Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ECONOMIA INTERNACIONAL Graduação 8 COMÉRCIO INTERNACIONAL: TEORIA E POLÍTICA Iniciaremos nossos estudos partindo das ideias básicas que norteiam o entendimento da teoria do comércio internacional com o objetivo de demonstrar as vantagens do intercâmbio de mercadorias entre os países e os instrumentos de política comercial utilizados como forma de proteção dos produtores nacionais frente à concorrência estrangeira. OBJETIVO: Compreender os argumentos que norteiam as vantagens do livre comércio entre as nações e analisar os instrumentos de intervenção pública sobre o comércio exterior, a política comercial, que explica o processo que é denominado proteção. PLANO DA UNIDADE: Teoria Clássica do Comércio Internacional: Mercantilismo, Vantagens Absolutas e Vantagens Comparativas. Protecionismo e Política Comercial: Tarifas, Subsídios e outras formas de proteção. Instituições reguladoras do protecionismo. Argumentos a favor do protecionismo. Boa leitura e bons estudos. U N ID A D E 1 9 TEORIA CLÁSSICA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL Por que as nações comerciam? O que as leva a ter interesse em estabelecer relações trocas? Ao longo dos últimos dois séculos muito se tem discutido sobre esta questão. Do ponto de vista lógico, parece óbvio que nas relações comerciais entre nações existem ganhos, ou seja, que quando os países vendem produtos e serviços uns aos outros quase sempre ocorre um benefício mútuo ou, dito de outra forma, podem obter vantagens. Iniciaremos nossos estudos procurando situar como se deu construção teórica dos argumentos das vantagens das relações comerciais entre as nações. Os efeitos do comércio exterior do ponto de vista moral são ainda mais importantes do que suas vantagens econômicas. No estado atual do progresso humano, é de grande importância que as nações intensifiquem seus contatos, confrontando formas de pensar e ações distintas daquelas com cada uma delas está familiarizada. O comércio pode hoje desempenhar o papel que antes era realizado pela guerra: pôr os povos em contato. Os benefícios daí resultantes são excepcionalmente altos e multilaterais. Não há nação que não se beneficie ao confrontar suas próprias ideias, costumes e formas de produção com as de outras que se encontre em posições diferentes. JOHN STUART MILL Principles of Political Economy - 1848 A teoria do comércio internacional surgiu da necessidade de explicação das trocas entre as nações. Remonta aos autores clássicos, notadamente aos trabalhos de Adam Smith e David Ricardo, o desenvolvimento de uma análise passível de generalização a qualquer país, e que se contrapunha às concepções protecionistas dos mercantilistas. 10 MERCANTILISMO O Mercantilismo corresponde a uma doutrina econômica que dominou os ambientes políticos e comercial na Europa entre os séculos XV e meados do século XVIII (1450 a 1750), como resultado do aumento do comércio entre as nações, sobretudo, a partir da Idade Média, atingindo seu apogeu à época das grandes navegações (descobrimento da América e do caminho para as Índias). Suas ideias se baseavam na convicção de que a riqueza e o poder de um país dependiam da quantidade de metais preciosos que o país conseguisse acumular. Segundo esta visão, dado que a grande maioria dos pagamentos internacionais se fazia com ouro e prata, o Estado deveria tomar providências para estimular o comércio e a indústria e favorecer as exportações para incrementar a entrada de metais preciosos. Assim, um país poderia se tornar mais rico se aumentasse seu estoque de metais. Para atingir este objetivo, o governo procura manter um saldo favorável nas suas relações comerciais com o resto do mundo, estimulando as exportações (recebimentos - entrada de metais preciosos) e dificultando ao máximo, ou até mesmo proibindo, as importações (pagamentos - saídas de metais preciosos) e dessa forma a nação não perderia suas reservas de metais (ouro e prata). Para isso, eram criadas medidas restritivas às importações através de pesadas taxas alfandegárias (desenvolvimento de mecanismos protecionistas da economia nacional) e em simultâneo eram fomentadas as exportações através do estímulo ao desenvolvimento da produção manufatureira nacional. Entretanto, podemos notar que estas proposições mercantilistas carecem de certa consistência porque, para que os países pudessem aumentar suas exportações, outros deveriam incrementar as importações. Consequentemente, se todas as nações adotassem essas políticas de forma contínua, as economias tenderiam a se fechar e, se todos se fechassem, não haveria mais comércio. 