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fariasbrito.com.br @fariasbrito canalfariasbrito@fariasbrito colegiofariasbrito NÚCLEO ALDEOTA (85) 3486.9000 NÚCLEO CENTRAL (85) 3464.7788 (85) 3064.2850 NÚCLEO SUL (85) 3260.6164 NÚCLEO EUSÉBIO (88) 3677.8000 NÚCLEO SOBRAL COLÔNIA ............................................................................................................................................................................. 5 IMPÉRIO .............................................................................................................................................................................. 8 REPÚBLICA VELHA .......................................................................................................................................................... 12 ERA VARGAS ................................................................................................................................................................... 13 POPULISMO ....................................................................................................................................................................... 15 REGIME MILITAR ............................................................................................................................................................. 16 ATUALIDADES .................................................................................................................................................................. 17 FORTALEZA ...................................................................................................................................................................... 21 EXERCÍCIOS ...................................................................................................................................................................... 23 Sumário M ó d u lo d e H is tó ri a d o C e a rá MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 5 019.804 - 145193 INÍCIO DA COLONIZAÇÃO O Período Pré-colonial (1500-1530) é tido como de quase abandono de Portugal para com o Brasil. Com a descoberta do novo caminho para as Índias, o comércio de especiarias transformou-se em preciosa fonte de riquezas para Portugal. Após as primeiras expedições, os enviados da Coroa portuguesa perceberam que não seria possível obter no Brasil lucros fáceis e imediatos. De início não encontraram jazidas de ouro. Por essas razões, nesse período, o governo português limitou-se a enviar à colônia americana expedições com o objetivo de reconhecimento da terra e de preservação de sua posse. Em 1530 começa, efetivamente, o processo de colonização portuguesa no Brasil, porém a ocupação do território brasileiro na época ia do litoral de Pernambuco até o Rio de Janeiro. Logo conclui-se que, no século XVI, o Ceará ficou praticamente esquecido pela Coroa portuguesa. O difícil acesso à costa cearense, a oposição dos índios à presença do invasor português, a aridez do clima, a mata virgem fechada que também dificultava a acomodação nessa terra, a presença hostil de corsários estrangeiros e, principalmente, a falta de grandes atrativos econômicos foram razões desse descaso. Com relação a essa última, o Ceará não dispunha de ouro ou prata, não servia para o plantio em larga escala de cana-de- açúcar, não tinha especiarias e suas riquezas não despertavam muito a cobiça da metrópole. A maior prova do abandono cearense, no primeiro século da ocupação lusa, aconteceu com a criação do sistema de capitanias hereditárias (1534), pois nem o donatário do Siará Grande, Antônio Cardoso de Barros, se interessou pela terra, aqui não pondo os pés. Inclusive, o mesmo acabou sendo devorado, em 1556, pelos índios Caetés, ao lado de Pero Fernandes Sardinha (primeiro bispo do Brasil), após naufrágio na costa de Alagoas. A quem diga que o verdadeiro local de “descobrimento” do Brasil foi o Ceará, visto que antes de Cabral, o navegador espanhol Vicente Pinzón visitou o Ceará (no Mucuripe – Fortaleza, e em Ponta Grossa – Aracati), não podendo tomar posse por causa do Tratado de Tordesilhas. Pero Coelho de Sousa (1603): primeiro a tentar colonizar o Ceará sob ordem do 8º governador geral do Brasil, Diogo Botelho. A intenção era organizar uma bandeira para explorar o rio Jaguaribe, combater os piratas estrangeiros, descobrir minas e pacificar os índios.Partindo da Paraíba, à frente de 200 índios mansos e de 65 soldados, Pero Coelho atingiu pelo litoral a serra da Ibiapaba, onde travou combate contra os índios tabajaras e alguns franceses. Derrotando os adversários Pero Coelho tentou seguir para o Maranhão, mas só atingiu o rio Parnaíba (Piauí) pois seus homens, cansados, maltrapilhos e famintos recusaram-se a prosseguir a viagem. De retorno ao litoral, o capitão-mor fundou, às margens do rio Ceará, o forte de São Tiago e o povoado de Nova Lisboa, chamando a área de Nova Lusitânia. Pouco tempo depois retirou-se para o rio Jaguaribe, construindo nas margens deste o forte de São Lourenço. A seca de 1605 a 1607 e os persistentes ataques dos índios fizeram Pero Coelho deixar o Siará em dolorosa caminhada, da qual vários soldados e seu filho morreram. Retirou-se para o Rio Grande do Norte, depois para Paraíba, em seguida Europa, onde morreu em Lisboa sem receber nada pelos seus serviços. Francisco Pinto e Luís Filgueira (1607): tentando catequizar e amansar os índios, esses padres jesuítas partiram de Pernambuco de barco até a foz do rio Jaguaribe acompanhados de 60 índios mansos. Atacados pelos índios Tacarijus, Francisco Pinto foi trucidado e Luís Filgueiras fugiu para o Rio Grande do Norte, sendo em 1643 devorado pelos índios Aruãs. Martin Soares Moreno: tendo acompanhado como soldado ainda jovem a expedição de Pero Coelho, Moreno conheceu parte da região e fez amizades com índios locais. Em 1611, acompanhado de um padre e de seis soldados, regressou ao Ceará para efetivar a posse da capitania, fundando na barra do rio Ceará, com ajuda dos índios de Jacaúna um pequeno forte – o de São Sebastião. Teve de ausentar-se por duas vezes do Ceará: primeiro foi ao Maranhão ajudar a combater os franceses, na França Equinocial, depois foi combater os holandeses, que tomavam o nordeste açucareiro. Em 1648 foi para Portugal, onde faleceu. A Invasão Holandesa e o Ceará No período da união ibérica, o rei Felipe II da Espanha proibiu as relações comerciais do Brasil com a Holanda. Como reação ao embargo espanhol, os holandeses resolveram invadir as posses ibéricas na América. Primeiro, invadiram a Bahia (1624), não permanecendo por muito tempo. Depois, tomaram Pernambuco em 1630. De 1630 a 1654, o domínio holandês no nordeste açucareiro expandiu-se pela Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Norte e Ceará. Com o tempo, os índios invadiram e destruíram o forte de São Sebastião, trucidando todos os flamengos. Contudo, os holandeses voltariam em 1649 com Matias Beck. Este ergueu às margens do rio Pajeú o forte de Schoonenborch. Com a expulsão dos holandeses do Brasil, em 1654, o forte iria para as mãos dos portugueses, mudando de nome para Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. ECONOMIA COLONIAL CEARENSE Pecuária Com a incorporação desse Estado à administração de Pernambuco, o Ceará segue até o final do século XVII com uma pequena guarnição militar representando o domínio português. Tal quadro mudaria no final do século XVII e começo do XVIII com a ocupação do interior cearense em função da pecuária. De atividade secundária e complementar, a pecuária facilitou a ocupação do interior nordestino. O processo de colonização do interior cearense proporcionou extermínio e escravização de índios, assunto a ser abordado mais adiante. Contribuíram para a expansão pecuarista, as vastas extensões de terras e pastagens,o caráter salino do solo, a facilidade na aquisição das sesmarias, o pouco investimento para se estruturar uma fazenda, além do fato de que o gado dispensava transporte, pois era vendido vivo seguindo viagens pelas regiões ribeirinhas até para outros Estados. Daí a afirmação: o boi era mercadoria, transporte e frete. Com essas viagens, vários pontos de apoio para descanso e defesa foram aos poucos se transformando em importantes cidades interioranas, como Icó e Quixeramobim. As Charqueadas Na segunda década do século XVIII, a atividade de venda do gado vivo revelou-se não muito lucrativa, pois os animais emagreciam, morriam, se perdiam e eram atacados por animais selvagens. Assim, surge a necessidade da técnica de salgar a carne para vendê-la nas chamadas charqueadas. COLÔNIA MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 6 019.804 - 145193 O charque contribuiu para modificar um pouco a face econômico-social do Ceará. Com ele ocorreu uma divisão do trabalho na capitania entre fazendas de criação, oficinas de salgas e pontos de comercialização; as boiadas do sertão passaram a ser deslocadas para o litoral, havendo o surgimento de um mercado interno. O charque também fez surgir cidades importantes, como Aracati, Acaraú, Camocim, Granja e Sobral, e diversificou a produção, tendo além da carne para ser comercializada, couros e peles. Aracati tornou-se, por volta de 1750, o principal núcleo urbano do Ceará. Isso não só pelas charqueadas, mas por ser um importante centro comercial e por que as boiadas transitavam pelas margens do rio Jaguaribe em direção às oficinas de charque. Desenvolve-se, portanto, no período colonial, a civilização do couro visto a confecção de diversos artefatos e utensílios desse material. A decadência dessas oficinas de deu a partir da última década do século XVIII. As secas de 1777-1778 e de 1790-1793 são apontadas como causas desse declínio, pois os rebanhos nordestinos reduziram-se drasticamente. Em paralelo a isso, o sertanejo