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Módulo de História do Ceará - Pré-vestibular - Farias Brito

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NÚCLEO ALDEOTA
(85) 3486.9000
NÚCLEO CENTRAL
(85) 3464.7788 (85) 3064.2850
NÚCLEO SUL
(85) 3260.6164
NÚCLEO EUSÉBIO
(88) 3677.8000
NÚCLEO SOBRAL
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COLÔNIA ............................................................................................................................................................................. 5 
 
IMPÉRIO .............................................................................................................................................................................. 8 
 
REPÚBLICA VELHA .......................................................................................................................................................... 12 
 
ERA VARGAS ................................................................................................................................................................... 13 
 
POPULISMO ....................................................................................................................................................................... 15 
 
REGIME MILITAR ............................................................................................................................................................. 16 
 
ATUALIDADES .................................................................................................................................................................. 17 
 
FORTALEZA ...................................................................................................................................................................... 21 
 
EXERCÍCIOS ...................................................................................................................................................................... 23 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
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ó
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MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 
 
 5 019.804 - 145193 
 
 
 
INÍCIO DA COLONIZAÇÃO 
 
O Período Pré-colonial (1500-1530) é tido como de quase 
abandono de Portugal para com o Brasil. Com a descoberta do 
novo caminho para as Índias, o comércio de especiarias 
transformou-se em preciosa fonte de riquezas para Portugal. 
Após as primeiras expedições, os enviados da Coroa 
portuguesa perceberam que não seria possível obter no Brasil 
lucros fáceis e imediatos. De início não encontraram jazidas 
de ouro. Por essas razões, nesse período, o governo português 
limitou-se a enviar à colônia americana expedições com o 
objetivo de reconhecimento da terra e de preservação de sua 
posse. 
Em 1530 começa, efetivamente, o processo de colonização 
portuguesa no Brasil, porém a ocupação do território brasileiro 
na época ia do litoral de Pernambuco até o Rio de Janeiro. 
Logo conclui-se que, no século XVI, o Ceará ficou 
praticamente esquecido pela Coroa portuguesa. O difícil 
acesso à costa cearense, a oposição dos índios à presença do 
invasor português, a aridez do clima, a mata virgem fechada 
que também dificultava a acomodação nessa terra, a presença 
hostil de corsários estrangeiros e, principalmente, a falta de 
grandes atrativos econômicos foram razões desse descaso. 
Com relação a essa última, o Ceará não dispunha de ouro ou 
prata, não servia para o plantio em larga escala de cana-de-
açúcar, não tinha especiarias e suas riquezas não despertavam 
muito a cobiça da metrópole. 
A maior prova do abandono cearense, no primeiro século 
da ocupação lusa, aconteceu com a criação do sistema de 
capitanias hereditárias (1534), pois nem o donatário do Siará 
Grande, Antônio Cardoso de Barros, se interessou pela terra, 
aqui não pondo os pés. Inclusive, o mesmo acabou sendo 
devorado, em 1556, pelos índios Caetés, ao lado de Pero 
Fernandes Sardinha (primeiro bispo do Brasil), após naufrágio 
na costa de Alagoas. 
A quem diga que o verdadeiro local de “descobrimento” 
do Brasil foi o Ceará, visto que antes de Cabral, o navegador 
espanhol Vicente Pinzón visitou o Ceará (no Mucuripe – 
Fortaleza, e em Ponta Grossa – Aracati), não podendo tomar 
posse por causa do Tratado de Tordesilhas. 
 
Pero Coelho de Sousa (1603): primeiro a tentar 
colonizar o Ceará sob ordem do 8º governador geral do Brasil, 
Diogo Botelho. A intenção era organizar uma bandeira para 
explorar o rio Jaguaribe, combater os piratas estrangeiros, 
descobrir minas e pacificar os índios.Partindo da Paraíba, à 
frente de 200 índios mansos e de 65 soldados, Pero Coelho 
atingiu pelo litoral a serra da Ibiapaba, onde travou combate 
contra os índios tabajaras e alguns franceses. 
Derrotando os adversários Pero Coelho tentou seguir 
para o Maranhão, mas só atingiu o rio Parnaíba (Piauí) pois 
seus homens, cansados, maltrapilhos e famintos recusaram-se 
a prosseguir a viagem. 
De retorno ao litoral, o capitão-mor fundou, às margens 
do rio Ceará, o forte de São Tiago e o povoado de Nova 
Lisboa, chamando a área de Nova Lusitânia. Pouco tempo 
depois retirou-se para o rio Jaguaribe, construindo nas 
margens deste o forte de São Lourenço. 
A seca de 1605 a 1607 e os persistentes ataques dos 
índios fizeram Pero Coelho deixar o Siará em dolorosa 
caminhada, da qual vários soldados e seu filho morreram. 
Retirou-se para o Rio Grande do Norte, depois para 
Paraíba, em seguida Europa, onde morreu em Lisboa sem 
receber nada pelos seus serviços. 
Francisco Pinto e Luís Filgueira (1607): tentando 
catequizar e amansar os índios, esses padres jesuítas partiram de 
Pernambuco de barco até a foz do rio Jaguaribe acompanhados de 
60 índios mansos. Atacados pelos índios Tacarijus, Francisco 
Pinto foi trucidado e Luís Filgueiras fugiu para o Rio Grande do 
Norte, sendo em 1643 devorado pelos índios Aruãs. 
 
Martin Soares Moreno: tendo acompanhado como 
soldado ainda jovem a expedição de Pero Coelho, 
Moreno conheceu parte da região e fez amizades com índios 
locais. Em 1611, acompanhado de um padre e de seis soldados, 
regressou ao Ceará para efetivar a posse da capitania, fundando 
na barra do rio Ceará, com ajuda dos índios de Jacaúna um 
pequeno forte – o de São Sebastião. 
Teve de ausentar-se por duas vezes do Ceará: 
primeiro foi ao Maranhão ajudar a combater os franceses, 
na França Equinocial, depois foi combater os holandeses, que 
tomavam o nordeste açucareiro. Em 1648 foi para Portugal, onde 
faleceu. 
 
 A Invasão Holandesa e o Ceará 
 
No período da união ibérica, o rei Felipe II da Espanha 
proibiu as relações comerciais do Brasil com a Holanda. Como 
reação ao embargo espanhol, os holandeses resolveram invadir as 
posses ibéricas na América. Primeiro, invadiram a Bahia (1624), 
não permanecendo por muito tempo. Depois, tomaram 
Pernambuco em 1630. De 1630 a 1654, o domínio holandês no 
nordeste açucareiro expandiu-se pela Paraíba, Alagoas, Rio 
Grande do Norte e Ceará. 
Com o tempo, os índios invadiram e destruíram o forte de 
São Sebastião, trucidando todos os flamengos. Contudo, os 
holandeses voltariam em 1649 com Matias Beck. 
Este ergueu às margens do rio Pajeú o forte de Schoonenborch. 
Com a expulsão dos holandeses do Brasil, em 1654, 
o forte iria para as mãos dos portugueses, mudando de nome para 
Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. 
 
ECONOMIA COLONIAL CEARENSE 
 
 Pecuária 
 
Com a incorporação desse Estado à administração de 
Pernambuco, o Ceará segue até o final do século XVII com uma 
pequena guarnição militar representando o domínio português. 
Tal quadro mudaria no final do século XVII e começo do XVIII 
com a ocupação do interior cearense em função da pecuária. 
De atividade secundária e complementar, a pecuária 
facilitou a ocupação do interior nordestino. O processo de 
colonização do interior cearense proporcionou extermínio e 
escravização de índios, assunto a ser abordado mais adiante. 
Contribuíram para a expansão pecuarista, as vastas 
extensões de terras e pastagens,o caráter salino do solo, 
a facilidade na aquisição das sesmarias, o pouco investimento 
para se estruturar uma fazenda, além do fato de que o gado 
dispensava transporte, pois era vendido vivo seguindo viagens 
pelas regiões ribeirinhas até para outros Estados. Daí a afirmação: 
o boi era mercadoria, transporte e frete. 
Com essas viagens, vários pontos de apoio para descanso e 
defesa foram aos poucos se transformando em importantes 
cidades interioranas, como Icó e Quixeramobim. 
 
 As Charqueadas 
 
Na segunda década do século XVIII, a atividade de venda 
do gado vivo revelou-se não muito lucrativa, pois os animais 
emagreciam, morriam, se perdiam e eram atacados por animais 
selvagens. Assim, surge a necessidade da técnica de salgar a carne 
para vendê-la nas chamadas charqueadas. 
COLÔNIA 
MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 
 
 6 019.804 - 145193 
O charque contribuiu para modificar um pouco a face 
econômico-social do Ceará. Com ele ocorreu uma divisão do 
trabalho na capitania entre fazendas de criação, oficinas de salgas 
e pontos de comercialização; as boiadas do sertão passaram a ser 
deslocadas para o litoral, havendo o surgimento de um mercado 
interno. O charque também fez surgir cidades importantes, como 
Aracati, Acaraú, Camocim, Granja e Sobral, e diversificou a 
produção, 
tendo além da carne para ser comercializada, couros e peles. 
Aracati tornou-se, por volta de 1750, o principal núcleo urbano 
do Ceará. Isso não só pelas charqueadas, mas por ser um 
importante centro comercial e por que as boiadas transitavam 
pelas margens do rio Jaguaribe em direção às oficinas de charque. 
Desenvolve-se, portanto, no período colonial, 
a civilização do couro visto a confecção de diversos artefatos e 
utensílios desse material. 
A decadência dessas oficinas de deu a partir da última 
década do século XVIII. As secas de 1777-1778 e de 
1790-1793 são apontadas como causas desse declínio, 
pois os rebanhos nordestinos reduziram-se drasticamente. Em 
paralelo a isso, o sertanejo começou a dedicar-se à atividade em 
ascensão, a da cotonicultura, chegando o algodão cearense a ser 
muito procurado no mercado internacional. 
 
 Algodão 
 
No final do século XVIII, com as guerras de independência 
das 13 colônias americanas e a Revolução Industrial que 
desenvolvia-se na Inglaterra, o algodão cearense vira produto de 
exportação para as indústrias têxteis inglesas. O algodão era 
produzido em Aracati, Fortaleza, Baturité, Uruburetama, 
Meruoca, Pereiro e Aratanha. 
A mão-de-obra algodoeira seria basicamente a mesma 
usada antes na pecuária, sendo pouco empregado o negro 
africano, pois o ciclo do seu cultivo deixava o escravo ocioso por 
muito tempo. Havia uma relação vantajosa que ficou conhecida 
como binômio gado-algodão. 
Até a década de 1860, o algodão cearense desenvolveu 
importante papel na economia do Estado, tendo seus lucros 
reduzidos com o restabelecimento da paz e o fim da Guerra da 
Secessão, nos EUA. 
 
