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Administração e Finanças Públicas 02 1. Serviço Público 4 Conceitos 4 Serviços Privativos, de Utilidade Pública e Prestação Mista 5 2. Administração Pública 9 Conceitos 9 Organização político administrativa brasileira 9 Estrutura e Entidades Compositoras 10 Administração Direta ou Centralizada 10 Administração Indireta ou Descentralizada 11 Princípios e Fundamentos da Administração Pública 12 Princípio do Planejamento 12 Princípio da Coordenação 14 Princípio da Descentralização 14 Princípio da Delegação de Competência 14 Princípio do Controle 15 3. Contabilidade Pública 17 Conceitos 17 Os Regimes Contábeis 21 Da Escrituração e Consolidação das Contas 21 Adoção do Regime de Competência: 22 Fatos Geradores do Regime de Competência 22 A Importância da Contabilidade no Ciclo Orçamentário e os Principais Usuários das Informações 24 Principais Usuários das Informações Contábeis 25 O Crescimento das Despesas Públicas 27 Atribuições Econômicas do Estado 28 4. Referências Bibliográficas 32 03 4 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS 1. Serviço Público Conceitos efine-se serviço público ao con- junto de atividades e bens que são exercidos ou colocados à dispo- sição da coletividade, visando a- branger e proporcionar o maior grau possível de bem-estar social ou da prosperidade pública (KOHAMA, 2009). Entende-se Prosperidade pú- blica como o conjunto de condições para que todos os membros orgâ- nicos da sociedade possam adquirir diretamente e por si uma felicidade temporal e quanto possível completa e subordinada ao fim último. Aqui encaixa-se a abundância suficiente de bens espirituais e materiais ne- cessários para tornar efetiva a referi- da felicidade, e que não possam ser alcançados somente pela atividade dos particulares. Essa definição nos mostra que o Estado é a organização do poder político da comunidade com fins de harmonizar sua atividade, de forma que atinja o objetivo de promover e satisfazer a bem comum. Para os liberalistas, o bem- estar comum é uma simples soma de bens individuais e para os socialistas seria a absorção dos bens pelo Esta- do, mas na realidade, o bem-estar comum é a organização de todos os seus bens particulares, residindo no Estado, a missão de organizar e co- ordenar essas bens. Em sentido amplo, serviços públicos são todos aqueles pres- tados pelo Estado ou delegados por concessão ou permissão sob condi- D 5 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS ções impostas e fixadas por ele, visando à satisfação das necessi- dades da comunidade. Daí conclui- se que não se justifica a existência do Estado senão como entidade pres- tadora de serviços e utilidades aos indivíduos que o compõem (MEI- RELLES, 1966). Os serviços públicos podem abranger atividades que competem exclusivamente ao Estado, e por ele são exercidas diretamente, e atividades exercidas por delegações do poder público, atendendo a interesses coletivos ou ao bem-estar geral (KOHAMA, 2009). Os serviços que competem exclusivamente ao Estado são consi- derados serviços públicos própria- mente ditos, pois a sua prestação visa satisfazer necessidades gerais da coletividade para que ele possa subsistir e desenvolver-se, enquanto os prestados por delegação consi- deram-se serviços de utilidade pú- blica, em virtude de tais serviços visarem facilitar a existência do indi- víduo na sociedade, pondo à sua disposição utilidades que lhe pro- porcionam mais comodidade, com- forto e bem estar (MEIRELLES, 1966). Serviços Privativos, de Uti- lidade Pública e Prestação Mista Os serviços privativos são a- queles que a Administração presta por reconhecer sua essencialidade e necessidade para a sobrevivência do grupo social e do próprio Estado. Por isso mesmo tais serviços são considerados privativos do Poder Público, no sentido de que só a Administração deve prestá-los. Sig- nifica dizer que não se poderá dele- gar a terceiros porque exigem atos de império e medidas compulsórias em relação aos administrados. Co- mo exemplos cristalinos desses ser- viços temos: A segurança interna; A defesa nacional, A preservação da saúde pública. E ainda, as relações diploma- ticas, os serviços ligados à emissão da moeda. Os serviços de utilidade pú- blica, a Administração reconhece a sua conveniência para os membros da sociedade e presta esses serviços 6 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS diretamente ou descentraliza para terceiros (concessionários ou per- missionários), conforme regras, re- gulamentos e controle estatal. Como exemplos temos: Os transportes coletivos; Energia elétrica; Serviços de telefonia, dentre outros. Como dito acima, estes podem ser por concessão ou por permissão. Por concessão entende-se a delegação contratual da execução de um serviço, de forma autorizada e regulamentada. O Estado atribui o exercício de um serviço público a quem inte- ressar, por sua própria conta e risco, nas condições fixadas e que só po- dem ser alteradas pelo Poder Público. Existe ainda, uma garantia contratual de equilíbrio econômico financeiro, que permite a remu- neração da concessionária pela pró- pria exploração do serviço prestado. A Lei n. 8.987/95 e a Lei 9.074/95 ditam as normas do regime de concessão. A concessão não transfere pro- priedade alguma ao concessionário, nem se despoja de qualquer direito ou prerrogativa pública, ela somente delega a execução dos serviços nos limites estabelecidos em lei ou no contrato. Aqui se encaixam além dos serviços citados acima, a manu- tenção de rodovias. Os serviços de utilidade pú- blica por permissão obedecem as mesmas normas da concessão e estão regulamentadas pelo mesmo texto legal. A lei 8.987/95 referiu-se à permissão apenas no Art. 2º, inciso IV e no art. 40, onde se verifica que a permissão é definida como um contrato de adesão, precá- rio e revogável unilateralmente pelo poder concedente. São exemplos de serviço de utilidade pública por Concessão, a colocação de bancas de revistas e jornais em via pública. As diferenças básicas entre permissão e Concessão são: A Permissão depende sempre de licitação, enquanto na Con- cessão admitem-se outros ti-pos de contratação; A Permissão tem normas esta- belecidas pelo Estado, em-quanto a Concessão tem natureza contratual; A Permissão é estabelecida de forma precária, enquanto a Concessão permite lucro; A Permissão não possui prazo definido e a Concessão possui um