa d e fo to ss ín te se (% d a ta xa a 6 70 n an ôm et ro s) Figura 4 – Espectro de absorção das clorofilas a e b e dos carotenoides que absorvem a luz utilizada no processo de fotossíntese 13 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 FISIOLOGIA VEGETAL CO O CH2 CH CH CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 Chlorophyll a A) Chlorophylls B) Carotenolds CH3 CH3 CH3 CH3 H3C H3C CH2 CH2 HOOC HOOC H3C H3C H3C H3C H3C H O NH NH NH NH O H H H H CH CH2 CH2 CHH3C H3C H3C β–Carotene CH3 CH3 CH CH CH CH CH CH CH C C HC HC HC HC HC HC HC HC HC C) Billin pigments Phycoerythrobilin Chlorophyll b Bacteriochlorophyll a (CH2)3 HC (CH2)3 (CH2)3 HC CH COOCH3CH2 H HC CH2 C2H5 CH3 H H H H H3C H3C CH2 O A D C E B N N H N N Mg CH3 CH3 HC CH2 C2H5 H3C A BN N C2H5B CH3 H3C H H Figura 5 – Estrutura da molécula de clorofila Etapas da fotossíntese • Fase I – fase fotoquímica ou reações luminosas — Ocorre nas membranas dos tilacoides. — Depende diretamente da luz. — Está relacionada com a fotólise e a fotofosforilação. • Fase II – Fase química ou reações de fixação de carbono — Ocorre no estroma. — Depende indiretamente da luz. — Está relacionada com o Ciclo de Calvin-Benson. 14 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Unidade I Capture of light energy Manufacture of sugars Sun H2O + CO2 H2O O2 Energy carriers Photosynthesis Sugar Figura 6 – Captura de energia luminosa e conversão em energia 1.2.2 Sistema antena A maioria dos pigmentos encontrados nas células vegetais tem a função de uma antena, com a capacidade de coletar a luz e transferir a energia por ressonância induzida para o centro de reação, onde ocorre a fase fotoquímica. Isso se faz necessário porque uma molécula de clorofila absorve poucos fótons por segundo, assim o sistema de antena é de extrema importância, pois dessa forma o processo fica ativo a maior parte do tempo. O grupo das cianobactérias usam dois tipos de sistemas antena para captação de luz: as externas de captação de luz, que estão presentes na membrana do tilacoide, ao redor dos fotossistemas I e II. Enquanto o segundo sistemaé composto de antenas chamadas ficobilissomas (PBS) e se movimentam transferindo a energia de excitação absorvida para os fotossistemas I (PSI) e II (PSII), compostos de dois domínios: o primeiro ligado à membrana do tilacoide (ficobiliproteína e aloficocianina), e o segundo associado ao núcleo (ficoeritrina e ficocianina). Ficocritina (PE) Ficocianina (PC) NADPH NAQP H 2 HD 4H+ + O2 ADP + P ATP H Ficobilisoma Ficobiliproteína aloficocianina Membrana Tilacoide ATP síntasePSICitocromo b6fPSII Fotossintese PS II Ap Figura 7 – Complexos fotossintetizantes da membrana do tilacoide de cianobactéria. PSI: Fotossistema I; PSIIFonte: Fotossistema II; Pe; Ficoeritrina; PC: Ficocianina; Ap: Aloficocianina 15 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 FISIOLOGIA VEGETAL Complexo antena São complexos proteicos de membrana que ligam centenas de moléculas de clorofila e pigmentos acessórios como os carotenoides, orientando-as na membrana do tilacoide, responsável pela transferência de energia ressonante de um pigmento a outro até chegar ao centro de reação. Centro de reação Formado por um par de moléculas de clorofila, que imediatamente transfere os seus elétrons excitados para uma cadeia vizinha aceptora de elétrons. Observação Muitos pigmentos juntos servem como uma antena, coletando a luz e transferindo sua energia para o centro de reação, onde as reações químicas armazenam parte dessa energia por transferência de elétrons de um pigmento de clorofila para uma molécula aceptora de elétrons. Um doador de elétrons reduz, então, a clorofila novamente. A transferência de energia na antena é um fenômeno puramente físico e não envolve alteração química. 1.3 Fase fotoquímica: como ocorre a passagem dos elétrons? A luz solar incide na molécula de clorofila, esta armazena a energia e os elétrons são liberados, para em seguida serem transportados através de proteínas presentes na membrana dos tilacoides. Quando o elétron “pula” de uma proteína para outra, ocorre a liberação de energia, e assim moléculas de ATP (adenosina trifosfato) são produzidas. A cadeia transportadora de elétrons funciona de modo semelhante a uma escada, em que os elétrons são transferidos para moléculas de menor potencial, e os prótons H+, enviados da molécula de água, são bombeados para o lúmen formando um gradiente de concentração, de modo que no lúmen sempre teremos uma maior quantidade de prótons H+ em relação ao estroma. 16 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Unidade I Stroma (low H+) Lumen (high H+) Plastoquinone Plastocyanin High Eletrochemic potential gradient Oxidation of water Light Light Low Figura 8 – Transferência de elétrons e prótons na membrana dos tilacoides realizada por quatro complexos de proteínas. A água é oxidada e os prótons são liberados no lúmen do PSI, o qual reduz o NADP+ a NADPH no estroma, por meio da ferredoxina (Fd) e da flavoproteína ferredoxina-NADP redutase (FNR). Os prótons são também transportados para o lúmen pelo complexo citocromo b6f e contribuem para o gradiente eletroquímico. A plastoquinona reduzida (PQH2) e a plastocianina transferem elétrons para o citocromo b6f e para o PSI Existem dois fotossistemas responsáveis pelo processo da fotossíntese: o fotossistema I (P700), que absorve comprimentos de onda longos, e o fotossistema II (P680), que absorve comprimentos de onda curtos. Cada fotossistema vai ser formado por um centro de reação onde se encontra a proteína e o pigmento acoplado a uma proteína-antena. Esses complexos formam o esquema conhecido como Z e estão localizados na membrana dos tilacoides. 17 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 FISIOLOGIA VEGETAL Fótons de luz Fótons de luz Fotossistema II Fotossistema II Gradiente de prótons Centro de reação N ív el m ai s a lto d e en er gi a 2e- 2e- 2e- 2e- 2e- 2e- 2e- 2e- 2e- 2e-Q ATP NADPH Centro de reação Flavoproteína Reação independente de luz Moléculas- antena Moléculas- antena Plastoquinona Plastocianina Fotofosforilação 2H+ + 1/2 O2 Fotólise H2O Figura 9 – Detalhe do esquema em Z da fotossíntese na produção de O2 Na membrana dos tilacoides ocorrem ações simultâneas, iniciando-se no fotossistema II (P680). Ao absorver os fótons de energia, a clorofila fica excitada, e o elétron move-se de um orbital molecular de menor energia para outro de maior energia, de modo que ao final do processo a clorofila tende a voltar para o seu estado original. A clorofila, ao ser excitada no centro de reação, pode transferir um elétron (e-) para uma molécula aceptora, a plastoquinona, proteína transportadora que receberá dois prótons H+ do estroma e ficará na forma reduzida QH2 (hidroquinona), dissociando-se do complexo do fotossistema II e transferindo seus elétrons para o citocromo b6f, liberando os prótons no lúmen dos tilacoides. Em seguida, os elétrons do citocromo b6f são transferidos para a proteína transportadora, plastocianina, até o centro de reação (P700) no