Buscar

9543-bookculturaafrobrasileira

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 156 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 156 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 156 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

www.esab.edu.br
História e Cultura
Afro-Brasileira
CURSO DE PEDAGOGIA
História e Cultura 
Afro-Brasileira
Vila Velha (ES)
2016
Escola Superior Aberta do Brasil
Diretor Geral 
Nildo Ferreira
Diretora Acadêmica
Ignêz Martins Pimenta
Coordenadora do Núcleo de Educação a Distância
Ignêz Martins Pimenta
Coordenadora do Curso de Administração EAD
Giuliana Bronzoni Liberato
Coordenador do Curso de Pedagogia EAD
Custodio Jovencio
Coordenador do Curso de Sistemas de Informação EAD
David Gomes Barboza
Produção do Material Didático-Pedagógico
 Escola Superior Aberta do Brasil
Design Educacional
Bruno Franco
Design Gráfico
Bruno Franco
Diagramação
Bruno Franco
Equipe Acadêmica da ESAB
Coordenadores dos Cursos
Docentes dos Cursos
Copyright © Todos os direitos desta obra são da Escola Superior Aberta do Brasil.
www.esab.edu.br
Av. Santa Leopoldina, nº 840
Coqueiral de Itaparica - Vila Velha, ES
CEP 29102-040
Apresentação
Caro (a) estudante:
Seja bem-vindo(a) à disciplina História e Cultura Afro-Brasileira. Neste momento, 
iniciamos mais uma etapa de estudos que envolvem novos conhecimentos,energia 
e dedicação, com o objetivo de proporcionar novas perspectivas de ensino eapren-
dizagem, de modo a concluir com sucesso mais esta etapa.
Os temas que serão abordados possuem caráter de grande relevância para sua
formação acadêmica, uma vez que irão contribuir positivamente para a divulgação 
e valorização da trajetória dos negros no Brasil. Buscaremos mostrar a origem de 
ideias preconceituosas que subalternizam a população negra, desde o Brasil colo-
nial até a contemporaneidade. Analisaremos questões fundamentais da atualidade 
como políticas afirmativas e de valorização da história e cultura afro-brasileira que 
contribuem para diminuir preconceitos e acabar com visões estereotipadas sobre 
lugares e povos de origem africana. 
Nosso aporte teórico está pautado nos trabalhos de Munanga (2012), Albuquer-
que (2006), Mattos (2015) e Thornton (2004), bem como de documentos oficiais e 
importantes legislações, como a lei 10.639/03. 
Dessa maneira, convidamos você para o estudo das unidades que se seguem e o
desenvolvimento das atividades propostas. Bons estudos!
Objetivo
Esta disciplina tem por objetivo analisar a História do continente africano e 
suas contribuições culturais, sociais e econômicas para a formação da sociedade 
brasileira. Buscaremos relacionar a trajetória do negro no Brasil, desde os tempos 
coloniais, com a atual situação de desigualdade e preconceito de que padece 
essa parcela da sociedade. Nossa disciplina vincula-se à obrigatoriedade legal de 
administrar conteúdos,que colaborem para erradicar o racismo e a discriminação 
étnico-racial no Brasil
Habilidades e competências 
• Problematizar os estereótipos construídos acerca da História da África e da 
contribuição africana no Brasil.
• Refletir sobre a importância, potencialidades e consequências da Lei nº 10.639/03.
• Analisar a situação da população negra logo de sua chegada ao Brasil.
• Analisar as formas de resistência negra desde a colônia até a atualidade.
• Problematizar as consequências do fato de não ter havido nenhuma política de 
inserção da população negra na sociedade, logo após a abolição da escravidão.
Ementa
Esta disciplina abrange os seguintes aspectos concernentes à História da Cultura 
Afro-brasileira: As matrizes africanas da cultura afro-brasileira. O conceito de 
Afro-Brasileiro. Trabalho, cultura e resistência negra no Brasil. Cultura africana, 
sincretismo e miscigenação. Brasil/África e a formação do Atlântico Negro. O 
significado da África na formação do Brasil. As Relações Brasil-África ao longo do 
Século XIX.
Sumário
1. INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DE CULTURA AFRO-BRASILEIRA ...............................................7
2. A LEI 10.639 E O COMBATE À DISCRIMINAÇÃO ...................................................................12
3. NEGRITUDE NO BRASIL: A QUESTÃO DAS IDENTIDADES ......................................................18
4. ÁFRICA: GEOGRAFIA DE UM CONTINENTE ...........................................................................24
5. ÁFRICA: A ORIGEM DA HUMANIDADE .................................................................................29
6. EGITO: UMA CIVILIZAÇÃO AFRICANA ..................................................................................35
7. SOCIEDADES AFRICANAS: ÁFRICA OCIDENTAL ....................................................................39
8. ÁFRICA OCIDENTAL: REINOS SUDANESES ............................................................................42
9. REINOS SUDANESES: MALI E SONGAI ..................................................................................46
10. ÁFRICA CENTRO OCIDENTAL E ÁFRICA ORIENTAL .................................................................49
11. “UM RIO CHAMADO ATLÂNTICO” ........................................................................................57
12. ÁFRICA E AFRICANOS NO TRÁFICO ATLÂNTICO ....................................................................61
13. AS VIAGENS TRANSATLÂNTICAS ..........................................................................................65
14. ESCRAVIDÃO COMO INSTITUIÇÃO SOCIAL ............................................................................69
15. A ÁFRICA QUE CHEGA AO BRASIL ........................................................................................72
16. RESISTÊNCIA NEGRA ..........................................................................................................78
17. QUILOMBOS .......................................................................................................................82
18. ALFORRIAS .........................................................................................................................86
19. NEGROS LIBERTOS: FORMAS DE VIVER E PARTICIPAR ...........................................................90
20. EM VISTAS DE ABOLIÇÃO ....................................................................................................93
21. MOVIMENTO ABOLICIONISTA .............................................................................................98
22. A LUTA CONTINUA ............................................................................................................102
23. SER NEGRO NO BRASIL PÓS ABOLIÇÃO. .............................................................................106
24. LUTAS DO SÉCULO XX .......................................................................................................110
25. SÉCULO XX: ORGANIZAÇÕES E CULTURA COMO RESISTÊNCIA .............................................115
26. HERANÇAS CULTURAIS AFRO-BRASILEIRAS: CARNAVAL E SAMBA .....................................123
27. HERANÇAS CULTURAIS AFRO-BRASILEIRAS: CAPOEIRA E JONGO.......................................129
28. RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA- PARTE 1 .......................................................................133
29. RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA- PARTE 2 .......................................................................137
30. A COR DA VIOLÊNCIA NO BRASIL .......................................................................................143
Glossário .................................................................................................................................153
Referências .............................................................................................................................155
www.esab.edu.br 7
1 Introdução aos estudos de Cultura Afro-brasileira
Objetivo
Traçar um panorama de como a adoção da escravidão moldou toda a 
sociedade colonial brasileira, a fim de demonstrar a importância da 
lei 10639/03 e de outras políticas afirmativas.
Acompanharemos no decorrer do nosso material didático a formação da 
cultura afro- brasileira em nossa sociedade. Nosso principal objetivo é 
contribuir para divulgar a trajetória da população negra no Brasil. 
Atualmente,vive-se um período de grande preocupação com as 
desigualdades étnico-raciais que assolam nossa sociedade desde os 
tempos coloniais. Nesse panorama surgiram, nos últimos anos, algumas 
ações afirmativas que buscam reverter essa situação. A produção desse 
material didático se insere nesse quadro e faz parte de um esforço de 
divulgação da causa negra e de adesão da sociedade à causa da igualdade 
de oportunidade para todos.
Contaremos uma das versões possíveis para a história do negro no Brasil. 
Esse processo demanda algumas escolhas, mas o que esperamos é trazer 
nessas páginas um material que tem o negro como personagem principal, 
o que não é comum nos materiais didáticos convencionais.
Há quem diga que o Brasil vive uma democracia racial que supõe 
igualdade de direitos e oportunidades para todas as categorias étnico-
raciais. Como sustentar essa afirmação,quando vemos diante de nós uma 
realidade tão desigual para população negra e indígena? 
Para compreendermos a origem da discriminação étnica racial na nossa 
sociedade é preciso voltar ao passado e entender como foi gestada a 
sociedade colonial e como foi organizada a ocupação territorial do Brasil.
www.esab.edu.br 8
Desde a sociedade colonial, negros foram escravizados e explorados pela 
elite colonial. Para justificar essa situação, foram criados estereótipos 
sobre esse grupo e o conceito de raça foi utilizado,de modo a justificar a 
situação de segregação. 
A ocupação do Brasil pelos portugueses se deu de forma que a colônia 
deveria garantir à metrópole produtos para a exportação. Para tanto, a 
distribuição do território em latifúndios monocultores que utilizavam o 
trabalho compulsório foi fundamental para a produção em larga escala.
A utilização do trabalho compulsório do negro resultou numa sociedade 
discriminatória que se apoiava em critérios étnicos. A escravidão 
penetrou na sociedade brasileira para além do mundo do trabalho e 
condicionou o modo de agir e pensar de toda sociedade. Mesmo depois 
do fim legal da escravidão, o preconceito com o negro sobreviveu e 
persiste até os dias atuais. 
A escravidão, além de alimentar preconceito étnico racial, também gerou 
banalização da violência. Os castigos aos escravos eram práticas usuais 
e legitimadassocial e juridicamente. Os diversos métodos de resistência 
negra sempre foram uma constante na sociedade. Eles variaram em sua 
forma e podiam ser através de desobediências, fugas, sabotagens e outros.
