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precisaoconsultoria.com.br | página 1 SUMÁRIO PREFÁCIO .................................................................................................... 5 DEFINIÇÃO DE SHOPPING CENTER ..................................................... 6 A EVOLUÇÃO DOS SHOPPING CENTERS - ARTIGOS PUBLICADOS NOS ÚLTIMOS 15 ANOS ........................................................................... 8 2.1. .. A magia dos shoppings ...........................................................8 2.2. .. Imóveis nos shoppings ............................................................10 2.3. .. Shopping ao ar livre .................................................................12 2.4. .. Shoppings populares ...............................................................14 2.5. .. Shoppings em metrôs .............................................................16 2.6. .. A era do pós-shopping ............................................................18 2.7. .. O conceito multiuso ................................................................20 2.8. .. A reinvenção dos shoppings ..................................................22 2.9. .. Perícias nas ações de locação de shopping centers ........24 2.10. O conceito de shopping resort .............................................26 2.11. Expectativa para o futuro dos shopping centers .............28 PERÍCIA EM SHOPPING CENTERS –DETERMINAÇÃO DE CRITÉRIOS OBJETIVOS PARA CÁLCULO DE LOCAÇÃO EM SHOPPING CENTERS 30 3.1. .. Resumo .......................................................................................31 3.2. .. Introdução .................................................................................31 3.3. .. Procedimentos metodológicos a serem considerados em avaliações em shopping centers ....................................................33 Procedimentos gerais – metodologia aplicável ........................33 Planejamento da pesquisa e levantamento de dados do mercado ..............................................................................................35 Identificação das variáveis do modelo ........................................36 Tratamento de dados – a prevalência do tratamento científico .............................................................................................39 Dos períodos de reajuste e estágios do contrato ....................41 Homogeneização de estágios do contrato ................................42 Homogeneização dos distintos períodos de reajustes ..........43 3.4. .. Conclusões e recomendações ...............................................44 3.5. .. Referências ................................................................................46 ANÁLISE DE VALORES DE SHOPPING CENTERS NO BRASIL .......... 47 4.1. .. Resumo .......................................................................................48 4.2. .. Objetivo ......................................................................................48 4.3. .. Metodologia e critério de avaliação ....................................48 4.4. .. Descrição ....................................................................................49 4.5. .. Determinação dos valores .....................................................53 Análise de regressão: ......................................................................53 Coleta de dados: ...............................................................................53 Processamento e análise dos dados:...........................................54 4.6. .. Conclusão ...................................................................................59 Variação dos preços em Reais .......................................................61 Variação dos preços em Dólares ..................................................62 Variação das características construtivas ..................................63 Variação das características do empreendimento ...................64 Variação quanto ao público classe A/B .......................................65 Cálculo do fator de comercialização ...........................................66 A PRECISÃO CONSULTORIA .................................................................... 67 4.1. .. Equipe técnica ...........................................................................69 Francisco Maia Neto ........................................................................69 Paulo de Faria Júnior .......................................................................70 Sayonara Lúcia Bernardino ............................................................71 Alonso Starling de Pádua Lamy de Miranda ..............................71 4.2. .. Serviços prestados ...................................................................72 Avaliação ............................................................................................72 Perícia e assistências técnicas periciais .....................................72 Arbitragem .........................................................................................73 Consultoria ........................................................................................73 Avaliação preliminar neutra (early neutral evaluation) .........74 Negociação ........................................................................................74 4.3. .. Shoppings ..................................................................................75 4.4. .. Premiações em congressos ...................................................76 4.5. .. Publicações ................................................................................77 4.6. .. Livros ...........................................................................................77 Autor e Coautor ................................................................................77 4.7. .. Institucional ...............................................................................79 Atividades institucionais do sócio-diretor .................................79 Participação do sócio-diretor em órgãos arbitrais ..................80 Outras atividades institucionais do sócio-diretor ...................81 4.8. .. Prêmios, honrarias e homenagens ......................................82 PREFÁCIO Honrada com o convite de Francisco Maia Neto para prefaciar o “E-book sobre shopping centers”, asseguro que esta obra certamente representará uma contribuição significativa para a sedimentação de temas envolvendo questões inerentes ao negócio shopping center, porém com um texto em linguagem simples e direta. Não poderia deixar de mencionar que o autor além de advogado é enge- nheiro, renomado em sua área de atuação, tendo diversas obras e monogra- fias já publicadas além de prêmios recebidos na área de perícias, o que lhe confere uma credencial ainda maior para abordar alguns temas, não só o lado fabuloso, mas como também os aspectos técnicos envolvendo a parte de avaliações e perícias. Agora Francisco Maia nos presenteia com essa obra, que com leveza e segu- rança reúne pesquisas realizadas e publicadas ao longo de mais de 20 anos de atuação marcante nesse setor. As perspectivas e os textos trazidos por esta obra são bem mais amplos e completos do que muitos outros publicados sobre o assunto, tendo em vista que a dupla formação do autor tem o condão de enriquecer sobremaneira as suas pesquisas, oferece nas páginas que seguem, uma dimensão autêntica sobre marcos históricos, teóricos e técnicos pertinentes ao universo concei- tual, especialmente com o aporte pragmático de quem transita com segu- rança entre as áreas da engenharia e jurídica. A obra aborda de forma enriquecedora a análise de valores de Shopping Center no Brasil, pontos antagônicos entre lojistas e locadores, desvendan- do os principais conceitos expressos na Norma de Avaliações, que avulta a construção das premissas quando se trata de avaliações em shopping cen- ters, demonstrandoo quão importante é a função da perícia avaliatória. Por estas razões, a você leitor, gestor, empreendedor, estudante ou um simples interessado nesse universo apaixonante que é o Shopping Center, tenho certeza que o conteúdo didático e instigante deste livro contribuirá para a melhor compreensão desse tema. É com orgulho e grata satisfação que apresento e recomendo a presente obra. Boa leitura a todos! Gisele Pimentel Gerente Jurídica e Compliance da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers) precisaoconsultoria.com.br | página 6 DEFINIÇÃO DE SHOPPING CENTER Trata-se de um empreendimento de base imobiliária, construído usualmente em terreno planeja- do e desenvolvido para esta fina- lidade, assim entendida aquela inciativa empresarial em imóvel destinado à exploração de co- mércio ou serviços, compreen- dendo uma estrutura formada por lojas com segmentos diversi- ficados, chamada de mix, bem como praças de alimentação, áreas de serviços e lazer, onde são encontrados estabelecimen- tos diversos, tais como restau- rantes, cinemas, teatros, boates, lanchonetes, salas de cinema, playground, academias, universi- dades, clínicas, etc., normalmen- te acompanhado de um estacio- namento compatível com a de- manda gerada pelo número de lojas e a área locável, garantindo a afluência e o escoamento ade- quado de automóveis. 