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Aula 8 - Os ambundos e o Reino de Angola

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História da África Pré-colonização
Aula 8: Os ambundos e o Reino de Angola
Apresentação
Como estamos no aprendizado? Você tem feito os exercícios? Nesta aula teremos continuidade do que estudamos a
respeito da expansão banta ao sul da África, que atravessou terras no continente entre os oceanos Atlântico e Índico. Você
já estudou o importante Reino do Congo e os povos da África Oriental. Agora, veremos características de povos que nos
deixaram um legado imenso, que pertenciam a comunidades na África Ocidental e que também eram de origem banta.
O que signi�ca o termo ”samba” para você? Sabia que a cultura da boneca de pano, como a Emília do Sítio do Pica-Pau
Amarelo, criada por Monteiro Lobato, tem raiz africana? E a palavra “quilombo” não signi�ca resistência de escravos no
Brasil, mas tem origem na África subsaariana do lado ocidental?
Vamos conhecer um pouco da formação do território da atual Angola, que tem em sua bandeira uma engrenagem e uma
catana, que simbolizam a indústria e o campo. E o fato de serem peças de metal não é mero acaso! Conhecer as origens
de Angola é conhecer um pouco de nós mesmos.
Vamos continuar nossa jornada!
Objetivo
Analisar a estrutura organizacional do Reino de Angola e suas origens;
Identi�car os tipos de escravidão ocorridas na África antes do trá�co negreiro para as Américas.
Angola
Em 1980, um grupo de artistas (Clara Nunes, Martinho da Vila, Alcione, Djavan, Chico Buarque, Gilberto Gil, Dorival Caymmi,
Miúcha, D. Ivone Lara, entre outros) visitou Angola, que conseguira sua independência pouquíssimos anos antes. Essa
excursão, dentre outros motivos, foi para estreitar os lações culturais entre brasileiros e angolanos, que têm histórias em
comum, pois ambos os povos foram colonizados pelos portugueses e muitos angolanos vieram para o Brasil na condição de
escravos.
Dessa viagem resultou uma das músicas de grande sucesso da nossa MPB: Morena de Angola, imortalizada por Clara Nunes.
Em sua letra há referências interessantes, como à praia que dá nome à música (Morena), a culinária (galinha à cabidela), à
dança (chamada de moçambique, que tem como característica o chocalho nos tornozelos).
 Fonte: kuloser / Pixabay.
A nossa miscigenação tem presença angolana, assim como comer galinha com quiabo ou o uso de enfeites e de adornos nos
tornozelos. O que mais nos importa aqui, no entanto, é o nome do projeto cultural que reuniu tantos artistas: Kalunga. Por que
“Kalunga”?
Para começar, precisamos conhecer o território e as etnias que deram origem aos angolanos.
 Grupos étnicos de Angola em 1970. Fonte: Wikipédia (2020).
 Os ambundu
 Clique no botão acima.
Os ambundu, cuja língua é o kimbundu, habitavam na faixa de terra entre dois importantes rios da região: Kwanza,
Bengo e a Baixa de Kassange. Formaram dois importantes reinos pré-coloniais africanos, sendo eles o Reino do
Ndongo e o outro o Reino da Matamba. Sobre o período que compreende os anos de 1100 a 1500 há poucas fontes. O
que temos como fontes são textos da Era Moderna, geralmente produção de portugueses, sendo que as fontes orais
passaram a aparecer em textos escritos somente a partir de 1624.
A sistematização das fontes orais em Angola começou a ser realizada no calor de sua luta por independência, nos
anos 1960 e 1970, como forma de cultivar a memória para alimentar a resistência. Sendo assim, parte do que
abordaremos �ca sob o terreno de hipóteses. Outra parte, mais �ltrada pelo confronto de relatos orais, nos dá uma
percepção ampla da organização dos povos que ali viviam.