No fim do século XIX,quando os negros enfim conseguiram se libertar 
legalmente da escravidão,surgiram teorias racistas que se utilizavam do 
conceito de raça para hierarquizar grupos da sociedade e inferiorizar os 
negros. Os negros foram então apontados como a origem dos males do 
Brasil. Enquanto os brancos foram colocados como mais laboriosos, de 
melhor caráter e maior capacidade, os negros foram acusados defonte do 
atraso e da barbárie. As teorias racistas foram adotadas pelos intelectuais 
brasileiros da época e pela população em geral. Os projetos de incentivo 
à imigração surgiram nesse contexto, com a finalidade de “branquear” 
a sociedade. Dessa forma, os padrões culturais dos brancos dominantes 
eram reforçados e tendiam a aumentar a discriminação. As teorias racistas 
favoreceram os imigrantes europeus identificados com a civilização e 
desqualificou negros, mestiços e indígenas.
www.esab.edu.br 9
A lei Áurea libertou os escravos juridicamente, mas na prática pouca 
coisa mudou, já que essa lei não garantiu a inserção social dos negros. 
Muitos deles, após a abolição, voltaram às fazendas e se sujeitaram a 
baixos salários, ou, muitas vezes, trabalhavam em troca de comida e 
moradia. Aos negros que foram para as cidades coube os empregos 
subalternos e informais. 
Ainda hoje a população negra ocupa lugar inferior nos índices de 
qualidade de vida. Esse grupo é o que tem menos acesso à educação e 
ao trabalho, possuindo também os menores salários e o menor índice de 
ascensão social. Os libertos conseguiram se livrar juridicamente de uma 
condição inferior, mas não conseguiam se livrar do estigma da cor.
No Brasil do século XX, a situação de discriminação não foi alterada. O 
início da nossa república foi marcado por crises financeiras, aumento do 
custo de vida e projetos de reurbanização e embelezamento das cidades 
que resultaram no afastamento da população pobre (em sua maioria, 
negros) para a periferia e morros que acabaram por constituir favelas. 
A luta negra continuou com força no século XX. Nesse cenário, tivemos 
algumas importantes mudanças na legislação. A partir de 1964, o Brasil 
passou por uma ditadura civil militar. A repressão dificultou a ação dos 
diversos movimentos a favor da causa negra. Na década de 1970, com o 
início da abertura política, surgiu um dos movimentos mais importantes 
para a causa negra, o Movimento Negro Unificado.
Influenciado pela luta dos negros norte-americanos em busca de direitos 
civis e pela luta empreendida por países africanos pela conquista de suas 
independências, o Movimento Unificado Negro tinha o objetivo de 
consolidar a identidade negra nacional.
Na década de 1980, impulsionados pela reabertura democrática 
e por campanhas da Organização das Nações Unidas contrárias à 
discriminação, diversas organizações se colocaram em defesa da luta 
contra a discriminação e a desigualdade vividas, cotidianamente, pela 
população negra. 
www.esab.edu.br 10
Nesse panorama, foi apresentado o Projeto de Lei nº 18, de 1995, de 
autoria da parlamentar Benedita da Silva, que propunha a inclusão de 
História da África nos três níveis de ensino do Brasil.
Em 1993,foi criada em São Paulo a Delegacia Especializada de 
Crimes Raciais, que buscava analisar crimes de discriminação devido a 
preconceitos de raça, etnia, cor ou religião. 
A Constituição de 1988, vigente até então, seguiu essa lógica e previu em 
seu artigo quinto a punição para crimes de discriminação étnico racial:
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos 
seguintes:
XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória aos direitos e liberdades 
fundamentais;
XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena 
de reclusão, nos termos da lei; [...] 
(BRASIL, 1988, p. 2)
O Código Penal brasileiro também ganhou em seu artigo 208, da Lei nº 
7.716, punições para quem cometesse a prática de racismo.
Em 2001, o Estado brasileiro assumiu o compromisso de implementar 
políticas afirmativas, como reparação aos malefícios causados pela 
escravidão. A partir de então, houve a obrigatoriedade de se incluir no 
currículo escolar a disciplina História Geral da África e do Negro no 
Brasil, que se concretizou com a Lei nº. 10.639/2003. 
Outra iniciativa de suma importância foi a criação, em 2003, da 
Secretaria Especial de Política de Promoção da Igualdade Racial (SEPIR). 
Essa secretaria teria como objetivo desenvolver políticas voltadas 
para a promoção da igualdade racial e proteção aos grupos étnicos 
discriminados.
www.esab.edu.br 11
Tais iniciativas, como a lei 10.693/2003 e a criação da SEPIR são um 
grande avanço para valorização da diversidade étnica e cultural do Brasil, 
além disso, contribuem para que se busque superar a desigualdade racial 
que vigora no país desde os tempos coloniais. 
Veremos mais sobre essa legislação na unidade seguinte.
www.esab.edu.br 12
2 A Lei 10.639 e o combate à discriminação
Objetivo
Demonstrar a demanda dos movimentos negros pelo acesso à 
educação formal. Verificar como gradualmente as legislações 
municipais e estaduais foram formulando leis de combate à 
discriminação, até a tomada de posição do poder federal.
Como vimos, a abolição da escravatura não libertou a população 
negra do racismo e da exclusão imperantes na sociedade brasileira. Os 
negros perceberamque a abolição havia sido o primeiro passo de uma 
luta que perdura até os dias atuais e tem em sua pauta a superação da 
desigualdade social e do racismo e a mobilidade social.
Um dos caminhos empregados pelos negros em suas lutas foi a 
valorização da educação formal, vista como fundamental para superar 
exclusão sócio-racial. 
Embora saibamos da grande responsabilidade da escola na perpetuação 
das desigualdades sociais, não há dúvidas de que a busca por instrução 
formal é umdos passos na luta para igualdade de oportunidades. 
Sabemos que na educação vigora uma visão eurocêntrica que inferioriza 
os africanos e desqualifica e rotula a África, conforme afirmou o militante 
negro Abdias do Nascimento (NASCIMENTO, 1978: 95 apud 
SANTOS, 2005, p.23):
O sistema educacional [brasileiro] é usado como aparelhamento de controle 
nesta estrutura de discriminação cultural. Em todos os níveis do ensino brasileiro 
– elementar, secundário, universitário – o elenco das matérias ensinadas, como 
se se executasse o que havia predito a frase de Sílvio Romero, constitui um ritual 
da formalidade e da ostentação da Europa, e, mais recentemente, dos Estados 
Unidos. Se consciência é memória e futuro, quando e onde está a memória africana, 
parte inalienável da consciência brasileira? Onde e quando a história da África, o 
desenvolvimento de suas culturas e civilizações, as características, do seu povo, foram 
www.esab.edu.br 13
ou são ensinadas nas escolas brasileiras? Quando há alguma referência ao africano ou 
negro, é no sentido do afastamento e da alienação da identidade negra. Tampouco 
na universidade brasileira o mundo negro-africano tem acesso. O modelo europeu 
ou norte-americano se repete, e as populações afro-brasileiras são tangidas para 
longe do chão universitário como gado leproso. Falar em identidade negra numa 
universidade do país é o mesmo que provocar todas as iras do inferno, e constitui um 
difícil desafio aos raros universitários afro-brasileiros.
Sabendo da reprodução da desigualdade presente no sistema de ensino, 
mas também conscientes de que sem a educação formal dificilmente 
poderiam alcançar mobilidade numa sociedade em processo de 
modernização, os movimentos negros passaram a incluir em suas pautas 
a luta para que o Estado brasileiro incluísse em seu currículo oficial a 
história da África, da cultura negra e de sua importância na formação da 
sociedade brasileira. 
Em 1950, no I Congresso do Negro Brasileiro, que foi promovido 
pelo Teatro Experimental do Negro (TEM), jásefalava dessa questão ao 
recomendar o “estudo das reminiscências africanas no país, bem como 
dos meios de remoção das dificuldades dos brasileiros de cor e a formação 
de Institutos de Pesquisas, públicos e particulares, com esse objetivo”. 
Notamos, portanto,que essa é uma reivindicação antiga, que já se figura 
desde metade do século XX. No entanto, notamos uma intensificação 
dessa reivindicação a partir do ressurgimento dos movimentos negros 
durante a reabertura democrática no Brasil, conforme vimos no módulo 
anterior. Como afirmou Hasenbalg (HASENBALG, 1987 apud 
SANTOS, 20085, p.24), as principais demandas com relação à educação 
a partir da década de 1980, foram:
- Contra a discriminação racial e a veiculação de idéias racistas nas escolas.
- Por melhores condições de acesso ao ensino à comunidade negra.
- Reformulação dos currículos escolares visando à valorização do papel do negro 
na História do Brasil e a introdução de matérias como História da África e línguas 
africanas.
- Pela participação dos negros na elaboração dos currículos em todos os níveis e 
órgãos.
www.esab.edu.br 14
Algumas dessas reivindicações históricas dos movimentos sociais negros 
passaram a ser analisadas pelos governos brasileiros da década de 
1990, como a revisão de livros didáticos ou eliminação daqueles que 
representavam os negros de forma estereotipada e inferiorizada. 
Desde então, muitos municípios começaram a se articular para colocar 
critérios étnico-raciais na adoção de livros didáticos. A exemplo disso 
temos as Leis Orgânicas dos municípios de Salvador, Belo Horizonte, 
Teresina e Rio de Janeiro que, em 1998 e 1999, estabeleceram princípios 
de educação igualitária e,consequentemente,excluindo de seu currículo 
livros que trouxessem visões com estereótipos sexistas, racistas e sociais. 
(SANTOS, 2005).
Indo além dessas conquistas, a pressão dos movimentos negros e sua 
articulação com políticos sensíveis à questão étnico-racial fez com 
que muitos estados e municípios incluíssem em suas legislações a 
obrigatoriedade do ensino de disciplinas sobre a História dosNegros no 
Brasil e a História do Continente Africano nos ensinos fundamentale 
médio das redes estaduais e municipais de ensino. Esse foi o caso das 
legislações do estado da Bahia, Pará (Belém), Rio Grande do Sul e Minas 
Gerais (Belo Horizonte), Piauí (Teresina), Sergipe (Aracaju) e outros. A 
nível de exemplo, temos o caso de Belo Horizonte que, em 21 de março 
de 1990, promulgou uma Lei Orgânica impondo que:
Art. 182. Cabe ao Poder Público, na área de sua competência, coibir a prática do 
racismo, crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da 
Constituição da República.
