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Linguagem e comunicacao

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13
Disciplina :Português Instrumental
1. Linguagem/Comunicação 
" ... a língua permeia tudo, ela nos constitui enquanto seres humanos Nós somos a língua que falamos. A língua que falamos molda nosso modo de ver o mundo e nosso modo de ver o mundo molda a língua que falamos ... " ( Bagno, 2009) 
Não há consenso nas definições dos dois termos: comunicação e linguagem, em razão da constatação de que a comunicação humana é um fenômeno extremamente complexo. 
A linguagem humana é tida ora como representação do mundo e do pensamento, que tem por função representar o pensamento (como um "espelho") e o conhecimento humano, ora como Instrumento de comunicação (como uma ferramenta), um código, cuja função principal é a transmissão de informações. 
Numa concepção mais contemporânea a linguagem é considerada como uma atividade, como forma de ação, "como lugar de interação que possibilita aos membros de uma sociedade a prática dos mais diversos tipos de atos, que vão exigir dos semelhantes reações e/ ou comportamentos, levando ao estabelecimento de vínculos e compromissos anteriormente inexistentes." (Koch, 1992)
Aristóteles definiu o estudo da retórica (comunicação) como a procura de "todos os meios disponíveis de persuasão"- meta principal da comunicação, ou seja, a tentativa de levar outras pessoas a adotarem o ponto de vista de quem fala. 
Deste modo, o objetivo básico da comunicação é nos tornarmos agentes influentes, é influenciarmos os outros, nosso ambiente físico e a nós próprios e também é nos tornarmos agentes determinantes. Em suma, nós nos comunicarmos para influenciar com intenção. 
Assim, como o homem é um ser essencialmente político, a comunicação também pode ser entendida como um ato político, uma prática social básica. Nesta prática social é que se assentam as raízes do direito, conjunto de normas reguladoras da vida social. 
Elementos da comunicação 
Estabelecido que as relações sociais ocorrem em forma de comunicação diversas, nela há os elementos envolvidos no ato comunicativo; deve haver, então, um objeto de comunicação, ou seja, a mensagem com um conteúdo (referente), transmitido ao receptor por um emissor, por meio de um canal, com seu próprio código.
Assim, temos:
o emissor ou codificador: é o que emite a mensagem; pode ser um indivíduo ou um grupo (firma, organismo de difusão, etc.) é quem envia ou codifica a mensagem; 
o receptor ou decodificador: é o que recebe a mensagem; pode ser um individuo, um grupo, ou mesmo um animal ou uma máquina (computador). Em todos estes casos, a comunicação só se realiza efetivamente se a recepção da mensagem tiver uma incidência observável sobre o comportamento do destinatário (o que não significa necessariamente que a mensagem tenha sido compreendida: é preciso distinguir cuidadosamente recepção de compreensão). 
A mensagem: é o objeto da comunicação; ela é constituída pelo conteúdo das informações transmitidas e deve ser comum ao receptor; em diferentes tipos: 
-as mensagens sonoras: palavras, músicas, sons diversas; 
-as mensagens tácteis: pressões, choques, trepidações, etc; 
-as mensagens olfativas: perfumes, 
-as mensagens gustativas: tempero quente (apimentado) ou não ...
o código: é um conjunto de signos e regras de combinação destes signos; o destinador lança mão dele para elaborar sua mensagem (esta é a operação de codificação). Pode ser Verbal ( falado e escrita) ou Não Verbal ( por gestos, mímicas, cores, odores, símbolos, ícones, índices, etc); O código também pode ser Aberto (com dupla interpretação) ou Fechado ( com interpretação unívoca, de forma concisa e objetiva) 
O canal: pode ser Natural ( pela fala , gestos, etc) ou Tecnológico ( correio, telefone,ínternet,fax, rádio, etc) 
Qualquer falha nos sistema de comunicação ou qualquer tipo de barreiras impedirá a perfeita captação da mensagem. Ao obstáculo que fecha o circuito de comunicação costuma-se dar o nome de ruído. Este poderá ser provocado pelo emissor, pelo receptor, pelo canal ou pela mensagem. 
Barreiras à comunicação 
Existem várias barreiras a uma comunicação eficaz, elas servem de obstáculos ou resistências à comunicação entre as pessoas. São variáveis que interferem no processo de comunicação e que o afetam profundamente, fazendo com que a mensagem, tal como é enviada se torne diferente da mensagem tal como é recebida. 
Podemos destacar três principais tipos de barreiras, a seguir: 
Barreiras humanas (pessoais): são interferências que decorrem das limitações, emoções e valores humanos de cada pessoa. As barreiras mais comuns em situações de trabalho são hábitos deficientes de ouvir, a emoções, as motivações e os sentimentos pessoais, e principalmente o grau de percepção, esta pode limitar ou distorcer as comunicações com outras pessoas. 
Cada pessoa tem seu próprio sistema cognitivo, suas percepções, seus valores, suas motivações, constituindo um padrão pessoal de referência que torna bastante pessoal e singular sua interpretação das coisas. 
