Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
www.esab.edu.br História e Cultura Afro-Brasileira CURSO DE PEDAGOGIA História e Cultura Afro-Brasileira Vila Velha (ES) 2016 Escola Superior Aberta do Brasil Diretor Geral Nildo Ferreira Diretora Acadêmica Ignêz Martins Pimenta Coordenadora do Núcleo de Educação a Distância Ignêz Martins Pimenta Coordenadora do Curso de Administração EAD Giuliana Bronzoni Liberato Coordenador do Curso de Pedagogia EAD Custodio Jovencio Coordenador do Curso de Sistemas de Informação EAD David Gomes Barboza Produção do Material Didático-Pedagógico Escola Superior Aberta do Brasil Design Educacional Bruno Franco Design Gráfico Bruno Franco Diagramação Bruno Franco Equipe Acadêmica da ESAB Coordenadores dos Cursos Docentes dos Cursos Copyright © Todos os direitos desta obra são da Escola Superior Aberta do Brasil. www.esab.edu.br Av. Santa Leopoldina, nº 840 Coqueiral de Itaparica - Vila Velha, ES CEP 29102-040 Apresentação Caro (a) estudante: Seja bem-vindo(a) à disciplina História e Cultura Afro-Brasileira. Neste momento, iniciamos mais uma etapa de estudos que envolvem novos conhecimentos,energia e dedicação, com o objetivo de proporcionar novas perspectivas de ensino eapren- dizagem, de modo a concluir com sucesso mais esta etapa. Os temas que serão abordados possuem caráter de grande relevância para sua formação acadêmica, uma vez que irão contribuir positivamente para a divulgação e valorização da trajetória dos negros no Brasil. Buscaremos mostrar a origem de ideias preconceituosas que subalternizam a população negra, desde o Brasil colo- nial até a contemporaneidade. Analisaremos questões fundamentais da atualidade como políticas afirmativas e de valorização da história e cultura afro-brasileira que contribuem para diminuir preconceitos e acabar com visões estereotipadas sobre lugares e povos de origem africana. Nosso aporte teórico está pautado nos trabalhos de Munanga (2012), Albuquer- que (2006), Mattos (2015) e Thornton (2004), bem como de documentos oficiais e importantes legislações, como a lei 10.639/03. Dessa maneira, convidamos você para o estudo das unidades que se seguem e o desenvolvimento das atividades propostas. Bons estudos! Objetivo Esta disciplina tem por objetivo analisar a História do continente africano e suas contribuições culturais, sociais e econômicas para a formação da sociedade brasileira. Buscaremos relacionar a trajetória do negro no Brasil, desde os tempos coloniais, com a atual situação de desigualdade e preconceito de que padece essa parcela da sociedade. Nossa disciplina vincula-se à obrigatoriedade legal de administrar conteúdos,que colaborem para erradicar o racismo e a discriminação étnico-racial no Brasil Habilidades e competências • Problematizar os estereótipos construídos acerca da História da África e da contribuição africana no Brasil. • Refletir sobre a importância, potencialidades e consequências da Lei nº 10.639/03. • Analisar a situação da população negra logo de sua chegada ao Brasil. • Analisar as formas de resistência negra desde a colônia até a atualidade. • Problematizar as consequências do fato de não ter havido nenhuma política de inserção da população negra na sociedade, logo após a abolição da escravidão. Ementa Esta disciplina abrange os seguintes aspectos concernentes à História da Cultura Afro-brasileira: As matrizes africanas da cultura afro-brasileira. O conceito de Afro-Brasileiro. Trabalho, cultura e resistência negra no Brasil. Cultura africana, sincretismo e miscigenação. Brasil/África e a formação do Atlântico Negro. O significado da África na formação do Brasil. As Relações Brasil-África ao longo do Século XIX. Sumário 1. INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DE CULTURA AFRO-BRASILEIRA ...............................................7 2. A LEI 10.639 E O COMBATE À DISCRIMINAÇÃO ...................................................................12 3. NEGRITUDE NO BRASIL: A QUESTÃO DAS IDENTIDADES ......................................................18 4. ÁFRICA: GEOGRAFIA DE UM CONTINENTE ...........................................................................24 5. ÁFRICA: A ORIGEM DA HUMANIDADE .................................................................................29 6. EGITO: UMA CIVILIZAÇÃO AFRICANA ..................................................................................35 7. SOCIEDADES AFRICANAS: ÁFRICA OCIDENTAL ....................................................................39 8. ÁFRICA OCIDENTAL: REINOS SUDANESES ............................................................................42 9. REINOS SUDANESES: MALI E SONGAI ..................................................................................46 10. ÁFRICA CENTRO OCIDENTAL E ÁFRICA ORIENTAL .................................................................49 11. “UM RIO CHAMADO ATLÂNTICO” ........................................................................................57 12. ÁFRICA E AFRICANOS NO TRÁFICO ATLÂNTICO ....................................................................61 13. AS VIAGENS TRANSATLÂNTICAS ..........................................................................................65 14. ESCRAVIDÃO COMO INSTITUIÇÃO SOCIAL ............................................................................69 15. A ÁFRICA QUE CHEGA AO BRASIL ........................................................................................72 16. RESISTÊNCIA NEGRA ..........................................................................................................78 17. QUILOMBOS .......................................................................................................................82 18. ALFORRIAS .........................................................................................................................86 19. NEGROS LIBERTOS: FORMAS DE VIVER E PARTICIPAR ...........................................................90 20. EM VISTAS DE ABOLIÇÃO ....................................................................................................93 21. MOVIMENTO ABOLICIONISTA .............................................................................................98 22. A LUTA CONTINUA ............................................................................................................102 23. SER NEGRO NO BRASIL PÓS ABOLIÇÃO. .............................................................................106 24. LUTAS DO SÉCULO XX .......................................................................................................110 25. SÉCULO XX: ORGANIZAÇÕES E CULTURA COMO RESISTÊNCIA .............................................115 26. HERANÇAS CULTURAIS AFRO-BRASILEIRAS: CARNAVAL E SAMBA .....................................123 27. HERANÇAS CULTURAIS AFRO-BRASILEIRAS: CAPOEIRA E JONGO.......................................129 28. RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA- PARTE 1 .......................................................................133 29. RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA- PARTE 2 .......................................................................137 30. A COR DA VIOLÊNCIA NO BRASIL .......................................................................................143 Glossário .................................................................................................................................153 Referências .............................................................................................................................155 www.esab.edu.br 7 1 Introdução aos estudos de Cultura Afro-brasileira Objetivo Traçar um panorama de como a adoção da escravidão moldou toda a sociedade colonial brasileira, a fim de demonstrar a importância da lei 10639/03 e de outras políticas afirmativas. Acompanharemos no decorrer do nosso material didático a formação da cultura afro- brasileira em nossa sociedade. Nosso principal objetivo é contribuir para divulgar a trajetória da população negra no Brasil. Atualmente,vive-se um período de grande preocupação com as desigualdades étnico-raciais que assolam nossa sociedade desde os tempos coloniais. Nesse panorama surgiram, nos últimos anos, algumas ações afirmativas que buscam reverter essa situação. A produção desse material didático se insere nesse quadro e faz parte de um esforço de divulgação da causa negra e de adesão da sociedade à causa da igualdade de oportunidade para todos. Contaremos uma das versões possíveis para a história do negro no Brasil. Esse processo demanda algumas escolhas, mas o que esperamos é trazer nessas páginas um material que tem o negro como personagem principal, o que não é comum nos materiais didáticos convencionais. Há quem diga que o Brasil vive uma democracia racial que supõe igualdade de direitos e oportunidades para todas as categorias étnico- raciais. Como sustentar essa afirmação,quando vemos diante de nós uma realidade tão desigual para população negra e indígena? Para compreendermos a origem da discriminação étnica racial na nossa sociedade é preciso voltar ao passado e entender como foi gestada a sociedade colonial e como foi organizada a ocupação territorial do Brasil. www.esab.edu.br 8 Desde a sociedade colonial, negros foram escravizados e explorados pela elite colonial. Para justificar essa situação, foram criados estereótipos sobre esse grupo e o conceito de raça foi utilizado,de modo a justificar a situação de segregação. A ocupação do Brasil pelos portugueses se deu de forma que a colônia deveria garantir à metrópole produtos para a exportação. Para tanto, a distribuição do território em latifúndios monocultores que utilizavam o trabalho compulsório foi