Há consenso no sentido de que os povos que constituíram o povo angolano eram de origem banta. Foram caçadores,
coletores e agricultores que migraram para uma região que tivesse fertilidade, chuva e rios. Assim, os rios Kwanza e
Bengo foram fundamentais para o sedentarismo dos migrantes. É bom destacar que esse território não era
despovoado. Havia um grupo de povos não bantos e de pigmeus que foram deslocados ou interagiram com os recém-
chegados.
Os povos originais já produziam sua própria alimentação por meio de práticas agrícolas, com exceção da região mais
próxima do deserto de Kalahari. O que produziam? Sorgo, feijões, amendoim, inhame, banana e cana-de-açúcar (essas
duas últimas culturas foram bene�ciadas pelo ritmo de chuvas na região). Havia também domesticação de animais,
como cabras e galinhas. Esses povos ensinaram aos migrantes a riqueza de proteínas a partir da ingestão de larvas e
de peixes.
Como a �oresta equatorial nessa região é entrecortada por regiões de savana houve riqueza de produção de alimentos
que gerava autossu�ciência, que foi reforçada com a descoberta de minas de ferro no planalto de Benguela,
importância esta que você verá adiante.
Os ambundos (ou mbundos) eram um dos povos migrantes com maior presença na região. O tronco linguístico é o
quimbundo, mas havia uma grande variedade de dialetos. Igualmente, houve grandes mudanças culturais, inclusive no
idioma, na relação com povos vizinhos, com destaque para os congos e ovimbundos.
A sociedade organizada pelos ambundos tinha como centro nuclear a aldeia. Apesar de as linhagens serem
matrilineares (a descendência é determinada pela mãe e as relações de poder pelos irmãos dela, os tios), o poder de
autoridade local era masculino.
Além das práticas agrícolas e da pesca já citadas, havia entre os ambundos a prática artesanal para produção de
vasos de cerâmica destinados a guardar sementes e alimentos. Como você já viu, os rios eram importantes para esse
povo. Assim, além da pesca, assimilada de povos anteriores, os ambundos começaram a se especializar em construir
embarcações. Desse modo, poderiam dar conta da locomoção de pessoas e do comércio que começou a se
desenvolver com a descoberta de extração de sal em mangues e lagoas.
Ainda acerca da formação aldeã dos ambundos cabe destacar que os �lhos, como você já viu, eram ligados à família
materna (matrilinearidade). A partir da adolescência os meninos iam para as aldeias che�adas pelos tios maternos. As
meninas �cavam na aldeia de origem e só passavam a viver na aldeia de um tio materno em caso de viuvez ou
separação, ou seja, em idade mais avançada.
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
As linhagens eram eternas, assim como os títulos de comando dentro das aldeias. Os títulos não eram hereditários. O
título principal, no início da formação da comunidade dos ambundos, era o do lemba dia angudu, o homem mais velho
que personi�cava a memória e a linhagem mais antiga. Seria a personi�cação do pai fundador daquela aldeia. Seu
papel, no entanto, não era apenas o de preservar a memória ou de dar apoio, dos mais jovens aos antepassados. O
lemba era o intermediário entre os vivos e os mortos, o responsável pela fertilidade da terra e das mulheres. O
crescimento da aldeia dependia do aumento populacional, assim o lemba era fundamental para a vitalidade e a
permanência da comunidade.
O lemba tinha uma característica comum a qualquer dos ambundos. Sua habitação �cava sob um fícus, árvore que
surge em região com bastante água. Sob essa �gueira o lemba reunia-se com os mais velhos para tomada de
decisões e para dar avisos sobre abundância ou escassez para a comunidade.
Lemba, na língua quimbundo, signi�ca “tio”, termo que é muito usado na nossa sociedade para designar
respeitosamente pessoas mais velhas ou como demonstração de afetividade, mesmo não sendo um parente real. Eis
uma herança desse povo que nos chegou pela escravidão.
