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81 - A emoção corinthians - Juca Kfouri

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=====,lIITURAS~=
ffi[f~~~
Juca Efouri
DEDALUS - Acervo - FFLCH-HI
A emocao corinlhians.905
T912
v.81
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21200041246
,
Coleção Tudo é História
• História Política do Futebol Brasileiro - Joel Rufino dos
Santos
A EMOÇÃO CORINTHIANS
./'
'rOMBO: 11959'7
mIIIDI
SBD-FFLCH-USP
IWS3r
40 anos de bons livros
Copyright ©Juca Kfouri
Capa:
Newton Mesquita
Fotos: 1 a 7 - Revista Placar, Editora Abril.
8 - Agência Estado.
9 a 2S - RevistaPlacar, Editora Abril.
Revisão:
Elvira da Rocha
Vladimir A. Sachetta
~os
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b Ob 10 60·t/
'+tr
1lP
editora brasiliense s.a.
01223 - r. general jardim, 160
são paulo - brasil
1'1\
II
11
•
ÍNDICE
PRIMEIRA PARTE
Perdão, objetividade 7
A glória que Pelé não teve 10
No Mineirão nunca mais 14
No Maracanã nunca mais 17
E no Morumbi? Bem, no Morumbi... 19
No Beira-Rio nunca mais . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 22
Um é ótimo, dois é estupendo, três é magnífico. 2S
Não chorem por mim, Osmar e Mauro . . . . . . .. 30
a fantasma corintiano .. . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 32
a Corinthians precisa ser explicado? ... . . . . .. 34
SEGUNDA PARTE
a torcedor dentro do campo. . . . . . . .. . . . . . . . 42
A pequena grande história. . . . . . . . . . . . . . . . .. S9
Jf
Para o André, Daniel e Camila, os três corin-
tianinhos mais querido do mundo; "
para a minha mãe rubro-ríegra, porque afinal
ninguém é perfeito;
para o velho que me ensinou a maravilhosa pai-
xão pelo futebol;
e para a Ledinha, companheira que, além de
tudo, ajudou a fazer de 19"77um ano inesquecível.
~
PRIMEIRA PARTE
PERDÃO, OBJETIVIDADE
Esta história, diferente de tantas outras, não
tem começo, meio e fim.
Não tem começo porque principia numa data
muito especial para toda a geração que nasceu da
década de 50 para cá. Não tem meio porque está em
pleno curso e não tem fim porque se pretende eterna.
É a história do nosso Corinthians.
Será uma heresia, talvez, dizer que o início dela
não foi em 1910, ano da fundação do clube mais
apaixonante do país. Mas, para nós, não.
O nosso Corinthians nasceu numa linda, ines-
quecível noite do dia 13 de outubro de 1977, exatos
22 anos, oito meses, sete dias, quatro horas e 36
minutos depois de o alvinegro ter conquistado o úl-
timo título paulista de sua vida, num longínquo 6 de
fevereiro de 1955, ganhando, assim, o campeonato
de 1954, o dol V Centenário.
8 Juca Kfouri
Gol de Basílio. Gol da libertação.
I
A Emoção Corinthians 9
Foi aos 36 minutos do segundo tempo, contra a
Ponte Preta, no Morumbi, que nasceu o novo Corin-
thians, o nosso, o vitorioso. Seu fundador chamava-
se Basílio, a quem ainda haveremos de homenagear
erguendo uma estátua no meio da avenida Paulista.
Seu gol, o gol da libertação, responsável por
uma explosão popular jamais vista, foi sofrido, sua-
do, arrancado do fundo do peito, foi heróico como
são os grandes momentos, foi assim:
Zé Maria cobrou uma falta na altura do bico
direito da grande área, centrando a bola na marca do
pênalti. Basílio cabeceou quase na pequena área
para Vaguinho que chutou de esquerda no travessão.
A bola voltou para Vladimir, que cabeceou na ca-
beça de Oscar, na frente do gol vazio. O rebote foi
apanhado pela santa perna direita de Basílio.
O delírio foi indescritível e suas imagens estão
até hoje embaçadas. Um grito tomou conta da cidade
na madrugada da sexta-feira: "Corinthians cam-
peão! Pau no eu do meu patrão!".
Ninguém foi trabalhar.
I .a '
A GLÓRIA QUE PELÉ NÃO TEVE
Quem' veio ao mundo em 1910 (ano oficial da
fundação, certo?) gosta de futebol e viu Pelé nascer
em 1940, sabe que naqueles trinta anos nada menos
do que onze títulos paulistas foram morar no Parque
São Jorge.
Quem continuou a acompanhar futebol até 1956
- ano em que ele começou no Santos - sabe que
naqueles 16 anos mais quatro campeonatos paulistas
foram ganhos pelo Corinthians.
Quem viu Pelé jogar até encerrar a carreira no
Brasil, em 1974, sabe que naqueles 18 anos o Corin-
thians não ganhou nenhum título importante.
Tudo começou num domingo de 1957. A torcida
corintiana lotava a Vila, Belmiro para ver seu time,
invicto: há 35 jogos, e nem ligava para um crioulinho
de apenasI? anos. Afinal, lá estavam Gilmar, Olavo,
Cláudio, Luizinho, os grandes campeões do IV Cen-
tenário, uma conquista ainda bem viva.
, .'
A Emoção Corinthians
o jogo era o penúltimo de um campeonato em
que o Corinthians esteve sempre na liderança. Era
ganhar do Santos, bater no São Paulo e pronto!
Já se jogava o segundo tempo, e gol que é bom
não saía. O tal Pelé não fazia nada e parecia até que
voltara machucado à partida. Olavo era um paredão
e assustava o garotinho.
De repente, não mais, o negrinho investe para
cima dele, faz uma falta desnecessária, irritante mes-
mo, o experiente zagueiro perde a cabeça, e os dois
vão expulsos.
Minutos depois o ponta-direita Dorval entra pela
região em que Olavo deveria estar e dá a vitória ao
Santos.
Ali o Corinthians começava a perder o campeo-
nato (depois se saberia que era mais um campeo-
nato), e Pelé deixava claro que já entrava no segundo
tempo c9m a firme determinação de causar a expul-
são de Olavo.
Depois, o crioulinho, cada vez mais crescido e
melhor, começava a se fazer presente no angustiante
drama corintiano. E como!
Os anos foram passando sem que ninguém desse
muito pela coisa. Mas o fato é que o Santos não
perdia para o Corinthians. Quem estivesse atento,
porém, perceberia que sempre que jogavam, o nú-
mero 10 santista era o primeiro a entrar em campo.
No mínimo, uma pessoa estava atenta. Era ele, o
Pelé.
Terá sido culpa de Ari, que foi responsável pela
ausência nos dois primeiros jogos do Brasil na Copa
11
'[
12 Juca Kfouri
~os
...J
UJoz«
::;;
o algoz só não teve um orgulho.
A Emoção Corinthians 13
de 58, ao machucâ-lo num simples amistoso prepa-
ratório? Ou terá sido o espírito do grande artista que
adorava jogar com casa cheia?
Até hoje não se sabe. Só se sabe que em toda era
Pelé o Corinthians jejuou. Só se sabe que das 41
partidas que disputou contra o Corinthians Pelé ga-
nhou 23 e perdeu apenas cinco. Só se sabe que ne-
nhum outro time sofreu tantos gols dele, nada menos
que 49.
A verdade é que torcida alguma padeceu tanto
com ele como a corintiana. Nenhuma outra torcida
chegou a torcer para que ele fosse vendido ao exterior
depois que marcou os quatro gols santistas num jogo
que acabou empatado. Ninguém pôde jamais olhar
para ele como na noite de 6 de março de 1968,
quando Paulo Borges e Flávio quebraram o tabu de
onze anos sem vitórias sobre o Santos, e dizer: "É,
Pelé, dessa vez você perdeu".
E foi por isso tudo que nunca uma torcida foi
capaz de amá-lo e odiá-lo tanto. Ou de desejar que
seu milésimo gol fosse feito numa partida em que o;
Corinthians ganhasse por 5 a 1.,",<~
É também por isso que só o corintiano poderá
dizer ao maior jogador de todos os tempos: "Penas,
Pelé, que pena. A única glória que você não poderá
contar a seus netos é a de ter visto, de dentro do
.campo.. a massa corintiana explodir seu grito' de
campeã ... ".
(O complemento da frase fica por conta do es-
tado de espírito de cada corintiano, Tanto pode ser
"que pena", "azar seu" ou ·"bem feito.). •
li!
NO MINEIRÃO NUNCA MAIS
•
Corria o ano de 1969. A campanha corintiana
na então chamada Taça de Prata - um verdadeiro
Campeonato Brasileiro - era empolgante.
Em dezembro, a dúvida: matar o simulado no
cursinho e ir a Belo Horizonte ver a final contra' o
Cruzeiro ou não?
Prevaleceu o bom senso.
O jogo estava marcado para domingo, como
devem ser as grandes decisões. A caravana partiu do
Parque São Jorge, exatamente à meia-noite do sá-
bado.
Eram, digamos modestamente, coisa de 60 ôni-
bus. Bàndeiras desfraldadas na Fernão Dias, urp.
sem-número de restaurantes literalmente saqueados
no caminho, e aquele crioulo ao lado não abria a
boca. A algazarra não lhe dizia respeito. Azar.
A chegada na capital mineira foi épica. Por
onde passava a cruzada alvinegra as janelas se abri-
A EmoçãoCorinthians
ramo O Corinthians acordava a cidade, ali pelas sete
da matina.
Os cruzeirenses desdenhavam, os atleticanos
jamais.
Mineirão tomado, um gol deles. Eram tempos
de Piazza, Tostão, Dirceu Lopes, um inferno. A
gente reagiu, empatou, foi roubado e tomou o se-
gundo, uma jogada diabólica do Dirceu, driblando
Ditão e Luís Carlos e deixando o Ado a ver navios.
Uma catástrofe.
A humilhação maior, porém, ainda estava por
acontecer. Em São Paulo, no Morumbi, o Palmeiras
batia o Botafogo e assim, com a nossa derrota, eram
campeões os inimigos mais tradicionais. Fazer o quê?
Nossa heróica caravana saiu do estádio can-
tando Palmeiras campeão, só para irritar os minei-
ros, numa demonstração de como o bairrismo atinge
as raias da loucura total.
. A provocação rendeu. Apedrejaram o ônibus,
quebraram todas as janelas, houve quem reagisse,
todo mundo pra delegacia. Horas depois, toca o arre-
medo de veículo estrada afora, no duro caminho da
volta amarga.
Os restaurantes, precavidos, estavam fechados.
Lá pelas tantas da madrugada, a mão negra aperta a
perna, e o crioulo fala pela primeira vez, cúmplice,
arrasado: "Esse time só me dá problemas. Gastei 3S
cruzeiros que não tinha, briguei com minhas duas
muié para vir e dá nisso. É broca, irmão".
Incontinenti se põe de pé e solta o berro, gutu-
ral, do fundo d'alma: "É o Coringão, caralho!". ,/,<
15
16 Juca Kfouri
A solidariedade é geral, irrestrita. Todo o ôni-
bus assume o gesto e povoa a noite com o grito de
guerra. Mais. Em pleno Anhangabaú, ao raiar da
segunda-feira paulistana, no coração da cidade que
tinha seu campeão mais uma vez errado, a caravana
entrava festiva, corintiana, para o pasmo dos pas-
santes, incrédulos indo ao trabalho, como se uma
delegação de marcianos acabasse de desembarcar.
A promessa ·foi feita naquele momento, en-
quanto o Corinthians não for campeão nunca mais
para o Mineirão,
Deu para entrar na faculdade. Foi uma má
troca.
