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PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO AVANÇADO Gisele Lozada Mapeamento do fluxo de valor Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar como ocorre a definição e geração de valor nas relações de consumo. � Descrever o fluxo de valor e a sua relação com o conceito da produção enxuta. � Definir o que é e como funciona o mapeamento do fluxo de valor. Introdução Organizações existem com o propósito de produzir bens ou prestar serviços, visando à geração de lucro como forma de garantir a sustenta- bilidade do negócio. O lucro, em uma concepção simplificada, consiste na diferença entre receitas e custos. Logo, quanto mais a empresa vender e menos gastar, mais lucrativa será. Para vender mais, a empresa precisa oferecer produtos e serviços desejados pelos seus clientes, questão para a qual a compreensão de valor sob a ótica do cliente é fundamental. Para gastar menos, a empresa precisa otimizar os seus processos, fazendo mais com menos. Em outras palavras, a empresa precisa promover o essencial, tanto em relação aos produtos e serviços que oferece quanto em relação aos recursos que emprega nessa tarefa – nesse cenário, a geração de valor e eliminação dos desperdícios são elementos fundamentais. Neste capítulo, você vai ler a respeito da definição e geração de valor nas relações de consumo, bem como sobre como esse valor flui ao longo do processo produtivo, formando o chamado fluxo de valor (produção enxuta). Além disso, reconhecerá o que é e como funciona o mapeamento do fluxo de valor, que corresponde a uma poderosa ferramenta na busca pela redução do desperdício e geração de valor. Definição e geração de valor Antes de ingressarmos no estudo do mapeamento do fluxo de valor, convém uma consideração preliminar a respeito do foco deste capítulo: o valor. Garantir a efetiva geração de valor é o principal objetivo do estudo de mapeamento do fluxo — daí a importância de que você reconheça bem o seu conceito. Assim, é oportuno e produtivo iniciarmos com o seguinte questionamento: o que é valor? Para encontrarmos a resposta, em primeiro lugar, precisamos instituir que a empresa não trabalha para si: aquilo que ela oferece, seja um produto ou serviço, é destinado ao cliente. Portanto, todo esforço empregado pela empresa, seja trabalho, investimento, etc., deve ter como objetivo a satisfação dos desejos e das necessidades dos seus clientes. O cliente, por sua vez, demanda e consume aquilo que satisfaz os seus desejos, a partir da sua percepção de valor. Nas relações de consumo, existe uma estreita relação entre empresa e cliente. A organização tem a capacidade de interferir nas decisões dos seus clientes, contribuindo para a sua formação de opinião, e de construir as suas expectativas. Contudo, o cliente é quem, de fato, escolhe, sendo o agente que possui o poder de decisão no processo de consumo — em última análise, portanto, é o cliente que determina o nível de desempenho da organização. Quem define valor é o cliente, ao estabelecer aquilo que é importante para ele. Assim, para que gere produtos e serviços cujo valor seja percebido pelo cliente, a empresa deve saber o que é valor na perspectiva deste. Solomon (2016) indica que a empresa deve investigar o comportamento, a formação de expectativas e a percepção de qualidade dos seus clientes e clientes em potencial. O autor comenta, ainda, que o comportamento do cliente pode Mapeamento do fluxo de valor2 variar em função de características como idade, gênero, estrutura familiar, estilo de vida, classe social e renda. Além disso, a sua decisão pode ser in- fluenciada pelo contexto (infraestrutura da loja ou leiaute do site, atendimento, etc.), por outras pessoas ou grupos (principalmente aqueles de maior poder social), pelo objetivo da compra (se para si mesmo ou para terceiros), etc. Leia mais sobre o comportamento do consumidor na obra O comportamento do consumidor: comprando, possuindo e sendo (Solomon, 2016). Frente ao exposto, podemos considerar que a definição de valor pode variar, visto que o cliente o define em função daquilo que é importante para ele em determinada situação. Assim, a definição de valor pode ser orientada para diferentes objetivos, como qualidade, rapidez, confiabilidade, flexibilidade e custo. A importância desses aspectos faz com que eles sejam transformados nos objetivos da produção, orientando as atividades da empresa em função daquilo que é mais relevante para o cliente. Quem gera valor é a empresa, a partir do momento em que atende a definição de valor estabelecida pelo cliente. Nesse sentido, Jacobs e Chase (2012, p. 394) sugerem um significado mais objetivo para valor, definindo-o como “algo pelo qual o cliente está disposto a pagar”. Assim, as empresas precisam tornar os seus processos mais eficientes, atendendo o que é determinado como prioritário pelo cliente sem que haja desperdícios. 