Portanto, as pessoas possuem lentes através das quais veem seu mundo exterior e o interpretam as suas maneiras. A ideia comunicada está intimamente relacionada com as percepções e motivações tanto da fonte (emissor) como do destinado, dentro de determinado contexto situacional. 
Barreiras físicas: são interferências ocorridas no ambiente em que acontece o processo de comunicação. Um trabalho que possa distrair, uma porta que se abre, a distância física entre as pessoas, canal saturado, paredes que se antepõem entre a fonte e o destino, ruídos estáticos na comunicação por telefone, etc. 
Barreiras semânticas: são as limitações ou distorções decorrentes dos símbolos, por meio dos quais a comunicação é feita. As palavras ou outras formas de comunicação- como gestos, sinais, símbolos etc, podem apresentar diferentes sentidos para as pessoas envolvidas no processo, podendo distorcer o seu significado. As diferenças de linguagem se constituem fortes barreiras semânticas entre as pessoas. 
2. Linguagem, língua e Fala 
Poucas palavras possuem significação tão extensa quanto a palavra linguagem. Ao ouvi-la, você pode pensar numa série de expressões, cada uma empregando o termo de forma diferente.: "linguagem popular", "linguagem de programação" , "linguagem do cinema". Talvez você também se lembre de ter lido ou ouvido em algum lugar que "a linguagem diferencia o homem de todos os outros animais". Será que existe algo comum a tantos modos de usar uma mesma palavra? 
A compreensão mútua entre o emissor e o receptor de uma mensagem é assegurada pelo emprego de um código comum a ambos. Esse código pode ser gestual, visual olfativo. etc. Dentre os diferentes códigos comunicativos existentes, a língua é o mais importante, pois seu uso é universal e generalizado nos diferentes grupos sociais. 
Aliás, o caráter social de uma língua é justamente sua característica mais evidente, sempre ligada à comunidade que a possui. O linguista Ferdinand de Saussure diz que a língua "é a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, que, por si só, não pode nem criá-la nem modificá-la i ela não existe senão em virtude duma espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade". 
Individualmente, é possível optar por esta ou aquela forma de expressão no momento de se comunicar, mas não se pode criar uma língua particular e exigir que outros a entendam. Assim, cada indivíduo pode fazer um uso próprio e personalizado da língua comunitária, originando a fala, sempre condicionada pelas regras socialmente estabelecidas da língua, mas suficientemente ampla para permitir um exercício criativo da comunicação. 
Comunica-se o homem de forma verbal ou não-verbal; esta última acontece de várias formas, dentre elas merece destaque: 
A linguagem corporal 
Na crítica cinematográfica é comum dizer que o corpo fala por Charles Chaplin e, constantemente se ressalta a expressividade dos olhos de Bette Davis. 
Sabe-se que os olhos merecem especial atenção de Machado de Assis, pois lhe retratavam a natureza intima, boa ou má, das pessoas. Para ficar com apenas uma obra,encontram-se em Dom Casmurro, olhos dorminhocos (tio Cosmo); olhos curiosos (Justina); olhos refletidos (Escobar); olhos quentes e intimativos (Sancha); olhos policiais (Escobar); olhos oblíquos e de ressaca (Capitu). 
As partidas de futebol se tornaram mais atraentes com a linguagem gestual dos jogadores. 
Já na Antiga Roma, nos jogos circences, o imperador, com o polegar levantado ou abaixado, prolatava as sentenças de vida ou de morte. A falsidade de um depoimento pode revelar-se até mesmo pela transpiração, pela palidez ou simples movimento palpebral. 
Os postulantes aos cargos públicos, em Roma, vestiam-se de túnicas brancas, indício de pureza de suas intenções e, por isso, chamavam-se candidatos (de candidus-a-um). 
A toga, como qualquer peça do vestuário, é uma informação indiciai da função exercida pelo juiz. 
3. As variantes linguísticas (regionais e sócio-culturais) e as relações sociais 
A comunicação não é regida por normas fixas e imutáveis. Ela pode transformar-se, através do tempo, e, se compararmos textos antigos com atuais, perceberemos grandes mudanças no estilo e nas expressões. Por que as pessoas se comunicam de formas diferentes? Temos que considerar múltiplos fatores: época, região geográfica, ambiente e status sócio-cultural dos falantes. 
Há uma língua-padrão? O modelo de língua padrão é uma decorrência dos parâmetros utilizados pelo grupo social mais culto. Às vezes, a mesma pessoa, dependendo do meio em que se encontra, da situação sócio-cultural dos indivíduos com quem se comunica, usará níveis diferentes de língua. 
A língua falada pode ser: culta, coloquial, popular, regional e grupal (gíria e técnica). 
A língua escrita pode ser: NÃO LITERÁRIA (língua-padrão, coloquial, popular, regional e grupal (giria e técnica) e LITERÁRIA.