OUTRAS ATIVIDADES ECONÔMICAS 
NO CEARÁ COLONIAL 
 
 Mineração 
 
Apesar de inúmeras tentativas, a exploração de minerais no 
Ceará não logrou êxito. Expedições feitas pelos holandeses à serra 
dos Cocos, Ibiapaba (Ubajara), Maranguape e a outras regiões 
foram um fracasso. A notícia da experiência de ouro no vale do 
Cariri atraiu para a região pernambucanos e cearenses de diversas 
regiões. Fundou-se a Companhia do Ouro das Minas de São José 
do Cariri 
(1756-1758) que chegou a encontrar ouro, porém em pouca 
quantidade e de tão pouco valor que não compensava os gastos 
com a prospecção. A idéia acabou sendo abandonada. 
 
 Cana-de-Açúcar 
 
Apesar da tentativa de Martins Soares Moreno, o cultivo da 
cana-de-açúcar não foi bem sucedido, principalmente por causa 
da impropriedade do solo. Foi na região do cariri que, com o 
fracasso das tentativas mineradoras, a cana-de-açúcar 
desenvolveu-se com mais intensidade, gerando uma aproximação 
com Pernambuco, principalmente comercial. 
OS ÍNDIOS CEARENSES 
 
Com a chegada do branco colonizador europeu às terras 
brasileiras, os nativos que aqui viviam só tiveram tristezas, pois 
perderam “suas terras”, seus entes queridos, sua religião, sua 
“língua”... muitos morreram por causa do contato com os 
“civilizados”, uns pelas doenças adquiridas, outros pela reação 
hostil de não aceitação daquela subjugação; acreditavam em 
vários deuses e, de repente, tiveram de adorar a um só deus e 
entender a Santíssima Trindade; a língua foi sendo substituída 
pelo português, pelo latim; enfim, os índios, como foram 
chamados, perderam sua tranqüilidade. 
Não se sabe ao certo quantos índios existiam aqui no Siará 
antes da chegada dos portugueses, mas Martin Afonso de Sousa 
estimou em 150 mil nativos. 
O historiador Carlos Stuart Filho dividiu os indígenas 
cearenses em 5 grupos: Tupi, Cariri, Tremembé, Tarairius 
e Jês. 
 
 A Guerra dos Bárbaros 
 
Os índios cearenses, dos mais bravios, não aceitaram a 
dominação e reagiram de várias maneiras: fugindo de 
aldeamentos, invadindo e trucidando. Um bom exemplo foi a 
Guerra dos Bárbaros, onde várias tribos do Rio Grande do Norte, 
Ceará, Pernambuco, Piauí e Paraíba confederaram-se contra os 
conquistadores começando por volta de 1686 e seguindo por mais 
de 30 anos. Até tribos inimigas uniram-se para expulsar os 
portugueses. Depois de inúmeras invasões e massacres por parte 
dos aborígenes e de serem requisitados bandeirantes de São Paulo 
e de São Vicente, os índios foram sendo dizimados pelas tropas 
do coronel João de Barros (chefe da milícia da cavalaria do 
Jaguaribe) após aqueles “selvagens” terem quase destruído a vila 
de Aquiraz (1713). Nesse episódio, cerca 200 pessoas morreram 
tentando defender-se e outras fugiram dessa localidade com medo 
das flechas, lanças e tacapes. Barros, ao salvar Aquiraz, recebeu 
o direito de fazer a chamada guerra justa, matando e escravizando 
o restante dos índios não mansos. 
 
AS FAMÍLIAS MONTE E FEITOSA 
 
No início do século XVIII, o Ceará foi palco dos conflitos 
entre as famílias Monte e Feitosa. Não se sabe com precisão o 
porquê da inimizade, mas alguns autores falam em “lavar a 
honra” (um membro dos Feitosa casou-se com uma viúva dos 
Monte, causando a intriga) e em disputa por terras. 
Emboscadas, saques, combates abertos e incêndios faziam 
parte do conflito que perdurou nas décadas de 1710 e 1720. 
O primeiro ouvidor-mor do Ceará, João Mendes Machado, 
tomou partido do lado dos Feitosa, autorizando a captura de 
Francisco Monte. Acompanhados de vários índios Jucás, os 
Feitosa invadiram e saquearam a fazenda dos Monte, mas não 
capturaram o dono da mesma. 
Por causa de outras investidas dos Feitosa, os Monte reuniram 
seus jagunços e partiram para os Inhamuns conseguindo a adesão 
desses índios, que eram inimigos mortais dos Jucás. Os Feitosa 
fizeram novas alianças e, afora os Jucás, contaram com o apoio 
dos Jenipapos e Cariús e derrotaram os Montes e Inhamuns. 
Mas o conflito só teve fim com as providências do Capitão-
mor da capitania, Manuel Francês que ameaçou os coronéis de 
perda de bens e de pena de morte. 
 
CATEQUESE E ALDEAMENTO 
NO CEARÁ COLONIAL 
 
Catequese e colonização foram dois elementos que andaram 
juntos no Brasil colonial. Uma das reações da contra-reforma 
católica, a ordem dos jesuítas foi fundada por Inácio de Loyola. 
MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 
 
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Com a intenção de deixar os nativos isolados dos líderes 
espirituais (Pajés), foram criadas as missões jesuíticas, 
aldeamentos onde os silvícolas aprendiam os costumes europeus, 
como língua, religião, vestir-se, confeccionar suas roupas e 
profissões do mundo civilizado, além de servirem de guerreiros 
contra os gentios ainda não mansos. 
Nos aldeamentos, as insubordinações eram punidas com 
tortura, como no tronco e até mutilações físicas. 
Com a expulsão dos jesuítas do Brasil pelo Marquês de 
Pombal, a evangelização dos índios e colonos foi modificada,como é o caso das missões móveis feitas pela ordem dos 
franciscanos ou capuchinhos, muito presentes no Ceará. As 
Santas Missões, como eram chamadas, se deslocavam passando 
dez a doze dias em uma localidade. Nesse período, os padres 
franciscanos confessavam, pregaram e falavam das penitências. 
 
A CAPITANIA DO CEARÁ 
SUBORDINADA A PERNAMBUCO 
 
Após a expulsão dos holandeses do Brasil (1654), 
o Ceará passou a subordinar-se a Pernambuco (1656-1799) 
e não mais ao Maranhão. 
Com o domínio Pernambucano, o Ceará foi tratado como 
capitania secundária, sendo governada por capitães-mores, que 
mesmo sendo nomeados pela Coroa portuguesa, sujeitavam-se ao 
comando administrativo e militar de Pernambuco. Com o tempo, 
os capitães-mores acumularam enormes poderes passando a agir 
de forma arbitrária, sempre com algum interesse pessoal. Ao todo, 
39 capitães-mores governaram o Ceará. 
No governo de Francisco Gil Ribeiro foi criada a primeira vila 
do Ceará – Aquiraz, pela Carta Régia de 1699. Sobre os 
habitantes das vilas, eram cobrados o dízimo, subsídios militares 
e literários. Havia ainda a cobrança de fintas e a derrama. 
Cada vila era administrada pelas câmaras municipais, isto é, 
assembléias compostas quase sempre de dois juízes-presidentes e 
três vereadores, eleitos por um período de dois anos. Somente 
homens de posse, os chamados “homens-bons”, podiam ser 
eleitos. 
Completava a administração a Ouvidoria, órgão responsável 
pela aplicação da justiça. O ouvidor era nomeado pelo rei de 
Portugal para um período de três anos. Tal ouvidor era 
responsável também pela Provedoria (finanças). 
Com o crescimento econômico e urbano da capitania do 
Ceará, surgiu a necessidade de desmembrar a região de 
Pernambuco. Vários fatores contribuíram para este fato: 
Pernambuco sempre tratou o Ceará com descaso e muito pouco 
fez pelo progresso da região; com a crise do sistema colonial, 
Portugal desejava aumentar e controlar mais de perto a 
arrecadação tributária, inclusive criando leis mais rigorosas e 
interferindo diretamente na administração local; e por fim, com o 
crescimento da exploração de algodão, aumentou também o 
interesse dos comerciantes portugueses. A vinculação a 
Pernambuco tornava inviável o desenvolvimento desse comércio. 
 
 O Ceará Independente de Pernambuco 
 
A partir de 1799, o Ceará passou a ter seu próprio governador 
escolhido pela metrópole. O primeiro, Bernardo Manuel de 
Vasconcelos, instaurou a junta da fazenda do Ceará, para 
arrecadar impostos, construiu a sede da alfândega da Capital e de 
Aracati e abriu estradas ligando o interior a Fortaleza. 
Vasconcelos também reformulou o quartel da tropa de linha, 
levantou um conjunto de baterias no Mucuripe para melhor 
proteger o litoral, reedificou as vilas indígenas de Arronches 
(Parangaba), Soure (Caucaia) e Messejana, bem como instaurou 
as vilas de Russas e Tauá (1801). 
Com a morte de Vasconcelos, assume uma Junta Provisória 
durante um ano, a qual foi substituída pelo segundo governador, 
João Carlos Augusto de Oeynhausen e Grwenbourg. 
Com a vinda da família real para o Brasil e a conseqüente 
abertura dos portos às nações amigas, pondo fim ao monopólio 
colonial, o Ceará inicia o comércio direto com a Inglaterra no 
governo de Luís Barba Alado de Menezes (1808-1812). Tal 
atividade econômica foi intensificada no interesse de exportar 
algodão para as indústrias inglesas, sendo várias firmas 
estrangeiras beneficiadas, como a do irlandês William Wara e a 
dos sócios Lourenço da Costa Dourado e Domingos José Martins. 
Barba Alado, além de incentivar a cotonicultura, instalou uma 
fábrica de louça vidrada (no Tauape) e fez o primeiro 
recenseamento da população cearense baseado nas certidões de 
batismo. 
 
 Governador Sampaio 
 
Fiel servo do rei, despótico, eficiente e capaz de cometer 
barbaridades para manter a ordem, Manuel Inácio de Sampaio foi 
o quarto governador do Ceará (1812-1820). Trouxe para ajudá-lo 
o engenheiro português Antônio da Silva Paulet, que elaborou o 
primeiro plano urbanístico de Fortaleza e projetou a reconstrução 
do forte de Nossa Senhora da Assunção. 
Sampaio instalou a repartição dos correios, mandou construir 
um mercado público em Fortaleza e instalou alfândegas em 
Granja, Sobral e Crato. Quando a região do Cariri e a família 
Alencar aderiram à Revolução Pernambucana de 1817, enviou 
tropas para sufocar o movimento, onde 25 pessoas foram presas, 
como Bárbara de Alencar, que provavelmente acabou sendo 
torturada e presa na Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. 
Em 1820, Sampaio foi governar Goiás, passando o Ceará a 
ser governado por Francisco Alberto Rubim, o quinto e último no 
período colonial. 
 