3Mapeamento do fluxo de valor Se rapidez na entrega for um fator prioritário para o cliente, ele pode estar disposto a pagar mais por isso. A ocorrência de desperdícios pode gerar inúmeras consequências desa- gradáveis, como incremento dos custos ou comprometimento dos prazos, impactando diretamente na percepção de valor pelo cliente. Assim, o des- perdício pode comprometer a capacidade de a empresa gerar e agregar valor aos produtos ou serviços por ela oferecidos. Por esses motivos, o desperdício precisa ser combatido constantemente. O fluxo de valor Muitas são as atividades que podem estar envolvidas em um processo de transformação, seja ele destinado à manufatura ou prestação de serviços. Porém, nem todas vão agregar valor ao resultado do processo. Portanto, é fundamental avaliar a participação de cada uma dessas atividades no processo, identificando quais são importantes para a formação do fluxo de valor. Morgan e Liker (2008, p. 327), ao citarem Rother e Shook (1998), comentam que “um fluxo de valor é constituído por todas as ações (tanto agregadoras quanto não agregadoras de valor) exigidas para levar um produto desde o estágio da matéria-prima até o cliente, ou pelo fluxo do projeto, do conceito ao lançamento”. O fluxo de valor contempla todas as atividades envolvidas na geração de um produto ou serviço, sejam elas agregadoras ou não de valor, e o seu objetivo consiste em enfatizar ações que geram valor e eliminar aquelas que não geram. Nesse sentido, as empresas buscam estabelecer uma cadeia de valor por meio da avaliação de cada uma das diferentes etapas do processo de produção, Mapeamento do fluxo de valor4 desde os fornecedores até o cliente final, a fim de identificar e enfatizar ações que geram valor e, ao mesmo tempo, reduzir ou eliminar atividades que não geram, tornando os processos sustentáveis. Assim, Jacobs e Chase (2012) reforçam a relevância das atividades agre- gadores de valor, que são aquelas que permitem transformar materiais e informações em algo desejável pelo cliente, e sinalizam a preocupação com as atividades que consomem recursos, mas não agregam valor sob a perspectiva do cliente, resultando em desperdícios ou perdas. No entanto, é preciso considerar que algumas ações não agregadoras de valor correspondem a atividades necessárias ao desempenho do processo produtivo e, por isso, não podem ser totalmente eliminadas. Nesses casos, é importante garantir que elas consumam o mínimo possível dos recursos. Ações como a preparação de uma máquina ou o abastecimento de um posto de trabalho representam atividades que não agregam valor ao produto, mas que são necessárias para que a produção possa ser desempenhada, transformando insumos em produtos e, assim, gerando valor. Evidencia-se, aqui, a importância da constante busca pela redução dos desperdícios, para que os recursos e esforços da organização possam estar empregados na efetiva geração de valor. Nessa tarefa, Jacobs e Chase (2012, p. 394) comentam que a metodologiada produção enxuta “pode der uma das melhores ferramentas para implementar estratégias de sustentabilidade em processos de manufatura e serviços”. Na base de um sistema enxuto de produção está a preocupação com a ineficiência na realização do trabalho, representada por atividades que geram custo, mas não agregam valor, resultando em perdas ou desperdícios. Assim, o sistema enxuto se ocupa da identificação e eliminação dos desperdícios nas suas diversas modalidades, estabelecendo as suas principais categorias, chamadas de as sete grandes perdas: Superprodução — consiste em produzir em quantidade excessiva ou antes do tempo necessário (considerando etapas de produção subsequentes ou o consumo propriamente dito). É mais perigosa de todas as perdas, pois pode 5Mapeamento do fluxo de valor ocultar outras modalidades de desperdício, como as perdas por produção de itens defeituosos e aquelas decorrentes da espera (do processo ou lote). Transporte — realização de movimentação desnecessária de materiais e produtos. Processamento — realização de atividades desnecessárias durante o proces- samento ou fabricação, aumentando o tempo de produção sem agregar valor. Defeitos — geração de itens que não atendem às especificações de qualidade requeridas para o produto ou serviço, considerados defeituosos e impróprios para comercialização. Estoques — insumos, materiais, produtos armazenados em excesso, repre- sentando capital parado e gerando custos (espaço, manutenção e inventário, entre outros). Movimentação — realização de movimentação desnecessária dos