, Jl
NO MARACANÃ NUNCA MAIS
Três anos depois tudo se repetiria. Uma cam-
panha brilhante, com Sicupira fazendo pela direita o
que Rivelino fazia na esquerda, levou o Corinthians
ao Maracanã para disputar a semifinal contra o Bo-
tafogo. Um empate seria suficiente para chegar à
finalíssima contra o Palmeiras ou o Internacional
que, na mesma quarta-feira, jogavam em São Paulo,
com os gaúchos brigando pelo empate.
A ida ao Rio só foi decidida na hora do almoço
de um dia de trabalho normal. O chefe entendeu as
razões superiores, e o Volks vermelho voou pela Du-
tra, chegando às arquibancadas pouco antes do iní-
cio das hostilidades.
Saímos na frente, e no intervalo os planos se
resumiam a Porto Alegre no domingo, pois o Inter
também vencia no Pacaembu.
Então, a desgraça. Um desses amigos famosos
pelo pé-frio descobre aquele cantinho do maior está-
18 Juca Kfouri
dio do mundo e incorpora-se ao sonho da derradeira
cartada nos pampas. Foi o bastante.
Enquanto o Palmeiras virava o jogo para 2 a 1,
o Botafogo fazia o mesmo, não sem a ajuda do juiz
pernambucano que, entre outros crimes, anulou um
gol de Baldochi no último minuto, legitimamente
feito com a mão.
Na volta, comAOO quilômetros de desespero e
sono pela frente, uma parada no Bob's da avenida
Brasil para o pior queijo-quente jamais engolido e
uma vontade louca de morrer na serra.
Como enfrentar a vida daí para frente? Como
enfrentar a cara dos companheiros de trabalho na
quinta-feira praticamente sem dormir?
Maracanã? Maracanã nunca mais enquanto o
Corinthians não fosse campeão.
!f
E NO MORUMBI?
BEM, NO MORUMBI. ..
E daí veio o ano de 1974. Fazia 20 anos ...
O Corinthians havia ganho o primeiro turno do
Campeonato Paulistà ao vencer o São Paulo por 1 a
O, gol de Zé Roberto.
Logo no primeiro jogo do segundo turno, no
Parque São Jorge, contra o Botafogo de Ribeirão
Preto, um espigado estudante de medicina com o es-
tranho nome de Sócrates faz um lançamento longo
para o centroavante Geraldão que acaba na rede
corintiana.
Rivelino corre para o bandeirinha e reclama
impedimento. O infeliz não atende a justa reivindi-
cação e é, por assim dizer, agredido.
O time desmorona ante a perspectiva do julga-
mento resolver pela suspensão do único tricampeão
titular alvinegro e faz péssima campanha.
Afinal, Riva é absolvido e poderá jogar a final
20 Juca Kfouri
contra o Palmeiras, vencedor do returno. Houve
quem dissesse ser errada a decisão mas, sabe-se, não
se erra a favor do povo.
O primeiro jogo decisivo acabou 1 a 1, no Pa-
caembu. O segundo, disputado num feio domingo
cinzento, foi no Morumbi e foi trágico.
Contam os nossos pais que nunca houve tragé-
dia tão grande como a derrota do Brasil para o
Uruguai em 1950, no Maracanã. Pode ser.
Quem, porém, estava no Morumbi na nublada
tarde de dezembro de 1974 viveu, no mínimo, a
mesma situação.
Só tinha corintiano no estádio. A nação disse
presente, em peso.
Desgraçadamente, o gramado, recém-plantado,
estava muito alto, fofo mesmo, e as pernas dos nossos
jogadores pareciam pesar quilos e quilos.
Era tão certa a vitória do Corinthians que até os
jogadores do Palmeiras - Luís Pereira, por exemplo
- cumprimentaram .os futuros campeões antes do
jogo começar. Depois, pensavam, seria impossível.
O primeiro tempo foi arrastado e acabou sem
gols. No segundo, o desastre. Gol do Palmeiras. Ro-
naldo, primo do Tostão, com a bola ainda resvalando
nas mãos do goleiro argentino Buttice. Era ° fim.
O título escapou outra vez, a pequena torcida
alviverde presente teve respeito e sensibilidade para
sequer fazer barulho, Vaguinho chorava em campo,
Rivelino acabaria escorraçado do Parque São Jorge
com a injusta fama de covarde, e a saída do .estâdio
mais parecia um macabro cortejo fúnebre. O silêncio
A Emoção Corinthians
só era cortado pelo som abafado, surdo, impressio-
nante de 200 mil solas de sapato se arrastando pelo
chão.
Infelizmente, e já por razões profissionais, o
Morumbi ficou sem promessa. Mesmo porque seria
impossível cumpri-Ia.
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o:w
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-I.
~
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Gol do primo de Tostão. Fazia 20 anos.
21
\ ~I
'NO BEIRA-RIO NUNCA MAIS
Nada como um ano depois do outro e, em 1976,
lá estávamos nós novamente.
A final que o amigo pé-frio fizera questão de
abortar três anos antes ia, enfim, se realizar em
Porto Alegre, contra o Inter, que lutava pelo bicam-
peonato brasileiro.
Uma semana antes desse jogo, no entanto, o
mundo assistiu à maior demonstração de paixão
coletiva jamais ocorrida.
Nada menos que 70 mil fiéis racharam o Mara-
canã ao meio com a torcida do Fluminense e, eufó-
ricos, transpuseram as sete horas que separam o Rio
de São Paulo trazendo a classificação para a fina-
líssima.
A promessa de não ir ao Maracanã foi mantida
a duras penas, e se arrependimento matasse ...
Mas o Beira-Rio ainda não tinha sido alvo de
semelhante homenagem. Ainda.
A Emoção Corinthians
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23
A invasão do Maracanã.
24 Juca Kfouri
Toca para a capital gaúcha onde, como era de se
esperar, os donos da casa ganharam o jogo por 2 a O,
apesar de levarem duas bolas na trave e de terem
feito o segundo gol, quando o Corinthians encurra-
lava, numa falta inexistente batida por Valdomiro
que só a tevê, em câmara lenta, mostra que a bola
entrou pouco mais de um palmo. O juiz não viu, nem
o bandeirinha, só que o danado do auxiliar correu
para o meio do campo. _
Foi uma loucura. Os 10 mil heróis que viajaram
para Porto Alegre, que ficaram expostos ao sol incle-
mente do verão gaúcho desde o meio-dia até o co-
meço do jogo, que sofreram com o corte de água nos
banheiros que serviam o setor onde estavam, resol-
veram bagunçar a guerra.
O Inter não podia bater escanteio na frente deles
porque o foguetório não o permitia. A arquibancada
do Beira-Rio parecia a Roma de Nero, tantas eram as
fogueiras que marcavam o protesto dos fiéis. Por
muito pouco a torcida alvinegra não consegue melar
um jogo em pleno território inimigo.
Os vice-campeões foram recebidos com festa no
dia seguinte, e o Beira-Rio teve a honra de ser brin-
dado com a mesma promessa que seusirmãos de
Minas e do Rio já ostentavam.
Jl
UM É ÔTIMO, DOIS É ESTUPENDO,
TRÊS É MAGNÍFICO
Promessas feitas, promessas cumpridas. O ano
da graça de 1977 veio marcar a liberação, como já foi
contado.
E era só o começo dos novos tempos.
Mas convém fazer ainda algumas justiças à con-
quista que marcou o fim do sofrimento.
Como, por exemplo, a dois personagens funda-
mentais daquela passagem épica: Palhinha e Os-
valdo Brandão.
Brandão havia sido o técnico em 1954 e 22 anos
depois conseguiu imortalizar-se definitivamente.
Palhinha veio do Cruzeiro e fez o único gol da
primeira partida decisiva contra a Ponte, um gol com
a cara e a coragem, depois de entrar na área, chutar
para a defesa parcial do goleiro Carlos e receber o
rebote em cheio no rosto, mandando a bola para o
fundo das redes.
26 Juca Kfouri
A Emoção Corinthians
"
Biro-Biro e Casagrande,
campeões em 1982.
27
No jogo seguinte, quando mais de 13S mil corin-
tianos quebraram o recorde de público do Morumbi,
o Corinthians perdeu por 1 a 2 e ficou sem Palhinha,
que sofreu uma distensão, transformando o terceiro
jogo num drama sem igual.
Foi então que a dupla Brandão/Palhinha apa-
receu plenamente. O velho treinador aproximou-se
do craque veterano" e perguntou, ao vê-lo sair do
departamento médico: "Como é, dá para jogar de-
pois de amanhã?" .
A resposta veio rápida e reticente: "Acho que
não. Dói até para andar, seu Brandão".
O técnico, que vivia a angústia de um câncer no
filho único, apelou: "Dói para andar? Ah, então você
vai poder jogar. Dura é a minha dor, que sequer
pode levantar da cama" .
. Palhinha ficou tomado e, apesar de ter plena
consciência de que não suportaria jogar, passou a ser
o principal estimulante do time, arrancando de cada
companheiro o compromisso de que morreriam em
campo se fosse preciso para dar o título a Brandão.
Assim foi feito.
Em 1978 outro clube foi campeão e isso não teve
a menor importância ..
Já em 1979 ...
Bem, nesse ano, mais precisamente em 1980,
a festa foi novamente corintiana.
O Palmeiras era a melhor equipe e por isso foi ne-
cessário que Vicente Matheus, presidente alvinegro,
melasse a decisão que estava prevista para dezembro,
fazendo com que se realizasse só em janeiro, após as
A eternidade para Osvaldo
Brandão em 1977.
28 Juca Kfouri
férias dos jogadores, quando o entrosamento do con-
junto inimigo já não pudesse ser o mesmo do final da
temporada.
A artimanha deu certo, certíssimo. Ganhamos
dos palmeirenses nas semifinais e fomos pegar outra
vez a Ponte Preta, pobre dela.
Não houve sofrimento, então. A primeira par-
tida ficou num proyidencial O a O e, na segunda, a
dupla formada pelo agora renomado Doutor Sôcra-
tes e Palhinha liquidou a pinimba com um golaço de
cada um.
Surgiram dois lemas na cidade: "Ano sim, ano
não, Corinthians campeão" e "Já tô com o saco cheio
de ser campeão".
O resto daquele ano que começara tão bem pas-
sou inteiramente sem novidades dignas de registro.
Veio 1981. Ano de sim, pois não.
Um descuido imperdoável, no entanto, levou a
nau corintiana ao naufrágio total, incapaz até de
classificar-se para a Taça de Ouro do ano seguinte.
Era preciso mudar, apagar os resquícios pré-histô-
ricos que teimavam conviver no Parque São Jorge.
O começo de 1982 encontrou o glorioso em si-
tuação humilhante. Não restava outra alternativa
que não a de disputar a Taça de Prata. "Por que o
Corinthians não é um Flamengo?", perguntava opor-
tunamente a revista Placar, para obter a atrevida
resposta do jovem e barbudo diretor de futebol Adíl-
son Monteiro Alves: "Time por time somos melho-
res".
Verdade que ele, um sociólogo nas horas vagas,
A Emoção Corinthians
não explicava por que então um era campeão mun-
dial e o outro estava na Taça de Prata.
Por conta da petulância, tome pau.
Mas são insondáveis os mistérios do futebol. O
Corinthians não só arrancou-se logo da Taça menor
como acabou a de Ouro em honroso terceiro lugar,
numa metamorfose nunca antes imaginada, benefi-
ciado pelo regulamento que permitia tais peraltices e
por uma garra comovente.