A eficiência do ato da comunicação depende, entre outros requisitos, do uso adequado do nível de linguagem. Enquanto código ou sistema, a língua abre possibilidades de um sem-número de usos que os falantes podem adotar segundo as exigências da comunicação. 
Às variações, sociais ou individuais, que se observam na utilização da linguagem cabe o nome de variações linguísticas (dialetos), presentes em vários níveis de linguagem ou registros, impostos pela variedade de situação. 
Há, assim, os principais níveis de linguagem ou de registros: 
Nível culto: em latim, era o sermourbanus ou sermoeruditus. Utilizam-na as classes intelectuais da sociedade, mais na forma escrita e, menos, na oral. É de uso nos meios diplomáticos e científicos; nos discursos e sermões; nos tratados jurídicos e nas sessões do tribunal. O vocabulário é rico e são observadas as normas gramaticais em sua plenitude. 
	Nível Grupal técnico: presente em cada área profissional. Por exemplo: a linguagem dos médicos, dos advogados ("juridiquês"), dos jornalistas, dos economistas, etc. 
Nível Grupal. a Gíria - existem tantas quantas forem os grupos fechados. Há gíria policial, a dos jovens, dos estudantes, dos militares, dos jornalistas, etc. 
Obs. Quando a gíria é grosseira recebe o nome de Calão. 
Nível coloquial: utilizada pelas pessoas utilizam um nível menos formal, mais cotidiano. 
É a linguagem do rádio, televisão, meios de comunicação de massa tanto na forma oral quanto na escrita. Emprega-se o vocabulário da língua comum e a obediência às disposições gramaticais é relativa, permitindo-se até mesmo construções próprias da linguagem oral. 
Nível popular: utilizam-se as pessoas de pouca escolaridade ou mesmo analfabetas e, com maior frequência, na forma oral e mais raro na forma escrita. É a linguagem das pessoas simples nas comunicações diárias. Nota-se despreocupação com regras gramaticais de flexão, impostas pela gramática artificial da norma culta. 
Nível regional: também conhecida como dialetos, está presente em cada região. Vale ressaltar que para os linguistas não existe superioridade ou inferioridade em relações a estas variedades linguísticas ocorridas de Norte a Sul do país, ou seja, não existe uma região que se expresse melhor do que a outra em relação ao domínio vocabular e semântico, todavia a gramática tradicional, normativa não é da mesma opinião. 
4 Certo, errado ou adequado? 
Tendo em vista que existem vários níveis de linguagem, é natural que se pergunte o que é considerado "certo"e o que é considerado "errado"em um determinado idioma. 
Na verdade, devemos pensar a língua em termos de "adequação", ou seja, devemos sempre ter em vista o que vamos dizer (a mensagem), a quem se destina ( o destinatário), onde ( local em que ocorre o processo de informação) e como será transmitida a mensagem. 
Levando em consideração esses fatores, se pensarmos em termos de escolha de uma roupa o raciocínio é o mesmo, dependerá do local para onde vamos, com quem vamos falar e ainda de alguns outros elementos que determinarão esta escolha. 
 Normalmente as escolas aceitam e definem o que é certo ou que é errado, baseados somente na gramática normativa, ocorre que a partir desta concepção somos levados a utilizar a norma gramatical em todas as situações. 
Segundo Bagno (2009, p.67) explica-nos, em termos científicos, Luiz Carlos Cagliari em Alfabetizacao&lingüística que: 
A gramática normativa foi num primeiro momento uma gramática descritiva de um dialeto de uma língua. Depois a sociedade fez dela um corpo de leis para reger o uso da linguagem. Por sua própria natureza, uma gramática normativa está condenada ao fracasso, já que a linguagem é um fenômeno dinâmico e as línguas mudam com o tempo; e, para continuar sendo a expressão do poder social demonstrado por um dialeto, a gramática normativa deveria mudar. 
Continua o autor afirmando que se não é o ensino/estudo da gramática que vai garantir a formação de bons usuários da língua, o que vai garanti-la? Existe muito debate a respeito entre os linguistas e os pedagogos. O certo é que eles são praticamente unânimes em combater aquele mito. Há lugar para a gramática na escola? Parece que sim, mas também parece ser um lugar bastante diferente do que lhe era atribuído na prática tradicional de ensino da língua. 
Neste sentido, a gramática normativa se presta a reforçar o preconceito linguístico e segundo as concepções de Bagno "O preconceito linguístico está ligado, em boa medida, à confusão que foi criada, no curso da história, entre língua e gramática normativa. Nossa tarefa mais urgente é desfazer essa confusão. Uma receita de bolo não é um bolo, o molde de um vestido não é um vestido, um mapa-múndi não é o mundo ... Também a gramática não é a língua. 
Segundo Bagno (2009, p.51) É preciso abandonar a ânsia de tentar atribuir a um único local ou a uma única comunidade de falantes o "melhor" ou o "pior" português e passar a respeitar igualmente todas as variedades da língua, que constituem um tesouro precioso de nossa cultura."
