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Seção 2 SUA PETIÇÃO DIREITO CIVIL 2 Prezado aluno, iniciaremos a Seção 2, na qual abordaremos a resposta da petição inicial em respeito ao corolário do princípio do contraditório e ampla defesa, previstos no inciso LV do art. 5º da CRFB. Na Seção 1, vimos que Quinzinho Machado de Assis ajuizou ação de usucapião em face de Capitu (Maria Capitolina Santiago), titular de domínio, a fim de ter declarada sua pretensão dominial usucapienda. Ocorre que, ao contrário do que fora afirmado pelo Autor, Capitu detém matrícula do imóvel de área superior (23 ha), ao que Quinzinho afirma possuir dois ha, motivo que não lhe gera direito sobre a área excedente. Capitu afirma que jamais deixou de exercer a posse sobre seu imóvel, e que o casal autor sempre residiu no local a título de parceria agrícola e comodato, o que não importa em posse. Ela afirma ser casada com Bento Santiago (também conhecido como Bentinho), e juntos detêm a titularidade do bem, porém este não foi citado para responder à ação, em que pese constar seu nome na matrícula. A ação foi distribuída na 3ª Vara de Registros Públicos da capital carioca, sendo o processo de nº ...... . Afirma Capitu, em audiência de conciliação, que tomou conhecimento da ação porque a citação foi enviada erroneamente para a casa de sua mãe, Dona Fortunata (vindo esta a ser citada em seu nome), e, por causa da pandemia, não ficou sabendo antes, porém se encontra no prazo de resposta. Diante da necessidade a seguir, convidamos o aluno a compreender a situação fática e desenvolver uma resposta satisfatória à sua cliente, agora Capitu, na finalidade de lhe garantir suporte jurídico para se manter na posse e propriedade do seu bem. Alerto que a inversão dos papéis foi por questões meramente didáticas, para garantir a visão jurídica de todos os lados e possíveis direitos a serem alegados (o que, na prática, seria vedado pelo Estatuto de Ética e Disciplina, conforme art. 20 do Código de Ética e Disciplina da OAB). Seção 2 DIREITO CIVIL Sua causa! 3 Entre as duas respostas citadas anteriormente, a de maior relevância é a contestação, em que o réu exerce seu direito de defesa no prazo comum de 15 dias (art. 335 – com variação do termo inicial), apresentando toda a matéria de defesa (processual e de mérito) que tenha para alegar em seu favor (art. 336), inclusive as provas que pretende produzir. O termo inicial do prazo para o réu contestar a ação é a partir da data de audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, comparecendo, não houver autocomposição (vide inciso I do art. 335). Mas, se o réu se manifestar dizendo que não tem interesse na conciliação ou mediação, o prazo correrá desta manifestação (vide inciso II do art. 335). Entretanto, quando a causa versar sobre direito que não aceita autocomposição ou por ter o autor manifestado na petição inicial pela não intenção de conciliação, o prazo correrá na forma do disposto no art. 231, conforme a modalidade de citação que tenha sido efetivada (inciso II do art. 335). Havendo multiplicidades de réus, o prazo é comum a todos, em regra. E no caso de as partes não terem intenção da audiência de conciliação ou mediação, o prazo para cada um deles correrá a partir da data do respectivo protocolo desta manifestação (§1º do art. 335). Na contestação, cabe ao réu alegar toda matéria de defesa (“princípio” da eventualidade – vide arts. 336 e 342 do CPC). Assim, incumbe ao réu todas as alegações que tenha em seu favor, ainda que contraditórias entre si, sob pena de preclusão (ou seja, a perda da possibilidade de alegar posteriormente). Assim, pesa ao réu, na sua contestação, alegar todas as defesas relacionadas à regularidade do processo (ex.: falta de alguma “condição da ação” ou pressuposto processual) e a defesa de mérito (que será direta, quando o réu admitir o fato constitutivo e lhe opuser outro, impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do demandante). A revelia é o acontecimento (fato processual), de efeito material e efeitos processuais. O art. 344 traz a presunção relativa de veracidade das alegações de fato formuladas