O Campeonato Paulista foi sopa. O Corinthians
ganhou o primeiro turno com três rodadas de ante-
cedência, perdeu o segundo no olho mecânico para o
São Paulo e foi ganhar sua primeira decisão, em 28
anos, contra um grande, velho rival,
Tudo saiu como devia. 1 a O, gol de Sócrates, no
primeiro jogo, e 3 a 1 no último, com dois gols de
Biro-Biro e um de Casagrande. O estádio tricolor,
palco das finais, passou a ser chamado de Morurn-
biro e o cartão de Natal chegou à redação de Placar
irônico, ferino, feliz:
"Porque não queremos ser um Flamengo." As-
sinado, "Adílson".
Jf
29
NÃO CHOREM POR MIM,
OSMAR E MAURO
A tevê ali na frente parecia transmitir um sonho.
Será que o Maracanã era mesmo no Rio? parece ter
mais preto e branco do que tricolor!
Em campo, o Fluminense de Rivelino fazia 1 a
O. Mas Ruço, o justiceiro, foi lá na área deles e, de
meia-bicicleta, empatou. Chovia até mais não poder,
o que ajudava o time menos técnico, mais coração.
Vieram os pênaltis para desempatar o dilúvio.
Ganhamos, pós ganhamos da máquina.
Agora é correr pela Marginal que o trabalho
espera na redação. Mas como chove também em São
Paulo!
Rádio ligado, Osmar Santos manda o seu re-
cado: "O que será que me dá, Corinthians, que me
transborda o peito, que me desacata ... ", No fundo,
Mílton e Chico.
Melhor parar o carro no acostamento, chove
31A Emoção Corinthians
demais, está tudo embaçado e ainda por cima este nó
na garganta: "O que será que me dá, Corinthians ... "
Tempos depois, Morumbi. Em pé, o povão can-
ta o hino: "Salve o Corinthians, o campeão dos cam-
peões ... ". Em pé, cadê a nitidez que estava aqui
agora mesmo? A bola rola parece: "Basílio, Basí-
lio!" .
O rapazinho ainda imberbe, assustado com a
palidez, pergunta: "O senhor está se sentindo bem?".
"Como nunca, como nunca", é a resposta.
Fim de jogo. Faixa de campeão por um preço
extorsivo, invasão do gramado, ninguém arreda pé
do Morumbi. Fora dele, o trio elétrico, vindo dire-
tamente de Salvador.
Atrás do trio elétrico, pegar a mulher amada e
pé-quente, barriguda ainda por cima, corre carrinho,
vai por cima da calçada, rádio ligado, olhaí o Osmar
de novo. Muda de estação se não o vexame se repete e
adeus trio elétrico, mulher amada e barriguda, pé-
quente ainda por cima. Comentários de Mauro Pi-
nheiro, inesquecível: "Eu quero pedir licença aos
caríssimos ouvintes para prestar uma homenagem a
um corintiano que deve estar enlouquecido em algum
canto do estádio. É a primeira vez que ele vê o
Corinthians campeão. É um jovem companheiro
nosso, o ... " .
Carro parado, cabeça debruçada no volante, até
já trio elétrico, mulher barriguda e pé-quente, ama-
da ainda por cima.
Jl
o FANTASMA CORINTIANO
Era uma vez um fantasma. Um fantasma da-
nado que adorava ver o povo triste e cabisbaixo.
Como mandava o figurino, durante anos - para
ser mais exato, durante onze longos anos -, ele se
vestia impecavelmente de branco. Foi um duro pe-
ríodo para o povão e a esse tempo convencionou-se
chamar de tabu. .
Um dia, ou melhor uma noite, uma gloriosa
noite de março de 1968, esse fantasma foi embora,
expulso pelos hábeis pés de Paulo Borges e. Flávio.
Foi um alívio na cidade. .
Ninguém mais acreditava em fantasmas. Estava
tudo pronto para o início de novos tempos.
Que engano, quanta desilusão! Não é que mal
tinha passado um ano e o danado do fantasma rea-
pareceu, em Belo Horizonte, no Mineirão, vestido de
azul e branco para roubar a Taça de Prata das mãos
do Timão?
A Emoção Corinthians 33
Ah, fantasma cruel. Quer dizer então que mu-
dar de cor, descobriu a Fiel.
E assim foi ainda por muitos e muitos anos."
Quando menos se esperava, fosse onde fosse,
tava lá o desgraçado.
Apareceu em 1972, no Maracanã, com uma es-
trela solitária no peito, quando bastava o empate. E
olha que até Sicupira o Timão tinha para enfrentá-lo.
Depois, em 1974, no Morumbi, o fantasma deu de
novo o ar de sua desgraça, travestido de verde e bran-
co, nos pés de um tal Ronaldo, calando 100mil vezes,
a cidade inteira. Foi uma tristeza. Chorou-se tanto
que até os inimigos sentiram dó..E não parou por aí.
. O fantasma vestiu-se também de vermelho e
branco, naquela tarde quente do Beira-Rio, man-
dando pro espaço mais um sonho de título nacional,
em 1976.
Definitivamente o fantasma parecia incorporado
à vida do Corinthians, e só os mais fanáticos acredi-
tavam que a tragédia um dia terminaria.
Mas, diz a crendice popular, não há mal que
sempre dure, não há derrotas definitivas para o povo.
E veio a desforra. Foi uma noite inesquecível a-
quela, a de 13 de outubro de 1977. Basílio, o imortal,
chutou para a lata do lixo da História 22anos de terror.
Naquela noite, enfim, como aconteceria na de
fevereiro de 1980 e na tarde de dezembro de 1982,
o fantasma surgiu, novamente de branco mas, tam-
bém, de preto.
Tinha descoberto seu destino e era maravilho-
samente corintiano.
o CORINTHIANS PRECISA
SER EXPLICADO?
Talvez sim, talvez não. Explicar o corintianismo
tem sido um desafio de mais de 70 anos, e poucos
tiveram a sensibilidade para chegar perto da expli-
cação.
Antes de mais nada, para entender o Corin-
thians é fundamental ser corintiano. Parodiando o
poeta, ser corintiano é fundamental.
Não é à toa que vamos recorrer aqui a alguns
escritos de eminentes alvinegros, gente que, mesmo
não torcendo para o Corinthians em função de qual-
quer fatalidade que lhe tenha acontecido na infância,
assume uma postura corintiana. Gente que, por-
tanto, bota para escanteio a teseelitista da alienação.
Nossos pobres intelectuais sempre bateram nes-
sa tecla para explicar o futebol e o carnaval, as duas
mais autênticas manifestações culturais do brasi-
leiro. Na falta do pão, o circo - sempre, ao ver
35A Emoção Corinthians
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36 Juca Kfouri
deles, manipulado pelo Poder.
Essa má compreensão chegou ao seu clímax
quando o Brasil ganhou o tricampeonato em plena
ditadura Médici, nos tempos do "milagre". É inegá-
vel que o general faturou a conquista e tentou se
popularizar com a imagem do presidente que ia aos
estádios com radinho de pilha colado no ouvido,
mas, é inegável também que a História registra com
muito mais generosidade a participação de Pelé, Tos-
tão, Gérson e companhia do que a do ditador.
Nunca será demasiado repetir que o Brasil ga-
nhou duas Copas em períodos democráticos, com
Juscelino Kubitschek e João Goulart, e nem por isso
ambos escaparam de morrer com seus direitos polí-
ticos cassados. Ou que a Itália foi bicampeã em
1934/38, em plena época de Mussolini, que acabou
sendo dependurado, por sua própria gente, de ca-
beça para baixo, após ser fuzilado.
Futebol não é alienação, ao contrário. Ele mobi-
liza, ele reúne, ele é meio para que as pessoas se
organizem e sintam sua força enquanto coletividade.
Não terá sido por acaso, só como um exemplo qual-
quer, que a primeira faixa pela Anistia no Brasil a
aparecer para um grande público tenha sido desfral-
dada exatamente no meio da torcida corintiana,
numa partida contra o Santos, no Morumbi com
mais de 110 mil pessoas, dia 11 de fevereiro de 1979.
Mas vamos aos testemunhos de corintianos ilus-
tres sobre o corintianismo e a alienação que eles são
suficientemente esclarecedores.
Comecemos por Paulo Evaristo, cardeal Arns,
A Emoção Corinthians
1
em sua "Pastoral ao Povo Corintiano", publicada em
Placar Extra, n~390-A, 14/10/77:
"Corinthians, para nós, era o símbolo mesmo
da esperança. E ainda o é. Agora, mais do que
nunca" ( ... )
"De fato, ao ver as bandeiras agitarem-se, co-
brindo totalmente as arquibancadas, tínhamos
a impressão de que o Corinthians jogava sozi-
nho por todo o Brasil. Que só existia alvinegro
em campo."
"O Corinthians é mesmo o símbolo do povo
que não chega lá. Do povo que sofre todas as
decepções, desde as mais legítimas, como tam-
bém as de seus sonhos. Mas é um povo que
agüenta. Que é humilde. Povo que se abate, mas·
que, ao mesmo tempo, sabe que precisa reco-
meçar. E recomeça mesmo! Está presente em
todas as lutas. Recomeça" (... )
"É isto o espelho do povo? Ou a sua realidade
mesma? Ou ainda, alienação desta realidade,
para refugiar-se em alguma coisa que se passa
no campo, mas que tem interferências incalcu-
I' .?" ( )avelS. ...
"Tenho certeza de que a vitória do Corin-
thians deve levar a vitórias essenciais na vida.
E vai levar a tanto. Acreditamos, sempre de
novo, nesta era que está para chegar em favor do
povo, com a participação do povo e criada pelo
mesmo povo".
"E o nosso Corinthians talvez seja o símbolo
37
38 Juca Kfouri 39
para tanto. "
Neste mesmo Placar, o corintiano jornalista Cel-
so Kinjô pergunta e responde com raro brilho:
"O time entra em campo, e basta isso para
realizá-lo. Nada de triunfalismos, pois o corin-
tiano de fé aprendeu que, para subir, é preciso
descer. Por isso, ele tanto se entrega à euforia
mais deslavada - por mesquinhos dois pontos
de campeonato - quanto mergulha na mais
cava depressão - por qualquer ordinário fra-
casso. É uma paixão, enfim, que a razão nunca
haverá de entender, ou explicar - e o que é a
razão, se não um civilizado disfarce para ocultar
verdades Íntimas?" ( ... )
"Ali, no meio do povo, o torcedor vira gente,
cidadão de primeira classe, deixando o anoni-
mato da vida para ser alguém entre seus iguais."
( ...)
"Corintiano de fé é tudo isso e muito mais ..
Não há como explicar, pelos lineares traços da
lógica, os mistérios dessa mística. O que vale é
saber, no jogo da vida, que torcer é dar passa-
gem às emoções, é trazer o coração para fora,
emotivo e pulsante. Pois, apesar de tudo o que
. possam dizer, essa paixão só lhe dá alegria."
Um cardeal, e que cardeal, um jornalista consa-
grado, dois corintianos de muitos anos. O que dirá
um ponte-pretano (e nada é mais parecido com um
A Emoção Corinthians
corintiano) capaz de entender a nossa alma?
Coma palavra o jornalista e escritor genial Re-
nato Pompeu, em Veja, n? 475, de 12/10/77:
"E onde está a alienação? Na verdade, apre-
ciar o Corinthians é uma experiência estética e
emotiva comparável à leitura de um grande ro-
mance, ou à visão de um grande filme, ou peça.