operadores durante as atividades. Espera — produtos parados ao longo fluxo produtivo, aguardando para que possam ingressar na próxima etapa do processo (ANTUNES et al., 2008). Leia mais sobre as sete grandes perdas na obra Sistemas de produção: conceitos e práticas para projetos e gestão da produção enxuta (ANTUNES et al., 2008). Além disso, o sistema enxuto tem como ponto de partida o cliente, consi- derando que a definição do desperdício começa pela compreensão daquilo que tem ou não valor para o cliente. A partir disso, toda e qualquer atividade que consumir tempo ou dinheiro sem agregar valor sob a perspectiva do cliente estará correspondendo a desperdício e precisa ser eliminada. Segundo Morgan e Liker (2008), a filosofia da produção enxuta deriva do Sistema Toyota de Produção (STP), cujo sucesso está baseado em fatores como muita dedicação, cultura do trabalho em equipe, processos otimizados, ferramentas simples e poderosas e o kaizen, que permite o aperfeiçoamento contínuo de todo esse contexto. O conjunto desses fatores pode ser resumido como um verdadeiro sistema enxuto em constante evolução. Mapeamento do fluxo de valor6 Desse contexto, surge o chamado pensamento enxuto (lean thinking), que consiste em uma forma de pensar sobre melhorias e remodelagem do ambiente produtivo, com base no entendimento do que é valor para o cliente, permitindo que valor agregado e desperdício sejam claramente separados. Segundo Costa e Jardim (2010, p. 1), o pensamento enxuto permite: Identificar e eliminar os desperdícios, via o melhoramento contínuo dos processos de produção, e assim alavancar a sua posição competitiva, em particular no que se refere à fatores como a velocidade no atendimento aos clientes, a flexibilidade para se ajustar ao seus desejos específicos, a qualidade e o preço do produto ou serviço ofertados. Ainda segundo os autores, o pensamento enxuto envolve a aplicação de cinco passos básicos, também conhecidos como cinco princípios lean para redução de desperdícios, que correspondem a: � identificação do que é valor para o cliente; � mapeamento do fluxo de produção para identificação dos desperdícios; � implantação de fluxo contínuo; � estabelecimento da produção puxada; � busca pela perfeição (COSTA; JARDIM, 2010). Leia mais sobre o pensamento enxuto na obra Os cinco passos do pensamento enxuto (COSTA; JARDIM, 2010). O estudo do fluxo de valor no sistema Toyota teve como pano de fundo o ambiente da manufatura, onde foi desenvolvida a técnica denominada Dia- grama do Fluxo de Material e Informação, que possui estreita relação com outra importante ferramenta: o mapeamento do fluxo de valor. 7Mapeamento do fluxo de valor O mapeamento do fluxo de valor Em síntese, a empresa precisa conhecer o seu cliente, identificar o que é valor na sua perspectiva, eliminar os desperdícios e focar os seus recursos em atividades agregadoras de valor — assim, pode gerar produtos e serviços que despertem o interesse dos seus clientes. Para lidar com tantos desafios, a empresa pode contar com importantes técnicas e ferramentas, dentre as quais podemos destacar o mapeamento do fluxo de valor. Segundo Morgan e Liker (2008), o mapeamento do fluxo de valor (MFV), ou value stream mapping (VSM), consiste em uma técnica capaz de promover, com eficiência, a demonstração gráfica das diversas atividades envolvidas no processo de geração de produtos ou serviços. O mapeamento do fluxo de valor consiste em uma técnica de demonstração gráfica das diversas atividades envolvidas em um processo, permitindo o estabelecimento de uma visão holística a respeito dele e, assim, colaborando para que seja mais bem compreendido. Em colaboração, Jacobs e Chase (2012) comentam que o MFV corresponde a uma técnica muito útil para o desenvolvimento de processos enxutos. Con- tudo, os autores alertam que tal intenção requer “um entendimento pleno do negócio, o que inclui processos de produção, fluxo de materiais e fluxos de informação” (JACOBS; CHASE, 2012, p. 399). Consistindo em um tipo especial de fluxograma, a ferramenta permite visualizar o fluxo produtivo ao longo das suas várias etapas de processamento, incluindo informações necessárias para o controle do fluxo ao longo do pro- cesso e ilustrando os fluxos de informação decorrentes deste. Mapeamento do fluxo de valor8 É aplicável em diversos contextos, desde a manufatura até os mais va- riados tipos de processo, como aqueles destinados a prestação de serviços, logística, distribuição, etc. No caso da manufatura, por exemplo, a técnica pode ser empregada para identificar todos os processos pelos quais a matéria- -prima é conduzida, desde a sua entrada na fábrica até a entrega do produto final ao cliente. No levantamento, são elencados tanto os