Outro importante personagem para os ambundos é o caçador. Os caçadores organizavam-se em uma espécie de
“sociedade secreta”, uma “irmandade”, com códigos internos, simbologias e ritos. Seu papel entre seus pares ia além
do domínio de técnicas de caça e conhecimentos de trilhas, ou seja, tinham domínio da natureza no que se refere a a
alimentarem a comunidade.
O papel do caçador também era transcendental, pois acreditava-se que teria poderes místicos para a obtenção da
caça. Havia um número de aprendizes para cada caçador, que passavampor um duro treinamento, similar ao dos
espartanos ou assírios. Não eram guerreiros, mas precisavam saber como passar por frio, calor, chuva, subir e descer
montanhas e árvores, além de dominar armas e animais. Pausaremos agora esse assunto para voltarmos a ele em
breve.
Em Pernambuco, na época de Carnaval, há uma famosa manifestação cultural, o maracatu. O primeiro registro sobre essa
manifestação data do século XVIII, que a descreve como uma festa de escravos. Uma das características do maracatu é a
criação de bonecas de madeira ou de cera (há relatos que até de pano já existiram) e que essa boneca, de nome Kalunga (ou
Calunga) é pega por uma matriarca ligada à umbanda e passa de mão em mão nas andanças pelas ruas de Recife embalada
por canções próprias. Geralmente, são duas bonecas, mas também há casos de maracatus com três calungas.
Saiba mais
A calunga é uma boneca preta fantasiada e que traduz o elemento religioso do grupo, simbolizando força e poder. É um totem, e a
ela são ainda feitos pedidos pelos brincantes antes do cortejo. A principal boneca ou calunga é chamada de “Dona Emília”, que
passa pela igreja de Nossa Senhora do Rosário e diante de terreiros. O nome Kalunga você viu no projeto de artistas que foram
para Angola na abertura da aula. Vamos ver melhor o signi�cado da boneca “Emília”?
A calunga vem de um mito de origem acerca do fundador
dos ambundos, Angola Ineme. Segundo a tradição oral,
Ineme trouxe de terras distantes do nordeste ou das águas
dos rios várias bonecas de madeira, a lunga (calunga é o
plural de lunga). A lunga era uma escultura feminina preta,
simples, geralmente de madeira e enfeitada com tiras de
panos coloridos. Os ambundos colocavam as bonecas no
curso das águas de rios e de seus a�uentes para pedir
prosperidade e longevidade para a aldeia, além de garantir
conquistas contínuas de novas terras para abrigar a
população que crescia.
 Bloco de Maracatu e suas calungas. Fonte: Wikipédia (2020).
A guarda e proteção da lunga eram de responsabilidade de um chefe espiritual, que traduzia as forças da boneca para a aldeia.
Antes de se imaginar que isso seja fruto de feitiçaria, a forma pela qual a comunidade e seu responsável tratavam o artefato de
madeira era muito mais uma prática de totemismo do que magia negra ou algo similar, até porque não havia o uso da boneca
para práticas malignas contra inimigos.
Através do diálogo com a lunga, o responsável por ela distribuía recursos e cobrava tributos para a manutenção da aldeia e o
apoio aos mais necessitados, como anciãos e órfãos.
Atenção
Um detalhe importante é a hierarquização das calungas. As bonecas principais eram aquelas que �cavam dispostas ao largo do
rio mais importante. As calungas “secundárias” estavam presentes na beira dos a�uentes do rio. Isso criava uma linha de
hierarquia entre seus guardiões.
A bacia hidrográ�ca determinava o poder das calungas e, consequentemente, de seus protetores. A bonequinha que era “lunga”
foi chamada erroneamente de “calunga” pelos europeus, que desconsideraram a distinção entre o singular e o plural. É
importante saber que, gradativamente, esses protetores das calungas passaram a ser chefes políticos centralizados e
tornaram-se reis.