Parágrafo único. O dever do Poder Público compreende, entre outras medidas:
[...]VI – a inclusão de conteúdo programático sobre a história da África e cultura afro-
brasileira no currículo das escolas públicas municipais. (Lei Orgânica do Município de 
Belo Horizonte apud SANTOS, 2005, p.27).
A pressão por mudanças chegou a nível federal e em 2003 o então 
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, promulgou a Lei 
10.639/03, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – 
LDB/Lei 9.394/96, (BRASIL, 1996) e torna obrigatório o estudo sobre 
a cultura e história afro-brasileira e africana nas instituições públicas e 
privadas de ensino.
www.esab.edu.br 15
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e 
particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
§ 1ª - O Conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo 
da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra 
brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do 
povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
§ 2ª - Os Conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no 
âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de 
Literatura e História Brasileiras.
Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da 
Consciência Negra”.
Outra medida de suma importância foi a criação,em 21 de março de 
2013, da SEPPIR (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da 
Igualdade Racial) que tem por objetivo:
Promover alteração positiva na realidade vivenciada pela população negra e trilhar 
rumo a uma sociedade democrática, justa e igualitária, revertendo os perversos 
efeitos de séculos de preconceito, discriminação e racismo.
O governo federal, por meio da Seppir, assume o compromisso histórico de romper 
com os entraves que impedem o desenvolvimento pleno da população negra 
brasileira.(BRASIL, 2004, p.8)
Sabemos que a promulgação de uma lei não garante sua aplicação. Nesse 
sentido, o Ministério da Educação criou em 2009 o Plano Nacional das 
Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-
Raciais e para o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, 
no qual é solicitado aos governos municipais e estaduais o envolvimento 
na luta por uma educação antirracismo no Brasil, incluindo em suas 
agendas direcionamentos que garantam a implementação das Diretrizes 
Curriculares Nacionais que regulamentam a Lei 10.639/03
www.esab.edu.br 16
Em linhas gerais esse Plano recomenda que: a temática étnico-racial seja 
incluída nos Projetos Políticos-Pedagógicosdas escolas, haja formação 
de professores para ensino da cultura afro-brasileira e que se efetivem 
mudanças no currículo para incluir o ensino da história e cultura africana 
e afro-brasileira. 
As Diretrizes e o Plano Nacional de implementação das diretrizes 
não propõem que o viés branco europeu seja substituído por um viés 
exclusivamente afro-brasileiro e africano. Isso seria negar a contribuição 
dos povos europeus e também indígenas e demais na constituição da 
sociedade brasileira. Sabemos que o currículo é produzido em meio às 
disputas da sociedade, logo, privilegiar alguns assuntos em detrimento de 
outros é também colocar o que é e o que não é importante na história e 
na cultura. Um currículo que desconsidere a diversidade de identidades 
se torna um instrumento educacional autoritário e de exclusão 
(SANTOS, 2005).
Estudo Complementar
O Plano Nacional das Diretrizes Curriculares 
Nacionais para Educação das Relações 
Étnico-Raciais é um documento de 
suma importância para os docentes da 
atualidade. Faça a leitura desse documento 
completo, acessando o link: http://portal.
mec.gov.br/index.php?option=com_
docman&view=download&alias=1852-
diretrizes-curriculares-pdf&category_
slug=novembro-2009-pdf&Itemid=30192
A Lei nª 10.639 é, com certeza, uma vitória da população negra e um 
avanço na democratização do ensino, no entanto, ainda há muito a 
ser feito. A implementação de políticas públicas não irá acabar com 
as tensões e desigualdades étnico-raciais presentes em nossa sociedade, 
contudo, elas representam um grande avanço para reescrever a história, 
evidenciando o papel ativo que a população negra teve no processo de 
formação da sociedade brasileira. Desconstruir discursos hegemônicos 
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1852-diretrizes-curriculares-pdf&category_slug=novembro-2009-pdf&Itemid=30192
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1852-diretrizes-curriculares-pdf&category_slug=novembro-2009-pdf&Itemid=30192
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1852-diretrizes-curriculares-pdf&category_slug=novembro-2009-pdf&Itemid=30192
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1852-diretrizes-curriculares-pdf&category_slug=novembro-2009-pdf&Itemid=30192
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1852-diretrizes-curriculares-pdf&category_slug=novembro-2009-pdf&Itemid=30192
www.esab.edu.br 17
já se torna um grande passo reparação da dívida histórica e das 
desigualdades que assolam alguns grupos étnico- raciais no nosso país. 
Por fim, cabe salientar que essa lei não é fruto da boa vontade de 
políticos, mas de anos de luta e pressão da população negra por uma 
educação não eurocêntrica e anti-racista.
Fórum
Caro estudante, participe do nosso Fórum de 
discussões. Lá você poderá interagir com seus 
colegas e com seu tutor de forma a ampliar, 
por meio da interação, a construção do seu 
conhecimento. Vamos lá!
www.esab.edu.br 18
3 Negritude no Brasil: A Questão das identidades
Objetivo
Analisar como ocorre a constituição das identidades na atualidade, 
em específico, a identidade política negra.
Além da identidade nacional brasileira possuímos outras inúmeras 
identidades, como de gênero, étnica, religiosa, de classe e outras. 
Vivemos num mundo onde assumimos diversas identidades que podem 
cobrar lealdades distintas e até contraditórias entre si. Somos, desse 
modo, sujeitos de identidades transitórias e fortuitas. De acordo com 
Munanga (2015), falar de identidade negra ou afro brasileira passa 
necessariamente pela negritude como uma categoria sócio-histórica e 
não biológica e pela situação do negro em um país predominantemente 
racista.
Quando falamos de identidade negra no Brasil, já podemos supor que 
existem outras identidades que convivem com a identidade nacional. 
Nem sempre a identidade nacional convive de forma harmoniosa com 
outras identidades. A maior parte das identidades nacionais tenta se 
sobrepor sobre as demais identidades étnicas e culturais. Essa é a origem 
de muitos movimentos separatistas, por exemplo, no qual alguns grupos 
sentem a opressão imposta pela identidade nacional em detrimento da 
identidade étnica e, por isso, tentam se separar para constituírem Estados 
autônomos.
Nos outros casos, como o Brasil, a luta de algumas identidades não é 
por separação, mas por reconhecimento público e integração à história e 
educação nacional.
Existem, atualmente, inúmeros intelectuais e políticos que defendem 
o chamado multiculturalismo, termo que nos remete àexistência 
dentro de um mesmo país e sociedade de outras inúmeras identidades 
www.esab.edu.br 19
culturais (religiosa, linguística, cultural, étnica e outras). O discurso 
sobre identidade negra só tem sentido num contexto plural, ou seja, 
multicultural.
3.1- Identidade Individual
Sabemos que toda identidade nasce da alteridade, ou seja, da relação 
entre o “nós” e os “outros”. É no âmbito da cultura e da história que 
definimos nossas identidades sociais (gênero, nacional, étnica, classe). 
Quando nascemos e recebemos nomes que indicam nosso sexo e levamos 
o sobrenome de nossas famílias, estamos formando nossa identidade 
pessoal. E para que serve esse processo? Para marcar a diferença, para 
mostramos que somos indivíduos diferentes dos demais. Quando 
afirmamos ser alguma coisa, estamos negando outras inúmeras realidades. 
Por exemplo, se digo que sou brasileiro, nessa frase implicitamente já 
digo também que não sou belga, guatemalteco, mexicano e etc. A nossa 
identidade individual faz parte da nossa construção como seres humanos. 
Nas sociedades modernas,a identidade individual é materializada na 
nossa carteira de identidade, sem a qual não existimos oficialmente. 
3.2- Identidade coletiva
As identidades coletivas nada mais são do que definições de um grupo. 
Essa definição pode se dar internamente, dentro do próprio grupo que 
seleciona características dentro de seu complexo cultural (língua, religião, 
arte, sistemas políticos, economia, visão do mundo) para se aglutinar. 
Nesse caso, trata-se da definição de identidades por autoatribuição ou 
autodefinição.
Há também as identidades coletivas definidas externamente, por pessoas 
de fora desse grupo. A exemplo dos europeus que ao chegarem no 
Brasil nomearam todas a etnias nativas aqui existentes de indígenas. 
Nesse caso,trata-se de identidades definidas através da hétero-definição 
ou hétero-atribuição. Para identificar outros grupos,usamos critérios 
que julgamos serem objetivos como características culturais, históricas, 
linguísticas, religiosas.
www.esab.edu.br 20
3.3- Identidade negra
Quando falamos da identidade negra construída dentro da própria 
comunidade negra,sabemos que assim como as demais, ela também 
se constrói gradativamente e envolve diversas variáveis. Um fator 
constitutivo da identidade negra é a história. No entanto, aí encontramos 
problemas, já que quando a história do negro é contada do ponto de 
vista do “outro”, ela é carregada de cargasdistorções e cargas depreciativas 
e negativas. 
A coesão de uma história comum é um dos pontos de maior segurança 
dos grupos identitários. É a razão pela qual cada povo faz um esforço 
para conhecer e viversua verdadeira história e transmiti-la para as futuras 
gerações. Distorcer ou destruir essa história foi uma das estratégias 
utilizadas no Brasil colonial para destruir a memória coletiva dos povos 
escravizados e colonizados. 
No processo de construção da identidade negra, é essencial encontrar a 
verdadeira história do negro e nos afastar da história do negro que foi 
construída de forma negativa e que ainda persiste na nossa sociedade. 
Com isso, já podemos perceber a importância sem igual de ensinar 
a história da África e a história do negro no Brasil, a partir de novas 
abordagens. Para dar subsídios à construção da identidade negra,é 
imperioso que a história mostre o papelativo que o negro possui no 
processo de construção da cultura e do povo brasileiro.
Outro fator que constitui a identidade é a cultura (religiões, artes, 
medicinas, tecnologias, ciências, educação, visões do mundo, etc.). 