prazo determinado contra- tualmente. Desta maneira podemos com- cluir que os serviços privativos vi- sam a satisfazer as necessidades gerais e essenciais da coletividade, 7 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS com a finalidade precípua de subsis- tência e desenvolvimento. Nos servi- ços de utilidade pública, o objetivo é facilitar a vida dos cidadãos na cole- tividade, colocando serviços a sua disposição que lhes proporcionarão conforto e bem estar. E a prestação mista? É a forma de prestação de serviço público mais comum e que vem sendo adotada no Brasil. É o serviço prestado pela Ad- ministração Pública, por ser dever do Estado, no entanto, também pode ser realizada através de pessoa física ou jurídica de caráter privado, independentemente de delegação para tanto. Esse tipo de serviço ocorre em virtude das exposições constituci- onais que atribuem direitos aos cidadãos e deveres ao Estado, sem, entretanto, vedar a execução dos serviços por pessoas de direito privado. A prestação de serviço mista só pode ocorrer quando referir-se a serviços públicos e não a serviços de utilidade pública, uma vez que, nes- te caso, deveria haver a delegação por concessão ou permissão. Algunsserviços assegurados na Constituição Federal traduzem direitos que visam à melhoria da condição social, dentre os quais destacam-se: Assistência sanitária, hospital- lar; Previdência social; Seguro contra acidentes de trabalho; Proteção a maternidade, assis- tência aos filhos menores de seis anis de idade em creches e pré- escolar. 8 9 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS 2. Administração Pública Conceitos or Administração Pública entende-se todo aparelhamen- to do Estado, preordenado à realiza- ção de seus serviços, visando à satisfação das necessidades coleti- vas (MEIRELLES, 1984). Mas, o que é administrar? Ad- ministrar é gerir os serviços públi- cos. Não é somente prestar o serviço, executá-lo, mas sim, dirigir, gover- nar, exercer a vontade com o objeti- vo de obter um resultado útil. A administração pública, co- mo todas as organizações adminis- trativas, é baseada numa estrutura hierarquizada com graduação de autoridade, correspondente às di- versas categorias funcionais, orde- nadas pelo Poder Executivo de forma que distribua e escalone as funções de seus órgãos e agentes, estabelecendo a relação de subor- dinação (KOHAMA, 2009). Organização político admi- nistrativa brasileira A Organização político-admi- nistrativa da República Federativa do Brasil compreende a União Fede- ral, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos e P 10 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS com competências próprias (Cons- tituição Federal, art.18). A autonomia das entidades federativas pressupõe repartição de competências e a distribuição cons- titucional de poderes, a fim de possi- bilitar o exercício e desenvolvimento de sua atividade normativa. A Constituição Federal de 1988 estruturou o sistema combi- nando competências exclusivas, pri- vativas e principiológicas, com com- petências comuns e concorrentes, norteadas pelo princípio geral da predominância do interesse. Desta forma, à União cabe legislar sobre matérias e questões de predominante interesse geral. Aos Estados os assuntos de predominan- te interesse regional, e aos Muni- cípios os de interesse local. Pois bem, o Estado tem como função fundamental promover o bem-comum. Ele é a organização política do poder, portanto, o Estado é uma Nação politicamente organi- zada. O Brasil constitui-se em Es- tado Democrático de Direito e tem como fundamentos, garantidos na Constituição: A soberania; A cidadania; A dignidade da pessoa hu- mana; Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; O pluralismo político. Daí podemos deduzir que a União constitui-se em pessoa de direito público interno, autônoma em relação aos Estados, tendo por missão o exercício das prerrogativas da soberania do Estado Brasileiro, pois configura-se com entidade fe- deral resultante da reunião dos Estados-membros, Municípios e o Distrito Federal. Estrutura e Entidades Compositoras O campo de atuação da Admi- nistração Pública, conforme deline- ado pela organização da execução dos serviços, compreende os órgãos da Administração Direta ou centra- lizada e os da Administração In- direta ou descentralizada. Administração Direta ou Cen- tralizada A Administração Direta ou Centralizada é a constituída dos ser- viços integrados na estrutura admi- nistrativa da Presidência da Repú- blica e dos Ministérios, no âmbito federal, e do Gabinete do Gover- nador e Secretarias de Estado, no âmbito estadual, e, na administra- ção municipal, deve seguir estrutura semelhante (prefeito e secretários). A Administração Direta tem a estrutura de uma pirâmide e no seu 11 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS ponto mais alto encontra-se a Presidência de República, no âmbito federal, que do topo, dirige todos os serviços. Administração Indireta ou Descentralizada A administração Indireta é a- quela atividade administrativa, ca- racterizada como serviço público ou de interesse público, transferida ou deslocada do Estado, para outra em- tidade por ele criada ou cuja criação é por ela autorizada (KOHAMA, 2009). Na administração indireta, o desempenho da atividade pública é exercido de forma descentralizada, por outras pessoas jurídicas de direito público ou privado, que, no caso, proporcionarão ao Estado, a satisfação de seus fins adminis- trativos. A legislação contempla uma série de entidades, quer de direito público (autarquias), quer de direito privado (empresas públicas, socie- dades de economia mista e fun- dações), através das quais o Estado pode descentralizar os serviços públicos ou de interesse público. Dentre as entidades que com- põem a Administração Indireta te- mos as entidades de personalidade jurídica de direito público também chamadas de paraestatais, por esta- rem ao lado do Estado e que geral- mente podem ser constituídas ou autorizadas para a execução de atividades de interesse público, mas dificilmente, para serviços priva- tivos do Estado, pela sua própria natureza. Aqui encontramos as autar- quias (única que não se constitui paraestatal), as empresas públicas, as sociedades de economia mista, as fundações, os serviços sociais au- tônomos. Autarquia é um serviço autô- nomo, criado por lei, com perso- nalidade de direito público interno, com patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas de administração pública, ou seja, atribuições estatais específicas. Sociedade de economia mista é uma sociedade na qual há cola- boração entre o Estado e parti- culares, ambos reunindo recursos para a realização de uma finalidade, sempre de objetivo econômico. A sociedade de economia mista é uma pessoa jurídica de direito privado e não se beneficia de isenções fiscais ou de foro privilegiado. O Estado poderá ter uma participação majori- tária ou minoritária; entretanto, mais da metade das ações com direito a voto devem pertencer ao Estado. A sociedade de economia mista é uma sociedade anônima, e seus funcionários são regidos pela 12 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS CLT. Normalmente são efetivados na empresa depois de um prazo. Frequentemente têm suas ações negociadas em Bolsa de Valores co- mo, por exemplo, o Banco do Brasil, Petrobrás, e Eletrobrás. Diferem-se das Empresas Públicas, eis que nestas o capital é 100% público. Difere-se também das Sociedades Anônimas em que o governo tem posição acionária minoritária, pois nestas o controle da atividade é privado (BRASIL, DEC-LEI 200/67) Fundações públicas – são entidades dotadas de personalidade jurídica de direito público, sem fins lucrativos, criadas em virtude de autorização legislativa para o desen- volvimento de atividades de inte- resse público, como educação, cul- tura e pesquisa, sempre merece- doras de amparo legal. São criadas por lei específica e regulamentadas por decreto, independentemente de qualquer registro (BRASIL/MF, 2002). Serviços sociais autônomos - são entes privados criados por lei, com personalidade de direito priva- do, para desempenho de determi- nadas atividades, sem fins lucrati- vos, mantidos por dotações orça- mentárias ou contribuições para- fiscais. Essas entidades não inte- gram a Administração Pública, nem vêm catalogadas, entre os entes indicados pela lei de licitações e contratos, todavia, como fala Meirelles (2004), atuam ao lado do Estado, cooperam com ele, com- quanto se rejam por normas de direito privado. Entretanto, embora não se subordinem à lei licitatória, enquanto não dispuserem de regula- mentos próprios e adequados às suas finalidades, devidamente pu- blicados, deverão obediência às nor- mas gerais daquele diploma. Aqui encontramos o chamado sistema “S”- SESI, SENAIS, SENAC, SESC, SENAT, SENAR, SEBRAE, dentre outros. Princípios e Fundamentos da Administração Pública As atividades da Adminis- tração Pública Federal deverão obedecer aos seguintes princípios fundamentos que estão no artigo 6º do Decreto-Lei n. 200 de 1967. Princípio do Planejamento A ação governamental obede- cerá a planejamento que vise a promover o desenvolvimento econô- mico social do País e a segurança na- cional, norteando-se segundo pla- nos e programas gerais, setoriais e regionais de duração plurianual ela- borados através dos órgãos de planejamento sob a orientação e a 13 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS coordenação superiores do Presi- dente da República. Cabe a cada Ministro de Estado orientar e dirigir a elabo- ração do programa setorial e regio- nal correspondente a seu ministério. Ao Secretário de Planejamento cabe auxiliar o Presidente da República na coordenação, revisão e consoli- dação dos programas setoriais e regionais e na elaboração da pro- gramação geral do Governo. O planejamento compreen- derá a elaboração e atualização dos seguintes instrumentos básicos: Plano geral de governo; Programas gerais, setoriais e regionais, de duração pluri-anual; Orçamento programa anual; Programação financeira de desembolso. Compete a estrutura central de direção o estabelecimento das nor- mas, critérios, programas e princí- pios, que os serviços responsáveis pela execução são obrigados a respeitar na solução dos casos individuais e no desempenho de suas atribuições. De acordo com a Constituição Federal (1988), em seu artigo 165, os instrumentos de planejamento são: Plano Plurianual - que visa es- tabelecer, de forma regional-zada as diretrizes, objetivos e metas de Administração Pú-blica Federal para as despesas de capital e outras decorrentes e para as relativas aos pro-gramas de duração continua- da; Lei de Diretrizes Orçamentá- rias - que tem as seguintes funções básicas: 1. Estabelecer as metas e prioridades da Administração Pública Federal para o exercício financeiro seguinte; 2. Orientar a elaboração da lei orçamentária anual; 3. Alteração da legislação tributária; 4. Estabelecer a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento; e Lei Orçamentária Anual - que discriminará os recursos orça- mentários financeiros para se atingir as metas e prioridades estabelecidas pela Lei de Dire-trizes Orçamentárias e com-preenderá: 1. O orçamento/fiscal; 2. O orçamento de investi- mentos das empresas em que a União detenha a maioria do capital social com direito a voto; e, 14 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS 3. O orçamento de seguri- dade social abrangendo todos os órgãos e entidades a ela vinculadas. Princípio da Coordenação As atividades da administra- ção federal e especialmente a exe- cução dos planos e programas serão objeto de permanente coordenação e será exercida em todos os níveis da administração, mediante a atuali- zação das chefias individuais, atra- vés da realização sistemática de reu- niões com a participação das chefias subordinadas e a instituição e fun- cionamento de comissões de coor- denação em cada nível adminis- trativo (Ver artigos 8 a 9 do Decreto- lei 200/67). Princípio da Descentralização A descentralização pressupõe a existência de agentes públicos investidos de poderes necessários para exercitar a atividade pública e será posta em prática em três planos principais: 1. Dentro dos quadros da Administração Federal, distinguin- do-se claramente o nível de direção do de execução; 2. Da Administração Federal para as unidades federadas, quando estejam devidamente aparelhadas e mediante convênio; 3. Da Administração Federal para a esfera privada, mediante contratos e concessões. Em cada órgão da Adminis- tração Federal, os serviços que com- põem a estrutura central de direção devem permanecer liberados das rotinas de execução e das tarefas de mera formalização de atos admi- nistrativos, para que possam com- centrar-se nas atividades de plane- jamento, supervisão, coordenação e controle. Para melhor desincumbir-se das tarefas de planejamento, coor- denação, supervisão e controle e com objetivo de impedir o cresci- mento desmesurado da máquina ad- ministrativa, a Administração pro- curará desobrigar-se da realização material de tarefas executivas, recorrendo, sempre que possível, a execução indireta, mediante contra- tos. Princípio da Delegação de Competência O entendimento de delegação de competência pode ser traduzido como uma técnica de desconges- tionamento administrativo e será utilizada com o objetivo de asse- gurar maior rapidez e objetividade às decisões, situando os agentes públicos próximos dos fatos, pes- soas ou problemas atender. 