Dessa forma, você, bravo estudante, já sabe o porquê de o nome Kalunga ter sido escolhido para nomear o projeto de
intercâmbio cultural entre Angola e Brasil (a boneca preta faz parte das duas culturas). O nome “Emília” também não foi
escolhido ao acaso por Monteiro Lobato, pois nas primeiras aparições da boneca falante nas histórias infantis do Sítio, ela era
feita de trapos pretos.
Os guardiões das lungas passaram a ter um problema a partir do século XIII, aproximadamente, devido à migração dos
sambas, povo originário da região norte de Angola. A principal característica desse povo era o manuseio de ferro de alta
qualidade, superior ao dos ambundos. Os sambas usavam artefatos de metais (lâmina de uma enxada, um martelo, uma faca,
por exemplo) para lhes dar prosperidade e segurança — um amuleto ao qual davam o nome de angola. Os sambas diziam-se
descendentes do pai fundador, Angola Musuri, também conhecido como “o primeiro ferreiro”.
Dessa forma, para você não se perder, temos que sintetizar o conteúdo. Havia três tipos de autoridades:
Os líderes das aldeias responsáveis pela sua linhagem;


Os protetores das calungas – alguns centralizaram o poder;
Os derivados dos sambas, que acreditavam no artefato de ferro como símbolo de prosperidade, segurança e poder.
A gradativa substituição das bonecas de madeira por artefatos de ferro permitia às aldeias mais distantes dos rios terem um
objeto mágico para atender às suas necessidades, um amuleto para chamar de seu. Outro indicativo do que essa troca
apresenta para os africanistas é a gradativa substituição de uma economia baseada em madeira, palha, peles e penas de
animais para uma tecnologia mais desenvolvida, o ferro.
Assim, o guardião da angola (seja o objeto que for, desde que tenha ferro como marca principal) foi batizado pelo nome do
povo que teria levado essa cultura para os ambundos. O nome do guardião passou a ser samba.
Com o decorrer do tempo, o samba tornou-se chefe da comunidade. Houve um claro con�ito entre os detentores dos poderes
místicos das bonecas que viviam às margens dos rios com os guardiões dos objetos de ferro. Não há fontes que possam nos
auxiliar acerca de con�itos mais graves que tenham gerado algo parecido como uma guerra civil.
Saiba mais
O cenário foi favorável para o samba, que passou a ser chamado por um termo dos mais respeitosos naquela cultura: lemba, ou
melhor, lemba dia angola (o tio da angola). Anos depois, outro termo foi acoplado, quiluanje (o conquistador), que mostra as
intenções do povo ambundo. O lemba dia angola/quiluanje passou a constituir uma linhagem própria em sua respectiva aldeia
e passou a angola para seus �lhos crescidos e casados, o que signi�cou uma hereditariedade baseada no sagrado e na
centralização do poder.
O reino passou a ser conhecido como Reino Andongo de Angola. Não à toa sua capital era próxima, como destaca o africanista
Alberto Costa e Silva (2011), de minas de ferro de Benguela e de jazidas de sal de Quissama. Ferro e sal, sal e ferro — duas
novas riquezas do reino que pensa em expandir-se militar e comercialmente.
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
A metalurgia do ferro, a cerâmica, o manuseio de madeira para cestos e
embarcações, o uso de rá�a para tecidos, a extração do sal associadas ao
pastoreio, à pesca e à agricultura formam a estrutura de atividades
econômicas do Reino de Angola.
Quando o comércio se expande nessa região pelos interesses do Reino do Congo, como já visto em aula anterior, onde há
moedas que passam de conchas (nzimbos) a pedaços de tecidos e, posteriormente ao uso do cobre, o Reino de Angola
começa a ter a exploração de cobre como meta, pois tem rochas que são a base desse metal, como calcocita, calcopirita e
bornita.
Com o aumento do Reino e de suas riquezas há um adensamento demográ�co provocado por migrações internas. Ademais, a
melhor variedade de alimentos ricos em proteínas, vitaminas, �bras e carboidratos permite um crescimento demográ�co
interno.