processos de valor agregado como aqueles que não chegam a agregar valor ao produto. Isso permite, justamente, identificar os processos e fluxos onde ocorrem desperdícios, que podem, então, ser sinalizados e, futuramente, eliminados ou modificados. Isso torna o sistema mais produtivo e enxuto, colaborando para a geração de valor por meio do combate ao desperdício. Assim, a metodologia do MFV é baseada em duas principais etapas: a do estado atual e a do estado futuro. Na primeira, o estado atual do fluxo é tomado como fundamento para a definição de aonde se pretende chegar, servindo de base para a segunda, quando é construído o mapa do estado futuro do fluxo de valor. Nesse sentido, Morgan e Liker (2008, p. 328) consideram que “o mapa de estado presente proporciona embasamento na realidade, mas o verdadeiro salto consiste em desenvolver uma visão para o estado futuro”, motivo pelo qual a ferramenta não se detém no mapa do estado presente. Isso torna o mapeamento do fluxo de valor uma excelente ferramenta para análise de processos, que permite visualizar um sistema existente e encontrar pontos nos quais melhorias podem ser implantadas, como forma de viabilizar que os desperdícios possam ser eliminados. Jacobs e Chase (2012, p. 399) comentam que “mapas de fluxo de valor são fáceis de desenhar e é possível construir os mapas usando lápis e papel”. Contudo, em determinados casos, dadas a extensão ou complexidade do pro- cesso em análise, a utilização de ferramentas computacionais, como software e pacotes gráficos específicos, podem tornar a tarefa mais fácil e prática. 9Mapeamento do fluxo de valorO mapeamento do fluxo de valor corresponde a uma poderosa ferramenta destinada a melhoria de processos, oferecendo diversos benefícios, como: � possibilita visualizar mais do que um só processo; � permite ver além dos desperdícios, identificando também as suas fontes; � serve como linguagem comum a todos os participantes; � promove uma visão holística do sistema, no lugar da determinação isolada dos problemas nele contidos; � oferece a base para o plano da implementação enxuta, a partir do desenho do sistema inteiro, permitindo a formação de um diagrama; � torna claras as decisões sobre o fluxo; � demonstra a conexão entre os fluxos de informação e de material. Apoiado no conceito do pensamento enxuto, o mapeamento do fluxo de valor colabora para o estabelecimento de um sistema de produção puxada, em que o cliente é agente principal, servindo como fonte para a definição de valor e para o estabelecimento do ritmo da produção. Assim, a ferramenta se mostra extremamente útil no combate ao desperdício, sendo um poderoso instrumento para a geração efetiva de valor. É importante reforçar que o mapeamento do fluxo de valor é uma ferramenta bastante abrangente, capaz de proporcionar melhorias tanto aos processos in- ternos da organização quanto à cadeia de suprimentos como um todo, trazendo benefícios a fornecedores e outros agentes envolvidos. Assim, de acordo com Jacobs e Chase (2012), os conceitos de processos enxutos integrantes do contexto em que o MFV é desempenhado também podem ser utilizados no desenho da cadeia de suprimentos, resultando em conjuntos de princípios destinados a arranjos físicos enxutos, programação da produção enxuta e cadeias de suprimentos enxutas. Mapeamento do fluxo de valor10 Leia mais sobre a cadeia de suprimentos na obra Administração de operações e da cadeia de suprimentos (JACOBS; CHASE, 2012). Como corresponde a uma espécie de fluxograma, o MFV utiliza símbolos que costumam seguir certa padronização, embora possam haver variações ou adaptações. A Figura 1 apresenta algumas das figuras mais comumente utilizadas, agrupando-as em quatro principais categorias: processo, material, informação e símbolos gerais. Figura 1. Símbolos utilizados no mapa de fluxo de valor. Fonte: Jacobs e Chase (2012, p. 400). 11Mapeamento do fluxo de valor Aplicação do MFV Para demonstrar a aplicação do mapeamento de fluxo, vejamos um exemplo proposto por Jacobs e Chase (2012), ilustrado na Figura 2. Nele, é considerado um processo produtivo cujas operações são realizadas em um turno diário de 460 minutos, desempenhado ao longo de 20 dias/mês, para uma demanda de 10.080 peças/mês, que resultam em 504 peças/dia. Figura 2. Mapeamento do fluxo de valor de um processo — estado atual. Fonte: Jacobs e Chase (2012, p. 399). Considerando o conceito da produção puxada, o controle de produção recebe a informação da demanda mensal sinalizada pelos clientes, efetivada por meio de pedidos semanais, e a partir dela monta e transmite aos fornecedores a previsão mensal de fornecimento, que segue o mesmo formato (previsão mensal em pedidos semanais). Com isso, o controle de produção estabelece