começou a dedicar-se à atividade em ascensão, a da cotonicultura, chegando o algodão cearense a ser muito procurado no mercado internacional. Algodão No final do século XVIII, com as guerras de independência das 13 colônias americanas e a Revolução Industrial que desenvolvia-se na Inglaterra, o algodão cearense vira produto de exportação para as indústrias têxteis inglesas. O algodão era produzido em Aracati, Fortaleza, Baturité, Uruburetama, Meruoca, Pereiro e Aratanha. A mão-de-obra algodoeira seria basicamente a mesma usada antes na pecuária, sendo pouco empregado o negro africano, pois o ciclo do seu cultivo deixava o escravo ocioso por muito tempo. Havia uma relação vantajosa que ficou conhecida como binômio gado-algodão. Até a década de 1860, o algodão cearense desenvolveu importante papel na economia do Estado, tendo seus lucros reduzidos com o restabelecimento da paz e o fim da Guerra da Secessão, nos EUA. OUTRAS ATIVIDADES ECONÔMICAS NO CEARÁ COLONIAL Mineração Apesar de inúmeras tentativas, a exploração de minerais no Ceará não logrou êxito. Expedições feitas pelos holandeses à serra dos Cocos, Ibiapaba (Ubajara), Maranguape e a outras regiões foram um fracasso. A notícia da experiência de ouro no vale do Cariri atraiu para a região pernambucanos e cearenses de diversas regiões. Fundou-se a Companhia do Ouro das Minas de São José do Cariri (1756-1758) que chegou a encontrar ouro, porém em pouca quantidade e de tão pouco valor que não compensava os gastos com a prospecção. A idéia acabou sendo abandonada. Cana-de-Açúcar Apesar da tentativa de Martins Soares Moreno, o cultivo da cana-de-açúcar não foi bem sucedido, principalmente por causa da impropriedade do solo. Foi na região do cariri que, com o fracasso das tentativas mineradoras, a cana-de-açúcar desenvolveu-se com mais intensidade, gerando uma aproximação com Pernambuco, principalmente comercial. OS ÍNDIOS CEARENSES Com a chegada do branco colonizador europeu às terras brasileiras, os nativos que aqui viviam só tiveram tristezas, pois perderam “suas terras”, seus entes queridos, sua religião, sua “língua”... muitos morreram por causa do contato com os “civilizados”, uns pelas doenças adquiridas, outros pela reação hostil de não aceitação daquela subjugação; acreditavam em vários deuses e, de repente, tiveram de adorar a um só deus e entender a Santíssima Trindade; a língua foi sendo substituída pelo português, pelo latim; enfim, os índios, como foram chamados, perderam sua tranqüilidade. Não se sabe ao certo quantos índios existiam aqui no Siará antes da chegada dos portugueses, mas Martin Afonso de Sousa estimou em 150 mil nativos. O historiador Carlos Stuart Filho dividiu os indígenas cearenses em 5 grupos: Tupi, Cariri, Tremembé, Tarairius e Jês. A Guerra dos Bárbaros Os índios cearenses, dos mais bravios, não aceitaram a dominação e reagiram de várias maneiras: fugindo de aldeamentos, invadindo e trucidando. Um bom exemplo foi a Guerra dos Bárbaros, onde várias tribos do Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Piauí e Paraíba confederaram-se contra os conquistadores começando por volta de 1686 e seguindo por mais de 30 anos. Até tribos inimigas uniram-se para expulsar os portugueses. Depois de inúmeras invasões e massacres por parte dos aborígenes e de serem requisitados bandeirantes de São Paulo e de São Vicente, os índios foram sendo dizimados pelas tropas do coronel João de Barros (chefe da milícia da cavalaria do Jaguaribe) após aqueles “selvagens” terem quase destruído a vila de Aquiraz (1713). Nesse episódio, cerca 200 pessoas morreram tentando defender-se e outras fugiram dessa localidade com medo das flechas, lanças e tacapes. Barros, ao salvar Aquiraz, recebeu o direito de fazer a chamada guerra justa, matando e escravizando o restante dos índios não mansos. AS FAMÍLIAS MONTE E FEITOSA No início do século XVIII, o Ceará foi palco dos conflitos entre as famílias Monte e Feitosa. Não se sabe com precisão o porquê da inimizade, mas alguns autores falam em “lavar a honra” (um membro dos Feitosa casou-se com uma viúva dos Monte, causando a intriga) e em disputa por terras. Emboscadas, saques, combates abertos e incêndios faziam parte do conflito que perdurou nas décadas de 1710 e 1720. O primeiro ouvidor-mor do Ceará, João Mendes Machado, tomou partido do lado dos Feitosa, autorizando a captura de Francisco Monte. Acompanhados de vários índios Jucás, os Feitosa invadiram e saquearam a fazenda dos Monte, mas não capturaram o dono da mesma. Por causa de outras investidas dos Feitosa, os Monte reuniram seus jagunços e partiram para os Inhamuns conseguindo a adesão desses índios, que eram inimigos mortais dos Jucás. Os Feitosa fizeram novas alianças e, afora os Jucás, contaram com o apoio dos Jenipapos e Cariús e derrotaram os Montes e Inhamuns. Mas o conflito só teve fim com as providências do Capitão- mor da capitania, Manuel Francês que ameaçou os coronéis de perda de bens e de pena de morte. CATEQUESE E ALDEAMENTO NO CEARÁ COLONIAL Catequese e colonização foram dois elementos que andaram juntos no Brasil colonial. Uma das reações da contra-reforma católica, a ordem dos jesuítas foi fundada por Inácio de Loyola. MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 7 019.804 - 145193 Com a intenção de deixar os nativos isolados dos líderes espirituais (Pajés), foram criadas as missões jesuíticas, aldeamentos onde os silvícolas aprendiam os costumes europeus, como língua, religião, vestir-se, confeccionar suas roupas e profissões do mundo civilizado, além de servirem de guerreiros contra os gentios ainda não mansos. Nos aldeamentos, as insubordinações eram punidas com tortura, como no tronco e até mutilações físicas. Com a expulsão dos jesuítas do Brasil pelo Marquês de Pombal, a evangelização dos índios e colonos foi modificada,como é o caso das missões móveis feitas pela ordem dos franciscanos ou capuchinhos, muito presentes no Ceará. As Santas Missões, como eram chamadas, se deslocavam passando dez a doze dias em uma localidade. Nesse período, os padres franciscanos confessavam, pregaram e falavam das penitências. A CAPITANIA DO CEARÁ SUBORDINADA A PERNAMBUCO Após a expulsão dos holandeses do Brasil (1654), o Ceará passou a subordinar-se a Pernambuco (1656-1799) e não mais ao Maranhão. Com o domínio Pernambucano, o Ceará foi tratado como capitania secundária, sendo governada por capitães-mores, que mesmo sendo nomeados pela Coroa portuguesa, sujeitavam-se ao comando administrativo e militar de Pernambuco. Com o tempo, os capitães-mores acumularam enormes poderes passando a agir de forma arbitrária, sempre com algum interesse pessoal. Ao todo, 39 capitães-mores governaram o Ceará. No governo de Francisco Gil Ribeiro foi criada a primeira vila do Ceará – Aquiraz, pela Carta Régia de 1699. Sobre os habitantes das vilas, eram cobrados o dízimo, subsídios militares e literários. Havia ainda a cobrança de fintas e a derrama. Cada vila era administrada pelas câmaras municipais, isto é, assembléias compostas quase sempre de dois juízes-presidentes e três vereadores, eleitos por um período de dois anos. Somente homens de posse, os chamados “homens-bons”, podiam ser eleitos. Completava a administração a Ouvidoria, órgão responsável pela aplicação da justiça. O ouvidor era nomeado pelo rei de Portugal para um período de três anos. Tal ouvidor era responsável também pela Provedoria (finanças). Com o crescimento econômico e urbano da capitania do Ceará, surgiu a necessidade de desmembrar a região de Pernambuco. Vários fatores contribuíram para este fato: Pernambuco sempre tratou o Ceará com descaso e muito pouco fez pelo progresso da região; com a crise do sistema colonial, Portugal desejava aumentar e controlar mais de perto a arrecadação tributária, inclusive criando leis mais rigorosas e interferindo diretamente na administração local; e por fim, com o crescimento da exploração de algodão, aumentou também o interesse dos comerciantes portugueses. A vinculação a Pernambuco tornava inviável o desenvolvimento desse comércio. O Ceará Independente de Pernambuco A partir de 1799, o Ceará passou a ter seu próprio governador escolhido pela metrópole. O primeiro, Bernardo Manuel de Vasconcelos, instaurou a junta da fazenda do Ceará, para arrecadar impostos, construiu a sede da alfândega da Capital e de Aracati e abriu estradas ligando o interior a Fortaleza. Vasconcelos também reformulou o quartel da tropa de linha, levantou um conjunto de baterias no Mucuripe para melhor proteger o litoral, reedificou as vilas indígenas de Arronches (Parangaba), Soure (Caucaia) e Messejana, bem como instaurou as vilas de Russas e Tauá (1801). Com a morte de Vasconcelos, assume uma Junta Provisória durante um ano, a qual foi substituída pelo segundo governador, João Carlos Augusto de Oeynhausen e Grwenbourg. Com a vinda da família real para o Brasil e a conseqüente abertura dos portos às nações amigas, pondo fim ao monopólio colonial, o Ceará inicia o comércio direto com a Inglaterra no governo de Luís Barba Alado de Menezes (1808-1812). Tal atividade econômica foi intensificada no interesse de exportar algodão para as indústrias inglesas, sendo várias firmas estrangeiras beneficiadas, como a do irlandês William Wara e a dos sócios Lourenço da Costa Dourado e Domingos José Martins. Barba Alado, além de incentivar a cotonicultura, instalou uma fábrica de louça vidrada (no Tauape) e fez o primeiro recenseamento da população cearense baseado nas certidões de batismo. Governador Sampaio Fiel servo do rei, despótico, eficiente e capaz de cometer barbaridades para manter a ordem, Manuel Inácio de Sampaio foi o quarto governador do Ceará (1812-1820). Trouxe para ajudá-lo o engenheiro português Antônio da Silva Paulet, que elaborou o primeiro plano urbanístico de Fortaleza e projetou a