fotossistema I, o que provoca a sua redução. O fluxo de elétrons continua no fotossistema I, onde a clorofila, após ser reduzida pelo elétron enviado pela plastocianina, fica disponível para o processo de excitação ocasionado pela luz. Além das clorofilas a e b, outros pigmentos acessórios também participam do processo, além de outras proteínas transportadoras de elétrons, como é o caso da ferrodoxina, relacionada com a reação de redução do NADPH (nicotinamida adenina dinucleótido fosfato). Esse processo é conhecido como fotofosforilação acíclica, pois os elétrons não voltam para a água. 18 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Unidade I No fotossistema I os elétrons que passam pela ferrodoxina, em vez de serem utilizados para a redução do NADPH, são transferidos para o citocromo b6f, conhecido como fotofosforilação cíclica, em que, para cada dois elétrons transferidos, uma QH2 (hidroquinona) é formada, e esta é posteriormente oxidada, transferindo seus elétrons para o fotossistema I, liberando os prótons H+ no lúmen, aumentando assim o gradiente de concentração entre o lúmen e a membrana do tilacoide. Assim, por difusão, os prótons H+ tendem a voltar para o estroma passando pela enzima ATPsintase, aumentando a produção de moléculas de ATP (adenosina trifosfato). No processo de fotossíntese, elétrons com alta energia são ejetados pelo centro de reação após a absorção da luz. Esse transporte é conhecido como transporte cíclico de elétrons. O ATP é o único produto do transporte cíclico de elétrons, mas a fixação de CO2 requer tanto ATP quanto um potente agente redutor, cuja síntese requer elétrons com alto nível de energia. Saiba mais Para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema, leia o artigo: KLUGE, R. A.; TEZOTTO-ULIANA, J. V.; SILVA, P. P. M. da. Aspectos fisiológicos e ambientais da fotossíntese. Rev. Virtual Quim., Piracicaba, v. 7, n. 1, p. 56-73, 2015. Disponível em: <rvq.sbq.org.br/index.php/rvq/article/ download/996/531>. Acesso em: 1º jun. 2016. 1.4 Fase bioquímica ou fase de escuro A fase bioquímica está relacionada à fixação do CO2, etapa considerada independente da luz, daí também ser denominada “reações do escuro”. Contudo, estudos realizados mostraram que essa fase é representada por reações controladas pela luz, assim é mais pertinente usar termos que a relacione à fase bioquímica de fixação do carbono, ao invés de fase de escuro. As moléculas energéticas ATP e NADPH geradas no fluxo de elétrons fotossintetizantes na fase fotoquímica são usadas na fase de síntese dos carboidratos. Na fixação de CO2 também conhecida como Ciclo de Calvin, devido aos experimentos realizados por Calvin Benson, a partir da utilização do carbono radioativo em algas do gênero Chlorela, o CO2 penetra nas folhas através dos estômatosna região do mesofilo foliar chegando ao parênquima clorofiliano onde ocorrerá a fotossíntese. Na fase fotoquímica ou Ciclo de Calvin-Benson (C3), ocorre a síntese de glicose a partir da redução de CO2 e o consumo de NADPH e ATP, produzidos tanto na fase “clara” quanto em reações de oxidação de compostos orgânicos. 19 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 FISIOLOGIA VEGETAL 12 ATP 12 NADPH 6 ATP O ciclo começa aqui: 6 moléculas de dióxido de carbono (CO2) (6 carbonos) 2 moléculas de gliceraldeído 3 Fosfato (6 carbonos) 12 moléculas de 3 fosfoglicerato (12 x 3 carbonos) 12 moléculas de gliceraldeído 3 Fosfato (12 x 3 carbonos) 10 moléculas de gliceraldeído 3 Fosfato (10 x 3 Carbonos) Síntese de carboidratos (Glicose, Sacarose, Amido) 12 moléculas de 1.3 biofosfoglicerato 12 ADP 6 moléculas de ribulose 1.5 biofosfato (6 x 5 carbonos) 6 ADP Figura 10 – Etapas do Ciclo de Calvin Lembrete Em situação de equilíbrio, o carbono que entra no ciclo como CO2 iguala-se ao carbono que deixa o ciclo como triose-fosfato. O Ciclo de Calvin ou fixação do CO2 ocorre no estroma, onde existem as enzimas de fundamental importância para a realização dos processos de fotossíntese. As etapas que correspondem ao ciclo são: carboxilação, redução e regeneração. Carboxilação A carboxilação, primeira etapa do Ciclo de Calvin, corresponde à fixação do CO2 através da enzima ribulose-1,5-bifosfato carboxilase/oxigenasse conhecida como RuBisCO. Essa enzima encontra-se no estroma e possivelmente seja a mais abundante na natureza. O termo fixar o CO2 quando este é incorporado no Ciclo de Calvin, quer dizer ligá-lo covalentemente à RuBP, formando um composto intermediário de 6 carbonos. Porém esse composto é extremamente instável e nunca foi isolado. Por ser instável, esse composto intermediário quebra-se imediatamente em duas moléculas de 3 carbonos, o 3-fosfoglicerato (PGA). A RuBisCO, como o próprio nome indica, tem ação carboxilase e oxigenase, contudo a afinidade pela molécula de CO2 é o que assegura a realização do processo de fotossíntese, ainda que a concentração de CO2 seja muito menor que a de O2. A RuBisCO fixa moléculas de CO2 e H2O formando uma molécula de três carbonos 3-fosfoglicerato (3PGA). 20 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Unidade I Redução A fase seguinte, corresponde à redução, que é caracterizada pela utilização das moléculas de ATP e NADPH, as quais foram formadas durante a fase fotoquímica nas membranas dos tilacoides, ocorrendo assim a redução do ácido 3-fosfoglicérico para produzir o primeiro açúcar, o gliceraldeído 3-fosfato (triose-fosfato). 3-fosfoglicerato + ATP + NADPH triose-fosfato + ADP + Pi + NADP+ O gliceraldeído-3-fosfato formado é utilizado tanto para a regeneração da ribulose-1,5- bisfosfato quanto para a síntese de carboidratos, a exemplo do amido e da sacarose. Regeneração A fase de regeneração envolve várias interconversões através da ação de várias enzimas, em que a molécula de gliceraldeído 3-fosfato (triose-fosfato), regenera o aceptor inicial de CO2 RuBP (ribulose-1,5- bisfosfato), em que 5 moléculas de 3 carbonos são rearranjadas para formar 3 moléculas de 5 carbonos (pentoses-fosfato) e ocorre a liberação de duas moléculas de 3 carbonos para posterior formação de açúcares como a glicose (6 carbonos), com gasto de ATP. Assim, 3 ATP e 2 NADPH são requeridos para cada molécula de CO2 fixada, pois a cada três voltas no ciclo, uma molécula de triose-fosfato é regenerada a partir de 3 moléculas de CO2. A triose-fosfato pode ser utilizada tanto para a síntese de carboidrato quanto para formar mais aceptor primário (RuBP), entrando novamente no Ciclo de Calvin. Ribulose Phosphoribulokinase 3 ADP 3 ATP Ribulose 5 - phosphate 3 - epimerase Ribulose 5 - phosphate 3 - epimerase Xylulose 5 - phosphate Transketolase Ribulose 5 - phosphate isomerase Ribose Ribulose 5 - phosphate Ribulose 5 - phosphate Xilulose S-phosphate Fructose 6 - phosphate Fructose 1.6 - bophosphatase Fructose 1.6 - bophosphatase Erythrose 4 - phosphate Dihydroxyacetone phosphate Dihydroxyacetone phosphate Triose phosphate isomerase Gliceraldehyde 3 - phosphate Aldolase Aldolase CH2OH C C C CH2OP HO H O H OH CH2OH C C C CH2OP HO H O H OH CH2OH C C C CH2OP H H O