Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Marketing em shopping centers / [organização Abrasce - Associação Brasileira e Shopping Centers]. -- São Paulo : Editora Casa Nova, 2012. -- (Gestão em shopping centers) ISBN 978-85-65100-10-6 1. Centros comerciais - Administração 2. Marketing - Administração 3. Marketing - Shopping center 4. Shopping centers I. Abrasce - Associação Brasileira e Shopping Centers. II. Série. 12-14337 CDD-658.87 Índices para catálogo sistemático: 1. Marketing em shopping centers : Administração 658.87 Publicar um livro sobre gestão de marketing é sempre um grande desafio. Isso porque o marketing é uma das práticas mais dinâmicas de mercado. A cada nova tecnologia, a cada novo meio de comunicação, a cada rede social na qual se engajam milhões de pessoas, ele se reinventa. E precisa ser assim, mesmo que os objetivos dessa “ciência” – que faz parte do universo da comunicação – sejam sempre os mesmos. Na definição da American Marketing Association (AMA), eles são: criar, comunicar, distribuir e efetuar a troca de ofertas que tenham valor para consumidores, clientes, parceiros e a sociedade como um todo. Parece bem subjetivo, mas, ao longo do tempo, “fazer marketing”, a princípio tão intuitivo, passou a ser científico. Foram criados procedimentos, ferramentas, pesquisas, enfim, todo um arcabouço técnico para sustentar uma atividade que existe desde a Antiguidade, provavelmente desde o primeiro momento em que uma pessoa desejou vender algo à outra. Hoje, o marketing ganhou uma sofisticação incrível. Aos atos combinados de comunicar para vender foram agregados muitos valores. Atualmente, fala-se em experiência de compra, em emoção de consumo, em transmissão de valores das marcas. Conceitos inimagináveis que, mesmo em curto espaço de tempo, ganharam status de estratégicos para a sobrevivência dos negócios. Vender passou a ser transmitir valores. As empresas que não conseguem fazê-lo fidelizarão cada vez menos, agradarão a poucos e, provavelmente, não conseguirão sobreviver no longo prazo. No vasto mundo dos shoppings brasileiros, há evidências de que transmitir valores é cada vez mais importante. Isso se revela no discurso dos gestores, em palavras como “identidade do empreendimento”, “DNA do shopping”, “foco no público real do mall”, entre tantas outras, que aparecerão ao longo dos capítulos deste livro. Com o lançamento de mais uma obra da série “Gestão em Shopping Centers”, a Abrasce reforça o empenho em cumprir uma de suas missões: a de colaborar no desenvolvimento da indústria nacional de shopping centers. O conteúdo foi todo formulado pela Associação, com a participação de grandes especialistas do setor que, como sempre, se dispuseram a contribuir. A eles, o meu agradecimento, com a certeza de que suas assinaturas garantem a qualidade do conteúdo que, agora, chega às mãos dos leitores. LUIZ FERNANDO PINTO VEIGA PRESIDENTE DA ABRASCE PREFÁCIO Foi em casa que aprendi a pensar fora da caixa, a inovar, a não ter medo de ousar. Eu nasci e cresci respirando marketing. Na década de 1950, meu pai apostou no crescimento da TV e para chegar à frente da concorrência comprou uma grande quantidade de aparelhos nos Estados Unidos para sua loja. O resultado foi que praticamente todo o estoque encalhou. Era um produto novo e caro numa época em que a programação da TV era praticamente zero. Só que ele acreditava no negócio. E acreditava tanto que fez o que um competente homem de marketing faria: viu lá adiante, viu longe e não pensou pequeno. Produziu e patrocinou um programa de TV com o objetivo de impulsionar as vendas. Na verdade, o que ele fez foi comprar com seu próprio dinheiro os equipamentos necessários para montar um estúdio de televisão. Ele equipou a TV Rio com todo o material necessário – luzes, câmeras, microfones, mesas de som, todo o material que um bom estúdio deveria ter. Em pouco tempo “Noite de Gala” era um grande sucesso. Três anos depois, quando o Brasil erguia a taça da Copa do Mundo pela primeira vez, cerca de 200 mil famílias já possuíam televisores em suas casas. Outra história que mostra bem o pioneirismo e a inovação que aprendi em casa é a questão da “linha branca”. Em todas as lojas, geladeiras, fogões e lavadoras tinham a cor branca. Foi o bastante para que meu pai resolvesse mudar tudo. Ele criou as primeiras geladeiras e máquinas de lavar coloridas do País e foi vender a ideia a presidentes de empresas como a Brastemp e a GE. Riram dele, é claro. É linha branca porque é branco! Percebendo que ninguém iria comprar sua ideia, meu pai alugou um depósito na rua do Riachuelo e, por conta própria, mandou pintar toda uma linha. Fez mais! Para lançar a novidade, publicou o primeiro anúncio em cores no jornal O Globo com a sua linha colorida. O resultado foram filas nas lojas. Todo mundo queria geladeiras vermelhas, fogões amarelos; todo mundo queria a novidade. Diante do sucesso, as indústrias passaram a investir na “linha branca” com cor e o velho ganhou exclusividade de vendas durante um tempo, ficando ainda mais forte no mercado. Esse caráter visionário e ousado foi a minha escola. Já na Artplan, essa busca pela inovação, por trabalhar fora da caixa, só fez aumentar. Chamei grandes nomes do cinema, como Carlos Manga, Arnaldo Jabor e Bruno Barreto, para dirigir atores internacionais como David Niven e Frank Sinatra em comerciais de TV. Aliás, foi um projeto criado e desenvolvido pela agência para um programa de TV que fez do lançamento de um empreendimento em São Paulo um grande sucesso. O conceito de mall era inteiramente novo. Ninguém entendia ainda muito bem a diferença entre shopping center e centro comercial. Esse era o desafio. Como lançar o Shopping Ibirapuera e ao mesmo tempo explicar o que era o empreendimento? Não seria com uma campanha tradicional. A agência, então, criou um projeto, gravou depoimentos em países onde já se conheciam as vantagens de um shopping, apresentou tudo ao cliente, buscou a parceria da Rede Globo e criou um Globo Repórter sobre o tema. Em pouco tempo, foi ao ar A Revolução do Consumo, com entrevistas e depoimentos que não deixavam dúvidas sobre as vantagens do novo conceito – um lugar climatizado e seguro, com um mix de lojas planejado, um lugar que reúne compras e entretenimento, preparado para receber seus clientes com conforto e sofisticação. E se na década de 1970 foi difícil para o pessoal de propaganda explicar que shopping center era algo bem diferente de centro comercial, hoje o conceito está totalmente consolidado. Só o Brasil tem mais de 400 empreendimentos. E as novidades não param de surgir. Agora já se fala em power centers, gigantescos centros de entretenimento e consumo com imensas áreas a céu aberto. E mesmo quando a tecnologia coloca à nossa disposição o conforto das compras on-line, entregues em casa com total segurança, nada supera o prazer de caminhar entre vitrines, experimentar o produto e ter várias opções de compras num mesmo lugar. Na década de 1990, fizemos uma verdadeira revolução na comunicação dos malls com promoções pioneiras que geraram um espetacular retorno de vendas. Com mecânicas simples de troca de notas fiscais por cupons, durante o período do Natal, os consumidores concorriam a um carro por dia, a viagens internacionais, promoções que aumentavam consideravelmente o tráfego de consumidores e o volume das vendas. No Natal de 1998 decoramos um shopping com o maior castelo da Cinderela já construído fora dos parques da Disney – uma estrutura de ferro de 120 toneladas, com 67 metros de altura e iluminado com 250 mil watts, em seis diferentes cores. Na área lateral, em uma arena de 3 mil m² com capacidade para 8 mil pessoas, havia três apresentações diárias com os famosos personagens da Disney. É sabido que a Artplan faz da propaganda um acontecimento. Isso faz parte do DNA da agência. Para incrementar as vendas da Seagram’s, trouxe Frank Sinatra ao Brasil para um show que entrou para o Guinness WorldRecords como o de maior público para um só cantor. Para aproximar a marca Brahma do público jovem, fiz o Rock in Rio. Hoje, ele é top of mind no Brasil, em Portugal e na Espanha. Em 12 edições, mais de 6 milhões de pessoas estiveram nas Cidades do Rock. É o maior do mundo também nas redes sociais, com 5 milhões de seguidores. Tem gente que acha que ele é um festival de rock, mas o Rock in Rio é uma poderosíssima plataforma de comunicação. E já que o assunto é quebrar paradigmas, certo dia, almoçando com o presidente da Bradesco Seguros e conversando sobre a próxima campanha de Natal, desenhei no guardanapo de papel uma árvore. Mas não era uma árvore comum. Era para emocionar, para flutuar na lagoa Rodrigo de Freitas com milhões de lâmpadas e aproximar ainda mais a marca Bradesco Seguros da população da cidade. Hoje, 16 anos depois, ela transformou o Natal da cidade. Outro exemplo? Dia 2 de janeiro de 2007, para mostrar quão próximo o Banco do Brasil era de seus clientes, uma ação de marketing criada pela Artplan substituiu a fachada de 300 agências em todo o País. O Banco do Brasil virou Banco do Cláudio, do João, da Letícia. E não foram só as agências físicas – a transformação também aconteceu na internet. Num momento em que o grande assunto mundial é a crise, pensar fora da caixa, conhecer o mercado e buscar soluções inovadoras sempre vai impactar positivamente o público. E, quando você ousa, mais que impactar, você tem tudo para surpreender. ROBERTO MEDINA PRESIDENTE DO GRUPO ARTPLAN SUMÁRIO HISTÓRIA DO MARKETING BRANDING Atributos e Percepções Personalidade da Marca Shopping: Além do Consumo Evolução das Marcas Identidade e Posicionamento Manutenção da Marca PLANO DE MARKETING O marketing como parte do negócio Reinvenção do Marketing Lojistas e Consumidores Finais Posicionamento Mensuração de resultados e promoções Comunicação Visual A) PESQUISA Pesquisas estratégias de marketing Maximizando o aproveitamento dos frequentadores de um shopping Entendendo as peculiaridades do consumidor brasileiro