fundamental para a produção em larga escala. A utilização do trabalho compulsório do negro resultou numa sociedade discriminatória que se apoiava em critérios étnicos. A escravidão penetrou na sociedade brasileira para além do mundo do trabalho e condicionou o modo de agir e pensar de toda sociedade. Mesmo depois do fim legal da escravidão, o preconceito com o negro sobreviveu e persiste até os dias atuais. A escravidão, além de alimentar preconceito étnico racial, também gerou banalização da violência. Os castigos aos escravos eram práticas usuais e legitimadassocial e juridicamente. Os diversos métodos de resistência negra sempre foram uma constante na sociedade. Eles variaram em sua forma e podiam ser através de desobediências, fugas, sabotagens e outros. No fim do século XIX,quando os negros enfim conseguiram se libertar legalmente da escravidão,surgiram teorias racistas que se utilizavam do conceito de raça para hierarquizar grupos da sociedade e inferiorizar os negros. Os negros foram então apontados como a origem dos males do Brasil. Enquanto os brancos foram colocados como mais laboriosos, de melhor caráter e maior capacidade, os negros foram acusados defonte do atraso e da barbárie. As teorias racistas foram adotadas pelos intelectuais brasileiros da época e pela população em geral. Os projetos de incentivo à imigração surgiram nesse contexto, com a finalidade de “branquear” a sociedade. Dessa forma, os padrões culturais dos brancos dominantes eram reforçados e tendiam a aumentar a discriminação. As teorias racistas favoreceram os imigrantes europeus identificados com a civilização e desqualificou negros, mestiços e indígenas. www.esab.edu.br 9 A lei Áurea libertou os escravos juridicamente, mas na prática pouca coisa mudou, já que essa lei não garantiu a inserção social dos negros. Muitos deles, após a abolição, voltaram às fazendas e se sujeitaram a baixos salários, ou, muitas vezes, trabalhavam em troca de comida e moradia. Aos negros que foram para as cidades coube os empregos subalternos e informais. Ainda hoje a população negra ocupa lugar inferior nos índices de qualidade de vida. Esse grupo é o que tem menos acesso à educação e ao trabalho, possuindo também os menores salários e o menor índice de ascensão social. Os libertos conseguiram se livrar juridicamente de uma condição inferior, mas não conseguiam se livrar do estigma da cor. No Brasil do século XX, a situação de discriminação não foi alterada. O início da nossa república foi marcado por crises financeiras, aumento do custo de vida e projetos de reurbanização e embelezamento das cidades que resultaram no afastamento da população pobre (em sua maioria, negros) para a periferia e morros que acabaram por constituir favelas. A luta negra continuou com força no século XX. Nesse cenário, tivemos algumas importantes mudanças na legislação. A partir de 1964, o Brasil passou por uma ditadura civil militar. A repressão dificultou a ação dos diversos movimentos a favor da causa negra. Na década de 1970, com o início da abertura política, surgiu um dos movimentos mais importantes para a causa negra, o Movimento Negro Unificado. Influenciado pela luta dos negros norte-americanos em busca de direitos civis e pela luta empreendida por países africanos pela conquista de suas independências, o Movimento Unificado Negro tinha o objetivo de consolidar a identidade negra nacional. Na década de 1980, impulsionados pela reabertura democrática e por campanhas da Organização das Nações Unidas contrárias à discriminação, diversas organizações se colocaram em defesa da luta contra a discriminação e a desigualdade vividas, cotidianamente, pela população negra. www.esab.edu.br 10 Nesse panorama, foi apresentado o Projeto de Lei nº 18, de 1995, de autoria da parlamentar Benedita da Silva, que propunha a inclusão de História da África nos três níveis de ensino do Brasil. Em 1993,foi criada em São Paulo a Delegacia Especializada de Crimes Raciais, que buscava analisar crimes de discriminação devido a preconceitos de raça, etnia, cor ou religião. A Constituição de 1988, vigente até então, seguiu essa lógica e previu em seu artigo quinto a punição para crimes de discriminação étnico racial: Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória aos direitos e liberdades fundamentais; XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; [...] (BRASIL, 1988, p. 2) O Código Penal brasileiro também ganhou em seu artigo 208, da Lei nº 7.716, punições para quem cometesse a prática de racismo. Em 2001, o Estado brasileiro assumiu o compromisso de implementar políticas afirmativas, como reparação aos malefícios causados pela escravidão. A partir de então, houve a obrigatoriedade de se incluir no currículo escolar a disciplina História Geral da África e do Negro no Brasil, que se concretizou com a Lei nº. 10.639/2003. Outra iniciativa de suma importância foi a criação, em 2003, da Secretaria Especial de Política de Promoção da Igualdade Racial (SEPIR). Essa secretaria teria como objetivo desenvolver políticas voltadas para a promoção da igualdade racial e proteção aos grupos étnicos discriminados. www.esab.edu.br 11 Tais iniciativas, como a lei 10.693/2003 e a criação da SEPIR são um grande avanço para valorização da diversidade étnica e cultural do Brasil, além disso, contribuem para que se busque superar a desigualdade racial que vigora no país desde os tempos coloniais. Veremos mais sobre essa legislação na unidade seguinte. www.esab.edu.br 12 2 A Lei 10.639 e o combate à discriminação Objetivo Demonstrar a demanda dos movimentos negros pelo acesso à educação formal. Verificar como gradualmente as legislações municipais e estaduais foram formulando leis de combate à discriminação, até a tomada de posição do poder federal. Como vimos, a abolição da escravatura não libertou a população negra do racismo e da exclusão imperantes na sociedade brasileira. Os negros perceberamque a abolição havia sido o primeiro passo de uma luta que perdura até os dias atuais e tem em sua pauta a superação da desigualdade social e do racismo e a mobilidade social. Um dos caminhos empregados pelos negros em suas lutas foi a valorização da educação formal, vista como fundamental para superar exclusão sócio-racial. Embora saibamos da grande responsabilidade da escola na perpetuação das desigualdades sociais, não há dúvidas de que a busca por instrução formal é umdos passos na luta para igualdade de oportunidades. Sabemos que na educação vigora uma visão eurocêntrica que inferioriza os africanos e desqualifica e rotula a África, conforme afirmou o militante negro Abdias do Nascimento (NASCIMENTO, 1978: 95 apud SANTOS, 2005, p.23): O sistema educacional [brasileiro] é usado como aparelhamento de controle nesta estrutura de discriminação cultural. Em todos os níveis do ensino brasileiro – elementar, secundário, universitário – o elenco das matérias ensinadas, como se se executasse o que havia predito a frase de Sílvio Romero, constitui um ritual da formalidade e da ostentação da Europa, e, mais recentemente, dos Estados Unidos. Se consciência é memória e futuro, quando e onde está a memória africana, parte inalienável da consciência brasileira? Onde e quando a história da África, o desenvolvimento de suas culturas e civilizações, as características, do seu povo, foram www.esab.edu.br 13 ou são ensinadas nas escolas brasileiras? Quando há alguma referência ao africano ou negro, é no sentido do afastamento e da alienação da identidade negra. Tampouco na universidade brasileira o mundo negro-africano tem acesso. O modelo europeu ou norte-americano se repete, e as populações afro-brasileiras são tangidas para longe do chão universitário como gado leproso. Falar em identidade negra numa universidade do país é o mesmo que provocar todas as iras do inferno, e constitui um difícil desafio aos raros universitários afro-brasileiros. Sabendo da reprodução da desigualdade presente no sistema de ensino, mas também conscientes de que sem a educação formal dificilmente poderiam alcançar mobilidade numa sociedade em processo de modernização, os movimentos negros passaram a incluir em suas pautas a luta para que o Estado brasileiro incluísse em seu currículo oficial a história da África, da cultura negra e de sua importância na formação da sociedade brasileira. Em 1950, no I Congresso do Negro Brasileiro, que foi promovido pelo Teatro Experimental do Negro (TEM), jásefalava dessa questão ao recomendar o “estudo das reminiscências africanas no país, bem como dos meios de remoção das dificuldades dos brasileiros de cor e a formação de Institutos de Pesquisas, públicos e particulares, com esse objetivo”. Notamos, portanto,que essa é uma reivindicação antiga, que já se figura desde metade do século XX. No entanto, notamos uma intensificação dessa reivindicação a partir do ressurgimento dos movimentos negros durante a reabertura democrática no Brasil, conforme vimos no módulo anterior. Como afirmou Hasenbalg (HASENBALG, 1987 apud SANTOS, 20085, p.24), as principais demandas com relação à educação a partir da década de 1980, foram: - Contra a discriminação racial e a veiculação de idéias racistas nas escolas. - Por melhores condições de acesso ao ensino à comunidade negra. - Reformulação dos currículos escolares visando à valorização do papel do negro na História do Brasil e a introdução de matérias como História da África e línguas africanas. - Pela participação dos negros na elaboração dos currículos em todos os níveis e órgãos. www.esab.edu.br 14 Algumas dessas reivindicações históricas dos movimentos sociais negros passaram a ser analisadas pelos governos brasileiros da década de 1990, como a revisão de livros didáticos ou eliminação daqueles que representavam os negros de forma