 O Ceará e a Revolução Pernambucana de 1817 
 
A Revolução Pernambucana de 1817 foi um movimento pela 
emancipação política do Brasil. Muitos moradores de 
Pernambuco estavam revoltados com o crescente aumento dos 
impostos, que serviam para sustentar o luxo da Corte portuguesa 
instalada no Rio de Janeiro. Além disso, outros problemas 
afetavam os habitantes da região: a grande seca de 1816 causou 
graves prejuízos à agricultura e provocou fome no nordeste. Os 
preços do açúcar e do algodão (principais produtos cultivados em 
Pernambuco) estavam caindo no mercado internacional, devido à 
concorrência do açúcar antilhano e do algodão norte-americano. 
Tudo isso serviu para dá início a uma revolta contra o governo de 
D. João VI. Inspirados nos ideais da Revolução Francesa, os 
grupos sociais envolvidos queriam proclamar uma república e 
também acabar com os privilégios de comerciantes portugueses. 
Os rebeldes foram além da conspiração, pois chegaram a tomar o 
poder por 75 dias. O governo reagiu duramente e os 
revolucionários renderam-se, sendo os líderes condenados à 
morte. 
 
 Adesão do Ceará 
 
A participação do Ceará nessa revolução restringiu-se à 
família Alencar e à região do Cariri. O governador Sampaio tratou 
logo de enviar tropas para repelir qualquer tipo de desordem. 
A família Alencar, chefiada por Bárbara de Alencar (mãe 
de José Martiniano de Alencar e Tristão Gonçalves), era grande 
proprietária de terra do Crato. 
Foram enviados mais de mil homens para o Crato, muitos 
dos revolucionários fugiram e outros passaram para o lado dos 
monarquistas. Como já mencionamos anteriormente, 25 pessoas 
foram presas, torturadas e levadas para a Fortaleza de Nossa 
MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 
 
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Senhora da Assunção, depois Recife, Salvador, foram julgadas e 
anistiadas pelo governo em 1821. O movimento foi sufocado, 
porém em 1824 o Ceará volta a aderir ao movimento separatista 
da Confederação do Equador. 
 
O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA 
DO BRASIL E O CEARÁ 
 
O fato que fez aproximar cada vez mais a emancipação do 
Brasil foi a vinda da família real para o Brasil, por causa do 
bloqueio continental imposto pelo francês Napoleão Bonaparte: 
os portugueses preferiram fugir para o Brasil do que fazer boicote 
à Inglaterra. Aqui, D. João VI, como sua primeira medida, abriu 
os portos às nações amigas, em particular, a Inglaterra. Acaba, 
assim, o monopólio comercial e, consequentemente, o pacto 
colonial. 
Francisco Alberto Rubim governava o Ceará desde 1820 e 
em fevereiro reconheceu a autoridade da constituição portuguesa. 
Uma eleição para a escolha de representantes das Cortes de 
Lisboa foi marcada, mas Rubim acabou sendo deposto por 
levante militar. O governo provisório era composto por pessoas 
ligadas a Portugal, portanto, contrárias aos interesses brasileiros. 
As câmaras de Aracati, Russas, Icó e Quixeramobim protestaram 
,mas não adiantou. Uma nova junta governamental foi eleita em 
15 de janeiro de 1822, porém ainda ligada a Portugal. Como esta 
junta passou a boicotar uma outra eleição para a escolha de uma 
Assembléia Constituinte Brasileira (ordenada por D. Pedro), a 
vila do Crato, liderada pelos Alencar se insurgiu no que seguida 
por Icó com a adesão de Pereira Filgueiras, 
formou uma milícia partidáriade independência havendo um 
combate com as forças ligadas a Portugal no lugar chamado 
Forquilha (confluência dos rios Jaguaribe e Salgado), com a 
vitória dos rebeldes. Em Icó, o conselho eleitoral elegeu uma nova 
junta governamental provisória formada por brasileiros, chefiada 
por Pereira Filgueiras que marchou para Fortaleza. Com a 
chegada da notícia da independência do Brasil, a junta de 
Fortaleza abandonou o poder. Em 22 de janeiro de 1823, 
Filgueiras assumiu o poder de forma pacífica no Ceará. 
Consolidada a independência, em 03 de março de 1823, foi eleita 
a segunda junta provisória de governo, sob a chefia do Padre 
Pinheiro Landim. Neste governo, em 11 de março de 1823, D. 
Pedro elevou a vila de Fortaleza à categoria de cidade com o nome 
de Fortaleza de Nova Bragança. 
 
 
 
 
 
CEARÁ NO PRIMEIRO REINADO 
 
A independência do país não modificou o quadro 
econômico e social que herdamos do período anterior, 
continuamos agrário-exportador, escravista e, especialmente o 
Nordeste mergulhado numa crise econômica. 
Nordeste insatisfeito, sitiado pela crise econômica, 
pela queda da exportação do açúcar, com população descontente, 
com uma elite magoada. Para completar o quadro, os impostos 
continuavam altos e abusivos e ainda tendo que aturar uma 
constituição imposta pelo Imperador, ou seja, outorgada e que lhe 
dava um excesso de podere um governo autoritário, fruto de seu 
quarto poder – o Moderador. 
Pernambuco, que exercia grande influência no Ceará, 
principalmente na nossa região Sul, no nosso Cariri, 
iniciou um Movimento Rebelde em que a História Tradicional 
batizou de “Confederação do Equador” motivado por fatores 
argumentados nos parágrafos anteriores. Em 1824 esse 
movimento liberal, Republicado e para muitos historiadores com 
características separatistas foi liderado por Manuel Paes de 
Andrade e o legendário Frei Caneca. 
CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR NO CEARÁ 
 
Foi muito importante para nossa História e ao mesmo tempo 
dramático e cruel tal movimento aqui nas terras cearenses. A 
nossa participação teve diversos fatores que foram importantes: 
em primeiro lugar a influência econômica e política de 
Pernambuco no Ceará existente desde o período Colonial, pois 
durante muitas décadas nós fomos ligados em termos 
administrativos a Pernambuco – até 1799. Era principalmente 
para lá que era encaminhado nosso rebanho bovino. Também 
várias famílias, sobretudo do Cariri, como os Alencar, 
apresentavam laços de parentesco com Pernambuco. Bárbara de 
Alencar, a matriarca da família Alencar, era de Exu, mesma terra 
de Luís Gonzaga – Rei do Baião, nas fronteiras entre Ceará e 
Pernambuco. 
Outros fatores também são citados: crise econômica, 
dissolução da assembléia Constituinte, a outorga da Constituição 
de 1824, o modelo centralizador do governo de D. Pedro I, essas 
causas também serviram para a eclosão do movimento em 
Pernambuco. 
No dia 26 de Agosto de 1824, o Ceará oficializou a sua 
participação ao Movimento Rebelde através da votação no 
Grande Conselho, formado por mais de quatrocentos homens-
bons. Elegeram Tristão Gonçalves para Presidente da República 
aqui no Ceará e Padre Mororó para Secretário. 
A atitude do Governo Imperial diante desse movimento 
rebelde foi o mais trágico possível, contratando mercenários 
estrangeiros para organizar milícias para combater, prender e 
matar líderes em Pernambuco, no Ceará e em outras províncias 
que aderiram ao movimento. 
No caso cearense, no dia 18 de Outubro de 1824, 
o almirante inglês Lord Cochrane desembarcou em Fortaleza e 
sem encontrar resistência, o movimento já estava dividido e 
desguarnecido, dominou Fortaleza. Heroicamente, Tristão 
Gonçalves, traído por muitos antigos parceiros, fugiu para o 
interior e não se entregou. Morreu lutando num lugar chamado 
Santa Rosa (antiga Jaguaribara, cidade que foi inundada pelas 
águas do Açude Castanhão), tendo o seu cadáver barbaramente 
mutilado (deceparam-lhe a mão e a orelha). 
No Cariri, José Martiniano (Padre Alencar), alguns parentes 
e Pereira Filgueiras decidem dissolver o Exército Republicano. 
O final do movimento foi trágico para muitos de seus 
líderes, veja o que escreveu Aristides Braga Neto em seu livro 
História do Ceará: um Resumo, sobre tal fato: 
“Segundo o Decreto Imperial de 5 de Outubro, 
foi instalada a Comissão Militar no Ceará, com o objetivo de 
julgar sumariamente os defensores da Confederação do Equador. 
Nenhum membro da Comissão, presidida pelo Tenente-Coronel 
de Engenheiros Conrado Jacó de Niemeyer, era cearense. Seus 
trabalhos começaram em 22 de Abril de 1825 e logo estavam 
condenados à forca: Padre Mororó, João de Andrade Pessoa Anta, 
Francisco Miguel Perreira Ibiapina, Feliciano José da Silva 
Carapinima, Luís Inácio de Azevedo Bolão, Frei Alexandre da 
Purificação, Antônio Bezerra de Sousa e Meneses e José Ferreira 
de Azevedo. 
As execuções ocorrem por fuzilamento, pois não apareceu 
“na conformidade da lei ou por contrato” quem aceitasse ser 
carrasco no enforcamento: Padre Mororó e Pessoa Anta (30 de 
abril de 1825), Ibiapina (7 de maio), Bolão (16) e Carapinima 
(28). Com a suspensão das execuções por Decreto Imperial, os 
outros tiveram suas penas comutadas em degredo, trabalhos 
forçados ou prisão.” 
IMPÉRIO (1822-1831) 
MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 
 
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PERÍODO REGENCIAL (1831-1840) 
 
 Sedição de Pinto Madeira (1831-1832) 
 
No dia 7 de abril de 1831, ocorreu a Abdicação de 
D. Pedro I e, como conseqüência, antigos adeptos do Imperador 
foram exonerados, os Liberais outrora perseguidos procuravam a 
vingança. O Cariri, local de muitas rivalidades políticas, foi palco 
de uma Guerra Civil, entre adeptos dos Liberais contra os antigos 
protegidos de Dom Pedro I, conhecida como Sedição de Pinto 
Madeira. 
Muitos estudiosos apontam como causador do conflito as 
cidades do Crato, onde Liberais tinham muita influência; 
e a cidade de Jardins, local de domínio político do Coronel Pinto 
Madeira. Outra causa apontada é a participação de Pinto Madeira 
e o Padre Antônio Manuel de Sousa numa sociedade secreta 
chamada Coluna do Trono e do Altar, cujo objetivo maior era a 
volta de Dom Pedro I ao poder. 
 