Entendendo como o consumidor reage às ações de comunicação Particularidades do uso de pesquisa do Brasil Pesquisa com os lojistas Pesquisas e o comércio eletrônico B) TIPOS DE PESQUISA Pesquisa de Opinião Combinação de pesquisas Outros tipos de pesquisa Interpretação dos dados Universo da pesquisa C) PESQUISA GEOMARKETING Geomarketing e o potencial de consumo Atração ao consumidor Questões urbanas que interferem no sucesso do mall Princípios de localização COMUNICAÇÃO: PÚBLICO EXTERNO A) EVENTOS Parcerias Segmentação por público e classes sociais Eventos Temáticos Exposições Comunicação e divulgação do evento B) AÇÕES PROMOCIONAIS Tipos de promoção Liquidação Cupons de desconto Comunicação Meios alternativos Envolvimento e sensibilização dos lojistas Como avaliar dos resultados C) CAMPANHAS PUBLICITÁRIAS Mídia Externa (e compra de espaço nos grandes veículos) Mídias próprias Aferição de resultados e pós-venda D) MARKETING DIGITAL Redes Sociais Contéudo e linha editorial Métricas e avaliação de resultados Promoções em rede sociais Uso das redes como SAC Pós-venda e pesquisa Redes alternativas Site Blog Celular e mobile marketing Newsletter Ações tecnológicas no shopping E) ASSESSORIA DE IMPRENSA E RELAÇÕES COM A MÍDIA Encontrar pautas no shopping Avaliação de resultados Assessoria terceirizada Manual de atendimento à imprensa Formação de porta-vozes Técnicas de entrevistas para cada um dos meios/situações F) RELACIONAMENTO COM O FREQUENTADOR Fidelização e programas de relacionamentos Relacionamento com o público infantil Relacionamento com adolescentes Turistas Público adulto Famílias Terceira Idade SAC Equipe do SAC F1) LIFETIME VALUE F2) SERVIÇOS ESPECIAIS •Concierge •Valet •Fraldário •Amenities •Personal Shopper •Escolha e capacitação de funcionários F3) LUXO G) MARKETING SOCIAL E SUSTENTABILIDADE Campanhas com temáticas “verdes” Ações com lojistas, fornecedores e funcionários Ações sociais com a comunidade Cuidados ao fazer marketing ambiental H) MERCHANDISING, PATROCÍNIOS E PARCERIAS A força da marca Promoções COMUNICAÇÃO: PÚBLICO INTERNO A) ENDOMARKETING Comunicação e diálogo internos Transparência Integração e confraternização Boas instalações Eventos ao longo do ano Canais internos de comunicação Intranet E-mail, impressos e outros meios digitais Avaliação dos resultados Público terceirizado e orgânico B) RELACIONAMENTO COM OS LOJISTAS Melhores formas de se relacionar Construindo um caminho comum a todos Valores: entendendo a alma do shopping Causa Posicionamento Essência competitiva A direção da essência competitiva A essência competitiva passo a passo Metas Índices de performance Desenvolvimento dos lojistas Liderança em 12 passos Ações para lojistas Off-ouvir Off-fazer Off-falar Canais de comunicação com os lojistas Erros mais comuns na relação com o lojista ANEXO 1 - POLÍTICA DE COMUNICAÇÃO DE SHOPPINGS DA MESMA REDE ANEXO 2 - MIX DE LOJAS ANEXO 3 - DECORAÇÃO DE NATAL ANEXO 4 - A RELAÇÃO ENTRE O DEPARTAMENTO DE MARKETING COM AS ÁREAS COMERCIAL/MIX, JURÍDICA, FNANCEIRA E DE OPERAÇÕES E SEGURANÇA RELAÇÃO MARKETING-JURÍDICO RELAÇÃO MARKETING-COMERCIAL RELAÇÃO MARKETING-MIX RELAÇÃO MARKETING-ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO RELAÇÃO MARKETING-OPERAÇÕES E SEGURANÇA Um shopping center “fala” com seus frequentadores. Essa pode parecer uma afirmação esquisita quando se pensa que o ato de falar é prerrogativa dos seres humanos. As “coisas” não falam. Mas não é desse aspecto que a afirmação trata. Um shopping “fala” no sentido de que transmite informações o tempo todo a quem interage com ele. E não só por meio de eventuais mensagens escritas em fachadas, vídeos em monitores instalados em elevadores, banners e sinalização ambiental. Desde o momento em que entra no empreendimento, ou mesmo em suas vias de acesso, o frequentador passa a receber informações diretas e indiretas. Imediatamente, ele toma contato com propagandas nas cancelas, por exemplo; percebe o volume de tráfego no estacionamento, se há vagas disponíveis, onde elas estão. Depois de estacionar, dirige-se ao interior do mall. Na porta automática, além de eventuais avisos, sente o odor perfumado, característico de cada empreendimento, geralmente aspergido nos locais de entrada. Já na área interna, ele é impactado por muitos elementos – a mistura entre luzes artificial e natural, a dimensão dos corredores, o pé-direito, a decoração e o paisagismo, o apelo das vitrines e das ofertas de produtos e serviços, e muito mais. Durante toda a permanência, o visitante recebe estímulos. Em cada praça, banco, lounge. No cinema ou nos banheiros, nota o quanto o local está limpo, a qualidade dos equipamentos e, principalmente, a cordialidade e eficiência das pessoas responsáveis pela segurança, recepção e manutenção. Em um shopping, cada detalhe comunica, sempre com o objetivo de transmitir as qualidades que consolidaram o setor tão fortemente no Brasil: em um único lugar, seguro e confortável, as pessoas podem atender a todas as suas necessidades. Enfim, nos shoppings, tudo é marketing. E, justamente por residir em cada detalhe do empreendimento, o mall extrapolou o nível de “departamento” e ganhou uma dimensão muito mais universal e complexa. A segurança tem relação com o marketing, a manutenção também. O departamento financeiro é importante para a identidade do shopping, assim como o jurídico e o comercial o são. O marketing tornou-se atividade transversal e assunto estratégico. Mesmo que intuitivamente, todos estão envolvidos na transmissão da mensagem que o empreendimento quer passar. Cada sorriso, cada gesto, cada conversa é extremamente importante. Por conta disso, o treinamento dos colaboradores deve contemplar o objetivo de traduzir a “identidade do shopping” em todas as atividades. Identidade, aliás, que deve ser clara e concreta, construída ao longo do tempo e baseada nas informaçõestrazidas pelos próprios frequentadores. Os ambientes devem seguir o mesmo princípio. Cada canto do shopping precisa ajudar a compor o “DNA do empreendimento”. Nada pode destoar. Tudo tem de estar atavicamente interligado e servindo à percepção que se quer passar: a mensagem, o recado. Há muito de subjetivo no ato de comunicar. Todas as formas são válidas quando os objetivos são justos e os métodos, éticos. Em um ambiente de shopping center, as ferramentas são várias. Com o advento de novas tecnologias, o número de “meios” ou “mídias”, como preferem os especialistas, ampliou-se explosivamente. As redes sociais assumiram um lugar de destaque e oferecem possibilidades maravilhosas de relacionamento com todos os tipos de públicos- alvo. Para o varejo, a cada dia que passa, o meio digital está consolidando-se como parte integrante da “experiência de consumo”, algo extremamente desejado pelos consumidores modernos. O nada modesto desafio de centros de compras e lojas é exatamente este: oferecer experiência de consumo, relação com as marcas, possibilidade de adesão a um estilo de vida, sensação de pertencimento. O sucesso dos negócios está – e a cada momento estará mais – atrelado à capacidade de construção de vínculos com os consumidores, para quem não basta mais apenas o produto. Eles desejam conceitos, informações, conhecimento e engajamento. Foi-se o tempo em que se vendia um par de tênis. Atualmente, a marca do calçado precisa estar em sintonia com as aspirações do consumidor. E, além disso, o ambiente de venda (físico ou virtual) tem que traduzir os mesmos conceitos da marca. Por fim, o comprador necessita sentir que faz parte do mundo daquela determinada marca na hora em que está comprando. Essa é a tal experiência. Toda a complexidade que atingiu o universo do marketing teve sua gênese em atos muito mais diretos e simples e certamente remonta à Antiguidade. É provável que, no primeiro momento em que um ser humano quis trocar algo com outro, o marketing tenha tomado algum lugar na relação. Daí para frente, ele foi evoluindo, ganhando corpo, técnicas, abordagens e meios. Virou ciência por necessidade de uma sociedade que produz e consome riquezas, além de um número cada vez maior de bens e serviços, que precisam ser “marqueteados”. No universo dos shoppings brasileiros, essa história é muito mais recente, até porque a indústria comemorou, em 2011, o seu 45º aniversário. Mesmo assim, é extremamente rica em fatos, protagonistas e detalhes. O mais intrigante, no princípio, foi o fato de que não bastava falar sobre comodidade e segurança e informar as lojas e marcas que participavam dos primeiros empreendimentos. Foi necessário comunicar, explicar o que era um shopping center, para um público acostumado apenas ao varejo de rua e, quando muito, à existência de centros comerciais. Sobre isso, um dos pioneiros da indústria nacional e presidente da Multiplan, José Isaac Peres, afirma que “o primeiro grande desafio foi construir, junto a investidores e lojistas, o próprio conceito de shopping center. Ideias que hoje estão consolidadas, como tenant mix e fundo de promoção, e o próprio contrato diferenciado de locação, não faziam parte das culturas comercial e imobiliária na década de 1970. Foi necessário pavimentar esse caminho junto aos nossos parceiros naquela nova empreitada”. No que diz respeito ao público consumidor, Peres lembra que “os primeiros shopping centers exerciam uma verdadeira fascinação, mas também havia algumas armadilhas que precisavam ser desarmadas, principalmente a ideia de que shopping era um lugar suntuoso e caro”. Segundo o empresário, graças aos investimentos dos empreendedores e aos fundos de promoção, com participação dos lojistas, os shoppings foram criando calendários de eventos e atrações voltados para toda a família. “Investimos pesado também em eventos geradores de tráfego, associados a temas de destaque em cada período. Lembro quando mostramos carros de Fórmula 1 em Belo Horizonte, numa época em que o Brasil estava sempre no pódio; quando trouxemos o espetáculo dos Golfinhos de Miami; quando montamos o Castelo da Disney