OH OH CH2OH C C C C CH2OP HO H H O OH OH OH CH2OH C C C CH2OP H H O OH OH CH2OH C C C CH2OP H H O OH OH O2H Pi CH2OH C CH2OP O CH2OH C CH2OP O CH2OPO3 2– C C C C CH2OP HO H H O OH OH H CH2OPO3 2– C C C C C CH2OP HO H H H O OH OH OH H CH2OPO3 2– C C C C C CH2OP HO H H H O OH OH OH H C C CH2OP H OH HO C C C CH2OP H H OH OH HO C C C C CH2OP H H H OH OH OH HO Sedoheptulose 1.7 - bisphosphatase Transketolase Sedoheptulose 1.7 - bisphosphatase Sedoheptulose 7 - phosphate O2H Pi Figura 11 – Mecanismos de regeneração da enzima ribulose-1,5- bifosfato carboxilase (RuBisCO) 21 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 FISIOLOGIA VEGETAL Embora a glicose seja normalmente representada como produto final da fotossíntese em equações resumidas, pouca glicose livre é formada nesse processo, pois à medida que o monossacarídeo é produzido, vai sendo convertido em seus polímeros, a exemplo do amido, que é o carboidrato de reserva tanto das algas verdes quanto das plantas terrestres. Lembrete Nos processos biológicos que envolvem energia há sempre um pigmento relacionado à absorção de luz (fotorreceptor), o qual deve estar acoplado à fase fotoquímica. Trabalhos recentes apontam que cerca de 200 bilhões de toneladas de CO2 são assimiladas por ano através do Ciclo do Carbono ou Ciclo de Calvin. 1.5 Fatores que afetam a fotossíntese A fotossíntese pode ser alterada em função de alguns parâmetros, cuja taxa pode aumentar ou diminuir, de modo que esses parâmetros representam os fatores limitantes da fotossíntese. Alguns desses fatores podem ser apontados como intrínsecos, a exemplo da disponibilidade de pigmentos fotossintetizantes, assim como a disponibilidade de algumas enzimas e cofatores, e outros, como extrínsecos, a exemplo de temperatura, luminosidade e concentração de CO2. Temperatura O efeito da temperatura sobre a fotossíntese depende da espécie e das condições ambientais nas quais as plantas estão crescendo. Quando comparamos as plantas C3 com as plantas C4, observamos que estas últimas possuem elevadas temperaturas ótimas para a fotossíntese do que as primeiras. Essas diferenças se devem às diferentes taxas de fotorrespiração. Quando aumentamos a temperatura, a taxa de fotorrespiração cresce consideravelmente nas espécies C3 e consequentemente reduz a fotossíntese líquida. As plantas C4, devido ao mecanismo de concentração de CO2, reduzem a taxa de fotorrespiração a níveis desprezíveis, mesmo em elevadas temperaturas. Luminosidade Quando uma planta é colocada em ambiente completamente escuro, ela não realiza fotossíntese. Aumentando-se a intensidade luminosa, a taxa da fotossíntese também aumenta. Todavia, a partir de certo ponto, mesmo aumentando a intensidade de iluminação, não ocorre elevação na taxa da fotossíntese. A intensidade luminosa deixará de ser um fator limitante da fotossíntese quando todos os sistemas de pigmentos já estiverem sendo excitados e a planta não tiver como captar essa quantidade adicional de luz. Aumentando-se ainda mais a intensidade de exposição à luz, chega-se a um ponto a partir do qual a atividade fotossintetizante passa a ser inibida, quando se atinge o ponto de inibição da fotossíntese pelo excesso de luz. 22 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Unidade I Concentração de CO2 Dentro das condições ambientais e em temperaturas elevadas, temos que, nas plantas C3,a fotossíntese líquida corresponde à fotossíntese total – (respiração + fotorrespiração), enquanto nas plantas C4 a fotossíntese líquida é igual à fotossíntese bruta – respiração; assim, pode-se afirmar que as plantas C4 possuem menor ponto de compensação de CO2 e maiores taxas de fotossíntese líquida, em determinadas condições. Observação A taxa fotossintetizante (bruta ou líquida), em condições de mesma temperatura, é maior à medida que aumenta a intensidade luminosa, enquanto para uma mesma intensidade luminosa ela é maior à medida que aumenta a temperatura. Esse aumento é regulado pela quantidade de CO2, entre outras coisas. Assim, quando ocorre saturação de CO2, a planta atinge o ponto de saturação de CO2. Outro importante fator limitante da fotossíntese no suprimento de CO2 é a água. O CO2 entra, e a água, na forma de vapor, é perdida pelas folhas através dos estômatos na epiderme, que podem fechar se o suprimento de água for pobre, podendo causar uma parada no fornecimento de CO2 para a fotossíntese. 1.6 Metabolismo de plantas C3, C4 e CAM As plantas C3 recebem esse nome porque após a fixação do CO2 formam o ácido 3-fosfoglicérico. Essa categoria compreende a maioria das espécies, ocorrendo principalmente em regiões tropicais úmidas; apresentam altas taxas de fotossíntese a todo o momento, sendo considerado um grupo muito produtivo. As plantas C4 formam o ácido oxaloacetato após a fixação de CO2 na forma de HCO - 3, e possui grande afinidade com o CO2, conferindo-lhes uma vantagem, pois sobrevivem em ambientes áridos, são mais econômicas quanto ao uso de água e só atingem altas taxas fotossintetizantes sob alta radiação solar. As plantas CAM (Metabolismo Ácido das Crassuláceas) são ainda mais econômicas, ocorrendo em áreas desérticas ou muito secas; seus estômatos permanecem fechados durante o dia e abrem durante a noite. Por sua abertura ocorrer durante a noite, elas evitam perda de água ao mesmo tempo que o CO2 é fixado por meio do ácido málico, e durante o dia o CO2 é utilizado para a fotossíntese. A maioria das plantas C3 mostra saturação bem abaixo da completa luz do sol, enquanto as plantas C4 adaptadas a ambientes de elevada intensidade luminosa não apresentam a referida saturação. Aumentando-se a concentração de CO2 o ponto de compensação é alcançado, ou seja, a fotossíntese bruta é igual à respiração, onde a fotossíntese líquida é igual a zero. 23 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 FISIOLOGIA VEGETAL Lembrete Ponto de compensação de luz é definido como a intensidade luminosa, na qual a fixação do CO2 é exatamente igual à liberação pela respiração, assim as plantas de sombra possuem ponto de compensação de luz bem menor que as plantas de sol, uma vez que essa intensidade depende da espécie e das condições de crescimento. As plantas C4 possuem ponto de compensação próximo a zero, refletindo a maior afinidade da enzima carboxilase fosfoenolpiruvato e a taxa de respiração, que é praticamente zero. Nas plantas C3, aumentando-se a concentração de CO2 acima do ponto de compensação, estimula-se a fotossíntese. As plantas C4 são mais resistentes a estresses ambientais e mais produtivas do que as C3. O arroz é uma gramínea C3 com anatomia foliar bem parecida com gramíneas C4, mas com diferenças que a impedem de realizar o metabolismo C4. Alguns pesquisadores observando as células da bainha vascular do arroz ao microscópio eletrônico notaram a presença de cloroplastos e grãos de amido no interior desses. A possibilidade de se encontrar, em genótipos de arroz, características anatômicas e metabólicas semelhantes às das gramíneas C4 poderia resultar em materiais com altas taxas fotossintetizantes, resultando em materiais mais adaptados ao estresse ambiental e mais produtivos. Saiba mais Para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema, leia: PINHEIRO, F. J. A.; PORTES, T. A.; STACCIARINI-SERAPHIN, E. Procurando um arroz C4 mediante exame anatômico foliar. Rev. Bras. Fisiol. Veg., Lavras, v. 12, n. 3, p. 246-254, 2000. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0103-31312000000300007&lng=en&nrm =iso>. Acesso em: 1º jun. 2016. 1.6.1 Fotorrespiração Em temperaturas altas das regiões tropicais as perdas de carbono pela fotorrespiração podem ser mais elevadas do que os 25% em condições ambientais mais amenas (25 ºC). As perdas de carbono pela fotorrespiração dependem das concentrações de CO2 e O2, das propriedades cinéticas da RuBisCO e da temperatura. O aumento de temperatura diminui a solubilidade dos gases, afetando mais a solubilidade do CO2 do que a do O2. 24 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Unidade I A fotorrespiração é a perda de CO2 que ocorre na presença de luz. É uma perda de CO2 adicional à respiração mitocondrial. A fotorrespiração ocorre porque a RuBisCo do Ciclo de Calvin-Benson atua também como oxigenase, além da função carboxilase. A fotorrespiração envolve três organelas: peroxissomo, mitocôndria e cloroplasto. Um fornecimento de energia é requerido (ATP e ferrodoxina reduzida). O O2 é consumido e uma parte do glicolato é perdido como CO2 enquanto outra parte retorna ao Ciclo de Calvin-Benson como 3-PGA. 2 POCH2 — (CHOH)3 — H2COP Ribulose - 1,5 - biphosphate 2 POCH2 — CHOH — CO2 – 3 - phosphoglycerate HO2C — (CH2)2 — CNNH2 – CO2 Gluta mate HO2C — (CH2)2 — CO – CO2 a-ketoglutarate HO2C — (CH2)2 — CO – CO2 a-ketoglutarate POCH2 — CHOH — CO2 – 3 - phosphoglycerate HOCH2 — HOCH — CO2 – Glycerate HOCH2 — CO — CO2 – Hidroxypyruvate HOCH2 — H2NCH — CO2 – Serine 2H2NCH2 — CO2 Glycine NH4 + Glycolate 2 Glycine Serine GlycerateGlutamate Glutamate NAD+ NADH a-ketoglutarate + 2O2 2H2O 2 P1 (2.1) (2.9)(2.3) (2.5) (2.6, 2.7) H2O CO2 (2.4) (2.8) (2.10) ADP NAD+ NADH ATP(2.2) Calvin cyclo Chloroplast Peroxisome Mitochondrion 2 POCH2 — CO2 – 2 - phosphoglycolate 2 HOCH2 — CO2 – Glycolate 2 OCH2 — CO2 – Glyoxylate 2 H2O 2O2 O2 O2 Figura 12 – Mecanismos da fotorrespiração e suas respectivas organelas O ciclo se inicia no cloroplasto com a formação do glicolato a partir do 2-fosfoglicolato. O glicolato migra para o peroxissomo onde é convertido para a glicina (aminoácido) e peróxido de hidrogênio, o qual é degradado pela enzima catalase, pois é tóxico para a célula. 25 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 FISIOLOGIA VEGETAL Quadro 1 – Reações do ciclo oxidativo fotossintetizante C2, que envolve a interação cooperativa de três organelas: cloroplasto, mitocôndria e peroxissomo Sequência Local Enzima Reação 1 Cloroplasto RuBisCo Fosfoglicolato fosfatase 2 RuBP + 2O2→2 Fosfogliceratos + 2,3 Fosfoglicerato + 4H + 2 Fosfoglicolato+2H2O →2Glicolato + 2Pi 2 Peroxissomo Glicolato oxidase Catalase 2 Glicolato + O2 → 2 glicolato + 2H2O2 2H2O2 →2H2O2 + O2 3 Mitocôndria Glicina descarboxilase Serina hidroximetiltransferase Glicina + NAD+ + H4-folato → NADH+CO2+ NH4 + metileno H4-folato Metileno-H4-folato + H2O + glicina → serina + H4-folato 4 Peroxissomo Serina aminotransferase Hidroxipiruvato redutase Serina + α-cetoglutarato → Hidroxipiruvato + Glutamato Hidroxipiruvato + NADH + H+ → Glicerato + NAD+ 5 Cloroplasto Glicerato cinase Glicerato + ATP → 3- fosfoglicerato + ADP + H+ 1.6.2 Vantagem e desvantagem da fotorrespiração A fotorrespiração é um processo fisiológico que contribui tanto para a dissipação do ATP quanto para o poder redutor, além de evitar danos sobre o aparelho fotossintetizante (foto-oxidação e fotoinibição) sob condições de excesso de energia, por exemplo, alta intensidade de luz e baixa concentração interna de CO2, como ocorre em plantas expostas a estresse hídrico – estômatos fechados. • A vantagem é que o processo fotorrespiratório é importante para remover o excesso de energia (ATP e NADPH) produzido sob altos níveis de radiação ounão utilizados sob situação de estresse hídrico. • A desvantagem é em termos de produtividade: a fotorrespiração é um processo que reduz a fixação de CO2 e o crescimento das plantas. • A via de recuperação é longa e envolve três organelas. 1.7 Fixação de plantas C4 e CAM Nas plantas C4 a primeira etapa de fixação do CO2 ocorre pela enzima carboxilase fosfoenolpiruvato nas células do mesofilo, formando o ácido orgânico oxaloacetato, o qual é convertido em malato ou aspartato, dependendo da espécie. Em seguida, os ácidos de quatro carbonos são transportados das células do mesofilo para as células da bainha do feixe vascular, via plasmodesmos. Os ácidos são descarboxilados na bainha do feixe vascular, liberando CO2 e produzindo piruvato ou alanina. O CO2 é fixado pela RuBisCO que nessas plantas é encontrado na bainha do feixe vascular e finalmente ocorre o transporte do composto de três carbonos de volta para o mesofilo (alanina ou piruvato), onde ocorre a regeneração da fosfoenolpiruvato com gasto de duas moléculas de ATP. 26 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Unidade I Co2 NADP+ NADPH AMP + PPi PEPOAA Célula do mesofilo Célula da bainha vascular Piruvato NADP+ CO2 + NADPH Ciclo de Calvin MALATO MDH PEPC ATP HCO3 –PI Figura 13 – Metabolismo das plantas C4 1.7.1 Algumas vantagens do mecanismo C4 • A enzima fosfoenolpiruvato carboxilase utiliza como substrato o HCO3 – que não compete com O2. • A enzima PEP carboxilase tem elevada afinidade pelo substrato (HCO3), atuando mesmo em baixas concentrações. • A grande afinidade da enzima pelo substrato permite que as plantas C4 fotossintetizem com pequena abertura estomática e, consequentemente, com baixa perda de água. • As plantas C4 habitam ambientes com altas temperaturas e climas semiáridos (quentes e secos). • A RuBisCO é encontrada apenas nas células da bainha vascular. Essas plantas, portanto, gastam menos nitrogênio do que as plantas C3. 1.7.2 Existe alguma desvantagem? O mecanismo de regeneração do PEP consome dois ATP. Assim, as C4 gastam 5 ATP para cada CO2 fixado. As plantas C3 gastam apenas 3 ATP por CO2 fixado. Apesar desse maior consumo de ATP, o mecanismo C4 é bastante eficiente para as condições de clima tropical, pois praticamente anula a fotorrespiração. Nessas condições as espécies C4 apresentam taxas de fotossíntese líquida bem superiores às de espécies C3. 27 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 FISIOLOGIA VEGETAL As plantas CAM fixam a molécula de CO2 na forma de HCO3 capturada pela fosfoenolpiruvato, produzindo oxaloacetato. A fixação do CO2 ocorre durante a noite; o oxaloacetato formado é convertido para o malato, o qual se acumula nos vacúolos; esse acúmulo de ácidos orgânicos explica o nome do grupo. Durante o dia, o malato é estocado e transportado para os cloroplastos e descarboxilado, liberando CO2 que é reduzido pelo Ciclo de Calvin. CO2 CO2 CO2 H2O H2O H2O H2O CO2 HCO3 – OAA NADH Piruvato NAD+ PEP Triose-P Triose-P Malato Malato Vacúolo Vacúolo Cloroplasto CloroplastoÁc. Málico Ác. Málico Ciclo de Calvin Noite Dia Amido Amido PEPC MDH Enzima málica Figura 14 – Metabolismo das plantas CAM Lembrete Em condições de clima temperado as plantas C3 podem ser mais eficientes que as plantas C4. 