 A Luta Armada 
 
A maneira curiosa do Padre Antônio Manuel recrutar 
sertanejos para a revolta rendeu-lhe a alcunha Padre benze 
Cacetes. Conta-se que o padre, pela falta de armas, benzia cacetes 
e entregava-os aos voluntários que acreditavam na força 
milagrosa dos mesmos. 
Cerca de treze mil “cabras” de Pinto Madeira e do Padre 
Antônio Manuel partiram para o Crato. Esta cidade também se 
preparou para confronto e avançou suas tropas. A batalha deu-se 
no lugar Buriti (próximo a Barbalha). Os liberais do Crato foram 
massacrados. 
Temendo a marcha dos absolutistas sobre Fortaleza, forças 
legalistas, avançavam para o interior. Diversos combates foram 
travados em Icó, Várzea Alegre e Barbalha, com vitórias de lado 
a lado. Em abril de 1832, José Martiniano de Alencar assumiu o 
comando das tropas legalistas, vencendo os rebeldes em 
Cachoeirinha (perto de Santanópoles) e Emboscadas (Missão 
Velha). Crato (onde o exército de Madeira ficou encurralado) foi 
libertada em 24 de junho e Jardim em 8 de julho. 
As forças legalistas agora sob o comando do mercenário 
francês Pedro Labatut, continuavam avançando. As deserções e 
outras baixas enfraqueceram bastante os sediciosos que 
começaram a rendição tendo como promessa a garantia de vida e 
Pinto Madeira foi preso. 
Depois de enviado a Pernambuco e ao Maranhão para ser 
julgado, Pinto Madeira acabou sendo condenado aqui mesmo no 
Ceará, não pela sedição em si, mas pelo assassinato de José Pinto 
Cidade, um liberal cratense quando houve a tomada daquela 
cidade pelas forças sediciosas. Pinto Madeira foi fuzilado no 
subúrbio de Alto Vermelho e acredita-se que o julgamento sofrera 
influência do presidente da província José Martiniano de Alencar, 
inimigo de Pinto Madeira, numa clara atitudede puro 
revanchismo. 
Em termos políticos e administrativos, veja o breve resumo 
feito por Airton de Farias, em seu livro História do Ceará – Dos 
Índios à Geração Cambeba, sobre o Período Regencial – 1831-
1840: 
“Na regência, as elites locais se organizaram em partidos. O 
liberal era liderado pelo Senador Alencar, reunindo os maiores 
latifundiários da província. O partido conservador reunia os 
comerciantes, militares e alguns fazendeiros. 
Os liberais comandaram a província até 1837. Entre 1831 e 
1833, governou José Mariano de Albuquerque Cavalcante, que 
reprimiu a Sedição de Pinto Madeira e uma quartelada promovida 
pelo comandante Francisco Xavier Torres. Entre 1833 e 1834, o 
governo ficou nas mãos de Inácio Correia de Vasconcelos. 
Entre 1834 e 1837, governou José Martiniano de Alencar, o 
senador Alencar, figura polêmica conhecida como autoritário e 
bom administrador. 
Entre suas realizações, construiu estradas, financiou a 
agricultura e instalou o Banco Provincial do Ceará. Contudo, 
promoveu intensa perseguição aos adversários políticos. 
De 1837 a 1840, os conservadores comandaram o Ceará. 
Entre 1837 e 1839, o governo ficou nas mãos de Manuel 
Felizardo de Souza e Mello. Combateu duramente os opositores 
– o Senador Alencar chegou a propor a criação de uma nova 
província, a do Cariri Novo. 
Entre 1839 e 1840, administrou o Ceará João Antônio de 
Miranda, que governou por pouco tempo. Depois, assumiu 
Francisco de Sousa Martins, que favoreceu enormemente os 
conservadores e combateu os revoltos balaios fugidos do 
Maranhão. Com o golpe da maioridade, os liberais retomaram o 
controle do Ceará.” 
 
PARTICIPAÇÃO CEARENSE 
NA GUERRA DO PARAGUAI 
 
Entre 1864-1870 ocorreu a nefasta Guerra do Paraguai, 
envolvendo quatro países da América do Sul (Brasil, Paraguai, 
Uruguai versus o minúsculo Paraguai). No Brasil, as dificuldades 
para se formar um efetivo militar foram grandes em decorrência 
do nosso Exército ser mal preparado e mal-equipado, o que 
obrigou o Governo a recorrer a empréstimos externos e a 
convocar os batalhões de “Voluntários da Pátria”, civis que se 
ofereciam ou, na maioria dos casos, eram forçados ao alistamento 
militar. Exemplo: membro da elite – espontâneo; membro da 
classe média, solteiros e pessoas de baixa ou nenhuma renda – 
obrigatórios. 
Veja o que escreve R. Batista Aragão em seu livro História 
do Ceará – Síntese Didática sobre a participação humana do 
Ceará na Guerra do Paraguai: 
“Os quantitativos militares, fornecidos pelo Ceará, têm sido 
freqüentemente questionados. Os registros são falhos. Parte do 
material estatístico permanece arquivado no Exército, onde nem 
sempre os pesquisadores têm acesso, e parte encontra-se 
dispersivamente guardado. Mas, conforme o que se pode colher 
em fontes de regular acesso, nada menos de 6000 homens 
embarcaram com destino ao Paraguai. No final do confronto, 
quando de volta se festejava a glória brasileira, esquecia-se que 
4628 nomes deixavam de figurar na lista dos heróis 
sobreviventes.” 
Todavia, alguns nomes conseguiram se destacar pela ousadia, 
coragem e destemor: os generais Antônio Tibúrcio Ferreira de 
Sousa – condecorado por heroísmos pelo próprio imperador; José 
Clarindo de Queirós – foi para a guerra com 24 anos de onde saiu 
com patente de tenente-coronel e Antônio de Sampaio (General 
Sampaio) – morto durante a guerra. Sua bravura tornou-o patrono 
da Infantaria do Exército Nacional; e Antônia Alves Feitosa 
(Jovita Feitosa) – jovem de Tauá que, aos dezessete anos, alistou-
se como homem. Mesmo tendo sido descoberta, foi enviada para 
o Rio de Janeiro, onde foi aplaudida e badalada pela população, 
pelos políticos e pela imprensa. Mesmo assim, seu alistamento foi 
negado. Sua decepção foi tamanha que meses depois (há quem 
afirme desiludida amorosamente) suicidou com uma punhalada 
no coração. 
Na segunda metade do século XIX, nosso Estado passou por 
várias mudanças em níveis econômicos e sociais, ganhando 
preponderância a cidade de Fortaleza, que passou a ser o nosso 
maior centro urbano. Essa foi a época do auge da exportação de 
algodão, embora houvesse também o destaque da cera de 
carnaúba, a borracha de maniçoba e o café no Maciço do Baturité. 
Surgem as primeiras fábricas, embora a economia de 
pendesse da agropecuária e do comércio. Há crescimento 
econômico de uma emergente burguesia, da classe média e de 
trabalhadores urbanos, porém o poder continuava com as velhas 
oligarquias. 
MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 
 
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As secas foram inclementes, principalmente em 1877-78-79 
que, justamente com a fome e a peste da varíola, ceifou a vida de 
milhões de camponeses. 
 