Quando pensamos nos povos que construíram o Brasil, pensamos nos 
portugueses, italianos e alemães de uma forma positiva, com toda uma 
carga cultural que nos faz ter orgulho dessas contribuições. Ao pensar 
nos africanos que chegaram aqui, logo acredita-se que os africanos 
foram trazidos aqui depois de sua captura, apenas como primitivos 
que chegaram “nus” acorrentados e, como todos os primitivos, não 
trouxeram nada ao Brasil que importasse para ser considerado como uma 
contribuição digna de nome. No entanto, o que vemos no cotidiano é 
que toda a cultura africana está enraizada no modo de ser do brasileiro. 
www.esab.edu.br 21
A contribuição africana é infindável, passando por culinária, artes 
musicais, visuais, religiões até o modo de ser. A questão que se coloca 
diante disso é que é essencial o resgate dessas contribuições de forma 
positiva e não mais as imagens negativas e depreciativas que vigoram no 
imaginário da sociedade brasileira. 
De acordo com Munanga (2012),o fator psicológico também é 
constitutivo da identidade negra. Podemos nos perguntar se há diferença 
entre o temperamento dos negros e dos brancos, caso tal afirmação seja 
comprovada, devemos procurar sua explicação no condicionamento 
histórico do negro no Brasil e não em explicações biológicas que não 
se sustentam. Como professores,poderemos cotidianamente observar 
o comportamento dos alunos em sala de aula e, além dos preconceitos 
inegáveis, poderemos descobrir alguns comportamentos comuns a todos 
os alunos negros que podemos considerar como uma característica de sua 
identidade psicológica coletiva.
Por fim, outro fator constitutivo da identidade é a língua, no caso 
da população afro brasileira, as línguas se perderam no contexto da 
escravidão. No entanto, devemos considerar que há remanescentes dessas 
línguas que sobrevivem até os dias atuais. Um exemplo disso são os 
terreiros religiosos de candomblé onde línguas africanas ainda servem de 
comunicação entre os humanos e os deuses. 
3.4- Por que falar de identidade negra?
Falar de identidade negra não quer dizer falar somente da diferença de 
pigmentação da pele, ela também se refere à visão comum que o mundo 
branco ocidental reuniu sob a nomenclatura de negros. Como afirmou 
Munanga (2012, p. 12):
A negritude não se refere somente à cultura dos portadores da pele negra, que, aliás, 
são todos culturalmente diferentes. Na realidade, o que esses grupos humanos têm 
fundamentalmente em comum não é, como parece indicar o termo negritude, a cor 
da pele, mas sim o fato de terem sido na história vítimas das piores tentativas de 
desumanização e terem sido suas culturas não apenas objeto de políticas sistemáticas 
de destruição, mais do que isso, ter sido simplesmente negada a existência dessas 
culturas.
www.esab.edu.br 22
Tomada de consciência de uma comunidade de condição histórica de todos aqueles 
queforam vítimas da interiorização e negação da humanidade plena pelo mondo 
ocidental, a negritude deve ser vista também como confirmação e construção de uma 
solidariedade entre as vítimas.
Não possuímos uma identidade única. Dependendo do contexto em que 
estamos inseridos, podemos assumir inúmeras identidades.
Imagem: Identidade negra e racismo
Fonte: <http://novaescola.org.br/consciencia-negra/africa-brasil/identidade-negra.shtml>
Muitas das identidades que assumimos têm conteúdo e finalidade 
política, pois reúnem em suas demandas mudanças políticas e sociais. A 
identidade negra que reúne todos os negros de todos os gêneros, religiões 
e classes é uma identidade política. Atualmente se fala muito no fato de 
não existir um discurso político sobre a identidade branca, apesar de essa 
identidade existir de maneira implícita. 
A questão que se coloca e que é nítida as vantagens e privilégios que a 
condição de brancos oferece na nossa sociedade. Por que não falamos 
de identidade branca, identidade masculina, identidade heterossexual 
ou identidade burguesa? Exatamente porque homens, brancos, 
heterossexuais e burgueses sempre estiveram no topo da pirâmide social, 
política e econômica, portanto, não há necessidade de se mobilizarem 
politicamente para conquistar espaços que já têm garantidos e 
www.esab.edu.br 23
consolidados na sociedade desde os tempos coloniais. Como afirmou 
Munanga: “O tigre não precisa proclamar e gritar sua tigritude, pois ele 
domina a selva de que é rei. São os mais fracos que precisam se mobilizar 
para defender sua existência, daí a razão de ser de suas identidades 
coletivas.” (MUNANGA, 2012, p.14)
www.esab.edu.br 24
4 África: Geografia de um continente 
Objetivo
Discorrer sobre a geografia do continente africano,priorizando 
informações que nos serão úteis para entender as próximas unidades.
Apesar de ter abrigado grandes civilizações antigas, a história e 
geografia do continente africano ainda carecem de pesquisas. Para tal, 
faz-se necessário que tenhamos algumas noções geográficas gerais do 
continente. 
O continente africano é o terceiro maior em extensão, perdendo somente 
para a América e Europa,respectivamente. Ele possui uma área de 
aproximadamente 30 milhões de quilômetros quadrados e a população 
de aproximadamente 1,2 bilhões de habitantes, representando 14,3% 
do total mundial, divididos em 54 países e 6 dependências. O número 
de habitantes é uma estimativa,já que a falta de atualizações no censo 
dificulta o estabelecimento de dados precisos (CONCEIÇÃO, 2006).
4.1- Clima e relevo
Ao analisarmos a geografia do continente africano,é notória a diversidade 
de climas e vegetações que se formam de modo paralelo ao Equador. A 
maior parte de seu território está localizado numa zona intertropical, 
o que faz com ela seja o continente mais quente e úmido do mundo. 
Sua temperatura média é de 20°. Ao calor, soma-se a seca que cresce 
em direção aos trópicos. A umidade é característica das regiões de baixa 
latitude na África.
www.esab.edu.br 25
Imagem: Climas da África
Fonte: geografiapraquemnaosabia.blogspot.com.br/2009/11/geografia-dos-continentes-europa-africa.html
A distribuição dos recursos energéticos, minerais e hidrográficos é 
um dos elementos que despertaram a cobiça e dominação a que foi 
submetido o continente africano. A África é o continente mais árido 
do mundo, com 30% dos desertos do planeta. O maior deles, o Saara, 
com mais de oito milhões de km. Os desertos do Kalahari e Namibe 
estão localizados no sudoeste do continente. Com isso, a África se torna 
o continente com a maior área desértica do mundo. Na antiguidade, o 
deserto do Saara dificultou o contato de maior parte da população do 
continente com outras áreas. A partir de cerca de 3000 a.C. a difusão do 
camelo como meio de transporte para atravessar o deserto, revolucionou 
a comunicação africana com outros continentes (CONCEIÇÃO, 2006). 
www.esab.edu.br 26
A África permaneceu durante muito tempo somente com rotas 
comerciais dentro do próprio continente. Sua localização entre dois 
oceanos e com grandes faixas desérticas colaboraram para essa situação. 
O isolamento nunca foi completo, já que havia contato entre o 
mediterrâneo e a África Tropical. O deserto do Saara dificultava,mas não 
impossibilitava esses contatos. O Saara atuou como um filtro natural que 
limitou a penetração de outros povos. 
Diversos povos como chineses, árabes e indianos mantiveram relações 
comerciais e se misturaram aos povos africanos. Esses contatos nunca 
provocaram grandes rupturas como as que resultaram dos contatos com 
os europeus. 
O continente europeu, com seu pequeno território e escassez de recursos 
e população, ao chegar na América no século XV, encontrou na África 
o fornecedor do que lhes era escasso. A política mercantilista européia 
impôs à África uma corrida para dominar sua população eseus recursos 
naturais. 
A escravidão surgiu como uma solução para a falta de mão de obra 
necessária àcolonização européia na América. O tráfico de escravos, além 
de prover a mão de obra, tornou-se uma das atividades mais lucrativas 
para os negociantes europeus.
A região central do congo possui uma floresta equatorial que se prolonga 
pela costa atlântica até Gana. Essa área vai até os relevos da África 
Oriental, no leste. De acordo com Conceição (2006, p.16), essa área é 
caracterizada por:
É uma floresta esponja, encharcada de água, com vegetação emaranhada, com 
circulação praticamente reduzida aos rios. É a região onde ainda são predominantes 
as epidemias. A mosca tsé-tsé, que exterminava o gado, não permitiu a tração 
animal, daí o não uso da roda e do arado. É o mundo da enxada, da terra de pouca 
espessura, na sua maioria lexivadas pela laterite, o que torna esse tipo de solo incapaz 
de produzir culturas protéicas. Essa área equatorial e os desertos são responsáveis 
principais pela baixa taxa atual de terras cultiváveis: somente 6% do total, a maior 
parte localizada nos planaltos, já que as planícies costeiras são exíguas.
www.esab.edu.br 27
Há também a chamada África Alta, uma faixa de cadeias montanhosas 
que se estende da áfrica do sul ao leste onde se encontram famosos 
montes: o Kilimanjaro (5.963 m), o Kênia (5.211 m) e o Ruwenzori 
(5.110 m).
4.2- Regiões
As divisões do continente comumente obedecem a dois critérios: 
regional e étnico. Levando em consideração o critério regional, a África 
pode ser dividida em 5: África do Norte ou Setentrional, África do Sul 
ou Meridional ou Austral, África Ocidental, África Oriental e África 
Central.
Imagem: Mapa da África- Regiões
Fonte: <http://umolharquedesconstroi.weebly.com/>
Levando em conta o deserto do Saara e a divisão étnico-cultural, temos 2 
partes: a África Mediterrânea ou África Branca; e a África Subsaariana ou 
África Negra
www.esab.edu.br 28
4.3- População
Embora tenha uma alta taxa de crescimento demográfico, a África possui 
uma baixa densidade demográfica (22 hab/Km2) além de ter grande 
desigualdade na distribuição da população. Essa situação se dá devido às 
enormes diferenças geográficas entre as regiões africanas. 
Nota-se também que a população africana é majoritariamente jovem. 
Embora a taxa de mortalidade infantil africana seja a mais alta do 
mundo, encontramos também uma grande taxa de natalidade. 