1 DEFINIÇÃO DE SHOPPING CENTER precisaoconsultoria.com.br | página 7 Alguns parâmetros caracterizam este tipo de ocorrência no mercado imobiliário, que embora não sejam requisitos obrigatórios, se mostram presentes na imensa maioria deles, que são: (i) a administração centralizada, sujeitando os usuários a normas contra- tuais padronizadas, para manter o equilíbrio da oferta e da funciona- lidade, procurando assegurar convivência integrada entre os agentes envolvidos na operação diária; (ii) pagamento de um valor em conformidade com um percentual do fatu- ramento ou um valor mínimo básico estabelecido no contrato, preva- lecendo aquele que for maior; (iii) existência de uma associação dos lojistas que represente a vontade e interesse dos associados; (iv) regras de utilização disciplinadas por um regimento interno e normas complementares, que regulamentam o comportamento dos lojistas, do uso das lojas e das áreas comuns; (v) pagamento de taxa condominial e fundo de promoção. Embora não existam registros históricos exatos, sua origem remonta à segunda metade do século XIX na cidade de Paris, onde um pequeno armazém de- nominado Bom Marche introdu- ziu o conceito de vendas de pro- dutos de renome e com preços inferiores, acrescentando varie- dades de artigos, em um só local, com acesso livre ao público e preços fixos e marcados em cada artigo, apesar de que o desen- volvimento deles ocorre somen- te na primeira metade do século XX, não obstante a inauguração do primeiro shopping center fechado ter ocorrido em Edina, Minnesota, nos Estados Unidos, no ano de 1956, denominado Southdale, nos moldes dos shop- pings modernos, com sistema climatizado e lojas de departa- mentos e lojas-âncora. No Brasil atribui-se a origem deste negócio ao Shopping Cen- ter Iguatemi, que seria o primeiro shopping center instalado no país, em 1966, na cidade de São Paulo. Além disso, podemos ainda acrescentar sua definição institu- cional, como “empreendimentos com Área Bruta Locável (ABL), normalmente superior a cinco mil m², formados por diversas unida- des comerciais, com administra- ção única e centralizada, que pratica aluguel fixo e percentual. Na maioria das vezes, dispõe de lojas âncoras e vagas de estacio- namento compatíveis com a le- gislação da região onde está instalado” 1 . 1 Conceito segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers – ABRASCE. precisaoconsultoria.com.br | página 8 A EVOLUÇÃO DOS SHOPPING CENTERS - ARTIGOS PUBLICADOS NOS ÚLTIMOS 15 ANOS 2.1. A magia dos shoppings Publicado na coluna Mercado Imobiliário do jornal Estado de Minas em 03 de janeiro de 2006 O período das festas natalinas sempre traz em destaque o grande fenômeno do varejo, os shopping centers, com suas luzes coloridas e decoração primorosa, despertando em cada um a ale- gria dessa época festiva, muito embora poucos possuam conhe- cimento de sua história. Para entender a dinâmica de surgimento destes centros de compra, devemos recordar a fase posterior à 2ª Guerra Mundial nos Estados Unidos quando o desenvolvimento da indústria automobilística fez com que o pedestre se transformasse em um ser motorizado, passando a utilizar o carro para fazer suas compras e, com isso, buscava um local para estacioná-lo. Aliado a essa mudança de hábito, também alteraram-se os padrões tradicionais do varejo, com o surgimento do sistema self- service, especialmente nos su- permercados e nas grandes lojas de departamento, transforman- do o comércio tradicional, que atuava de forma artesanal, em algo mais aberto e pujante. Foram esses os pilares para o surgimento da indústria de shoppings, cuja primeira experi- ência surge antes dos anos 50, em Kansas City, onde um homem de nome Mr. Nichols construiu um conjunto de lojas para loca- ção, embora sem os conceitos atuais, mas que foi considerado um marco para o setor. Em 1953, quando a população americana era de 151 milhões de habitantes e rodavam em suas cidades 40 milhões de automó- veis, surgiu em um subúrbio de Seattle-Washington, o primeiro shopping center regional, denomi- nado Northgate, concebido sob um projeto de grandes dimensões, com alguns dos conceitos que hoje conhecemos, especialmente o regime de aluguel participativo sobre as vendas. 2 A EVOLUÇÃO DOS SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 9 Em 1913 surge o South Dale, já com a quase totalidade das ca- racterísticas que se tornaram padrão neste tipo de empreen- dimento, des- tacando o fato dos corredo- res serem totalmente fechados e dotados de sistema de ar condicionado. No Brasil, o marco inicial ocorre em 1966, com a inauguração do Shopping Iguatemi, em São Paulo, muito embora a primeira experiência tenha ocorrido no Rio de Janeiro, no bairro do Meier, denominado Shopping Center do Meier, na Rua Santa Cruz, com conceitos avançados, inclusive uma loja- âncora, a Sears, porém com um estacionamento de reduzidas proporções. Hoje nosso país apresenta um nível de qualidade equivalente ao dos países desenvolvidos, tendo exemplos como o BH Shopping e o Diamond Mall em nossa cidade, colocando o Brasil como o décimo país do mundo em quantidade de shoppings, cujo número de unidades tem dobrado a cada cinco anos. Segundo a ABRASCE, a entidade que reúne esses empreendimen- tos, o Brasil conta hoje com 262 shoppings, sendo 241 em operação e 21 em construção, destacando que 49% já se situam no interior e as ven- das totais atingiram o percentual de 18% de todo o varejo nacional tradicional. Por tudo isso, essa indústria tem demonstrado uma grande vitali- dade, cumprindo um importante papel no crescimento da econo- mia, especialmente por ser gera- dora de quase 500.000 empregos diretos e possuir expressiva inte- gração com a comunidade. Disponível em: precisaoconsultoria.com.br/fmnresp/shop.htm Segundo a ABRASCE, a entidade que reúne esses empreendimentos, o Brasil em 2006, contou com 262 shoppings, sendo 241 em operação e 21 em cons- trução, destacando que 49% já se situ- am no interior e as vendas totais atingi- ram o percentual de 18 % de todo o varejo nacional tradicional. ARTIGOS PUBLICADOS NOS ÚLTIMOS 15 ANOS precisaoconsultoria.com.br | página 10 2.2. Imóveis nos shoppings Publicado na coluna Mercado Imobiliário do jornal Estado de Minas em 10 de dezembro de 2008 Tendo como motivador uma im- posição legal, notadamente a promulgação na cidade de São Paulo da Lei Municipal14.517, que torna “proibida, nas vias e logradouros públicos, a distribui- ção de folhetos, panfletos ou qualquer tipo de material im- presso veiculando mensagens publicitárias, entregues manual- mente, lançados de veículos, aeronaves ou edificações ou ofe- recidos em mostruários”, empre- sas e comerciantes que atuam na cidade buscam formas novas e criativas para apresentarem suas ofertas de negócios para seus possíveis clientes, o que se refletiu no mercado imobiliário, cujo quadro é acentuado pelo aquecimento do setor nos últi- mos tempos. Uma das maneiras encontradas por algumas construtoras e imo- biliárias é a abertura de novas lojas ou de pontos de vendas, conhecidos como “quiosques”, em shoppings centers, é especi- almente aquelas com grande presença na mídia em geral, os imóveis ofertados variam entre os econômicos e os de alto nível, consequentemente, as ofertas de imóveis podem ser encontra- das em shoppings populares e até em símbolos do luxo no con- sumo. Enquanto imobiliárias voltadas ao público de maior renda nego- ciam imóveis em um shopping no ostentativo Villa Daslu, aquelas direcionadas aos segmentos de renda mais baixa buscam comer- cializar, prioritariamente, apar- tamentos abaixo da faixa dos R$ 100 mil em shoppings como o Metrô Itaquera, numa experiên- cia que se irradia para outras cidades do país, inclusive em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. As vantagens de uma loja em um shopping center para vendas no setor podem ser inúmeras, pri- meiramente, os clientes não precisam sair de suas casas com a intenção exclusiva de comprar, ou estudar a compra de uma casa ou apartamento, cujo interesse pode surgir em meio a uma com- A EVOLUÇÃO DOS SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 11 pra distinta, um almoço, um ci- nema ou um simples passeio. Outra comodidade é que as lojas ficam disponíveis por mais tem- po, já que os shoppings ficam abertos diariamente, inclusive em feriados, em horários distin- tos do comercial, além disso, estandes de atendimento nesses locais são convidativos, indepen- dente das condições climáticas, diferentemente de plantões de venda em áreas abertas. As médias de visitas aos pontos de vendas das imobiliárias variam de acordo com os shoppings e público-alvo de cada empresa, sendo que uma construtora cari- oca registrou cerca de 700 abor- dagens diárias, número muito maior do que em uma loja de modelo convencional, fazendo com que marketing e possibili- dades geradas superem em mui- to na relação custo-benefício a maior parte das propagandas e iniciativas conhecidas. Quando a empresa alia de forma positiva seus consumidores aos frequen- tadores do shopping, este qua- dro se desenvolve de forma mui- to positiva. Esta iniciativa revela, sobretudo, uma tendência adotada por em- presas com boa visão de merca- do, facilitar cada vez mais a vida do consumidor e proporcionar todas as condições para que ele possa fazer um bom negócio é sinal de gerência moderna e atenciosa para com sua clientela. Fonte: precisaoconsultoria.com.br/fmnresp/imoshop.htm ARTIGOS PUBLICADOS NOS ÚLTIMOS 15 ANOS precisaoconsultoria.com.br | página 12 2.3. Shopping ao ar livre Publicado na coluna Mercado Imobiliário do jornal Estado de Minas em 3 de abril de 2011 Quando se fala em shopping centers, não podemos deixar de nos remeter ao paraíso desses templos do varejo, os Estados Unidos. Para dimensionar sua importância nesse mercado, o país possui 34 mil shoppings com mais de 50 mil metros de área construída, ou seja, similar ao Ponteio Lar Shopping, em Belo Horizonte, com seus 51,50 mil metros quadrados. Dessa forma, toda tendência que esses empreendimentos indicam naquele país, deve ser vista com atenção pelo resto do mundo, como é o caso da alteração na estrutura arquitetônica, que vem privilegiando corredores de compra ao ar livre, os denomina- dos “open airmalls”, cuja impor- tância pode ser medida pelo fato de que, nos últimos cinco anos, a quase totalidade dos aproxima- damente 1.500 shoppings lança- dos nos EUA adotou essa mode- lagem. Um bom exemplo disso é o Santa Mônica Place, situado na praia de mesmo nome, na cidade de Los Angeles, costa oeste dos Estados Unidos, onde o turista sai da praia e, ao caminhar dois quartei- rões, pode nem perceber que adentrou em um centro de com- pras, tamanha sua integração com o espaço exterior, pois re- presenta numa continuidade de uma movimentada rua de co- mércio. Nesse caso ocorreu um “retrofit” do empreendimento, cuja con- cepção original datava do início da década de 1980, ao custo de mais de US$ 250 milhões, que promoveu uma enorme alteração no modelo original, compreendi- do pelo conceito de mall fecha- do, e o transformou em um shopping a céu aberto. A região compreendida por esse shopping, no estado da Califór- nia, apresenta uma tendência crescente desse gênero de cons- trução, em função do clima ser propício à sua utilização, entre- tanto, regiões com situação di- versa, como Salt Lake City, no estado de Utah, já adotaram a mesma tipologia, adaptando-a à condição local, com utilização de teto de vidro retrátil. A explicação para essa nova con- cepção é o fato de propiciarem uma sensação de rua principal de uma pequena cidade, em função A EVOLUÇÃO DOS SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 13 de sua maior integração com o espaço urbano, muito embora estudiosos da história dos shop- pings centers indiquem que sua existência data de 1950, com o Northland Shopping Center, em Detroit, já demolido. Existe uma dúvida sobre essa nova realidade, se representa uma mudança de urbanidade ou significa pura e tão somente modismo, o fato é que, desde que foram criados, na década de 1950, até a década de 1970, os shoppings centers se caracteri- zam como locais hermeticamente fechados com corredores clima- tizados. A partir da década de 1970, com a mudança de hábitos da popula- ção, que deixou os hábitos ho- mogêneos, o ciclo de vida desses empreendimentos tem apresen- tado um encurtamento, a ponto de existirem hoje nos Estados Unidos mais de 200 shoppings mortos (deadmalls), o que jus- tifica a ausência de uma fórmula única e duradoura. No Brasil, questões ligadas espe- cialmente às condições de crédi- to e às características dos em- preendimentos, com concentra- ção em empresas familiares, tornaram os investimentos mais cautelosos, entretanto, com a entrada dos grupos estrangeiros esse cenário vem se alterando, possibilitando a repetição dessa tendência também por aqui, ressalvando as limitações de nossas legislações urbanísticas. Fonte: precisaoconsultoria.com.br/fmnresp/shoparlivre.htm ARTIGOS PUBLICADOS NOS ÚLTIMOS 15 ANOS precisaoconsultoria.com.br | página 14 2.4. Shoppings populares Publicado na coluna Mercado Imobiliário do jornal Estado de Minas em 29 de abril de 2012 Como já é sabido, o nascedouro dos shoppings centers ocorreu em terras norte-americanas, cujo aparecimento encontra-se inti- mamente ligado ao uso indiscri- minado do automóvel, que trou- xe como efeito colateral o tráfe- go intenso nas cidades, existindo uma metáfora no mercado mobi- liário que relaciona o apareci- mento desse tipo de empreen- dimento à descoberta de que o homem é feito de cabeça, tronco e rodas. Realmente, a facilidade que os veículos trouxeram à mobilidade urbana alterou sobremaneira os deslocamentos, o que passou a exigir mais espaço para estacio- namento nos centros urbanos tradicionais, projetados e cons- truídos para outra realidade, e trouxe impacto direto ao chama- do comércio de rua, que se tor- nou dependente do transeunte comum, que usa transporte pú- blico ou habita nas proximida- des. Ainda nos Estados Unidos, os estudiosos apontam um segundo fator relevante à aparição dos shoppings centers, em parte decorrente do fenômeno auto- motivo, que foi o surgimentodos suburbs, núcleos urbanos situa- dos a certa distância das regiões centrais, que demandaram espa- ços próprios para o desenvolvi- mento das atividades comerciais e de serviços. Assim foi desenhado o produto shopping center, que guarda até os dias atuais o mesmo formato, caracterizado por ser um ambi- ente protegido das intempéries (chuva, calor e frio), dotado de amplo estacionamento e espa- ços que facilitam o convívio, com A EVOLUÇÃO DOS SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 15 farta oferta de produtos e servi- ços, distribuindo por um “mix” de lojas que atende às necessi- dades de todos que se dirigem ao local, o que lembra as praças centrais das antigas cidades. Ao longo dos anos, com a profis- sionalização do que se denomina hoje de indústria de shopping center, os empreendedores fo- ram levados a um intenso plane- jamento dessas edificações, calculados sobre premissas fun- damentais, começando pelo chamado público primário, que corresponde à existência de uma massa de pessoas em um raio predeterminado, cujos gastos serão efetuados nas lojas ali instaladas, garantindo uma recei- ta que justifique o investimento. Como consequência, o surgimen- to desses empreendimentos no Brasil ocorreu em regiões habi- tadas por famílias de maior po- der aquisitivo, onde a massa de recursos disponíveis para con- sumo dentro da zona de influên- cia próxima reduzia sensivel- mente os deslocamentos, for- mando uma configuração que aliava a densidade demográfica com elevada capacidade média de consumo. A saturação dessas regiões levou os empreendedores a se volta- rem para áreas cujo público-alvo apresenta menor renda, o que poderia não se mostrar atraente, entretanto, com o despontar das classes C e D esse cenário tomou novos rumos, já que estudos apontam a incorporação de 30 milhões de brasileiros à classe C, gerando uma renda mensal de R$ 10 bilhões, o que resulta em um potencial de 180 mil m2 de área locável aos shopping centers. Essa realidade traz novos de- safios ao setor, onde se configu- ra um novo segmento de atua- ção, especialmente porque sur- ge um novo mercado, com pa- drões culturais, anseios e hábitos de um novo consumidor, obri- gando as empresas a empreen- derem ações voltadas ao conhe- cimento do universo que atenta à demanda desse novo público emergente. Fonte: precisaoconsultoria.com.br/fmnresp/populares.html ARTIGOS PUBLICADOS NOS ÚLTIMOS 15 ANOS precisaoconsultoria.com.br | página 16 2.5. Shoppings em metrôs Publicado na coluna Mercado Imobiliário do jornal Estado de Minas em 14 de outubro de 2012 O elevado fluxo de pessoas sem- pre foi o maior atrativo para o varejo, assim os grandes corre- dores de tráfego são áreas dis- putadas, por serem zonas de adensamento populacional e locais de concentração de tran- seuntes, e com os metrôs não poderiam ser diferente, pois somente nas estações da cidade de São Paulo passam diariamen- te mais de 4 milhões de passa- geiros. Essa estrondosa capacidade de captação de potenciais clientes fez com que o metrô deixasse de ser apenas um meio de transpor- te e passasse também a ser um meio de comunicação, fazendo com que a publicidade ocupe hoje a principal posição como fonte de receita não tarifária do metrô de São Paulo, ou seja, é a maior arrecadação da empresa depois da venda de passagens. Nessa esteira, surgiram, em um primeiro momento, lojas de pe- quenos comerciantes para aten- der as necessidades dos usuá- rios, que evoluíram para pontos de vendas de grandes empresas, em busca da fixação da marca e atendimento ao cliente, o que se intensificou nos últimos anos com o crescente interesse das grandes empresas pelo consu- midor da classe C, fazendo com que a locação desses espaços já supere os 10% da receita não tarifária. Em função dessa realidade, que faz dos metrôs corredores de fluxo cada vez maior de consu- midores, cujo aumento da de- manda cresce a cada ano, aliado ao notório estrangulamento das vias urbanas, que obriga o setor público a investir cada vez mais no transporte público, shopping centers surgiram nas grandes estações, procurando atrair o usuário do metrô e o entorno de empreendimento. O modelo de construção é base- ado na concessão dos terrenos por períodos de até 50 anos, cuja remuneração está atrelada ao faturamento, o que fez a renda com a locação dos shoppings se tornar a segunda fonte não tari- fária do metrô de São Paulo, da ordem de 20%. A EVOLUÇÃO DOS SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 17 Essa modalidade de parceria entre o poder público e investi- dores privados tem se mostrado muito interessante, uma vez que o metrô dispõe de grandes áreas, usualmente remanescen- tes de desapropriações para as obras de construção de esta- ções, canteiros e implantação de novas linhas, enquanto os em- presários encontram grandes terrenos com toda infraestrutura urbana, pouco disponíveis nos grandes centros urbanos. Trata-se, assim, de uma decisão em que todos ganham, e que encontra similaridade em diver- sos países, como o caso de Lon- dres, onde a maioria dos shop- pings tem uma estação de metrô acoplada, ou Hong Kong, onde os planos de novas linhas já embu- tem a definição urbanística do entorno. Muito embora o sucesso desses empreendimentos seja inegável, onde novos centros de compra já atingiram um público de quase cem mil pessoas por dia, fazendo com que uma filial do McDo- nald’s, estabelecimento recordis- ta de vendas na América Latina, esteja localizada em um shop- ping de metrô, existem aqueles que criticam a iniciativa, especi- almente por desvirtuar a finali- dade das desapropriações, o que caracteriza prejuízo ao transpor- te público. Felizmente são opiniões isoladas, pois se trata claramente de um exemplo em que um negócio ajuda o outro, aumentando a receita do metrô, o que pode reverter na melhoria do