pelo autor na sua pretensão, no caso de o réu não contestar. Com a ausência da apresentação da contestação, ocorrem os seguintes efeitos processuais: julgamento antecipado do mérito (inciso II do art. 335 do CPC – nos casos de operado o efeito material da revelia e não tendo o revel requerido a produção de contraprovas) e, não tendo advogado constituído, os prazos processuais para o revel correrão sempre da data em que seja divulgada a notícia dos atos decisórios no Diário Oficial (art. 346 do CPC). Cabe ao réu a observância do princípio da impugnação específica dos fatos (vide art. 341 do CPC), em que serão presumidos verdadeiros os fatos que não forem impugnados especificamente pelo réu na contestação. Assim, podemos afirmar que é um ônus do réu, na contestação, apontar/rebater especificamente toda a narração dos fatos, sob pena de preclusão. Esse ônus não se estende ao curador especial, ao advogado dativo e ao defensor público, por disporem do fundamento da “negativa geral” (ferramenta que possibilita a impugnação genérica). Fundamentando! 4 Já a reconvenção é a demanda proposta pelo réu, em face do autor, porém dentro do mesmo processo, ampliando o objeto deste, sendo oferecida na mesma peça que a contestação (vide §6º do art. 343 do CPC), isso se o juízo da causa principal for competente para dele conhecer. Ainda que processadas em conjunto, a contestação e a reconvenção são independentes (vide §2º do art. 343), podendo até haver a ampliação subjetiva do processo (trazer terceiro para o processo), quando o réu-reconvinte se litisconsorte com um terceiro para ajuizar a demanda reconvencional em face do autor-reconvindo (§§3º e 4º do art. 343 do CPC). Assim que apresentada a reconvenção, é necessário, em nome do princípio do contraditório e da ampla defesa, ouvir o autor, que terá 15 dias para apresentar resposta (§1º do art. 343), podendo contestar a reconvenção oferecendo “reconvenção da reconvenção” na mesma peça. 1. Defesas processuais As defesas processuais (defesas indiretas) não têm como objeto a essência do litígio (vide art. 337 do CPC) e são alegadas em preliminar, antes das defesas de mérito. Estas são analisadas pelo juiz antes do mérito e são identificadas pela consequência do seu acolhimento no caso concreto, podendo ser defesas preliminares dilatórias e peremptórias. 1.1 Defesa preliminar dilatória (que não põe fim ao processo) a. Inexistência ou nulidade de citação (inciso I do art. 337 do CPC): é de ordem pública e, operando, o prazo de resposta será devolvido, porém não extingue o processo (§1º do art. 239 do CPC). b. Incompetência do juízo (inciso II do art. 337 do CPC): matéria de ordem pública, mas deve vir no tópico da contestação. O juiz intima o autor para responder (vide art. 10 do CPC). c. Conexão/continência do juízo (inciso VIII do art. 337 do CPC): previsto nos arts. 55 e 56 do CPC, tendo como efeito a reunião dos processos perante o juízo prevento. 1.2 Defesas preliminares peremptórias (que geram a extinção sem a resolução do mérito) a. Inépcia da petição inicial (inciso IV do art. 337 do CPC): prevista no §1º do art. 330 do CPC. A petição inicial é considerada inepta quando apresenta a falta de pedido ou causa de pedir; o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico; a narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; quando os pedidos forem incompatíveis entre si. b. Perempção (inciso V do art. 337 do CPC): prevista no §3º do art. 486 do CPC, se o autor der causa, por três vezes, à extinção do processo, este não poderá intentar nova ação contra o réu com o mesmo objeto, ficando-lhe ressalvada, entretanto,a possibilidade de alegar em defesa de seu direito. c. Litispendência (inciso VI do art. 337 do CPC): opera quando dois ou mais processos idênticos existirem concomitantemente, caracterizando-se a identidade pela verificação no caso concreto da tríplice identidade – mesmas partes, mesma causa de pedir e mesmo pedido. d. Coisa julgada (inciso VII do art. 337 do CPC): opera o trânsito em julgado material. 