Terras livres ainda existiam para serem exploradas. O problema é que o lembe (a partir de agora, para �ns didáticos, usaremos
apenas o termo “rei”) e parte de seus familiares não trabalham mais, porém há terras disponíveis que precisam de braços para
o trabalho. Qual era o nó nessa situação? Os patriarcas — sejam os lembas dia angudu ou os lembas dia angola/quiluanje —
pararam de produzir, tais quais seus herdeiros.
Com o Estado crescendo, em expansão pelo quiluanje, ao longo do tempo as aldeias submeteram-se ao poder central. O chefe
político tinha um grupo de conselheiros que funcionavam como burocratas. O peso maior que a política teve sobre o sagrado
fez os reis começarem a perceber que algo era necessário para que a população não se revoltasse com a perda de autonomia
e com o pagamentode tributos.
Comentário
Por conta disso foi criado um sistema de distribuição gratuita de bebidas, como vinho e cerveja, para a população — algo
semelhante ao “pão e circo” dos romanos —, naquilo que �cou conhecido como “a bebida do rei”.
Contudo, a necessidade de braços para gerar excedentes agrícolas em virtude do aumento da população e do incremento do
comércio era essencial. Assim, surgiu a escravatura doméstica.
O escravo doméstico era responsável pelo aumento da produção
agrícola e também liberava a mulher do trabalho no campo, de modo
que ela podia �car mais próxima de seus �lhos e dos afazeres
domésticos e, quando fosse o caso, poderia ter uma gestação sem
maiores riscos. 
Os escravos domésticos iniciais eram criminosos condenados à pena
de morte que tiveram mudança de pena ou prisioneiros de guerras
das aldeias que não se submetiam ao rei. A expansão do reino de
Angola passou a ter outra motivação: o domínio de pessoas.
Um ponto importante a se destacar é que no território que hoje compreende Angola, República Democrática do Congo e
Namíbia nem todos os povos optaram pela criação de um Estado uni�cado. Os ngbandi, por exemplo, optaram por fazer uma
espécie de confederação de reinos sem um poder central.
Ainda sobre o tema Estado, a presença invasiva do Reino de Angola contrariava outros povos, como os ovimbundu, situados na
região sudoeste de Angola no planalto de Benguela, que compreendia três etnias (nyaneka-humbe, ambos, ovahereros) que
tinham práticas agrícolas como a criação de gado com chifres longos.
 Os ovimbundu
 Clique no botão acima.
Os ovimbundu acabaram por dividir-se em 12 estados sem um líder central. Cada estado passou a ter forti�cações
que os arqueólogos descobriram recentemente, o que permite identi�car a situação de guerra e de tensão entre os
ovimbundu e os ambundos.
Houve o surgimento de um reino fundado pelos ovimbundus, o Reino de Culembe, mas que deixou pouquíssimos
vestígios. Sabe-se que desse reino foi feita a fundação de outro, provavelmente a partir de uma linhagem dos
culembes, o Reino de Libolo. Dominadores do uso do ferro, esse povo teve uma característica marcante: um exército
que parecia uma máquina de guerra similar a dos exércitos dos espartanos ou assírios.
Seus guerreiros tinham lealdade entre si como se fundassem uma nova família, com ritos de iniciação e treinamento
duro. Um dos ritos de iniciação era a prática de circuncisão com pedra quente. Esse exército criou uma ideia de corpo
que assustava seus vizinhos mais ao norte.
Desse reino surgiu o termo “quilombo”, que servia para designar a localidade no meio da �oresta para onde os homens
fugiam da escravidão imposta pelos interesses europeus. Os soldados, diante da possibilidade de uma derrota,
preferiam fugir a entregar-se para os homens brancos. Em locais de difícil acesso na mata construíam uma pequena
forti�cação com um muro em forma de círculo.
O termo “quilombo” servia para designar o muro, mas alguns linguistas apuraram que serve, em determinados
contextos, para também designar “sangue” ou “circuncisão”, o que associa o quilombo a irmandade de homens que
uniram-se pelo sangue da circuncisão, ou seja, era um pacto entre iguais.