e o Cirque du Soleil.” Outra estratégia vencedora foi o lançamento, em 1981, da Liquidação do Lápis Vermelho. “Na época anunciamos: ‘São 101 liquidações em um só lugar’. Permanece atrativa há mais de 30 anos”, orgulha-se ele. Com o tempo vieram novos desafios. “Hoje damos uma importância grande aos programas de fidelização, por meio de benefícios aos nossos clientes especiais. Com o tempo, desenvolveu-se uma relação de cumplicidade entre o shopping e seus frequentadores, que precisamos preservar e alimentar”, acrescenta. Carlos Jereissati Filho, presidente da Iguatemi Empresa de Shopping Centers (IESC), que tem em seu portfólio o primeiro shopping brasileiro – o Iguatemi São Paulo, inaugurado em 1966 –, concorda que explicar o conceito foi o primeiro grande entrave a ser superado e justifica assim o grande sucesso do novo modelo nas cidades brasileiras: “Uma coisa de que o Brasil não se dá muito conta é que o modelo de negócios dos shoppings centers teve e tem de respeitar o modelo das cidades em que eles são instalados. É da ordenação das cidades que nascem determinados tipos de produtos, que funcionam ou não. Exemplo clássico são as cidades medievais europeias, intramuros, com grande sistema de transporte público, em que as ruas e a segurança foram moldadas com locais de comércio diretamente ligados às residências. Isso facilitou muito a existência do comércio de rua, interligado ao próprio tecido urbano da cidade. Já nas cidades brasileiras, por falta de planejamento ou até por um zoneamento que privilegia o isolamento entre as áreas residenciais e comerciais, separadas supostamente para que as pessoas tenham tranquilidade para morar, houve a quebra do modelo europeu e abriu-se a possibilidade de se desenvolver um novo conceito. No Brasil, por questões urbanísticas, as pessoas tinham a tendência a adotar o modelo norte-americano, mas não se tinha a exata dimensão do quanto ele iria funcionar no País. O fato é que, pela questão do adensamento das cidades, com falta de transporte público, as pessoas foram obrigadas a morar próximas às áreas comerciais, mas separadas delas pelo zoneamento. Pela não criação do tecido urbano misto, o shopping center ganhou enorme destaque.” Os gestores de shoppings foram percebendo que fazer marketing de um novo modelo era uma dificuldade, mas também trazia oportunidades fascinantes. Nesse sentido, surgiram iniciativas em forma de campanhas e eventos, que ajudaram a arraigar o universo dos shoppings no cotidiano dos brasileiros. Peres conta que, “quando lançamos o BarraShopping, no Rio de Janeiro, faziam muito sucesso a novela Dancing Days e o grupo de cantoras conhecido como As Frenéticas, que apresentava a música de abertura da novela. Fizemos com elas o jingle da campanha de inauguração do shopping, e até hoje aquela música é o nosso tema. Depois disso já promovemos grandes shows musicais, festivais de teatro e cinema. Para o lançamento de nosso shopping mais recente, o VillageMall do Rio de Janeiro, a garota-propaganda foi a atriz americana Nicole Kidman. Uma contribuição especial, que nos orgulha muito, diz respeito à profissionalização da indústria da moda no Brasil. Para valorizar os estilistas e toda a cadeia da moda, promovemos os primeiros grandes desfiles: a Semana de Moda BarraShopping, o Belo Horizonte Fashion Week e o Morumbi Fashion, que cresceu tanto que se tornou um dos cinco eventos mais importantes do circuito mundial, como São Paulo Fashion Week. Para nós foi muito bom, porque isso associou nossos shoppings a um conceito de qualidade e estilo; para a indústria da moda brasileira, foi o início de uma nova fase, como arte e como oportunidade econômica em escala mundial”. Há peculiaridades técnicas que fizeram do marketing nos shoppings um grande vencedor. Jereissati diz que “a questão de o shopping ter um gestor único, capaz de balancear o mix de lojas, foi fundamental. Isso mantevea dinâmica. Nas grandes ruas do mundo, a valorização imobiliária as acaba matando. O aluguel aumenta de tal maneira que as boas lojas não conseguem mais pagá-lo. Daí, entram lojas que não são tão boas, mas são populares e faturam muito. O resultado é a perda da qualidade do espaço. No caso dos shoppings, sempre houve um aprendizado conjunto – do empreendedor, do lojista e do consumidor. Por meio de pesquisas, entendemos o negócio. Gerenciamos a comunicação com inteligência. As pessoas foram aprendendo a usar os shoppings e quem estava por trás foi entendendo as necessidades dessas pessoas e atendendo-as. O tempo fez com que nos transformássemos no equipamento público mais bem avaliado do Brasil”. A manutenção do modelo shopping, assim como a valorização das marcas dos grupos e empreendimentos, também foi aprendida com o caminhar da história do setor. Aceitar as dinâmicas e a volubilidade do mercado e dos consumidores – e não brigar com elas – continua sendo a tônica entre empreendedores e gestores de shoppings Brasil afora. E é nesse sentido que Peres afirma que a indústria só pode evoluir com o aumento da qualidade da informação aferida e transmitida: “Nossas ações de marketing devem caminhar para uma compreensão maior dos desejos e anseios do cliente, para assegurar a satisfação que ele procura. Esse, no fundo, é o foco do nosso trabalho. Atualmente, o interesse dos consumidores por serviços e entretenimento praticamente equivale àquele pelo comércio de bens de consumo. Os shoppings estão se tornando centros de convivência, onde pessoas procuram não apenas comprar alguma coisa, mas se sentir bem. Para atender melhor a esse consumidor, o marketing direto é o maior aliado. Estamos utilizando a tecnologia e as ferramentas de comunicação direta para compreender, analisar e entregar o que cada um precisa”. Mas a adesão às novas tecnologias e a processos de comunicação e marketing deve sempre ser cercada de cuidados. É esse o alerta de Jereissati ao dizer que “o segredo é ‘ouvir’ sempre de forma científica, entender o que está acontecendo, discutir com as pessoas que têm a competência para isso. Temos de ser relevantes naquilo que fazemos. Não acredito em fazer por fazer. Então, não vou entrar só porque todo mundo está fazendo. Se for irrelevante, se não tiver importância e se não tiver uma justificativa para o consumidor, pode dizer o que quiser, mas o Iguatemi não faz só porque todo mundo está fazendo”. Utilizando-se em maior ou menor grau de novas tecnologias para “marquetear” os shoppings, a indústria nunca perdeu o foco no atendimento ao frequentador. Atender bem é o que norteia as estratégias. E esse é um conceito que jamais se perderá, sofra essa indústria as transformações que sofrer. Não importa. A profissionalização caminha para satisfazer cada vez mais um consumidor que evolui e amadurece com o manancial de informações disponíveis. Atender bem, portanto, é o objetivo imutável, que, para ser cumprido, ganha novas ferramentas todos os dias. É uma espécie de paradigma moderno, que Jereissati descreve com simplicidade: “Eu aprendi marketing na consideração que minha mãe tem pelas pessoas. Hoje, este conceito tem que permear toda a companhia. Todos devem fazer o exercício diário de saber que tudo comunica. A maneira como você é, a maneira como você fala, a maneira como se veste, a decoração desse escritório, tudo passa uma mensagem. Eu sei que esse foi o grande segredo da formação da marca Iguatemi. Tudo o que fazemos contempla a comunicação, a consolidação da imagem. Tudo, tudo, tudo tem uma relevância enorme. Nada é insignificante do ponto de vista do marketing”. Para definirmos o conceito de branding, é necessário entendermos o significado de marca. A marca é um sinal que colocamos em um produto ou serviço para identificá-lo. Branding é um termo em inglês para definir gestão da marca. Ao pesquisar sobre a origem das marcas, descobre-se que o branding é algo que tem origem em épocas remotas. Na História Antiga, as pessoas já marcavam o gado, por exemplo, para determinar de quem era o animal, ou o tijolo de uma construção, para dizer qual era a procedência. Do ponto de vista do comércio, o branding passou a ser mais relevante como sinal de qualidade ou procedência à medida que o consumidor deixou de comprar o leite do dono da vaca, o legume ou a fruta do dono do pomar. Tradicionalmente, o branding surgiu para sinalizar a procedência e a qualidade do produto ou serviço. Não é à toa que, até pouco tempo atrás, em seus slogans, as marcas falavam exatamente sobre isso: “Se é Bayer, é bom”, “Knorr é melhor”, “Volkswagen, você conhece, você confia”. A marca servia para avalizar a qualidade do produto ou serviço. Atualmente, o que se percebe é a evolução desse conceito de branding a partir da proliferação de marcas e também da fluidez das informações. Hoje, o consumidor não precisa mais da marca para obter informações a respeito do fabricante. Há um número enorme de marcas para escolher e, muitas vezes, essas marcas revelam a mesma performance. ✻ ATRIBUTOS E PERCEPÇÕES Quando as pessoas pensam em marcas, ainda é comum que as associem a um produto específico. Na verdade, a marca vai além do produto: é um conjunto de atributos e associações ligadas a um nome. A marca é formada por uma série de percepções que residem na mente das pessoas. Entre os componentes que constroem essa percepção estão o próprio produto, a embalagem, a imagem do fabricante, o preço, a distribuição, o perfil dos consumidores, a história e a comunicação daquela marca, entre outros elementos. Uma das marcas mais valiosas e um dos trabalhos de marketing mais benfeitos da história é a Coca-Cola. Quando se fala em Coca-Cola, isso evoca o refrigerante em si, o gosto que ele tem. O design da garrafa (embalagem) foi projetado por Andy Warhol, com a intenção de que, mesmo partida em pedaços, ela pudesse ser reconhecida por todos. E por suas curvas a embalagem da Coca- Cola produz esse efeito. Além disso, a Coca-Cola está intimamente ligada, por exemplo, ao Natal. Uma das versões que existe é que o Papai Noel veste