(CONCEIÇÃO, 2006)
www.esab.edu.br 29
5 África: a origem da humanidade
Objetivo
Analisar o surgimento dos primeiros grupos humanos e as teorias que 
preconizam que isso teria acontecido na África.
Foi no continente africano que surgiram os primeiros grupos humanos 
que conhecemos. Conhecer a História da África é, portanto, conhecer o 
surgimento da própria humanidade.
Charles Darwin foi um dos principais cientistas a publicar obras com 
base em observações empíricas na ilha de Galápagos, no Equador, que 
indicavam que a vida é um processo de constante adaptação e luta pela 
sobrevivência. 
Em sua obra “A descendência do homem”, publicada em 1871, Darwin 
já havia antecipado que o processo que conduziu ao surgimento do 
homem havia se iniciado na África. Até então sabia-se que na África 
tinham vivido macacos extintos que se relacionavam diretamente 
com os chimpanzés e gorilas, as espécies de mamíferos mais próximas 
do homem. Esses indícios levaram Darwin a teorizar que a evolução 
humana havia se iniciado na África. No entanto, à época da publicação 
de “A descendência do homem” nenhum fóssil humano primordial 
havia sido encontrado na África. Em decorrência não somente da falta 
de provas empíricas, mas também do preconceito contra a história e 
cultura africana, a hipótese de Darwin foi abandonada pela comunidade 
científica. Ao final do século XIX, com a descoberta de fósseis na Europa 
e na Ásia, a teoria de Darwin parecia estar cada vez mais distante(SILVA, 
2007).
www.esab.edu.br 30
5.1- A criança Taung
Em 1924 foi encontrado, por Raymond Dart, o fóssil da criança Taung, 
um dos primeiros fósseis humanos encontrados na África. Tratava-se de 
crânio fossilizado que teria vivido há cerca de 2,5 milhões e que seria 
um dos ancestrais do homem. Atualmente, essa descoberta tem sido 
considerada por muitos o fóssil mais importante do século XX,por ter 
transferido o ponto de origem humana euroasiática para uma origem 
africana. No entanto, à época da descoberta, o preconceito contra a 
África foi mais forte e determinou o abandono da descoberta de Dart 
bem como da teoria de Darwin pela comunidade científica.
Imagem 1: Crânio da criança Taung
Fonte: <http://labs.icb.ufmg.br/lbem/aulas/grad/evol/humevol/extra/hominideos.html>
5.2- “Lucy in the Sky with Diamonds”
A partir de então, diversos outros fósseis foram descobertos. Em 1974, 
o paleontólogo americano Donald Johanson e seus colaboradores 
descobriram um extraordinário fóssil de hominídeo na região de Afar, 
na Etiópia. Foi um grande achado,já que se tratava de um esqueleto 
feminino quase completo. Diz-se que a esse fóssil deu-se o nome de Lucy 
devido à canção “Lucy in the Sky with Diamonds” da banda britânica 
www.esab.edu.br 31
The Beatles, tocada num gravador no acampamento, e por a terem 
definido como uma fêmea. O nome científico do fóssil depois passou a 
ser “Australopitecus Afarensis”. A idade de Lucy é de aproximadamente 
3,5 milhoes de anos.
Imagem 2: Esqueleto Lucy
Fonte: <http://www.seara.ufc.br/especiais/biologia/origemdohomo/origemdohomo04.htm>
Durante algum tempo, o Australopitecus Afarensis foi o fóssil de 
hominídeo mais antigo já descoberto. Hoje, porém, já conhecemos 
fósseis mais antigos que Lucy e outros mais recentes que permitiram 
montar um quadro da nossa evolução bem mais detalhado e complexo.
Com relação aos processos de adaptação, acredita-se atualmente que o 
passo decisivo rumo ao surgimento do homem foi o bipedismo. Uma 
importante transformação adaptativa permitiu a mudança de função dos 
membros superiores de órgãos de locomoção para órgãos de manuseio de 
instrumentos. Essas transformações estão ligadas a importantes mudanças 
climáticas do continente africano há cerca de 15 milhões de anos. Por 
volta dessa época,a África apresentava extensas florestas que abrigavam 
diversas espécies de macacos. 
A formação de cadeias montanhosas interferiu nas correntes aéreas e 
forçaram a diminuição da pluviosidade dos territórios da África Oriental. 
Com menos chuva, as florestas úmidas foram dando espaço a florestas 
mais abertas, arbustos e bosques. Diante de tais transformações, a 
inovação evolutiva se viu favorecida e surgiu o bipedismo como uma 
nova adaptação a ambientes mais abertos. 
Os primeiros hominídeos de que temos conhecimento foram os 
Autralopitecos, macacos bípedes considerados os ancestrais humanos 
www.esab.edu.br 32
mais antigos, como nos demonstram os fósseis da criança Taung e 
da fêmea Lucy. O passo seguinte foi dado por Jonathan Leakey ao 
encontrar, em 1960,no desfiladeiro de Olduvai, na Tanzânia, um fóssil 
com o cérebro maior do que o dos australopitecos e que, de acordo 
com as pesquisas, fabricava utensílios de pedra afiada, utilizava o fogo 
e alimentava-se de carne. Louis Leakey batizou essa nova espécie de 
“Homo Habilis”, ou seja, homem habilidoso no fabrico de instrumentos 
e o considerou a linhagem que conduziu a formação dos humanos 
modernos. No desfiladeiro de Olduvai,também foram encontrados 
artefatos de pedra lascada, o que torna a África precursora também no 
emprego da tecnologia (SILVA, 2007).
Há cerca de 2 milhões de anos a árvore humana apresentava dois ramos: 
os australopitecíneos e os homini, por volta de 1 milhão de anos os 
australopitecíneos foram extintos. 
O passo seguinte foi o aparecimento do Homo Erectus, há 1,8 milhão 
de anos, que também se desenvolveu na África. Com o cérebro maior, 
o Homo Erectus se aproxima dos humanos modernos,possuindo 
características de cooperação social que levam a crer que havia repartição 
de alimentose divisão sexual do trabalho. O Homo Erectus é a espécie 
que migrou da África para a Europa e Ásia e assim deu continuidade 
à sequência evolutiva que deu origem ao Homo Sapiens, há mais ou 
menos 500 mil anos (SILVA, 2007).
Imagem: Escala evolutiva dos hominídeos
Fonte: http://mikajojo.webnode.com.br/news/sobre-os-hominideos/
www.esab.edu.br 33
Resumo
Na unidade 1,tivemos um panorama de como a adoção da escravidão 
moldou toda a sociedade colonial brasileira. Adota para atender 
os interesses mercantis da metrópole portuguesa, a escravidão 
moldou não somente as relações econômicas, mas toda a sociedade 
brasileira,adentrando na mentalidade da população. 
Vimos também que a resistência negra sempre foi diversa e constante. 
Como resultado da pressão e resistência negra, a legislação brasileira foi 
incorporando leis de combate ao racismo e, mais atualmente, leis que 
impõe a obrigatoriedade do ensino de História da África e da cultura 
Afro-Brasileira
Na unidade 2, tratamos da demanda dos movimentos negros pelo 
acesso à educação formal, vista como de suma importância para melhor 
colocação no mercado de trabalho e na sociedade.
Vimos também como gradualmente as legislações municipais e estaduais 
foram formulando leis de combate à discriminação, até a tomada 
de posição do poder federal que culminou na promulgação da Lei 
10.639/2003 que impõe a obrigatoriedade do ensino de História da 
África e dos Africanos e da História da Cultura Afro-Brasileira. Devemos 
estar atentos de que essa lei não foi exatamente resultado da boa vontade 
de políticos, mas sim de anos de resistência negra e de pressão dos 
movimentos e coletivos negros espalhados pelo Brasil
Na unidade 3, adentramos pelo complexo mundo das identidades. 
Vimos que as identidades individuais se formam a partir do nosso 
nascimento e sempre em referência ao outro. Vimos que as identidades 
coletivas podem se dar por autoatribuição ou hétero-atribuição. A 
identidade negra é uma identidade coletiva que usa diversos critérios 
na sua constituição, como história e cultura em comum. A formação 
www.esab.edu.br 34
dessa identidade coletiva como uma identidade política é importante 
na medida em que se transforma em um instrumento de luta contra o 
histórico de desigualdades e preconceitos de que a população negra tem 
sido alvo. 
Na unidade 4, tivemos acesso a informações sobre a geografia do 
continente africano. Essas informações nos serão úteis para entender, nos 
próximos módulos, um pouco mais da história desse continente e dos 
povos das principais regiões que vieram para o Brasil,trazendo todo seu 
legado histórico-cultural. Descobrimos que a África é o continente mais 
quente do mundo e com maior área desertificada. Vimos que apesar do 
deserto se constituir uma barreira natural, ele nunca impediu o contato 
dos africanos com outros povos, principalmente após a introdução do 
uso do camelo nas principais rotas comerciais do continente. 
Na unidade 5, constatamos que os primeiros grupos humanos de que 
temos conhecimento, surgiram na África. Vimos que em 1871 Darwin 
afirmou que o surgimento do homem havia se iniciado na África, no 
entanto, em decorrência não somente da falta de provas empíricas, mas 
também do preconceito contra a história e cultura africana, a hipótese 
de Darwin foi abandonada pela comunidade científica. Anos mais tarde, 
em decorrência da descoberta de importantes fósseis como a criança 
Taung e o esqueleto Lucy, a teoria de Darwin passou a ser revisitada e 
reconsiderada. 
www.esab.edu.br 35
6 Egito: uma civilização africana
Objetivo
Compreender as características e a grandeza da civilização egípcia na 
antiguidade, destacando sua localização no continente africano.
A partir de agora, iniciaremos uma caminhada pela história do 
continente africano. Neste módulo, buscaremos caracterizar a civilização 
egípcia por se tratar de uma das mais importantes civilizações da 
antiguidade. Nos módulos 7, 8, 9 e 10,trataremos dos povos da chamada 
África Atlântica, pois foi dessa região que saíram os povos africanos que 
chegaram ao Brasil a partir do século XVII e, por isso, são os que mais 
contribuíram para nossa formação.