trans- porte público, revitalizando áreas deterioradas, aumentando opções de compra para o usuá- rio, que não precisa usar o carro, e se prestando à retenção do público usuário, principalmente nos horários de pico. Fonte: precisaoconsultoria.com.br/fmnresp/shopmetro.htm ARTIGOS PUBLICADOS NOS ÚLTIMOS 15 ANOS precisaoconsultoria.com.br | página 18 2.6. A era do pós-shopping Publicado na coluna Mercado Imobiliário do jornal Estado de Minas em 30 de setembro de 2014 O boom imobiliário registrado no Brasil desde o ano de 2008, que resultou em um crescimento significativo da indústria da cons- trução civil, se refletiu em todos os segmentos desse vasto mer- cado, começando pelo setor residencial, passando pelo co- mercial e industrial, e chegando aos shoppings centers, que se multiplicam não só nas grandes cidades, onde sempre pontifica- ram no cenário urbano, mas também nas de menor porte. Em algumas localidades a possi- bilidade entre empreendimentos dessa natureza levou a um ques- tionamento até mesmo de sua viabilidade, pois resultava em uma sobreposição no consumidor primário, aquele que mora ou trabalha bem próximo ao centro de compras, o que também resul- tou em uma discussão de especi- alistas sobre o modelo tradicio- nal dos shopping centres, cujo mix atrai compradores que ali levam seu dinheiro para trocá-lo pelos mais diversos produtos. Talvez a resposta para essa evo- lução esteja em um prédio de seis andares na cidade de Berlim, capital da Alemanha, erguido nos anos 50, situado junto à estação de metrô do zoológico local, famosa por ter sido cenário do filme que retratou a vida de Christiane F., a jovem adolescen- te viciada em heroína, que se tornou símbolo de uma geração. Com 25 mil m2 de área construí- da, e dividido ao meio por um vão, este edifício localizado pró- ximo à Gedachtniskirche, a famo- sa igreja bombardeada durante a Segunda Guerra Mundial, cuja torre semidestruída continua intacta para marcar a memória dos combates, ganhou o curiosoapelido de “biquíni” pelos habi- tantes locais, exatamente por lembrar esta peça do vestiário feminino, que seria o “repartido em dois”. O prédio foi adquirido no início dos anos 2000 por uma grande empresa imobiliária alemã, sendo estudado por sete anos por seus executivos sobre o futuro apro- veitamento, que deu origem a um novo conceito de shopping cen- ter, denominado Bikini Berlin, que não traz a concepção tradici- onal que conhecemos hoje, com A EVOLUÇÃO DOS SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 19 iluminação artificial e as mesmas lojas de sempre, até porque exis- tiu ali a preocupação com o sig- nificado histórico do local. Após longas pesquisas com as ideias mais inovadoras em varejo que se praticou no mundo, con- cluiu-se que as pessoas querem mais do que um lugar para fazer compras, elas esperam um espa- ço para comer, onde possam relaxar, e que signifique um re- fúgio para o ritmo da cidade, assim foi mantida a fachada clás- sica, o teto de vidro permite iluminação natural, o corredor é único, com 200 metros, lem- brando uma galeria de rua e a existência de uma parede de vidro íntegra a vizinhança ao ambiente do shopping. Embora o empreendimento abri- gue lojas no formato tradicional, com contratos de locação clássi- cos, seu conceito dispensa, por exemplo, as lojas-âncoras, estan- do alicerçado na apresentação de produtos novos, especialmen- te em boxes que variam de 19 a 39 m2, na criação de um ponto turístico, alicerçado em um terra- ço de 7 mil m2, onde situam-se restaurantes e cafés, com uma bela vista, e uma associação com a arte. Na análise dos mais céticos, a existência de marcas desconhe- cidas inviabiliza este conceito, mas seus defensores acreditam que os lojistas ali instalados pro- curam mais do que vender seus produtos, pois querem é divulgar suas marcas, o que somente o tempo poderá comprovar se esta fórmula será eficaz, uma vez que seu sucesso estará relacionado à capacidade de apresentar cons- tantemente novidades ao públi- co usuário. Fonte: precisaoconsultoria.com.br/fmnresp/shop.html ARTIGOS PUBLICADOS NOS ÚLTIMOS 15 ANOS precisaoconsultoria.com.br | página 20 2.7. O conceito multiuso Publicado na coluna Mercado Imobiliário do jornal Estado de Minas em 26 de outubro de 2014 O crescimento dos grandes con- glomerados urbanos, que faz com que nossas cidades se multi- pliquem como metrópoles com milhões de habitantes, não tem permitido a realização de proje- tos estruturantes que atendam à demanda crescente, especial- mente no que se refere à mobili- dade urbana, cujo transporte público se mostra caótico e a utilização do automóvel é ascen- dente, alimentando um ciclo vicioso que acarreta uma série de problemas que afetam o nosso cotidiano. Nesse contexto, enquanto os projetos de infraestrutura, que exigem longa maturação não chegam, é natural que surjam ideias para combater o caos que se formou em alguns locais, o mercado, com sua habitual sabe- doria tem buscado soluções e adequação a esta nova realidade, amenizando assim os problemas enfrentados pelo cidadão co- mum. Assim surgiu o conceito multiuso, essa solução arquitetônica e urbanística que procura reunir em um único empreendimento múltiplas funções, ou como ensi- na o renomado arquiteto perua- no Bernardo Fort-Brescia, pro- fessor da Universidade de Har- vard e titular de um dos maiores escritórios de arquitetura do mundo, esta é uma modalidade que se assemelha a um cubo mágico, ou a um quebra cabeças. Segundo este renomado profis- sional, responsável por projetos dessa natureza em mais de 60 países, esta visão se deve a ne- cessidade de combinar diversas peças em um único espaço, ou seja, é imperativo saber como projetar hotéis, escritórios, lojas corporativas, apartamentos e shoppings, e em seguida decidir como encaixá-los, o que exige criatividade e imaginação, pois não existe uma fórmula acabada. Edificações classificadas como multiuso exigem uma difícil combinação de espaços e tipos A EVOLUÇÃO DOS SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 21 de ocorrência, locais onde de- vem ser pensados diversos itens, tais como garagens, docas de descarga, circulação de visitantes e a infraestrutura de residencias, escritórios, hotéis e lojas, resul- tando em uma série de interfe- rências, onde o projeto exige redobrada atenção, não permi- tindo, por exemplo, que uma pessoa utilize o estacionamento do shopping para chegar ao seu apartamento. Embora o conceito tenha surgido com os grandes complexos, exe- cutados em terrenos com área significativa, permitindo assim construir horizontalmente, ele avançou também para os peque- nos terrenos, onde a modelagem pode diferir um pouco, primei- ramente porque as funções são reunidas em uma única torre e também porque não permite reunir todas as funções tradicio- nais (shopping, escritório, resi- dência e hotel) em um único lo- cal, mas resultando em uma combinação parcial. Outra realidade verificada nesses empreendimentos em outros países, especialmente cidades como Hong Kong e Nova York, é a aquisição de prédios antigos, já deteriorados ou que não explo- ram toda sua capacidade, que são demolidos para dar lugar a uma nova edificação, com maior espaço e dentro dessa conceitua- ção. No Brasil o conceito parece que veio para ficar, prova disso é a proliferação desses edifícios, ganhando destaque no segmen- to imobiliário, como em São Pau- lo, onde um palacete foi restau- rado e ficará ao lado de uma torre de 24 andares, cujo terreno de 6.500,00 m2 abrigará um bos- que com remanescentes da Mata Atlântica, enquanto uma área de 218.000,00 m2 na Marginal do Rio Pinheiros receberá cinco torres residenciais, um shopping center, duas torres corporativas e ainda uma para escritórios. Fonte: precisaoconsultoria.com.br/fmnresp/multuso.html ARTIGOS PUBLICADOS NOS ÚLTIMOS 15 ANOS precisaoconsultoria.com.br | página 22 2.8. A reinvenção dos shoppings Publicado na coluna Mercado Imobiliário do jornal Estado de Minas em 22 de outubro de 2017 Nos últimos anos, o aumento das compras feitas pela Internet, mais conhecida como e- commerce, palavra derivada da abreviação em inglês de eletronic commerce, que significa “comér- cio eletrônico” em português, tem causado a queda no número de lojas de varejo, tendo como principal vantagem a comodidade de comprar sem sair de casa, evitando assim os deslocamentos comuns aos grandes centros urbanos. Não obstante, essas mecas do consumo continuam a ser um grande ponto de concen- tração de pessoas, o que obriga os empreendedores a se adapta- rem aos novos tempos e a esta nova realidade. Também da parte dos lojistas, verifica-se a necessidade de se reinventarem, como por exemplo, aumentando a variedade de produtos, preparando ainda mais seus funcionários para se capaci- tarem, tornando-os mais moti- vados no atendimento ao públi- co, pois a principal vantagem da loja física são as experiências sensoriais propiciadas ao consu- midor, cujo contato com o produ- to lhe permite ter uma ideia de sua qualidade e é nesse sentido que os shoppings devem se ade- quar às novas necessidades e às novas exigências, embora não há dúvida que continuarão a ser um elemento definitivamente incor- porado à paisagem urbana. Se, por um lado, os shoppings centers já estão se reinventando, por outro, o faturamento do co- mércio eletrônico no Brasil deve mais que dobrar até 2021, se- gundo um estudo encomendado pelo Google. Nesta queda de braço entre o comércio eletrôni- co e as lojas convencionais quem sai ganhando é o consumidor, que terá um número maior de opções no momento de realizar suas compras. Com o aumento da concorrência do comércio eletrônico, os em- preendedores buscam alternati- vas em sua vantagem competiti- va, justamente naquilo que não é possível ser obtido pela