11 A partir da segunda metade do século XVIII, a doutrina mercantilista é substituída pelo liberalismo econômico e pelo racionalismo. Novas doutrinas destacam os benefícios da divisão do trabalho, da especialização e do comércio entre as nações como a principal forma de um país obter impulso no seu crescimento econômico. Ao contrário da visão mercantilista, o argumento agora é que todos se beneficiarão pelo comércio. TEORIA DAS VANTAGENS ABSOLUTAS Em 1776, Adam Smith publica sua principal obra, A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua natureza e suas causas, primeiro trabalho a apresentar uma visão sistemática acerca do comércio entre as nações. Nele Smith desenvolve toda uma argumentação contra as concepções do mercantilismo. Suas ideias básicas podem ser assim resumidas: especialização da produção motivada pela divisão do trabalho internacional e as trocas efetuadas no comércio internacional, que contribuiriam para o aumento do bem-estar das populações. Smith demonstrou as vantagens do livre comércio entre os países ao observar que a abertura ao exterior conduz a um ganho importante para os dois parceiros da troca e também para a economia mundial. Portanto, ao invés da lógica mercantilista, o comércio internacional proporciona vantagens positivas para os países que realizam trocas. Para tanto, basta que os países se especializem de acordo com as suas vantagens absolutas e os exportem entre si, ambos poderiam consumir mais do que se se recusassem a comerciar. Daí resulta o conceito de vantagem absoluta: se um país é capaz de produzir um bem com menos recursos (por exemplo, em que o número de horas de trabalho requerido para a produção do bem é menor) do que outro país poderá obter maior ganho concentrando-se na produção desse bem e exportar parte de sua produção, e comprar aqueles produtos em que os outros países produzem em condições melhores. 12 Em síntese, cada país deve especializar-se em produzir os produtos em que tem vantagem absoluta em termos de custos (ou produtividade). Deste modo, propõe que os países devem apenas produzir e, portanto, exportar os produtos que têm maior produtividade e eficiência e importar aqueles em que os outros sejam mais eficientes. Eis uma máxima que todo chefe de família prudente deve seguir: nunca tentar fazer em casa aquilo que seja mais caro fazer do que comprar. O alfaiate não tenta fabricar seus sapatos, mas os compra do sapateiro. Este não tenta confeccionar seu traje, mas recorre ao alfaiate. O agricultor não tenta fazer nem um nem outro, mas se vale desses artesãos. Todos consideram que é mais interessante usar suas capacidades naquilo em que têm vantagem sobre seus vizinhos e comprar, com parte do resultado de suas atividades, ou o que vem a dar no mesmo, com o preço de parte das mesmas, aquilo de que venham a precisar. (ADAM SMITH, A Riqueza das Nações:Investigação sobre sua Natureza e Causas) Podemos compreender melhor a teoria das vantagens absolutas com base em um exemplo numérico. Tendo em vista os pressupostos anteriormente analisados, observe o quadro abaixo com os custos unitários de produção de dois bens, minério de ferro e carvão mineral, por parte de dois países, Inglaterra e Brasil, em termos de produtividade, aqui medida pela quantidade de produção por trabalhador: 13 Custo (trabalhador/dia) Produtividade (quantidade produzida por trabalhador/dia) Países Minério de ferro Carvão mineral ( 1 ton) ( 1ton) Brasil 2 5 1/2 1/5 Inglaterra 10 1,25 1/10 1/1,25 Apesar de existirem custos de produção constantes para cada bem dentro de cada país, os custos diferem nos dois países: o Brasil emprega 2 trabalhadores para produzir 1 tonelada de minério