Inclusive, não basta o 'conteúdo' - ganhar o
jogo -, é necessária uma 'forma' à altura - 'es-
crever' 'dirigir' ou 'atuar' bem, dar um bom len-
çol, organizar uma jogada com participação de
seis ou sete jogadores por todos os cantos do
campo adversário. Afinal, o leitor ou espectador
'torce' por Hamlet, diante da obra de Shakes-
peare. Assim, a alienação fica por conta do pla-
no simbólico com o plano real. Mas também o
Dom Quixote, de Cervantes, que lidava com
literatura, confundiu o simbólico com o real e
foi caçar moinhos de vento. E que mal há em ser
Dom Quixote? - ou corintiano doente?".
Que mal há, principalmente,- se, no caso do
corintiano como no da utopia, a vocação desse Dom
Quixote é vencer sempre? Ou não é?
Para o sociólogo Sérgio Miceli, no Jornal do
Brasil de 13/12/76,
"
"a esta altura o Corinthians é menos um time do
que uma militância, menos uma torcida desin-
teressada do que uma organização embrionária
\l.~ .,
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C
a
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'\
40 Juca Kfouri
de anseios populares" ( ... ) "Assim, como pode
suceder com um Partido, pode-se dizer que o
Corinthians é um time de classe" (. .. ) "Daí as
aspirações dos corintianos em converter seu time
no 'futuro campeão do mundo', no 'maior', no
'melhor', em suma, no time hegemônico."
E, para finalizar com citações tãoreveladoras,
no mesmo JB, o também sociólogo Bolivar Lamou-
nier, arremata:
"Como explicar tanto esforço, tanto sacrifí-
cio, tanta paixão? A teoria corrente é a do 'ópio
do povo', isto é, do futebol como um fanatismo
através do qual os oprimidos dizem (ou sentem
que dizem) o que não lhes é dado dizer no coti-
diano. Não direi que seja uma hipótese inteira-
mente falsa. No futebol, nas novelas, nos pro-
gramas de auditório, no consumo debilóide e
(por que não dizê-Io?) também nos papos pseu-
do-eruditos e nas diversas curtições, há em tudo
isso uma energia feita de frustração, de tédio e
de desesperança.Não vem ao caso no momento
.discutir quanto dessa energia tem a ver com a
situação brasileira, quanto com o mundo em
geral, quanto com as carências essenciais da
condição humana. Mas é preciso ter sensibili-
dade para o mundo de referências e de recados
contidos na manifestçaão corintiana. Já se ob-
servou que o Corinthians não é um clube: é uma
comunidade de deserdados, de ilegítimos, de
A Emoção Corinthians
imigrantes, de estigmatizados. Esqueçamo-nos,
porém, destes dados brutos de sua composição
sócio-econômica. Esqueçamo-nos até mesmo de
que o Corinthians salvou um campeonato me-
díocre, dando-lhe um final portentoso. Mas lem-
bremo-nos, e lembrem-se sobretudo os eruditos
teóricos do futebol como alienação, que a tor-
cida do Corinthians recriou -:- não importa por
quão pouco tempo - uma cidade no lugar desta
triste, desta sisuda São Paulo. E ao fazê-lo, re-
novou uma convocação que alguém já havia feito
uma vez este ano: não queiram impor-nos a' si-
sudez, porque a alegria é direito de todos."
E é exatamente por causa deste direito à alegria,
do direito à pretensão de hegemonia, do direito ao
quixotismo, à igualdade e à paixão, do direito ao vir
a ser, que o corintiano é como é, que o corintianismo
envolve e comove, que aquele uniforme alvinegro
desperta tantos sentimentos em quem não tem ver-
gonha de participar com todas as suas forças, mesmo
que sentado numa arquibancada. Porque teoria ne-
nhumajamais há de nos convencer de que quem joga
são apenas os jogadores, tantos gols já fizemos, tan-
tas cabeçadas demos, defesas já conseguimos.
I Jt
SEGUNDA PARTE
O TORCEDOR DENTRO DO CAMPO
Quem é, ou quem foi, o maior ídolo da história
corintiana? Difícil responder, impossível contentar a
todas as gerações.
Se a pergunta fosse sobre quais foram os melho-
res de todos os tempos, seria mais fácil. Recente-
mente mesmo, a revista Placar ouviu 30 opiniões
entre torcedores, jornalistas, ex-jogadores e dirigen-
tes, com idades variando de 32 a 78 anos, e chegou ao
seguinte esquadrão: Gilmar, Zé Maria, Domingos da
Guia, Goiano e Wladimir; Luizinho, Sócrates e Rive-
lino; Cláudio, Baltazar e De Maria. Um timaço em
que se misturam a técnica de um Gilmar, Domingos,
Luizinho - deslocado para a posição de volante
embora fosse um autêntico meia-direita -, Sócrates,
Rivelino, Cláudio e De Maria,e a garra de Zé Maria,
Goiano, Wladimir e Baltazar.
. No Corinthians,porém, nem sempre o melhor é
A Emoção Corinthians
o maior. Desta seleção ficaram de fora craques como
Neco, Amílcar, DeI Debbio, gente que encarnou o
Corin thians.
O fato é que para ser um verdadeiro ídolo corin-
tiano há uma condição imprescindível. A de ter nas-
cido alvinegro, coisa que, por exemplo, nem Gilmar, .
nem Domingos, Sócrates, Rivelino, Goiano, Cláu-
dio, Baltazar, De Maria, nem mesmo Zé Maria, ti-
veram a seu favor, ou porque vieram de outros clubes
ou porque eram torcedores de outras cores. É claro
que isso não impede que sejam idolatrados e basta
verificar os nomes acima para constatar. É óbvio
ainda, que como toda regra tem lá suas exceções, não
foram poucos.os "não-corintianos" que viraram ído-
los e, mais importante, viraram corintianos, como
veremos adiante. De qualquer modo, quem nasceu
corintiano e foi revelado dentro do clube leva vanta- ,
gem, casos de Neco, Luzinho e Wladimir.
Será curioso observar, também, que o padrão de
ídolos corintianos não passa normalmente por tipos
como Bellini ou Mauro Ramos de Oliveira - capi-
tães do Brasil nas Copas inesquecíveis de 1958 e 62.
A preferência costuma ser pelos feios, pelos bai-
xos, pelos mais parecidos com o torcedor das gerais.
Classe média raramente é amado e,quando isso
ocorre, haja discussão, como bem o demonstram os
casos de Rivelino e até mesmo do Doutor Sócrates.
Nunca se vê um Wladimir ser acusado por al-
guma derrota ou por algo de ruim que esteja aconte-
cendo no Parque. A Democracia Corintiana tem seu
apoio e empenho na mesma medida em que tem o de
43
\'
44 Juca Kfouri A Emoção Corinthians
tentando ajustar o cinto. Tanto bastou para ser re-
preendido pelo árbitro que julgou que o craque esti-
vesse dramatizando uma falta comum. Indignado,
Neco gesticulou com o cinto na mão e deu a impressão
aos torcedores de que ele pretendia agredir o juiz.
A época de Neco, o futebol era ainda um esporte
de elite. Atletas e torcedores viviam um mundo à
parte, e o Corinthians teve papel fundamental para
quebrar o elitismo.
Seus fundadores, seus torcedores e seus craques
eram em esmagadora maioria gente humilde. Prova
disso é que Neco mesmo viveu uma situação exem-
plar nesse aspecto.
Logo após conquistar o Sul-Americano de 1919,
Neco acabou sendo recebido em São Paulo, ao lado
de seus companheiros paulistas, com grande festa.
Foi carregado em triunfo pelas ruas numa recepção
que culminou no Palácio Campos Elísios, onde o
governador Altino Arantes prestou as homenagens
oficiais. Festa finda, teve que ir a pé para casa, sem
um centavo no bolso para tomar o ônibus.
Dia seguinte, acordou cedo e excitado, imagi-
nando a acolhida que teria ao chegar no emprego
com tantas glórias para contar. A expectativa virou
frustração quando soube que estava demitido por
abandono de trabalho.
Onze anos depois de Neco ter encerrado a car-
reira, em 1941, a situação já era bem diferente, e um
novo ídolo nascia no Parque.
O futebol estava popularizado e, desde 1933,
profissionalizado no Brasil. No Corinthians, um me-
Sôcrates, mas é para o último que sobram as ridí-
culas acusações de subversão e etc.
Será interessante conhecer, primeiramente, es-
tes três ídolos nascidos, criados e revelados no Corin-
thians, pois eles representam a massa dentro do
campo e são por ela reverenciados.
Manoel Nunes, o Neco, começou sua carreira
em 1911, no infantil ....do Corinthians, e s6 a encerrou
em 1930, passando uma temporada, em 1915, no
Mackenzie, atendendo apelo do próprio Corinthians,
que, por não participar do campeonato daquele ano,
não quis deixá-Io inativo. Oito vezes campeão pau-
lista, transformou-se, ao lado de Friedenreich, no
grande herôi do Campeonato Sul-Americano de 1919,
quando a Seleção ganhou seu primeiro título inter-
nacional.
Não aceitou nenhuma das propostas milionárias
que lhe eram feitas por clubes argentinos e uru-
guaios, assim como as do Fluminense do Rio. Jogava
por amor ao Corinthians, sem receber um tostão e
está imortalizado por uma estátua que a torcida fez
erguer no Parque São Jorge.
Diz a lenda que ele ameaçava os árbitros com o
cinto de seu calção e que uma vez buscou a bofe-
tadas, no Rio, um irmão que preferiu sair do Corin-
thians.
Na verdade, a história do cinto tem uma expli-
cação que virou fantasia. É que num jogo contra o
Palestra, em 1920, ele entrou em campo com uma
faixa de couro para prender o calção. Ao sofrer uma
jogada mais dura do adversário, caiu e ficou no chão,
45
·46 Juca Kfouri
nino que a partir dos sete anos de idade fugia de casa
para ir ao Parque São Jorge ensaiava seus primeiros
chutes no time infantil. Tinha 11 anos, era franzino,
-hurnilde e se chamava Luiz Trochillo, o Luizinho.
Em 1949 estreou como titular na equipe princi-
pal, muito embora fosse o responsável, três anos
antes, pela chegada mais cedo da torcida alvinegra
que ia vibrar com ele e com o tricampeonato que
ajudou a levantar no; aspirantes.
Baixinho, era chamado de "Pequeno Polegar".
Jogou 589 partidas oficiais pelo Corinthians, recorde
na história do clube. Foi três vezes campeão paulista,
até que, por problemas da política corintiana, passou
uns tempos no Juventus. Voltou ao seu time de co-
ração em 1964 para encerrar as atividades em 1967.
Driblador infernal, adorava sentar na bola para
desmoralizar seus marcadores. Outras vezes corria
com ela presa aos pés acompanhado pelo adversário,
deixava-a para trás, seguia mais alguns passos com o
inimigo em seu encalço, para depois voltar e buscar a
bola que havia ficado metros antes, abandonada.
Certa vez, em 1956, ao fazer o único gol da
vitória brasileira contra a Argentina, em Montevi-
déu, causou a seguintemanchete do jornal El Clarin:
"EI tiquitito numero ocho nos destrozo".
Parou Luizinho, surgiu Wladimir Rodrigues dos
Santos, ou melhor, Wladimir do Corinthians. Desde
1969 no dente-de-leite, começou a se tornar titular do
time principal em 1973 e nunca mais deixou de sê-lo.
Ar de eterno menino, sorriso largo onde a bran-
cura dos dentes perfeitos contrasta com a pele negra,
47A Emoção Corinthians
a torcida chega a ser paternalista com ele, tratando-o
como se fosse um filho desprotegido.
Pequeno, mas incrivelmente forte e vigoroso,
Wladimir já passou dois anos sem saber o que é uma
contusão, completando assim o recorde de fazer mais
de 150partidas seguidas pelo Corinthians.