15 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS E facultado ao Presidente da República, aos Ministros de Estado e, em geral, às autoridades da admi- nistração federal delegar compe- tência para a prática de atos admi- nistrativos, conforme se dispuser em regulamento. O ato de delegação indicará com precisão a autoridade delegante e a autoridade delegada e as atribuições objeto da delegação. Princípio do Controle O controle das atividades administrativas é um dos meios pelos quais se exercita o poder hie- rárquico, isto é, os órgãos superiores controlam os inferiores fiscalizando o cumprimento das normas e regras que regem cada sistema. Deve exer- cer-se em todos os níveis e em todos os órgãos, compreendendo, particu- larmente: 1. O controle, pela chefia competente, da execução dos pro- gramas e da observância das normas que norteiam a atividade específica do órgão controlado; 2. O controle, pelos órgãos próprios de cada sistema, da obser- vância das normas gerais que regu- lam o exercício das atividades auxi- liares; 3. O controle da aplicação dos dinheiros públicos e da guarda dos bens da União pelos órgãos próprios do sistema de contabilidade e audi- toria. Os documentos relativos a escrituração dos atos de receita e da despesa ficarão arquivados no órgão de contabilidade analítica e a dispo- sição das autoridades responsáveis pelo acompanhamento administra- tivo e fiscalização financeira e dos agentes incumbidos do controle externo, de competência do Tribu- nal de Contas. 17 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS 3. Contabilidade Pública Conceitos contabilidade é uma ciência que foi alvo de conceituação por várias escolas, como as que defendem o Aziendalismo, Con- trolismo, Personalismo, Contismo. Aziendalismo: corrente dou- trinária que tem por base a econo- mia Aziendal. De acordo com os seus adeptos, os fenômenos a estudar são os aziendais, admitindo a Contabili- dade apenas como levantamento de fatos patrimoniais, restringindo-lhe o campo. Foi chefe desta escola, na Itália, o Prof. Pietro Onida, Prof. Cralo Masini, Prof. Cuddini, Prof. Mazzini etc.; o aziendalismo tem as suas raízes em estudos desenvol- vidos há alguns decênios por Som- bart, Gromberg, Schmalenbach, Nicklish, Hoffmann e outros. Controlismo: doutrina da Conta- bilidade que teve a sua origem na segunda metade do século XIX e que considera como objeto da Conta- bilidade o controle da riqueza admi- nistrada. O método seguido no de- senvolvimento da doutrina foi o histórico. Classificou as funções do controle em: Antecedentes, Conco- mitantes e Subsequentes. Esta esco- A 18 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS la serviu de base a toda doutrina contábil de nossos dias e às mais vigorosas correntes do pensamento contábil: o Aziendalismo e o Patr-imonialismo. Teve ilustres seguido- res, como: Alfieri, Rigobon, Ghidi- glia, Vianello, Gobbis e muitos ou- tros estudiosos. Personalismo: corrente do pensa- mento contábil que adota como teo- ria fundamental a personificação das contas, o patrimônio como conjunto de direitos e obrigações e as relações dos fatos contábeis apenas sob o prisma de direitos e obrigações. Contismo: doutrina da Contabili- dade que reconhecia essa ciência como tendo por objeto as contas. Definiam a Contabilidade co- mo a “ciência das contas”. O Contis- mo deu origem ao Personalismo, pois, segundo, o Prof. Vincenzo mais os esforços de Vannier e de Marchi se fizeram sentir na direção de teo- rizar sobre contas. Grande foi a re- percussão do contismo na literatura mundial de Contabilidade, e até hoje, por incrível que pareça, ainda encontramos autores que definem a Contabilidade sob as influências contistas. O contismo foi uma das formas inconscientes do patrimo- nialismo. Grandes contistas foram: Parmetler, Massa, Gitti, que formam o trio forte dessa corrente dou- trinária (SÁ; SÁ, 1995). Contabilidade foi definida co- mo a ciência que estuda o patrimô- nio à disposição das aziendas em seus aspectos estáticos e em suas variações, para enunciar, por meio de fórmulas racionalmente dedu- zidas, os efeitos da administração sobre a formação e a distribuição dos réditos. A Contabilidade Pública é um ramo da ciência contábil e tem o objetivo de captar, registrar e inter- pretar os fenômenos que afetam as situações orçamentárias, financeiras e patrimoniais das entidades que compõem a Administração Direta e Indireta dos entes públicos (união, Estados, Municípios e Distrito Fe- deral). (KOHAMA, 2009). Para angélico (1985) Éé a disciplina que aplica, na Adminis- tração Pública, as técnicas de regis0- tros e apurações contábeis em har- monia com as normas gerais do Direito Financeiro. Para tanto, ela serve-se das contas para os registros, os controles e as análises de fatos administra- tivos ocorridos na Administração Pública e a escrituração contábil das operações financeiras e patrimoni- ais efetuar-se-á pelo método das partidas dobradas (Artigo 86 da Lei Federal 4.320/64). A Contabilidade Pública é um dos ramos mais complexos da ciência contábil e tem por objetivo 19 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS captar, registrar, acumular, resumir e interpretar os fenômenos que afe- tam as situações orçamentárias, fi- nanceiras e patrimoniais das entida- des de direito público interno, ou seja, União, Estados, Distrito Fede- ral e Municípios e respectivas autar- quias, através de metodologia espe- cialmente concebida para tal, que utiliza-se de contas escrituradas nos seguintes sistemas: Sistema Orçamentário – eviden- cia o registro contábil da receita e da despesa, de acordo com as especifi- cações constantes da Lei de Orça- mento e dos Créditos Adicionais (Artigo 91 da Lei 4.320/64), assim como o montante dos créditos