de ferro, enquanto que a Inglaterra, para produzir a mesma quantidade de minério emprega 10 trabalhadores. o Brasil emprega 5 trabalhadores para produzir 1 tonelada de carvão mineral, enquanto que a Inglaterra emprega 1.25 trabalhadores para produzir a mesma quantidade. Explicando melhor, a Inglaterra produz carvão com menor custo ou, dito de outro modo, a produtividade da Inglaterra em relação ao carvão é maior. Por esta razão se diz que a Inglaterra tem uma vantagem absoluta em carvão e deve especializar-se completamente na sua produção. Por sua vez, o Brasil é absolutamente mais eficiente na produção de minério de ferro - dispõe de vantagem absoluta em produzir minério de ferro, devendo, assim, especializar-se completamente na sua produção. Portanto, sob o ponto de vista teórico da Vantagem Absoluta, os países devem produzir os bens que produzem com maior eficiência que, em nosso exemplo, significa que o Brasil deve produzir e exportar minério de ferro para a Inglaterra, enquanto que a Inglaterra deve produzir e exportar carvão mineral para o Brasil. 14 A teoria das vantagens absolutas apresenta uma limitação por não explicar todas as possibilidades de comércio. Com efeito, um país ineficiente em termos absolutos em ambos os bens não poderia participar no comércio internacional. Dito de outro modo, a especialização e, por conseguinte, a troca internacional só poderia ocorrer se um país fosse mais eficiente na produção de um bem e o outro na produção de um bem diferente (como acontece no exemplo acima). Neste caso, estariam estas nações forçadas a ficar excluídas dos benefícios da especialização e das trocas? Esta limitação viria a ser discutida por David Ricardo quando desenvolveu a Teoria das Vantagens Comparativas (ou Teoria dos Custos Comparativos). TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS Em 1817, David Ricardo, em seus Princípios de Economia Política e Tributação, formulou o conceito das vantagens comparativas, abordando os custos das mercadorias internacionalmente comercializáveis. No caso de esses custos serem distintos em dois países, a especialização da produção com maior vantagem - gerando excedentes para a exportação - traria um benefício para esse país, já que os ganhos com o comércio lhe permitiriam importar os produtos que necessitava e cuja produção interna não era satisfatória. Assim, mesmo se um país fosse absolutamente menos eficiente para produzir todos os bens, continuaria a participar no comércio internacional ao produzir e exportar os bens que produzisse de forma relativamente mais eficiente. Para uma melhor compreensão da teoria das vantagens comparativas, analisemos o exemplo proposto por Ricardo, envolvendo dois países, Portugal e Inglaterra, e dois produtos, tecidos e vinho, medindo todos os custos relativos de produção, expressos em horas de trabalho: 15 Custo (horas de trabalho para produzir) Produtividade (produção por hora de trabalho) Países Tecidos Vinho Tecidos (unidade) Vinho (unidade) Inglaterra 100 120 1/100 1/120 Portugal 90 80 1/90 1/80 Analisando o exemplo, constatamos que, em termos absolutos, Portugal é mais produtivo em relação a ambas as mercadorias: o custo para produzir tanto vinho quanto tecidos é menor que na Inglaterra. Mas, em termos relativos, o custo de produção de tecidos (90) em Portugal é maior do que o da produção de vinho (80) e, na Inglaterra, o custo da produção de (120) é maior do que o da produção de tecidos (100). Assim, comparativamente, Portugal tem vantagem relativa na produção de vinho (o custo relativo para produzir vinho é menor do que o custo relativo para produzir tecidos) e a Inglaterra na produção de tecidos (o custo relativo para produzir tecidos é menor do que o custo relativo para produzir vinho). Observe que, na ausência de comércio exterior, ou na condição de autarquia, são necessárias na Inglaterra 100 horas de trabalho para a produção de 1 unidade de tecidos e 120 horas para a produção de 1 unidade de vinho. De modo geral, podemos dizer que, o preço relativo de uma unidade de vinho é 1,2 unidades de tecido (resultado obtido dividindo-se o número de horas de trabalho para produzir vinho pelo número de horas de trabalho para a produção de tecidos - 120/ 100). Já em Portugal, essa unidade de vinho custará 0,89 unidades de tecido (resultado obtido pela divisão do número de horas de trabalho para produzir vinho pela quantidade de horas de trabalho para produzir tecidos - 80/90). 