Ressalta o autor que todas elas têm o seu valor, são veículos plenos e perfeitos de comunicação e de relação entre as pessoas que as falam. "Se tivermos de incentivar o uso de uma norma culta, não podemos fazê-lo de modo absoluto, fonte do preconceito. Temos de levar em consideração a presença de regras variáveis em todas as variedades, a culta inclusive." 
Por exemplo, segundo o mesmo autor, " diante de uma tabuleta escrita COLÉGIO é provável que um pernambucano, lendo.a em voz alta, diga Cblegio, que um carioca diga CUlegio, que um paulistano diga CÔlegio. Quem está certo? Ora, todos estão igualmente certos." O que acontece é que em toda língua do mundo existe um fenômeno chamado variação, isto é, nenhuma língua ê falada do mesmo jeito em todos os lugares, assim como nem todas as pessoas falam a própria língua de modo idêntico. 
Assim, coloca o autor: 
"É claro que ê preciso ensinar a escrever de acordo com a ortografia oficial, mas não se pode fazer isso tentando criar uma língua falada "artificial" e reprovando como "erradas" as pronúncias que são resultado natural das [pg. 52} forças internas que governam o idioma. Seria mais justo e democrático dizer ao aluno que ele pode dizer BUnito ou BOnito, mas quesó pode escrever BONITO, porque ê necessária uma ortografia única para toda a língua ... ( BAGNO, 2009, p.56)
Bagno (2009, p.74) expõe que" os Parâmetros curriculares nacionais reconhecem que existe muito preconceito decorrente do valor atribuído às variedades padrão e ao estigma associado às variedades não-padrão, consideradas inferiores ou erradas pela gramática. Essas diferenças não são imediatamente reconhecidas e, quando são, são objeto de avaliação negativa." 
Assim, para cumprir bem a função de ensinar a escrita e a língua padrão, a escola precisa livrar-se de vários mitos: o de que existe uma forma "correta" de falar, o de que a fala de uma região é melhor do que a de outras, o de que a fala "correta" é a que se aproxima da língua escrita, o de que o brasileiro fala maio português, o de que o português é uma língua difícil, o de que é preciso "consertar" a fala do aluno para evitar que ele escreva errado. 
Neste sentido, percebe-se que a gramática tradicional tenta nos mostrar a língua como um pacote fechado, um embrulho pronto e acabado. Mas não é assim. A língua é viva, dinâmica, está em constante movimento, toda língua viva é uma língua em decomposição e em recomposição, em permanente transformação. É uma fênix que de tempos em tempos renasce das próprias cinzas. É uma roseira que, quanto mais a gente vai podando, flores mais bonitas vai dando. 
Do exposto, confirma-se que em muitas situações o preconceito linguístico se faz presente, visto que ao agir baseado na crença de que só existe uma única língua portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos dicionários. Qualquer manifestação linguística que escape desse triângulo escola-gramática* dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito linguístico, "errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente", e não é raro a gente ouvir que "isso não é português". 
Enfim, para concluir transcreveremos outro trecho de Bagno (2009, p.117), que diz "Tudo muda no universo, e a língua também. A comparação da língua a um rio me faz lembrar do filósofo grego Heráclito que disse que "ninguém se banha duas vezes no mesmo rio": na segunda vez, já não é a mesma pessoa, já não é o mesmo rio." 
5. A linguagem oral e a linguagem escrita 
A expressão escrita difere, sensivelmente. da oral, muito embora a língua seja a mesma. 
Não há dúvidas: ninguém fala como escreve ou vice-versa, como foi visto acima. 
Em contato direto com o falante, a língua falada é mais espontânea, mais viva, mais concreta, menos preocupada com a gramática tradicional/artificial. Conta com vocabulário infinito, com variações que não conseguem ser abarcadas e sistematizadas pela gramática tradicional e está em permanente renovação. 
Já na linguagem escrita o contato com quem escreve e com quem lê é indireto; dai seu caráter mais abstrato, mais refletido; exige permanente esforço de elaboração e está mais sujeita aos preceitos gramaticais. O vocabulário caracteriza-se por ser mais conservador. 
A língua falada está provida de recursos extralinguísticos, contextuais - gestos, postura, expressões faciais - que, por vezes, esclarecem ou complementam o sentimento da comunicação. O interlocutor presente torna a língua falada mais alusiva, ao passa que a escrita, geralmente, deve apresentar uma precisão, segunda as moldes apontadas pela norma culta.Toda língua escrita deveria ser apenas a representação gráfica da falada. Na entanto, não é isso que acorre. A língua oral utiliza-se de fonemas para a formação do significante. Na língua escrita os grafemas (as letras do alfabeto) representam uma tentativa imperfeita de reprodução dos sons da língua porque não correspondem com exatidão aos fonemas. Nem sempre o número de fonemas corresponde ao número de grafemas. Ex. tax; /t/a/c/s/i/. 
As diferenças entre a língua falada e a escrita
	Língua Falada 
	