1.8 Fisiologia comparada das plantas C3, C4, CAM As adaptações nas C4 permitem que elas fotossintetizem em altas taxas, mesmo em altas temperaturas (o mecanismo de concentração de CO2 praticamente elimina a fotorrespiração). Essas plantas conseguem altas produtividades nas condições tropicais. As adaptações fisiológicas das plantas CAM permitem a sua sobrevivência em condições de climas áridos e semiáridos. Essas plantas são pouco produtivas (baixas taxas fotossintetizantes). Já as características das plantas C3 permitem que elas sejam mais eficientes em condições de climas temperados (note que essas plantas consomem menos ATP por molécula de CO2 fixado). A redução na produtividade das plantas C3 deve-se ao aumento da fotorrespiração com o aumento da temperatura. Observação A remoção de tubérculos, sementes ou frutos em desenvolvimento (drenos) inibe a fotossíntese após uns poucos dias, especialmente nas folhas adjacentes que normalmente translocam substâncias para estes órgãos. Além disso, espécies 28 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Unidade I que fotossintetizam em taxas mais elevadas também apresentam maiores taxas de translocação de assimilados via floema. Estes resultados mostram que existe um controle entre a produção (fotossíntese), a translocação via floema e a utilização dos fotoassimilados (respiração e/ou armazenamento). 2 RESPIRAÇÃO CELULAR NAS PLANTAS A respiração aeróbica é comum em todos os organismos eucariotos, e a respiração nas plantas apresenta algumas diferenças em relação à respiração nos animais. A respiração é um processo biológico no qual compostos orgânicos reduzidos são mobilizados e subsequentemente oxidados de maneira controlada. A equação geral da respiração é inversa à da fotossíntese. Do ponto de vista químico, a respiração vegetal pode ser expressa como a oxidação da molécula de 12 carbonos de sacarose e a redução de 12 moléculas de H2O. Na respiração celular ocorre: • Processo de obtenção de energia através da quebra e conversão da glicose. • A molécula de energia é degradada passo a passo desprendendo energia aos poucos. • A organela responsável pela maior parte do processo é a mitocôndria. Equação geral: C6H12O6 + 6O2 6CO2 + 6H2O + 38 ATP A fotossíntese fornece os carboidratos dos quais as plantas dependem, enquanto a respiração é o processo pelo qual a energia armazenada nos carboidratos é liberada de maneira controlada. Embora existam alguns aspectos específicos da respiração em plantas que diferem daqueles da respiração nos animais, a respiração aeróbica (comum a todos os organismos eucarióticos) em plantas é semelhante àquela encontrada em animais. 2.1 Respiração: glicólise A glicólise é o processo rápido de degradação de uma molécula de glicose em duas moléculas de ácido pirúvico ou piruvato. Ocorre no hialoplasma (citossol) e consiste em dez reações enzimáticas. Suas funções são preparar a glicose para ser degradada em CO2 e H2O; sintetizar ATP com ou sem oxigênio; e utilizar intermediários em processos biossintéticos. • Onde a energia fica armazenada? — Nas ligações químicas entre os fosfatos da molécula de ATP. — ATP: Adenosina Trifosfato ou Trifosfato de Adenosina. 29 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 FISIOLOGIA VEGETAL • Como o ATP armazena energia? — A energia liberada na quebra da glicose é armazenada nas ligações fosfato. — Quando a célula precisa de energia o ATP é quebrado em ADP + P, liberando energia. A glicólise ocorre em todos os organismos vivos e, em termos evolutivos, é o mais antigo dos três estágios da respiração. As enzimas que catalisam as reações da glicólise estão localizadas no citosol. Em plantas ocorre também nos plastídios, e O2 não é requerido para converter glicose em piruvato. Isso sugere que a glicólise deve ter sido, provavelmente, o processo fornecedor de energia nas células primitivas, que realizavam a respiração anaeróbica, antes do aparecimento do O2 na atmosfera e da fotossíntese. Lembrete Embora as plantas superiores sejam organismos aeróbicos obrigatórios, seus tecidos ou órgãos podem estar sujeitos a condições anaeróbicas. 2.2 Respiração nos órgãos vegetais e a relação com a fotossíntese É mais complicado de se estudar a respiração ao nível de órgãos ou da planta do que estudá-la em células individuais. A respiração na planta é normalmente estudada medindo-se a absorção de O2 ou a evolução de CO2, e as taxas obtidas dessa maneira são altamente variáveis. Além disso, as taxas de respiração diferem entreórgãos, mudando com a idade e com o estádio de desenvolvimento, e são bastante influenciadas pela temperatura do ar, pelos níveis de oxigênio, dentre outros fatores. Alguns órgãos, especialmente folhas e alguns frutos, experimentam um aumento transitório na respiração, conhecido como climatério, o qual marca a senescência e as mudanças degenerativas que precedem a morte. No caso de frutos climatéricos, estas mudanças coincidem com o amadurecimento. Tipicamente, no climatério, o aumento no consumo de O2 é acompanhado pela queda na fosforilação oxidativa, indicando que a produção de ATP não está sendo acoplada ao transporte de elétrons. 2.2.1 Respiração de crescimento É aquela que inclui o carbono realmente incorporado (produção de esqueletos de carbono para a formação de parede celular, macromoléculas etc.) mais o carbono respirado para produzir energia sob a forma de ATP e poder redutor (NADH, NADPH e FADH2) necessários às reações de biossíntese e ao crescimento. 2.2.2 Respiração de manutenção É aquela que fornece somente energia (ATP) para os processos que não resultam em aumento de matéria seca (não induz crescimento), tais como: transporte de moléculas orgânicas, manutenção das estruturas de membranas e troca de solutos. 