MOVIMENTO ABOLICIONISTA NO CEARÁ 
 
Nosso Estado, assim como praticamente todo restante do 
País, foi vítima de uma das piores páginas que esse mundo sofreu, 
que foi a escravidão, tanto indígena, quanto negra. 
No caso desse capítulo, vamos tratar da escravidão negra e 
sua abolição. Para o nosso solo, vieram africanos de várias etnias: 
bantos, sudaneses e, já no século XIX, principalmente nas últimas 
décadas, preponderaram os crioulos, negros nascidos no Brasil. 
O escritor Cruz Filho, em seu livro História do Ceará 
(Resumo Didático), escrito em 1931, procura fazer uma breve 
análise da Província do Ceará ter se tornado pioneira no processo 
da abolição no País. Leia o que se afirma: 
“1 - No Ceará, póde dizer-se que o número de escravos era 
bastante reduzido em comparação com as demais Províncias do 
Império, sobretudo com aquellas em que o desenvolvimento da 
lavoura, especialmente a do café e da canna de assucar, 
necessitava do braço captivo para a exploração das grandes 
propriedades ruraes. Tratados sem o excessivo rigor de que eram 
victimas seus irmãos de captiveiro nos latifúndios do Sul, 
quedavam-se elles na sua humilhante e triste condição na 
Província cearense, quando a grande secca que devastou a nossa 
terra nos annos fatídicos de 1877, 1878 e 1879, tendo reduzido à 
miséria os fazendeiros sertanejos, veio dar nova physionomia ao 
problema. O avultado preço do café produzido nas Províncias 
sulistas, onde faltavam braços para o trabalho, suscitou corretores 
desalmados, que se entregaram ao commercio de escravos, 
incrementando o repugnante tráfico no Ceará. 
2 - A exploração da mercadoria humana foi, a pouco e 
pouco, despertando justa repulsa no espírito público, resultando 
disso o movimento emancipador iniciado em Fortaleza desde 
1879, quando se fundoou a sociedade Perseverança e Porvir, de 
que foram sócios fundadores José do Amaral, José Theodorico da 
Costa, Antonio Cruz Saldanha, Alfredo Salgado, Joaquim José de 
Oliveira, José Barros da Silva, Manoel Albano Filho, Antonio 
Martins, Francisco Araújo e Antonio Soares Teixeira Júnior. 
No anno seguinte, os membros da Perseverança e Porvir 
fundaram a Sociedade Libertadora Cearense, que promoveu 
logo a libertação de três escravos e teve a inscripção de 225 
sócios. 
Tomando cada dia maior impulso e tornando mais radical a 
sua acção, foram-se-lhe aggregando novos elementos valiosos, 
como João Cordeiro, Frederico Borges, Natonio Bezerra, Almino 
Álvares Affonso, Isaac Amaral, José Marrocos e outros, 
terminando a Sociedade Libertadora Cearense por adoptar o 
arrojado programma de promover a libertação de todos os 
captivos da Província. 
Servia-lhe de órgão, na imprensa, o periódico Libertador. 
A 25 de março de 1881, realizou a Libertadora um 
enthusiastico festival em Fortaleza, por occasião da alforria de 35 
captivos. 
3 - Os jangadeiros cearenses, que desde janeiro do mesmo 
anno, tendo à sua frente Francisco José do Nascimento, alcunhado 
Dragão do Mar, haviam fechado o porto da capital à saída de 
escravos, recusaram-se, em 30 de agosto, a transportar duas 
cativas para bordo do vapor Espírito Santo, então ancorado no 
porto, não obstante a energia do Chefe de Polícia, Dr. Torquato 
Vianna, que, com apparato de força armada, compareceu aotrapiche para compelli-los a fazer o embarque. Nesse ínterim, o 
abolicionista João Carlos da Silva Jatahy, illudindo a vigilância 
policial, metteu as duas escravas num carro, indo occulta-las em 
local ignorado. 
Essa última tentativa do governo provincial contra os sócios 
da Libertadora não demorou muito, sendo lavradas demissões e 
remoções de quantos occupavam cargos públicos. 
4 - A 19 de dezembro de 1882, uma nova sociedade foi 
fundada na capital, denominada Centro Abolicionista 25 de 
Dezembro, cuja directoria ficou composta pelos sócios João 
Lopes Ferreira Filho, Julio César da Fonseca Filho, Joaquim 
Domingues da Silva, Dr. Meton da Franca Alencar, Antonio Leal 
de Miranda, Cônego João Paulo Barbosa, A. Affonso de 
Albuquerque, Narciso Vieira da Cunha, José Martiniano Peixoto 
de Alencar, Joaquim Januário de Araújo, Dr. Guilherme Studart 
e Bento Luiz da Gama. 
Essa sociedade não tinha o radicalismo da Libertadora em 
seu programa de acção e procurava realizar os seus fins dentro 
dos moldes das leis vigentes. Conseguiu, ao fundar-se, a alforria 
de 3 captivos e, em janeiro do anno seguinte, a remissão de mais 
54. 
5 - A obra patriótica dos abolicionistas de Fortaleza não 
tardou a irradiar-se pelo interior da Província, percorrendo elles 
próprios cidades e villas em propaganda da generosa idéa. O 
município de Acarape (Redenção) foi o primeiro no Ceará, quiçá 
no Brasil, que aboliu a escravidão, em 1º de janeiro de 1883. 
6 - Afinal, após três annos de lutas sem tréguas, raiou o dia 
25 de março de 1884, data memorável para nossa história, pois 
assignala a extincção integral do captiveiro no território cearense. 
O número de escravos redimidos subira a 35.508.” 
Notem primeiro as diferenças ortográficas, já que foi escrito 
em 1931, segundo a análise, é muito bem feita. Escrevendo sobre 
vários fatores do nosso pioneirismo: a pouca quantidade de 
negros escravos em relação a outras províncias, as secas que 
aceleraram a exportação de mão-de-obra escrava, a participação 
das entidades abolicionistas, as grandes figuras do nosso 
abolicionismo, a participação do Dragão do Mar etc. 
Ficam as perguntas: Como eles eram tratados nessa época, 
ou mesmo antes? Como eles reagiam à escravidão? 
Vamos por partes, antes todos sabemos que o governo 
Imperial atendendo às pressões internas e externas fez decretar 
duas leis paliativas: 
- 1850 – Lei Eusébio de Queirós; 
- 1871 – Lei do Ventre Livre. 
Posteriormente à nossa abolição, o governo ainda assinava 
mais duas leis: 
- 1885 – Lei dos Sexagenários; 
- 1888 – Lei Áurea. 
Para colocar abaixo o mito que nossos escravos eram bem 
tratados pelos seus senhores, veja aqui algumas linhas citadas no 
livro de Eduardo Campos – Revelações das Condições de Vida 
dos Cativos do Ceará, de 1982: 
“Os jornais noticiavam dolorosos castigos pela impiedade 
desses ásperos e cruéis senhores. Veja-se o rol de exemplos: 
Jerônimo, moleque ladino, tem o dedo cortado da mão direita 
(“Cearense”, 16/03/1865); José, vai-se de seu senhor com o “olho 
perdido” (Ibidem, 29/07/1865) (...) Francisco, escravo de 25 anos, 
com cicatrizes de “chicote nas costas” (“O Comercial”, 
17/04/1856); Simeão, de 32 anos apresenta “sinaes de relho nas 
costas” (Ibidem, 14/06/1856) (...) Imirência (...) “crioula de 22 a 
33 anos”, “pachola”, com as costas marcadas por sevícias, e de 
propriedade de sacerdote, o Padre Vicente da Rocha Mota, não 
muito cristão para os seus cativos (...)” 
Nos períodos Colonial e Imperial nossas leis previam a pena 
de morte no Brasil. No século XIX, foram executados 41 presos 
dos quais 16 aplicados a cativos negros, todos executados na força 
(9 em Fortaleza e 1 respectivamente em Sobral, Aracati, Viçosa, 
Quixeramobim, Granja, Ipú, Russas). 
MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 
 
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Desses casos, o mais conhecido envolve o Laura II, onde 9 
escravos rebelaram-se e assassinaram a tripulação desses 
negreiro, levando o barco à praia do Arapuçu, em Aquiraz, para 
fugir. Os escravos foram capturados, rapidamente julgados e 6 
foram enforcados no passeio público, em outubro de 1839. 
Outro dado a ser analisado é a resistência dos negros cativos 
à escravidão, e ela se deu de várias maneiras, mesmo dentro de 
todo um aparato que os perseguiam e que protege aos seus 
senhores. Veja o que escreveu o jovem e grande pesquisador e 
escritor cearense Airton de Farias em seu livro História da 
Sociedade Cearense: 
“A mais destacada forma de resistência negra no Brasil 
ocorreu através da formação de quilombos. Ao contrário do que 
se pensa, tem-se indícios da presença de quilombos ou mucambos 
no Ceará. Isso fica explícito até em comunicados oficiais, como 
na carta de Jerônimo da Paz, intendente das minas de S. José do 
Cariri, dirigida ao governador de Pernambuco: “O padre Antônio 
Correa Vaz pede uma ordem para um crioulo chamado José 
Cardigo servir de capitão nestes lugares e eu lhe dei, em nome de 
V. Exa., pela necessidade que julgo de que haja quem se 
empregue nas prisões dos negros fugidos e criminosos que se 
acham nestes matos amucambados; e me consta que, para parte 
do corrente, têm saído negros dos mucambos e a algumas pessoas 
a roubar, e é preciso cuidar muito em destruir estes mucambos e 
outros que possam ir fazendo (...) 
Ao que consta, a muralha de pedra encontrada em 
Bastilhões, na serra do Pereiro, seria um quilombo no qual se 
refugiam escravos do Ceará e de Províncias vizinhas. Também 
existia outro na Serra Grande, para onde acorriam negros do 
Ceará, Piauí e Maranhão. Muitos cativos fugidos foram 
apreendidos em Viçosa. O movimento negro cearense afirma que 
muitos outros locais de “acoutamento” de escravos fugitivos 
existiam na Província, inclusive alguns na periferia da capital, 
como em Tauape e Parangaba. 
O suicídio constituía-se outra maneira explícita de 
resistência – acabar a vida para encerrar o suplício da escravidão. 
Sintomático é o casso de um negro alforriado e “legalmente” 
detido na cadeia de Caucaia. O coitado extraviara o documento 
comprobatório de sua liberdade e ante a desgraça iminente de 
voltar à condição de cativo, pôs fim à própria vida. 
Resistiram ainda os negros com o assassinato de seus 
senhores e até com conspirações e revoltas armadas, o que 
colocava em pânico as elites.” 
E a participação popular, o que podemos dizer, leia mais uma 
vez a belíssima explicação do jovem escritor Airton de Farias: 
“A campanha abolicionista acabou atingindo os seguimentos 
sociais mais humildes, de modo que podemos afirmar que a 
mobilização do povo cearense também contribuiu para a 
“precocidade” da abolição local. Essa participação popular fica 
evidente nos episódios do ano de 1881. 
Sendo a condução dos negros escravos aos navios feita com 
o uso de jangadas, um grupo de abolicionistas – tendo à frente 
Pedro Artur de Vasconcelos e José do Amaral – arquitetam o 
plano de convencer os jangadeiros a não mais realizar o trabalho. 
Obtiveram de imediato a adesão do liberto José Lins Napoleão e 
de Francisco José do Nascimento (futuro “Dragão do Mar”), 
figura de influência entre os trabalhadores da praia. 
Há quem afirme que os jangadeiros foram subornados. De 
fato, receberam dinheiro dos abolicionistas, o que, porém, não 
significa menos idealismo ou coragem – prova é que recusaram 
boa quantia oferecida pelos escravocratas para transportarem 
cativos, além de que, realizando uma greve, estavam sujeitos à 
repressão oficial. Era justo que sendo humildes chefes de família, 
recebessem alguma remuneração pela suspensão, a pedido das 
elites, do seu pobre ganha-pão. 
Na manhã do dia 27 de janeiro de 1881, os jangadeiros se 
negaram a conduzir alguns negros cativos para o vapor Pará. A 
notícia logo se espalhou pela cidade e, em pouco tempo, mais de 
1500 pessoas “de todas as classes e condições” afluíram ao porto. 
Um grito anônimo partiu da multidão e logo se tornou coro e lema 
do abolicionismo local: “No porto do Ceará não se embarcam 
mais escravos!”. Os escravocratas,sob vaias e ofensas, irritados, 
usaram de todos os artifícios – de ameaças à oferta de dinheiro – 
para convencer os homens do mar a carregar as “peças”. Os 
jangadeiros permaneceram irredutíveis. Os negociantes chamam 
a polícia, que pouco pôde fazer.” 
Nesse contexto, surge a figura cearense que ficou conhecida 
nacionalmente na luta contra a escravidão, Francisco José do 
Nascimento – Chico de Matilde, o nosso Dragão do Mar, o nosso 
“tigre da abolição tupiniquim”, já o José Carlos do Patrocínio, 
tornou-se conhecido nacionalmente com esse título. 
Enfim, como ocorreu a abolição em Acarape, hoje 
denominado Redenção? 
No dia 1º de janeiro de 1883, com a presença do Tigre da 
Abolição – José do Patrocínio – Acarape, em grande festa passou 
para a história do Brasil como a primeira vila a libertar seus 
escravos, segundo Pedro Alberto de Oliveira Silva – em História 
da Escravidão no Ceará (das origens à extinção): 
Ainda em setembro de 1881, o Libertador já se referia à 
realidade escravista no Ceará, nos seguintes termos: 
“(...) 
‘Não há dia em que não se dê uma libertação; a escravatura 
no Ceará declina do occaso para o túmulo. – Já não sem compra 
e nem se vende escravos e os que ainda existem cativos pertencem 
antes à classe dos creados domésticos do que a senzala dos 
captivos.’ 
Acarape havia sido escolhido pela Sociedade Libertadora 
Cearense para ser o primeiro município do Ceará a extinguir a 
escravidão porque possuía, então, a menor população escrava. 
Quando a escolha foi feita, viviam 116 cativos pertencentes a 75 
senhores. A libertação daqueles deveu-se aos esforços da 
Sociedade Libertadora Cearense e da Sociedade Redentora 
Acarapense, que compraram alforria de 43 escravos, sendo os 
demais libertados gratuitamente. Pôde-se assim marcar o dia 1º 
de janeiro de 1883 para a comemoração do acontecimento. 
(...) 
Exatamente quando já estava praticamente vencedora a 
campanha abolicionista liderada pela Sociedade Cearense 
Libertadora, foi criado no mês de dezembro de 1882 o Centro 
Abolicionista 25 de Dezembro.” 
Como ocorreu em Fortaleza, capital da Província, esse dia 
magno para a nossa história? Leia o que escreveu o grande 
historiador Raimundo Girão: 
“A sessão magna, às 12 horas, no salão nobre da 
Assembléia Provincial, teria de ser a grande nota do auspicioso 
dia. O presidente interino da Província, Comendador Antônio 
Teodorico da Costa, ladeado pelos quatro componentes da 
Comissão Central, inaugurou-a em ligeiras palavras. 
São cantados o Hino da Redenção e o Hino 24 de Maio, 
bem como, pelos alunos do Ateneu Cearense, o da Independência 
e o Hino Nacional. Jornalistas de Belém – Lima Barata pela 
“Província do Pará”, e Manuel Cantuária pelo “Diário de 
Notícias” – especialmente enviados para“o grande 
acontecimento”, falam em primeiro lugar e são imediatamente 
seguidos por João Brígido, em nome doutro órgão guajarino – o 
“Diário do Grão Pará”, e por José Marrocos, representante do 
jornal católico “Boa Nova”, também paraense. 
A oração de Maria Tomásia, pelo calor com que foi 
pronunciada, valeu por uma convulsão. Francisca Clotilde, 
recitando poesia sua, não arrancou efeito menor. 
Muitos oradores falam pelas diversas Sociedades 
Libertadoras, e já ia por mais de quatro horas da tarde quando o 
Comendador Teodorico, encerra a sessão, cuja ata assina com a 
pena de ouro oferecida pelo joalheiro J. Weill. 
MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 
 