	
	
	
	
	
	
	Língua Escrita 
	
	
	
	
	
	
	Maior 
	uso
	de
	gírias, 
	da
	
	linguagem
	Vocabulário" dicionarizado", 
	termos
	coloquial, "da língua como ela 
	é", uso de 
	técnicas, prescriçào da lingua coma "deveria 
	dialetos
	( variações linguísticas),de acordo 
	ser", de acordo com as normas gramaticais 
	com a gramática natural, internalizada pelo 
	artificiais, 
	impostas
	por
	uma
	e1asse
	social
	falante. 
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	que detém a poder. 
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Anacolutos 
	(ruptura.
	de
	construção
	de
	Construções sintáticas elaboradas, 
	a
	partir
	frases), usa dos recursos 
	expressivas não- 
	de conceitos padronizadas. 
	
	
	
	
	verbais
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Liberdade de colocação pronominal. 
	
	Colocação 
	pronominal
	determinada
	p/
	"Me empresta uma caneta?" 
	
	
	
	
	gramática artificial. 
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Empreste-me uma caneta? 
	
	
	
	
	Supressão 
	de
	construções
	com
	pron.
	Emprego de todos as pronomes relativos. 
	
	relativas
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Predomínio da coordenação 
	
	
	
	
	Emprego da coordenação e subordinação. 
	
	Alguns tempos verbais são pouca ou 
	não
	Emprego de tempos verbais, de acordo com
	utilizados, 
	por
	exemplo
	• 
	o
	mais-que- 
	a norma padrão. 
	
	
	
	
	
	
	perfeito. Ex. Pedira, fizera, falara. 
	
	
	
	
	
	
	
	
	