estereotipada e inferiorizada. Desde então, muitos municípios começaram a se articular para colocar critérios étnico-raciais na adoção de livros didáticos. A exemplo disso temos as Leis Orgânicas dos municípios de Salvador, Belo Horizonte, Teresina e Rio de Janeiro que, em 1998 e 1999, estabeleceram princípios de educação igualitária e,consequentemente,excluindo de seu currículo livros que trouxessem visões com estereótipos sexistas, racistas e sociais. (SANTOS, 2005). Indo além dessas conquistas, a pressão dos movimentos negros e sua articulação com políticos sensíveis à questão étnico-racial fez com que muitos estados e municípios incluíssem em suas legislações a obrigatoriedade do ensino de disciplinas sobre a História dosNegros no Brasil e a História do Continente Africano nos ensinos fundamentale médio das redes estaduais e municipais de ensino. Esse foi o caso das legislações do estado da Bahia, Pará (Belém), Rio Grande do Sul e Minas Gerais (Belo Horizonte), Piauí (Teresina), Sergipe (Aracaju) e outros. A nível de exemplo, temos o caso de Belo Horizonte que, em 21 de março de 1990, promulgou uma Lei Orgânica impondo que: Art. 182. Cabe ao Poder Público, na área de sua competência, coibir a prática do racismo, crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da Constituição da República. Parágrafo único. O dever do Poder Público compreende, entre outras medidas: [...]VI – a inclusão de conteúdo programático sobre a história da África e cultura afro- brasileira no currículo das escolas públicas municipais. (Lei Orgânica do Município de Belo Horizonte apud SANTOS, 2005, p.27). A pressão por mudanças chegou a nível federal e em 2003 o então Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, promulgou a Lei 10.639/03, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB/Lei 9.394/96, (BRASIL, 1996) e torna obrigatório o estudo sobre a cultura e história afro-brasileira e africana nas instituições públicas e privadas de ensino. www.esab.edu.br 15 Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. § 1ª - O Conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. § 2ª - Os Conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras. Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra”. Outra medida de suma importância foi a criação,em 21 de março de 2013, da SEPPIR (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) que tem por objetivo: Promover alteração positiva na realidade vivenciada pela população negra e trilhar rumo a uma sociedade democrática, justa e igualitária, revertendo os perversos efeitos de séculos de preconceito, discriminação e racismo. O governo federal, por meio da Seppir, assume o compromisso histórico de romper com os entraves que impedem o desenvolvimento pleno da população negra brasileira.(BRASIL, 2004, p.8) Sabemos que a promulgação de uma lei não garante sua aplicação. Nesse sentido, o Ministério da Educação criou em 2009 o Plano Nacional das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico- Raciais e para o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, no qual é solicitado aos governos municipais e estaduais o envolvimento na luta por uma educação antirracismo no Brasil, incluindo em suas agendas direcionamentos que garantam a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais que regulamentam a Lei 10.639/03 www.esab.edu.br 16 Em linhas gerais esse Plano recomenda que: a temática étnico-racial seja incluída nos Projetos Políticos-Pedagógicosdas escolas, haja formação de professores para ensino da cultura afro-brasileira e que se efetivem mudanças no currículo para incluir o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira. As Diretrizes e o Plano Nacional de implementação das diretrizes não propõem que o viés branco europeu seja substituído por um viés exclusivamente afro-brasileiro e africano. Isso seria negar a contribuição dos povos europeus e também indígenas e demais na constituição da sociedade brasileira. Sabemos que o currículo é produzido em meio às disputas da sociedade, logo, privilegiar alguns assuntos em detrimento de outros é também colocar o que é e o que não é importante na história e na cultura. Um currículo que desconsidere a diversidade de identidades se torna um instrumento educacional autoritário e de exclusão (SANTOS, 2005). Estudo Complementar O Plano Nacional das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais é um documento de suma importância para os docentes da atualidade. Faça a leitura desse documento completo, acessando o link: http://portal. mec.gov.br/index.php?option=com_ docman&view=download&alias=1852- diretrizes-curriculares-pdf&category_ slug=novembro-2009-pdf&Itemid=30192 A Lei nª 10.639 é, com certeza, uma vitória da população negra e um avanço na democratização do ensino, no entanto, ainda há muito a ser feito. A implementação de políticas públicas não irá acabar com as tensões e desigualdades étnico-raciais presentes em nossa sociedade, contudo, elas representam um grande avanço para reescrever a história, evidenciando o papel ativo que a população negra teve no processo de formação da sociedade brasileira. Desconstruir discursos hegemônicos http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1852-diretrizes-curriculares-pdf&category_slug=novembro-2009-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1852-diretrizes-curriculares-pdf&category_slug=novembro-2009-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1852-diretrizes-curriculares-pdf&category_slug=novembro-2009-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1852-diretrizes-curriculares-pdf&category_slug=novembro-2009-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1852-diretrizes-curriculares-pdf&category_slug=novembro-2009-pdf&Itemid=30192 www.esab.edu.br 17 já se torna um grande passo reparação da dívida histórica e das desigualdades que assolam alguns grupos étnico- raciais no nosso país. Por fim, cabe salientar que essa lei não é fruto da boa vontade de políticos, mas de anos de luta e pressão da população negra por uma educação não eurocêntrica e anti-racista. Fórum Caro estudante, participe do nosso Fórum de discussões. Lá você poderá interagir com seus colegas e com seu tutor de forma a ampliar, por meio da interação, a construção do seu conhecimento. Vamos lá! www.esab.edu.br 18 3 Negritude no Brasil: A Questão das identidades Objetivo Analisar como ocorre a constituição das identidades na atualidade, em específico, a identidade política negra. Além da identidade nacional brasileira possuímos outras inúmeras identidades, como de gênero, étnica, religiosa, de classe e outras. Vivemos num mundo onde assumimos diversas identidades que podem cobrar lealdades distintas e até contraditórias entre si. Somos, desse modo, sujeitos de identidades transitórias e fortuitas. De acordo com Munanga (2015), falar de identidade negra ou afro brasileira passa necessariamente pela negritude como uma categoria sócio-histórica e não biológica e pela situação do negro em um país predominantemente racista. Quando falamos de identidade negra no Brasil, já podemos supor que existem outras identidades que convivem com a identidade nacional. Nem sempre a identidade nacional convive de forma harmoniosa com outras identidades. A maior parte das identidades nacionais tenta se sobrepor sobre as demais identidades étnicas e culturais. Essa é a origem de muitos movimentos separatistas, por exemplo, no qual alguns grupos sentem a opressão imposta pela identidade nacional em detrimento da identidade étnica e, por isso, tentam se separar para constituírem Estados autônomos. Nos outros casos, como o Brasil, a luta de algumas identidades não é por separação, mas por reconhecimento público e integração à história e educação nacional. Existem, atualmente, inúmeros intelectuais e políticos que defendem o chamado multiculturalismo, termo que nos remete àexistência dentro de um mesmo país e sociedade de outras inúmeras identidades www.esab.edu.br 19 culturais (religiosa, linguística, cultural, étnica e outras). O discurso sobre identidade negra só tem sentido num contexto plural, ou seja, multicultural. 3.1- Identidade Individual Sabemos que toda identidade nasce da alteridade, ou seja, da relação entre o “nós” e os “outros”. É no âmbito da cultura e da história que definimos nossas identidades sociais (gênero, nacional, étnica, classe). Quando nascemos e recebemos nomes que indicam nosso sexo e levamos o sobrenome de nossas famílias, estamos formando nossa identidade pessoal. E para que serve esse processo? Para marcar a diferença, para mostramos que somos indivíduos diferentes dos demais. Quando afirmamos ser alguma coisa, estamos negando outras inúmeras realidades. Por exemplo, se digo que sou brasileiro, nessa frase implicitamente já digo também que não sou belga, guatemalteco, mexicano e etc. A nossa identidade individual faz parte da nossa construção como seres humanos. Nas sociedades modernas,a identidade individual é materializada na nossa carteira de identidade, sem a qual não existimos oficialmente. 