orça- mentários vigentes, a despesa em- penhada e a despesa realizada, à conta dos mesmos créditos e das dotações disponíveis (Artigo 90, idem) ou seja, no final do exercício apresenta os resultados compara- tivos entre a previsão e a execução orçamentária, registrados. Sistema Financeiro – engloba todas as operações que resultem dé- bitos e créditos de natureza finan- ceira, não só das compreendidas, como também das não compreen- didas na execução orçamentária que serão objeto de registro e controle contábil (Artigo 93, idem), apresen- tando no final do exercício o resul- tado financeiro apurado. Sistema patrimonial – registra analiticamente todos os bens de caráter permanente, com indicação dos elementos necessários à perfeita caracterização de cada um deles e dos agentes responsáveis pela sua guarda e administração (Artigo 94, Lei 4.320/64), bem como mantém registro sintético dos bens móveis e imóveis (Artigo 95, idem). As altera- ções da situação líquida patrimonial que abrangem os resultados da exe- cução orçamentária, assim como as variações independentes dessa exe- cução e as superveniências e insub- sistências ativas e passivas consti- tuirão elementos do sistema patri- monial. Deverá apresentar, no final do exercício, o resultado da gestão econômica (KOHAMA, 2009). Sistema de Compensação – registra e movimenta as contas re- presentativas de direitos e obriga- ções, geralmente decorrentes de contratos, convênios ou ajustes. Muito embora seja um sistema escri- turado com elaboração de balan- cetes mensais, independentes, a Lei 4.320/64 o considerou, simples- mente, com contas de compensação e, quando forem elaborados os ba- lanços, no final do exercício, os saldos das contas serão incluídos no balanço do sistema patrimonial (Artigo 105, idem). 20 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS VALE LEMBRAR 21 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS Os Regimes Contábeis Os regimes contábeis são as normas que orientam o controle e o registro dos fatos patrimoniais. Em outras palavras (Kohama, 2009), são os princípios e convenções com- tábeis geralmente aceitos, os quais podem ser conceituados ainda como premissas básicas acerca dos fenô- menos econômicos refletidos pela contabilidade e que são a cristal- zação de análises e observações. As espécies de regime são: Regime de Caixa – destaca como receitas e despesas todas as entrada e saídas de recursos financeiros ou não, recebidos e pagos, arrecadas ou recolhidos, efetivamente durante o exercício financeiro, independente de referir-se a créditos ou a débitos de outros exercícios. Regime de Competência – destaca-se com as movimentaçõ- es orçamentárias pertencentes a fa- tos geradores efetivamente realiza- dos dentro de um exercício, com o reconhecimento e a apropriação nesse exercício, repercutindo finan- ceiramente no exercício seguinte. Regime Misto - O regime contábil no Brasil é o misto, isto é adota-se ao mesmo tempo o regime de caixa e o regime de competência. O regime misto é consagrado em nossa legis- lação financeira, pelo artigo 35 da Lei nº 4.320/64 que dispõe: Pertencem ao exercício financeiro: I - as receitas nele arrecadadas; II - as despesas nele legalmente empenhadas. Portanto, vigora para a receita o regime de caixa e para a des- pesa o de competência, na fase do empenho. Art. 50 da LRF II - a despesa e a assunção de compromisso serão registradas se- gundo o regime de competência, a- purando-se, em caráter complemen- tar, o resultado dos fluxos financei- ros pelo regime de caixa; Da Escrituração e Consoli- dação das Contas LRF Lei 101/2000: Art. 50. Além de obedecer às de- mais normas de contabilidade públi- ca, a escrituração das contas públi- cas observará as seguintes: I - a disponibilidade de caixa constará de registro próprio, de modo que os recursos vinculados a órgão, fundo ou despesa obrigatória fiquem identificados e escriturados de forma individualizada; II - a despesa e a assunção de compromisso serão registradas se- gundo o regime de competência, apurando-se, em caráter comple- mentar, o resultado dos fluxos fi- nanceiros pelo regime de caixa; 22 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS III - as demonstrações contábeis compreenderão, isolada e conjun- tamente, as transações e operações de cada órgão, fundo ou entidade da administração direta, autárquica e fundacional, inclusive empresa esta- tal dependente; IV - as receitas e despesas previ- denciárias serão apresentadas em demonstrativos financeiros e orça- mentários específicos; V - as operações de crédito, as inscrições em Restos a Pagar e as demais formas de financiamento ou assunção de compromissos junto a terceiros, deverão serescrituradas de modo a evidenciar o montante e a variação da dívida pública no período, detalhando, pelo menos, a natureza e o tipo de credor; VI - a demonstração das variações patrimoniais dará destaque à ori- gem e ao destino dos recursos provenientes da alienação de ativos. § 1º No caso das demonstrações conjuntas, excluir-se-ão as opera- ções intragovernamentais. § 2º A edição de normas gerais para consolidação das contas públicas caberá ao órgão central de conta- bilidade da União, enquanto não implantado o conselho de que trata o art. 671. § 3º A Administração Pública man- terá sistema de custos que permita a avaliação e o acompanhamento da gestão orçamentária, financeira e patrimonial. Adoção do Regime de Compe- tência: Receitas do Exercício: São aquelas ganhas (geradas, realizadas) nesse período, não importando se tenham sido recebidas ou não. Despesas do Exercício: São aquelas incorridas (materializadas, concretizadas, consumidas, utilizadas) nesse período, não importando se tenham sido pagas ou não. Fatos Geradores do Regime de Competência Despesas a Pagar: É aquela incorrida (o fato gerador ocorreu) dentro do período contábil, mas ainda não paga. Receitas a Receber: São aquelas ganhas (o fato gerador ocorreu) dentro do período contábil, mas ainda não recebidas. Despesas Antecipadas: São aquelas despesas pagas (ou a pagar) pela empresa e o fato gerador ainda não ocorreu. São despesas pagas (ou a pagar) em um período e que correspondem a período(s) seguinte(s). Despesas Diferidas: Despesas pagas (ou a pagar), incorridas, mas com benefícios ao longo do tempo. Receitas Diferidas: Repre- sentam recebimentos adiantados 23 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS que vão gerar um passivo para