O continente africano também foi berço de uma das civilizações mais 
importantes da Antiguidade: o Egito. Embora muitos materiais didáticos 
coloquem o Egito como uma civilização do Oriente Próximo (sudoeste 
asiático), urge lembrar sua localização, o continente africano. 
De acordo com Silva (2011), podemos entender como civilização uma 
sociedade que apresente: organização política formal (Estado); distinção 
entre proprietários e não proprietários dos meios de produção; fundação 
de cidades; artesanato especializado; trabalho em conjunto; sistema de 
escrita e incorporação das crenças religiosas por um poder local. 
Nesse sentido, podemos afirmar que o Egito passou a assumir esses 
contornos por volta de 3200 a.C., no período denominado Pré-
Dinástico.
A unificação das comunidades egípcias do sul e do norte por um poder 
central, o faraó, tem sido assunto de divergência entre os pesquisadores. 
Muitos deles nos apontam Menés como o líder da unificação egípcia, 
no entanto, essa afirmação carece de comprovação. O faraó mais antigo 
que a arqueologia apresenta é Scópion seguido de Namer, que, em suas 
www.esab.edu.br 36
representações, aparecia portando duas coroas, a branca e a vermelha. 
Esse indício pode indicar que Namer tenha sido o verdadeiro responsável 
pela unificação do Alto e Baixo Egito. 
Imagem: Mapa Alto e Baixo Egito
Fonte: <http://www.sohistoria.com.br/ef2/egito/>
O Estado faraônico regulava as trocas com o exterior e a exploração da 
mão de obra. A grande centralização de poder fez surgir um enorme 
abismo entre a massa de camponeses e a elite. Essa última era composta 
pelo faraó, figura considerada sagrada, e os que os cercavam, como 
sacerdotes, escribas, nobres. Já os camponeses formavam a maior parte da 
população, trabalhavam nas propriedades do faraó e dos sacerdotes, eles 
ficavam com parte da produção nessas áreas.
A primeira modalidade de escrita egípcia foi o hieróglifo, uma escrita 
pictográfica de difícil compreensão e aprendizado. Com o tempo 
surgiram outras modalidades de escrita, herdeiras dos hieróglifos, porém 
de uso mais simples e cotidiano, como a hierática e a demótica. A escrita 
hieroglífica se restringiu auma elite de escribas e sacerdotes. 
www.esab.edu.br 37
O rio Nilo era o principal recurso natural de que dispunham os egípcios. 
Ao longo dele as terras eram ocupadas com plantações de trigo, cevada, 
lentilha, frutas, legumes, algodão e papeiro. Seu regime de cheias ditava 
as ocupações dos camponeses. Durante cheias que ocorrem entre julho e 
outubro, devido ao derretimento da neve das montanhas da Etiópia, as 
águas trasbordavam, deixando sobre a terra uma camada de nutrientes 
que fertilizavam os solos. Nesse período, os trabalhadores ficavam livres 
para realizarem atividades como manutenção de tanques e canais e outras 
tarefas. Nos outros períodos do ano, ocorria drenagem da inundação, 
época propícia para a semeadura. . Além de propiciar o cultivo do 
trigo, da cevada e do linho, o Nilo representava um reservatório para o 
extrativismo animal e vegetal. Dele, os egípcios retiravam peixe, papiro 
(utilizado no fabrico de cabanas, barcos, esteiras, cordas e material para 
a escrita), juncos e caniços (matéria-prima para a confecção de cestas, 
cordas, móveis e barcos) e barro, com o qual faziam tijolos crus e objetos 
de cerâmica. Além de tudo isso, o Nilo era também o principal meio de 
integração entre o Alto e o Baixo Egito. 
Apesar da tecnologia pouco desenvolvida, a racionalização da mão de 
obra através da formação de equipes colaborativas que se especializavam 
em determinadas funções, garantiu empreendimentos incríveis. Podemos 
notar essa organização e eficáci,observando desde a sistematização 
do trabalho ao redor do rio Nilo até a construção das monumentais 
pirâmides egípcias. 
Imagem: Pirâmides deGizé
www.esab.edu.br 38
Fonte: http://serumapoeta.blogspot.com.br/2015/10/as-piramides-gize.html
A caça nos pântanos e desertos fornecia animais para domesticação 
e alimentação, embora o consumo de carne pelos egípcios fosse 
inexpressivo. 
Podemos concluir que apesar da famosa afirmação de que o Egito fora 
uma dádiva do Nilo, o certo é a prosperidade da civilização egípcia 
foi resultado de um gerenciamento racional e eficaz dos seus recursos 
humanos promovido pelo Estado.
Imagem: Camponeses trabalhando
Fonte: <http://egitorevelado.blogspot.com.br/2011/09/agricultura.html>
Os egípcios eram povos politeístas e antropozoomórficos, ou seja, eles 
adoravam vários deuses e muitos deles assumiam formas humanas e 
animais. Um dos deuses mais importantes do panteão egípcio era Rá, o 
deus sol. 
Os egípcios acreditavam que depois da morte a alma poderia encontrar 
outro corpo, daí a difundida prática de mumificação na intenção de 
conservar os corpos para quando as almas os encontrassem. 
www.esab.edu.br 39
7 Sociedades africanas: África Ocidental
Objetivo
Dissertar sobre as características das principais regiões da chamada 
África Atlântica, ou seja, a porção do continente africanos que 
é banhado pelo oceano Atlântico. Essa porção da África nos 
interessa,pois essa é a origem dos povos que vieram para o Brasil a 
partir do século XVII.
7.1 - Introdução
Por se tratar das áreas que de fato influenciaram a cultura brasileira, 
deteremos nosso estudo à análise das sociedades da chamada África 
Atlântica, ou seja, a porção daquele continente que é banhada pelo 
Oceano Atlântico.
Inúmeros autores corroboram que os africanos que chegaram ao Brasil 
eram provenientes, em sua maioria, de três regiões:
África Ocidental: Região localizada entre o rio Senegal e Cross. Nessa 
região se encontram os principais rios que deságuam no oceano 
Atlântico: Gâmbia, Níger e Volta. Nela, habitam povos como os 
sudaneses e/ou iorubas (nagôs, egbás, ketus); gegês (ewês, fons); fanti 
ashanti; e povos islamizados (mandingas, haussas, peuls). A vegetação é 
marcada por uma faixa de estepe conhecida como Sael (ao sul do Saara), 
savanas e florestas mais ao interior.(SILVERIO, 2013)
África Centro-Ocidental: localizada entre os rios Congo e Cuanza, que 
nascem em Angola e deságuam também no Oceano Atlântico. Nessa 
região, vivem os povos bantos (bakongos, mbundo, ovibundos, bawoyo, 
wili)(SILVERIO, 2013)
www.esab.edu.br 40
África Oriental: região de savanas e cerrados localizada entre os rios 
Limpopo e Zambeze, que deságuam no oceano Índico. Lá, vivem os 
povos conhecidos como moçambiques. (SILVERIO, 2013)
Imagem: Mapa da África Atlântica
Fonte: <http://pt.slideshare.net/jaugustoss/frica-sstese-histrica>
7.2- Os reinos Iorubás da África Ocidental
Os povos iorubas são compostos de diversas etnias que habitavam a 
região sudoeste da atual Nigéria e o sudeste do atual Benin. Eles estão 
ligados entre si por terem o idioma iorubá em comum. 
Atualmente os iorubás formam um dos maiores grupo étno-linguístico 
da África Ocidental, composto por 30 milhões de pessoas em toda a 
região. Sua herança para a cultura brasileira é enorme e inegável, sua 
herança cultural vai da música e culinária até a religião (MATTOS, 
2015).
Originalmente divididos em micro Estados ou reinos, como Ifé, Bono 
e Benin, esses povos viviam principalmente da agricultura do sorgo, 
milhete, quiabo, feijão, inhame e outros, além do comércio de diversos 
produtos como ouro, marfim, ferro, vidro, bronze e couro. Comumente 
as decisões dos miniestados eram tomadas por chefes de linhagens, 
www.esab.edu.br 41
grupos de titulados e por representantes dos grupos de idade. Esses 
últimos grupos se dividiam entre os jovens, adultos e idosos, no qual os 
anciãos eram os mais respeitados. Já os grupos de titulados eram o grupo 
que possuíam maior número de bens ligados à terra, como animais e 
produtos agrícolas. Cada miniestado possuía um chefe que era escolhido 
entre esses três grupos,de acordo com a importância e poder que 
representavam (MATTOS, 2015). 
As constantes ameaças de povos imigrantes e mais fortes militarmente 
fizeramcom que esses povos iorubás se organizassem,introduzindo a 
figura do rei, com um poder centralizado. Isso melhorava as condições de 
proteção desses povos frente às ameaças dos imigrantes. 
Abaixo, poderemos visualizar a época de ascensão dos principais 
Estados e povos de língua iorubá,bem como os principais produtos 
comercializados por esses povos.
ESTADOS ÉPOCA POVOS
PRINCIPAIS 
PRODUTOS 
COMERCIALIZADOS
Bono c. XIII Acãs Ouro
Ifé c.VI
Edo, ibo, nupe, ijó, 
igala, iorubá
Ouro, marfim, noz-
de-cola, escravos
Benin c.XII-XIV Edos
Pimenta-de-rabo, 
anileiras e algodão
Oió c. XV Iorubás Couro
___ ___ Nupes (tapas) Ferro, cola e vidro
Idah ___ Igala Agrícolas
Ijebu-Ode, Idowa, 
Ijebu-Igbo, Owo-Ikeja
___ Ijebus
Metais preciosos, 
escravos, tecidos 
(pano da costa)
___ ___ Egbas, ibos
Objetos em bronze, 
ferro, cobre, contas 
em pedra e vidro
Tabela 1: Reinos iorubás
Fonte: MATTOS, 2015, p.42
www.esab.edu.br 42
8 África Ocidental: Reinos Sudaneses
Objetivo
Conhecer os reinos sudaneses que se desenvolveram na região do 
Sudão, em especial, o reino de Gana. 