3.2- Identidade coletiva As identidades coletivas nada mais são do que definições de um grupo. Essa definição pode se dar internamente, dentro do próprio grupo que seleciona características dentro de seu complexo cultural (língua, religião, arte, sistemas políticos, economia, visão do mundo) para se aglutinar. Nesse caso, trata-se da definição de identidades por autoatribuição ou autodefinição. Há também as identidades coletivas definidas externamente, por pessoas de fora desse grupo. A exemplo dos europeus que ao chegarem no Brasil nomearam todas a etnias nativas aqui existentes de indígenas. Nesse caso,trata-se de identidades definidas através da hétero-definição ou hétero-atribuição. Para identificar outros grupos,usamos critérios que julgamos serem objetivos como características culturais, históricas, linguísticas, religiosas. www.esab.edu.br 20 3.3- Identidade negra Quando falamos da identidade negra construída dentro da própria comunidade negra,sabemos que assim como as demais, ela também se constrói gradativamente e envolve diversas variáveis. Um fator constitutivo da identidade negra é a história. No entanto, aí encontramos problemas, já que quando a história do negro é contada do ponto de vista do “outro”, ela é carregada de cargasdistorções e cargas depreciativas e negativas. A coesão de uma história comum é um dos pontos de maior segurança dos grupos identitários. É a razão pela qual cada povo faz um esforço para conhecer e viversua verdadeira história e transmiti-la para as futuras gerações. Distorcer ou destruir essa história foi uma das estratégias utilizadas no Brasil colonial para destruir a memória coletiva dos povos escravizados e colonizados. No processo de construção da identidade negra, é essencial encontrar a verdadeira história do negro e nos afastar da história do negro que foi construída de forma negativa e que ainda persiste na nossa sociedade. Com isso, já podemos perceber a importância sem igual de ensinar a história da África e a história do negro no Brasil, a partir de novas abordagens. Para dar subsídios à construção da identidade negra,é imperioso que a história mostre o papelativo que o negro possui no processo de construção da cultura e do povo brasileiro. Outro fator que constitui a identidade é a cultura (religiões, artes, medicinas, tecnologias, ciências, educação, visões do mundo, etc.). Quando pensamos nos povos que construíram o Brasil, pensamos nos portugueses, italianos e alemães de uma forma positiva, com toda uma carga cultural que nos faz ter orgulho dessas contribuições. Ao pensar nos africanos que chegaram aqui, logo acredita-se que os africanos foram trazidos aqui depois de sua captura, apenas como primitivos que chegaram “nus” acorrentados e, como todos os primitivos, não trouxeram nada ao Brasil que importasse para ser considerado como uma contribuição digna de nome. No entanto, o que vemos no cotidiano é que toda a cultura africana está enraizada no modo de ser do brasileiro. www.esab.edu.br 21 A contribuição africana é infindável, passando por culinária, artes musicais, visuais, religiões até o modo de ser. A questão que se coloca diante disso é que é essencial o resgate dessas contribuições de forma positiva e não mais as imagens negativas e depreciativas que vigoram no imaginário da sociedade brasileira. De acordo com Munanga (2012),o fator psicológico também é constitutivo da identidade negra. Podemos nos perguntar se há diferença entre o temperamento dos negros e dos brancos, caso tal afirmação seja comprovada, devemos procurar sua explicação no condicionamento histórico do negro no Brasil e não em explicações biológicas que não se sustentam. Como professores,poderemos cotidianamente observar o comportamento dos alunos em sala de aula e, além dos preconceitos inegáveis, poderemos descobrir alguns comportamentos comuns a todos os alunos negros que podemos considerar como uma característica de sua identidade psicológica coletiva. Por fim, outro fator constitutivo da identidade é a língua, no caso da população afro brasileira, as línguas se perderam no contexto da escravidão. No entanto, devemos considerar que há remanescentes dessas línguas que sobrevivem até os dias atuais. Um exemplo disso são os terreiros religiosos de candomblé onde línguas africanas ainda servem de comunicação entre os humanos e os deuses. 3.4- Por que falar de identidade negra? Falar de identidade negra não quer dizer falar somente da diferença de pigmentação da pele, ela também se refere à visão comum que o mundo branco ocidental reuniu sob a nomenclatura de negros. Como afirmou Munanga (2012, p. 12): A negritude não se refere somente à cultura dos portadores da pele negra, que, aliás, são todos culturalmente diferentes. Na realidade, o que esses grupos humanos têm fundamentalmente em comum não é, como parece indicar o termo negritude, a cor da pele, mas sim o fato de terem sido na história vítimas das piores tentativas de desumanização e terem sido suas culturas não apenas objeto de políticas sistemáticas de destruição, mais do que isso, ter sido simplesmente negada a existência dessas culturas. www.esab.edu.br 22 Tomada de consciência de uma comunidade de condição histórica de todos aqueles queforam vítimas da interiorização e negação da humanidade plena pelo mondo ocidental, a negritude deve ser vista também como confirmação e construção de uma solidariedade entre as vítimas. Não possuímos uma identidade única. Dependendo do contexto em que estamos inseridos, podemos assumir inúmeras identidades. Imagem: Identidade negra e racismo Fonte: <http://novaescola.org.br/consciencia-negra/africa-brasil/identidade-negra.shtml> Muitas das identidades que assumimos têm conteúdo e finalidade política, pois reúnem em suas demandas mudanças políticas e sociais. A identidade negra que reúne todos os negros de todos os gêneros, religiões e classes é uma identidade política. Atualmente se fala muito no fato de não existir um discurso político sobre a identidade branca, apesar de essa identidade existir de maneira implícita. A questão que se coloca e que é nítida as vantagens e privilégios que a condição de brancos oferece na nossa sociedade. Por que não falamos de identidade branca, identidade masculina, identidade heterossexual ou identidade burguesa? Exatamente porque homens, brancos, heterossexuais e burgueses sempre estiveram no topo da pirâmide social, política e econômica, portanto, não há necessidade de se mobilizarem politicamente para conquistar espaços que já têm garantidos e www.esab.edu.br 23 consolidados na sociedade desde os tempos coloniais. Como afirmou Munanga: “O tigre não precisa proclamar e gritar sua tigritude, pois ele domina a selva de que é rei. São os mais fracos que precisam se mobilizar para defender sua existência, daí a razão de ser de suas identidades coletivas.” (MUNANGA, 2012, p.14) www.esab.edu.br 24 4 África: Geografia de um continente Objetivo Discorrer sobre a geografia do continente africano,priorizando informações que nos serão úteis para entender as próximas unidades. Apesar de ter abrigado grandes civilizações antigas, a história e geografia do continente africano ainda carecem de pesquisas. Para tal, faz-se necessário que tenhamos algumas noções geográficas gerais do continente. O continente africano é o terceiro maior em extensão, perdendo somente para a América e Europa,respectivamente. Ele possui uma área de aproximadamente 30 milhões de quilômetros quadrados e a população de aproximadamente 1,2 bilhões de habitantes, representando 14,3% do total mundial, divididos em 54 países e 6 dependências. O número de habitantes é uma estimativa,já que a falta de atualizações no censo dificulta o estabelecimento de dados precisos (CONCEIÇÃO, 2006). 4.1- Clima e relevo Ao analisarmos a geografia do continente africano,é notória a diversidade de climas e vegetações que se formam de modo paralelo ao Equador. A maior parte de seu território está localizado numa zona intertropical, o que faz com ela seja o continente mais quente e úmido do mundo. Sua temperatura média é de 20°. Ao calor, soma-se a seca que cresce em direção aos trópicos. A umidade é característica das regiões de baixa latitude na África. www.esab.edu.br 25 Imagem: Climas da África Fonte: geografiapraquemnaosabia.blogspot.com.br/2009/11/geografia-dos-continentes-europa-africa.html A distribuição dos recursos energéticos, minerais e hidrográficos é um dos elementos que despertaram a cobiça e dominação a que foi submetido o continente africano. A África é o continente mais árido do mundo, com 30% dos desertos do planeta. O maior deles, o Saara, com mais de oito milhões de km. Os desertos do Kalahari e Namibe estão localizados no sudoeste do continente. Com isso, a África se torna o continente com a maior área desértica do mundo. Na antiguidade, o deserto do Saara dificultou o contato de maior parte da população do continente com outras áreas. A partir de cerca de 3000 a.C. a difusão do camelo como meio de transporte para atravessar o deserto, revolucionou a comunicação africana com outros continentes (CONCEIÇÃO, 2006). www.esab.edu.br 26 A África permaneceu durante muito tempo somente com rotas comerciais dentro do próprio continente. Sua localização entre dois oceanos e com grandes faixas desérticas colaboraram para essa situação. O isolamento nunca foi completo, já que havia contato entre o mediterrâneo e a África Tropical. O deserto do Saara dificultava,mas não impossibilitava esses contatos. O Saara atuou como um filtro natural que limitou a penetração de outros povos. Diversos povos como chineses, árabes e indianos mantiveram relações comerciais e se misturaram aos povos africanos. Esses contatos nunca provocaram grandes rupturas como as que resultaram dos contatos com os europeus. O continente europeu, com seu pequeno território e escassez de recursos e população, ao chegar na América no século XV, encontrou na África o fornecedor do que lhes era escasso. A política mercantilista européia impôs à África uma corrida para dominar sua população eseus recursos naturais. A escravidão surgiu como uma solução para a falta de mão de obra necessária àcolonização européia na América. O tráfico de escravos, além de prover a mão de obra, tornou-se uma das atividades mais lucrativas para os negociantes europeus. A região central do congo possui uma floresta equatorial que se prolonga pela costa atlântica até Gana. Essa área vai até os relevos da África Oriental, no leste. De acordo com Conceição (2006, p.16), essa área é caracterizada por: É uma floresta esponja, encharcada de água, com vegetação emaranhada, com circulação praticamente reduzida aos rios. É a região onde ainda são predominantes as epidemias. A mosca tsé-tsé, que exterminava o gado, não permitiu a tração animal, daí o não uso da roda e do arado. É o mundo da enxada, da terra de pouca espessura, na sua maioria lexivadas pela laterite, o que torna esse tipo de solo incapaz de produzir culturas protéicas. Essa área equatorial e os desertos são responsáveis principais pela baixa taxa atual de terras cultiváveis: somente 6% do total, a maior parte localizada nos planaltos, já que as planícies costeiras são exíguas. www.esab.edu.br 27 Há também a chamada África Alta, uma faixa de cadeias montanhosas que se estende da áfrica do sul ao leste onde se encontram famosos montes: o Kilimanjaro (5.963 m), o Kênia (5.211 m) e o Ruwenzori (5.110 m). 