Internet, visando assim enfrentar este inimigoinvisível, que surgiu na esteira da maior conexão da po- pulação, explorando ao máximo o espaço disponível, como, por exemplo, na China, onde existem shoppings que proporcionam experiências sensoriais para os visitantes, como, por exemplo, A EVOLUÇÃO DOS SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 23 um zoológico com mais de 300 animais e insetos. No Mall of América, que tem o maior movimento dentre todos os shoppings nos Estados Unidos, foram criadas novas atrações, como o maior parque de diver- sões coberto do país, com mon- tanhas-russas, roda gigante, além de contar com um aquário imen- so, míni campo de golfe e até mesmo uma capela para celebrar casamentos, oferecendo diferen- tes experiências aos consumido- res e visitantes. No Brasil, uma das soluções en- contradas para atrair os consu- midores é o aproveitamento do espaço disponível, usando, por exemplo, o estacionamento para receber shows e feiras, além do showroom de marcas que vão de veículos a apartamentos. Além disso, a reinvenção dos shop- pings brasileiros se dá no mo- mento de sua construção, pois, segundo levantamento realizado pela Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce), entidade que congrega esses empreendimentos, foi possível verificar a consolidação do inte- rior como ponto de referência para a construção de novos cen- tros de compras. Ainda segundo o levantamento realizado por esta associação, existe uma forte tendência de que cada vez mais os novos shoppings irão se instalar no interior, como mostram os núme- ros de 2016, em que dos 30 em- preendimentos que foram lança- dos, 23 estavam previstos para acontecer fora das capitais. Por fim, cabe destacar a principal mudança no formato dos antigos e novos shoppings no Brasil, que passam a ser não somente um centro comercial, mas também um centro de convivência, tor- nando-se um complexo multiuso, pois com o avanço da tecnologia é necessário explorar o máximo de espaço, visando atrair o públi- co com experiências que são impossíveis de serem alcançadas pela Internet e ao mesmo tempo oferecer uma maior comodidade para seus frequentadores. Fonte: precisaoconsultoria.com.br/fmnresp/reinvencao.html ARTIGOS PUBLICADOS NOS ÚLTIMOS 15 ANOS precisaoconsultoria.com.br | página 24 2.9. Perícias nas ações de locação de shopping centers Publicado na coluna Mercado Imobiliário do jornal Estado de Minas em 19 de novembro de 2017 As ações renovatórias e revisionais de locação constituem um sig- nificativo momento no planeja- mento financeiro de um shopping center, uma vez que os resultados irão repercutir no faturamento do empreendimento no mínimo nos três anos seguintes, prazo neces- sário para solicitação de uma nova revisão. Não obstante a discussão envolver matéria jurídica, como prazos e condições para propositura dessas ações, o cálculo do valor locativo é o principal objeto do desenrolar do processo, que, infelizmente, algumas vezes não recebe a devi- da atenção por parte dos empre- endedores. Nesses mais de quinze anos que acompanhamos perícias avaliató- rias de alugueis em shopping cen- ters, constatamos que nos casos em que é elaborado um laudo prévio, com discussão do profissi- onal avaliador com os dirigentes do empreendimento (superinten- dente, controler, jurídico, etc.) tem se mostrado um importante ins- trumento de compreensão da formação dos valores locativos. Essa interação permite que as pessoas envolvidas no dia a dia do centro de compras subsidiem o procedimento avaliatório com informações úteis, específicas do local onde encontra-se a loja ava- liada, permitindo que as variáveis influenciantes no valor da locação sejam exploradas, permitindo montar um modelo estatístico que reflita a variação de preços em determinado momento. São diversos exemplos vivenciados ao longo destes anos, que de- monstram a importância desta prática, começando pela introdu- ção de uma explicação objetiva da sistemática de constatação do aluguel escalonado em faixas, usualmente designados de “de- graus”, que difere da locação con- vencional, o que pode repercutir negativamente no cálculo do valor locativo, se não for analisado de forma adequada. Outra questão que esbarra na compreensão de muitos avaliado- res se refere à inclusão dos encar- gos da locação no aluguel mínimo, prática denominada por alguns como “boleta fechada”, cujo alu- guel mínimo é o resultado do aluguel contratado deduzidas as despesas e encargos contratuais, A EVOLUÇÃO DOS SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 25 tais como condomínio e fundo de promoção, dentre outros. Na esteira dos casos presenciados em perícias onde nosso escritório atuou como assistente técnico, nos recordamos de um fato que de- monstra de forma inequívoca a importância dessa interação entre o profissional e os representantes do shopping center, que foi a subs- tancial alteração no valor locativo decorrente de um detalhe exis- tente no contrato de locação, que possuía uma atipicidade relevante na composição do valor. Ao nos depararmos com uma ação renovatória envolvendo uma loja de fast-food, iniciamos nossos estudos segundo os preceitos normativos que recomenda a ado- ção do denominado “método com- parativo de dados de mercado”, o que se mostra totalmente ade- quado a este tipo de avaliação, tamanha a quantidade de elemen- tos de comparação que um avalia- dor dispõe em um empreendimen- to tipo shopping center. Acontece que, ao mostrarmos os primeiros resultados à direção do empreendimento, fomos questio- nados pelo valor encontrado, o que, após algumas discussões sobre o contrato em análise, ve- rificou-se a vinculação de três quiosques, que vieram em instru- mentos apartados, mas se vincu- lam ao contrato original, o que resultou em uma mudança radical na análise dos dados, permitindo o alinhamento do valor à realidade do mercado. Poderíamos citar outros casos similares, que envolvam situações onde o trabalho em equipe permi- tiu um maior aprofundamento e melhor compreensão da situação da loja objeto da avaliação em curso, que demonstram o acerto da adoção destes procedimentos, além do que, com a entrada em vigor do novo CPC (Código de Processo Civil), algumas questões procedimentais foram alteradas, devendo o assistente orientar os contratantes sobre alguns aspec- tos novos a serem observados. De tudo isto, podemos concluir que, quanto maior a interação e mais intensiva for a participação dos envolvidos, maiores são as chances de que a avaliação retrate a posição correta de valores no empreendimento, sendo funda- mental que os profissionais que prestam serviços de assistência técnica pericial aos shopping cen- ters tenham cada vez mais uma visão voltada para a atipicidade desses empreendimentos de base imobiliária, o que se conquista com aprendizado constante e troca de informações entre os agentes envolvidos. Fonte: precisaoconsultoria.com.br/fmnresp/periciashopping.html ARTIGOS PUBLICADOS NOS ÚLTIMOS 15 ANOS precisaoconsultoria.com.br | página 26 2.10. O conceito de shopping resort Publicado na coluna Mercado Imobiliário do jornal Estado de Minas em 11 de março de 2018 Muito se tem falado e discutido sobre o futuro dos shoppings centers, especialmente em fun- ção do incremento do comércio eletrônico, o que tem levado a uma verdadeira reinvenção, sen- do uma das novidades o conceito de “shopping resort”, que busca transformar esses centros co- merciais em espaços de lazer e entretenimento, onde, secunda- riamente, também se faz com- pras. Com isto são criadas novas áreas de lazer com design diferencia- do, ampliando as ofertas de op- ções de entretenimento e lazer, oferecendo assim experiências sensoriais únicas ao proporcionar espaços diferenciados para prá- tica de atividades esportivas, apresentações culturais, sociais, descanso, entre outros, mas sem deixar de apresentarnovidades diárias, o que confere aos novos empreendimentos uma dinâmica própria. Embora a aplicação deste concei- to tenha crescido exponencial- mente nos shoppings brasileiros nos últimos anos, onde tem se verificado a ampliação do leque de serviços prestados dentro dos centros de compras, bem como o oferecimento de espaços cultu- rais, academias, pequenos brin- quedos para crianças e até mes- mo co-workings, o investimento no Brasil ainda é incipiente quando comparado com as de- mais experiências espalhadas pelo mundo. Na Europa, os principais investi- mentos em “shoppings resorts” são encontrados na Espanha, estando situados em Saragoca, Valência, Torremolinos, Vigo e Palma de Maiorca. O maior deles, denominado Puerto Venecia, localizado em Saragoca, possui uma área de 206 mil metros quadrados, contando com um lago para passeios de barco, uma zona para escalada, além de ou- tras atividades esportivas, que conferiu ao modelo proposto tamanho sucesso que o fundo que o administra expandiu suas operações para Portugal, ao ad- quirir o Dolce Vita Tejo. À semelhança dos empreendi- mentos espanhóis, os investido- res têm promovido uma reforma neste shopping português, com a completa remodelação de seu espaço, implantando um arroja- do projeto de paisagismo, com 40 palmeiras e mais de 60 vasos A EVOLUÇÃO DOS SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 27 antúrios, além da criação de um work hub, que é um espaço de co-working com todas as como- didades para trabalhar, estudar ou simplesmente recarregar as baterias. Entre as propostas mais extrava- gantes, destacam-se os expoen- tes de Dubai, onde se tem desde um shopping ao lado de parque de diversões, como o complexo da Ferrari, até um parque de neve coberto, com resort de esqui, como no Mall of Emirates, que ainda conta com um enorme centro de entretenimento indoor para crianças e jovens adultos, com centenas de opções de