Campeão paulista em 1977, 79 e 82, a torcida
corintiana nunca se conformou em não vê-Io como
lateral-esquerdo titular da Seleção e, por isso, um dia
abriu uma faixa no Pacaembu em sua homenagem:
"O Timão é mais importante que a Seleção, Wladi-
mir" .
. Neco, Luizinho e Wladimir. Gente simples, nas-
cida corintiana, gente afortunada, querida, amada
pelo povão, gente vitoriosa. A devoção ao alvinegro é
o traço comum aos três, característica que compra o
torcedor para todo o sempre.
Mas existem outros grandes ídolos. E como!
Vamos a eles.
Comecemos por Amílcar Barbuy, o mais famoso
centro médio do futebol amador brasileiro.
Em 1912, com 19 anos, ele chegou ao Corin-
thians e jogou durante cinco anos como centroavante .
do time, além de ser o capitão da equipe a partir de
1914, ano do primeiro título paulista corintiano.
Pouco corria, preferindo comandar seus compa-
nheiros ali pela altura do meio círculo, posição que
assumiu em 1917. Era de estilo clássico, mas bastava
a violência imperar para que se transformasse num
bravo lutador.
No mesmo Sul-Americano de 1919 que celebri-
48 Juca Kfouri
zou Neco, fez um gol antológico,ao surpreender o
goleiro argentino Izola, que voltava de costas depois
de bater um tiro de meta para o meio do campo.
Estava 1 a 1, e quando o arqueiro deu pela coisa a
bolajá estava balançando suas redes.
Em 1925, a grande dor. Amílcar transferiu-se
para o Palestra Itália.
Contemporâneo de Amílcar, Altino Marcondes,
o Tatu, tinha a feiêão do rosto e o jeito de andar do
bicho. Veio do Taubaté em 1921 e escolheu o Corin-
thians pelo coração. Saiu-se como a grande revelação
do Campeonato de 1922, o do Centenário da Inde-
pendência. Fez, em 1924, o gol contra o Paulistano
que valeu o primeiro tricampeonato corintiano, um
tento inesperado. Do meio da rua, quando todos
aguardavam o lançamento para o ponta-esquerda
Rodrigues, ele enfiou um torpedo no gol adversário.
Consagrado em São Paulo, nas seleções do Bra-
sil e paulista, Tatu encerrou a carreira no Vasco. Em
seguida nasceria um novo herói.
Tuffy Neugen, o fantástico goleiro Tuffy, che-
gou ao Corinthians em 1928, com 29 anos, tendo
passado antes pelo Palmeiras - não confundir com o
atual, que na época era Palestra Itália -, pelo Amé-
rica do Recife, Sírio e Santos. Já defendera a Seleção
Brasileira, mas no alvinegro chegou ao ápice de sua
vida.
Nos três anos que passou no Parque, o Satanás
- porque vestia-se inteiramente de negro para jogar
- obteve simplesmente o tricampeonato paulista e,
em 46 partidas, só perdeu três.
49A Emoção Corinthians
I
I
Nesse período, seguramente, concentra-se a
maior quantidade de ídolos corintianos. Além de
Tuffy e Neco, surgem também Grané, DeI Debbio,
Filó, Rato e De Maria, todos companheiros de time.
Pedro Grané era chamado de "420", alusão ao
mais potente canhão da época, de fabricação alemã.
Certa feita, contra o Barracas - sempre os ar-
gentinos -, nossa Seleção perdia para o estupendo
time, que vinha de vitoriosa excursão à Europa, por 3
a 2. Eis que surge uma falta no meio do campo em
São Januário. Nem a torcida de chapéu, colete, gra-
vata e paletó, nem os adversários deram maior im-
portância ao lance. A perplexidade tomou conta de
todos quando viram a bola dentro do gol, e o placar
demorou a mostrar o 3 a 3.
Em seguida, nova falta, um pouco mais pró-
xima. Lá vai Grané, nova bomba e 4 a 3. Os argen-
tinos, incrédulos, passam a reclamar do árbitro até
que, caindo em si e tomando consciência de que não
havia por quê protestar, cercam o zagueiro e o cum-
primentam estarrecidos.
Outra vez, fraturou o pulso do ótimo Jaguaré,
goleiro da Seleção Carioca, que ousou desafiá-Io an-
tes da cobrança de um pênalti.
O gigante Grané, que era grande e forte como
um touro, veio do Ipiranga e parou de jogar no Co-
rinthians.
Tão célebre como ele foi Armando DeI Debbio,
seu companheiro de zaga. Fazia da regularidade sua
maior arma, e seu estilo guerreiro comovia a gente
corintiana. No Brasil, só vestiu a camisa alvinegra, e
50 Juca Kfouri
esteve no Lazio, da Itália, de onde voltou para des-
pedir-se da bola no Corinthians.
Amphilóquio Marques, o Filô, é mais um a
fazer parte da galeria dos ídolos. Ponta-direita de
rara habilidade, jogou no Paulistano antes de mu-
dar-se para o Corinthians e sob o nome materno -
Guarisi - ajudou a Itália a ganhar a Copa do Mun-
do de 1934. Regressou de lá ainda a tempo de con-
quistar o Campeonato Paulista de 1937 pelo alvine-
gro, abandonando o futebol em seguida e deixando
muitas saudades dos dribles sensacionais que dava à
procura da linha de fundo.
Ao seu lado, brilhou José Castelli, o Rato, ape-
lido que sua ligeireza lhe conferiu. Autor do primeiro
gol noturno no Estado de São Paulo, no estádio da
Floresta, em março de 1930, Rato nasceu no Corin-
thians e, também, curtiu uma boa temporada na
Itália.
Como Alexandre De Maria, um ponta-esquerda
originalíssimo em seu 1,90 metro. Por incrível que
pareça, era extremamente veloz, chutava com os dois
pés e costumava fazer gols lá da ponta, desferindo
arremates indefensáveis quando dele se esperava um
cruzamento. Por ser muito alto e veloz, normalmente
rolava no chão depois de chutar, porque o equilíbrio
era impossível.
Nem bem se encerrava um ciclo, começou outro
representado pela linha média Jango, Brandão e
Dino, os dois primeiros tricampeões paulistas em
1937,38 e 39, e, com o último, também campeões em
1941.
I 1
A Emoção Corinthians
João Freire Filho, O Jango, era o que se pode
chamar de um craque britânico. Discreto, incapaz de
um lance de efeito ou de um erro clamoroso. Rigo-
roso, chegava na bola com absoluta precisão. Reve-
lação do futebol paranaense.
Augusto Brandão, além de bom tocador de vio-
lão, teve uma trajetória variada.
Assim que chegou de Taubaté, em 1926, defen-
deu o Caveira de Ouro F. C., de onde saiu dois anos
depois para jogar no Rebouças, no Barra Funda, no
República, até que, em 1930, aos 20 anos, transfe-
riu-se para Juventus, onde ficou durante duas tempo-
radas, indo depois para a Portuguesa e, finalmente,
para o Corinthians.
Por cinco vezes foi campeão brasileiro de sele-
ções, recorde que só ele possui, e disputou a Copa do
Mundo de 1938, na França, quando o Brasil ficou
com o terceiro lugar.
Ao seu lado, no Corinthians, jogou Osvaldo Ro-
dolfo da Silva, o Dino, também chamado de Pavão,
alusão ao fato de jogar com a cabeça erguida, peito
estufado, passos largos, elegante igual à ave. Negro
como Brandão, mais alto e esguio do que Jango, o
trio jogou inteiro em 18 das 20 partidas que signifi-
caram a conquista do título de 1941, sofrendo apenas
uma derrota e 17 gols. Veio da Portuguesa Santista.
São da época dessa linha média admirável, ain-
da, o zagueiro Jaú e os artilheiros Servílio de Jesus e
Teleco.
Euclides Barbosa, o Jaú, era do estilo guerreiro,
valente. Ficou famoso por suportar quase um jogo
I I
51
52 Juca Kfouri
inteiro com a cabeça sangrando, protegida apenas
por uma gaze, na final do Sul-Americano de 1937,
em Buenos Aires, quando perdemos para os donos
da casa por 2 a O, mas, por suportar a guerra com
valentia e garra, saímos reconhecidos pela própria
imprensa local. Jaú, então, virou símbolo de raça e,
assim, foi bicampeão pelo alvinegro em 1937 e 38.
Defesa bem representada atrás e Servílio, o Bai-
larino, na frente, fazendo gols, sendo bicampeão em
1938 e 39, campeãoem 1941, artilheiro dos campeo-
natos de 1945, 46 e 47, com 17, 20 e 21 gols.
Baiano, veio do Galícia. Fazia gols ou preparava
para seus companheiros com a mesma maestria. Jo-
gava na base do um pra lá, dois pra cá, um breque,
uma fustigada, uma recueta, verdadeiro bailarino
num corpo negro, bastante alto, mágico.
Se não bastasse Servílio, o Corinthians tinha
também Uriel Fernandes, o Teleco, que poderia per-
feitamente ter o apelido de Gol. Artilheiro em nada
menos do que cinco dos oito Campeonatos Pau listas
de que participou, marcou 243 gols em 234 jogos na
sua vida corintiana. Veio do Paraná, em 1935, e
jogou até 1943, sagrando-se campeão em 1937, 38,
39,41 e vice em 36,42 e 43. Um vencedor.
Com Teleco encerra-se um ciclo, o tempo do fu-
tebol romântico, a era que começou elitista e que o
Corinthians foi fundamental para transformar em
popular, que produziu 15 reis - sete dos quais já
falecidos (Neco, Amílcar, Tatu, Tuffy, Filó, De
Maria e Jango), embora sejam imortais na emoção
corintiana.
A Emoção Corinthians
o fim da 2!l Guerra, em 1945, marca-o princípio
de uma nova fase, cada vez mais profissional. E o
ano da derrota do nazi-fascismo e do fim da ditadura
de Getúlio Vargas registra, também, a chegada de
um ponta-direita de baixa estrutura, atitudes mansas
e que por 13 anos, até 1957, haveria de ser o dono
absoluto da camisa 7 corintiana.
. Seu nome, Cláudio Cristóvão do Pinho, o Cláu-
dio, o Gerente. Era ele quem comandava o time
dentro do campo e sua passagem pelo Parque deixou
números impressionantes. Jogou 553 partidas como
titular, só perdendo para Luizinho. Foi, porém,
quem mais venceu (361 vezes contra 359 de Luizi-
nho). Éo maior goleador da história corintiana, com
295 gols, embora fosse ponta e, na média, perca
para Teleco.
Batedor de faltas sem igual, Cláudio era incapaz
de dar um chutão ou uma jogada inconseqüente. De
. seus pés saíram a maior parte dos gols de cabeça de
Baltazar, as viradas que celebrizavam uma fase
corintiana e os títulos de 1951, 52 e 54. Como Wla-
dimir hoje em dia, nunca teve sorte na Seleção, mis-
tério comparável ao fato de que, depois dele, nem
mesmo Mané Garrincha vestiu a 7 com tanta cate-o
goria e eficiência.
Com Cláudio, que era do Santos, e sob sua ba-
tuta, jogou outra leva de ídolos, craques como Gil-
mar e Luizinho, ou valentes como ldário e Baltazar.
Gilmar dos Santos Neves era um goleiro tão
excepcional que superou o grande-Tuffy. Na meta
corintiana ou da Seleção - onde foi bicampeão mun- .
53
54 Juca Kfouri
dial em 1958 e 62 -, operou milagres sem conta.