4.2- Regiões As divisões do continente comumente obedecem a dois critérios: regional e étnico. Levando em consideração o critério regional, a África pode ser dividida em 5: África do Norte ou Setentrional, África do Sul ou Meridional ou Austral, África Ocidental, África Oriental e África Central. Imagem: Mapa da África- Regiões Fonte: <http://umolharquedesconstroi.weebly.com/> Levando em conta o deserto do Saara e a divisão étnico-cultural, temos 2 partes: a África Mediterrânea ou África Branca; e a África Subsaariana ou África Negra www.esab.edu.br 28 4.3- População Embora tenha uma alta taxa de crescimento demográfico, a África possui uma baixa densidade demográfica (22 hab/Km2) além de ter grande desigualdade na distribuição da população. Essa situação se dá devido às enormes diferenças geográficas entre as regiões africanas. Nota-se também que a população africana é majoritariamente jovem. Embora a taxa de mortalidade infantil africana seja a mais alta do mundo, encontramos também uma grande taxa de natalidade. (CONCEIÇÃO, 2006) www.esab.edu.br 29 5 África: a origem da humanidade Objetivo Analisar o surgimento dos primeiros grupos humanos e as teorias que preconizam que isso teria acontecido na África. Foi no continente africano que surgiram os primeiros grupos humanos que conhecemos. Conhecer a História da África é, portanto, conhecer o surgimento da própria humanidade. Charles Darwin foi um dos principais cientistas a publicar obras com base em observações empíricas na ilha de Galápagos, no Equador, que indicavam que a vida é um processo de constante adaptação e luta pela sobrevivência. Em sua obra “A descendência do homem”, publicada em 1871, Darwin já havia antecipado que o processo que conduziu ao surgimento do homem havia se iniciado na África. Até então sabia-se que na África tinham vivido macacos extintos que se relacionavam diretamente com os chimpanzés e gorilas, as espécies de mamíferos mais próximas do homem. Esses indícios levaram Darwin a teorizar que a evolução humana havia se iniciado na África. No entanto, à época da publicação de “A descendência do homem” nenhum fóssil humano primordial havia sido encontrado na África. Em decorrência não somente da falta de provas empíricas, mas também do preconceito contra a história e cultura africana, a hipótese de Darwin foi abandonada pela comunidade científica. Ao final do século XIX, com a descoberta de fósseis na Europa e na Ásia, a teoria de Darwin parecia estar cada vez mais distante(SILVA, 2007). www.esab.edu.br 30 5.1- A criança Taung Em 1924 foi encontrado, por Raymond Dart, o fóssil da criança Taung, um dos primeiros fósseis humanos encontrados na África. Tratava-se de crânio fossilizado que teria vivido há cerca de 2,5 milhões e que seria um dos ancestrais do homem. Atualmente, essa descoberta tem sido considerada por muitos o fóssil mais importante do século XX,por ter transferido o ponto de origem humana euroasiática para uma origem africana. No entanto, à época da descoberta, o preconceito contra a África foi mais forte e determinou o abandono da descoberta de Dart bem como da teoria de Darwin pela comunidade científica. Imagem 1: Crânio da criança Taung Fonte: <http://labs.icb.ufmg.br/lbem/aulas/grad/evol/humevol/extra/hominideos.html> 5.2- “Lucy in the Sky with Diamonds” A partir de então, diversos outros fósseis foram descobertos. Em 1974, o paleontólogo americano Donald Johanson e seus colaboradores descobriram um extraordinário fóssil de hominídeo na região de Afar, na Etiópia. Foi um grande achado,já que se tratava de um esqueleto feminino quase completo. Diz-se que a esse fóssil deu-se o nome de Lucy devido à canção “Lucy in the Sky with Diamonds” da banda britânica www.esab.edu.br 31 The Beatles, tocada num gravador no acampamento, e por a terem definido como uma fêmea. O nome científico do fóssil depois passou a ser “Australopitecus Afarensis”. A idade de Lucy é de aproximadamente 3,5 milhoes de anos. Imagem 2: Esqueleto Lucy Fonte: <http://www.seara.ufc.br/especiais/biologia/origemdohomo/origemdohomo04.htm> Durante algum tempo, o Australopitecus Afarensis foi o fóssil de hominídeo mais antigo já descoberto. Hoje, porém, já conhecemos fósseis mais antigos que Lucy e outros mais recentes que permitiram montar um quadro da nossa evolução bem mais detalhado e complexo. Com relação aos processos de adaptação, acredita-se atualmente que o passo decisivo rumo ao surgimento do homem foi o bipedismo. Uma importante transformação adaptativa permitiu a mudança de função dos membros superiores de órgãos de locomoção para órgãos de manuseio de instrumentos. Essas transformações estão ligadas a importantes mudanças climáticas do continente africano há cerca de 15 milhões de anos. Por volta dessa época,a África apresentava extensas florestas que abrigavam diversas espécies de macacos. A formação de cadeias montanhosas interferiu nas correntes aéreas e forçaram a diminuição da pluviosidade dos territórios da África Oriental. Com menos chuva, as florestas úmidas foram dando espaço a florestas mais abertas, arbustos e bosques. Diante de tais transformações, a inovação evolutiva se viu favorecida e surgiu o bipedismo como uma nova adaptação a ambientes mais abertos. Os primeiros hominídeos de que temos conhecimento foram os Autralopitecos, macacos bípedes considerados os ancestrais humanos www.esab.edu.br 32 mais antigos, como nos demonstram os fósseis da criança Taung e da fêmea Lucy. O passo seguinte foi dado por Jonathan Leakey ao encontrar, em 1960,no desfiladeiro de Olduvai, na Tanzânia, um fóssil com o cérebro maior do que o dos australopitecos e que, de acordo com as pesquisas, fabricava utensílios de pedra afiada, utilizava o fogo e alimentava-se de carne. Louis Leakey batizou essa nova espécie de “Homo Habilis”, ou seja, homem habilidoso no fabrico de instrumentos e o considerou a linhagem que conduziu a formação dos humanos modernos. No desfiladeiro de Olduvai,também foram encontrados artefatos de pedra lascada, o que torna a África precursora também no emprego da tecnologia (SILVA, 2007). Há cerca de 2 milhões de anos a árvore humana apresentava dois ramos: os australopitecíneos e os homini, por volta de 1 milhão de anos os australopitecíneos foram extintos. O passo seguinte foi o aparecimento do Homo Erectus, há 1,8 milhão de anos, que também se desenvolveu na África. Com o cérebro maior, o Homo Erectus se aproxima dos humanos modernos,possuindo características de cooperação social que levam a crer que havia repartição de alimentose divisão sexual do trabalho. O Homo Erectus é a espécie que migrou da África para a Europa e Ásia e assim deu continuidade à sequência evolutiva que deu origem ao Homo Sapiens, há mais ou menos 500 mil anos (SILVA, 2007). Imagem: Escala evolutiva dos hominídeos Fonte: http://mikajojo.webnode.com.br/news/sobre-os-hominideos/ www.esab.edu.br 33 Resumo Na unidade 1,tivemos um panorama de como a adoção da escravidão moldou toda a sociedade colonial brasileira. Adota para atender os interesses mercantis da metrópole portuguesa, a escravidão moldou não somente as relações econômicas, mas toda a sociedade brasileira,adentrando na mentalidade da população. Vimos também que a resistência negra sempre foi diversa e constante. Como resultado da pressão e resistência negra, a legislação brasileira foi incorporando leis de combate ao racismo e, mais atualmente, leis que impõe a obrigatoriedade do ensino de História da África e da cultura Afro-Brasileira Na unidade 2, tratamos da demanda dos movimentos negros pelo acesso à educação formal, vista como de suma importância para melhor colocação no mercado de trabalho e na sociedade. Vimos também como gradualmente as legislações municipais e estaduais foram formulando leis de combate à discriminação, até a tomada de posição do poder federal que culminou na promulgação da Lei 10.639/2003 que impõe a obrigatoriedade do ensino de História da África e dos Africanos e da História da Cultura Afro-Brasileira. Devemos estar atentos de que essa lei não foi exatamente resultado da boa vontade de políticos, mas sim de anos de resistência negra e de pressão dos movimentos e coletivos negros espalhados pelo Brasil Na unidade 3, adentramos pelo complexo mundo das identidades. Vimos que as identidades individuais se formam a partir do nosso nascimento e sempre em referência ao outro. Vimos que as identidades coletivas podem se dar por autoatribuição ou hétero-atribuição. A identidade negra é uma identidade coletiva que usa diversos critérios na sua constituição, como história e cultura em comum. A formação www.esab.edu.br 34 dessa identidade coletiva como uma identidade política é importante na medida em que se transforma em um instrumento de luta contra o histórico de desigualdades e preconceitos de que a população negra tem sido alvo. Na