a programação semanal de produção, dando origem a programação diária, que Mapeamento do fluxo de valor12 passa a ser gerida pelo supervisor de produção na condução de cada uma das atividades. Esse conjunto forma um importante elemento contido no mapa, que corresponde ao fluxo de informações. A partir daí, o fluxo de materiais se inicia com o fornecimento, que é realizado em remessas semanais pelo fornecedor — os materiais são arma- zenados no estoque de matéria-prima, cujo nível médio é de 2.500 unidades. O material, então, ingressa no processo de produção, passando pelas suas cinco etapas, cada uma realizada por um único operador: � usinagem; � afiação; � limpeza/desbaste; � inspeção; � embalagem. Para cada um dos processos, são apresentadas informações como tempo de ciclo da atividade (TC), tempo de troca (TT) de um tipo de item para outro, tamanho do lote, tempo disponível por dia em segundos (Disp) e percentual de tempo de operação (TO) utilizado, que corresponde a Disp. (−) TT/Disp. A atividade limpeza/desbaste, em especial, corresponde a um processo de múltiplas etapas, no qual os itens são manuseados em ordem de chegada. Podemos, ainda, notar que, entre cada processo, existem estoques reguladores, com os seus respectivos volumes médios. Por fim, na parte inferior do mapa, temos a linha de tempo do fluxo, onde são demonstrados o tempo de processamento para cada uma das atividades (em segundos) que formam o tempo de ciclo total e tempo de trabalho total, equivalentes a 130 segundos, e os tempos médios de espera em estoque, cuja soma permite formar uma estimativa do tempo de espera ao longo do sistema inteiro, correspondendo, nesse caso, a um total de 34 dias. O mapeamento de fluxo de valor consiste em um processo composto por duas partes: a apresentação da “situação atual” do processo e a verificação da possível “situação futura”. A Figura 3 apresenta o mapa correspondente à segunda etapa, baseado no mesmo processo avaliado inicialmente, mas con- tendo sugestões de melhorias, representados por notações de eventos kaizen (filosofia japonesa que se preocupa com a melhoria contínua), que sugerem áreas ou pontos do processo em que melhorias podem ser implementadas. 13Mapeamento do fluxo de valor Figura 3. Mapeamento do fluxo de valor de um processo — estado futuro. Fonte: Jacobs e Chase (2012, p. 400). No mapa, podemos visualizar o processo totalmente redesenhado, corres- pondendo ao resultado de uma série de melhorias propostas. No fluxo de infor- mações, é sugerida uma alteração nas previsões de demanda e fornecimento, que passam a considerar estimativas para o período de 3 meses, formalizada em contratos mensais. No fluxo de materiais, é identificado o gargalo do processo (que corresponde à operação de usinagem), e propõem-se a alteração da periodicidade das en- tregas realizadas pelo fornecedor (que passa a ser realizada em duas remessas semanais) e a redução do tamanho do lote (que passa a ser de 500 peças). Mapeamento do fluxo de valor14 Além disso, são propostos projetos kanban nas duas extremidades do fluxo (junto aos fornecedores e clientes). Tendo em vista que a metodologia kanban visa estabelecer um sistema de controle de estoque mínimo, esses projetos permitem reforçar ainda mais a intenção de fazer com que o processo inteiro seja convertido em um “sistema puxado”, operado diretamente em resposta à demanda do cliente, em vez de “empurrar” o material pelo sistema com base nas programações semanais formuladas pelo controle de produção. Outra importante alteração proposta consiste na formação de uma célula de trabalho, onde as operações de produção individuais são agrupadas e combinadas, sendo realizadas por três operadores. Com isso, o tempo de ciclo passa para 45 segundos (maior tempo individual), enquanto o tempo de trabalho total permanece sendo 130 segundos. Passa a ser apurado também o takt time (o qual corresponde à razão entre o tempo disponível e número de peças demandadas, ambos na fração diária), que, convertido, resulta em 55 segundos. Ao compararmos o tempo de ciclo de 45 segundos com o takt time de 55 segundos, podemos perceber que, com tal formatação, o processo se apresenta em condições de atender à demanda. Por fim, como resultado global, podemos notar uma significativa redução no tempo de resposta, que passa a ser de apenas de cinco dias nesse novo sistema, no lugar dos 34 dias demandados na versão anterior do sistema. Leia mais sobre tempo de ciclo, takt time e outros importantes indicadores relacionados à produção na obra Sistemas de produção: conceitos e práticas para projetos e gestão da produção enxuta (ANTUNES et al., 2008). 15Mapeamento do fluxo de valor Conteúdo:
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