30 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Unidade I 1.5 1.0 0.5 0 100 200 300 RGR (mg g–1 day–1) RQ (m ol C O 2 m ol –1 O 2) Figura 15 – Relação entre a taxa de crescimento do órgão e a respiração de manutenção 3 FATORES QUE AFETAM A RESPIRAÇÃO Disponibilidade de substrato A respiração depende da disponibilidade de substratos. Plantas pobres em amido, frutanas ou açúcares de reserva respiram em taxas consideravelmente baixas. Plantas deficientes em açúcares aumentam sensivelmente suas taxas de respiração quando supridas com os referidos substratos. De fato, a taxa de respiração de folhas é maior no início da noite, quando os níveis de açúcares são altos, do que antes de iniciar o dia, quando os níveis de substratos são baixos. Luz Os efeitos da luz sobre a respiração mitocondrial têm sido motivo de considerável discussão. Alguns consideram que a respiração mitocondrial decresce na presença de luz, porém não se conhece ao certo a intensidade desse efeito. O problema reside na dificuldade de se medir a respiração em um período em que a troca de gases é dominada pelo fluxo de CO2 e O2 devido à fotossíntese, à reciclagem de CO2 dentro da folha e à troca de metabólitos entre cloroplastos e mitocôndrias. Temperatura Quando a temperatura está em torno de 5 e 25 ou no máximo 30 oC, a respiração nas plantas tende a aumentar exponencialmente, dessa forma o valor da respiração representado por Q10 fica em torno de 2,0. Nessa faixa de temperatura, a taxa de respiração dobra para cada aumento de 10 oC, o que está de acordo com o comportamento típico das reações enzimáticas. Em temperaturas acima de 30 oC o 31 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 FISIOLOGIA VEGETAL valor de Q10 na maioria das plantas começa a cair. Quando a temperatura se aproxima de 50 a 60 oC, a desnaturação térmica das enzimas respiratórias e os danos sobre as membranas praticamente paralisam a respiração mitocondrial. Oxigênio Como aceptor final de elétrons, a disponibilidade de O2 é, obviamente, um fator determinante da taxa respiratória. No entanto, sob condições normais, o oxigênio raramente é um fator limitante. Porém, existem algumas situações onde a disponibilidade de O2 pode tornar-se um fator limitante. Por exemplo, em tecidos com baixa relação superfície/volume, como tubérculos de batata, a lenta difusão de O2 pode restringir a respiração no interior destes órgãos. O suprimento de O2 é também comprometido em cultivos inundados, onde a respiração mitocondrial se torna comprometida, principalmente em espécies não adaptadas. Observação Um ponto importante a ser considerado é que, na maioria das plantas, uma proporção significativa do carbono fotoassimilado é alocado para a respiração. Em espécies herbáceas, de 30% a 60% do ganho diário de carbono na fotossíntese são consumidos na respiração, e esse valor decresce com a idade; já em espécies lenhosas jovens essas perdas são cerca de um terço do carbono assimilado, podendo dobrar nas plantas adultas devido ao aumento na proporção de tecidos não fotossintetizantes da planta. Em áreas tropicais, a respiração pode consumir de 70% a 80% dos fotoassimilados, em função da alta taxa de respiração noturna associada às elevadas temperaturas da região. 4 HORMÔNIOS E MOVIMENTOS VEGETAIS Os vegetais são organismos complexos que necessitam de um eficiente meio de comunicação entre os órgãos, tecidos e células para o seu correto desenvolvimento. Para que tantas atividades vitais sejam realizadas de forma ordenada, as células da planta devem ser capazes de se comunicar a diferentes distâncias. Essa comunicação intercelular é feita pelos hormônios, os quais são mensageiros químicos primários, que carregam a informação entre células e são responsáveis pelos mecanismos de crescimento e desenvolvimento dos vegetais. 4.1 Hormônios vegetais Os vegetais utilizam vários fatores, tanto intrínsecos quanto extrínsecos, para o seu crescimento e desenvolvimento, assim eles podem se diferenciar e apresentar diversas formas com uma variedade de tecidos e órgãos. Os fatores extrínsecos podem ser representados por luz, temperatura, água, nutrientes, dentre outros. 32 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Unidade I Os fatores intrínsecos são representados pelos hormônios vegetais, responsáveis por mecanismos como: divisão celular, aumento do tamanho da célula, assim como o controle do ritmo circadiano e da programação genética. O mecanismo de crescimento e desenvolvimento dos vegetais está regulado de maneira bastante complexa através de uma extensa rede de sinalização interna e externa, em que os hormônios estão envolvidos em vários aspectos. Os hormônios vegetais, também denominados fitormônios, são um composto orgânico produzido no corpo do vegetal. Os hormônios vegetais podem atuar direta ou indiretamente no local onde são produzidos, mas também podem ser produzidos em uma parte e enviados para outra do corpo do vegetal, onde, em baixa concentração, podem desencadear uma resposta fisiológica. Essa resposta pode ser capaz de estimular ou inibir determinado mecanismo, exibindo uma atividade no controle do crescimento e desenvolvimento dos vegetais, produzindo diferentes respostas fisiológicas, a exemplo de o crescimento, floração, amadurecimento dos frutos etc. Lembrete A palavra hormônio vem do termo grego horman, que significa estimular ou despertar. Entretanto, existem hormônios inibitórios. Assim, é mais conveniente considerá-los como reguladores químicos. Além dos hormônios vegetais, outro termo utilizado é regulador de crescimento, empregado tanto para os compostos naturais, os quais são sintetizados no corpo do vegetal envolvidos com o seu crescimento, quanto para as substâncias sintéticas (hormônio sintético e regulador sintético), que podem ser manipuladas na planta causando uma determinada resposta fisiológica. Os hormônios apresentam muitas respostas individualizadas no corpo do vegetal; entretanto, para que as plantas possam crescer e se desenvolver normalmente, é preciso que haja uma interação dos sinais endógenos ou ambientais, incluindo efeitos dos vários tipos de hormônios. A resposta fisiológica desencadeada pelos hormônios no corpo do vegetal vai depender do tecido ou órgão e da concentração produzida. De maneira que as respostas desencadeadas pela síntese de um determinado hormônio apresentam efeitos distintos de acordo com o órgão ou tecido, dependendo da espécie. Assim como é possível observar que diferentes hormônios são capazes de produzir uma mesma resposta em tecidos e órgãos, além das respostasdadas pela interação entre dois hormônios ou mais, dependendo da concentração, desencadeada por uma complexa interação hormonal. O mecanismo de ação dos hormônios no corpo do vegetal obedece a uma sequência de eventos que pode ser representada por três estágios. Inicialmente, ocorre a percepção do sinal que envolve a ação do hormônio com o receptor, assim o hormônio pode difundir-se célula a célula de modo simplasto (espaço interior à membrana plasmática) ou apoplasto (compartimentos existentes exteriormente à membrana plasmática). A detecção é acompanhada pela interação estabelecida entre o hormônio e o 33 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 FISIOLOGIA VEGETAL receptor celular; esse é específico do hormônio e característico da célula-alvo. Posteriormente, ocorre a transdução e amplificação do sinal, assim o complexo ativo hormônio-receptor inicia uma cascata de eventos bioquímicos e moleculares, os quais irão levar à resposta final. A resposta final de cada célula para os diferentes sinais identificados pelos hormônios depende basicamente de dois fatores: do programa de desenvolvimento, ou seja, dos genes que estão sendo expressos no tempo de exposição do sinal, e da concentração de outras moléculas de sinalização. Recepção Tradução Resposta1 2 3 Parede celular Citoplasma Moléculas sinalizadoras Membrana plasmática Receptor Hormônio ou estímulo ambiental Ativação de um receptor celular Figura 16 – Atuação dos fitormônios As diferentes