a roupa vermelha das tradições natalinas atuais por causa da empresa. Não é à toa ela contratou um desenhista que criou as vestes do Papai Noel com as cores da empresa e concebeu a imagem do velhinho bonachão, com bochechas rosadas e barbas brancas. Assim, o Papai Noel sempre esteve, ao longo da história, associado à Coca-Cola. Trata- se, portanto, de um conjunto de percepções que, de uma maneira integrada, gera uma imagem na cabeça das pessoas. Portanto, a marca é muito mais ampla e mais profunda do que simplesmente um produto. ✻ PERSONALIDADE DA MARCA Considerando uma abordagem mais ampla, como é a anatomia de uma marca? Se a imaginarmos sendo formada por três grandes círculos concêntricos, o mais externo deles é formado pelos atributos da marca; o intermediário, pelos benefícios decorrentes desses atributos; e no centro de tudo está a personalidade. É aí que está o grande segredo. Cada vez mais, as pessoas se relacionam com as marcas como se relacionam com os amigos. E escolhemos nossos amigos por afinidade. Quase sempre atribuímos às marcas características humanas. Há a marca simpática, a arrogante, a sofisticada, a popular, a divertida e a atlética. São conceitos pessoais que atrelamos às marcas e que produzem maior ou menor identificação das pessoas com elas. No início da indústria dos shopping centers, quase que obrigatoriamente, era preciso falar dos atributos para atrair o consumidor: um local seguro, climatizado, com várias lojas reunidas, aumentando o leque de opções de compras em um só lugar. Ainda hoje, em cidades onde esse tipo de empreendimento é uma novidade, é necessário falar desses e de outros atributos básicos para atrair os clientes. Mas em cidades como São Paulo, onde o conceito de shopping já é bem conhecido, basear o posicionamento de marketing apenas nos atributos é desnecessário e insuficiente para diferenciar um mall dos demais. Alguns shoppings já começaram a focara comunicação nos benefícios que esses atributos podem oferecer ao consumidor. A segurança, o conforto, a presença de gente bonita e o estacionamento fácil são elementos que trazem bem-estar e sensação de felicidade às pessoas, por exemplo. Ou seja, bem-estar e felicidade são benefícios derivados desses atributos, mas bem poucos empreendimentos investem na questão da personalidade, de trabalhar a identificação dos centros de compras com as pessoas. Para trabalhar essa identificação é preciso ter claro qual é a personalidade do próprio empreendimento. Isso deixa muitos empreendedores preocupados, porque, ao mesmo tempo em que essa personalidade os aproxima de determinados públicos, os afasta de outros – afinal, ninguém é amado por todos. Trata-se de uma equação complicada, pois os shoppings têm a pretensão de agradar a todos, o que é cada vez menos lógico em um ambiente de proliferação de centros comerciais, de hipercompetição de mercado. Isso é um obstáculo para a implantação do branding na indústria de shopping centers. ✻ SHOPPING: ALÉM DO CONSUMO Atualmente, o mall está assumindo, cada vez mais, no mundo todo, um papel que vai além do consumo nas suas lojas. O shopping hoje é um lugar onde as pessoas se sentem bem, aonde vão para socializar. Elas vão ao shopping para ver gente, porque o ambiente é mais alegre, vão encontrar amigos, comer na praça de alimentação ou assistir a um filme no cinema. Algumas vezes, o empreendimento se assemelha a uma galeria de arte e em outras funciona como a rede social off-line. Quando passeia diante das vitrines das lojas, nem sempre o consumidor está procurando algo para comprar, mas olha as novidades, informa- se, atualiza-se, conecta-se com o novo, com o mundo e com outras pessoas. Nessa linha, o consumidor vai ao shopping com o qual mais se identifica, aquele que acredita ter seu estilo, que é frequentado pelas pessoas que mais têm a ver com ele. Há quem goste de um ambiente mais clean; outros, de algo mais aconchegante, ou de um mais moderno, ou daquele mais tradicional. Essas são percepções emocionais ligadas não a atributos físicos ou objetivos, mas à personalidade dos empreendimentos, que nasce dos benefícios que esses atributos trazem. Desse modo, o consumidor, muitas vezes inconscientemente, acaba escolhendo seu shopping por meio desse processo de identificação. Hoje em dia, as pessoas estão muito mais propensas a escolher suas marcas em função de valores, ambiente, crenças, causas, fatores mais subjetivos. O mesmo ocorre com os malls. No entanto, os shoppings no Brasil nasceram como empreendimentos imobiliários e a maioria deles ainda mantém esse posicionamento. Tanto é assim que o nome, via de regra, inclui a sua localização geográfica. O Shopping Pátio Paulista, por exemplo, chama-se assim porque está em São Paulo próximo à avenida Paulista; o Shopping Morumbi, porque está no bairro do Morumbi; o VillaLobos, porque está perto do parque de mesmo nome. Ou seja, todas eles têm referências geográficas. O interessante é que esse posicionamento geográfico também se reflete no slogan do empreendimento. Por isso, apesar de o branding ainda ser uma ferramenta pouco utilizada pelos shoppings, há muito potencial para esse uso. ✻ EVOLUÇÃO DAS MARCAS Hoje em dia, em todo o planeta, as marcas começam a deixar de falar sobre atributos e começam a falar sobre crenças. O slogan do sabão em pó Omo, por exemplo, no passado, era: “Omo lava mais branco”. Hoje, o Omo fala que “se sujar faz bem”, como quem diz: “Deixe a criança se sujar à vontade e depois você usa o Omo para lavar a roupa dela”. Desse modo, a marca passou a abraçar uma causa familiar de deixar a criança ser criança, divertir-se, brincar. No varejo brasileiro, por exemplo, muitas empresas passaram a abraçar o conceito da felicidade, como o Pão de Açúcar e o Magazine Luiza, cujo slogan é: “Vem ser feliz”. As campanhas da Coca-Cola, que é um grande exemplo de marca, deixam claro o seu posicionamento em termos de marketing. A empresa de bebidas propõe ao consumidor: “Viva positivamente”. Outro exemplo é a marca Dove, cujas campanhas convidam as consumidoras a apreciar a “real beleza”, em vez de exaltar a perfeição. Com isso ela promove identificação com as mulheres comuns, explorando a abordagem mais emocional do que racional. Nesse sentido, é necessário que os shoppings evoluam. Existe campo para isso. Há espaço para os empreendimentos no Brasil e no mundo evoluírem no sentido de promover essa identificação, e não apenas falar dos seus atributos, porque, afinal, eles já são bem semelhantes entre si. Precisam, portanto, adotar um posicionamento que os diferencie, de preferência fundamentado em estilo de vida, crenças, causas e valores. ✻ IDENTIDADE E POSICIONAMENTO A identidade de uma marca não se cria. A marca já possui uma identidade. Ela pode até não expressá-la, mas sua identidade existe e é formada pela soma de suas origens, sua história e suas relações. O primeiro passo desse processo de branding é revelar a identidade da marca. Para isso, é importante pesquisar sua trajetória e conversar com pessoas de diversas áreas para ouvir como elas se relacionam com a empresa, como enxergam essa identidade. No caso de um shopping, devem ser entrevistados desde a equipe gerencial até funcionários, consumidores e lojistas. A identidade da marca será expressa em um documento, tanto por meio de uma declaração formal de visão, missão e valores quanto de um discurso de marca mais descontraído. Esse documento deve definir todo o trabalho de posicionamento da marca. É importante ressaltar a diferença entre posicionamento e imagem. Posicionamento é como eu, enquanto marca, desejo ser percebido pelas pessoas. Imagem é como sou realmente percebido por elas. Aproximar a percepção existente do posicionamento desejado é o trabalho mais importante do marketing. A chave para um trabalho benfeito de posicionamento é não criar uma imagem artificialmente, mas entender a cultura da empresa, a maneira como ela se manifesta e como ela atua na sociedade, para extrair dessa reflexão um posicionamento que seja relevante do ponto de vista emocional, em relação ao consumidor. Quando o shopping investe em branding, ele fortalece sua identidade perante todos os seus stakeholders: consumidores, lojistas, fornecedores, imprensa, entre outros públicos – e gera credibilidade e valor. O trabalho de branding é interessante porque, muitas vezes, ele acontece à revelia dos malls. Isso ocorre porque as pessoas constroem uma imagem positiva ou negativa sobre as marcas, mesmo que as empresas não utilizem de forma sistemática o branding. Os consumidores constroem uma imagem a partir das relações que estabelecem com os shoppings que frequentam no seu cotidiano. Mesmo que o empreendimento não faça um trabalho estruturado de branding, as pessoas desenvolvem percepções em relação a ele. Dessa maneira, é melhor que o mall possa administrar esse processo em vez de deixar que ele ocorra sem controle. A proliferação de shopping centers tende a modificar a dinâmica do mercado, fazendo com que os brasileiros tenham muitas opções de escolha, ao contrário do que acontecia no passado. Tendo em vista que a arquitetura e o mix de lojas são quase sempre semelhantes entre os centros nacionais, a questão de identificação ganhará importância, fazendo com que haja mais projetos de branding nesse setor. ✻ MANUTENÇÃO DA MARCA Já foi dito que as pessoas se relacionam com as marcas como se relacionam com amigos. No campo das relações interpessoais não basta conquistar um amigo, ou mesmo uma esposa – é preciso alimentar esse relacionamento. O mesmo acontece no mundo das marcas. Além disso, as pessoas mudam e as marcas precisam evoluir junto com os consumidores. Uma marca que não entende o seu consumidor, que, em lugar de tentar compreender sua trajetória, anseios e desejos, prefere olhar para si mesma desenvolve uma espécie de autismo empresarial. Isso, infelizmente, ainda é muito comum. No caso dos shoppings, quando as empresas colocam todo o focona busca da rentabilidade sem levar em consideração