Começou sua carreira no Jabaquara, em Santos, e
entrou no Parque como contrapeso de uma transação
entre os dois clubes. Teve um começo difícil, culpado
por uma goleada. Mas desempenhou papel funda-
mental nas conquistas de 1951,52 e 54 no Campeo-
nato Paulista e no Rio-São Paulo também de 1954.
Passou dez brilhantes anos no Corinthians e
disse adeus ao futebol outra vez em Santos, no San-
tos.
Entre 1950 e 59 a torcida corintiana idolatrou
um lateral voluntarioso, dedicado ao extremo, que
disputou 470 partidas pelo Corinthians, chamado
Idário Sanchez, o Espanhol. Sua maior qualidade,
a que fez com que o povão o adotasse como um igual,
era a de ter o sangue quente e corintiano nas veias.
Não havia sacrifício que ele não fizesse pela camisa
alvinegra e, se fosse necessário jogar o ponta-es-
querda adversário no alambrado com uma certeira
ombrada, não titubeava. Tudo pelo Corinthians, era
o seu lema, e assim fez até parar.
Enquanto Idário punha sua alma nas chuteiras,
o Brasil inteiro cantava a marchinha carnavalesca
que dizia: "Gol de Baltazar I Gol de Baltazar I Pula o
cabecinhal um a zero no placar" .
Uma homenagem a Osvaldo Silva, o Baltazar, o
Cabecinha de Ouro, que também veio do Jabaquara,
chegando em 1946 e permanecendo até 1956.
Marcou 267 gols nas 402 partidas que disputou.
Sua cabeçada tinha a potência de um chute e nor-
malmente subia mais com a cabeça do que o goleiroII[
55A Emoção Corinthians
o
I
U
(/)
b
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oo-'«zo
o:
Neco virou estátua. Wladimir transpira co-
rintianismo.
Luizinho, o Pequeno Polegar.
56 Juca Kfouri
inimigo com os braços erguidos.
O meio da década de 60 assistiu ao surgimento
de um fenômeno que em tudo se assemelhava à his-
tória de Luizinho. A torcida chegava mais cedo ao
estádio para 'ver um menino do time aspirante que
fintava como poucos, lançava como gente grande e
tinha uma verdadeira patada no pé esquerdo.
Palmeirense de nascimento, mas criado no Co-
rinthians, Roberto Rivelino, o Garoto do Parque,
estreou como titular em 1965 e, até 1974, lutou como
pôde para dar um campeonato ao Timão. Conseguiu
até ser tricampeão mundial na Copa de 70, consa-
grando-se como um dos maiores gênios do nosso fu-
tebol. Mas não teve forças para alcançar seu maior
sonho, e o amor que lhe dedicaram durante tanos
anos acabou transformado em ódio irracional depois
que, em 1974, mais uma vez o título fugiu pelos
dedos. Vendido ao Fluminense, encerrou a carreira
no futebol árabe.
Hoje, sem dúvida, é lembrado com saudade pe-
los corintianos, num tardio, porém justo, reconheci-
mento ao seu incomparável futebol.
Final mais feliz o destino reservou a José Maria
Rodrigues Alves, o Zé Maria, o Super-Zé. Lateral-
direito da Portuguesa e da Seleção, corintiano desde
a infância, chegou ao Corinthians em 1970 e sofreu
como Rivelino a angústia dos anos sem títulos.
Até que, em 1977, fez o cruzamento que origi-
nou o gol da libertação, contra a Ponte Preta. Os
anos seguintes foram risonhos, e neles Zé Maria deu
demonstrações raras de amor e garra. Disputou, porJ
--~~~-",
A Emoção Corinthians
exemplo, a final do campeonato de 1979, também
vencido pelo alvinegro, com a camisa branca enchar-
cada do sangue que escorria de sua testa 'aberta no
supercílio. A surpresa da torcida sequer se manifes-
tou em torno do gesto heróico, porque dele não se
esperava outra coisa. Curioso mesmo foi constatar
que o seu sangue não era preto e branco.
Em 1982, quando Zé Maria entrou no campo
nos últimos cinco minutos da partida decisiva, contra
o São Paulo, já ganha pelo Corinthians, a massa
explodiu saudando seu nome em coro, urna apoteose
maior que a havida com o apito final. E, a 25 de
setembro de 1983, quando o Super-Zé deu a volta
olímpica de despedida no Morumbi, chorando como
um menino, a nota generosa e comovente ficou por
conta da tradicionalmente inimiga torcida palmei-
rense que, em pé, reverenciou um dos maiores exem-
plos de dedicação que um atleta jamais deu a um
clube.
E tem o Doutor Sócrates Brasileiro Sampaio de
Souza Vieira de Oliveira, o Magrão.
Santista de nascimento, como Rivelino era pal-
meirense. Alto, com o mesmo 1,90 metro de De
Maria. Feio como Tatu. Cerebral como Cláudio. Go-
leador como Servílio. Estilista como Amílcar. Des-
moralizante como Luizinho, Veio do Botafogo de Ri-
beirão Preto, como Filó veio do Paulistano. Líder
como Neco. Sensível como Wladimir. Frio como
Jango. Convertido ao corintianismo como Teleco.
Polêmico como só ele mesmo.
A galeria de 24 ídolos se encerra com ele, e não é
57
58 Juca Kfouri
por acaso. Ainda está em atividade, neste ano de
1983, como Wladimir, e é impossível imaginar, ao
contrário do companheiro, como será seu final de
carreira. Wladimir, tudo indica, terá uma despedida
ao estilo da de Zé Maria. E o Doutor?
Sócrates tem a imprevisibilidade que caracteriza
o autêntico gênio e, -até por isso, é muito incom-
preendido. Afinal, quem haveria de supor que aquele
estudante de medicina cadavérico e boêmio haveria
de se transformar num dos melhores jogadores do
futebol mundial?
Desafiando a lei da gravidade, chuteiras número
41, lá vai o Doutor Fantástico, pregando democra-
cia, fazendo gols, jogando bola.
Como Neco representou o começo de um ciclo
terminado por Teleco, e Cláudio iniciou outro encer-
rado por Zé Maria, provavelmente daqui a alguns
anos se perceberá que Sócrates significa uma nova
fase, uma etapa em que o jogador de futebol será
definitivamente aceito como um profissional igual
aos outros, commais liberdade, e cada vez mais
capaz de fazer da sua arte uma emoção sem igual,
uma coisa indefinível como à emoção Corinthians.
Os bons corintianos esperam que essa história
acabe em preto e branco. E em verde e amarelo.
Jr '
A PEQUENA GRANDE HISTÓRIA
Ah, e como esquecer a história mais remota
desta maravilhosa religião chamada Corinthians?
É uma história singular, repleta de paixão, com
o cheiro bom do povo que a escreveu. Uma verda-
deira epopéia nascida da determinação de um pe-
queno grupo de rapazes - precisamente 13 -, onde
predominavam os italianos, seis, havia cinco portu-
gueses e dois brasileiros.
Na santa noite de 5 de setembro de 1910 é que o
Corinthians foi fundado. Prevalecesse a sugestão de
um dos fundadores, e o clube teria o nome de Carlos
Gomes ou Santos Dumont. Mas exatamente às 20
horas e 7 minutos nasceu o Sport Club Corinthians
Paulista, em homenagem à equipe inglesa do Corin-
thians Team, que cumpria vitoriosa excursão no Rio
e em São Paulo.
Formado por gente humilde, composto em sua
maioria por operários do bairro do Bom Retiro, para
60 Iuca Kfouri
comprar a primeira bola tornou-se preciso passar
uma lista pela vizinhança.
O time surgiu preto e branco e perdeu por ape-
nas 1 a O sua primeira partida, enfrentando o pode-
roso União da Lapa.
Logo depois começaria a verdadeira guerra que
só a solidariedade de .quem conhece as durezas da
vida pode vencer.
Foram dois anos de luta para que o clube con-
quistasse o legítimo direito de filiar-se à Liga Paulista
de Futebol.
Enfim, rompendo a barreira dos preconceitos
que faziam do futebol um esporte de elite, o Corin-
thians conquistou a oportunidade de disputar com
outros dois clubes uma vaga que se abrira na Liga. O
time dos operários não ultrapassaria os rivais com-
postos por filhos de papai, apostava-se.
Foi até fácil. O Minas Gerais F. C. acabou
derrotado por 1 a Oe o São Paulo S. C. por 4 a O,
resultados que garantiram o Corinthians no Campeo-
nato Paulista de 1913.
O objetivo seguinte era conseguir um campo,
desafio ainda maior para quem tinha muita abne-
gação e nenhum dinheiro, além de não contar com as
simpatias das autoridades que desdenhavam da mo-
déstia do clube.
Mas em 1916, na rua Itaporoga, ali onde hoje se
encontra o C. R. Tietê, na Ponte Pequena, o Corin-
thians arrendou um terreno por cinco anos, pagando
uma taxa elevadíssima por mês e, na base do mutirão
e trabalhando apenas à noite, ergueu rapidamente
A Emoção Corinthians
seu estádio.
A cidade começava a ficar encantada com aque-
la gente de fé e o número de associados - eram
apenas 16 na fundação - não parava de crescer.
Ainda mais porque em 1914 e em 1916 mesmo,
o time levantou o Campeonato sem nenhuma der-
rota, deixando perplexos seus adversários.
Mais atônitos ficaram ainda quando o Corin-
thians sagrou-se o primeiro tricampeão do futebol
paulista, ao ganhar os campeonatos de 1922/23 e 24,
o de 1922 com o sabor especial que lhe conferiu o
Centenário da Independência do Brasil e o de 1924
por ter sido decidido em pleno Jardim América, con-
tra a juventude dourada do Paulistano, derrotada
por2aO.
O Corinthians, então, já era grande. Podia até
pensar na "casa própria". Coisa que fez, contando
com o apoio dos 200 associados da época e de sua
torcida, mesmo que atrasando diversas vezes o paga-
mento do gigantesco terreno adquirido à base de
pura ousadia.
Assim surgia o Parque São Jorge, a simpática
"Fazendinha", inaugurado em 1928 com a partida
entre Corinthians e América carioca, os dois cam-
peões do Centenário, que empataram por 2 a 2.
Os tempos duros, de falta de dinheiro, iam fi-
cando para trás. Episódios como a perda de sede por
falta de pagamento do aluguel, em 1912, quando o
patrimônio do clube - três cadeiras, uma mesa, um
arquivo, um jogo de camisas e algumas outras pe-
quenas quinquilharias - chegou a ser penhorado
61
62 Juca Kfouri
para honrar a dívida e, em seguida, habilmente sur-
rupiado na calada da noite por um pequeno grupo de
operários liderado pelo garoto Neco, o mesmo que
seria ídolo anos depois, pertenciam ao passado.
O Corinthians materializava um sonho impossí-
!I
vel.
Àquela altura ninguém mais se atreveria, por
exemplo, a enganar os corintianos, como em 1915,
quando, sob a promessa de ser aceito na Associação
Paulista de Esportes Atléticos, mais "nobre" e im-
portante do que a Liga Paulista de Futebol à qual era
filiado, o Corinthians ficou fora de ambas e não dis-
putou campeonato algum.
A vontade e entrar na APEA e poder enfrentar
clubes como o Paulistano permitiu a falseta, vingada
no mesmo ano pelo alvinegro, que enfrentou e venceu
os dois campeões: o Palmeiras, da APEA, por 3 aO,
e o Germânia, da Liga, por 4 a 1.
No próprio ano da inauguração do Parque, para
provar que sequer o esforço para construí-Io enfra-
queceu o time, o Corinthians ganhou o título paulista
- desde 1917 o torneio foi unificado, acabando a
Liga e permanecendo a APEA -, com uma única
derrota e iniciou a trajetória para mais um tricam-
peonato.