respostas fisiológicas para um mesmo hormônio em tecidos e órgãos correspondem, inicialmente, à concentração hormonal, abaixo da qual pode não apresentar resposta e acima da qual o hormônio apresenta um efeito inibitório; assim, existe uma faixa de concentração ótima para que o hormônio possa atuar no corpo do vegetal. Outro fator extremamente importante para a atuação do hormônio corresponde ao estágio de desenvolvimento, uma vez que tais respostas são diferenciadas dependendo se o vegetal está na fase de embrião, plântula, planta jovem, fase vegetativa ou fase reprodutiva. Além do mais, os mecanismos de crescimento e desenvolvimento são contínuos, e a passagem de estágios dá-se de forma gradativa. Além dos fatores já mencionados, vale lembrar que existe uma sensibilidade diferencial no corpo do vegetal, produzido pelas células-alvo e seus receptores proteicos, que são diferentes de acordo com o estágio de desenvolvimento. Essas células reconhecem os hormônios e os selecionam através de receptores (proteínas estruturais). Quando o hormônio se liga ao receptor, pode haver uma mudança na estrutura, o que causa mudanças metabólicas que levam à amplificação do sinal hormonal, levando à resposta fisiológica. Por fim, as diferentes respostas dos tecidos e órgãos vegetais estão diretamente relacionadas à interação dos hormônios, que muitas vezes pode ser para estimular determinada resposta quando em 34 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Unidade I conjunto ou exercendo uma ação contrária. Desse modo, a interação observada entre os hormônios pode refletir um acréscimo ou um decréscimo na quantidade de sinais químicos a serem integrados pelas células. 4.1.1 Auxinas A auxina (do grego auxein, que significa crescer) foi o primeiro hormônio vegetal a ser estudado. Em estudos desenvolvidos por Went (1926) foi demonstrado que em coleóptilos (folhas modificadas que cobrem a parte aérea de gramíneas na fase inicial do estabelecimento da plântula) o crescimento em reposta à luz era influenciado por uma substância química, transportada lateralmente para o lado menos iluminado. Esse hormônio foi identificado na década de 1930, denominado Ácido Indol-3-Acético (AIA) ou auxina, e posteriormente outras auxinas naturais foram identificadas, porém AIA é a auxina mais abundante e cujos efeitos fisiológicos são mais marcantes no corpo do vegetal. Além das auxinas naturais, os laboratórios sintetizam várias substâncias com as atividades das auxinas, as quais são chamadas de auxinas sintéticas. CH2 COOH CH2 CH2 CH2 COOH CH2 COOH CH2 COOH N N N CI H H H Ácido indolil - 3 - acético (AIA) Ácido fenilacético Ácido indolil - 3 - butírico (AIB) Ácido 4 - cloroindolil - 3 - acético (4 - cloro - AIA) Figura 17 – Estrutura química de algumas auxinas naturais O processo de enraizamento é muito complexo, incluindo fatores fisiológicos, bioquímicos e biológicos (fatores internos) que interagem com os fatores externos. Além disso, a complexidade é aumentada pela variabilidade genética devido ao grande número de espécies. O controle do desenvolvimento de raízes adventícias é influenciado por substâncias reguladoras de crescimento. As auxinas são os únicos reguladores de crescimento que aumentam a formação de primórdios radiculares (TAIZ; ZEIGER, 1998). 35 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 FISIOLOGIA VEGETAL Saiba mais Para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema, leia o artigo: RADMANN, E. B.; FACHINELLO, J. C.; PETERS, J. A. Efeito de auxinas e condições de cultivo no enraizamento in vitro de porta-enxertos de macieira ‘M-9’. Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal, v. 24, n. 3, p. 624-628, dez. 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbf/v24n3/15095>. Acesso em: 2 jun. 2016. Esse hormônio é produzido em diversos órgãos no corpo do vegetal, cujos efeitos fisiológicos são extremamente variados, dependendo do local de ação e da concentração. Estão relacionados com o alongamento celular, podendo inibir ou estimular, abscisão de folhas, flores e frutos, desenvolvimento das gemas laterais ao se quebrar a dominância apical, divisão celular em tecidos de callus na presença do hormônio citocinina, desenvolvimento de raízes, indução de partenocarpia e produção de etileno (hormônio gasoso). Além disso, também são usadas como herbicidas, cuja ação é bem seletiva, atuando nas plantas dicotiledôneas. Membrana plasmática Citosol Parede celular Ápice Sentido do movimento do AIA BaseAIA AIAH AIAH AIA–H + H+ AIA– + H+ ADP + P Pin ATP H+ H+ H+ H+ Aux Aux Aux Figura 18 – Direção do movimento das auxinas nas células do corpo do vegetal De maneira geral, o transporte das auxinas é feito célula a célula (difusão) do ápice para a base, denominado transporte polar basípeto, que ocorre de forma lenta e também é caracterizado por apresentar um gradiente de concentração entre as partes aéreas e as raízes, o que contribui para o controle de alguns mecanismos, tais como cicatrização e senescência foliar. Contudo, as auxinas produzidas em folhas maduras são enviadas para as demais partes do corpo do vegetal via floema. 36 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Unidade I Membrana plasmática Citosol Parede celular Ápice Hipótese da ativação Hipótese da síntese RNAm ATPase AIAH AIA–H + H+ AIA– + H+ ATP ATP ATP ATP ATP H+ H+ H+ H+ H+ H+H+ H+ H+ H+ H+ H+ Aux Núcleo Figura 19 – Transporte membranar das auxinas As auxinas são produzidas em meristemas apicais de folhas e tecidos jovens, relacionadas normalmente à expansão das células vegetais, além de serem fundamentais para induzir a produção de outros hormônios. Os efeitos dependem basicamente de dois fatores: local de atuação e concentração. Além disso, a sensibilidade à auxina varia de um órgão para outro. Assim, as raízes são mais sensíveis à auxina em relação ao caule, logo altas concentrações de auxina estimulam o crescimento do caule e inibem o crescimento das raízes. 4.1.1.1 Efeitos fisiológicos Dominância apical A auxina produzida na gema apical do caule é capaz de inibir o desenvolvimento das gemas laterais, mantendo-as em estado de dormência. Assim, se a gema apical for retirada, através da poda, as gemas laterais passarão a receber auxinas e novos ramos se desenvolverão, de modo que o vegetalpasse a ter forma copada: pouca altura e mais galhos. 