Assim, a comunicação oral, diferentemente da escrita, pressupõe o contato direto entre os falantes o que a torna mais concreta e mais econômica (porque os elementos a que se refere estão presentes na situação do diálogo). Existe, ainda, na língua oral um jogo de cadências e pausas que dá ritmo à fala e auxilia na decodificação da mensagem. 
A comunicação escrita não dispõe desse joga de cadências e pausas que deve ser recriado através da pontuação e dos caracteres gráficos (maiúsculas, negrito, itálico, etc.). Parque tem que recuperar todos esses elementos, a língua escrita resulta menos econômica, porque tem que se valer de infinitos mecanismos artificiais para tentar aproximar-se, bem de longe, da verdadeira manifestação do que seja a língua de um povo. 
6. As Funções da linguagem 
As funções da linguagem são seis: 
1. Função referencial ou denotativa;
1. Função emotiva ou expressiva;
1. Função fática; 
1. Função conativa ou apelativa
1. Função metalinguística
1. Função poética,
Leia os textos a seguir:
Texto A
A índia Everon, da tribo Caiabi, que deu a luz a três meninas, através de uma operação cesariana, vai ter alta depois de amanhã, após ter permanecido no Hospital Base de Brasília desde o dia 16 de março. No início, os índios da tribo foram contrários à idéia de Everon ir para o hospital mas hoje já aceitam o fato e muitos já foram visitá-Ia. Everon não falava uma palavra de Português até ser internada e as meninas serão chamadas de Luana, Uiara e Potiara. 
 Jornal da Tarde, 13 jul. 1982
Texto B 
Uma morena 
Não ofereço perigo algum: sou quieta como folha de outono esquecida entre as páginas de um livro, sou definida e clara como o jarro com a bacia de ágata no canto do quarto - se tomada com cuidado, verto água limpa sobre as mãos para que se possa refrescar o rosto mas, se tocada por dedos bruscos, num segundo me estilhaço em cacos, me esfarelo em poeira dourada. Tenho pensado se não guardarei indisfarçáveis remendos das muitas quedas, dos muitos toques, embora sempre 05 tenha evitado aprendi que minhas delicadezas nem sempre são suficientes para despertar a suavidade alheia, mesmo assim insisto; meus gestos, minhas palavras são magrinhos como eu, e tão morenos, que esboçados a sombra, mal se destacam do escuro, quase imperceptível me movo, meus passos são inaudíveis feito pisasse sempre sobre tapetes, impressentida, mãos tão leves que uma carícia minha, se porventura a fizesse, seria mais branda que a brisa da tardezinha. Para beber, alem do chá, raramente admito um cálice de vinho branco, mas que seja seco para não esbrasear em excesso minha garganta em ardores ...
ABREU, Caio Fernando. Fotografias. In: Morangos mofados. 2. ed. São Paulo,Brasiliense, 1982. p.93 
Texto C 
 - Você acha justo que se comemore o Dia Internacional da mulher? 
- Nada mais justo! Afinal de contas, você está entendendo, a mulher há séculos, certo, vem sendo vítima de exploração e discriminação, concorda? Já houve alguns avanços, sabe, nas conquistas femininas. Você percebeu? Apesar disso, ainda hoje a situação da mulher continua desfavorável em relação à do homem, entende? 
Texto D 
Mulher, use o sabonete X. 
Não dispense X: ele a tornará tão bela quanto à estrelas de cinema.
Texto E 
Mulher. [Do lato Muliere.] S. f. 1. Pessoa do sexo feminino após a puberdade. [Aum.: mulherão, mulheraça, mulherona.] 2. Esposa. 
Texto F 
A mulher que passa 
Meu Deus, eu quero a mulher que passa. Seu dorso frio é um campo de lírios 
Tem sete cores nos seus cabelos 
Sete espera nças na boca fresca! 
Oh! Como és linda, mulher que passas Que me sacia e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Teus sentimentos, são poesia. Teus sofrimentos, melancolia. Teus pêlos leves são relva boa Fresca e macia. 
Teus belos braços são cisnes mansos Longe das vozes da ventania. 
Meu Deus, eu quero a mulher que passa! 
MORAIS, Vinicius de. A mulher que passa. In: __ . Antologia poética. 4. ed. Rio de Janeiro, Ed. Do autor, 1960. p.90. 