reconstrução do forte de Nossa Senhora da Assunção. Sampaio instalou a repartição dos correios, mandou construir um mercado público em Fortaleza e instalou alfândegas em Granja, Sobral e Crato. Quando a região do Cariri e a família Alencar aderiram à Revolução Pernambucana de 1817, enviou tropas para sufocar o movimento, onde 25 pessoas foram presas, como Bárbara de Alencar, que provavelmente acabou sendo torturada e presa na Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. Em 1820, Sampaio foi governar Goiás, passando o Ceará a ser governado por Francisco Alberto Rubim, o quinto e último no período colonial. O Ceará e a Revolução Pernambucana de 1817 A Revolução Pernambucana de 1817 foi um movimento pela emancipação política do Brasil. Muitos moradores de Pernambuco estavam revoltados com o crescente aumento dos impostos, que serviam para sustentar o luxo da Corte portuguesa instalada no Rio de Janeiro. Além disso, outros problemas afetavam os habitantes da região: a grande seca de 1816 causou graves prejuízos à agricultura e provocou fome no nordeste. Os preços do açúcar e do algodão (principais produtos cultivados em Pernambuco) estavam caindo no mercado internacional, devido à concorrência do açúcar antilhano e do algodão norte-americano. Tudo isso serviu para dá início a uma revolta contra o governo de D. João VI. Inspirados nos ideais da Revolução Francesa, os grupos sociais envolvidos queriam proclamar uma república e também acabar com os privilégios de comerciantes portugueses. Os rebeldes foram além da conspiração, pois chegaram a tomar o poder por 75 dias. O governo reagiu duramente e os revolucionários renderam-se, sendo os líderes condenados à morte. Adesão do Ceará A participação do Ceará nessa revolução restringiu-se à família Alencar e à região do Cariri. O governador Sampaio tratou logo de enviar tropas para repelir qualquer tipo de desordem. A família Alencar, chefiada por Bárbara de Alencar (mãe de José Martiniano de Alencar e Tristão Gonçalves), era grande proprietária de terra do Crato. Foram enviados mais de mil homens para o Crato, muitos dos revolucionários fugiram e outros passaram para o lado dos monarquistas. Como já mencionamos anteriormente, 25 pessoas foram presas, torturadas e levadas para a Fortaleza de Nossa MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 8 019.804 - 145193 Senhora da Assunção, depois Recife, Salvador, foram julgadas e anistiadas pelo governo em 1821. O movimento foi sufocado, porém em 1824 o Ceará volta a aderir ao movimento separatista da Confederação do Equador. O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E O CEARÁ O fato que fez aproximar cada vez mais a emancipação do Brasil foi a vinda da família real para o Brasil, por causa do bloqueio continental imposto pelo francês Napoleão Bonaparte: os portugueses preferiram fugir para o Brasil do que fazer boicote à Inglaterra. Aqui, D. João VI, como sua primeira medida, abriu os portos às nações amigas, em particular, a Inglaterra. Acaba, assim, o monopólio comercial e, consequentemente, o pacto colonial. Francisco Alberto Rubim governava o Ceará desde 1820 e em fevereiro reconheceu a autoridade da constituição portuguesa. Uma eleição para a escolha de representantes das Cortes de Lisboa foi marcada, mas Rubim acabou sendo deposto por levante militar. O governo provisório era composto por pessoas ligadas a Portugal, portanto, contrárias aos interesses brasileiros. As câmaras de Aracati, Russas, Icó e Quixeramobim protestaram ,mas não adiantou. Uma nova junta governamental foi eleita em 15 de janeiro de 1822, porém ainda ligada a Portugal. Como esta junta passou a boicotar uma outra eleição para a escolha de uma Assembléia Constituinte Brasileira (ordenada por D. Pedro), a vila do Crato, liderada pelos Alencar se insurgiu no que seguida por Icó com a adesão de Pereira Filgueiras, formou uma milícia partidáriade independência havendo um combate com as forças ligadas a Portugal no lugar chamado Forquilha (confluência dos rios Jaguaribe e Salgado), com a vitória dos rebeldes. Em Icó, o conselho eleitoral elegeu uma nova junta governamental provisória formada por brasileiros, chefiada por Pereira Filgueiras que marchou para Fortaleza. Com a chegada da notícia da independência do Brasil, a junta de Fortaleza abandonou o poder. Em 22 de janeiro de 1823, Filgueiras assumiu o poder de forma pacífica no Ceará. Consolidada a independência, em 03 de março de 1823, foi eleita a segunda junta provisória de governo, sob a chefia do Padre Pinheiro Landim. Neste governo, em 11 de março de 1823, D. Pedro elevou a vila de Fortaleza à categoria de cidade com o nome de Fortaleza de Nova Bragança. CEARÁ NO PRIMEIRO REINADO A independência do país não modificou o quadro econômico e social que herdamos do período anterior, continuamos agrário-exportador, escravista e, especialmente o Nordeste mergulhado numa crise econômica. Nordeste insatisfeito, sitiado pela crise econômica, pela queda da exportação do açúcar, com população descontente, com uma elite magoada. Para completar o quadro, os impostos continuavam altos e abusivos e ainda tendo que aturar uma constituição imposta pelo Imperador, ou seja, outorgada e que lhe dava um excesso de podere um governo autoritário, fruto de seu quarto poder – o Moderador. Pernambuco, que exercia grande influência no Ceará, principalmente na nossa região Sul, no nosso Cariri, iniciou um Movimento Rebelde em que a História Tradicional batizou de “Confederação do Equador” motivado por fatores argumentados nos parágrafos anteriores. Em 1824 esse movimento liberal, Republicado e para muitos historiadores com características separatistas foi liderado por Manuel Paes de Andrade e o legendário Frei Caneca. CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR NO CEARÁ Foi muito importante para nossa História e ao mesmo tempo dramático e cruel tal movimento aqui nas terras cearenses. A nossa participação teve diversos fatores que foram importantes: em primeiro lugar a influência econômica e política de Pernambuco no Ceará existente desde o período Colonial, pois durante muitas décadas nós fomos ligados em termos administrativos a Pernambuco – até 1799. Era principalmente para lá que era encaminhado nosso rebanho bovino. Também várias famílias, sobretudo do Cariri, como os Alencar, apresentavam laços de parentesco com Pernambuco. Bárbara de Alencar, a matriarca da família Alencar, era de Exu, mesma terra de Luís Gonzaga – Rei do Baião, nas fronteiras entre Ceará e Pernambuco. Outros fatores também são citados: crise econômica, dissolução da assembléia Constituinte, a outorga da Constituição de 1824, o modelo centralizador do governo de D. Pedro I, essas causas também serviram para a eclosão do movimento em Pernambuco. No dia 26 de Agosto de 1824, o Ceará oficializou a sua participação ao Movimento Rebelde através da votação no Grande Conselho, formado por mais de quatrocentos homens- bons. Elegeram Tristão Gonçalves para Presidente da República aqui no Ceará e Padre Mororó para Secretário. A atitude do Governo Imperial diante desse movimento rebelde foi o mais trágico possível, contratando mercenários estrangeiros para organizar milícias para combater, prender e matar líderes em Pernambuco, no Ceará e em outras províncias que aderiram ao movimento. No caso cearense, no dia 18 de Outubro de 1824, o almirante inglês Lord Cochrane desembarcou em Fortaleza e sem encontrar resistência, o movimento já estava dividido e desguarnecido, dominou Fortaleza. Heroicamente, Tristão Gonçalves, traído por muitos antigos parceiros, fugiu para o interior e não se entregou. Morreu lutando num lugar chamado Santa Rosa (antiga Jaguaribara, cidade que foi inundada pelas águas do Açude Castanhão), tendo o seu cadáver barbaramente mutilado (deceparam-lhe a mão e a orelha). No Cariri, José Martiniano (Padre Alencar), alguns parentes e Pereira Filgueiras decidem dissolver o Exército Republicano. O final do movimento foi trágico para muitos de seus líderes, veja o que escreveu Aristides Braga Neto em seu livro História do Ceará: um Resumo, sobre tal fato: “Segundo o Decreto Imperial de 5 de Outubro, foi instalada a Comissão Militar no Ceará, com o objetivo de julgar sumariamente os defensores da Confederação do Equador. Nenhum membro da Comissão, presidida pelo Tenente-Coronel de Engenheiros Conrado Jacó de Niemeyer, era cearense. Seus trabalhos começaram em 22 de Abril de 1825 e logo estavam condenados à forca: Padre Mororó, João de Andrade Pessoa Anta, Francisco Miguel Perreira Ibiapina, Feliciano José da Silva Carapinima, Luís Inácio de Azevedo Bolão, Frei Alexandre da Purificação, Antônio Bezerra de Sousa e Meneses e José Ferreira de Azevedo. As execuções ocorrem por fuzilamento, pois não apareceu “na conformidade da lei ou por contrato” quem aceitasse ser carrasco no enforcamento: Padre Mororó e Pessoa Anta (30 de abril de 1825), Ibiapina (7 de maio), Bolão (16) e Carapinima (28). Com a suspensão das execuções por Decreto Imperial, os outros tiveram suas penas comutadas em degredo, trabalhos forçados ou prisão.” IMPÉRIO (1822-1831) MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 9 019.804 - 145193 PERÍODO REGENCIAL (1831-1840) Sedição de Pinto Madeira (1831-1832) No dia 7 de abril de 1831, ocorreu a Abdicação de D. Pedro I e, como conseqüência, antigos adeptos do Imperador foram exonerados, os Liberais outrora perseguidos procuravam a vingança. O Cariri, local de muitas rivalidades políticas, foi palco de uma Guerra Civil, entre adeptos dos Liberais contra os antigos protegidos de Dom Pedro I, conhecida como Sedição de Pinto Madeira. Muitos estudiosos apontam como causador do conflito as cidades do Crato, onde Liberais tinham muita influência; e a cidade de Jardins, local de domínio político do Coronel Pinto Madeira. Outra