37 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 FISIOLOGIA VEGETAL A) B) Gema apical Gemas laterais Ausência da gema apical Desenvolvimento de ramos laterais Figura 20 – Quebra da dominância apical Alongamento celular O aumento no tamanho das células vegetais é resultado da ação das auxinas, através da produção das expansinas, que atuam afrouxando as microfibrilas da parede celular, proporcionando o aumento. Matriz polissacarídica da parede celular A parede celular torna-se mais ácida H+ H+ H+ H+ H+H+ H+ H+ H+ As auxinas aumentam a atividade das bombas de prótons Com o afrouxamento da celulose a célula pode se expandir Microfibrilas Expansinas em forma de cunha, ativadas pelo pH, separam as microfibrinas de celulose da matriz polissacarídica. Os polissacarídeos expostos são agora mais acessíveis às enzimas que promovem a expansão da parede celular. A clivagem enzimática da matriz polissacarídica permite deslizamento das microfibrilas. A extensibilidade da parede celular é aumentada. A pressão de turgor causa a expansão celular. Enzimas da parede celular Parede celular Proteínas expansinas 3 4 1 5 2 H2O Parede celularMembrana plasmática Citoplasma Vacúolo Núcleo Figura 21 – Atuação da enzima expansina na parede celular 38 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Unidade I Formação de raízes laterais O hormônio auxina é requerido em baixas concentrações para o desenvolvimento de raízes, porém alguns pesquisadores acreditam que para a formação das raízes laterais é necessária uma alta concentração de auxina transportada via floema para estimular a divisão do câmbio vascular e promover o desenvolvimento das raízes laterais. Assim, de forma prática, é possível usar soluções de auxina para induzir o desenvolvimento de raízes. Frutos sem sementes As auxinas são produzidas no pólen, no endosperma e no embrião de sementes em desenvolvimento, de modo que evidências relacionam sua atuação ao desenvolvimento do fruto. Caso o processo de polinização seja bem-sucedido, haverá o estabelecimento do fruto; assim, após a fertilização, o fruto necessitará de auxina para crescer. Alguns frutos são desenvolvidos através de um processo denominado partenocarpia, caracterizado pela ausência da semente. Isso ocorre porque não há fecundação do óvulo, a exemplo do que acontece com a banana e o limão-taiti. Entretanto, através do uso de hormônios, pode-se induzir a produção de frutos sem sementes pelo tratamento de flores não polinizadas com auxinas. Desenvolvimento normal Sementes removidas Sementes removidas e aplicação de AIA Figura 22 – Frutos sem sementes pela ação das auxinas O uso comercial das auxinas tem sido praticado tanto na agricultura quanto na horticultura, em virtude da sua eficiência nos processos que envolvem o florescimento em algumas espécies, a indução das raízes laterais, a prevenção da abscisão de órgão vegetais (flores e frutos), o controle de pragas (herbicidas), além de outros usos. Essa prática é extremamente eficiente, uma vez que as plantas têm a capacidade de responder às auxinas sintéticas que são administradas em baixas concentrações em relação às auxinas naturais. 39 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 FISIOLOGIA VEGETAL A presença de sementes em frutos, dependendo da espécie, pode ser dispensável ou até mesmo indesejável ao consumo e à culinária. Alguns reguladores vegetais podem ser utilizados para estimular a partenocarpia, tais como giberelinas, auxinas e citocininas. O mais utilizado é o Ácido Giberélico (GA3), por produzir frutos bem similares àqueles produzidos em condições normais. Saiba mais Para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema, leia o artigo: TOFANELLI, M. B. D. et al. Ácido giberélico na produção de frutos partenocárpicos de pimenta. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 21, n. 1, p. 116-118, mar. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/aesalq/ v32/51.pdf>. Acesso em: 2 jun. de 2016. 4.1.1.2 Auxinas e os movimentos vegetais Os movimentos vegetais, ao contrário do que acontece com os animais, são movimentos lentos e que não envolvem deslocamento, mas o posicionamento da planta em determinado ambiente, podendo ser direcionados por algum fator ambiental. Esses movimentos podem ocorrer através da diferenciação do crescimento nos órgãos do vegetal, o que caracteriza uma ação irreversível, ou simplesmente pela diferença na turgescência (volume na célula), frequentemente associada ao pulvino (são bases espessadas das folhas, com grande quantidade de parênquima que, por variações de turgor em células das faces opostas, permite o dobramento dos folíolos), sendo uma ação reversível. Púlvino Tecido vascular Córtex (a) (b) (c) Figura 23 – Representação da região do pulvino de Mimosa pudica: (a) porção da ráquis mostrando três folíolos, (b) secção transversal com dois folíolos fechados e (c) secção transversal mostrando o centro do tecido vascular circundado pelo córtex 40 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 Unidade I A ação dos movimentos vegetais é caracterizada pela percepção do estímulo ambiental, seguida da maneira como ele migra dentro da célula, das mudanças ocasionadas após o sinal ser enviado e, por fim, da reação da planta. Existem dois tipos de movimentos vegetais: • Nastismos: são movimentos dos vegetais desencadeados por estímulos ambientais, porém não orientados por eles. O movimento independe do sentido e direção do estímulo. São observados alguns tipos de nastismos: — Tigmonastismo ou sismonastismos: folíolos das folhas de plantas do tipo sensitiva ou mimosa, que, ao sofrerem um abalo com a mão de uma pessoa ou com o vento, fecham seus folíolos. Figura 24 – Movimento das folhas da Mimosa pudica — Nictinastimos: refere-se às folhas que assumem posição noturna diferente daquela apresentada durante o dia (“movimento de sono”) em resposta à luz. — Hidronastismo: dobramento ou enrolamento das folhas devido à perda diferencial nas células buliformes (são células epidérmicas de grandes dimensões, em forma de bolha, que ocorrem na superfície superior das folhas de muitas gramíneas). Reduz a exposição ao ar seco e à insolação, minimizando os efeitos do déficit hídrico. Lembrete Em caules e coleóptilos a gravidade é percebida pela bainha de amido, uma camada de células que circunda os tecidos vasculares da parte aérea. 41 Re vi sã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 08 /0 6/ 20 16 FISIOLOGIA VEGETAL • Tropismos: movimentos de crescimento ou curvatura das plantas nos quais o sentido é determinado pelo estímulo ambiental. O hormônio auxina controla os movimentos de tropismo, assim a resposta pode ocorrer de várias formas: movimentos na mesma direção, na direção oposta ou em ângulos específicos em relação ao estímulo. São observados alguns tipos de tropismos: — Fototropismo: tipo de tropismo em que a fonte estimuladora do movimento da planta é a luz; assim, quando a planta é iluminada, a auxina migra para o lado oposto ao da luz; em vez de ser transportada do ápice para a base, é transportada lateralmente. A curvatura em direção à luz é produzida devido à diferença de crescimento entre os lados iluminado e sombreado. A) B) Ápice caulinar Ápice radicular Raios de luz auxina auxina Figura 25 – Movimento da planta em direção à luz (fototropismo) As diferenças de concentração de auxina provocam, no caule, o fototropismo positivo, devido ao excesso de auxina estimular o alongamento celular; e, na raiz, fototropismo negativo, devido ao excesso de auxina inibir o alongamento celular. — Gravitropismo: tipo de tropismo em que a fonte estimuladora do movimento é a força gravitacional, capacitando a raiz a crescer para
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