Na região do Sael, desenvolveram-se importantes reinos conhecidos 
como sudaneses. Essa nomenclatura se dá ao fato de que a região 
também era conhecida como Sudão, ou, em árabe, Bilad Al Sudan (“terra 
dos negros”).
Imagem: Reinos sudaneses
Fonte: http://www.fafich.ufmg.br/luarnaut/Afrika%20docs.html
Os povos que ali habitaram, desenvolveram alto nível de complexidade, 
chegando a formar reinos. Muito desse desenvolvimento se deveu ao 
comércio transaariano de cereais e de outros produtos como, panos, 
algodão, tâmaras, cobre, cavalos e outros. Eles eram povos sedentários 
que além da agricultura (milhete, arroz, cereais e outros) praticavam 
pesca, caça e criação de gado. Conheciam a metalurgia e produziam 
enxadas e pontas de flechas. Sua estrutura social era complexa, se 
organizavam em comunidades com relações baseadas nas linhagens no 
www.esab.edu.br 43
qual o conselho de anciãos era responsável pela resolução de conflitos nas 
comunidades.
REINOS ÉPOCA POVOS
PRINCIPAIS 
PRODUTOS 
COMERCIALIZADOS
Gana c. IV-XIII soniquês, diulas
Ouro, tecidos,
noz-de-cola
Mali c. XIII- XV
Malinquês, queitas, 
mandingas
Ouro
Songai c. XV- XVI songais
Agrícolas (arroz, 
milhete, sorgo)
Tacrur c. IX- XIV
Sereres, tucolores, 
fulas
Ouro, âmbar, goma, 
lã
Canem e Bornu
c. X- XIV
c. XIV- XIX
Zagauas, sefauas 
canúri
(canembus + saôs)
Escravos
Tabela 2: Reinos sudaneses
Fonte: MATTOS, 2015, p.30
Dentre os reinos sudaneses, destacaremos a importância de Gana, Mali e 
Songai
Ao sul do Saara, na paisagem das savanas e estepes nasceram grandes 
reinos africanos. O mais antigo e duradouro deles, Gana, ficou 
conhecido como o “país do ouro”, tal a riqueza que acumulou. 
Mali (séculos XIII a XV) absorveu o antigo reino de Gana e estendeu 
seus domínios até a costa atlântica. O comércio de sal, a exploração de 
ouro e o controle das rotas transaarianas fortaleceram e prosperam o 
reino de Mali e enriqueceram suas cidades de Tombuctu, Djené e Gao. 
Saiba Mais
Para complementar seus estudos sobre os reinos Sudaneses, 
assista ao vídeo explicativo disponível nos links: 
Parte 1: <https://www.youtube.com/watch?v=fTT0JJInSC8
&feature=youtu.be> 
Parte 2: <https://www.youtube.com/watch?v=6gKicWIQIZ
g&feature=youtu.be>
https://www.youtube.com/watch?v=fTT0JJInSC8&feature=youtu.be
https://www.youtube.com/watch?v=fTT0JJInSC8&feature=youtu.be
https://www.youtube.com/watch?v=6gKicWIQIZg&feature=youtu.be
https://www.youtube.com/watch?v=6gKicWIQIZg&feature=youtu.be
www.esab.edu.br 44
8.1- Gana
Localizado nos territórios que hoje compreendem o Mali e a Mauritânia, 
o Reino de Gana se desenvolveu devido ao comércio transaariano. O 
contato entre a população do norte e a sudanesa se deveu em grande 
parte à domesticação do camelo. Durante a seca os berberesiam para 
a região do Sael realizar trocas comerciais com os povos da região 
(MATTOS, 2015).
Os nômades do norte incorporaram também às suas atividades, os 
saques as populações sedentárias sudanesas que praticavam agricultura. 
Buscando se proteger de tais saques, os sudaneses se tornaram cada vez 
mais centralizados e o resultado disso foi o surgimento de inúmeros 
reinos.
O reino de Gana surgiu como Estado centralizado, em meados do século 
IV. Era formado por várias comunidades soniquês (povo pertencente ao 
grupo lingüístico mandê que habitou o Saara Ocidental antes dessas áreas 
se desertificarem). 
Os soniquês dominaram Gana no século X, período de ascenção ganesa. 
Os soniquês ampliaram seu domínio sobre as regiões auríferas do Senegal 
- da curva do rio Níger ao deserto do Saara. A dominação durou um 
século e a população dominada era obrigada a pagar impostos sobre o 
comércio de mercadorias. Por conta desse comércio, ocorriam constantes 
ataques nômades nas regiões, com isso os soninquês se organizaram 
politicamente e formaram um poderoso exército.
Gana não era um reino expansionista e militarizado, seu Estado era 
mantido através de um forte sistema de cobrança de impostos. A 
sociedade era dividida entre nobres, homens livres, servos e escravos. 
Havia povos completamente sujeitados ao rei e outros que se ligavam a 
ele através do pagamento de impostos. 
Havia grande pompa ao redor da figura do rei que se vestia de túnica e 
andava ornamentado de muito ouro. O poder do rei provinha da enorme 
quantidade de ouro produzida em seu reino. O monopólio do comércio 
de ouro ofereceu recursos para que os soniquês erguessem suntuosas 
www.esab.edu.br 45
cidades, além de uma capital com uma população estimada entre 
15.000 e 20.000 habitantes. A produção do ouro era usada, também, 
para desenvolver outras atividades econômicas, tais como a tecelagem, a 
ferraria e a produção agrícola (MATTOS, 2015).
O ouro era escoado principalmente para a região do Mar Mediterrâneo, 
onde os árabes utilizavam na cunhagem de moedas. Para controlar as 
regiões de exploração aurífera, o rei era responsável direto pelo controle 
produtivo. Para proteger a região aurífera, foram espalhadas lendas sobre 
criaturas do mal e fantasmagóricas, assim se afastava a cobiça de outros 
indivíduos. O sal também tinha grande valor mediante sua importância 
para a conservação de alimentos e a retenção de líquido para os povos 
que vagueavam no deserto.
Imagem: Rotas do comércio de ouro em Gana.
Fonte: http://profissaohistoria.blogspot.com.br/2013/11/o-reino-de-gana.html
Até meados do século XII, Gana possuía amplo controle comercial 
do Sudão. Gana entrou em declínio, no século XII, quando perdeu o 
domínio do comércio de ouro para outros estados sudaneses: Tacrur, 
Zafum e Sosso que venceu militarmente os exércitos de Gana por volta 
de 1203.
www.esab.edu.br 46
9 Reinos Sudaneses: Mali e Songai
Objetivo
Conhecer um pouco da história dos reinos sudaneses, através das 
características de Mali e Songai.
9.1- Mali
Conta a lenda mandinga que o rei do estado sudanês Sosso, Sumanguru 
Kante, dominou os mandingas (do tronco lingüístico Mandê) e 
assassinou toda a família de seu rei, o único sobrevivente desse massacre 
foi Sundiata Keita. Anos se passaram e Sundiata Keita organizou um 
exército e voltou para o Mali, derrotou Sumanguru Kante e retomou 
o poder para a dinastia Keita. Esse foi o marco inicial da ascensão do 
império Mali e o estabelecimento de uma dinastia que reinou do início 
do século XIV ao final do século XVI (MATTOS, 2015).
A população do reino Mali vivia principalmente da agricultura e pecuária 
de subsistência, existindo também o artesanato como uma atividade de 
grande importância para a economia do reino. 
O rei de Mali recebia o nome de Mansa e ele detinha as funções de 
ministrar a justiça no reino, e comandar a guerra. O Império era 
governado de duas formas: no centro, o controle direto do rei, na 
periferia, eram estabelecidos reinos protetorados. O reino central era 
subdividido em províncias com um governador (dyamani tigui). Os 
chefes das províncias reconheciam a soberania do imperador, mas não 
perdiam seu estatuto de chefes. As províncias tinham que pagar tributos 
ao imperador.
A religião oficial do reino Mali era o islamismo. Acredita-se que o islã 
do Mali tenha carregado algumas características das religiões animistas 
do Mali antigo: os dyeli (sacerdotes) praticavam ritos com os rostos 
www.esab.edu.br 47
cobertos por máscaras animistas, a população comia carnes consideradas 
impuras pelo islão, etc. Os comerciantes foram os principais responsáveis 
pela divulgação do Corão no Mali. O islamismo do Mali também foi 
influenciado por diversas outras religiões, inclusive as pagãs. (MATTOS, 
2015).
A mesquita de Djenne era um dos principais centros de peregrinação 
islâmica nas regiões meridionais do Saara e a cidade um importante 
entreposto comercial entre a África do Norte e a África Sudanesa. Djenne 
está localizada no centro-sul do Mali, próxima a um dos vales do rio 
Níger.
Imagem: A mesquita de Djenne (Jenne, Djena), no Mali
Fonte: http://www.ricardocosta.com/artigo/expansao-arabe-na-africa-e-os-imperios-negros-de-gana-mali-e-
songai-secs-vii-xvi
As principais cidades do reino eram Djenné, Ualata e Tombuctu. Por essa 
ultima circulavam sal e ouro das minas do reino Mali, além de marfim, 
peles, noz –de-cola, instrumentos de metal e diversos outros produtos. 
Ao longo do século XIV, Tombuctu se transformou num importante 
centro intelectual do mundo, reunindo cerca de 150 escolas com muitos 
estudantes oriundos de outras partes do território africano (MATTOS, 
2015).
O declínio do Mali começou somente no século XV quando lutas 
internas pela sucessão do trono vieram enfraquecer o poder e geraram a 
desintegração do reino em pequenos estados. 
www.esab.edu.br 48
9.2- Songai
A princípio dominado pelo reino Mali, reino Songai conquistou sua 
independência e se expandiu 2000 km ao longo do vale do Níger. Ele foi 
um dos maiores reinos da história e ganhou notoriedade quando anexou 
diversos territórios do reino Mali. Atingiu seu apogeu no século XV 
através do comércio e agricultura de cidades como Djenné, e Tombuctu. 
A base da mão de obra empregada na agricultura era de escravos 
(MATTOS, 2015). 