causa apontada é a participação de Pinto Madeira e o Padre Antônio Manuel de Sousa numa sociedade secreta chamada Coluna do Trono e do Altar, cujo objetivo maior era a volta de Dom Pedro I ao poder. A Luta Armada A maneira curiosa do Padre Antônio Manuel recrutar sertanejos para a revolta rendeu-lhe a alcunha Padre benze Cacetes. Conta-se que o padre, pela falta de armas, benzia cacetes e entregava-os aos voluntários que acreditavam na força milagrosa dos mesmos. Cerca de treze mil “cabras” de Pinto Madeira e do Padre Antônio Manuel partiram para o Crato. Esta cidade também se preparou para confronto e avançou suas tropas. A batalha deu-se no lugar Buriti (próximo a Barbalha). Os liberais do Crato foram massacrados. Temendo a marcha dos absolutistas sobre Fortaleza, forças legalistas, avançavam para o interior. Diversos combates foram travados em Icó, Várzea Alegre e Barbalha, com vitórias de lado a lado. Em abril de 1832, José Martiniano de Alencar assumiu o comando das tropas legalistas, vencendo os rebeldes em Cachoeirinha (perto de Santanópoles) e Emboscadas (Missão Velha). Crato (onde o exército de Madeira ficou encurralado) foi libertada em 24 de junho e Jardim em 8 de julho. As forças legalistas agora sob o comando do mercenário francês Pedro Labatut, continuavam avançando. As deserções e outras baixas enfraqueceram bastante os sediciosos que começaram a rendição tendo como promessa a garantia de vida e Pinto Madeira foi preso. Depois de enviado a Pernambuco e ao Maranhão para ser julgado, Pinto Madeira acabou sendo condenado aqui mesmo no Ceará, não pela sedição em si, mas pelo assassinato de José Pinto Cidade, um liberal cratense quando houve a tomada daquela cidade pelas forças sediciosas. Pinto Madeira foi fuzilado no subúrbio de Alto Vermelho e acredita-se que o julgamento sofrera influência do presidente da província José Martiniano de Alencar, inimigo de Pinto Madeira, numa clara atitudede puro revanchismo. Em termos políticos e administrativos, veja o breve resumo feito por Airton de Farias, em seu livro História do Ceará – Dos Índios à Geração Cambeba, sobre o Período Regencial – 1831- 1840: “Na regência, as elites locais se organizaram em partidos. O liberal era liderado pelo Senador Alencar, reunindo os maiores latifundiários da província. O partido conservador reunia os comerciantes, militares e alguns fazendeiros. Os liberais comandaram a província até 1837. Entre 1831 e 1833, governou José Mariano de Albuquerque Cavalcante, que reprimiu a Sedição de Pinto Madeira e uma quartelada promovida pelo comandante Francisco Xavier Torres. Entre 1833 e 1834, o governo ficou nas mãos de Inácio Correia de Vasconcelos. Entre 1834 e 1837, governou José Martiniano de Alencar, o senador Alencar, figura polêmica conhecida como autoritário e bom administrador. Entre suas realizações, construiu estradas, financiou a agricultura e instalou o Banco Provincial do Ceará. Contudo, promoveu intensa perseguição aos adversários políticos. De 1837 a 1840, os conservadores comandaram o Ceará. Entre 1837 e 1839, o governo ficou nas mãos de Manuel Felizardo de Souza e Mello. Combateu duramente os opositores – o Senador Alencar chegou a propor a criação de uma nova província, a do Cariri Novo. Entre 1839 e 1840, administrou o Ceará João Antônio de Miranda, que governou por pouco tempo. Depois, assumiu Francisco de Sousa Martins, que favoreceu enormemente os conservadores e combateu os revoltos balaios fugidos do Maranhão. Com o golpe da maioridade, os liberais retomaram o controle do Ceará.” PARTICIPAÇÃO CEARENSE NA GUERRA DO PARAGUAI Entre 1864-1870 ocorreu a nefasta Guerra do Paraguai, envolvendo quatro países da América do Sul (Brasil, Paraguai, Uruguai versus o minúsculo Paraguai). No Brasil, as dificuldades para se formar um efetivo militar foram grandes em decorrência do nosso Exército ser mal preparado e mal-equipado, o que obrigou o Governo a recorrer a empréstimos externos e a convocar os batalhões de “Voluntários da Pátria”, civis que se ofereciam ou, na maioria dos casos, eram forçados ao alistamento militar. Exemplo: membro da elite – espontâneo; membro da classe média, solteiros e pessoas de baixa ou nenhuma renda – obrigatórios. Veja o que escreve R. Batista Aragão em seu livro História do Ceará – Síntese Didática sobre a participação humana do Ceará na Guerra do Paraguai: “Os quantitativos militares, fornecidos pelo Ceará, têm sido freqüentemente questionados. Os registros são falhos. Parte do material estatístico permanece arquivado no Exército, onde nem sempre os pesquisadores têm acesso, e parte encontra-se dispersivamente guardado. Mas, conforme o que se pode colher em fontes de regular acesso, nada menos de 6000 homens embarcaram com destino ao Paraguai. No final do confronto, quando de volta se festejava a glória brasileira, esquecia-se que 4628 nomes deixavam de figurar na lista dos heróis sobreviventes.” Todavia, alguns nomes conseguiram se destacar pela ousadia, coragem e destemor: os generais Antônio Tibúrcio Ferreira de Sousa – condecorado por heroísmos pelo próprio imperador; José Clarindo de Queirós – foi para a guerra com 24 anos de onde saiu com patente de tenente-coronel e Antônio de Sampaio (General Sampaio) – morto durante a guerra. Sua bravura tornou-o patrono da Infantaria do Exército Nacional; e Antônia Alves Feitosa (Jovita Feitosa) – jovem de Tauá que, aos dezessete anos, alistou- se como homem. Mesmo tendo sido descoberta, foi enviada para o Rio de Janeiro, onde foi aplaudida e badalada pela população, pelos políticos e pela imprensa. Mesmo assim, seu alistamento foi negado. Sua decepção foi tamanha que meses depois (há quem afirme desiludida amorosamente) suicidou com uma punhalada no coração. Na segunda metade do século XIX, nosso Estado passou por várias mudanças em níveis econômicos e sociais, ganhando preponderância a cidade de Fortaleza, que passou a ser o nosso maior centro urbano. Essa foi a época do auge da exportação de algodão, embora houvesse também o destaque da cera de carnaúba, a borracha de maniçoba e o café no Maciço do Baturité. Surgem as primeiras fábricas, embora a economia de pendesse da agropecuária e do comércio. Há crescimento econômico de uma emergente burguesia, da classe média e de trabalhadores urbanos, porém o poder continuava com as velhas oligarquias. MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 10 019.804 - 145193 As secas foram inclementes, principalmente em 1877-78-79 que, justamente com a fome e a peste da varíola, ceifou a vida de milhões de camponeses. MOVIMENTO ABOLICIONISTA NO CEARÁ Nosso Estado, assim como praticamente todo restante do País, foi vítima de uma das piores páginas que esse mundo sofreu, que foi a escravidão, tanto indígena, quanto negra. No caso desse capítulo, vamos tratar da escravidão negra e sua abolição. Para o nosso solo, vieram africanos de várias etnias: bantos, sudaneses e, já no século XIX, principalmente nas últimas décadas, preponderaram os crioulos, negros nascidos no Brasil. O escritor Cruz Filho, em seu livro História do Ceará (Resumo Didático), escrito em 1931, procura fazer uma breve análise da Província do Ceará ter se tornado pioneira no processo da abolição no País. Leia o que se afirma: “1 - No Ceará, póde dizer-se que o número de escravos era bastante reduzido em comparação com as demais Províncias do Império, sobretudo com aquellas em que o desenvolvimento da lavoura, especialmente a do café e da canna de assucar, necessitava do braço captivo para a exploração das grandes propriedades ruraes. Tratados sem o excessivo rigor de que eram victimas seus irmãos de captiveiro nos latifúndios do Sul, quedavam-se elles na sua humilhante e triste condição na Província cearense, quando a grande secca que devastou a nossa terra nos annos fatídicos de 1877, 1878 e 1879, tendo reduzido à miséria os fazendeiros sertanejos, veio dar nova physionomia ao problema. O avultado preço do café produzido nas Províncias sulistas, onde faltavam braços para o trabalho, suscitou corretores desalmados, que se entregaram ao commercio de escravos, incrementando o repugnante tráfico no Ceará. 2 - A exploração da mercadoria humana foi, a pouco e pouco, despertando justa repulsa no espírito público, resultando disso o movimento emancipador iniciado em Fortaleza desde 1879, quando se fundoou a sociedade Perseverança e Porvir, de que foram sócios fundadores José do Amaral, José Theodorico da Costa, Antonio Cruz Saldanha, Alfredo Salgado, Joaquim José de Oliveira, José Barros da Silva, Manoel Albano Filho, Antonio Martins, Francisco Araújo e Antonio Soares Teixeira Júnior. No anno seguinte, os membros da Perseverança e Porvir fundaram a Sociedade Libertadora Cearense, que promoveu logo a libertação de três escravos e teve a inscripção de 225 sócios. Tomando cada dia maior impulso e tornando mais radical a sua acção, foram-se-lhe aggregando novos elementos valiosos, como João Cordeiro, Frederico Borges, Natonio Bezerra, Almino Álvares Affonso, Isaac Amaral, José Marrocos e outros, terminando a Sociedade Libertadora Cearense por adoptar o arrojado programma de promover a libertação de todos os captivos da Província. Servia-lhe de órgão, na imprensa, o periódico Libertador. A 25 de março de 1881, realizou a Libertadora um enthusiastico festival em Fortaleza, por occasião da alforria de 35 captivos. 3 - Os jangadeiros cearenses, que desde janeiro do mesmo anno, tendo à sua frente Francisco José do Nascimento, alcunhado Dragão do Mar, haviam fechado o porto da capital à saída de escravos, recusaram-se, em 30 de agosto, a transportar duas cativas para bordo do vapor Espírito Santo, então ancorado no porto, não obstante a energia do Chefe de Polícia, Dr. Torquato Vianna, que, com apparato de força armada, compareceu aotrapiche para compelli-los a fazer o embarque. Nesse ínterim, o abolicionista João Carlos da Silva Jatahy, illudindo a vigilância policial, metteu as duas escravas num carro, indo occulta-las em local ignorado. Essa última tentativa do governo provincial contra os sócios da Libertadora não demorou muito, sendo lavradas demissões e remoções de quantos occupavam cargos públicos. 