unidade 4, tivemos acesso a informações sobre a geografia do continente africano. Essas informações nos serão úteis para entender, nos próximos módulos, um pouco mais da história desse continente e dos povos das principais regiões que vieram para o Brasil,trazendo todo seu legado histórico-cultural. Descobrimos que a África é o continente mais quente do mundo e com maior área desertificada. Vimos que apesar do deserto se constituir uma barreira natural, ele nunca impediu o contato dos africanos com outros povos, principalmente após a introdução do uso do camelo nas principais rotas comerciais do continente. Na unidade 5, constatamos que os primeiros grupos humanos de que temos conhecimento, surgiram na África. Vimos que em 1871 Darwin afirmou que o surgimento do homem havia se iniciado na África, no entanto, em decorrência não somente da falta de provas empíricas, mas também do preconceito contra a história e cultura africana, a hipótese de Darwin foi abandonada pela comunidade científica. Anos mais tarde, em decorrência da descoberta de importantes fósseis como a criança Taung e o esqueleto Lucy, a teoria de Darwin passou a ser revisitada e reconsiderada. www.esab.edu.br 35 6 Egito: uma civilização africana Objetivo Compreender as características e a grandeza da civilização egípcia na antiguidade, destacando sua localização no continente africano. A partir de agora, iniciaremos uma caminhada pela história do continente africano. Neste módulo, buscaremos caracterizar a civilização egípcia por se tratar de uma das mais importantes civilizações da antiguidade. Nos módulos 7, 8, 9 e 10,trataremos dos povos da chamada África Atlântica, pois foi dessa região que saíram os povos africanos que chegaram ao Brasil a partir do século XVII e, por isso, são os que mais contribuíram para nossa formação. O continente africano também foi berço de uma das civilizações mais importantes da Antiguidade: o Egito. Embora muitos materiais didáticos coloquem o Egito como uma civilização do Oriente Próximo (sudoeste asiático), urge lembrar sua localização, o continente africano. De acordo com Silva (2011), podemos entender como civilização uma sociedade que apresente: organização política formal (Estado); distinção entre proprietários e não proprietários dos meios de produção; fundação de cidades; artesanato especializado; trabalho em conjunto; sistema de escrita e incorporação das crenças religiosas por um poder local. Nesse sentido, podemos afirmar que o Egito passou a assumir esses contornos por volta de 3200 a.C., no período denominado Pré- Dinástico. A unificação das comunidades egípcias do sul e do norte por um poder central, o faraó, tem sido assunto de divergência entre os pesquisadores. Muitos deles nos apontam Menés como o líder da unificação egípcia, no entanto, essa afirmação carece de comprovação. O faraó mais antigo que a arqueologia apresenta é Scópion seguido de Namer, que, em suas www.esab.edu.br 36 representações, aparecia portando duas coroas, a branca e a vermelha. Esse indício pode indicar que Namer tenha sido o verdadeiro responsável pela unificação do Alto e Baixo Egito. Imagem: Mapa Alto e Baixo Egito Fonte: <http://www.sohistoria.com.br/ef2/egito/> O Estado faraônico regulava as trocas com o exterior e a exploração da mão de obra. A grande centralização de poder fez surgir um enorme abismo entre a massa de camponeses e a elite. Essa última era composta pelo faraó, figura considerada sagrada, e os que os cercavam, como sacerdotes, escribas, nobres. Já os camponeses formavam a maior parte da população, trabalhavam nas propriedades do faraó e dos sacerdotes, eles ficavam com parte da produção nessas áreas. A primeira modalidade de escrita egípcia foi o hieróglifo, uma escrita pictográfica de difícil compreensão e aprendizado. Com o tempo surgiram outras modalidades de escrita, herdeiras dos hieróglifos, porém de uso mais simples e cotidiano, como a hierática e a demótica. A escrita hieroglífica se restringiu auma elite de escribas e sacerdotes. www.esab.edu.br 37 O rio Nilo era o principal recurso natural de que dispunham os egípcios. Ao longo dele as terras eram ocupadas com plantações de trigo, cevada, lentilha, frutas, legumes, algodão e papeiro. Seu regime de cheias ditava as ocupações dos camponeses. Durante cheias que ocorrem entre julho e outubro, devido ao derretimento da neve das montanhas da Etiópia, as águas trasbordavam, deixando sobre a terra uma camada de nutrientes que fertilizavam os solos. Nesse período, os trabalhadores ficavam livres para realizarem atividades como manutenção de tanques e canais e outras tarefas. Nos outros períodos do ano, ocorria drenagem da inundação, época propícia para a semeadura. . Além de propiciar o cultivo do trigo, da cevada e do linho, o Nilo representava um reservatório para o extrativismo animal e vegetal. Dele, os egípcios retiravam peixe, papiro (utilizado no fabrico de cabanas, barcos, esteiras, cordas e material para a escrita), juncos e caniços (matéria-prima para a confecção de cestas, cordas, móveis e barcos) e barro, com o qual faziam tijolos crus e objetos de cerâmica. Além de tudo isso, o Nilo era também o principal meio de integração entre o Alto e o Baixo Egito. Apesar da tecnologia pouco desenvolvida, a racionalização da mão de obra através da formação de equipes colaborativas que se especializavam em determinadas funções, garantiu empreendimentos incríveis. Podemos notar essa organização e eficáci,observando desde a sistematização do trabalho ao redor do rio Nilo até a construção das monumentais pirâmides egípcias. Imagem: Pirâmides deGizé www.esab.edu.br 38 Fonte: http://serumapoeta.blogspot.com.br/2015/10/as-piramides-gize.html A caça nos pântanos e desertos fornecia animais para domesticação e alimentação, embora o consumo de carne pelos egípcios fosse inexpressivo. Podemos concluir que apesar da famosa afirmação de que o Egito fora uma dádiva do Nilo, o certo é a prosperidade da civilização egípcia foi resultado de um gerenciamento racional e eficaz dos seus recursos humanos promovido pelo Estado. Imagem: Camponeses trabalhando Fonte: <http://egitorevelado.blogspot.com.br/2011/09/agricultura.html> Os egípcios eram povos politeístas e antropozoomórficos, ou seja, eles adoravam vários deuses e muitos deles assumiam formas humanas e animais. Um dos deuses mais importantes do panteão egípcio era Rá, o deus sol. Os egípcios acreditavam que depois da morte a alma poderia encontrar outro corpo, daí a difundida prática de mumificação na intenção de conservar os corpos para quando as almas os encontrassem. www.esab.edu.br 39 7 Sociedades africanas: África Ocidental Objetivo Dissertar sobre as características das principais regiões da chamada África Atlântica, ou seja, a porção do continente africanos que é banhado pelo oceano Atlântico. Essa porção da África nos interessa,pois essa é a origem dos povos que vieram para o Brasil a partir do século XVII. 7.1 - Introdução Por se tratar das áreas que de fato influenciaram a cultura brasileira, deteremos nosso estudo à análise das sociedades da chamada África Atlântica, ou seja, a porção daquele continente que é banhada pelo Oceano Atlântico. Inúmeros autores corroboram que os africanos que chegaram ao Brasil eram provenientes, em sua maioria, de três regiões: África Ocidental: Região localizada entre o rio Senegal e Cross. Nessa região se encontram os principais rios que deságuam no oceano Atlântico: Gâmbia, Níger e Volta. Nela, habitam povos como os sudaneses e/ou iorubas (nagôs, egbás, ketus); gegês (ewês, fons); fanti ashanti; e povos islamizados (mandingas, haussas, peuls). A vegetação é marcada por uma faixa de estepe conhecida como Sael (ao sul do Saara), savanas e florestas mais ao interior.(SILVERIO, 2013) África Centro-Ocidental: localizada entre os rios Congo e Cuanza, que nascem em Angola e deságuam também no Oceano Atlântico. Nessa região, vivem os povos bantos (bakongos, mbundo, ovibundos, bawoyo, wili)(SILVERIO, 2013) www.esab.edu.br 40 África Oriental: região de savanas e cerrados localizada entre os rios Limpopo e Zambeze, que deságuam no oceano Índico. Lá, vivem os povos conhecidos como moçambiques. (SILVERIO, 2013) Imagem: Mapa da África Atlântica Fonte: <http://pt.slideshare.net/jaugustoss/frica-sstese-histrica> 7.2- Os reinos Iorubás da África Ocidental Os povos iorubas são compostos de diversas etnias que habitavam a região sudoeste da atual Nigéria e o sudeste do atual Benin. Eles estão ligados entre si por terem o idioma iorubá em comum. Atualmente os iorubás formam um dos maiores grupo étno-linguístico da África Ocidental, composto por 30 milhões de pessoas em toda a região. Sua herança para a cultura brasileira é enorme e inegável, sua herança cultural vai da música e culinária até a religião (MATTOS, 2015). Originalmente divididos em micro Estados ou reinos, como Ifé, Bono e Benin, esses povos viviam principalmente da agricultura do sorgo, milhete, quiabo, feijão, inhame e outros, além do comércio de diversos produtos como ouro, marfim, ferro, vidro, bronze e couro. Comumente as decisões dos miniestados eram tomadas por chefes de linhagens, www.esab.edu.br 41 grupos de titulados e por representantes dos grupos de idade. Esses últimos grupos se dividiam entre os jovens, adultos e idosos, no qual os anciãos eram os mais respeitados. Já os grupos de titulados eram o grupo que possuíam maior número de bens ligados à terra, como animais e produtos agrícolas. Cada miniestado possuía um chefe que era escolhido entre esses três grupos,de acordo com a importância e poder que representavam (MATTOS, 2015). As constantes ameaças de povos imigrantes e mais fortes militarmente fizeramcom que esses povos iorubás se organizassem,introduzindo a figura do rei, com