16 O que levaria então a Inglaterra a se especializar em produzir tecidos e Portugal a se especializar em produzir vinho? Segundo Ricardo, os limites para o estabelecimento da relação de troca são os preços relativos dos produtos cujas produções em cada país têm vantagens comparativas. Como a Inglaterra tem vantagem comparativa na produção de tecidos, poderá importar 1 unidade de vinho desde que pague um preço inferior a 1,2 unidade de tecido. Para que Portugal se interesse em estabelecer relações de troca teria que receber mais do que 0,89 unidades de tecido por unidade exportada de seu vinho. Assim se a relação de troca entre o vinho e o tecido for de 1 para 1, ambos os países sairão beneficiados. A Inglaterra, em autarquia, gastará 120 horas de trabalho para obter 1 unidade de vinho. Estabelecendo comércio com Portugal poderá utilizar apenas 100 horas de trabalho para produzir 1 unidade de tecido e trocá-la por 1 unidade de vinho, poupando, portanto, 20 horas de trabalho que poderiam ser utilizadas produzindo mais tecidos (obtendo, assim, um maior nível de consumo). O mesmo raciocínio vale para Portugal. Em vez de gastar 90 horas produzindo 1 unidade de tecido, utilizará 80 horas de trabalho para produzir 1 unidade de vinho, economizando 10 horas de trabalho que poderiam ser utilizadas produzindo mais vinho e, consequentemente, aumentando o nível de consumo. AMPLIANDO SEUS CONHECIMENTOS A Divisão Internacional do Trabalho Ao longo da História, os diversos continentes foram retalhados em territórios autônomos, muito diferentes entre si, com relação ao tamanho e aos recursos produtivos disponíveis. Assim, através de processos políticos complexos foram se conformando os atuais países. As nações independentes descobriram, muito cedo, as vantagens de trocar mercadorias, originando os fluxos do comércio internacional. Na medida em que os meios de comunicação e de transporte iam se aperfeiçoando, o sistema mundial foi ficando mais 17 interdependente e os países foram abandonando progressivamente as estratégias orientadas para a autossuficiência. O desenvolvimento do comércio possibilitou que cada nação se especializasse naquelas produções emque apresentava maiores aptidões, complementando, através do comércio, o leque de mercadorias que seus cidadãos necessitavam. A especialização produtiva dos países obedeceu, pelo menos inicialmente, às respectivas disponibilidades de fatores de produção, que determinaram a conformação de vocações nacionais, especialmente no caso dos produtos agrícolas e minerais. Assim, por exemplo, o Brasil dedicou seus recursos a produzir café, em função da disponibilidade de recursos naturais (terra, clima, etc), especialmente apropriados para essa finalidade. Em geral, os países se especializaram nas produções em que eram mais eficientes, conseguindo produzir os respectivos produtos a um custo menor. O comércio entre países pode ser analisado a partir de dois pontos de vista. Em primeiro lugar, ele permite que cada país tenha acesso a um leque muito amplo de bens e serviços, satisfazendo as necessidades diversificadas de seus cidadãos, sem perder as vantagens da especialização produtiva. Em segundo lugar, a possibilidade de vender seus produtos em outros mercados, permite que os volumes de bens produzidos em cada país sejam muito maiores do que seriam no caso de ficarem restritos aos mercados internos, exclusivamente, sendo assim possível aproveitar os ganhos de eficiência conhecidos como economias de escala. A possibilidade de vender mercadorias no estrangeiro é, assim, tão importante quanto à de comprar. Muitos países conseguem viabilizar suas economias em função da demanda externa, produzindo para a exportação, assim gerando as oportunidades de emprego que, em definitivo, sustentam a geração da renda nacional. O país que permite que as mercadorias de outros países sejam vendidas no seu mercado interno está em condições de exigir "reciprocidade" dos seus parceiros comerciais. 