as motivações dos consumidores, correm o risco de obter um resultado oposto. Quando desenham o projeto ou definem o tenant mix com base em suas próprias convicções ou conveniências, desconsiderando a opinião dos potenciais usuários, também assumem um risco desnecessário. É preciso lembrar que o consumidor é um ser em constante movimento. A sociedade da informação faz com que a comunicação seja mais rápida e isso acelera também as mudanças. Quando uma pessoa está dirigindo o seu carro à noite, numa estrada que não conhece e com chuva, a falta de informações faz com que ela dirija mais devagar. Mas numa estrada iluminada pelo sol, conhecida, com o tempo claro, essa pessoa tende a andar mais rapidamente. A informação faz acelerar a trajetória. Com o bombardeio de informações atual, o consumidor se movimenta mais rapidamente e os shoppings têm que evoluir com ele. Esse é mais um desafio para as marcas. Elas devem manter a sua essência, os seus valores, mas devem manifestar-se de acordo com o momento. As marcas tradicionais, que foram adaptando-se ao mercado, mantêm-se bem-sucedidas. As campanhas de automóveis, que não falam só sobre velocidade e durabilidade dos veículos, mas abordam também estilo, design e sociabilidade, são exemplos. A sociedade atual é muito diferente da de 20 anos atrás. O objetivo de visita ao empreendimento está mudando também. O consumidor não busca apenas abastecer-se de produtos, mas viver bons momentos. O shopping funcional passa a ser menos relevante do que aquele onde você passa momentos felizes. Hoje em dia, a concorrência dos sites de compras na internet é muito forte e se os empreendimentos fundamentarem suas estratégias apenas em compras enfrentarão mais dificuldades. Por outro lado, o mall pode oferecer um ambiente agradável, experiências de compra e sensação de bem-estar, dificilmente comparáveis com a compra em lojas de rua ou pela internet. Isso tudo precisa estar embalado por uma comunicação emocional, recheada de causas e valores. O branding pode ajudar nesse desafio. A reputação de um empreendimento é parte de seu patrimônio intangível, algo que, embora não possa ser medido precisamente, tem fundamental importância. A marca de um shopping tradicional em São Paulo pode valer bilhões de reais. Já a marca de um empreendimento pequeno numa cidade do interior pode valer R$ 50 mil. Isso significa que ninguém vai querer pegar o nome do empreendimento da cidade pequena e colocar em um shopping já consolidado, pois ninguém mais irá lá. Agora, se colocar o nome do mall tradicional no shopping da cidade pequena, muda completamente a reputação dele e sua atratividade. A marca vale muito dinheiro. Toda vez que os empreendedores se deparam com problemas relacionados às crises, há um ataque ao valor da marca. Esse ataque é feito por meio de agressões à imagem e à reputação. Imagem é a fotografia do momento. Um mall pode estar com a imagem ruim por uma série de problemas, como pessoas reclamando do estacionamento, da segurança, por exemplo. Então, o empreendedor consegue resolver o problema criando mais vagas ou trocando o administrador do serviço, e o problema de imagem acaba. Agora, considere um shopping que tem a reputação de ser chique, com as melhores lojas do Brasil. É uma reputação positiva: o consumidor vai lá porque sabe que tem as melhores marcas e os melhores produtos. A partir do momento em que ele começa a sofrer assaltos, o consumidor passa a pensar duas vezes antes de ir ou deixar o filho ir. Começa a reputação de um lugar inseguro. E essa reputação começa a afetar o valor de marca. Posso ter vários tipos de reputação, que são sempre monocromáticas. São brancas ou pretas. O shopping é limpo ou é sujo. É careiro ou barato. É seguro ou inseguro. A reputação é sempre formada com sim ou não. É branco ou preto, e não cinza. A imagem é multifacetada. Pense em um globo espelhado usado no teto em festas. Ela depende de quem olha e a partir de onde olha. Eu o acho bonito; tem gente que o acha feio. Na construção da imagem, há os dois extremos e, no meio, divergências de opinião. O morador de uma cidade pequena acha o shopping local muito bom, até que vai a um empreendimento maior, em uma capital, e muda de opinião. “Ele era tão pequeno e eu não sabia”, irá pensar o frequentador. É possível melhorar a imagem por meio de ações como campanhas sociais. Só que a boa reputação leva muito tempo para ser construída, mas pode ser perdida rapidamente por conta de um determinado aspecto. Uma marca de carros tinha fama de fazer automóveis que quebravam fácil e tinham manutenção cara. Ela levou 30 anos para mudar isso. Já a imagem se muda mais facilmente. Toda a experiência positiva que se tem em um shopping é compartilhada, normalmente, com outra pessoa. Cada momento negativo é contado para dez pessoas. A reputação é passada por meio da comunicação, no boca a boca ou pelo que é contado pela propaganda. Um carro de luxo vira o sonho de consumo e sinônimo de qualidade para milhões de pessoas que jamais o viram de perto ou o testaram. O primeiro contato é pela imagem, mas dali para a frente o consumidor passa a ser alimentado pela informação boca a boca, fatos positivos ou negativos. Os negativos vão, aos pouquinhos, detonando a eventual imagem positiva formada antes. A reputação existe para pessoas, empresas, cidades e países Toda entidade social tem uma reputação. O plano de marketing é o primeiro grande passo para uma estratégia de marketing bem-sucedida. Na fase de planejamento, cabe ao profissional ou à equipe responsável pela área antever e planejar aonde se quer chegar e como atingir determinado objetivo para a empresa. Por isso, alguns questionamentos são necessários: qual o objetivo do negócio? Para onde a empresa deseja caminhar? Definidos os objetivos do empreendimento, é o momento de todas as áreas da companhia, entre elas o marketing, desdobrarem-se para que as metas sejam atingidas. No caso dos shopping centers, um bom plano de marketing contempla diversas variáveis. A primeira delas, e fundamental, é identificar e analisar quem é o seu cliente. Por isso, a aplicação constante de pesquisas é essencial para conhecer o perfil do consumidor. Porém, não basta amparar-se em pesquisas. Mesmo que elas sirvam como um bom parâmetro e ofereçam elementos para o norteamento das ações, o profissional de marketing não deve contentar-se com os números e as planilhas das sondagens quantitativas e qualitativas. Para conhecer o consumidor, ele deve conversar com os lojistas, estar informado sobre as notícias do Brasil, entender e analisar a macroeconomia (que vai ter reflexos diretos e indiretos no empreendimento), participar de eventos que possam agregar informações etc. Ou seja, conhecer as tendências de mercado e o contexto sociofinanceiro do País. Se a economia brasileira vai mal, é possível que haja uma queda nas vendas, o que vai exigir ações em todas as áreas administrativas. As pesquisas oferecem um retrato do momento, mas para a execução de um bom plano de marketing é necessário um conjunto de informações que abranja desde dados macro até os mais segmentados, como análises da concorrência e equipamentos existentes na região – parques de diversões, hotéis etc. O empreendimento também concorre com outras opções de lazer e entretenimento, como viagens e restaurantes. O bom plano de marketing deve levar em consideração que o mall, hoje em dia, não é apenas um centro de compras. É o lugar do passeio, do mundo mágico, onde tudo é colorido e dá certo, nada pode dar errado. Podemos fazer uma analogia com as férias, quando tudo deve acontecer conforme o planejado – hotéis, passeios, clima, refeições etc. O planejamento de marketing exige a análise de todas essas variáveis (macro e micro) e, a partir daí, o desenvolvimento de um plano que encaixe o empreendimento nesse contexto. Atualmente, a mudança de interesses vem transformando os hábitos de compra dos consumidores e o mall deve, sempre, acompanhar asmudanças e tendências. De maneira geral, um plano de marketing deve responder às seguintes questões: – Aonde a empresa quer chegar (visão)? – Qual o objetivo do marketing? – Como fazer para que os resultados sejam atingidos? – Quais informações são necessárias? A projeção do futuro depende também do acúmulo de experiências adquiridas no passado. É comum os gerentes de marketing não avaliarem as ações feitas anteriormente e os erros e acertos cometidos em projetos já realizados. Uma reflexão e a análise detalhada dos trabalhos anteriores permitem discernir o que vale a pena repetir – e aprimorar – e o que deve ser abolido. Em geral, os departamentos administrativos entram em um novo ano com novas ideias, sem mensurar as iniciativas executadas no ano anterior. Quando não há essa reflexão, a probabilidade de que sejam cometidos os mesmos erros é muito grande, já que o profissional pode ter o feeling para os projetos, mas está desprovido de informações que podem auxiliar e dar embasamento às decisões a serem tomadas no futuro. Com a concorrência cada vez mais acirrada, em especial nos grandes centros urbanos, os shopping centers precisam, cada vez mais, estimular os colaboradores para que sejam criados diferenciais em relação aos concorrentes. A partir dessa criatividade é que serão construídos modelos que tornem a experiência do consumidor algo memorável, cativando o cliente. A diferenciação vai ter reflexos positivos nas vendas. ✻ O MARKETING ENQUANTO PARTE DO NEGÓCIO Historicamente, as equipes e os profissionais responsáveis pelas áreas de marketing dos shoppings raramente, ou nunca, comprometeram-se com os resultados globais do empreendimento. O compromisso sempre foi muito mais focado e restrito a eventos, à área de comunicação. A preocupação concentra-se em boas campanhas promocionais nas datas de varejo, campanhas institucionais e com uma bonita decoração de Natal. Nos últimos anos, essa visão estreita tem mudado. Se antes o departamento de marketing resumia-se à parte de comunicação e