uma prestação de serviço futuro, ou a entrega posterior de bens. Resultados de Exercícios Futu- ros: Representa uma apuração na- tecipada de resultados que deverão ocorrer futuramente. Poderão ser classificados, neste grupo, os recebi- mentos perfeitamente caracteriza- dos como receita e em que não se exija, sob hipótese alguma, devolu- ção da importância recebida anteci- padamente, ou a obrigação de entre- gar bens ou serviços em exercícios futuros. Consumo de Ativos Permanen- tes: Os ativos permanentes, cons- tituindo-se em inversões perma- nentes, são adquiridos para ser- virem a empresa em vários períodos de sua existência, não sendo objeto de compra e venda. Como estas inversões perma- nentes irão servir a empresa por vários exercícios, não é correto apro- priar como despesa a totalidade de seu valor no momento da aquisição. A distribuição da despesa por vários períodos contábeis, do valor do ativo fixo, é feita através do pro- cedimento contábil denominado de depreciação, amortização e exaus- tão. Estoque de Produtos e outros Materiais: Os estoques de produ- tos e mercadorias que figuram no ativo de uma empresa transformam- se em despesas quando aqueles bens forem vendidos, pois são compo- nentes do custo das vendas. Os materiais adquiridos em quantidades suficientes para serem utilizados às vezes em mais de um período contábil são registrados, por ocasião da compra, em conta de ativo tomando-se despesas ou cus- tos, quando consumidos. A contabilização dos atos e fatos administrativos, bem como a elaboração dos balanços e demons- trativos contábeis, orçamentários e financeiros, obedecem às normas gerais estatuídas pela Lei nº 4.320, de 17 de marco de 1964 e a Instrução Normativa de nº 08, de 05 de no- vembro de 1993, da Coordenação Geral de Contabilidade da Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda. A Lei nº 4.320, de 17 de Março de 1964. Estatui normas gerais de Direito Financeiro para a Elabo- ração e o Controle dos Orçamentos e Balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Os principais artigos que se referem a contabilidade são: do exercício financeiro: artigos 34 e 35. do superávit financeiro: artigo 43. da contabilidade: artigos 83 a 85 e 87 a 89. 24 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS da contabilidade orçamentária e financeira: artigos 90, 91 e 93. da contabilidade patrimonial: artigos 94 a 100. dos balanços: artigos 101 a 106. A Instrução Normativa nº. 08, de 05.11.93 Aprova as normas gerais sobre o Plano de Contas da Administração Pública Federal, permitindo a identi- ficação e a classificação contábil dos atos e fatos de uma gestão, de ma- neira padronizada, uniforme e siste- matizada. A Importância da Contabi- lidade no Ciclo Orçamen- tário e os Principais Usuá- rios das Informações A Contabilidade é um instru- mento que proporciona à Admi- nistração as informações e controles necessários à melhor condução dos negócios públicos. Isto quer dizer que a Conta- bilidade Pública deve abastecer de informações todo o processo de planejamento e orçamentação e, em especial, as etapas que compõem o Ciclo orçamentário, como sejam: a elaboração, estudo e aprovação, exe- cução e avaliação dos resultados, assim como o controle e o processo de divulgação da gestão realizada. Por outro lado, a contabilidade é a principal fonte informativa dos instrumentos da chamada Trans- parência da Gestão Fiscal. Observa- se que são instrumentos de trans- parência da gestão, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: Os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; As prestações de contas e o respectivo parecer prévio; O Relatório resumido da Exe- cução Orçamentária e o Relatório da Gestão Fiscal; e, As versões simplificadas des- ses documentos (Artigo 48 da Lei Complementar n. 101/2000 – LRF). A contabilidade pública opera como um sistema integrador dos registros orçamentários, econômi- cos, financeiros e patrimoniais, com o objetivo de evidenciar todas as movimentações com vistas à pres- tação de contas que todo o agente público deve apresentar, pelo me- nos, ao final de cada exercício. Para isso aplica os princípios de conta- bilidade geralmente aceitos e as normas específicas para as organi- zações públicas. O patrimônio público constitui o campo de aplicação da Conta- bilidade Pública e registra todos os fatos administrativos decorrentes da 25 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS execução dos serviços públicos, tais como: previsão e arrecadação de re- ceitas, autorização e realização de despesas, conservação de bens, apuração de resultados, levanta- mentos de balanços, etc. (SANTOS; REIS, 2005). A arrecadação de receitas é realizada pela administração e seu produto é aplicado nas mais varia- das despesas – obras, educação, saúde, segurança, saneamento – de modo que as receitas obtidas de ca- da cidadão revertam em benefício coletivo. Para a realização dos serviços públicos, o Estado mantém um patrimônio considerável constituído por imóveis, escolas, usinas, fazen- das, museus, bibliotecas, móveis, semoventes, obras de arte, navios, aviões, veículos, créditos e valores. Esse patrimônio em seu conjunto e mais os bens de uso comum, como praças, ruas, avenidas, praias, etc., representam o que denominamos de Fazenda Pública (SANTOS; REIS, 2005). Principais Usuários das Informações Contábeis Ao estudar o campo de apli- cação da contabilidade pública é preciso levar em conta, além das regras pragmáticas da Fazenda Pú- blica relativas ao estudo do orça- mento, administração financeira ou tesouraria e crédito público, o pro- cesso do negócio público e os grupos de interesse nos negócios públicos e nas informações contábeis elabo- radas pelo governo. Em trabalho divulgado em outubro de 1985 pela Governmental Accounting Standards Boards, são reconhecidostrês tipos de usuário das informações contábeis do setor público: O cidadão, para quem o governo é o principal responsável; Os membros do Legislativo, que representam os cidadãos; Os investigadores e os cre- dores que emprestam recursos ou que participam no processo de fi- nanciamento (SANTOS; REIS, 2005). Sem dúvida, conhecer e estu- dar os tipos de usuário é uma obri- gação das intuições públicas e dos responsáveis pelo sistema contábil do governo, pois o contribuinte tem o direito de conhecer a realidade, principalmente a partir da Lei de Responsabilidade Fiscal, que esta- belece a