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Às cinco horas da tarde, na Catedral, o Te Deum 
gratulatório, com expressiva oração do Padre Frota. 
Depois, o “préstito dos estandartes” percorrendo as ruas em 
marche aux flambeaux. 
“Fortaleza Libertada” – podiam contar os seus poetas, 
endeusando as heroínas e os heróis da majestosa conquista.” 
Finalmente veio o dia 25 de março de 1884, dia da Abolição 
em toda Província, mais um marco do nosso pioneirismo no 
processo da Abolição – fomos a primeira vila a abolir e agora a 
primeira Província, dessa forma realiza-se uma grande festa para 
tal fato histórico. 
Raimundo Girão afirma que, naquela época, no Ceará, 
existia 16 mil cativos (não há dados homogêneos sobre a 
quantidade de escravos). 
“Após fogos de artifício, gritos, lágrimas e tiros de canhões, 
a multidão que compareceu a Praça Castro Carreira (Praça da 
Estação) delirou quando o presidente da Província, Sátiro de 
Oliveira Dias, concluiu seu discurso anunciando: “a Província do 
Ceará não possui mais escravos.” 
 
ABOLIÇÃO NO CEARÁ 
 
Primazia cearense e orgulho para todos nós alencarinos, 
Infinitas homenagens aos senhores da abolição, no entanto, 
Onde e como ficaram, os ex-escravos? No Acarape, 
[na Redenção, 
Negros, mulatos, mestiços, como ficastes? 
Esqueceram. A história não. 
Instante de reflexão, instante de reflexão 
Respeitando as atuais homenagens: mas onde estão seus 
[descendentes? 
Instante de melancolia. Estão nas favelas, vielas e periferias. 
Sim, com certeza, no Ceará e no Brasil, falta muito, 
Muito mesmo para um reino melhor, seu reinado é só no 
[carnaval, 
Ou no futebol, mas nos outros setores são parias, parias. 
 
Dragão do Mar certamente não está contente: 
O grande timoneiro da nossa abolição, mestiço símbolo de 
[cearensidade. 
 
Ceará pioneiro, Ceará primeiro, Ceará sofrido, Ceará 
[querido. 
És contraditório, mar, sertão, serra, pé-de-serra. Redenção. 
Assim mesmo, somos contraditórios. Abolimos e 
[esquecemos, mas o 
Racismo não foi abolido, a exclusão social também. 
Á – Esquecendo essa letra – Vamos esquecer essas mágoas. 
[Parabéns Ceará. 
 
Aníbal da Silva Holanda. 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
No início da República Velha, a antiga, elitista e arcaica 
aristocracia rural que dominou a política cearense no Período 
Imperial esteve dividida entre Pompeus (Accioly), Paulas, 
Aquirazes e Ibiapabas. Todas essas facções eram poderosas e 
controlavam a estrutura coronelística no sertanejo semelhante à 
antiga plantation. Posteriormente, grande parte desses 
monarquistas irão apoiar a República para continuarem na 
máquina administrativa, principalmente em torno da figura 
conservadora de Nogueira Accioly. 
Os republicanos históricos do Ceará não possuíam grande 
penetração junto às massas populares, ou seja, eram formados 
principalmente por intelectuais, comerciantes e elementos da 
classe média de Fortaleza, além do fato dos republicanos 
históricos serem em pequeno número, a divisão interna entre 
deodoristas e florianistas, logo após a Proclamação da República, 
fez com que eles perdessem o poder para o oligarca Accioly. 
 
ECLOSÃO DA REPÚBLICA 
 
A notícia da Proclamação da República chegou ao Ceará 
por intermédio de um telegrama, então militares do 11º Batalhão 
e do Colégio Militar uniram-se ao histórico Centro Republicano 
e depuseram o último presidente do Ceará monárquico e deram 
posse ao primeiro presidente da república cearense, o comandante 
Luis Antônio Ferraz, que também era monarquista. Essa atitude 
foi criada para enfraquecer o movimento popular que promovia 
agitações na Praça dos Mártires (Passeio Público), que poderiam 
radicalizar dentro das idéias da Revolução Francesa. 
 
NOGUEIRA ACCIOLY 
 
Accioly iniciou sua trajetória política ainda no período de 
D. Pedro II, sendo ligado ao grupo do monarquista Senador 
Pompeu. Essa ligação com o velho senador deveu-se ao 
casamento de Accioly com a filha de Pompeu, bem como com o 
seu grande poder de articulação. Com a Proclamação da 
República, a máquina administrativa estadual ficou nas mãos dos 
republicanos históricos. Contudo, esses “puros” republicanos 
brigaram entre si, os ortodoxos, florianistas chamados de 
“Cafifins” liderados por João Cordeiro, contra os dissidentes 
deodoristas intitulados de maloqueiros, liderados por Martiniano 
Rodrigues e Justiniano de Serpa. Essa briga entre os republicanos 
históricos os enfraqueceu e esse fato vai ser bem utilizado por 
Accioly, que astutamente ligou-se ao ex-inimigo João Cordeiro, 
e passou a penetrar no governo republicano levando consigo 
vários oligarcasex-monarquistas, agora na nova União 
Republicana. Como consequência, o Centro Republicano, que 
tanto tinha lutado pelo fim da monarquia foi sobrepujado na 
república pelos mesmos ex-monarquistas da época do império. 
Vale salientar que uma das causas desse crescimento do ex-
monarquista Accioly é o fato de que o povo estava totalmente 
isolado do cenário político, pois os próprios republicanos 
tradicionais não defendiam a reforma agrária, o aumento salarial, 
o voto universal e uma justa educação pública e gratuita. 
Nogueira Accioly, através do coronelismo e política dos 
governadores feita pelo presidente da República Campos Sales, 
conseguiu fortalecer-se, mesmo com vasta documentação de 
nepotismo, despotismo e de corrupção, como foram os fatos do 
desvio de verbas na construção de pontes metálicas francesas no 
rio Pacoti, na elaboração da estrada de ferro – Fortaleza-
Uruberatama e na encampação (nacionalização) do porto do 
Mucuripe. A maioria dessas obras ficou inacabada devido ao mau 
uso do dinheiro público, também Accioly não se preocupou em 
solucionar problemas sociais causados pela seca, inclusive, numa 
atitude horrível e desumana passou a atacar o grande herói 
Rodolfo Teófilo por esse ser da oposição. Vale salientar que 
Rodolfo Teófilo tinha criado uma excelente vacina contra a 
varíola, já que o Ceará estava, junto com a seca, tendo uma 
epidemia de varíola e tuberculose. 
Accioly conseguiu obter apoio de antigos desafetos, como 
o do político Pedro Borges e, novamente, uniu as elites em torno 
de si, e manteve a máquina administrativa sob seu controle, 
enquanto que a oposição era degolada na Capital Federal – Rio de 
Janeiro, interessante observar que a oposição era ínfima, pois 
além da degola, ela praticamente não recebia votos devido à 
exclusão ou obstrução dos alistamentos de supostos eleitores da 
oposição. No período acciolyno, algumas obras foram inseridas 
no Ceará, como a construção do Teatro José de Alencar, o 
surgimento do “campo de concentração” do Alagadiço para 
flagelados da seca, ocorreu também a remodelação das praças do 
Ferreira, José de Alencar e da Sé. 
REPÚBLICA VELHA 
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A elite deslocou-se para “novos” bairros “chics” como 
Jacareganga, Benfica e Praia de Iracema, pois muitos pobres 
passaram a morar no centro da cidade, como no Arraial Moura 
Brasil, posteriormente a burguesia fixou-se em sítios na 
localidade chamada “Aldeota”. Nesse período, é confirmado o 
espírito gozador do nosso povo quando Fortaleza “adota” o bode 
Ioiô, o escolhendo como vereador. 
 
FRANCO RABELO 
 
A queda de Accioly ocorreu quando o povo não agüentava 
mais seus desmandos e passou a procurar alguém da oposição 
como o militar Franco Rabelo, que adquiriu maior poder quando 
representou a Política das Salvações do Presidente Hermes da 
Fonseca, essa política buscava tirar as antigas aristocracias do 
poder e colocar na máquina administrativa novos e dissidentes 
aristocratas, consequentemente, apesar de Franco Rabelo ser 
apoiado pelo povo, sua aliança verdadeira e fundamental era com 
essa dissidente elite, enquanto que o povo se manteria 
marginalizado. A destruição política de Accioly ocorreu quando 
ele, como governador, mandou reprimir a passeata de crianças e 
muitas delas morreram de tiro e pisoteadas, essa repressão 
provocou uma maior revolta da população que cercou o Palácio 
do Governo, vizinho à Praça dos Leões, para matar Accioly. Para 
sua sorte, a elite oposicionista, com medo de uma maior 
radicalização popular, negociou uma rendição de Accioly e este 
deixou o Ceará e foi morar no Rio de Janeiro. 
Franco Rabelo assumiu o governo, mas não soube costurar 
acordos políticos, negociar cargos no governo e não resolveu 
problemas de miséria do povo. Para seu desgosto, deputados 
acciolystas ainda possuíam o controle da Assembléia Legislativa 
e escolheram Padre Cícero (Coronel de Batina) para o cargo de 
vice-presidente, como também Padre Cícero tornou-se prefeito de 
Juazeiro. 
 