eventos, hoje em dia o marketing em shopping centers é voltado para a área de negócios. Trata-se de um executivo que está sentado na cadeira do marketing. É um profissional que tem uma visão global do empreendimento e trabalha na criação de experiências que aumentem a interação da marca com o consumidor em diferentes momentos, com resultados positivos. Para gerar esses resultados, o gerente de marketing tem que contar com um ingrediente importante: a criatividade nas ações estratégicas e táticas de marketing, mas também a participação em decisões macro, importantes para o negócio. Diante da concorrência cada vez mais acirrada, não é exagero afirmar que, nos próximos anos, se destacarão apenas os empreendimentos que tiverem um bom equipamento, com um mix de lojas diversificado, que vá ao encontro dos anseios dos frequentadores, além de um diferencial relevante. Esse diferencial tem a ver com o fato de que o mix, por mais diversificado que seja, muitas vezes é semelhante ao do mall vizinho. O que muda é a experiência do consumidor no local, a atmosfera, o atendimento, o serviço prestado etc., ou seja, o que se faz de diferente. São questões que geram o “encantamento”, além de aumentar a frequência. ✻ REINVENÇÃO DO MARKETING O departamento de marketing deve desenvolver ações amparadas em dois pontos: – Utilizar a criatividade para criar uma boa experiência para o consumidor (o encantamento). – Como essa boa experiência vai refletir-se no desempenho do empreendimento como um todo. O plano de marketing, que antes era focado apenas em ações de comunicação, necessita de outro tipo de construção e aplicação, focado em números, metas, expectativas de resultados e conhecimento global do mercado de shopping centers. Mais uma vez, é necessário estar amparado em pesquisas que forneçam as informações necessárias para um plano consistente e que balizem as decisões a serem tomadas. Um bom projeto deve levar em consideração: – Conhecimento da situação socioeconômica do País e da região onde o shopping está inserido. – Como o entretenimento faz parte do cotidiano das pessoas. – Como desenvolver e levar novas experiências para os consumidores, com propostas criativas e que criem um diferencial em relação à concorrência. – Mensuração dos resultados: utilização de pesquisas para saber se a meta inicial foi atingida ou não. ✻ LOJISTAS E CONSUMIDORES FINAIS O plano de marketing deve levar em consideração os dois públicos-alvo: os lojistas e os consumidores finais. Cada vez mais, os lojistas são considerados parceiros estratégicos no empreendimento, deixando no passado a imagem de um inquilino comercial que vive de fazer queixas à administração. Por estar em contato direto com o consumidor, o lojista é uma importante fonte de informações sobre os hábitos e o perfil do cliente, tornando-se um componente importante no embasamento técnico do plano de marketing. ✻ POSICIONAMENTO Uma das matrizes básicas necessárias para a construção do marketing é o posicionamento do shopping center. Não é raro que muitos gerentes de marketing desconheçam o real posicionamento do mall, muitas vezes traduzido apenas como “de classe A ou B”. Só essa informação não basta para entender o posicionamento, que depende de outras variáveis, como perfil do consumidor, localização, composição do mix de lojas e relação entre lojistas e consumidores. Alinhado com outras áreas administrativas, o marketing desempenha um papel importante no trabalho de posicionamento, já que é o departamento que mais conhece e lida com o público no cotidiano – o que realça o papel da área no empreendimento como um todo. Por isso, os empreendedores devem abrir um espaço cada vez maior para o setor de marketing na administração do shopping. Por outro lado, os profissionais devem ampliar suas experiências e a base de conhecimento, utilizando-o para conquistar resultados para o negócio. No geral, os shoppings ainda estão atrasados em relação a outros segmentos, no que diz respeito ao planejamento de marketing, ainda muito concentrado em eventos pontuais. ✻ MENSURAÇÃO DE RESULTADOS E PROMOÇÕES As pesquisas são elementos importantes para a mensuração de resultados de ações desenvolvidas no plano de marketing. Trata-se de ferramentas importantes, em uma fase em que é necessário, cada vez mais, otimizar os recursos destinados ao setor. Há casos de empreendimentos que gastam muito dinheiro em ações que não são relevantes, pelo simples fato de não medirem o resultado de vendas e fluxo. Bons exemplos são as promoções. Estudos revelam que é baixa a relação entre a promoção e o aumento de público frequentador e das vendas, ou seja, uma promoção de distribuição de cupons para sorteios de carros contribui muito pouco para o aumento real de frequentadores. Diante disso, por que os administradores continuam realizando as promoções? Em primeiro lugar, porque os resultados delas são pouco mensurados pelos shoppings. Em segundo lugar, a extinção desse tipo de ação pode provocar uma reação negativa por parte dos lojistas, geralmente resistentes às mudanças. Caso eles vendam menos em uma data comemorativa em que não tenha ocorrido um sorteio de grande porte, como no Dia das Mães ou dos Pais, será alta a probabilidade de o comerciante creditar os resultados negativos à falta de promoções. Finalmente, uma promoção denota uma mensagem grande em termos de marca do shopping. Quando há o sorteio de uma BMW ou de um carro popular, são duas mensagens diferentes para o consumidor. A promoção, em termos institucionais, contribui para a formação e consolidação da marca. Ela pode não resultar em aumento do fluxo e das vendas, mas ajuda na construção da marca e no posicionamento do empreendimento. O grande desafio, nesse caso, é encontrar alternativas para substituir as ações tradicionais e que sejam capazes de aumentar vendas e fluxo de pessoas e veículos. ✻ COMUNICAÇÃO VISUAL O plano de marketing deve contemplar uma linha de comunicação consistente e alinhada ao seupúblico. É inaceitável que, a cada temporada, a linha criativa mude radicalmente, gerando uma grande confusão na cabeça do consumidor. Deve haver uma evolução e adaptação, como fazem os grandes bancos de varejo, que, apesar de atualizarem constantemente suas campanhas, jamais mudam as cores. O Bradesco é identificado pela cor vermelha. O Itaú, pela laranja e azul. E assim por diante. Cada vez mais é necessário que o gerente de marketing profissionalize-se e participe das discussões sobre o mall como um todo. Além de produzir um bom plano de marketing, o profissional deve auxiliar na definição do mix de lojas e das prioridades nos investimentos de infraestrutura, entre outras atribuições. Se um empreendimento quer posicionar-se como sustentável e ambientalmente correto, é importante ter em seu mix as marcas que lidem com produtos naturais. E isso deve ser apontado pelo marketing. Diante disso, conclui-se que a profissionalização e a interação com outras áreas é essencial para os planos e departamentos de marketing nos shoppings brasileiros. O gerente do departamento deve, cada vez mais, comportar-se como um executivo e menos como um profissional da comunicação. Caso contrário, a gestão de marketing em shoppings continuará restrita às ações pontuais sem necessariamente gerar resultado para o negócio. De acordo Peter Drucker, especialista, considerado o “pai” do marketing moderno: “O objetivo do marketing é conhecer seus consumidores com tanta profundidade que, quando seus clientes potenciais depararem com seu produto, se ajustarão tão bem a eles que se venderão sozinhos.” ✻ PESQUISAS E ESTRATÉGIAS DE MARKETING A pesquisa pode ser entendida como um processo de construção do conhecimento que tem como metas principais gerar novos conhecimentos e/ou corroborar ou refutar algum conhecimento preexistente. A pesquisa, como atividade regular, também pode ser definida como o conjunto de atividades orientadas e planejadas para a busca de um conhecimento. Elas são importantes para a gestão global do empreendimento, no qual o marketing é uma das ferramentas de trabalho à disposição dos gestores. Do ponto de vista estratégico, podemos dizer que a pesquisa subsidia a definição e a direção a ser seguida por um empreendimento. Ao marketing cabe a operacionalização dessa estratégia. Um dos maiores desafios atuais dos shopping centers é trabalhar o processo de segmentação de marcas e o posicionamento dos diferentes empreendimentos. Durante anos, não era necessário aos shoppings um posicionamento de marca diferenciado para atrair o público. Afinal, havia poucas marcas e a concorrência entre os malls era pequena. Hoje em dia, municípios de porte médio e que até algum tempo atrás possuíam apenas um shopping hoje têm três ou quatro. Nas grandes cidades, a distância entre os novos empreendimentos é cada vez menor; portanto, a simples ocupação geográfica do espaço vai deixando de ser suficiente, o que torna necessário oferecer diferenciais para atrair o público em uma mesma área de influência. Aqui se encontra uma das grandes contribuições da pesquisa de mercado ao negócio de shopping centers, trabalhando questões como: – Definição do posicionamento diferencial do empreendimento. – Alinhamento das marcas presentes no mall ao posicionamento. – Retenção dos consumidores no shopping. –Maximização da satisfação dos consumidores. –Aproveitamento do fluxo de consumidores para as diferentes lojas do shopping. –Maximização da performance de vendas das lojas e categorias dentro de um empreendimento. –Áreas quentes e frias da loja e do mall. –Produtos/marcas que são carros-chefe, ímãs, de nicho e reposicionáveis de cada categoria. –Influências do merchandising e das promoções no processo de compra do consumidor. É necessário salientar que a busca pela compreensão do consumidor e dos seus desejos passa necessariamente pelo conhecimento de como ele funciona, isto é: –Biologicamente: o corpo, a mente, a capacidade intelectual etc. –Socialmente: como ele interage com as outras pessoas e