máquinas de diversão de estilo arcade, simuladores, carros pa- reados, piscina, boliche e muito mais, além do Centro de Teatro e Artes da Comunidade de Dubai (DUCTAC), dotado de galerias de casas de artes, salas de aula, estúdios, escola de música, bibli- oteca e galeria de artes visuais de alta especificação. Já em Guangzhou, na China, foi erguido até mesmo um zoológi- co, que abriga um parque aquáti- co dentro de um shopping, onde são encontradas dezenas de espécies, dentre elas dois ursos polares, morsas e lobos do Árti- co, não obstante esta experiência sofrer inúmeras críticas em razão das condições a qual estão sub- metidos os animais, que confere ao lugar o desagradável título de zoológico mais triste do mundo, existindo inclusive uma petição proposta pela associação animal asiática pedindo o seu fecha- mento. Independente das críticas, o ob- jetivo desse novo conceito é redefinir o papel dos shoppings centers dentro do contexto ur- bano, se apresentando não so- mente como um centro comerci- al, mas também um centro de convivência, à medida que pro- porciona cada vez mais e melho- res experiências aos seus visitan- tes. Dessa forma, a tendência é que este espaço se torne cada vez mais convidativo, aumentando não só o número de pessoas que visitam os estabelecimentos, como o tempo de permanência de cada uma delas, o que segu- ramente criará uma maior pre- disposição para realizar compras ou outro tipo de atividade nestes espaços. Fonte: precisaoconsultoria.com.br/fmnresp/conceito_shop_resort.html ARTIGOS PUBLICADOS NOS ÚLTIMOS 15 ANOS precisaoconsultoria.com.br | página 28 2.11. Expectativa para o futuro dos shop- ping centers Conforme se observa a partir dos artigos anteriores publicados ao longo dos últimos 15 anos de nossa constante atuação e en- volvimento no setor de shopping centers, é possível identificar as mudanças pela qual passou este tipo de negócio, sempre se adap- tando à nova dinâmica dos cen- tros urbanos, promovidas, sobre- tudo, pelo advento de novas tecnologias. Esta situação ganha contornos ainda mais delineados no mo- mento atual, diante do recente surto pandêmico que, para mui- tos especialistas, acelerou de forma sem precedentes um pro- cesso de revolução cultural que já caminhava lentamente no país, mudando, do dia para a noite, a estrutura do comércio e da pres- tação dos serviços, privilegiando o meio virtual ao presencial. Esta mudança, sem dúvidas, im- põe um novo desafio ao setor, exigindo uma rápida resposta e implementação de um plano de adaptação que já estava sendo implementado nos principais empreendimentos do país. Por outro lado, apesar da incer- teza deste momento, o recente período de isolamento forçado, que implicou na interrupção de funcionamento dos shoppings, bem como a sua reabertura em algumas localidades do país, comprovam a relevância destes espaços no dia a dia nos grandes centros urbanos, que nas últimas décadas tem se incorporado à paisagem das grandes cidades e, principalmente, ao cotidiano dos cidadãos que tem o shopping como um grande centro de facili- dades e entretenimento, e como uma solução para o acelerado ritmo das grandes cidades. O principal motivo que justifica e reforça esta concepção é justa- mente o posicionamento destes empreendimentos, que tradicio- nalmente ou serviram como pro- pulsor do desenvolvimento e expansão urbana, quando cons- truídos afastado do centro, ou foram implantados em centros altamente adensados, propician- do, em ambos os casos, uma cer- ta relação umbilical com a região na qual estão inseridos, assumin- do o shopping, quando consoli- dado, uma posição de centro comercial que orienta toda a organização do comércio no en- torno. É nesta especial condição de ponto de referência urbano que reside a principal força deste modelo de negócio, que tem A EVOLUÇÃO DOS SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 29 orientado os principais processos de reinvenção nos grandes cen- tros, que vê na aliança com as plataformas digital e o e- commerce uma oportunidade de expandir seu raio de influência e consumo para além de seus limi- tes físicos, agregando agilidade e logística que permitirão opera- ções mais simultâneas e econô- micas aos lojistas, como desejado pelos consumidores. Isto porque, a mudança da forma de consumo não atinge somente o modelo de negócio dos shoppings, mas também dos lojistas, de modo que ambos precisam se adaptar em conjunto às novas exigências Nesse contexto, para além de um tradicional centro de compras, os shoppings se colocam como um relevante centro de distribuição, propiciando aos lojistas também expandirem seus negócios, inte- grando ao comércio digital. Dessa forma, se mostram como uma interessante alternativa aos lojistas para conferir agilidade e redução dos custos de transação do frete, que impactam no custo final do produto para o consumi- dor, além de serem uma inequí- voca oportunidade de posicio- namento de marca e venda dire- ta, assumindo os espaços locados uma espécie de show room físico dos produtos, que se somam aos espaços digitais, fornecendo ao consumidor a experiência senso- rial para a decisão de compra. Ao mesmo tempo, por estarem inseridos no cotidiano das regi- ões, seu posicionamento indica uma tendência cada vez mais crescente para a possibilidade de visitas rápidas, como parte dos deslocamentos, seja para retirar uma compra já feita na Internet, ou para compras do dia a dia, assim como serviços rápidos, da forma que já se noticia nos prin- cipais centros. O dinamismo destes grandes centros e sua velocidade de adaptação, sobretudo devido à atuação ativa das administrado- ras e empreendedores, sempre foi uma das principais caracterís- ticas deste negócio e não há de se esperar comportamento di- verso no futuro, sobretudo con- siderando as conquistas já conso- lidadas destes empreendimen- tos, que para além e grandes equipamentos urbanos, certa- mentesão os principais centros de facilidades das grandes cida- des e continuarão como mola propulsora do desenvolvimento do comércio e serviços no meio urbano. precisaoconsultoria.com.br | página 30 PERÍCIA EM SHOPPING CENTERS – DETERMINAÇÃO DE CRITÉRIOS OBJETIVOS PARA CÁLCULO DE LOCAÇÃO EM SHOPPING CEN- TERS Em que pese a relação de parce- ria existente entre empreendi- mento e lojista, necessária para resultado do negócio, como toda relação comercial, por vezes, surgem conflitos que acabam desaguando em procedimentos judiciários ou arbitrais. Um dos principais motivos de desacordo entre lojista e empre- endedor se resume ao valor do aluguel mínimo mensal, que o valor contratualmente estabele- cido a ser pago pelo lojista pela utilização do espaço como medi- da de remunerar os esforços e investimentos do empreendedor, que passa a ser discutido nos casos de renovação do contrato, ou ainda nos casos de pedido de revisão, cuja solução, na grande maioria dos casos, acaba por exi- gir conhecimento técnico de um terceiro especialista que conheça do mercado. Nesse contexto, devido a nossa atuação ao longo de mais de 15 anos em avaliações e perícias em shopping centers, visando contri- buir com a discussão técnica, elaboramos um artigo técnico que foi apresentado no XX Con- gresso Brasileiro de Avaliações e Perícias - COBREAP, com objetivo de traçar as balizas para a discus- são de uma padronização da me- todologia preferencial para arbi- tramento de valores locatícios em shopping centers, contribuindo com a discussão técnica na área de conhecimento, cujo material será reproduzido a seguir: 3 PERÍCIA EM SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 31 3.1. Resumo Diante da inexistência de previ- são de procedimento específico para avaliações de locações em shopping centers, o presente artigo aponta e analisa as princi- pais premissas que devem ser consideradas pelo profissional de avaliações na determinação dos valores locativos de lojas em shopping centers, a partir dos comandos gerais da atual Norma de Avaliações, ABNT NBR 14.653- 2, e da literatura técnica disponí- vel. Para tanto, identifica crité- rios objetivos e procedimentos a serem observados pelo avaliador para aplicação de uma técnica eficaz, que permita atingir con- clusões seguras, afastando arbi- tramentos indutivos e subjetivos, baseados no bom senso. Ao final, sintetiza as recomendações de procedimentos a serem observa- dos, bem como sugere a inclusão do assunto na pauta de discus- sões da revisão da atual Norma de Avaliações. 3.2. Introdução Cada vez mais difundidos e con- solidados nas diversas regiões do país, estes empreendimentos possuem suas peculiaridades, que levaram à consolidação da utilização de contratos de loca- ção de natureza atípica, que fo- gem da rotina dos contratos de locação usuais de imóveis comer- ciais, à medida que apresentam exigências específicas decorren- tes das normas condominiais aplicáveis, impondo regras que vão desde o disciplinamento quanto ao horário de funciona- mento e normas de conduta, à cobrança de aluguel dobrado, contribuição para fundo de pro- moção e propaganda e outras. Por outro lado, o ordenamento jurídico brasileiro garante aos inquilinos ou locatários de imó- veis comerciais adimplentes, o direito de requerer judicialmente a renovação ou revisão do con- trato de locação, caso estando próximo do fim do prazo contra- tual, as partes não consigam livremente ajustarem um valor. Segundo dados do CNJ, nos três últimos anos foram propostas em média 5.500 ações revisionais e renovatórias em todo o país, respondendo os três principais PERÍCIA EM SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 32 estados da região Sudeste, onde está localizado o maior número de Shoppings2, em média, por 65% desta demanda, o que per- mite inferir o protagonismo dos contratos de shopping centers no montante geral de ações pro- postas. Nesse contexto, que rivaliza inte- resses antagônicos entre lojistas e locatários, o caráter técnico da matéria debatida, faz com que a perícia avaliatória assuma uma função de destaque, auxiliando o juízo nas decisões na fixação do valor do aluguel que se discute. Ocorre que, apesar das diferen- ças, a atual Norma de Avaliação, NBR 14.653-2:2011, não aborda de forma específica as particula- ridades que devem ser conside- radas nas avaliações das lojas deste tipo de empreendimento. Como resultado da ausência de parâmetros objetivos normatiza- dos, verifica-se, na prática, uma multiplicidade de critérios e me- todologias para avaliação destes imóveis em perícias judiciais, muitos em desacordo com os procedimentos de excelência preconizados pela Norma de Avaliação. 