um poder centralizado. Isso melhorava as condições de proteção desses povos frente às ameaças dos imigrantes. Abaixo, poderemos visualizar a época de ascensão dos principais Estados e povos de língua iorubá,bem como os principais produtos comercializados por esses povos. ESTADOS ÉPOCA POVOS PRINCIPAIS PRODUTOS COMERCIALIZADOS Bono c. XIII Acãs Ouro Ifé c.VI Edo, ibo, nupe, ijó, igala, iorubá Ouro, marfim, noz- de-cola, escravos Benin c.XII-XIV Edos Pimenta-de-rabo, anileiras e algodão Oió c. XV Iorubás Couro ___ ___ Nupes (tapas) Ferro, cola e vidro Idah ___ Igala Agrícolas Ijebu-Ode, Idowa, Ijebu-Igbo, Owo-Ikeja ___ Ijebus Metais preciosos, escravos, tecidos (pano da costa) ___ ___ Egbas, ibos Objetos em bronze, ferro, cobre, contas em pedra e vidro Tabela 1: Reinos iorubás Fonte: MATTOS, 2015, p.42 www.esab.edu.br 42 8 África Ocidental: Reinos Sudaneses Objetivo Conhecer os reinos sudaneses que se desenvolveram na região do Sudão, em especial, o reino de Gana. Na região do Sael, desenvolveram-se importantes reinos conhecidos como sudaneses. Essa nomenclatura se dá ao fato de que a região também era conhecida como Sudão, ou, em árabe, Bilad Al Sudan (“terra dos negros”). Imagem: Reinos sudaneses Fonte: http://www.fafich.ufmg.br/luarnaut/Afrika%20docs.html Os povos que ali habitaram, desenvolveram alto nível de complexidade, chegando a formar reinos. Muito desse desenvolvimento se deveu ao comércio transaariano de cereais e de outros produtos como, panos, algodão, tâmaras, cobre, cavalos e outros. Eles eram povos sedentários que além da agricultura (milhete, arroz, cereais e outros) praticavam pesca, caça e criação de gado. Conheciam a metalurgia e produziam enxadas e pontas de flechas. Sua estrutura social era complexa, se organizavam em comunidades com relações baseadas nas linhagens no www.esab.edu.br 43 qual o conselho de anciãos era responsável pela resolução de conflitos nas comunidades. REINOS ÉPOCA POVOS PRINCIPAIS PRODUTOS COMERCIALIZADOS Gana c. IV-XIII soniquês, diulas Ouro, tecidos, noz-de-cola Mali c. XIII- XV Malinquês, queitas, mandingas Ouro Songai c. XV- XVI songais Agrícolas (arroz, milhete, sorgo) Tacrur c. IX- XIV Sereres, tucolores, fulas Ouro, âmbar, goma, lã Canem e Bornu c. X- XIV c. XIV- XIX Zagauas, sefauas canúri (canembus + saôs) Escravos Tabela 2: Reinos sudaneses Fonte: MATTOS, 2015, p.30 Dentre os reinos sudaneses, destacaremos a importância de Gana, Mali e Songai Ao sul do Saara, na paisagem das savanas e estepes nasceram grandes reinos africanos. O mais antigo e duradouro deles, Gana, ficou conhecido como o “país do ouro”, tal a riqueza que acumulou. Mali (séculos XIII a XV) absorveu o antigo reino de Gana e estendeu seus domínios até a costa atlântica. O comércio de sal, a exploração de ouro e o controle das rotas transaarianas fortaleceram e prosperam o reino de Mali e enriqueceram suas cidades de Tombuctu, Djené e Gao. Saiba Mais Para complementar seus estudos sobre os reinos Sudaneses, assista ao vídeo explicativo disponível nos links: Parte 1: <https://www.youtube.com/watch?v=fTT0JJInSC8 &feature=youtu.be> Parte 2: <https://www.youtube.com/watch?v=6gKicWIQIZ g&feature=youtu.be> https://www.youtube.com/watch?v=fTT0JJInSC8&feature=youtu.be https://www.youtube.com/watch?v=fTT0JJInSC8&feature=youtu.be https://www.youtube.com/watch?v=6gKicWIQIZg&feature=youtu.be https://www.youtube.com/watch?v=6gKicWIQIZg&feature=youtu.be www.esab.edu.br 44 8.1- Gana Localizado nos territórios que hoje compreendem o Mali e a Mauritânia, o Reino de Gana se desenvolveu devido ao comércio transaariano. O contato entre a população do norte e a sudanesa se deveu em grande parte à domesticação do camelo. Durante a seca os berberesiam para a região do Sael realizar trocas comerciais com os povos da região (MATTOS, 2015). Os nômades do norte incorporaram também às suas atividades, os saques as populações sedentárias sudanesas que praticavam agricultura. Buscando se proteger de tais saques, os sudaneses se tornaram cada vez mais centralizados e o resultado disso foi o surgimento de inúmeros reinos. O reino de Gana surgiu como Estado centralizado, em meados do século IV. Era formado por várias comunidades soniquês (povo pertencente ao grupo lingüístico mandê que habitou o Saara Ocidental antes dessas áreas se desertificarem). Os soniquês dominaram Gana no século X, período de ascenção ganesa. Os soniquês ampliaram seu domínio sobre as regiões auríferas do Senegal - da curva do rio Níger ao deserto do Saara. A dominação durou um século e a população dominada era obrigada a pagar impostos sobre o comércio de mercadorias. Por conta desse comércio, ocorriam constantes ataques nômades nas regiões, com isso os soninquês se organizaram politicamente e formaram um poderoso exército. Gana não era um reino expansionista e militarizado, seu Estado era mantido através de um forte sistema de cobrança de impostos. A sociedade era dividida entre nobres, homens livres, servos e escravos. Havia povos completamente sujeitados ao rei e outros que se ligavam a ele através do pagamento de impostos. Havia grande pompa ao redor da figura do rei que se vestia de túnica e andava ornamentado de muito ouro. O poder do rei provinha da enorme quantidade de ouro produzida em seu reino. O monopólio do comércio de ouro ofereceu recursos para que os soniquês erguessem suntuosas www.esab.edu.br 45 cidades, além de uma capital com uma população estimada entre 15.000 e 20.000 habitantes. A produção do ouro era usada, também, para desenvolver outras atividades econômicas, tais como a tecelagem, a ferraria e a produção agrícola (MATTOS, 2015). O ouro era escoado principalmente para a região do Mar Mediterrâneo, onde os árabes utilizavam na cunhagem de moedas. Para controlar as regiões de exploração aurífera, o rei era responsável direto pelo controle produtivo. Para proteger a região aurífera, foram espalhadas lendas sobre criaturas do mal e fantasmagóricas, assim se afastava a cobiça de outros indivíduos. O sal também tinha grande valor mediante sua importância para a conservação de alimentos e a retenção de líquido para os povos que vagueavam no deserto. Imagem: Rotas do comércio de ouro em Gana. Fonte: http://profissaohistoria.blogspot.com.br/2013/11/o-reino-de-gana.html Até meados do século XII, Gana possuía amplo controle comercial do Sudão. Gana entrou em declínio, no século XII, quando perdeu o domínio do comércio de ouro para outros estados sudaneses: Tacrur, Zafum e Sosso que venceu militarmente os exércitos de Gana por volta de 1203. www.esab.edu.br 46 9 Reinos Sudaneses: Mali e Songai Objetivo Conhecer um pouco da história dos reinos sudaneses, através das características de Mali e Songai. 9.1- Mali Conta a lenda mandinga que o rei do estado sudanês Sosso, Sumanguru Kante, dominou os mandingas (do tronco lingüístico Mandê) e assassinou toda a família de seu rei, o único sobrevivente desse massacre foi Sundiata Keita. Anos se passaram e Sundiata Keita organizou um exército e voltou para o Mali, derrotou Sumanguru Kante e retomou o poder para a dinastia Keita. Esse foi o marco inicial da ascensão do império Mali e o estabelecimento de uma dinastia que reinou do início do século XIV ao final do século XVI (MATTOS, 2015). A população do reino Mali vivia principalmente da agricultura e pecuária de subsistência, existindo também o artesanato como uma atividade de grande importância para a economia do reino. O rei de Mali recebia o nome de Mansa e ele detinha as funções de ministrar a justiça no reino, e comandar a guerra. O Império era governado de duas formas: no centro, o controle direto do rei, na periferia, eram estabelecidos reinos protetorados. O reino central era subdividido em províncias com um governador (dyamani tigui). Os chefes das províncias reconheciam a soberania do imperador, mas não perdiam seu estatuto de chefes. As províncias tinham que pagar tributos ao imperador. A religião oficial do reino Mali era o islamismo. Acredita-se que o islã do Mali tenha carregado algumas características das religiões animistas do Mali antigo: os dyeli (sacerdotes) praticavam ritos com os rostos www.esab.edu.br 47 cobertos por máscaras animistas, a população comia carnes consideradas impuras pelo islão, etc. Os comerciantes foram os principais responsáveis pela divulgação do Corão no Mali. O islamismo do Mali também foi influenciado por diversas outras religiões, inclusive as pagãs. (MATTOS, 2015). A mesquita de Djenne era um dos principais centros de peregrinação islâmica nas regiões meridionais do Saara e a cidade um importante entreposto comercial entre a África do Norte e a África Sudanesa. Djenne está localizada no centro-sul do Mali, próxima a um dos vales do rio Níger. Imagem: A mesquita de Djenne (Jenne, Djena), no Mali Fonte: http://www.ricardocosta.com/artigo/expansao-arabe-na-africa-e-os-imperios-negros-de-gana-mali-e- songai-secs-vii-xvi As principais cidades do reino eram Djenné, Ualata e Tombuctu. Por essa ultima circulavam sal e ouro das minas do reino Mali, além de marfim, peles, noz –de-cola, instrumentos de metal e diversos outros produtos. Ao longo do século XIV, Tombuctu se transformou num importante centro intelectual do mundo, reunindo cerca de 150 escolas com muitos estudantes oriundos de outras partes do território africano (MATTOS, 2015). O declínio do Mali começou somente no século XV quando lutas internas pela sucessão do trono vieram enfraquecer o poder e geraram a desintegração do reino em pequenos estados. www.esab.edu.br 48 9.2- Songai A princípio dominado pelo reino Mali, reino Songai conquistou sua independência e se expandiu 2000 km ao longo do vale do Níger. Ele foi um dos maiores reinos da história e ganhou notoriedade quando anexou diversos territórios do reino Mali. Atingiu seu apogeu no século XV através do comércio e agricultura de cidades como Djenné, e Tombuctu. A base da mão de obra empregada na agricultura era de escravos (MATTOS, 2015). Os principais produtos cultivados eram sorgo, milhete e arroz. As comunidades produziam seus mantimentos e entregavam parte dele ao Estado. Os escravos cuidavam da produção e do transporte de mercadorias. Cada comunidade era composta em média de 200 pessoas que ficavam sob a vigilância de quatro feitores (fanfas) e um capataz. A maioria do povo songai criava rebanhos de animais para viver. Contudo, muitos songais viviam em grandes cidades. Todas elas eram centros comerciais à beira do rio Níger. Gao era a capital e tinha cerca de 100 mil habitantes. As religiões tradicionais conviveram com a chegada do islamismo no século XI. Somente no século XV o islamismo foi imposto por clérigos e militares muçulmanos que tomaram o poder. A decadência do reino Songai começou no século XVI devido a conflitos sucessórios. Em 1591,o reino foi conquistado pelo Marrocos. www.esab.edu.br 49 10 África Centro Ocidental e África Oriental Objetivo Conhecer as principais características dos povos da África Oriental e Centro-Ocidental, em especial os reinos do Kongo e Ndongo. Debater a importância de se estudar História da África para acabar com a visão estereotipada que possuímos daquele continente. 