Todos os textos lidos, o tema é um só: mulher. No entanto, a maneira de cada autor varia. O que provoca essa diversificação é o objetivo de cada emissor, que organiza sua mensagem utilizando uma fala específica. Portanto, cada mensagem tem uma função predominante, de acordo com o objetivo do emissor. 
A- Função Referencial ou denotativa 
No texto A, a finalidade é apenas informar o receptor sobre um fato ocorrido. A linguagem é objetiva, não admitindo mais de uma interpretação. Quando isso acontece, predomina a função referencial ou denotativa da linguagem. 
Função referencial ou denotativa é aquela que traduz objetivamente a realidade exterior 00 emissor. 
B - Função emotiva ou expressiva 
No texto a, descrevem.se as sensações da mulher, que faz uma descrição subjetiva de si mesmo. Nesse caso, em que o emissor exterioriza seu estado psíquico, predomina a função emotiva da linguagem, também chamada de função expressiva. 
Função emotiva ou expressiva é aquela que traduz opiniões e emoções do emissor.
C-Função Fática 
No texto C, o emissor utiliza expressões que tentam prolongar o contato com o receptor, testando freqüentemente o canal
Neste caso, predomina a função fática da linguagem. 
Função fática é aquela que tem por objetivo iniciar, prolongar ou encerrar o contato com o receptor. 
D - Função conativa ou apelativa
A mensagem do primeiro texto contém um apelo que procura influir no comportamento do receptor. Nesse caso, predomina a função co nativa ou apelativa. 
São características dessa função: 
1. verbos no imperativo; 
1. presença de vocativos; 
1. pronomes de 2i! pessoa. 
Função conativa ou apelativa ê aquela que tem por objetivo influir no comportamento do receptor, por meio de um apelo ou ordem. 
E – Função metalinguística
O texto E, é a transição de um verbete de um dicionário. 
Essa mensagem explica um elemento do código - a palavra mulher - utilizando o próprio código nessa explicação. Quando a mensagem visa a explicar o próprio código ou utiliza-o como assunto, predomina a função metalinguística da linguagem. 
Função metalingüística é aquela que utiliza o código como assunto ou para explicar o próprio código. 
F - Função Poética A preocupação intencional do emissor com a mensagem, ao elaborá-la, caracteriza a função poética da linguagem 
Função poética é aquela que enfatiza a elaboração da mensagem, de modo a ressaltar seu significado. 
É importante observar que nenhum texto apresenta apenas uma única função da linguagem. Uma função sempre predomina num texto, mas nunca é exclusiva.
7. Estudo de textos e aplicação de exercícios 
Marcos Bagno, na abertura de seu livro Preconceito linguístico faz a seguinte analogia sobre a língua e a gramática: 
" ... enquanto a língua é um rio caudaloso, longo e largo, que nunca se detém em seu curso, a gramática normativa é apenas um igapó, uma grande poça de água parada, um charco, um brejo, um terreno alagadiço, à margem da língua. Enquanto a água do rio/língua, por estar em movimento, se renova incessantemente, a água do igapó/gramática normativa, por ser estática, não se modifica com tanta frequência" 
1.Com base nas teorias estudadas, apresente sua compreensão a respeito da língua falada e da gramática normativa. 
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2. Estudo de texto: língua e Fala 
"A linguagem, pois, distinguem-se dois fatores - a língua e a fala. Foi Saussure o primeiro a separar e conceituar estes dois aspectos. Compara a língua a um dicionário cujos exemplares idênticos são distribuídos entre os indivíduos. Cada falante escolhe na língua os meios de expressão de que necessita para comunicar-se, confere-lhe natureza material, produzindo-se assim a fala. 