Assim, chegou essa palavra ao vocabulário do Brasil colonial: refúgio de escravos fugitivos que se unem — apesar das
diferenças étnicas — em um pacto contra um inimigo comum em um local de difícil acesso.
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
Com a chegada dos portugueses a partir de sua rota pelo litoral africano (Périplo Africano) houve maior número de rivalidades
estimuladas pelos europeus, pois esses viam nas guerras uma forma de obter metais, sal e escravos. Após a já estudada
presença de Diogo Cão no Congo, houve penetração dos portugueses pelo território do sudoeste africano ao ponto de o Reino
de Angola constituir-se em uma capitania hereditária no mesmo modelo que o Brasil, em 1588.
A força das armas de fogo, o enfraquecimento de líderes por conta de guerras, a obtenção de escravos, que enfraquecia a
economia, acabou por causar o mesmo que ocorrera no Congo: o enfraquecimento gradativo do poder do rei de Angola.
Pólvora e cristianismo uniram-se para mudar o per�l do poder local. Um exemplo disso é o nome da nova capital de Angola:
São Paulo de Luanda, poucos anos antes de o reino virar uma capitania, no ano de 1576.
Saiba mais
Com a União Ibérica (1580-1640), os holandeses começaram a invadir territórios portugueses em virtude da interrupção do
comércio do açúcar determinado pela Espanha, que governava os dois reinos da Península Ibérica. Assim como ocorreu no Brasil,
os holandeses invadiram Angola pelo litoral e ocuparam regiões importantes para obtenção de escravos, como Benguela.
Em 1648 os portugueses retomam o território e cabe aqui uma observação importante. ainda não se pode considerar Angola
como uma colônia propriamente dita de Portugal. É verdade que havia o domínio pela força e cada vez mais pela religião, assim
como também um número maior de portugueses �xando-se no território africano e casando-se com angolanas. Porém, como
já foi dito, era uma capitania hereditária, ou seja, um processo de colonização de caráter privado por meio de uma concessão
da Coroa portuguesa.
A ocupação portuguesa era mais voltada para a costa angolana com fortes e feitorias que destinavam-se ao comércio
transatlântico de escravos para o Brasil. A ocupação propriamente dita, a partir do Estado e com a interiorização ocorreu em
meados do século XIX por pressão inglesa e francesa na região, devido ao interesse em óleo de palma, amendoim, cera,
algodão e café (produto que saiu do Brasil para o território angolano). Era necessário ocupar para não perder — assim pensava
Portugal no XIX.
Atividade
1. Na aula sobre a formação do Reino de Angola você aprendeu sobre o uso das calungas, qual era seu propósito e sua relação
com o poder mais centralizado. Por outro lado, o uso de angolas trazidas pelos sambas mudou gradativamente a concentração
do poder. Explique, sem usar como referência os mitos de origem ou crenças, a possibilidade que os historiadores citam para
responder a esse deslocamento do poder.
2. A dinâmica quilombola é normalmente entendida como um processo de marginalização e desespero. Analise esta ideia.
3. Discuta a relação entre o poder da Igreja e a organização dos migrantes escravizados nas terras brasileiras.
NotasReferências
MACEDO, J. R. (org.). Desvendando a história da África. Porto Alegre: UFRGS, 2008.
MOHAMMED, E. F. História geral da África, III: África do século VII ao XI. Unesco. Disponível em:
https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000190251. Acesso em: 21 out. 2020.
SILVA, A. C. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. 5. ed., rev. e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.
SILVA, A. C. A Manilha e o Libambo: a África e a escravidão de 1500 a 1700. Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 2011.
Próxima aula
Identi�car os tipos de escravidão ocorridas na África antes do trá�co negreiro para as Américas;
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de t ca os t pos de esc a dão oco das a ca a tes do t á co eg e o pa a as é cas;
Caracterizar aspectos gerais da África meridional.
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