5 e. Convenção de arbitragem (inciso X do art. 337 do CPC): a Lei nº 9.307/96 considera a convenção de arbitragem como um gênero no qual a cláusula compromissória e o compromisso arbitral são as duas espécies. f. Carência da ação (inciso XI do art. 337 do CPC): foi excluída do sistema a possibilidade jurídica do pedido pelo CPC, restando apenas a legitimidade da parte e o interesse de agir. A ausência de um deles gera a extinção do processo sem a resolução do mérito. 1.3 Defesas dilatórias potencialmente peremptórias a. Incapacidade de parte, defeito de representação ou falta de autorização (inciso IX do art. 337 do CPC). b. Falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar (inciso XII do art. 337 do CPC): na ausência de tal comprovação, o juiz de ofício deverá determinar que o autor emende a petição inicial no prazo de 15 dias, sob “pena” de indeferimento da petição inicial (vide três casos: art. 83, §2º do art. 486 e inciso II do art. 968, todos do CPC). c. Incorreção do valor da causa (inciso III do art. 337 do CPC): o art. 293 dispõe que a impugnação ao valor da causa será apresentada em preliminar de contestação, sob pena de preclusão. Esse artigo é claro ao prever que, sendo acolhida a alegação do réu, o juiz dará prazo para o autor complementar as custas, sempre que necessário. d. Carência de ação por ilegitimidade de parte (inciso XI do art. 337 do CPC): conforme dispõe o art. 338 do CPC, o autor poderá emendar, no prazo de 15 dias, o sujeito que compõe o polo passivo. e. Indevida concessão do benefício da gratuidade de justiça (inciso XIII do art. 337 do CPC): sendo acolhida essa defesa preliminar, o autor será intimado a recolher as custas processuais em aberto. Não o fazendo, gerará a extinção terminativa do processo. 2. Defesas de mérito Neste momento, o réu convence o juiz de que o direito material invocado pelo autor não amolda o caso concreto. Esta ação é classificada como defesa de mérito direta e indireta. 2.1 Defesa de mérito direta: o réu enfrenta frontalmente os fatos e os fundamentos jurídicos apresentados pelo autor na peça inicial, buscando desconstituir a sua pretensão. Tal defesa se evidencia e se desenvolve dentro dos fatos e da fundamentação jurídica, trazendo contrafatos e outras fundamentações jurídicas. 2.2 Defesa de mérito indireta: nesta modalidade de defesa, não se negam os fatos e fundamentos apresentados na inicial, mas o réu traz um fato novo de natureza impeditiva, modificativa ou extintiva do direito do autor. 6 Caro aluno, o objetivo desta seção é fomentá-lo de informações para lhe conduzir à solução da situação- problema, garantindo-lhe a estratégia. Note que novos elementos foram trazidos em defesa de Capitu. Aqui, você deverá observar qual é a peça de resposta adequada e a necessidade de incluir mais sujeitos no polo passivo da ação, em razão de a matéria versar sobre direito real sob bem imóvel, bem como se assegurar dos fundamentos jurídicos que desconstituem o direito dos autores. As matérias de defesa processual (dilatória e peremptória), que são alegadas antes das de mérito, podem estar presentes, daí não perder a oportunidade, sob pena de possível perecimento preclusivo do respectivo direito. Referências BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 1º jun. 2021. BRASIL. Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996. Dispõe sobre a arbitragem. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9307.htm. Acesso em: 1º jun. 2021. BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 1º jun. 2021. Preste bem atenção no que a Seção 2 nos traz. Veja que a discussão está no tempo e no exercício da posse, porém os autores não estão se valendo de ação possessória para ver declarada sua propriedade, mas da ação de usucapião para lhe servir de direito real, dominial. Da mesma forma, é importe registrar que a peça de defesa deve se concentrar na desconstituição desses fatos e fundamentos. O fato de Capitu e Bentinho serem proprietários não significa necessariamente que deverão se valer de ação reivindicatória (discussão de propriedade), mas, sim, de uma peça de defesa, dentro do contexto material que rege o tema. PONTO DE ATENÇÃO Vamos peticionar!
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