18 IMPORTANTE! Termo de troca (terms of trade) A taxa à qual as exportações são trocadas pelas importações; é dado pelo rácio entre o índice de preços das exportações (ou o valor médio unitário destas) e o índice de preços das importações (ou o seu valor unitário médio). Uma melhoria (degradação) dos termos de troca corresponde a um aumento (diminuição) deste rácio: um dado volume de exportações permite pagar um maior (menor) volume de importações. POLÍTICA COMERCIAL Muito se comenta sobre o livre comércio. Entretanto, a despeito de todas as defesas teóricas a esse respeito, na maioria dos países, o livre comércio é mais exceção do que regra. Vários são os instrumentos de intervenção utilizados pelo governo com o objetivo de favorecer as atividades econômicas internas frente à concorrência estrangeira. Esse processo é denominado de protecionismo e pode se dar por meio de diversos instrumentos de intervenção do governo sobre o comércio internacional que integra o que chamamos de política comercial. Os principais instrumentos que integram a política comercial são as tarifas, as quotas, os subsídios às exportações e as barreiras não tarifárias. Tarifas Dentre as medidas de proteção estabelecidas pela política comercial, é a que tem tido mais importância. A tarifa é definida como um imposto cobrado sobre os produtos estrangeiros com o objetivo de elevar seu preço de venda no mercado interno e assim “proteger” os produtos nacionais contra à concorrência dos bens estrangeiros. 19 O imposto de importação é uma tarifa cobrada quando uma mercadoria entra no país. Existem três formas de imposto sobre as importações: específico, ad-valorem e misto. No imposto específico é cobrado um determinado valor por unidade importada. Um exemplo é tarifa de importação de US$ 0,54 litro/galão de álcool importado pelos EUA. Cobrança ad-valorem é a forma mais utilizada atualmente e corresponde a um imposto calculado como uma porcentagem sobre o preço de uma mercadoria. Como exemplo, podemos citar a Tarifa Externa Comum (TEC), de 20%, acordada entre os membros do MERCOSUL para importações procedentes de países que não sejam membros desse bloco econômico. O imposto misto diz respeito a uma cobrança de determinado montante por unidade importada do produto, além de um percentual sobre o preço. Por exemplo, pode-se cobrar US$ 40,00 por unidade de produto importada e 15% sobre preço do produto importado. A adoção de tarifa tem custos e benefícios para o país. Se por um lado tem como objetivo proteger o produtor nacional da concorrência internacional, por outro provoca várias alterações na economia. Subsídios Os subsídios são utilizados como instrumento de política comercial para estimular exportações e desestimular importações. Em geral, a concessão de subsídios se dá através da isenção de determinados impostos ou através da concessão de linhas especiais de crédito a taxas de juros abaixo do nível de mercado. Há casos em que o governo garante subvenções. MERCOSUL: Constituído pelo Brasil e Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela. Chile, Equador, Colômbia, Peru e Bolívia participam como países associados. 20 Como exemplo, podemos citar a concessão de subsídios aos produtores de determinado produto com o objetivo de estimular o aumento da produção e garantir possíveis perdas para os produtores. EXEMPLIFICANDO “Paraná sai na frente com subsídio ao trigo” O Paraná mais uma vez sai na frente e será um dos primeiros estados brasileiros a garantir subsídio aos produtores de trigo. O governador Roberto Requião assinou um anteprojeto de lei, que será enviado à Assembléia Legislativa, garantindo uma subvenção de 15% no prêmio do seguro das lavouras de trigo do Estado durante o ano de 2009. A iniciativa vai cobrir as perdas, minimizar os riscos do clima e proporcionar mais estabilidade financeira para aproximadamente 15 mil agricultores paranaenses. Agência de Notícias do Estado do Paraná www.aen.