4 - A 19 de dezembro de 1882, uma nova sociedade foi fundada na capital, denominada Centro Abolicionista 25 de Dezembro, cuja directoria ficou composta pelos sócios João Lopes Ferreira Filho, Julio César da Fonseca Filho, Joaquim Domingues da Silva, Dr. Meton da Franca Alencar, Antonio Leal de Miranda, Cônego João Paulo Barbosa, A. Affonso de Albuquerque, Narciso Vieira da Cunha, José Martiniano Peixoto de Alencar, Joaquim Januário de Araújo, Dr. Guilherme Studart e Bento Luiz da Gama. Essa sociedade não tinha o radicalismo da Libertadora em seu programa de acção e procurava realizar os seus fins dentro dos moldes das leis vigentes. Conseguiu, ao fundar-se, a alforria de 3 captivos e, em janeiro do anno seguinte, a remissão de mais 54. 5 - A obra patriótica dos abolicionistas de Fortaleza não tardou a irradiar-se pelo interior da Província, percorrendo elles próprios cidades e villas em propaganda da generosa idéa. O município de Acarape (Redenção) foi o primeiro no Ceará, quiçá no Brasil, que aboliu a escravidão, em 1º de janeiro de 1883. 6 - Afinal, após três annos de lutas sem tréguas, raiou o dia 25 de março de 1884, data memorável para nossa história, pois assignala a extincção integral do captiveiro no território cearense. O número de escravos redimidos subira a 35.508.” Notem primeiro as diferenças ortográficas, já que foi escrito em 1931, segundo a análise, é muito bem feita. Escrevendo sobre vários fatores do nosso pioneirismo: a pouca quantidade de negros escravos em relação a outras províncias, as secas que aceleraram a exportação de mão-de-obra escrava, a participação das entidades abolicionistas, as grandes figuras do nosso abolicionismo, a participação do Dragão do Mar etc. Ficam as perguntas: Como eles eram tratados nessa época, ou mesmo antes? Como eles reagiam à escravidão? Vamos por partes, antes todos sabemos que o governo Imperial atendendo às pressões internas e externas fez decretar duas leis paliativas: - 1850 – Lei Eusébio de Queirós; - 1871 – Lei do Ventre Livre. Posteriormente à nossa abolição, o governo ainda assinava mais duas leis: - 1885 – Lei dos Sexagenários; - 1888 – Lei Áurea. Para colocar abaixo o mito que nossos escravos eram bem tratados pelos seus senhores, veja aqui algumas linhas citadas no livro de Eduardo Campos – Revelações das Condições de Vida dos Cativos do Ceará, de 1982: “Os jornais noticiavam dolorosos castigos pela impiedade desses ásperos e cruéis senhores. Veja-se o rol de exemplos: Jerônimo, moleque ladino, tem o dedo cortado da mão direita (“Cearense”, 16/03/1865); José, vai-se de seu senhor com o “olho perdido” (Ibidem, 29/07/1865) (...) Francisco, escravo de 25 anos, com cicatrizes de “chicote nas costas” (“O Comercial”, 17/04/1856); Simeão, de 32 anos apresenta “sinaes de relho nas costas” (Ibidem, 14/06/1856) (...) Imirência (...) “crioula de 22 a 33 anos”, “pachola”, com as costas marcadas por sevícias, e de propriedade de sacerdote, o Padre Vicente da Rocha Mota, não muito cristão para os seus cativos (...)” Nos períodos Colonial e Imperial nossas leis previam a pena de morte no Brasil. No século XIX, foram executados 41 presos dos quais 16 aplicados a cativos negros, todos executados na força (9 em Fortaleza e 1 respectivamente em Sobral, Aracati, Viçosa, Quixeramobim, Granja, Ipú, Russas). MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 11 019.804 - 145193 Desses casos, o mais conhecido envolve o Laura II, onde 9 escravos rebelaram-se e assassinaram a tripulação desses negreiro, levando o barco à praia do Arapuçu, em Aquiraz, para fugir. Os escravos foram capturados, rapidamente julgados e 6 foram enforcados no passeio público, em outubro de 1839. Outro dado a ser analisado é a resistência dos negros cativos à escravidão, e ela se deu de várias maneiras, mesmo dentro de todo um aparato que os perseguiam e que protege aos seus senhores. Veja o que escreveu o jovem e grande pesquisador e escritor cearense Airton de Farias em seu livro História da Sociedade Cearense: “A mais destacada forma de resistência negra no Brasil ocorreu através da formação de quilombos. Ao contrário do que se pensa, tem-se indícios da presença de quilombos ou mucambos no Ceará. Isso fica explícito até em comunicados oficiais, como na carta de Jerônimo da Paz, intendente das minas de S. José do Cariri, dirigida ao governador de Pernambuco: “O padre Antônio Correa Vaz pede uma ordem para um crioulo chamado José Cardigo servir de capitão nestes lugares e eu lhe dei, em nome de V. Exa., pela necessidade que julgo de que haja quem se empregue nas prisões dos negros fugidos e criminosos que se acham nestes matos amucambados; e me consta que, para parte do corrente, têm saído negros dos mucambos e a algumas pessoas a roubar, e é preciso cuidar muito em destruir estes mucambos e outros que possam ir fazendo (...) Ao que consta, a muralha de pedra encontrada em Bastilhões, na serra do Pereiro, seria um quilombo no qual se refugiam escravos do Ceará e de Províncias vizinhas. Também existia outro na Serra Grande, para onde acorriam negros do Ceará, Piauí e Maranhão. Muitos cativos fugidos foram apreendidos em Viçosa. O movimento negro cearense afirma que muitos outros locais de “acoutamento” de escravos fugitivos existiam na Província, inclusive alguns na periferia da capital, como em Tauape e Parangaba. O suicídio constituía-se outra maneira explícita de resistência – acabar a vida para encerrar o suplício da escravidão. Sintomático é o casso de um negro alforriado e “legalmente” detido na cadeia de Caucaia. O coitado extraviara o documento comprobatório de sua liberdade e ante a desgraça iminente de voltar à condição de cativo, pôs fim à própria vida. Resistiram ainda os negros com o assassinato de seus senhores e até com conspirações e revoltas armadas, o que colocava em pânico as elites.” E a participação popular, o que podemos dizer, leia mais uma vez a belíssima explicação do jovem escritor Airton de Farias: “A campanha abolicionista acabou atingindo os seguimentos sociais mais humildes, de modo que podemos afirmar que a mobilização do povo cearense também contribuiu para a “precocidade” da abolição local. Essa participação popular fica evidente nos episódios do ano de 1881. Sendo a condução dos negros escravos aos navios feita com o uso de jangadas, um grupo de abolicionistas – tendo à frente Pedro Artur de Vasconcelos e José do Amaral – arquitetam o plano de convencer os jangadeiros a não mais realizar o trabalho. Obtiveram de imediato a adesão do liberto José Lins Napoleão e de Francisco José do Nascimento (futuro “Dragão do Mar”), figura de influência entre os trabalhadores da praia. Há quem afirme que os jangadeiros foram subornados. De fato, receberam dinheiro dos abolicionistas, o que, porém, não significa menos idealismo ou coragem – prova é que recusaram boa quantia oferecida pelos escravocratas para transportarem cativos, além de que, realizando uma greve, estavam sujeitos à repressão oficial. Era justo que sendo humildes chefes de família, recebessem alguma remuneração pela suspensão, a pedido das elites, do seu pobre ganha-pão. Na manhã do dia 27 de janeiro de 1881, os jangadeiros se negaram a conduzir alguns negros cativos para o vapor Pará. A notícia logo se espalhou pela cidade e, em pouco tempo, mais de 1500 pessoas “de todas as classes e condições” afluíram ao porto. Um grito anônimo partiu da multidão e logo se tornou coro e lema do abolicionismo local: “No porto do Ceará não se embarcam mais escravos!”. Os escravocratas,sob vaias e ofensas, irritados, usaram de todos os artifícios – de ameaças à oferta de dinheiro – para convencer os homens do mar a carregar as “peças”. Os jangadeiros permaneceram irredutíveis. Os negociantes chamam a polícia, que pouco pôde fazer.” Nesse contexto, surge a figura cearense que ficou conhecida nacionalmente na luta contra a escravidão, Francisco José do Nascimento – Chico de Matilde, o nosso Dragão do Mar, o nosso “tigre da abolição tupiniquim”, já o José Carlos do Patrocínio, tornou-se conhecido nacionalmente com esse título. Enfim, como ocorreu a abolição em Acarape, hoje denominado Redenção? No dia 1º de janeiro de 1883, com a presença do Tigre da Abolição – José do Patrocínio – Acarape, em grande festa passou para a história do Brasil como a primeira vila a libertar seus escravos, segundo Pedro Alberto de Oliveira Silva – em História da Escravidão no Ceará (das origens à extinção): Ainda em setembro de 1881, o Libertador já se referia à realidade escravista no Ceará, nos seguintes termos: “(...) ‘Não há dia em que não se dê uma libertação; a escravatura no Ceará declina do occaso para o túmulo. – Já não sem compra e nem se vende escravos e os que ainda existem cativos pertencem antes à classe dos creados domésticos do que a senzala dos captivos.’ Acarape havia sido escolhido pela Sociedade Libertadora Cearense para ser o primeiro município do Ceará a extinguir a escravidão porque possuía, então, a menor população escrava. Quando a escolha foi feita, viviam 116 cativos pertencentes a 75 senhores. A libertação daqueles deveu-se aos esforços da Sociedade Libertadora Cearense e da Sociedade Redentora Acarapense, que compraram alforria de 43 escravos, sendo os demais libertados gratuitamente. Pôde-se assim marcar o dia 1º de janeiro de 1883 para a comemoração do acontecimento. (...) Exatamente quando já estava praticamente vencedora a campanha abolicionista liderada pela Sociedade Cearense Libertadora, foi criado no mês de dezembro de 1882 o Centro Abolicionista 25 de Dezembro.” Como ocorreu em Fortaleza, capital da Província, esse dia magno para a nossa história? Leia o que escreveu o grande historiador Raimundo Girão: “A sessão magna, às 12 horas, no salão nobre da Assembléia Provincial, teria de ser a grande nota do auspicioso dia. O presidente interino da Província, Comendador Antônio Teodorico da Costa, ladeado pelos quatro componentes da Comissão Central, inaugurou-a em ligeiras palavras. São cantados o Hino da Redenção e o Hino 24 de Maio, bem como, pelos alunos do Ateneu Cearense, o da Independência e o Hino Nacional. Jornalistas de Belém – Lima Barata pela “Província do Pará”, e Manuel Cantuária pelo “Diário de Notícias” – especialmente enviados para“o grande acontecimento”, falam em primeiro lugar e são imediatamente seguidos por João Brígido, em nome doutro órgão guajarino – o “Diário do Grão Pará”, e por José Marrocos, representante do jornal católico “Boa Nova”, também paraense. A oração de Maria Tomásia, pelo calor com que foi pronunciada, valeu por uma convulsão. Francisca Clotilde, recitando poesia sua, não arrancou efeito menor. Muitos oradores falam pelas diversas Sociedades Libertadoras, e já ia por mais de quatro horas da tarde quando o Comendador Teodorico, encerra a sessão, cuja ata assina com a pena de ouro oferecida pelo joalheiro J. Weill. MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 12 019.804 - 145193 Às cinco horas da tarde, na Catedral, o Te Deum gratulatório, com expressiva oração do Padre Frota. Depois, o “préstito dos estandartes” percorrendo as ruas em marche aux flambeaux. “Fortaleza Libertada” – podiam contar os seus poetas, endeusando as heroínas e os heróis da majestosa conquista.” Finalmente veio o dia 25 de março de 1884, dia da Abolição em toda Província, mais um marco do nosso pioneirismo no processo da Abolição – fomos a primeira vila a abolir e agora a primeira Província, dessa forma realiza-se uma grande festa para tal fato histórico. Raimundo Girão afirma que, naquela época, no Ceará, existia 16 mil cativos (não há dados homogêneos sobre a quantidade de escravos). “Após fogos de artifício, gritos, lágrimas e tiros de canhões, a multidão que compareceu a Praça Castro Carreira (Praça da Estação) delirou quando o presidente da Província, Sátiro de Oliveira Dias, concluiu seu discurso anunciando: “a Província do Ceará não possui mais escravos.” ABOLIÇÃO NO CEARÁ Primazia cearense e orgulho para todos nós alencarinos, Infinitas homenagens aos senhores da abolição, no entanto, Onde e como ficaram, os ex-escravos? No Acarape, [na Redenção, Negros, mulatos, mestiços, como ficastes? Esqueceram. A história não. Instante de reflexão, instante de reflexão Respeitando as atuais homenagens: mas onde estão seus [descendentes? Instante de melancolia. Estão nas favelas, vielas e periferias. Sim, com certeza, no Ceará e no Brasil, falta muito, Muito mesmo para um reino melhor, seu reinado é só no [carnaval, Ou no futebol, mas nos outros setores são parias, parias. Dragão do Mar certamente não está contente: O grande timoneiro da nossa abolição, mestiço símbolo de [cearensidade. Ceará pioneiro, Ceará primeiro, Ceará sofrido, Ceará [querido. És contraditório, mar, sertão, serra, pé-de-serra. Redenção. Assim mesmo, somos contraditórios. Abolimos e [esquecemos, mas o Racismo não foi abolido, a exclusão social também. Á – Esquecendo essa letra – Vamos esquecer essas mágoas. [Parabéns Ceará. Aníbal da Silva Holanda. INTRODUÇÃO No início da República Velha, a antiga, elitista e arcaica aristocracia rural que dominou a política cearense no Período Imperial esteve dividida entre Pompeus (Accioly), Paulas, Aquirazes e Ibiapabas. Todas essas facções eram poderosas e controlavam a estrutura coronelística no sertanejo semelhante à antiga plantation. Posteriormente, grande parte desses monarquistas irão apoiar a República para continuarem na máquina administrativa, principalmente em torno da figura conservadora de Nogueira Accioly. Os republicanos históricos do Ceará não possuíam grande penetração junto às massas populares, ou seja, eram formados principalmente por intelectuais, comerciantes e elementos da classe média de Fortaleza, além do fato dos republicanos históricos serem em pequeno número, a divisão interna entre deodoristas e florianistas, logo após a Proclamação da República, fez com que eles perdessem o poder para o oligarca Accioly. ECLOSÃO DA REPÚBLICA A notícia da Proclamação da República chegou ao Ceará por intermédio de um telegrama, então militares do 11º Batalhão e do Colégio Militar uniram-se ao histórico Centro Republicano e depuseram o último presidente do Ceará monárquico e deram posse ao primeiro presidente da república cearense, o comandante Luis Antônio Ferraz, que também era monarquista. Essa atitude foi criada para enfraquecer o movimento popular que promovia agitações na Praça dos Mártires (Passeio Público), que poderiam radicalizar dentro das idéias da Revolução Francesa. NOGUEIRA ACCIOLY Accioly iniciou sua trajetória política ainda no período de D. Pedro II, sendo ligado ao grupo do monarquista Senador Pompeu. Essa ligação com o velho senador deveu-se ao casamento de Accioly com a filha de Pompeu, bem como com o seu grande poder de articulação. Com a Proclamação da República, a máquina administrativa estadual ficou nas mãos dos republicanos históricos. Contudo, esses “puros” republicanos brigaram entre si, os ortodoxos, florianistas chamados de “Cafifins” liderados por João Cordeiro, contra os dissidentes deodoristas intitulados de maloqueiros, liderados por Martiniano Rodrigues e Justiniano de Serpa. Essa briga entre os republicanos históricos os enfraqueceu e esse fato vai ser bem utilizado por Accioly, que astutamente ligou-se ao ex-inimigo João Cordeiro, e passou a penetrar no governo republicano levando consigo vários oligarcasex-monarquistas, agora na nova União Republicana. Como consequência, o Centro Republicano, que tanto tinha lutado pelo fim da monarquia foi sobrepujado na república pelos mesmos ex-monarquistas da época do império. Vale salientar que uma das causas desse crescimento do ex- monarquista Accioly é o fato de que o povo estava totalmente isolado do cenário político, pois os próprios republicanos tradicionais não defendiam a reforma agrária, o aumento salarial, o voto universal e uma justa educação pública e gratuita. Nogueira Accioly, através do coronelismo e política dos governadores feita pelo presidente da República Campos Sales, conseguiu fortalecer-se, mesmo com vasta documentação de nepotismo, despotismo e de corrupção, como foram os fatos do desvio de verbas na construção de pontes metálicas francesas no rio Pacoti, na elaboração da estrada de ferro – Fortaleza- Uruberatama e na encampação (nacionalização) do porto do Mucuripe. A maioria dessas obras ficou inacabada devido ao mau uso do dinheiro público, também Accioly não se preocupou em solucionar problemas sociais causados pela seca, inclusive, numa atitude horrível e desumana passou a atacar o grande herói Rodolfo Teófilo por esse ser da oposição. Vale salientar que Rodolfo Teófilo tinha criado uma excelente vacina contra a varíola, já que o Ceará estava, junto com a seca, tendo uma epidemia de varíola e tuberculose. Accioly conseguiu obter apoio de antigos desafetos, como o do político Pedro Borges e, novamente, uniu as elites em torno de si, e manteve a máquina administrativa sob seu controle, enquanto que a oposição era degolada na Capital Federal – Rio de Janeiro, interessante observar que a oposição era ínfima, pois além da degola, ela praticamente não recebia votos devido à exclusão ou obstrução dos alistamentos de supostos eleitores da oposição. No período acciolyno, algumas obras foram inseridas no Ceará, como a construção do Teatro José de Alencar, o surgimento do “campo de concentração” do Alagadiço para flagelados da seca, ocorreu também a remodelação das praças do Ferreira, José de Alencar e da Sé. REPÚBLICA VELHA MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 13 019.804 - 145193 A elite deslocou-se para “novos” bairros “chics” como Jacareganga, Benfica e Praia de Iracema, pois muitos pobres passaram a morar no centro da cidade, como no Arraial Moura Brasil, posteriormente a burguesia fixou-se em sítios na localidade chamada “Aldeota”. Nesse período, é confirmado o espírito gozador do nosso povo quando Fortaleza “adota” o bode Ioiô, o escolhendo como vereador. FRANCO RABELO A queda de Accioly ocorreu quando o povo não agüentava mais seus desmandos e passou a procurar alguém da oposição como o militar Franco Rabelo, que adquiriu maior poder quando representou a Política das Salvações do Presidente Hermes da Fonseca, essa política buscava tirar as antigas aristocracias do poder e colocar na máquina administrativa novos e dissidentes aristocratas, consequentemente, apesar de Franco Rabelo ser apoiado pelo povo, sua aliança verdadeira e fundamental era com essa dissidente elite, enquanto que o povo se manteria marginalizado. A destruição política de Accioly ocorreu quando ele, como governador, mandou reprimir a passeata de crianças e muitas delas morreram de tiro e pisoteadas, essa repressão provocou uma maior revolta da população que cercou o Palácio do Governo, vizinho à Praça dos Leões, para matar Accioly. Para sua sorte, a elite oposicionista, com medo de uma maior radicalização popular, negociou uma rendição de Accioly e este deixou o Ceará e foi morar no Rio de Janeiro. Franco Rabelo assumiu o governo, mas não soube costurar acordos políticos, negociar cargos no governo e não resolveu problemas de miséria do povo. Para seu desgosto, deputados acciolystas ainda possuíam o controle da Assembléia Legislativa e escolheram Padre Cícero (Coronel de Batina) para o cargo de vice-presidente, como