SEDIÇÃO DE JUAZEIRO 
 
A destituição de Franco Rabelo deu-se com a união da 
Aristocracia em torno de Padre Cícero e de Floro Bartolomeu em 
Juazeiro, que para derrotar as forças legislativas de Franco Rabelo 
construiu a trincheira do “circulo da mãe de Deus”. Após a derrota 
rabelista em Juazeiro, romeiros e jagunços deslocaram-se para 
Fortaleza e Franco Rabelo teve que renunciar. Após esse fato, a 
aristocracia acomodou-se na máquina administrativa sem grandes 
atritos internos. 
 
ASPECTOS SERTANEJOS 
 
O interior do Ceará produziu personagens e fatos históricos 
que merecem uma atenção peculiar porque moldaram a 
personalidade tanto da população rural, como urbana. Observa-se 
que uma gigantesca quantidade de famílias dessa metrópole é 
oriunda do “interior” e uma das causas dessa migração é o flagelo 
das secas, que já foi sentido por Pero Coelho em 1605, mas que 
nunca foi realmente solucionado. Em 1889, o governo, de uma 
forma simplória, tentou anular esse flagelo com a Hospedaria 
Geral dos Imigrantes que tinha apenas o papel de alojar os 
retirantes longe da classe dominante; em 1909, nasceu a 
Inspetoria de Obras Contra a Seca – IOCS, que acreditou na 
solução “tecnicista” de que somente a construção de barragens 
resolveria o problema do sertanejo, essa visão é oriunda do 
projeto da construção do açude de cedro em Quixadá. Como essa 
solução hidráulica não é competente, o problema do flagelo 
avolumou-se com outro fato percebido por Rodolfo Teófilo 
através da frase que levava a idéia de que o “O problema do sertão 
não é a seca, mas sim a cerca” de tal forma que em 1915 ocorreu 
uma gigantesca estiagem e o governo de Liberato Barroso, sem 
nenhum respeito para com os flagelados, construiu uma espécie 
de campo de concentração no alagadiço e a situação piorou 
quando a varíola assolou Fortaleza, principalmente nesse “curral 
de bárbaros”. Vale salientar a importância e o espírito 
humanístico de Rodolfo Teófilo que, desde o período acciolyno, 
tentou diminuir a dor do flagelado produzindo inclusive, uma 
excelente vacina anti-varíola. 
Padre Cícero ainda hoje possui um gigantesco carisma 
perante a população nordestina. Nasceu em 1844 e adolescente 
aproximou-se da liturgia católica, o que o levou a estudar no 
Seminário da Prainha em Fortaleza. Entretanto, sua fama tornou-
se imbatível através do milagre da hóstia com beata Maria de 
Araújo onde hoje é Juazeiro, apesar desse fato místico ter feito 
dele um santo perante os pobres camponeses ou os poderosos 
coronéis latifundiários. Padre Cícero passou a ser visto com 
desconfiança pelo alto clero católico devido à romanização. Padre 
Cícero tornou-se chefe católico de Juazeiro, aliado de Nogueira 
Accioly e ligado aos interesses do líder oligárquico Floro 
Bartolomeu. Foi dessa união que nasceu a Sedição de Juazeiro e 
provocou a queda de Franco Rabelo. Devido a sua influência 
política e defesa das oligarquias, Padre Cícero ficou conhecido 
como “Coronel de Batina” que, inclusive, entrou em contradição 
quando ele defendeu a comunidade do Caldeirão. 
A comunidade do Caldeirão foi uma experiência 
extremamente radical, no que concerne no aspecto de divisão de 
tarefas e riquezas. Foi uma propriedade rural pertencente a Padre 
Cícero sobre a responsabilidade do Beato José Lourenço. O alto 
grau de respeito humano, de solidariedade e de espírito 
comunitário tornou o Caldeirão dos Jesuítas uma área que entrava 
em contradição com o latifúndio. Esses radicais, que eram 
semelhantes aos antigos moradores de Canudos, já tinham criado 
uma outra experiência positiva no Sítio Baixa Danta, e também 
tinham possuído um choque com oligarcas e Floro Bartolomeu 
devido ao “Boi Mansinho”, que pertenceu a Padre Cícero e foi 
criado pela Comunidade de José Lourenço. Para enfraquecê-la, 
os coronéis teimosamente afirmaram que o boi estava sendo 
adorado. Com a morte de Padre Cícero, o terreno foi entregue a 
Ordem dos Salesianos e a “cooperativa” do Caldeirãofoi 
destruída militarmente. 
 
 
 
 
O PODER COM GETÚLIO VARGAS 
 
Didaticamente, costuma-se dividir a era Vargas, isto é, o 
período em que Getúlio Vargas ficou à frente dos destinos do 
Brasil, em três etapas: Governo Provisório (1930-1934), Governo 
Constitucional (1934-1937) e Estado Novo (1937-1945). De 
forma geral, tal período pode ser identificado por: centralização 
político-administrativa, diminuindo a autonomia dos estados; 
nacionalismo econômico, no qual o estado intervia na economia 
e reservava para si áreas economicamente estratégicas; crescente 
processo de industrialização e urbanização; prática do populismo, 
ou seja, de uma política na qual o estado, por meio de um líder 
carismático (como era Vargas), assumiu o papel de árbitro dos 
conflitos sociais, mantendo as estruturas e os privilégios 
dominantes, embora fazendo concessões aos setores populares no 
intuito de controlá-los; criação de leis de proteção e assistência 
aos trabalhadores; e repressão e perseguição aos oposicionistas. 
 
AS INTERVENTORIAS 
 
Vitoriosa a “Revolução” de 1930, os órgãos legislativos 
estaduais e municipais foram dissolvidos, e depostos os 
governadores e prefeitos. Os estados passaram, em consequência, 
a serem administrados por interventores, nomeados por Vargas e, 
lógico, a ele submissos. 
ERA VARGAS 
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Os interventores tinham por função “garantir” os ideais da 
“revolução”, exercendo os poderes Executivo e Legislativo em 
cada unidade da Federação até que houvesse a 
reconstitucionalização do País. Cabia a eles, ainda nomear os 
prefeitos. 
 
 A Interventoria Fernandes Távora (1930-1931) 
 
Fernandes Távora, líder de grupo dissidente da República 
Velha e que havia abraçado os princípios da aliança liberal, foi 
o primeiro interventor do Ceará. Távora governou o Ceará por 
8 meses (de outubro de 1930 a julho de 1931) e nada de notável 
realizou, a não ser, talvez, o desarme e prisão de vários 
coronéis (logos libertos), a abertura de processos para apurar 
as irregularidades das antigas oligarquias (não deu em nada) e 
a decretação de norma exigindo o número mínimo de 15 mil 
habitantes para constituição de um município (reduziu de 85 
para 51 os municípios cearenses). 
A continuidade com as práticas tradicionais e clientelistas, 
privilegiando os elementos ligados à sua facção oligárquica 
fez os tenentes começar a pressionar Getúlio Vargas para 
destituí-lo da Interventoria, no que foram atendidos. 
 
 A Interventoria Roberto Carneiro de Mendonça 
 (1931-1934) 
 
O capitão Carneiro de Mendonça assumiu o poder 
cearense com uma política de “conciliar” grupos oligárquicos 
estaduais. Conseguiu, de fato, pelo menos a princípio, 
harmonizar as oligarquias do Estado; chegou, na verdade, até 
a nomear elementos ligados as “oligarquias decaídas” para 
ocupar cargos dirigentes, como no caso do secretário de justiça 
e negócios do interior, o jurista Olívio Câmara. 
Poucos meses após ser apossado como interventor, 
Carneiro de Mendonça enfrentou grave crise, não política, mas 
climática. Era a catastrófica seca de 1932. Milhares de pessoas 
pereceram de fome, de sede e de doenças, tendo em vista a 
pouca assistência do governo. 
A disputa eleitoral de 1933 pôs fim à “conciliação” até 
então desenvolvida no Ceará. Dessa maneira, os elementos 
civis da “revolução”, os tenentes do Colégio Militar e 23º BC, 
sob liderança do oligarca Fernandes Távora, organizaram o 
Partido Social Democrático (PSD), cujo porta-voz era o jornal 
O Povo. 
Mas se os “revolucionários”, pregando a modernização do 
estado, encontravam-se no PSD, os “oligarcas decaídos”, por 
sua vez, aglutinavam-se em torno da secção cearense da Liga 
Eleitoral Católica (LEC). 
A LEC seria o instrumento pelo qual as antigas oligarquias 
voltariam ao poder. Usariam para tal todo o aparato 
eclesiástico da Igreja. Onde houvesse um padre, existia 
também um correligionário da sigla. 
Os resultados do pleito de 3 de maio de 1933 indicaram 
importante vitória da LEC; esta elegeu 6 deputados 
constituintes, contra 4 do PSD. Iniciava-se a volta das antigas 
oligarquias ao poder. 
Os partidários do PSD cearense, diante disso, passaram a 
responsabilizar Carneiro de Mendonça pela derrota. O 
interventor, com sua “neutralidade política”, acabavam 
beneficiando a LEC. Perante as pressões e aumentos das 
disputas entre PSD e LEC, impossibilitado de governar de 
forma conciliatória, Carneiro de Mendonça, em agosto de 
1934, decidiu pedir ao Governo Federal e destituição da 
interventoria. 
 A Interventoria Felipe Moreira Lima (1934-1935) 
O coronel Felipe Moreira Lima, ardoroso partidário do 
movimento tenentista e da Revolução de 1930, realizou a 
administração mais conturbada do período interventorial 
cearense. Dizendo-se “socialista”, embora não acreditando na 
democracia, aliou-se totalmente aos pessedistas com o propósito 
de evitar que os políticos da pátria velha (a LEC) voltassem ao 
poder. 
Mas Moreira não evitou que, nas eleições legislativas de 
outubro de 1934, a LEC obtivesse nova vitória. A vitória lecista, 
conseguindo o domínio político no âmbito das bancadas federal e 
estadual, significou, na visão dos pessedistas, o fim da 
“Revolução” de 30 no Ceará e o retorno das antigas oligarquias 
ao poder. 
Com a fundação da ANL, no Rio de Janeiro, iniciou-se um 
trabalho de divulgação do movimento por todo o país. No Ceará, 
a instalação da secção deu-se em maio de 1935 perante a uma 
multidão de 10 mil pessoas (segundo o jornal O Povo de 
23.05.1935). 
Estudantes e trabalhadores faziam passeatas e manifestações 
públicas anti-integralistas, contando com ampla simpatia do 
interventor Moreira Lima, o qual afirmava que em seu governo a 
polícia jamais prenderia ou espancaria grevistas ou populares. Por 
conta dessa proximidade com a ANL, o interventor foi taxado de 
comunista e de estar “bolchevizando” o Ceará pela LEC. 
A proximidade do pleito eleitoral, para a escolha indireta do 
governador, complicava as coisas. A LEC havia lançado como 
candidato o advogado o advogado, professor e diretor da 
Faculdade de Direito, Menezes Pimentel, um político de direita, 
intelectual católico vinculado aos setores mais retrógrados da 
Igreja. O PSD, inicialmente pensou em lançar o nome do próprio 
Moreira Lima; este, contudo, a 10 de maio de 1935, foi 
convocado ao Rio de Janeiro, e ali Vargas, cedendo às pressões 
dos lecistas, destitui-o da interventoria. 
 