Os principais produtos cultivados eram sorgo, milhete e arroz. As 
comunidades produziam seus mantimentos e entregavam parte dele 
ao Estado. Os escravos cuidavam da produção e do transporte de 
mercadorias. Cada comunidade era composta em média de 200 pessoas 
que ficavam sob a vigilância de quatro feitores (fanfas) e um capataz. A 
maioria do povo songai criava rebanhos de animais para viver. Contudo, 
muitos songais viviam em grandes cidades. Todas elas eram centros 
comerciais à beira do rio Níger. Gao era a capital e tinha cerca de 100 
mil habitantes.
As religiões tradicionais conviveram com a chegada do islamismo no 
século XI. Somente no século XV o islamismo foi imposto por clérigos e 
militares muçulmanos que tomaram o poder. 
A decadência do reino Songai começou no século XVI devido a conflitos 
sucessórios. Em 1591,o reino foi conquistado pelo Marrocos.
www.esab.edu.br 49
10 África Centro Ocidental e África Oriental
Objetivo
Conhecer as principais características dos povos da África Oriental e 
Centro-Ocidental, em especial os reinos do Kongo e Ndongo. Debater 
a importância de se estudar História da África para acabar com a visão 
estereotipada que possuímos daquele continente.
10.1- África Centro-Ocidental
Região formada por diversos reinos, como Luba e Lunda, Congo, 
Loango, Tios e Libobo. Comumente se organizavam em aldeias 
comandadas pelo patriarca da linhagem mais importante. A junção 
dessas aldeiasformaram os reinos. Entre os séculos XVI e XIX essa foi a 
região africana que mais exportou escravos.
REINOS ÉPOCA POVOS
PRINCIPAIS 
PRODUTOS 
COMERCIALIZADOS
Luba e Lunda c. XIII Lubas, lundas Agrícolas
Congo c. XIV-XV Congos
Agrícolas,sal, tecidos 
de algodão e de ráfia, 
zimbo
Loango c. XIV Vilis
Agrícolas, sal, panos 
de ráfia e cobre
Tios c. XIV
Tios
(tequês ou angicos)
Agrícolas
Ndongo
(Angola)
c.XVI ambundos
Agrícolas (milhete, 
sorgo, ferro e sal
Libolo c. XVI ovimbundo Agrícolas
Tabela 3: Reinos da África Centro-Ocidental
Fonte: MATTOS, 2015, p. 54
www.esab.edu.br 50
Sabemos que os primeiros locais que os portugueses chegaram foram os 
da costa do Atlântico, devido à facilidade de acesso. Posteriormente, os 
portugueses usaram os rios Zaire e Kwanza para adentrarem o interior. 
O termo bantu é usado para designar o grupo linguístico que habitava 
essa região centro-ocidental. Não havia uma unidade cultural entre os 
bantus, esse grupo era composto de diversas etnias e habitavam uma 
região ampla da África. 
Chamaremos atenção neste módulo para os reinos do Kongo e Ndongo 
que estariam hoje localizados na região do Congo e Angola. Além de 
estarem no litoral, o reino do Kongo e Ndongo também possuíam 
estruturas políticas centralizadas, o que despertava maior interesse dos 
portugueses, já que esses almejavam alianças com lideranças locais. 
Imagem: Mapa dos reinos do Kongo e Ndongo
Fonte: <http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/nzinga-guerra-portugueses/>
10.1.1- Reino do Kongo
O reino do Kongo localizava-se ao sul do atual Congo e norte de Angola. 
Em suas fronteiras,estava o rio Zaire e a vegetação predominante era a 
savana e a floresta tropical. O clima era intertropical, mas diverso em seus 
subtipos. 
www.esab.edu.br 51
O grupo dos nobres administrava a cobrança de tributos e detinha 
o poder político. Às mulheres, cabia o trabalho agrícola, enquanto 
os homens se encarregavam da caça e coleta de produtos locais 
(CAREGNATO, 2011).
Os povos dessa região eram ágrafos, portanto as fontes que contamos 
para contar a história dessa região é através dos relatos portugueses ou 
os relatos orais transmitidos de geração em geração. A origem desse 
reino é controversa, mas sabe-se que entre eles existiam diversas chefias 
ao longo do rio Zaire e que, no século XV, se destacou Nimi Lukeni 
(CAREGNATO, 2011). 
O chefe do Kongo era chamado de Mani Kongo. Ele possuía destaque 
social, além do poder político, sua figura se relacionava com questões 
místicas que explicava a origem dos bantus. A administração do reino 
era feita por ele e por um conselho administrativo que possuía diversas 
funções, como juízes, militares e também na coleta de impostos. Os 
impostos podiam ser sobre os produtos e sobre o trabalho. Comumente 
as taxas eram pagas em tecidos, metais, cativos e marfim. 
A riqueza adquirida pelos impostos era dividida pelo rei entre as 
pessoas próximas a ele. Outra parte era repassada aos governadores 
das cidades,que por sua vez repassavam para os chefes das aldeias e das 
linhagens. 
O reino eradivido em cidades conhecidas como mbanzas. Em cada uma 
delas existia uma autoridade principal, chamada de soba. Esse cargo era 
ocupado por pessoas escolhidas pelo Mani Kongo. O centro do poder 
estava localizado na capital Mbanza Kongo
10.1.2- Reino Ndongo
Localizava-se ao sul do reino do Kongo. Ndongo significa canoa. Essa 
palavra foi usada para nomear o reino,pois o local possuía muitos rios e 
era muito extenso verticalmente se parecendo com uma canoa. 
www.esab.edu.br 52
O poder político era centralizado na figura do rei, denominado Ngola. O 
reino também era dividido em cidades que possuíam autoridades locais 
chamadas de sobas. A segurança do rei e do reino era garantida por um 
exército.
O grupo linguístico predominante no reino era o Kimbundu, que reunia 
diversas etnias, como jagas, gangalas, ambundos e ndembos. O trabalho 
era fundamentalmente agrícola. Esses povos mantinham a tradição de 
festejar as colheitas e a natureza. Os principais produtos agriculturáveis 
eram o feijão e o milho. Também produziam azeite e vinho. A caça a 
perdizes, galinhas e lebres complementava a alimentação da população. 
Além disso, também praticavam a pesca (CAREGNATO, 2011).
As diversas linhagens e etnias que compunham o reino muitas vezes 
geravam disputas internas. Os portugueses ao chegarem, logo perceberam 
que fomentar essas disputas facilitaria o processo de dominação.
10.2 África Oriental
Durante a Antiguidade, nessa região banhada pelo oceano Índico, 
desenvolveu-se um intenso comércio com grandes civilizações como os 
persas e romanos que levavam todo tipo de mercadorias como marfim, 
tartaruga e incenso e traziam artigos como tecidos, cerâmicas e açúcar. 
A partir do século VI surgiram importantes reinos nessa região, como o 
Xunguaia cujas principais atividades eram a agricultura, caça e pastoreio.
As cidades dessa região, como Moçambique, Melinde, Quíloa e 
outras se organizavam como cidades-estados no qual o poder político 
se concentrava nas mãos do sultão que governava com apoio de um 
conselho baseado em leis islâmicas. 
Os habitantes dessas cidades viviam principalmente de atividades 
mercantis. De fora do continente chegavam navios árabes e indianos 
com mercadorias de luxo e outros utensílios. Já do interior do próprio 
continente chegava o marfim, ouro e peles que trocavam por ferros, 
panos e cauris das cidades litorâneas. Essa troca também envolvia o 
comércio de escravos (MATTOS, 2015). 
www.esab.edu.br 53
10.3- Por que estudar História da África?
O interesse pela História da África é algo recente. Ainda prevalece 
em nós uma ideia estereotipada do continente africano que o associa 
ao tribalismo, à AIDS, à violência, a animais exóticos e à pobreza. 
Enxergamos a África quase como um fóssil parado no tempo. Esse tipo 
de erro tem justificado a intervenção e tutela de muitos países através 
de ONGs, igrejas e ações do Estado. Essa prática maléfica impede a 
autonomia de pensamento e governo dos povos africanos.
Mas por que possuímos representações tão equivocadas acerca do 
continente africano? Talvez a África e sua história não nos tenham sido 
apresentadas durante nossa trajetória de vida e escolar, a não ser por meio 
de visões simplistas e equivocadas. 
Para começar a mudar esse quadro, é preciso em primeiro lugar 
reconhecer a importância de se estudar África, independente de outras 
motivações. Ao longo da nossa trajetória escolar somos inundados 
com conteúdos da história européia. Estudamos as civilizações greco 
romanas, o feudalismo, a formação dos Estados Nacionais Europeus e 
inúmerosoutros conteúdos que nos apresentam uma visão eurocêntrica 
do mundo. Muitos podem argumentar que esses estudos explicam nossas 
realidades atuais, mas o que dizer da África? Não somos todos frutos do 
encontro de todas essas culturas? Não poderíamos afirmar que o Brasil 
também começa na África e a África se prolonga no Brasil? 
Levando em consideração o tamanho de nossa trajetória escolar, 
podemos supor que o livro didático é um instrumento de suma 
importância na formação das nossas mentalidades. Talvez ele ainda tenha 
menos poder do que as informações que nos são jogadas pela Internet, 
cinema e TV. De qualquer forma, acreditamos que o estudo da história 
africana nas salas de aula brasileiras não deixa de ser uma possibilidade de 
mudanças nos olhares lançados sobre os africanos e suas histórias.
www.esab.edu.br 54
Saiba Mais
Publicada em oito volumes, a coleção História Geral da África foi 
traduzida para o português. A edição completa da coleção já foi 
publicada em árabe, inglês e francês; e sua versão condensada está 
editada em inglês, francês e em várias outras línguas, incluindo 
hausa, peul e swahili. Um dos projetos editoriais mais importantes 
da UNESCO nos últimos trinta anos, a coleção História Geral da 
África é um grande marco no processo de reconhecimento do 
patrimônio cultural da África, pois ela permite compreender o 
desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com 
outras civilizações a partir de uma visão panorâmica, diacrônica e 
objetiva, obtida de dentro do continente. A coleção foi produzida por 
mais de 350 especialistas

Continue navegando