O Corinthians, primeiro clube paulista a ter um
jogador negro - embora o preconceito proibisse a
participação dele, o Davi, no campeonato -, alcan-
çou o bicampeonato invicto em 1929 e chegou ao tri
no ano seguinte ao esmagar o Santos, na Vila Bel-
miro, por 5 a 1. O ano de 1930 marcou também a
I
jr:
A Emoção Corinthians
última temporada de Neco, o menino que liderou a
salvação do patrimônio em 1912 e que a partir de
1913 consagrou-se~mo ídolo no ataque corintiano.
A década de 20 oi, como se viu, particular-
mente importante a}vida corintiana e, seria tam-
bém, na história do país. '\
( Além de ter assistido ao surgimento do charuto .
'I como marca registrada das melhores tradições alvi-
negras - o torcedor Martins sempre acendia u
quando o time assinalava um gol -, a década abri-
gou ainda a revolucionária Semana de Arte Ma-
u derna, em 1922, quando Menotti DeI Picchia, um de
seus maiores ativistas, reconheceu que "o Corin
hians é um fenômeno sociológico a ser estudado em
rofundidade" :
Os anos 30,'tlO entanto, começam mal para o,
clube. Quatro <tos melhores craques do time --
Ratto, DeI Debbio, De Maria e Filó - são atraídos
pelo rico futebol profissional italiano - e o Corin-
thians atravessa até 1937 sem nenhum título.
Quando, em J9.33, o profissionalismo é admi-
tido no Brasil, o Corinthians continua se ressentindo
das ausências mas, em 1937/38 e 39, conquista seu
terceiro tricampeonato, fato inédito no futebol pau-
lista, sagrando-se ainda, em 1938, e pela quarta vez,
campeão invicto, outra façanha exclusivamente co-
rintiana.
Aí, o zagueiro DeI Debbio e o ponta-direita Filó
estavam de volta, eles que fizeram tanta falta nos
anos anteriores. Filó, aliás, e De Maria, um ponta-
esquerda de 1,90 metro que chutava com os dois pés.
63
64 Juca Kfouri
e possuía incrível velocidade, foram os primeiros
campeões mundiais brasileiros, pois, beneficiados
pelo fato de serem oriundi, ou seja, descendentes de
italianos, d~taram a Copa de 1934 pela Itália.
Em (í9~1 'f. Corinthians volta a ser campeão
paulista ~epois, conhece seu primeiro longo perío-
do sem ter o que cOp1emorar a nível regional, só
vindo a reconquistar o título em 1951. E brilhante-
mente.
Pela primeira vez um ataque marcou mais de
100 gols - exatos 103 -, em 28 jogos, dos quais
venceu 24, empatou e perdeu dois. Luizinho, o Pe-
queno Polegar, já estava em ação com a camisa 8.
Então vei0't954, o ano do IV Centenário de São,
Paulo e a disputa de um campeonato todo especial.
Os demais clubes paulistas queriam impedir que o
Campeão do Centenário de 1922 fosse para o plural e
formaram uma verdadeira frente anticorintiana. A
partir daí existiam duas torcidas no Estado, os corin-
tianos e os anticorintianos. Em vão.
Ao fim de 26 partidas, o Corinthians era o Cam-
peão dos Centenários, com 18 vitórias, seis empates e
apenas duas derrotas.
Tantas glórias, somadas a outras tão importan-
tes e recentes como foram as obtidas nos Torneios
Rio-São Paulo de 1950 - o primeiro -, 1953 e 54,
parece que enfastiaram o Corinthians.Era o clube
mais vezes campeão paulista, com 15 títulos, três ve-
zes campeão do Rio-São Paulo em cinco disputas.
A nação corintiana precisava passar por uma grande
provação.
-,.-,.,.---
A Emoção Corinthians i) L~ ~ 65
\
E começaram os tempos de sofrimento. Longos
22 anos em que aconteceu de tudo.-----Em i966, por exemplo, o Palmeiras chegou ao
seu 15? campeonato paulista e em 1972, 74 e 76
passou à frente do Corinthians, embora hoje, com as
vitórias corintianas em 1977, 79 e 82 esteja tudo igual
com 18 títulos para cada clube.
Mas, na verdade, em matéria de hegemonia, o
Corinthians só manteve mesmo a do confronto direto
com seus maiores rivais - Palmeiras, São Paulo e
Santos -, jamais e em tempo algum sendo superado
por eles, mesmo com os tempos do tabu santista.
Quer dizer, em nenhum momento desses anos todos
o Corinthians se viu superado em número de vitórias
no embate direto com seus adversário mais tradicio-
nais.
Fenômeno, no entanto, foi constatar que a tor-
cida corintiana não parou de crescer, originando o
comentário que soa como sábio do falecido jornalista
José Roberto de Aquino, assessor de imprensa do
clube até o começo de 1983: "Todo time tem uma--~torcida. No Corinthians é ao contrário. E a torcida-------- ~ - ---que tem um time". '- --
,.:.- Só mesmoesse sentimento mágico, arrebatador,
pode explicar que, mais de 70 anos depois de sua
fundação, permaneça o mesmo espírito que faz com
que cada corintiano sinta-se dono do seu time, como
se ainda fossem poucos, como se fossem o Antônio
Pereira, o Joaquim Ambrósio, o Anselmo Corrêa, o
Carlos Silva ou o Rafael Perrone, os primeiros a
terem a idéia Corinthians. Ou como se fossem o Ale-
66 Juca Kfouri
..:
a:
üia:
a:
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LL.
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U'..:z~
o Corinthians Team em São Paulo, em 1910.
Os campeões invictos de 1914 e 1916: Sebastião, Fúlvio,
Casemiro, César, Bianco; Pollice, Neco e Aparicio; AmU-
car, Plinio e Américo.
s:
A Emoção Corinthians
,,~"'._ ,.__ ~ u,
Tricampeão em 1922/23/24: Gelindo, Rafael, Roeda, Co-
lombo, Dei Debbio e Ciasca; Perez, Neco, Pinheiro, Tatu
e Rodrigues.
Campeão de 1928: Leone, Filó, Grané, Guimarães, Dei
Debbio, Munhoz; Napoli, Gambinha, Rato, De Maria
e Tuffy.
67
A Emoção Corinthians
~
68 Juca Kfouri
'I
69
Tricampeão em 1930: Tuffy, Nerino, Grané, Guimarães;
Dei Debbio e Munhoz; Filó, Neco, Perez, Rato e De
Maria.
Campeão de 1937, primeiro título do profissionalismo:
José I, Jaú, Brandão, Teleco, Munhoz, Carlito, Carlos;
Jango, Daniel, Carlinhos e Filó.
Campeão de 1941: Jango, Dino, Chico Preto, Brandão,
Ciro, Agostinho e o técnico Dei Debbio; Tite, Servilio,
Teleco, Joane e Milani. ,
o ataque dos 100 gols, em 1951: Cláudio, Luizinho, Bal-
tazar, Carbone e Mário.
70 Juca Kfouri
Campeão dos Centenários, em 1954,' Gilmar, Rafael,
Goiano, Homero, Idário, Alan, Nonô, Roberto, Simão,
Luizinho, Cláudio e Osvaldo Brandão.
~o::.
..J
woz«::.
Campeão de 1977, 22 anos depois: Zé Maria, Tobias,
Moisés, Ruço, Ademir e Wladimir; Vaguinho, Basílio,
Geraldo, Luciano e Romeu.
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j,
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A Emoção Corinthians 71
~
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~,·,)~t:$tli~~i
Campeão Paulista de 1979: Jairo, Mauro, Luís Cláudio,
Amaral, Caçapava e Romeu; Plter, Biro-Biro, Palhinha,
Sócrates e Wladimir.
Campeão Paulista de 1982: Solito, Sócrates, Ataliba, Ca-
sagrande, Zenon e Biro-Biro; Mauro, Daniel Gonzales,
Alfinete, Pau/inho e Wladimir.
72 Juca Kfouri
t Rivelino, neuroticamenteconvertido ao corintianismo.
A Emoção Corinthians
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(/)
o,
Sócrates, a alegria pela consciência.
73
A Emoção Corinthians
í.:i
.i~{i
74 Juca Kfouri
xandre Magnani, O Felipe Aversa Valente, o Miguel
Sottile, o João Morino, o Salvador Lopomo, o João
da Silva, o César Nunes e o Miguel Batalia, o pri-
meiro presidente, todos fundadores do clube.
É que o Corinthians continua sendo do João, do
José, do Celso, do Adílson, do Maurício, do Valde-
mar, do Orlando, do Sérgio, do Vladimir, do Válter,
de todos quantos sentem essa mística maravilhosa,
essa coisa de ser Corinthians, que é muito maior que
a de ser apenas vencedor, que um adesivo exprimia
bem nos anos de jejum, em sua simplicidade: "Cam-
peão ou não, és a minha paixão".
Por tudo isso a nação corintiana continuou a ser
a maior torcida localizada numa só região do país,
superando até mesmo a do Flamengo que, se é maior
no país - tem 11,8 milhões de torcedores contra 6,5
milhões corintianos -, não tem no Rio os 2,8 mi-
lhões de torcedores que o Corinthians tem em São
Paulo, segundo números recentes do Instituto Gal-
lup.
E o corintianismo não é uma obsessão cega.
Predestinado desde que nasceu pobre no Bom Re-
tiro, a vitória do corintiano não se resume aos cam-
peonatos. Não terá sido por acaso que outra pesquisa
Gallup - essa de dezembro de 1976, publicada na
revista Isto É de12/10/1977 - mostrou que 59% dos
corintianos votavam no MDB, na oposição, enquanto
apenas 27% eram da Arena, da situação, e 14%
eram indiferentes. Na comparação com os demais
clubes paulistas, tais dados significavam que o Co-
rinthians tinha o maior número de emedebistas, e o
I,,'
, ""'~.I ..;.)"11
\'1
I
75
menor de arenistas ou indiferentes, sendo que na
'categoria de "não-torcedores", ou seja, os que não se
interessavam por futebol, havia o maior número de
indiferentes, outra demonstração de que não se justi-
I...fica estabelecer a relação entre futebol e alienação.
A verdade é que nada na História é casual. O
Corinthians surgiu como surgiu porque os deserda-
dos da época precisavam ocupar um espaço que exis-
tia e que a elite procurava negar. Como reação, mas
não apenas, porque além disso apontava numa dire-
ção justa e necessária, o corintianismo se afirmou e
obteve voz, disputando a vez de igual para igual.
O Corinthians é hoje, novamente, um time ven-
cedor. Há quem queira fazê-lo campeão do mundo,
um projeto possível em função de seu tamanho, viá-
vel na medida em que é o clube mais amado do
Estado mais rico do país do futebol e obrigatório
mesmo para quem tem a responsabilidade de dirigi-
10.
Ocorre, porém, que nem que chegue a tanto,
isso será tudo. Diversos times já obtiveram essa gló-
ria, e nem por isso o mundo mudou.
A vocação nascida no Bom Retiro tem a ver com
a transformação e se manifesta também - até prin-
cipalmente, às vezes - pelo futebol corintiano, tor-
nando a vitória no campo quase secundária.
Quase, porque, como pôde ser percebido, a his-
tória de um time é contada através de suas con-
quistas e nem a corintiana escapa a essa regra, em-
bora ela seja dramaticamente pontilhada de insu-
cessos que, por serem revelados, dão ao Corinthians
76 Juca Kfouri
a sua dimensão inigualável.
Assim é que os 22 anos significaram um intenso
exercício aparentemente masoquista. Mais ainda
quando se constata que muitos corintianos não ex-
traem mais do time a satisfação daquele período.