2 Pelos números do setor de shopping centers publicados pela ABRASCE, o Estado de São Paulo, seguido por Rio de Janeiro e Minas Gerais, concentram, juntos, quase 50% de toda área bruta locável em operação de Shopping em atividade no ano de 2019. Portanto, diante da relevância que as perícias avaliatórias em shopping centers assumem em relação à totalidade das ações revisionais e renovatórias, mos- tra-se necessário identificar as premissas básicas neste tipo de avaliação, de forma a se estabe- lecer critérios objetivos que de- vem instruir estas avaliações, contribuindo com o desenvolvi- mento da técnica, ratificando as conclusões de MAIA NETO (2003), que defende que apenas com adoção de uma técnica efi- caz, que fundamente de forma objetiva o trabalho avaliatório, é que se permite atingir conclu- sões seguras, afastando arbitra- mentos indutivos, baseados no bom senso, na experiência ou ainda no conhecimento do mer- cado. PERÍCIA EM SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 33 3.3. Procedimentos metodológicos a se- rem considerados em avaliações em shopping centers Devido a sua natureza atípica e até mesmo as características arquitetônicas internas dos em- preendimentos, os contratos de locação de shopping centers apresentam características que os distinguem dos demais con- tratos de locação comercial, im- pedindo sua comparação entre lojas de rua e lojas de shopping center, demandando atenção especial a especificidades do empreendimento para elabora- ção de estudos avaliatórios das lojas que o compõem. Nesse contexto, seguindo o en- caminhamento descrito na Nor- ma, analisa-se os principais pa- râmetros que devem ser obser- vados pelo avaliador, que consti- tuem os principais focos dos embates em perícias dessa natu- reza. Procedimentos gerais – metodologia aplicável Segundo CANDELORO (2007), o “valor locatício (aluguel) de mer- cado do imóvel é aquele que, além de satisfazer o proprietário seja o máximo que os pretensos inquilinos se dispõem a pagar para ocupar o imóvel por meio de locação, ambos agindo de forma livre, sem interesses específicos ou particulares”. O autor acres- centa ainda que para ser justo, o valor de aluguel deve ser compa- tível com o livre mercado. Para tanto, a Norma de Avaliação de Imóveis Urbanos – ABNT 14.653-2:2011, determina no item 11.4 prescrições gerais para avaliações de aluguéis, ressal- tando a prevalência da compara- ção direta dos valores, pelo mé- todo comparativo de dados de mercado: “11.4 Avaliação de aluguéis 11.4.1 Por comparação direta 11.4.1.1 Trata-se do procedimento preferencial, usualmente empre- gado em ações renovatórias e revisionais. Para sua aplicação é exigido o conhecimento de dados de mercado referente a locações de imóveis semelhantes. PERÍCIA EM SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 34 11.4.1.2 Especial atenção deve ser dada quando forem comparados aluguéis com distintos períodos de reajuste ou estágios do contrato, admitindo-se os seguintes proce- dimentos: a) Tornar os dados homogêneos, com auxíliode modelos que levem em conta a previsão inflacionária; b) Utilizar modelos de regressão com variáveis que considerem as diferenças contratuais ou o está- gio do contrato. 11.4.1.3 No caso de antecipação de aluguéis, devem ser adiciona- dos aos aluguéis nominais acrés- cimos constantes, financeiramente equivalentes ao pagamento ante- cipado.” (grifos dos autores) Ainda segundo a Norma, a meto- dologia pela remuneração do capital, em que o aluguel é de- terminado em função do valor do imóvel, apenas deve ser empre- gada nos casos de imóveis isola- dos ou atípicos, não devendo, portanto, ser utilizado nas avalia- ções de lojas dos shopping cen- ters, que, usualmente, contam com abundância de informações para pesquisa, que, em se tratan- do de perícias judicias, podem ser obtidas junto à administração do empreendimento. “11.4.2 Pela remuneração do capi- tal 11.4.2.1 Neste caso, o aluguel é determinado em função do valor do imóvel, podendo ser emprega- do em casos de imóveis isolados e atípicos, para os quais a utilização da comparação direta seja impra- ticável.” (grifos dos autores) Nesse sentido, nos comentários finais de seu capítulo, CANDE- LORO (2007), conclui sobre a determinação de valores locatí- cios em lojas internas de shop- ping center: “Tendo em vista não só a dificul- dade de identificação do real “aproveitamento” de seus terre- nos em face da legislação (...) mas, principalmente, a enorme dificul- dade de se conhecer com exatidão as taxas de renda vigentes nesses empreendimentos, que não se assemelham a qualquer outro, a utilização do Método da Renda nesses casso deve ser descartada, de pronto, pelos avaliadores. O único método confiável, então, é o Método Comparativo.” PERÍCIA EM SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 35 Planejamento da pesquisa e levantamento de dados do mercado Premissa fundamental para a utilização do método comparati- vo de dados de mercado é a pos- sibilidade de comparação dos elementos pesquisados que, para tanto, precisam apresentar ca- racterísticas semelhantes, que permitam, por meio de um ade- quado tratamento técnico dos atributos dos elementos, identi- ficar como estes influenciam na formação do valor do imóvel. Nesse ponto, destaca-se a pres- crição geral da Norma de Avalia- ções que determina que no pla- nejamento da pesquisa, deve o avaliador “compor uma amostra representativa dos dados com características, tanto quanto possível, semelhantes às do ava- liando, usando toda evidência disponível”. “8.2.1.1 Planejamento da pesquisa No planejamento da pesquisa, o que se pretende é a composição de uma amostra representativa de dados de mercado de imóveis com características, tanto quanto pos- sível, semelhantes às do avalian- do, usando-se toda evidência dis- ponível. Esta etapa – que envolve a estrutura e estratégia da pesqui- sa – deve iniciar-se pela caracteri- zação e delimitação do mercado em análise, com auxílio de teorias e conceitos existentes ou hipóte- ses advindas de experiências ad- quiridas pelo avaliador sobre a formação do valor.” Sobre o assunto, CANDELORO (2007) destaca a singularidade das lojas situados em shopping centers, destacando que as avali- ações destas lojas devem se limi- tar a comparar com lojas do pró- prio empreendimento. “É preciso destacar que só podem ser aceitos como elementos com- parativos, nas avaliações de alu- guéis em “shoppings”, outras lojas situadas no próprio “shopping” onde está a loja avalianda. Isso porque tais lojas são singula- res, não podendo ser comparadas, em vista de suas próprias caracte- rísticas, com quaisquer outras situadas fora de “shoppings”. As eventuais diferenças entre as lojas comparativas e a avalianda devem ser estudadas individual- mente, e de preferência com base em análises estatísticas da in- fluência dessas diferenças no valor locativo.” Ocorre que, além de se diferen- ciarem das lojas externas, de ruas ou de outros shoppings, inter- namente, a própria arquitetura dos empreendimentos e a res- PERÍCIA EM SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 36 pectiva disposição do mix de lojas quanto ao posicionamento e organização das lojas dentro do empreendimento, impactam nas condições dos fluxos internos e visibilidades dos espaços locados, que geram diferenças internas entre as operações dos shop- pings, influenciando no valor de locação dos espaços. Estas diferenciações podem se manifestar, por exemplo, em relação a proximidade do espaço locado aos acessos do empreen- dimento, ou da praça de alimen- tação, loja âncora ou escada ro- lantes, assim como, consequen- temente, quanto a localização das lojas em relação ao piso e/ou corredor em que está situado, entre outras características. Nesse contexto, como a Norma determina a utilização, tanto quanto possível, de elementos semelhantes ao avaliando, deve o profissional de engenharia de avaliações estar atento às dife- renças entre as lojas do empre- endimento, sempre prestigiando a utilização restrita de elementos semelhantes, ao invés de elabo- rar modelos complexos. Ou seja, no planejamento da pesquisa, compete ao avaliador estabelecer critérios objetivos de seleção para levantamento dos dados, visando a composição de uma amostra representativa de dados de mercado, sempre prio- rizando a composição de uma amostra homogênea em que se utilize poucas lojas e variáveis, mas com características muito parecidas com a loja avalianda, em detrimento de uma amostra heterogênea, com várias lojas de características díspares e inúme- ras variáveis, que resultarão em um modelo estatístico complexo que, muitas vezes, tentará, sem sucesso, explicar como cada uma das variáveis contribui na forma- ção do valor, levando a distor- ções do resultado encontrado. Identificação das variáveis do modelo Para a estrutura da pesquisa, a Norma de Avaliações descreve que devem ser eleitas as variá- veis que, em princípio, são rele- vantes para