A fala, de aplicação momentânea, é fruto da necessidade psicológica de comunicação e expressão, porque é a realização individual da língua, torna-se flutuante e varia, pois muda de indivíduo para indivíduo, de situação para situação. Altera-se facilmente pela influência de fatores diversos - estados psíquicos, ascensão social, migração, mudança de atividade, etc ...não é, porém, um fator de criação e sim de modificação. O indivíduo, pelo ato da fala, não cria a língua, pois recebe e usa aquilo que a sociedade lhe ministrou e, de certa forma, lhe impôs. 
A língua tem sempre a possibilidade de fixação e sistematização em dicionários e gramáticas. É um patrimônio extenso e ninguém a possui na sua totalidade. Cada falante retém uma parte (embora grande) do sistema, que não existe perfeito em nenhum indivíduo."
 (Borba, Francisco da Silva. Introdução aos Estudos linguísticos.)
Indique se as afirmações são corretas ou falsas, tendo por base o texto: 
1. Língua e fala são fenômenos exatamente idênticos? 
a) A língua é comparada a um dicionário, pois é impessoal e comum a todos os integrantes de uma comunidade. 
b) A fala é pessoal, cada falante a produz conforme a sua vontade. 
c) A fala é invariável, mantendo-se independente da situação. 
d) Uma mudança de atividade implica uma alteração da fala. 
e) A gramática sistematiza a língua. O dicionário a fixa. 
3.Considere nos textos o assunto, o vocabulário, a redação dada, o destinatário (a quem o texto se dirige), a intenção de cada um deles e responda: 
 a) Qual texto poderia aparecer em um livro didático para o ensino médio? 
b) Quais textos seriam adequados a publicações especializadas? 
c) O texto 2 seria adequado à primeira página de um jornal? 
d) Qual texto poderia aparecer na primeira página de um jornal? 
TEXTO 1
Os índices de desigualdade de renda crescem ao longo do período. A inflação e os sistemas de indexação foram uma alavanca de transferência de renda a favor dos estratos superiores da distribuição. A instabilidade e a perda de produtividade da economia brasileira também corroboram essa transferência, pois, durante o período, verifica-se expressivo crescimento de ocupados em atividades de baixa produtividade e baixos salários, muitos dos quais contratados sem registro em carteira de trabalho ou exercendo o seu trabalho por conta própria. As restrições de ordem política e financeira do Estado limitaram a implementação de políticas sociais redistributivas em praticamente todas as áreas, especialmente educação, saúde e habitação, e impediram um enfrentamento mais direto com os elementos estruturais da concentração da renda no país, como estrutura fundiária, programas de combate à pobreza, massificação do ensino fundamental, acesso ao crédito e à tecnologia para as empresas de menor porte, entre outros.
TEXTO 2
Aideia subjacente à abordagem equivalente à certeza é a de separar a duração dos fluxos de caixa de seu risco. Os fluxos de caixa são convertidos em fluxos de caixa sem risco (certos), que são descontados, então, pela taxa livre de risco. Geralmente, a taxa paga pela letra do Tesouro dos Estados Unidos é aceita e usada como taxa livre de risco. 
TEXTO 3
Os shoppings centers vão abrir uma hora mais tarde a partir de sexta- -feira para economizar energia. O horário de abertura passará das lO h para as 0 h. A associação do setor está orientando os shoppings a adotar outras medidas, como reduzir o uso de ar condicionado e escadas rolantes.
TEXTO 4
Testes de suscetibilidade de rotina não são indicados quando o organismo causador pertence a uma espécie com suscetibilidade previsível a uma droga específica. Este é o caso do Streptococcuspyogenes e da Neisseriameningitidis, que, até agora, são geralmente suscetíveis à penicilina.
Referências
Os textos utilizados foram compilados e adaptados das indicações: BAGNO, Marcos. O Preconceito linguístico. O que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2009.
MOYSES, Carlos Alberto. Língua Portuguesa: Atividades de Leitura e Produção de Textos.3 ed. Rev e atual. São Paulo: Saraiva, 2009.

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