Mas não era masoquismo; porque a busca corin-
tiana não terminou como se supõe e, antes pelo con-
trário, tudo indica que ainda será longa e árdua. A
1
'- busca, apenas, mudou de qualidade.
\, Os casos de Rivelino e Sócrates, por exemplo,
talvez sejam esclarecedores pelo que têm de comum e
de antagônicos.
Ambos não eram corintianos. Riva era palmei-
rense, o Doutor santista. Ambos foram convertidos
ao coríntíanísmex O primeiro por neurose, pelo de-
sespero da procura do título, o segundo por convic-
ção e pelo encontro com a felicidade.
Rivelino, quem não sabe, foi dos maiores joga-
dores da história alvinegra. Chamado de Garoto do
Parque era mimado e marcado pela torcida. Porque
levava o time nas costas, era o responsável por tudo o
que acontecesse, para o bem ou para o mal. Acabou
por assumir a obsessão inteiramente, passou a ser
dominado por ela e foi sua grande vítima, escor-
raçado do Parque São Jorge após a decisão do título
de 1974, perdido para o Palmeiras. Ainda hoje faz
declarações de amor ao Corinthians e só tem uma
frustração na vida: a de não ter sido campeão no time
que aprendeu a amar.
Muito mais racional, Sôcrates chegou ao Corin-
thians e logo percebeu que estava diantede uma
I
'I
A Emoção Corinthians 77
coisa nova, grande, misteriosa. Foi penetrando nela
aos poucos, entendeu o corintianismo antes de assu-
mi-lo e mesmo ao Iazê-lo tem, como todos os outros
mortais, dificuldade em explicá-lo.
Como Rivelino, está entre os onze melhores
jogadores da vida corintiana. Ao contrário dele, no
entanto, teve a sorte de chegar ao clube depois que o
pesadelo havia acabado e, logo em seu primeiro ano,
foi campeão. Provavelmente porque venceu não dá
à vitória a mesma importância que Rivelino, embora,
ironicamente - e eis aí mais uma medida do Corin-
thians -, Rivelino seja campeão mundial de 1970 e
Sôcrates um sobrevivente da tragédia de Sarriá, na
Copa de 1982.
Vitórias, enfim, não são comparáveis. Nem so-
frimentos.
Importa saber o que se quer, e nisso os 13 rapa-
zes do Bom Retiro foram perfeitos. Transformaram
um sonho em realidade, dela novos sonhos nasceram
incessantemente, foram sendo atingidos, multipli-
cados, recriados, e o mais sublime deles não é só a
melhor das idéias.
O sonho Corinthians, definitivamente, não aca-
bou.
Caro leitor:
Se você tiver alguma sugestão de novos títulos para
as nossas coleções, por favor nos envie. Novas idéias,
novos títulos ou mesmo uma "segunda visão" de um
já publicado serão sempre bem recebidos.
c; r.:.
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Sobre o Autor
o autor nasceu corintiano em 4 de março de 1950. Com um ano
de vida já era campeão paulista e, com dois bi. Em 1953 não ligou nem
um pouco para a falta do tri e guarda vivamente as imagens da conquista
do IV Centenário, por mais que não acreditem,
De 1954 em diante sofreu como todo bom corintiano e não se
arrepende, pois o ano da graça de 1977 a tudo redimiu.
Nesse meio tempo ele estudou, comungou pedindo a D_eus que a
graça fosse a quebra do tabu contra o Santos - obtida apenas em 1968,
quando, descrente, não comungava mais - e jamais admitiu derrota
para o São Paulo, precoce sintoma do correto entendimento da luta de
classes.
Em 1970 ingressou na Editora Abril para trabalhar no Depar-
tamento de Documentação, o Dedoc, como pesquisador da área de
esportes para o projeto Alfa, a futura revista Placar que nasceria no
mesmo ano. Então, acabara de entrar na Faculdade de Ciências Sociais
da USP.
Em 1974, como gerente do Dedoc, comemorou o diploma univer-
sitário assumindo a chefia de reportagem de Placar, posição que deixou
apenas em 1978 para uma curta e traumática aventura como diretor de
esportes da Rede Tupi de Televisão. Dois meses depois voltou ao Placar
como editor de projetos especiais e, em 1979, teve o magnífico prazer de
fazer a edição especial do Corinthians campeão como diretor da revista,
função que exerce até hoje.
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Que pode haver de maior ou menor que um toque?
W. Whitmim
VOCÊ CONHECE O PRIMEIRO TOQUE?
emai$:
Chacal
I.e!rinski
PRIMEIRO TOQUE é uma publicação com crorucas,
resenhas, comentários, charges, dicas,
mil atrações sobre as coleções de bolso da Editora
Brasiliense. Sai de três em três meses.
Por que não recebê-Ia em casa? Além do mais,
não custa nada. Só o trabalho
de preencher os dados aí de baixo,
recortar, selar e pôr no correio.
NOME: .
END.: .
BAIRRO: FONE: .
CEP: CiDADE: EST.: ',"
PROFISSÃO: IDADE: .
editora brasiliense s.a.
01223 - r. general jardim, 160 - são paulo
1 • Aa Independências na Amé-
rica latina Leon Pomer 2 . A
crise do elcravlamo e a grande
Imigração P, Belguelman 3 • A
luta contra a metrópole CAsia e
Afrlca) M. Yedda Unhares 4 • O
popullsmo na América Latina M.
Lrgla Prado 5 • A revolução chl.
nesa D. Aerêo Reis Filho 6 • O
cangaço Carlos A. Dórla 7 • Mer-
aantlUsmo 'e transição Francisco
Falcon 8 • As revoluções burgue-
sas M, Florenzano 9 - Paris 1968:
8S barricadas do deselo OIRátla
C. F. Matos 10 - Nordeste lnsur-
gente (1850·1890) Hamilton M.
Montetrc 11 - A revolução Indus.
trlal Francisco Igléslas 12 • Os
qui/ambos e a rebelião negra
Clóvis Moura 13 - O ccrcneltsmc
M. de Lourdes Janottl 14 - O
governo J. Kubltscheck Rlcardo
Marenhãc 15 • O movimento de
1932 Maria H. Cape/ato 16 • A
América pré-colomblana C. Fia.
marlon Cardoso 17 • A abolição
da ascravidio Suely R. A. de
Quelroz 18 - A proclamaçio da
repubUta J. ~nlo Casalecchl 19 •
A revolta de Princesa Inês C.
Rodrlgues 20 • Hlst6rla poUllca
do futebol brasileiro J. Ruflno
• dos Santos 21 • A Nicarágua sano
dlnlsta Marlsa Marega 22· O lIu.
mlnlsmo e Os reis filósofos l. R.
Salinas Fortes 23 • Movimento
estudantil no Bralll Antonio Men-
des Jr. 24 • A comuna de Paris
H. González 25· A rebelião
praieira Izabel Marson 26 - A prl-
mavera de Praga Sonla GoJdfeder
27 - A construçio do socialismo
na China D. Aaráo Reis Filho
28 - Opulência e mls6rla nas
Minas Geral. Laura Verguelro
29 - A burguosla brasileira, Jacob
A SAIR
A balalada M. de tourdea Janottl
A crise de 1929 Adalberto Mar.
ecn A colonização na. amérlcas
Fernando Ncvaes A. clvlllzaçlo
d4 açúcar Vera Ferllnl A crise do
petróleo Bernardo Kuclnskl A
cristandade latina medieval Fren-
ctscc José Silva Gomes A de-
mocracia etentense F. M, Plres/
Paulo P. Castro A guerra dos
farrapos Antonto Mendes Jr A
história do Carlbe Elizabeth Aze-
vedo/tutza V. Sauala/Hlldegard
Herbold A história do espe-
táculo e encenação Fernando
Peixoto A hlst6rla do P.C.B. SII.
vta Magnanl A Independênclt'.
dos rUA Suzan Anne Semler A
Industrialização brasileIra Pren-
ctscc Iglásfas Amarlcan way of
life chega ao Braall Gerson Mou-
ra A redemocratlzaçio brasileira:
1942-1948 Oartce Henrlque Oavl-
doff A revoluçio de 1935 P.
Sergio Pinheiro A revoluçio mo-
COLEÇÃO TUDO ÉHISTÓRIA
Gorander 30 - O governo Jãnio
Quadros M. Victórla Mesquita
Benevldes 31 • Revolução e
guerra cIvil espanhola Angela M.
Almetde 32 . A legIslação tre-
balhista no Brasil Kazuml Muna.
kata 33 • Os erlmes da paixão
Marlza Corrêa 34 • As cruzadas
Hllárlo Franco Jr. 35 - A forma.
ção do 3.- mundo Ladislau Dow-
bor 36 - O Egito antigo Clro F.
Cardoso 31 • Revolução cubana
Abelardo Blanco/Carlos A. Dõrte
38 • O Imigrante e a pequena pro-
priedade M. Thereza Schorer Pe-
trone 39 - O mundo antigo: eco-
nomia e sociedade M. Beatrlz B.
Florenzano 40· Guerra civil ame-
ricana Peter L Eisenberg 41 •
Culftlra a participação nos anos
60 Heloisa B. de Hollanda 42 •
Revolução de 1930: a dominação
oculta Italo Tronca 43 - Contra a
chibata: marinheiros brasileiros
em 1910 M. A. Silva 44 • Afro.
América: a escravidão do novo
mundo Clro F. Cardoso 45 • A
Igreja no Brasil-Colônia Eduardo
Hoornaert 46 - Militarismo na
AmêirlC8 latina Clóvis Rossl 41 .
Bandelrantlsmo: verso e reverso
Carros Henrtoue Davidoff 4B _
O governo Goulart e o golpe
de 64 Calo N. de rolado 49 _ A
Inquislção Anlta Novlnsky 50 - A
poesia árabe moderna e o Brasil
SlImanl Zaghldour 51 • O nasci-
manto das fábricas Edgar S. de
Decca 52 . Londres e Paris '.0
eéeulc XIX Maria Stella Martins
Bresclanl 53 • Oriente Médio e o
mundo dos árabes Maria Yedda
Unharas 54 - A autogestão
lugosJava 8ertlno Nobrega da
Ouelroz 55 - O golpe da 1954:
a burgueala contra o popuUsmo
Armando Bolto Jr. 56· Elalções •
fraudes eleitorais na República
Velha Rodolpho Telarolll 51 • Os
jesuítas José Carlos Sebe 58 • A
repübltce de Welmar 8 8 ascen-
são do nazismo Angela M. AI.
metda 59 • A reforma agrária na
Nicarágua CláudiO T. Bornsteln
60 • Teatro Oficina Fernando Pei-
xoto 61 - Rússla (1917-1921)
anos vermelhos Daniel A. R. Fi.
lho 62 - Revolução mexicana
(1910-1911) Anna M. M. Corrêa
63 . América central Héctor Pé.
rez Brignoli 64 • A guerra fria
Déa Fenelon 65 • O feudalismo
Hllárlo Franco Jr. 66 • URSS: o
socialismo real (1921-1964) Da.
nlel A. R. Filho 67 • Os liberais e
a crise da República Velha Paulo
G. F. Vlzentinl 68 - A redemocra.
tização espanhola Reglnaldo C.
Moraes 69 • A etiqueta no antigo
regime Ranato Janlne Ribeiro
70 • Contestado: a guerra do
novo mundo Antonio P. Tota
71 - A famma brasileira Enl de
Mesquita Samara 12 • A eeono.
mia cafeeira José Roberto do
Amara! lapa 73 • Argélia: a
guerra e a independência Musta-
fá Vazbek 74 • Reforma agrária
no Brasil-Colônia leopoldo

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