convive em diferentes culturas e sociedades. Muitas análises são feitas erroneamente, pela falta de conhecimento de como os indivíduos funcionam. Outras vezes o erro se dá em função da contaminação por pressupostos. Alguns profissionais de pesquisas acreditam que não estão sob as mesmas leis biológicas, sociais e psicológicas dos consumidores. ✻ MAXIMIZANDO O APROVEITAMENTO DOS FREQUENTADORES DE UM SHOPPING Estudos específicos revelam o grau de satisfação do consumidor e a correlação entre os números apresentados. As estatísticas mostram que há uma correlação de 95% de clientes encantados com o fato de que pretendem voltar ao shopping center. Na outra ponta, 98% dos clientes insatisfeitos (de um universo de 100% de insatisfeitos) não pretendem voltar e não recomendam o mall em questão. Por isso, é importante identificar os elementos que impactam na satisfação do consumidor, o peso de cada um na opinião dos frequentadores e como agir de maneira corretiva, de modo a melhorar os índices de satisfação. Identificar os elementos que impactam a satisfação e qual o peso de cada um deles é importante para que o shopping tenha informações para estabelecer as prioridades e aplicar os recursos, inclusive os do marketing. ✻ ENTENDENDO AS PECULIARIDADES DO CONSUMIDOR BRASILEIRO As pesquisas aplicadas no País pecam por fazerem uma abordagem excessivamente literal do consumidor em uma realidade em que, culturalmente, as pessoas são excessivamente flexíveis. Em comparação com o europeu, por exemplo, o brasileiro tende a ser mais complacente e menos rigoroso nas respostas. Isso exige do pesquisador critérios rígidos para selecionar o que é ou não importante nas respostas e informações fornecidas pelos entrevistados, pois há o perigo da não discriminação correta do que é relevante ou não. Em relação a outros povos, o brasileiro é considerado tolerante, complacente e cordial quando responde às pesquisas. No Brasil, os números pouco falam. Justamente pela natureza cordial e gentil da população, que tende a ser tolerante quando perguntada sobre a satisfação pessoal. Um bom exemplo é o caso do executivo alemão de uma multinacional que, ao desembarcar no Brasil, encomendou uma pesquisa para avaliar a atratividade de novos produtos para os consumidores. Ao se defrontar com índices entre 60% e 70% de pessoas que demonstraram intenção de comprá-los, o executivo acreditava, literalmente, ter descoberto a América. Mas a alta receptividade aparente escondia outra realidade. No Brasil, em média, quando se faz uma pesquisa de intenção de compra, 65% dos entrevistados dizem que pretendem comprar, independentemente de quererem mesmo adquirir a mercadoria ou não. Por isso, quando o índice de intenção de compra exibido na pesquisa é de 70%, podemos interpretar que, na verdade, apenas 5% realmente pretendem comprar aquele produto. Testes realizados sobre extensas bases de dados mostram que, em uma escala de 0 a 10, é necessário levar em consideração apenas as notas extremas para medir a real satisfação dos clientes. Logo, apenas quem forneceu nota 10 pode ser considerado satisfeito, enquanto os insatisfeitos normalmente são aqueles que dão notas de 0 a 7. ✻ ENTENDENDO COMO O CONSUMIDOR REAGE ÀS AÇÕES DE COMUNICAÇÃO As pesquisas são, também, importantes ferramentas para auxiliar o departamento de marketing a desenvolver estratégias de comunicação para atrair e reter o público no mall. Nos últimos anos, o varejo brasileiro tem desenvolvido atividades de comunicação com baixa diferenciação, excessivamente “comoditizadas”. Nesse ambiente, como captar a atenção dos consumidores com ações de comunicação? Em uma época em que as pessoas são bombardeadas, todos os dias, por um excesso de informações de diversos tipos, em todas as áreas (jornalismo, publicidade, internet etc.), como diferenciar a comunicação dos diversos shoppings? As pesquisas – quantitativas, qualitativas ou de outros tipos – são ferramentas extremamente importantes nesseprocesso. É importante entender o que muitas vezes os números não dizem explicitamente para compreender os elementos que traduzem realmente o desejo e as motivações dos consumidores. Técnicas de análise multidimensionais podem ajudar extremamente a perceber o não dito, o não verbalizado, ao permitirem depreender a estrutura íntima das informações obtidas. ✻ PARTICULARIDADES DO USO DE PESQUISA NO BRASIL Diante dessas questões, como deve ser a análise correta das estatísticas? –Nas escalas, para medir a aderência a uma ideia ou a satisfação de clientes, devem-se levar em consideração apenas as notas máximas (o ponto 10 da escala). –Use técnicas de estatísticas e análises mais sofisticadas, que analisem toda a estrutura de resposta dos indivíduos simultaneamente, nunca a fragmentação das tabulações tradicionais de dados. As referidas análises multidimensionais são fundamentais nas diferentes aplicações de pesquisa de mercado em shopping centers no Brasil. –Há algo ainda mais relevante que o uso de escalas corretas, técnicas estatísticas avançadas e as suas interpretações: o grande desafio nas pesquisas está na interpretação dos dados associada à compreensão da dinâmica e do modelo do negócio shopping. Não adianta ser pesquisador, é preciso entender do negócio. É frequente o pesquisador ser um alienígena no negócio. Isso provoca voos rasantes, superficiais, sem a profundidade necessária para assessorar o gestor. O negócio de shopping centers evoluiu, sofisticou-se. Os gestores ganharam experiência e maturidade. O pesquisador não pode pecar pela superficialidade. ✻ PESQUISAS COM OS LOJISTAS A realização de pesquisas junto aos lojistas deve levar em consideração algumas diferenças em relação ao público em geral. A principal delas é que o lojista se apresenta como um entrevistado mais crítico do que o comprador. Não é raro ele enxergar o empreendimento como um “inimigo” por causa de questões e problemas relacionados ao dia a dia do convívio entre as lojas e o centro de compras. No caso específico, a postura do entrevistador e a análise dos resultados obtidos devem procurar diferenciar as questões e queixas relevantes de um simples “resmungo” do lojista. Outro fato que merece atenção é aquele em que o lojista usa a pesquisa apenas como um meio de negociação para obter benefícios, destacando problemas ou questões que são bem menos graves do que os colocados na pesquisa. Assim como em uma empresa, onde raramente funcionários tecem elogios à corporação, os lojistas de shoppings tendem a ser mais críticos em suas opiniões. Por isso, a exemplo das sondagens junto ao público em geral, é importante: –Criar parâmetros de avaliação com índices claros de resultados e que sejam os mais próximos possíveis da realidade. –Compreender os elementos diferenciais nas análises feitas com o varejo (endomarketing). ✻ PESQUISAS E O COMÉRCIO ELETRÔNICO As pesquisas podem, também, subsidiar os shopping centers diante das mudanças recentes ocorridas no varejo. Estudos mostram que, enquanto o varejo tradicional cresceu de maneira muito tímida nos últimos anos, o comércio eletrônico avança cada vez mais. O consumidor, muitas vezes, vai até a loja para conhecer e escolher a mercadoria desejada, mas depois efetua a compra pela internet. Novas e constantes pesquisas são necessárias para que os gestores descubram maneiras para aumentar e reter o público consumidor nos malls nos próximos anos. Entre os desafios que se colocam para o futuro dos empreendimentos e que devem ser analisados por meio de pesquisas estão: –Como os malls podem atrair o consumidor nos próximos anos? –Como atrair os jovens para os espaços físicos? –Como deve ser composto o mix de lojas e dos espaços de lazer? O desafio atual do marketing de shopping centers é estruturar-se para um futuro cada vez mais presente. Será necessário lidar menos com as questões táticas do dia a dia e mais com as estratégicas. Também será necessário pensar em como defender esse “asset” físico fantástico dos empreendimentos, diante da virtualização do mercado consumidor. Qual o papel a ser desempenhado pelos equipamentos físicos no novo mundo que se avizinha? Essa é uma questão estratégica crítica para qual a pesquisa de mercado pode ser um excelente instrumento. ✻ PESQUISAS DE OPINIÃO A importância das pesquisas de mercado não se restringe ao marketing. Elas interessam ao empreendedor de forma muito mais ampla, desde o planejamento até a manutenção das operações. Afinal, toda e qualquer sondagem nasce a partir de dúvidas que devem ser esclarecidas a partir da fase de planejamento do empreendimento, tais como: qual deve ser a localização do futuro shopping center? A que público ele será dirigido e como deve ser o mix de lojas? Muitas das questões relativas ao potencial de mercado são analisadas por meio do geomarketing (um dos temas deste capítulo que será detalhado na sequência). As pesquisas, no caso da gestão do marketing, devem ser aplicadas para o conhecimento e norteamento das ações realizadas nos famosos “quatro Ps”: produto, preço, pontos de venda e propaganda. Aos quatro pode-se acrescentar um quinto “P”: o público. Ele também constitui força de atração do mall, já que, muitas vezes, a escolha de determinado destino de compras se dá pela sensação de pertencimento que os consumidores esperam vivenciar ao frequentar os mesmos ambientes que seu target aspiracional de indivíduos. Na fase operacional, as pesquisas de opinião pública são essenciais para orientar os rumos do mall a partir da opinião dos lojistas e, principalmente, dos frequentadores. É necessário compreender que o mercado é dinâmico, os públicos mudam ao longo dos anos e as próprias regiões onde os empreendimentos estão instalados sofrem transformações urbanas, o que interferirá na frequência e no perfil do público. E as pesquisas são importantes para detectar e acompanhar essas mudanças. Em grandes cidades como São Paulo, antigos galpões de fábricas, por exemplo, cedem espaço a torres de escritórios ou prédios residenciais, transformando