 O Governo (1935-1937) e a Interventoria Menezes 
Pimentel (1937-1945) 
 
O período em que Menezes Pimentel esteve à frente dos 
destinos cearenses foi um dos mais autoritários, brutais e 
repressivos momentos da história dessa terra- reflexo do que 
acontecera no país. 
Logo no início da administração, Pimentel deu provas de 
como governaria: destituiu os prefeitos interioranos e 
funcionários públicos ligados ao PSD; mandou, de pronto, fechar 
os núcleos locais da ANL após a decretação da ilegalidade desta; 
usou a Lei de Segurança Nacional, depois da intentona de 1935, 
como pretexto para perseguir a oposição, sobretudo os 
comunistas, o que ficava a cabo de delegados e subdelegados de 
polícia – terroristas selvagens prestigiados pelo governador. 
Em 1937, com o golpe do Estado Novo, Vargas confirmou 
Menezes Pimentel no comando cearense, agora como interventor 
federal. Ora, com a força que o novo regime instaurado possuía, 
Pimentel passou a governador do Estado com mãos-de-ferro, 
destruindo qualquer oposição. 
Em nome da moral e dos bons costumes, o regime instaurado 
ainda fechou a lojas maçônicas e os centros espíritas da capital e 
no interior do Estado; as livrarias tiveram o estoque revisado para 
apreensão de livros e de revistas portadoras de “idéias 
subversivas”. 
Sucedeu-se, ainda, no período de Menezes Pimentel a chacina 
igualitária da comunidade do Caldeirão, onde morreram mais de 
mil pessoas. 
Assim, o aparelho repressivo, a covardiados setores liberais 
locais (a maioria dos “revolucionários” de 30 omitiram-se ou 
apoiaram a ditadura) e o aparato religioso da Igreja praticamente 
paralisaram o Ceará. Criou-se, então, um estranho 
“endeusamento” à imagem de Pimentel, semelhante talvez ao que 
era feito com Vargas nacionalmente. 
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Populismo é uma prática política em que o governante 
utiliza de vários recursos para obter apoio popular. 
O populista utiliza uma linguagem simples e objetiva, usa e abusa 
da propaganda pessoal, afirma não ser igual aos outros políticos, 
toma medidas autoritárias, não respeita os partidos políticos e 
instituições democráticas, diz que é capaz de resolver todos os 
problemas e possui um comportamento bem carismático. É muito 
comum encontrarmos governos populistas em países com 
grandes diferenças sociais e presença de pobreza e miséria. 
Ainda hoje, o termo é utilizado para identificar 
determinadas lideranças políticas ou movimentos pelos quais um 
governante ou político se dirige diretamente às massas, apelando 
para o seu carisma pessoal. 
Os estudiosos divergem quanto à periodização exata desse 
comportamento político no Brasil. Muitos o inserem no período 
que vai de 1930 a 1964. para muitos outros o populismo vai de 
1954 a 1964, marcado pela participação popular durante o 
período da redemocratização pós-Vargas, quando a 
industrialização foi mais consistente, e na política, as eleições 
ocorreram periodicamente. Em ambos os casos nós temos 
participação política das “massas”, finalizando com o golpe 
militar 1964, que instaurou uma longa ditadura no país e 
restringiu a participação popular e organização de movimentos 
sociais organizados. 
Em linhas gerais, o populismo apresenta três pontos 
centrais: 
 Uma política de massas, que incluía os proletários 
urbanos no momento da modernização do país; 
 A associação das massas com os dirigentes que 
procuravam legitimar suas posições políticas e angariar o 
apoio das massas emergentes e; 
 A presença de um líder carismático que lideraria as 
massas e conciliaria os interesses dos grupos dominantes 
com essa população. 
 
A POLÍTICA CEARENSE 
NA REPÚBLICA POPULISTA 
 
Entre 1945 e 1947, o Ceará foi administrado por 
interventores, como Acrísio Moreira (PR), Pedro Firmeza. 
Coronel Machado Lopes e Feliciano de Athayde e Faustino 
Albuquerque (UDN). 
A campanha sucessória de 1947 foi tumultuada, com 
choques entre os comunistas e a Igreja. Assim, enquanto o 
candidato do PSD, Onofre Muniz combatia os comunistas, o 
candidato da UDN vencia. A 1º de março de 1947, Faustino 
Albuquerque foi empossado no cargo de Governador do Estado. 
 
 O Governo Faustino Albuquerque (1947-1951) 
 
O desembargador teve uma má administração. Seu mandato 
foi marcado por perseguições aos seus adversários e por várias 
crises políticas. 
Notícias de agressões, atentados e assassinatos por razões 
políticas no interior do Estado passavam a ser rotina. Os 
correligionários do governador tinham “carta branca” para agir e 
seus crimes ficavam impunes. 
Com uma administração autoritária e inábil, a UDN logo 
percebeu que teria enormes dificuldades para fazer o sucessor de 
Faustino. Então, para a disputa eleitoral de 1950, lançou como 
candidato ao governo o advogado e professor da faculdade de 
Direito, Edgar de Arruda e a oposição liderada pelo PSD, em 
coligação com o PSP, lançou a candidatura de Raul Barbosa e 
para vice, o olavista Stenio Gomes. Tal chapa recebeu ainda o 
apoio do PR de Acrísio Moreira. 
O resultado do pleito de 3 de outubro de 1950, marcado 
por escandalosa influência do poder econômico, foi favorável às 
oposições. 
 
 Os Governos Raul Barbosa (1951-1954) e Stênio Gomes 
(1954-55) 
 
Raul Barbosa governou entre 1951 e 1954. Realizou uma 
administração apática, não muito diferente das anteriores: 
clientelismo, perseguição aos adversários, impunidade, crises 
políticas e econômicas. 
Restringiu-se a construir escolas, postos médicos, estradas 
e açudes, nada que pudesse efetivamente transformar a estrutura 
sócio-econômica do Ceará. 
Perdendo o apoio entre seus aliados, acenou com cargos e 
vantagens para alguns políticos udenistas (os “anjos rebeldes”). 
Entregando o poder ao vice Stênio Gomes, Raul Barbosa 
candidatou-se ao senado em 1954. Procurando unir as elites 
locais por meio da “política de pacificação”, teve sua 
candidatura derrotada e, em 1954, o udenista Paulo Sarasate foi 
eleito governador do Estado. 
 
 Os Governos Paulo Sarasate (1955-1958) e Flávio 
Marcílio (1958-1959) 
 
O jornalista e advogado Paulo Sarasate Ferreira Lopes, fez 
uma administração normal se comparada com as demais. 
Na sua administração realizou a construção rotineira de 
grupos escolares, estradas e açudes. Também reaparelhou o 
porto do Mucuripe e esforçou-se para fazer chegar a Fortaleza a 
energia hidrelétrica de Paulo Afonso. 
Em julho de 1958, Paulo Sarasate renunciou ao cargo de 
governador, no intuito de disputar uma cadeira na Câmara 
Federal nas eleições que se aproximavam. Em conseqüência, o 
cargo foi repassado ao vice Flávio Marcílio. 
As eleições de 1958 realizaram-se em meio à calamitosa e 
trágica seca, que não impediu os políticos de usarem a miséria 
das massas para benefício próprio. 
O resultado das urnas deu vitória ao petebista Parsival 
Barroso (PTB). 
 
 O Governo Parsival Barroso (1959-1963) 
 
O advogado e professor Parsival Barroso realizou uma 
administração agitada. Apesar de haver estruturado a Secretaria 
de Agricultura, Indústria e Comércio, pôs em prática a velha 
política de construir estradas, açudes e escolas. Era mais um 
governante comprometido com as velhas estruturas sócio-
econômicas cearenses. 
Rompendo com o PTB de Carlos Jereissati, apoiou a 
União Pelo Ceará, coligação envolvendo UDN e PSD em torno 
da candidatura governamental de Virgílio Távora. 
A união pelo Ceará ganhou disparada dos adversários, 
elegendo Virgilio Távora (UDN) para o governo com ampla 
margem de votos, Figueiredo Correa (PSD) para vice. Na 
disputa pela prefeitura de Fortaleza, a União também triunfou; 
seu candidato coronel Murilo Borges derrotou o populista 
Péricles Moreira da Rocha e o líder sindical Moura Beleza 
(PSB). 
Em 1963, Virgílio foi empossado governador do Estado 
em uma pomposa cerimônia. As pessoas que presenciaram 
aquele fato estavam assistindo a uma cena que não se repetiria 
em breve. 
A partir de 1964, com a longa “noite dos generais”, os 
governadores passaram a ser eleitos indiretamente pelas 
Assembléias Legislativas, ante conchavos e falcatruas que 
sepultaram a democracia. 
POPULISMO 
MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 
 
 16 019.804 - 145193 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Por ocasião do golpe militar de 31 de março de 1964 que 
instituiu o regime militar no Brasil, a Rádio Dragão do Mar foi 
ocupada por tropas do Exército às 8h30min, que deram prazo para 
que todos os funcionários se retirassem da emissora e policiais 
militares ficaram a postos na Praça do Ferreira. O Ceará era então 
governado pelo militar Virgílio Távora. 
Eleito no ano de 1962, Virgílio Távora chegara a fazer 
criticas às reformas de base propostas pelo então presidente João 
Goulart, mas isto não afetara a boa relação entre os dois, a prova 
disto é que o estado do Ceará recebeu verbas que foram 
fundamentais para a implementação do Plano Estadual de 
Governo (PLAMEG). 
O Golpe de 1964 deu inicio à segunda fase do primeiro 
mandato de Virgílio Távora. A estreita relação entre Virgílio 
Távora e o então presidente da República João Goulart rendeu-
lhe desconfiança junto aos militares da chamada “linha dura”. 
Mas o hábil político cearense conseguiu converter a situação 
transformando-se num revolucionário de primeira linha. Virgílio 
contava com boas relações junto à presidência nacional da 
República na figura de Jango (João Goulart), do seu tio o Ministro 
de obras e viação Juarez Távora e do superintendente da Sudene, 
João Gonçalves, o

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