também Padre Cícero tornou-se prefeito de Juazeiro. SEDIÇÃO DE JUAZEIRO A destituição de Franco Rabelo deu-se com a união da Aristocracia em torno de Padre Cícero e de Floro Bartolomeu em Juazeiro, que para derrotar as forças legislativas de Franco Rabelo construiu a trincheira do “circulo da mãe de Deus”. Após a derrota rabelista em Juazeiro, romeiros e jagunços deslocaram-se para Fortaleza e Franco Rabelo teve que renunciar. Após esse fato, a aristocracia acomodou-se na máquina administrativa sem grandes atritos internos. ASPECTOS SERTANEJOS O interior do Ceará produziu personagens e fatos históricos que merecem uma atenção peculiar porque moldaram a personalidade tanto da população rural, como urbana. Observa-se que uma gigantesca quantidade de famílias dessa metrópole é oriunda do “interior” e uma das causas dessa migração é o flagelo das secas, que já foi sentido por Pero Coelho em 1605, mas que nunca foi realmente solucionado. Em 1889, o governo, de uma forma simplória, tentou anular esse flagelo com a Hospedaria Geral dos Imigrantes que tinha apenas o papel de alojar os retirantes longe da classe dominante; em 1909, nasceu a Inspetoria de Obras Contra a Seca – IOCS, que acreditou na solução “tecnicista” de que somente a construção de barragens resolveria o problema do sertanejo, essa visão é oriunda do projeto da construção do açude de cedro em Quixadá. Como essa solução hidráulica não é competente, o problema do flagelo avolumou-se com outro fato percebido por Rodolfo Teófilo através da frase que levava a idéia de que o “O problema do sertão não é a seca, mas sim a cerca” de tal forma que em 1915 ocorreu uma gigantesca estiagem e o governo de Liberato Barroso, sem nenhum respeito para com os flagelados, construiu uma espécie de campo de concentração no alagadiço e a situação piorou quando a varíola assolou Fortaleza, principalmente nesse “curral de bárbaros”. Vale salientar a importância e o espírito humanístico de Rodolfo Teófilo que, desde o período acciolyno, tentou diminuir a dor do flagelado produzindo inclusive, uma excelente vacina anti-varíola. Padre Cícero ainda hoje possui um gigantesco carisma perante a população nordestina. Nasceu em 1844 e adolescente aproximou-se da liturgia católica, o que o levou a estudar no Seminário da Prainha em Fortaleza. Entretanto, sua fama tornou- se imbatível através do milagre da hóstia com beata Maria de Araújo onde hoje é Juazeiro, apesar desse fato místico ter feito dele um santo perante os pobres camponeses ou os poderosos coronéis latifundiários. Padre Cícero passou a ser visto com desconfiança pelo alto clero católico devido à romanização. Padre Cícero tornou-se chefe católico de Juazeiro, aliado de Nogueira Accioly e ligado aos interesses do líder oligárquico Floro Bartolomeu. Foi dessa união que nasceu a Sedição de Juazeiro e provocou a queda de Franco Rabelo. Devido a sua influência política e defesa das oligarquias, Padre Cícero ficou conhecido como “Coronel de Batina” que, inclusive, entrou em contradição quando ele defendeu a comunidade do Caldeirão. A comunidade do Caldeirão foi uma experiência extremamente radical, no que concerne no aspecto de divisão de tarefas e riquezas. Foi uma propriedade rural pertencente a Padre Cícero sobre a responsabilidade do Beato José Lourenço. O alto grau de respeito humano, de solidariedade e de espírito comunitário tornou o Caldeirão dos Jesuítas uma área que entrava em contradição com o latifúndio. Esses radicais, que eram semelhantes aos antigos moradores de Canudos, já tinham criado uma outra experiência positiva no Sítio Baixa Danta, e também tinham possuído um choque com oligarcas e Floro Bartolomeu devido ao “Boi Mansinho”, que pertenceu a Padre Cícero e foi criado pela Comunidade de José Lourenço. Para enfraquecê-la, os coronéis teimosamente afirmaram que o boi estava sendo adorado. Com a morte de Padre Cícero, o terreno foi entregue a Ordem dos Salesianos e a “cooperativa” do Caldeirãofoi destruída militarmente. O PODER COM GETÚLIO VARGAS Didaticamente, costuma-se dividir a era Vargas, isto é, o período em que Getúlio Vargas ficou à frente dos destinos do Brasil, em três etapas: Governo Provisório (1930-1934), Governo Constitucional (1934-1937) e Estado Novo (1937-1945). De forma geral, tal período pode ser identificado por: centralização político-administrativa, diminuindo a autonomia dos estados; nacionalismo econômico, no qual o estado intervia na economia e reservava para si áreas economicamente estratégicas; crescente processo de industrialização e urbanização; prática do populismo, ou seja, de uma política na qual o estado, por meio de um líder carismático (como era Vargas), assumiu o papel de árbitro dos conflitos sociais, mantendo as estruturas e os privilégios dominantes, embora fazendo concessões aos setores populares no intuito de controlá-los; criação de leis de proteção e assistência aos trabalhadores; e repressão e perseguição aos oposicionistas. AS INTERVENTORIAS Vitoriosa a “Revolução” de 1930, os órgãos legislativos estaduais e municipais foram dissolvidos, e depostos os governadores e prefeitos. Os estados passaram, em consequência, a serem administrados por interventores, nomeados por Vargas e, lógico, a ele submissos. ERA VARGAS MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 14 019.804 - 145193 Os interventores tinham por função “garantir” os ideais da “revolução”, exercendo os poderes Executivo e Legislativo em cada unidade da Federação até que houvesse a reconstitucionalização do País. Cabia a eles, ainda nomear os prefeitos. A Interventoria Fernandes Távora (1930-1931) Fernandes Távora, líder de grupo dissidente da República Velha e que havia abraçado os princípios da aliança liberal, foi o primeiro interventor do Ceará. Távora governou o Ceará por 8 meses (de outubro de 1930 a julho de 1931) e nada de notável realizou, a não ser, talvez, o desarme e prisão de vários coronéis (logos libertos), a abertura de processos para apurar as irregularidades das antigas oligarquias (não deu em nada) e a decretação de norma exigindo o número mínimo de 15 mil habitantes para constituição de um município (reduziu de 85 para 51 os municípios cearenses). A continuidade com as práticas tradicionais e clientelistas, privilegiando os elementos ligados à sua facção oligárquica fez os tenentes começar a pressionar Getúlio Vargas para destituí-lo da Interventoria, no que foram atendidos. A Interventoria Roberto Carneiro de Mendonça (1931-1934) O capitão Carneiro de Mendonça assumiu o poder cearense com uma política de “conciliar” grupos oligárquicos estaduais. Conseguiu, de fato, pelo menos a princípio, harmonizar as oligarquias do Estado; chegou, na verdade, até a nomear elementos ligados as “oligarquias decaídas” para ocupar cargos dirigentes, como no caso do secretário de justiça e negócios do interior, o jurista Olívio Câmara. Poucos meses após ser apossado como interventor, Carneiro de Mendonça enfrentou grave crise, não política, mas climática. Era a catastrófica seca de 1932. Milhares de pessoas pereceram de fome, de sede e de doenças, tendo em vista a pouca assistência do governo. A disputa eleitoral de 1933 pôs fim à “conciliação” até então desenvolvida no Ceará. Dessa maneira, os elementos civis da “revolução”, os tenentes do Colégio Militar e 23º BC, sob liderança do oligarca Fernandes Távora, organizaram o Partido Social Democrático (PSD), cujo porta-voz era o jornal O Povo. Mas se os “revolucionários”, pregando a modernização do estado, encontravam-se no PSD, os “oligarcas decaídos”, por sua vez, aglutinavam-se em torno da secção cearense da Liga Eleitoral Católica (LEC). A LEC seria o instrumento pelo qual as antigas oligarquias voltariam ao poder. Usariam para tal todo o aparato eclesiástico da Igreja. Onde houvesse um padre, existia também um correligionário da sigla. Os resultados do pleito de 3 de maio de 1933 indicaram importante vitória da LEC; esta elegeu 6 deputados constituintes, contra 4 do PSD. Iniciava-se a volta das antigas oligarquias ao poder. Os partidários do PSD cearense, diante disso, passaram a responsabilizar Carneiro de Mendonça pela derrota. O interventor, com sua “neutralidade política”, acabavam beneficiando a LEC. Perante as pressões e aumentos das disputas entre PSD e LEC, impossibilitado de governar de forma conciliatória, Carneiro de Mendonça, em agosto de 1934, decidiu pedir ao Governo Federal e destituição da interventoria. A Interventoria Felipe Moreira Lima (1934-1935) O coronel Felipe Moreira Lima, ardoroso partidário do movimento tenentista e da Revolução de 1930, realizou a administração mais conturbada do período interventorial cearense. Dizendo-se “socialista”, embora não acreditando na democracia, aliou-se totalmente aos pessedistas com o propósito de evitar que os políticos da pátria velha (a LEC) voltassem ao poder. Mas Moreira não evitou que, nas eleições legislativas de outubro de 1934, a LEC obtivesse nova vitória. A vitória lecista, conseguindo o domínio político no âmbito das bancadas federal e estadual, significou, na visão dos pessedistas, o fim da “Revolução” de 30 no Ceará e o retorno das antigas oligarquias ao poder. Com a fundação da ANL, no Rio de Janeiro, iniciou-se um trabalho de divulgação do movimento por todo o país. No Ceará, a instalação da secção deu-se em maio de 1935 perante a uma multidão de 10 mil pessoas (segundo o jornal O Povo de 23.05.1935). Estudantes e trabalhadores faziam passeatas e manifestações públicas anti-integralistas, contando com ampla simpatia do interventor Moreira Lima, o qual afirmava que em seu governo a polícia jamais prenderia ou espancaria grevistas ou populares. Por conta dessa proximidade com a ANL, o interventor foi taxado de comunista e de estar “bolchevizando” o Ceará pela LEC. A proximidade do pleito