as antes regiões industriais em áreas comerciais, residenciais e de uso misto, algumas vezes de alto padrão. A consequência direta é a mudança do perfil do público que passa a frequentar aquele shopping center, o que exige constantes pesquisas de opinião para acompanhar as demandas dos frequentadores e lojistas. Um bom exemplo de mudança estratégica ocorreu na zona sul de São Paulo (SP), com o Shopping SP Market. Na época em que foi planejado, no final do século passado, a proposta inicial era que ele funcionasse como um outlet. As mudanças urbanas ocorridas na região em que ele está instalado – avenida das Nações Unidas (região de Interlagos), importante polo de desenvolvimento imobiliário da cidade de São Paulo – tornou obrigatório o reposicionamento para atender a um público mais exigente, oriundo dos diversos novos bairros que se desenvolveram em sua zona de abrangência. Um levantamento da área de influência também é importante para o planejamento do marketing. Mais uma vez o geomarketing é uma ferramenta útil e necessária para uma radiografia da região em questão. Dessa maneira, a área de influência pode ser maior ou menor da que a imaginada inicialmente, por questões como sistema viário local, oferta de transporte coletivo etc. Regiões com alta concentração de escritórios costumam apresentar trânsito ruim nos horários de pico, o que dificulta a atração de frequentadores de outras regiões. Por outro lado, o trânsito pesado acaba abrindo oportunidades de negócios, como restaurantes e bares para happy hour, cinemas e academias de ginástica. São atividades que podem se beneficiar da espera por uma melhor fluidez do trânsito. A separação mais clássica é a que divide pesquisas em quantitativas e qualitativas. A pesquisa quantitativa é aquela que está mais preocupada com porcentuais. Os produtos finais são as tabelas com porcentagens de respostas sobre o assunto abordado. Os resultados são mais objetivos e superficiais, com menor aprofundamentodos temas. Geralmente são utilizadas para captação de informações como dados demográficos, classes sociais do público pesquisado etc. Caso o empreendedor queira compreender melhor as motivações, opiniões e desejos dos frequentadores, vai recorrer às pesquisas qualitativas. O objetivo dessas sondagens é aprofundar temas de interesse do shopping junto ao consumidor, tais como: por que ele faz determinada escolha, quais os desejos reais de consumo, como ele seleciona os produtos que deseja adquirir e como são escolhidos os locais de compras. As pesquisas qualitativas podem ser divididas da seguinte maneira: –Dinâmica de grupo : é selecionado um grupo com características homogêneas (classe social, faixa etária, renda familiar) que vai responder e discutir determinada questão proposta pelo moderador, como a satisfação com o mix de lojas do shopping. As dinâmicas realizadas pelos institutos de pesquisa são muito comuns e devem ser conduzidas por um entrevistador experiente, para que sejam conquistados os resultados esperados e as respostas para as questões propostas. –Entrevista com profundidade : é feita uma entrevista individual, geralmente utilizando-se um gravador. Nesse caso, as questões apresentadas pelo empreendedor serão debatidas em profundidade com o entrevistado. Mesmo com a riqueza de informações geradas, seja nas dinâmicas ou nas entrevistas individuais, as pesquisas também estão sujeitas a interpretações errôneas e que desviem o foco do objetivo inicial. Daí a importância de um moderador experiente e bem preparado para conduzir as questões do grupo e evitar possíveis dispersões dos assuntos analisados ou a perda do objetivo. É comum, por exemplo, que em determinadas dinâmicas apareça ao menos um entrevistado com opiniões contundentes e que, portanto, sejam mais hábeis para influenciar e conduzir a opinião dos demais entrevistados. Eles podem tornar-se “líderes”, cujas opiniões influenciam a dos outros, colocando em risco a imparcialidade e a espontaneidade das respostas dos demais entrevistados. Um bom exemplo é uma pesquisa feita há algum tempo para o mercado imobiliário. Um dos integrantes do grupo da pesquisa qualitativa era uma pessoa conhecida da mídia. Logo, o que ele respondia ou discutia na dinâmica acabava, naturalmente, tendo uma ressonância maior na opinião dos demais colegas de grupo. ✻ COMBINAÇÃO DE PESQUISAS No geral, as duas técnicas clássicas de pesquisas (quantitativas e qualitativas) são boas e apresentam resultados bastante satisfatórios. O ideal é que, sempre que possível, haja uma combinação dos dois tipos: a qualitativa, para que emerjam questões mais profundas, e a quantitativa, para mensurar e tabular estatísticas sobre os assuntos. Há certa tendência entre os pesquisadores a considerar que a pesquisa qualitativa deve anteceder a quantitativa. No caso, a qualitativa seria uma sondagem que forneceria informações detalhadas que, em um segundo momento, serviriam como base de informações para a construção de um questionário a ser aplicado na pesquisa quantitativa. Esse método, porém, às vezes não é eficiente. Para evitar problemas e alcançar os resultados desejados, deve-se considerar sempre que a pesquisa quantitativa serve para quantificar resultados e produzir índices. Já a qualitativa é muito eficiente para a análise de questões comportamentais. ✻ OUTROS TIPOS DE PESQUISA Observacional: o pesquisador não conversa com ninguém. Ele passa horas ou dias em um determinado lugar – no caso, um shopping center ou um setor dele (praça de alimentação, por exemplo) – apenas observando o comportamento dos frequentadores. Ele deve ter uma grande habilidade e capacidade de observação para, durante o trabalho, mensurar questões como: –Por quanto tempo as pessoas circulam pelos corredores do mall ? –Onde entram? Quais as vitrines que chamam mais a atenção? –Qual o roteiro médio traçado pelos frequentadores? –Como utilizam as dependências comuns? Quais as áreas mais visitadas etc.? Neurociência: os pesquisados são submetidos a situações reais ou de laboratório e as sinapses do cérebro são analisadas de acordo com os estímulos cerebrais. Nesse caso, o entrevistado não fala muito, pois suas reações são monitoradas e analisadas em laboratórios. Esse tipo de monitoramento é muito utilizado na indústria de consumo de massa, como o setor de alimentação. No varejo, ainda é pouco difundido, mas conquista um espaço cada vez maior. Uma das vantagens desse tipo de sondagem é que ele não está sujeito às mentiras, mesmo que involuntárias, do entrevistado. Observacional por câmeras: a dinâmica é a mesma da observacional. A diferença é que as reações do consumidor são analisadas por meio de câmeras estáticas instaladas em locais estratégicos. ✻ INTERPRETAÇÃO DOS DADOS Uma das fases mais difíceis de uma pesquisa é a elaboração do questionário ou do roteiro de perguntas. Uma pergunta mal elaborada pode provocar uma resposta inútil ou desnecessária, que não contemplará os objetivos da sondagem. Também é recomendável que o analista participe de todas as etapas do levantamento, para evitar a formação de uma “colcha de retalhos” na construção das informações. Também é necessário que haja uma interpretação isenta dos resultados. Há casos em que o comprador da pesquisa já tem em mente o resultado que ele quer e contrata o instituto para funcionar apenas como um “ventríloquo” e corroborar a ideia já formada, o que é um grande erro. O empreendedor deve ter sempre o compromisso com a informação isenta, até porque ela repercutirá junto aos lojistas, ao público, aos fornecedores, à concorrência etc. ✻ UNIVERSO DA PESQUISA Um dos equívocos mais comuns em pesquisas é errar na amostra, que deve sempre representar o universo de frequentadores. Essa amostra precisa ser homogênea e representar todos os perfis do público que circula pelas dependências do mall. É a teoria da sopa: a pessoa não precisa tomar todo o prato de sopa para saber se ela está bem temperada. Basta uma colher do alimento, desde que ela esteja homogênea. No caso, o desafio é identificar todos os tipos de público e representá-los na amostra de entrevistados. O departamento de marketing, ao contratar uma pesquisa, também deve evitar qualquer tipo de preconceito em relação aos entrevistados. Por exemplo: achar que apenas os jovens gostam de novidades eletrônicas e tecnológicas, ou então que apenas os mais velhos gostam de silêncio ou música clássica. É necessário compreender que o mercado consumidor é cada vez mais dinâmico e exige uma criatividade sempre maior dos empresários do setor varejista. A pesquisa, porém, não deve ser vista como a única maneira de melhorar um empreendimento. Ela é uma ferramenta que vai nortear as ações, mas a inovação depende de um trabalho em equipe das mais diversas áreas do shopping, inclusive o marketing. Geomarketing é a área da mercadologia que relaciona o fator geográfico às estratégias de mercado. O próprio termo, resultado da união das palavras – geografia e mercado –, nos permite defini-lo como “geografia dos mercados”. A localização do empreendimento é importante quando pensamos no comportamento dos consumidores ao realizarem suas compras. O esforço de deslocamento para consumir bens de consumo duráveis (eletrodomésticos, móveis, aparelhos de informática etc.), via de regra, será sempre maior do que a compra de bens de conveniência (alimentos e roupas, por exemplo). Com base nisso, as pessoas acabam por rotular determinadas localizações como “longe demais”, “fora de mão”, “com um caminho complicado”. Em algumas atividades, o ponto (um dos quatro Ps que sustentam o denominado marketing-mix) tem uma importância preponderante para o sucesso do negócio. Enquanto os outros três elementos (preço, produto e promoção) podem sofrer ajustes e ser reorientados de maneira tática, a localização é permanente, imutável. É justamente essa inflexibilidade que explicita a sua importância estratégica no varejo. A decisão de investir milhões de reais em um empreendimento do porte
Compartilhar