explicar a tendência de formação do valor e estabele- cidas as supostas relações entre si e com a variável dependente. A Norma expressamente reco- menda, em seu item 8.2.1.2.2, a adoção de variáveis independen- tes quantitativas que se referem objetivamente às características PERÍCIA EM SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 37 físicas dos elementos, em detri- mento das variáveis qualitativas. Para tanto, as variáveis incontro- versas, largamente utilizadas em avaliações desta natureza, são as seguintes: ÁREA: elemento essencial em quase todas as avaliações, a área é o elemento mais utilizado pelo mercado para precificação e comparação de valores. Refere- se a medida da área útil da loja avalianda e das lojas pesquisadas, em metros quadrados, cujo valor unitário é inversamente propor- cional à área locada. FRENTE: considerando que a vitrine tem o importante papel de transmitir informações ao potencial consumidor, bem como lhe atrair para dentro da loja, a análise da frente busca analisar se há influência deste elemento na formação do valor, que tende a acompanhar o valor de locação, ou seja, quanto maior a frente do elemento pesquisado, maior o seu valor locatício. Conforme revela a experiência, diante da abundância de elemen- tos para a pesquisa, comuns em shopping centers, estas duas variáveis se revelam suficientes para resolver a grande maioria das avaliações em shopping cen- ters, não havendo necessidade de se recorrer a outras variáveis, caso se respeite a recomendação normativa de utilização de ele- mentos “com características, tanto quanto possível, semelhan- tes às do avaliando”. Até porque, como explicitado no item anterior, a arquitetura dos shopping centers costumam influenciar em sua dinâmica in- terna, promovendo diferenças entre as lojas situadas em posi- ções diferentes de um mesmo empreendimento, como piso ou corredores distintos, que na mai-oria das vezes influenciam na visibilidade e atratividade destas em relação aos fluxos prioritários no empreendimento e, conse- quentemente, no seu valor. Nesse sentido, vale transcrever os ensinamentos dos autores D’AMATO E ALONSO (2007), que ao analisar a influência do piso em um exemplo didático para explicar o tratamento por fato- res, constataram a influência da transposição das lojas entre os pisos de um empreendimento específico: Transposição: dos unitários refe- rentes a lojas situadas em pisos diversos do avaliando, através da tabela adotada pelo próprio Shopping center na composição dos valores de locação. Piso Térreo 1,00 Piso Principal 1,20 Piso Superior 0,90 NOTA IMPORTANTE: As tabelas de pesos e fatores de transposi- ção referem-se única e exclusi- vamente às unidades em estudo PERÍCIA EM SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 38 para uma determinada data. Para outros empreendimentos, mere- cem ser aferidas, especialmente através de estatística inferencial. Referidos pesos devem ser en- tendidos aqui como meramente didáticos. Todavia, caso necessária a sele- ção de uma amostra com caracte- rísticas não semelhantes, como no exemplo mais comum verifi- cado em perícias, a utilização de pesquisa de elementos situados em pisos diferentes do objeto avaliando, alguns cuidados de- vem ser tomados pelo profissio- nal, de modo a evitar eventuais distorções nos resultados encon- trados. Em primeiro lugar, deve ser ado- tado um critério objetivo para seleção das lojas, a partir de ca- racterísticas físicas dos espaços cujas diferenças possam ser ex- plicadas por variáveis que serão testadas no modelo, afastando opiniões ou aspectos subjetivos que devem ser evitadas na análi- se. Por exemplo, caso ocorra neces- sidade da utilização de elemen- tos situados em mais de um piso, deve-se, ao menos, restringir a pesquisa para uma mesma região do empreendimento, que corres- ponda, por exemplo, ao mesmo corredor. Em segundo lugar, eventuais variáveis que busquem explicar diferenças qualitativas das carac- terísticas físicas devem necessa- riamente observar a ordem de prioridade elencada no item 8.2.1.2.2 da Norma, priorizando a utilização de “quantas variáveis dicotômicas forem necessárias”, preferencialmente, por meio da aplicação de condições boolea- nas do tipo “maior do que”, ou “sim” ou não”. Neste aspecto, cumpre esclare- cer um erro muito comum em avaliações em shopping centers que é a utilização de variáveis por meio de código alocado para diferenciação entre pisos do empreendimento, atribuindo o peso um para as lojas situadas no primeiro piso, dois para as lojas do segundo nível, três para o terceiro, e assim por diante. Além deste tipo de variável estar elencada no último grau de prio- ridade pela Norma (8.2.1.2.2.d), uma vez fundamentada em pa- râmetros subjetivos, que devem ser evitados em perícias e avalia- ções, a utilização inadvertida deste recurso distorce os resul- tados da avaliação, porque hie- rarquiza os pisos pela simples distribuição física, sem observar demais atrativos de cada nível. Isto é, o uso inadequado das variáveis por códigos alocados conduzem artificialmente os resultados, hierarquizando-os em uma ordem crescente, ou decres- cente, de valores, à medida que PERÍCIA EM SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 39 se “sobe/desce” nos pavimentos do empreendimento, o que na maioria das vezes não representa a realidade, como explicado no próprio exemplo trazido pelos autores D’AMATO E ALONSO (2007), cujo piso intermediário se sobrepõe aos demais em termos de valores. Por isso, em respeito à Norma, na hipótese de ser necessário consi- derar elementos de outros pisos, deve-se utilizar de forma objetiva variáveis dicotômicas, agrupando os dados em relação ao piso em que se encontram (exemplo: Está no primeiro piso? Sim ou Não. Está no segundo? Sim ou não), deixan- do para que a estatística eviden- cie se há ou não diferença entre os pisos, e, em caso positivo, qual é o piso mais valorizado e quanto isto influencia no valor de loca- ção. Neste caso, não podemos deixar de citar a utilização das chama- das variáveis dicotômicas múlti- plas, onde utilizamos um número de variáveis sempre igual ao número de pisos pesquisados menos 1 (um), ou seja, se o em- preendimento possuir 4 pisos, utilizamos as variáveis PISO 1, PISO 2 e PISO 3, onde adotamos o código 1 (sim) e 2 (não), para identificar onde fica a loja, sendo que aquela situada no piso 4 receberá 2 (não) em todas as variáveis. Em terceiro lugar, embora o peri- to tenha plenos poderes para solicitar documentos durante a realização das diligências perici- ais, essas solicitações devem se reservar aos elementos necessá- rios para cumprir o escopo da avaliação para o qual foi desig- nado, sobretudo diante da natu- reza confidencial das informa- ções dos contratos que serão analisados. Tratamento de dados – a prevalência do tratamento científico Em relação ao tratamento dos dados, os autores D’AMATO E ALONSO (2007), preceituam que, para utilização do método com- parativo direto, os dados amos- trais devem ser devidamente tratados, como determina a Norma de Avaliações: Pelo método comparativo, o alu- guel de lojas de Shopping center pode ser determinado com base na coleta de elementos semelhan- te escolhidos no livre mercado imobiliário (ofertas e contratos de locação do mesmo empreendi- PERÍCIA EM SHOPPING CENTERS precisaoconsultoria.com.br | página 40 mento) e que sejam devidamente tratados através de: * Fatores * Modelos de regressão linear. No entanto, embora a Norma apresente o tratamento de fato- res como uma alternativa genéri- ca para avaliação de imóveis, há uma corrente de especialista que defende que, para avaliações de aluguéis, a Norma de Avaliações, ABNT NBR 14.653-2, determina que o procedimento preferencial a ser adotado no tratamento dos dados deva ser o modelo induti- vo, por meio da estatística infe- rencial, que é o método mais seguro e adequado, sobretudo em se tratando de avaliações em shopping centers, que apresenta abundância de dados, conforme dispõe o livro Engenharia de Avaliações do IBAPE/SP5, no capí- tulo 4, Método Comparativo, item 4.3. Homogeneização dos Comparativos, páginas 622 e 623. Por meio da metodologia induti- va ou científica (estatística infe- rencial), o profissional de avalia- ções procede com a utilização de ferramentas diretamente sobre os dados coletados, que por si irão demonstrar o comportamen- to do mercado quanto às princi- pais variáveis que influenciam na formação do valor do imóvel. Para melhor entendimento do que vem a ser os métodos induti- vo e dedutivo, colacionamos abaixo partes do capítulo supra- mencionado, onde encontramos algumas colocações interessan- tes que confirmam esta afirmati- va: Dois caminhos podem ser trilhados para a homogeneização dos com- parativos às condições do aluguel procurado: ou por meio de proces- so indutivo ou de processo deduti- vo (clássico). O processo indutivo parte do princípio de não se racionalizar previamente qualquer parâmetro que meça eventual interferência no valor das diferenças entre os comparativos. (grifo nosso) Ao contrário, por meio de análises estatísticas – regressões múltiplas – mede, a partir dos próprios com- parativos, e influência de cada “diferença” no resultado final. Conceitualmente, o processo indu- tivo é, sem dúvida, mais preciso e lógico, portanto mais seguro. “O outro processo para se homo- geneizar os comparativos é o de- dutivo, hoje mais conhecido como metodologia clássica, no qual são feitas racionalizações prévias e a partir delas se ajustam os valores comparativos para adequá-los às condições do imóvel avaliando.” “A sua deficiência está exatamen- te na fixação prévia – fruto de racionalização – dos parâmetros segundo os quais se pressupõe
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