10.1- África Centro-Ocidental Região formada por diversos reinos, como Luba e Lunda, Congo, Loango, Tios e Libobo. Comumente se organizavam em aldeias comandadas pelo patriarca da linhagem mais importante. A junção dessas aldeiasformaram os reinos. Entre os séculos XVI e XIX essa foi a região africana que mais exportou escravos. REINOS ÉPOCA POVOS PRINCIPAIS PRODUTOS COMERCIALIZADOS Luba e Lunda c. XIII Lubas, lundas Agrícolas Congo c. XIV-XV Congos Agrícolas,sal, tecidos de algodão e de ráfia, zimbo Loango c. XIV Vilis Agrícolas, sal, panos de ráfia e cobre Tios c. XIV Tios (tequês ou angicos) Agrícolas Ndongo (Angola) c.XVI ambundos Agrícolas (milhete, sorgo, ferro e sal Libolo c. XVI ovimbundo Agrícolas Tabela 3: Reinos da África Centro-Ocidental Fonte: MATTOS, 2015, p. 54 www.esab.edu.br 50 Sabemos que os primeiros locais que os portugueses chegaram foram os da costa do Atlântico, devido à facilidade de acesso. Posteriormente, os portugueses usaram os rios Zaire e Kwanza para adentrarem o interior. O termo bantu é usado para designar o grupo linguístico que habitava essa região centro-ocidental. Não havia uma unidade cultural entre os bantus, esse grupo era composto de diversas etnias e habitavam uma região ampla da África. Chamaremos atenção neste módulo para os reinos do Kongo e Ndongo que estariam hoje localizados na região do Congo e Angola. Além de estarem no litoral, o reino do Kongo e Ndongo também possuíam estruturas políticas centralizadas, o que despertava maior interesse dos portugueses, já que esses almejavam alianças com lideranças locais. Imagem: Mapa dos reinos do Kongo e Ndongo Fonte: <http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/nzinga-guerra-portugueses/> 10.1.1- Reino do Kongo O reino do Kongo localizava-se ao sul do atual Congo e norte de Angola. Em suas fronteiras,estava o rio Zaire e a vegetação predominante era a savana e a floresta tropical. O clima era intertropical, mas diverso em seus subtipos. www.esab.edu.br 51 O grupo dos nobres administrava a cobrança de tributos e detinha o poder político. Às mulheres, cabia o trabalho agrícola, enquanto os homens se encarregavam da caça e coleta de produtos locais (CAREGNATO, 2011). Os povos dessa região eram ágrafos, portanto as fontes que contamos para contar a história dessa região é através dos relatos portugueses ou os relatos orais transmitidos de geração em geração. A origem desse reino é controversa, mas sabe-se que entre eles existiam diversas chefias ao longo do rio Zaire e que, no século XV, se destacou Nimi Lukeni (CAREGNATO, 2011). O chefe do Kongo era chamado de Mani Kongo. Ele possuía destaque social, além do poder político, sua figura se relacionava com questões místicas que explicava a origem dos bantus. A administração do reino era feita por ele e por um conselho administrativo que possuía diversas funções, como juízes, militares e também na coleta de impostos. Os impostos podiam ser sobre os produtos e sobre o trabalho. Comumente as taxas eram pagas em tecidos, metais, cativos e marfim. A riqueza adquirida pelos impostos era dividida pelo rei entre as pessoas próximas a ele. Outra parte era repassada aos governadores das cidades,que por sua vez repassavam para os chefes das aldeias e das linhagens. O reino eradivido em cidades conhecidas como mbanzas. Em cada uma delas existia uma autoridade principal, chamada de soba. Esse cargo era ocupado por pessoas escolhidas pelo Mani Kongo. O centro do poder estava localizado na capital Mbanza Kongo 10.1.2- Reino Ndongo Localizava-se ao sul do reino do Kongo. Ndongo significa canoa. Essa palavra foi usada para nomear o reino,pois o local possuía muitos rios e era muito extenso verticalmente se parecendo com uma canoa. www.esab.edu.br 52 O poder político era centralizado na figura do rei, denominado Ngola. O reino também era dividido em cidades que possuíam autoridades locais chamadas de sobas. A segurança do rei e do reino era garantida por um exército. O grupo linguístico predominante no reino era o Kimbundu, que reunia diversas etnias, como jagas, gangalas, ambundos e ndembos. O trabalho era fundamentalmente agrícola. Esses povos mantinham a tradição de festejar as colheitas e a natureza. Os principais produtos agriculturáveis eram o feijão e o milho. Também produziam azeite e vinho. A caça a perdizes, galinhas e lebres complementava a alimentação da população. Além disso, também praticavam a pesca (CAREGNATO, 2011). As diversas linhagens e etnias que compunham o reino muitas vezes geravam disputas internas. Os portugueses ao chegarem, logo perceberam que fomentar essas disputas facilitaria o processo de dominação. 10.2 África Oriental Durante a Antiguidade, nessa região banhada pelo oceano Índico, desenvolveu-se um intenso comércio com grandes civilizações como os persas e romanos que levavam todo tipo de mercadorias como marfim, tartaruga e incenso e traziam artigos como tecidos, cerâmicas e açúcar. A partir do século VI surgiram importantes reinos nessa região, como o Xunguaia cujas principais atividades eram a agricultura, caça e pastoreio. As cidades dessa região, como Moçambique, Melinde, Quíloa e outras se organizavam como cidades-estados no qual o poder político se concentrava nas mãos do sultão que governava com apoio de um conselho baseado em leis islâmicas. Os habitantes dessas cidades viviam principalmente de atividades mercantis. De fora do continente chegavam navios árabes e indianos com mercadorias de luxo e outros utensílios. Já do interior do próprio continente chegava o marfim, ouro e peles que trocavam por ferros, panos e cauris das cidades litorâneas. Essa troca também envolvia o comércio de escravos (MATTOS, 2015). www.esab.edu.br 53 10.3- Por que estudar História da África? O interesse pela História da África é algo recente. Ainda prevalece em nós uma ideia estereotipada do continente africano que o associa ao tribalismo, à AIDS, à violência, a animais exóticos e à pobreza. Enxergamos a África quase como um fóssil parado no tempo. Esse tipo de erro tem justificado a intervenção e tutela de muitos países através de ONGs, igrejas e ações do Estado. Essa prática maléfica impede a autonomia de pensamento e governo dos povos africanos. Mas por que possuímos representações tão equivocadas acerca do continente africano? Talvez a África e sua história não nos tenham sido apresentadas durante nossa trajetória de vida e escolar, a não ser por meio de visões simplistas e equivocadas. Para começar a mudar esse quadro, é preciso em primeiro lugar reconhecer a importância de se estudar África, independente de outras motivações. Ao longo da nossa trajetória escolar somos inundados com conteúdos da história européia. Estudamos as civilizações greco romanas, o feudalismo, a formação dos Estados Nacionais Europeus e inúmerosoutros conteúdos que nos apresentam uma visão eurocêntrica do mundo. Muitos podem argumentar que esses estudos explicam nossas realidades atuais, mas o que dizer da África? Não somos todos frutos do encontro de todas essas culturas? Não poderíamos afirmar que o Brasil também começa na África e a África se prolonga no Brasil? Levando em consideração o tamanho de nossa trajetória escolar, podemos supor que o livro didático é um instrumento de suma importância na formação das nossas mentalidades. Talvez ele ainda tenha menos poder do que as informações que nos são jogadas pela Internet, cinema e TV. De qualquer forma, acreditamos que o estudo da história africana nas salas de aula brasileiras não deixa de ser uma possibilidade de mudanças nos olhares lançados sobre os africanos e suas histórias. www.esab.edu.br 54 Saiba Mais Publicada em oito volumes, a coleção História Geral da África foi traduzida para o português. A edição completa da coleção já foi publicada em árabe, inglês e francês; e sua versão condensada está editada em inglês, francês e em várias outras línguas, incluindo hausa, peul e swahili. Um dos projetos editoriais mais importantes da UNESCO nos últimos trinta anos, a coleção História Geral da África é um grande marco no processo de reconhecimento do patrimônio cultural da África, pois ela permite compreender o desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com outras civilizações a partir de uma visão panorâmica, diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente. A coleção foi produzida por mais de 350 especialistas
Compartilhar