transparência como uma das premissas básicas da gestão res- ponsável e instrumento para melhor interação entre o Estado e o cidadão. Entretanto, todos os órgãos de controle e auditoria do setor público devem ter sempre presente que para garantir a transparência é neces- 26 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS sário que os relatórios contábeis e financeiros permitam avaliar as responsabilidades, seja pelo enfoque do Legislativo e do Tribunal de Contas, seja pelo enfoque do cidadão na qualidade de usuário dos serviços públicos. GRUPOS E TIPOS DE USUÁRIOS 27 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS O Crescimento das Despe- sas Públicas Uma das características mais marcantes da economia do século XX é o crescente aumento das des- pesas públicas. Tal situação é encon- trada não apenas nos países de eco- nomia coletivizada, onde o Estado, por definição, é o grande agente econômico, mas também nas nações capitalistas, defensoras da livre iniciativa e da economia de mer- cado. Segundo Giacomoni (2007) as mais diversas correntes doutrinárias no campo da economia têm procu- rado explicar as causas que deter- minam o crescimento das despesas públicas e, assim, o próprio aumento da participação do Estado na eco- nomia. De acordo com as interpre- tações neoclássicas e Keynesianas, à medida que cresce o nível de renda em países industrializados, o setor público cresce sempre a taxas mais elevadas, de tal forma que a participação relativa do governo na economia cresce com o próprio ritmo de crescimento econômico do país. Musgrave e Musgrave (1980) listam algumas explicações para o crescimento das funções do Estado que nos levam a perceber então, ob- viamente, o crescimento das des- pesas públicas e a necessidade de uma modernização para equilíbrio das contas públicas: O crescimento da renda per capita e o aumento da demanda por bens e serviços públicos; Mudanças tecnológicas; Mudanças populacionais; Os custos relativos dos serviços públicos; Mudanças no alcance das transferências; Disponibilidades de alternativas para a tributação; Efeito limite e finanças de guerra; Fatores políticos e sociais. Em outra linha de pensamen- to, encontramos as interpretações neo-institucionais, embora sejam relativamente recentes os estudos sobre as influências institucionais, organizacionais e do comportamen- to da burocracia no crescimento do aparato do Estado. Na bibliografia brasileira não existem estudos na linha da teoria econômica da burocracia. Num pla- no mais geral estão os trabalhos de Bresser Pereira, especialmente os mais recentes, em que o autor cons- trói sua argumentação: o modo de produção capitalista (MPC), encon- trado na sua forma mais pura na In- glaterra do século passado, está sen- do progressivamente substituído pe- lo modo de produção tecnoburo- 28 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS crático (MPT), sistema dominante hoje nas sociedades soviéticas e chinesa. Nas situações intermediá- rias – países capitalistas em desen- volvimento e, mesmo, desenvol- vidos – atualmente encontram-se traços dos dois modos de produção (GIACOMONI, 2007). Diversos componentes desse sistema híbrido seriam claramente visíveis, especialmente num país como o Brasil. O capital privado é dominante, mas é evidente a progressiva ocu- pação de espaços econômicos pelo capital estatal; O mercado responsabiliza-se pela formação de alguns preços, mas boa parte deles é fixado, seja por meio dos controles e da ação monopolista do Estado, seja pelos oligopólios privados; Ao lado das classes burguesa e trabalhadora começa a surgir, de forma bem delineada, a classe tecno- burocrática, isto é, os técnicos das mais diversas áreas que, baseados no conhecimento (competência), as- cendem ao comando das organiza- ções privadas e públicas (GIACO- MONI, 2007). Todos os fatores e condi- cionantes citados nos levam a perce- ber a necessidade de definir estraté- gias para modernizar o Estado Bra- sileiro com o propósito do controle do orçamento ir além de servir como instrumento de controle, como aconteceu em quase todo período da república velha. Atribuições Econômicas do Estado De uma forma geral, a teoria das finanças públicas gira em torno da existência das falhas de mercado que torna necessária a presença do governo, o estudo de suas funções, da teoria da tributação, do controle e do gasto público. As falhas de mercado são fenômenos que impedem que a economia alcance o ótimo de Pareto, ou seja, o estágio de welfare econo- mics, ou, estado de bem estar social através do livre mercado, sem inter- ferência estatal, que são: a existência dos bens públicos que são consumidos por diversas pessoas ao mesmo tempo, exemplo: são as ruas e praças, os bens públicos são de consumo indivisível e não excludente, assim, uma pessoa adquirindo um bem público não tira o direito de outra adquiri-lo também; a existência de monopólios naturais: monopólios que tendem a surgir devido ao ganho de escala que o setor oferece, exemplo: água e energia, o governo acaba sendo obrigado a assumir a produção ou criar agências que impeçam a exploração dos consumidores; as externalidades: uma fábrica 29 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS pode poluir um rio e ao mesmo tempo gerar empregos. Assim, a poluição é uma externalidade ne- gativa porque causa danos ao meio ambiente e a geração de empregos é uma externalidade positiva por aumentar o bem estar e em tese diminuir a criminalidade. O governo deverá agir no sentido de inibir atividades que causem externali- dades negativas e incentivar ativi- dades causadoras de externalidades positivas e; o desenvolvimento, emprego e estabilidade: principalmente em economias em desenvolvimento a ação governamental é muito im- portante no sentido de gerar cresci- mento econômico através de bancos de desenvolvimento, criar postos de trabalho e da buscar a estabilidade econômica. Richard Musgrave (1974 apud Giacomoni, 2007) propôs uma clas- sificação das funções econômicas do Estado, que se tornaram clássicas no gênero. Denominadas as “funções fiscais”, o autor as considera tam- bém como as próprias “funções do orçamento”, principal instrumento de ação estatal na economia. São três as funções: Função alocativa - investir em infraestrutura econômica; bens públicos, bens mistos (tem caracte- rísticas de bens privados, mas tra- zem benefícios a público), bens meritórios (utilidade social). Ofere- cer