eleitoral, para a escolha indireta do governador, complicava as coisas. A LEC havia lançado como candidato o advogado o advogado, professor e diretor da Faculdade de Direito, Menezes Pimentel, um político de direita, intelectual católico vinculado aos setores mais retrógrados da Igreja. O PSD, inicialmente pensou em lançar o nome do próprio Moreira Lima; este, contudo, a 10 de maio de 1935, foi convocado ao Rio de Janeiro, e ali Vargas, cedendo às pressões dos lecistas, destitui-o da interventoria. O Governo (1935-1937) e a Interventoria Menezes Pimentel (1937-1945) O período em que Menezes Pimentel esteve à frente dos destinos cearenses foi um dos mais autoritários, brutais e repressivos momentos da história dessa terra- reflexo do que acontecera no país. Logo no início da administração, Pimentel deu provas de como governaria: destituiu os prefeitos interioranos e funcionários públicos ligados ao PSD; mandou, de pronto, fechar os núcleos locais da ANL após a decretação da ilegalidade desta; usou a Lei de Segurança Nacional, depois da intentona de 1935, como pretexto para perseguir a oposição, sobretudo os comunistas, o que ficava a cabo de delegados e subdelegados de polícia – terroristas selvagens prestigiados pelo governador. Em 1937, com o golpe do Estado Novo, Vargas confirmou Menezes Pimentel no comando cearense, agora como interventor federal. Ora, com a força que o novo regime instaurado possuía, Pimentel passou a governador do Estado com mãos-de-ferro, destruindo qualquer oposição. Em nome da moral e dos bons costumes, o regime instaurado ainda fechou a lojas maçônicas e os centros espíritas da capital e no interior do Estado; as livrarias tiveram o estoque revisado para apreensão de livros e de revistas portadoras de “idéias subversivas”. Sucedeu-se, ainda, no período de Menezes Pimentel a chacina igualitária da comunidade do Caldeirão, onde morreram mais de mil pessoas. Assim, o aparelho repressivo, a covardiados setores liberais locais (a maioria dos “revolucionários” de 30 omitiram-se ou apoiaram a ditadura) e o aparato religioso da Igreja praticamente paralisaram o Ceará. Criou-se, então, um estranho “endeusamento” à imagem de Pimentel, semelhante talvez ao que era feito com Vargas nacionalmente. MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 15 019.804 - 145193 Populismo é uma prática política em que o governante utiliza de vários recursos para obter apoio popular. O populista utiliza uma linguagem simples e objetiva, usa e abusa da propaganda pessoal, afirma não ser igual aos outros políticos, toma medidas autoritárias, não respeita os partidos políticos e instituições democráticas, diz que é capaz de resolver todos os problemas e possui um comportamento bem carismático. É muito comum encontrarmos governos populistas em países com grandes diferenças sociais e presença de pobreza e miséria. Ainda hoje, o termo é utilizado para identificar determinadas lideranças políticas ou movimentos pelos quais um governante ou político se dirige diretamente às massas, apelando para o seu carisma pessoal. Os estudiosos divergem quanto à periodização exata desse comportamento político no Brasil. Muitos o inserem no período que vai de 1930 a 1964. para muitos outros o populismo vai de 1954 a 1964, marcado pela participação popular durante o período da redemocratização pós-Vargas, quando a industrialização foi mais consistente, e na política, as eleições ocorreram periodicamente. Em ambos os casos nós temos participação política das “massas”, finalizando com o golpe militar 1964, que instaurou uma longa ditadura no país e restringiu a participação popular e organização de movimentos sociais organizados. Em linhas gerais, o populismo apresenta três pontos centrais: Uma política de massas, que incluía os proletários urbanos no momento da modernização do país; A associação das massas com os dirigentes que procuravam legitimar suas posições políticas e angariar o apoio das massas emergentes e; A presença de um líder carismático que lideraria as massas e conciliaria os interesses dos grupos dominantes com essa população. A POLÍTICA CEARENSE NA REPÚBLICA POPULISTA Entre 1945 e 1947, o Ceará foi administrado por interventores, como Acrísio Moreira (PR), Pedro Firmeza. Coronel Machado Lopes e Feliciano de Athayde e Faustino Albuquerque (UDN). A campanha sucessória de 1947 foi tumultuada, com choques entre os comunistas e a Igreja. Assim, enquanto o candidato do PSD, Onofre Muniz combatia os comunistas, o candidato da UDN vencia. A 1º de março de 1947, Faustino Albuquerque foi empossado no cargo de Governador do Estado. O Governo Faustino Albuquerque (1947-1951) O desembargador teve uma má administração. Seu mandato foi marcado por perseguições aos seus adversários e por várias crises políticas. Notícias de agressões, atentados e assassinatos por razões políticas no interior do Estado passavam a ser rotina. Os correligionários do governador tinham “carta branca” para agir e seus crimes ficavam impunes. Com uma administração autoritária e inábil, a UDN logo percebeu que teria enormes dificuldades para fazer o sucessor de Faustino. Então, para a disputa eleitoral de 1950, lançou como candidato ao governo o advogado e professor da faculdade de Direito, Edgar de Arruda e a oposição liderada pelo PSD, em coligação com o PSP, lançou a candidatura de Raul Barbosa e para vice, o olavista Stenio Gomes. Tal chapa recebeu ainda o apoio do PR de Acrísio Moreira. O resultado do pleito de 3 de outubro de 1950, marcado por escandalosa influência do poder econômico, foi favorável às oposições. Os Governos Raul Barbosa (1951-1954) e Stênio Gomes (1954-55) Raul Barbosa governou entre 1951 e 1954. Realizou uma administração apática, não muito diferente das anteriores: clientelismo, perseguição aos adversários, impunidade, crises políticas e econômicas. Restringiu-se a construir escolas, postos médicos, estradas e açudes, nada que pudesse efetivamente transformar a estrutura sócio-econômica do Ceará. Perdendo o apoio entre seus aliados, acenou com cargos e vantagens para alguns políticos udenistas (os “anjos rebeldes”). Entregando o poder ao vice Stênio Gomes, Raul Barbosa candidatou-se ao senado em 1954. Procurando unir as elites locais por meio da “política de pacificação”, teve sua candidatura derrotada e, em 1954, o udenista Paulo Sarasate foi eleito governador do Estado. Os Governos Paulo Sarasate (1955-1958) e Flávio Marcílio (1958-1959) O jornalista e advogado Paulo Sarasate Ferreira Lopes, fez uma administração normal se comparada com as demais. Na sua administração realizou a construção rotineira de grupos escolares, estradas e açudes. Também reaparelhou o porto do Mucuripe e esforçou-se para fazer chegar a Fortaleza a energia hidrelétrica de Paulo Afonso. Em julho de 1958, Paulo Sarasate renunciou ao cargo de governador, no intuito de disputar uma cadeira na Câmara Federal nas eleições que se aproximavam. Em conseqüência, o cargo foi repassado ao vice Flávio Marcílio. As eleições de 1958 realizaram-se em meio à calamitosa e trágica seca, que não impediu os políticos de usarem a miséria das massas para benefício próprio. O resultado das urnas deu vitória ao petebista Parsival Barroso (PTB). O Governo Parsival Barroso (1959-1963) O advogado e professor Parsival Barroso realizou uma administração agitada. Apesar de haver estruturado a Secretaria de Agricultura, Indústria e Comércio, pôs em prática a velha política de construir estradas, açudes e escolas. Era mais um governante comprometido com as velhas estruturas sócio- econômicas cearenses. Rompendo com o PTB de Carlos Jereissati, apoiou a União Pelo Ceará, coligação envolvendo UDN e PSD em torno da candidatura governamental de Virgílio Távora. A união pelo Ceará ganhou disparada dos adversários, elegendo Virgilio Távora (UDN) para o governo com ampla margem de votos, Figueiredo Correa (PSD) para vice. Na disputa pela prefeitura de Fortaleza, a União também triunfou; seu candidato coronel Murilo Borges derrotou o populista Péricles Moreira da Rocha e o líder sindical Moura Beleza (PSB). Em 1963, Virgílio foi empossado governador do Estado em uma pomposa cerimônia. As pessoas que presenciaram aquele fato estavam assistindo a uma cena que não se repetiria em breve. A partir de 1964, com a longa “noite dos generais”, os governadores passaram a ser eleitos indiretamente pelas Assembléias Legislativas, ante conchavos e falcatruas que sepultaram a democracia. POPULISMO MÓDULO DE HISTÓRIA DO CEARÁ 16 019.804 - 145193 INTRODUÇÃO Por ocasião do golpe militar de 31 de março de 1964 que instituiu o regime militar no Brasil, a Rádio Dragão do Mar foi ocupada por tropas do Exército às 8h30min, que deram prazo para que todos os funcionários se retirassem da emissora e policiais militares ficaram a postos na Praça do Ferreira. O Ceará era então governado pelo militar Virgílio Távora. Eleito no ano de 1962, Virgílio Távora chegara a fazer criticas às reformas de base propostas pelo então presidente João Goulart, mas isto não afetara a boa relação entre os dois, a prova disto é que o estado do Ceará recebeu verbas que foram fundamentais para a implementação do Plano Estadual de Governo (PLAMEG). O Golpe de 1964 deu inicio à segunda fase do primeiro mandato de Virgílio Távora. A estreita relação entre Virgílio Távora e o então presidente da República João Goulart rendeu- lhe desconfiança junto aos militares da chamada “linha dura”. Mas o hábil político cearense conseguiu converter a situação transformando-se num revolucionário de primeira linha. Virgílio contava com boas relações junto à presidência nacional da República na figura de Jango (João Goulart), do seu tio o Ministro de obras e viação Juarez Távora e do superintendente da Sudene, João Gonçalves, o
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