bens e serviços (públicos puros) que não seriam oferecidos pelo mercado ou seriam em condições ineficientes (meritórios ou semipú- blicos) e criar condições para que bens privados sejam oferecidos no mercado (devido ao alto risco, custo, etc.) pelos produtores, por investi- mentos ou intervenções, corrigir imperfeições no sistema de mercado (oligopólios, monopólios, etc.) e cor- rigir os efeitos negativos de exter- nalidades. O estudo da alocação de recursos pelo Estado de utilizar então o conceito de “provisão” de bens e serviços, isto é, não são necessariamente produzidos pelo governo, mas financiados (pagos) pelo orçamento público. Funçãodistributiva – Tor- nar a sociedade menos desigual em termos de renda e riqueza, através da tributação e transferências finan- ceiras, subsídios, incentivos fiscais, alocação de recursos em camadas mais pobres da população, etc. (transferências financeiras, incen- tivos fiscais, subsídios) Função estabilizadora – A- justar o nível geral de preços, nível de emprego, estabilizar a moeda, mediante instrumentos de política monetária, cambial e fiscal, ou ou- tras medidas de intervenção eco- nômica (controles por leis, limites). O Governo intervém de várias formas no mercado. Por intermédio da política fiscal e da política mone- tária, por exemplo, é possível com- trolar preços, salários, inflação, im- por choques na oferta ou restringir a demanda. 30 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS Instrumentos e recursos utili- zados pelo Governo para intervir na Economia: Política Fiscal: Envolve a administração e a geração de recei- tas, além do cumprimento de metas e objetivos governamentais no orça- mento, utilizado para a alocação, distribuição de recursos e estabi- lização da economia. É possível, com a política fiscal, aumentar a renda e o Produto Interno Bruto (PIB) e aquecer a economia, com uma melhor distribuição de renda. Política Regulatória: Em- volve o uso de medidas legais como decretos, leis, portarias, etc., expe- didos como alternativa para se alocar, distribuir os recursos e esta- bilizar a economia. Com o uso das normas, diversas condutas podem ser banidas, como a criação de monopólios, cartéis, práticas abusi- vas, poluição, etc. Política monetária Envolve o controle da oferta de moeda, da taxa de juros e do crédito em geral, para efeito de estabilização da economia e influência na decisão de produtores e consumidores. Com a política monetária, pode-se contro- lar a inflação, preços, restringir a demanda, etc. O Orçamento Público funcio- na como um balizador na Economia. Se temos elevados investimentos go- vernamentais no Orçamento, prova- velmente o número de empregos aumentará, assim como a renda agregada melhorará. Em compen- sação, um orçamento restrito em investimentos, provocará desem- prego, desaceleração da economia, e decréscimo no produto interno bruto. Os objetivos de toda política orçamentária são corrigir as falhas de mercado e as distorções, visando manter a estabilidade, melhorar a distribuição de renda, e alocar os recursos com mais eficiência. O Orçamento tem a função de também regular o mercado e coibir abusos, reduzindo falhas de merca- do e externalidades negativas (fato- res adversos causados pela produ- ção, como poluição, problemas ur- banos, etc.). 31 32 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS 4. Referências Bibliográficas ANGÉLICO, João. Contabilidade Pública. São Paulo: Atlas, 1985. BRASIL. Consti- tuição da República Federativa, 1988. BRASIL. Decreto-lei 200 de 25 de feve- reiro de 1967. Dispõe sobre a Organização da Administração Federal, Estabelece Di- retrizes para a Reforma Administrativa e dá outras Providências. BRASIL. Lei 8.987 de 13 de fevereiro de 1995. Dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos previsto no art. 175 da Constituição Federal, e dá outras providências. BRASIL. Lei 9.074 de 07 de julho de 1995. Estabelece normas para outorga e prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos e dá outras providências. BRASIL. Lei Federal 4.320 de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. BRASIL. Ministério da Fazenda. Cap 4. Fundações públicas. Disponível em: <http://www.sfc.fazenda.gov.br/Publicac oes/PrestacaoContasPresidente/2002/Vo lum e1/014.pdf> Acesso em: 23 jul. 2010. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Gestão. Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização – GESPÚBLICA; Ca- dernos GESPÚBLICA – Desburocrati- zação - Brasília: MP, GESPÚBLICA, SEGES, Versão 1 / 2007. CHIAVENATO, Idalberto. Administração Geral e Pública. Rio de Janeiro: Campus Elsevier, 2006. COELHO NETO, Milton. Transparência e o controle social como paradigmas para gestão pública no estado moderno. In: FIGUEIREDO, Carlos Maurício; NÓBRE- GA, Marcos (orgs.). Administração Pública: direito administrativo, financeiro e gestão pública: prática, inovações e polêmicas. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. FIGUEIREDO, Carlos Maurício; NÓBRE- GA, Marcos (orgs.). Administração Públi- ca: direito administrativo, financeiro e gestão pública: prática, inovações e polê- micas. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. GIACOMONI, James. Orçamento Público. 14 ed. São Paulo: Atlas, 20007. KOHAMA, Heilio. Contabilidade Pública: teoria e prática. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2009. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 29. ed. São Paulo: Malheiros, 2004. MELLO, José Carlos Garcia de. Conta- bilidade Pública. Disponível em: <www.unifra.br/pos/gestaopublica/.../C ONTAB_PUBLIC.PDF> Acesso em: MUSGRAVE, Richard A; MUSGRAVE, Peggy B. Teoria das finanças públicas. São Paulo: Atlas, 1980. PAULA, Ana Paula Paes de. Por uma nova gestão pública. Rio de Janeiro: FGV, 2005. SÁ, Antonio Lopes de; SÁ, Ana Maria Lopes de. Dicionário de Contabilidade. 9 ed. São Paulo: Atlas, 1995. 33 ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PÚBLICAS SANTOS, Angelucci Rodrigues dos; REIS, Jorge augusto Gonçalves. A importância da contabilidade pública. IX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e V Encontro Latino Americano de Pós- Graduação – Universidade do Vale do Paraíba, 2005. SANTOS, Clezio Saldanha dos. Introdução à Gestão Pública. São Paulo: Saraiva, 2006. SLOMSKI, Valmor. Manual de Contabi- lidade Pública: um enfoque na conta- bilidade municipal. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2003. 03 4