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=47751 No caso dos subsídios para encorajar as exportações nacionais, eles são concedidos como uma ajuda as produtores nacionais de determinados bens para que eles possam exportá-los a preços mais baixos e competitivos. Embora proibido pela Organização Mundial do Comércio (OMC), é prática muito comum atualmente, particularmente no comércio de produtos agrícolas dos países desenvolvidos. Quotas de importação “As quotas de importação são restrições quantitativas que o governo impõe à importação de determinados bens estrangeiros, ou seja, limita-se a quantidade de certos bens que pode ser importada, 21 qualquer que seja seu preço.” Mochón. Princípios de Economia. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2007. Ao estabelecer quotas de importação o governo tem como objetivo limitar a quantidade de importações que podem ser realizadas. Assim, por exemplo, o governo brasileiro pode decidir impor um limite às importações de equipamentos eletrônicos norte americano a 250 mil unidades por ano, deixando que os preços sejam fixados livremente pelo mercado. Como instrumentos de política comercial, as quotas e tarifas provocam consequências semelhantes. Ambas reduzem as importações. Observe que, com a queda das importações – redução da oferta estrangeira - diminui a quantidade ofertada, o que provoca o aumento dos preços nacionais em relação aos preços no mercado internacional. Outras formas de proteção O governo também pode impor restrições administrativas sobre transações que envolvam câmbio (controles cambiais), proibir importação direta ou de forma seletiva em função da mercadoria ou país de origem, estabelecer depósito prévioà importação, centralizar a importação de determinado produto impedindo a atuação de outros agentes no mercado (monopólio estatal) e ainda estabelecer barreiras não-tarifárias como, por exemplo, restrições relacionadas a regulamentos sanitários e de saúde, normas técnicas e outros tipos de práticas que possam dificultar ou mesmo impedir o comércio entre países. Instituições reguladoras do protecionismo No início de nossos estudos apresentamos as principais teorias sobre as vantagens do livre comércio entre as nações tendo como argumentação de que essa seria a melhor atitude a ser adotada por um país com vista ao uso eficiente de todos os recursos disponíveis. 22 Ao longo do tempo a realidade tem comprovado que nem sempre as nações têm os ganhos em eficiência (uso eficiente de todos os recursos disponíveis) proporcionados pelo livre comércio. Na prática, como há transferência de renda entre pessoas e nações, alguns ganham e outros perdem com a liberdade de comércio. Assim, no mundo real, muitas são as razões que justificam o protecionismo. Os que o defendem, o fazem dentro da perspectiva daqueles países que sofrem perdas com a liberdade de comércio. Argumentam que o governo deve intervir com o objetivo de neutralizar as perdas resultantes das trocas internacionais e de promover o desenvolvimento econômico. IMPORTANTE! O protecionismo é a criação de mecanismos de intervenção pública para proteger as indústrias nacionais da concorrência externa. Por outro lado, deve-se notar que as decisões de uma nação sobre o comércio exterior vão além dos limites do seu território. No século XX, as práticas protecionistas a nível mundial foram sendo cada vez mais intensas e, muitas vezes, até desastrosas para muitos países. Grandes foram os empenhos com o objetivo de facilitar a liberalização do comércio que resultou no GATT, em 1947 , e a OMC – Organização Mundial do Comércio - 1995. Estas iniciativas sempre foram realistas porque nunca se pretendeu extinguir o protecionismo porque não há consenso sobre esta questão. GATT Objetivo original: reduzir as barreiras comerciais entre países, aumentar a interdependência e com isso evitar os riscos de um novo conflito (Segunda Guerra). O Acordo Geral teria caráter 23 provisório e deveria servir como ponto de partida para a criação da Organização Internacional do Comércio – que nunca chegou a existir. Princípio básico: não-discriminação, expresso pela clausura de nação menos favorecida (NMF), segundo a qual “nenhum país tem obrigação de fazer concessões, mas na medida em que negociasse com qualquer outro, reduzisse suas barreiras à importação de determinado produto, esse benefício deveria ser estendido a todos os demais, o que garantiu o direito de todos se beneficiarem de qualquer redução de barreiras alfandegárias praticada pelos países que participavam do Acordo. O GATT foi extinto após a última rodada de negociações – Rodada do Uruguai – que ocorreu de 1986 a 1996, envolvendo mais de 100 países. Suas regras foram incorporadas pela OMC – Organização Mundial do Comércio. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO A OMC é uma organização permanente, com personalidade jurídica própria que começou a funcionar em 1o. de janeiro de 1995. É responsável pela fiscalização do comércio entre os países e dos atos protecionistas que os mesmos adotam e tem como objetivo promover a liberalização do comércio internacional. Em tese, o protecionismo é vantajoso pelo fato de proteger a economia nacional da concorrência externa, garantir a criação de empregos e incentivar o desenvolvimento de novas tecnologias. No entanto, estas políticas podem, em alguns casos, fazer com que o país perca espaço no mercado externo, provocar o atraso tecnológico e a acomodação por parte das empresas nacionais, já que essas medidas tendem a protegê-las, além de aumentar os preços internos. 24 Países que participam da OMC http://newscomex.files.wordpress.com/2008/07/omc1.jpg Principais funções: Gerenciar os acordos multilaterais de comércio relacionados a bens, serviços e direitos de propriedade intelectual; Administrar o entendimento sobre soluções de controvérsias; Servir de fórum para negociações; Supervisionar as políticas comerciais nacionais; Cooperar com as outras organizações internacionais. 25 http://newscomex.files.wordpress.com/2008/07/omc1.jpg 26 Nesta primeira unidade estudamos os argumentos da teoria clássica de comércio internacional em defesa do livre comércio como subsídio básico para a interpretação do processo do protecionismo e as instituições reguladoras do comércio entre as nações. LEITURA COMPLEMENTAR CARVALHO, M.A & SILVA, C.R. Economia Internacional. São Paulo: Saraiva, 1999. TEXTOS: Quem ganha com a tarifa? (p.60) Políticas de empobrecimento do Vizinho no período entre guerras (p. 94-95) Raul Prebisch e o processo de substituição de importações. (96- 97) Obs.: disponíveis no Material de Apoio HORA DE SE AVALIAR! Não se esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no ensino aprendizagem. Caso necessite, conte conosco! Na próxima unidade iniciaremos os estudos sobre o Balanço de Pagamentos, sua estrutura e formas de contabilização, as Reservas Cambiais e a Dívida externa. Um bom estudo! 27 EXERCÍCIOS 1- A ideia de que as trocas internacionais entre países poderiam ser mutuamente vantajosas: a) Não se encontra ainda, no plano teórico, suficientemente esclarecida. b) Só se concebe no plano teórico, não havendo qualquer evidência empírica de sua real ocorrência. c) Foi originalmente desenvolvida, no plano teórico, pelos mercantilistas. d) Foi originalmente explorada por A. SMITH, em ‘A Riqueza das Nações’, na segunda metade do século XVIII. e) Foi originalmente desenvolvida por H.OHLIN, no ínicio do século XX. 2- Empregando um trabalhador-dia, o país A produz 1 tonelada do produto X e 0,2 do produto Y;o país B , produz 0,2 tonelada de X e 1,6 de Y. Neste caso: a) Não há possibilidades de trocas mutuamente vantajosas de X por Y. b) O país B deve se especializar na produção de X. c) O país B será necessariamente prejudicado, quaisquer que sejam as relações de troca que se estabelecem com A. d) O país A será necessariamente prejudicado, quaisquer que sejam as relações de troca que se estabelecem com B. e) O país A deve se especializar na produção de X. 3- A despeito das vantagens que as redes internacionais de trocas podem trazer, os países, em geral, adotam mecanismos tarifários e não-tarifários que têm o efeito de 28 reduzir o volume do comércio mundial. Entre os itens abaixo, qual não é usado como argumento para as práticas protecionistas: a) Proteção às indústrias nascentes. b) Redução do desemprego. c) Redução ou eliminação de desequilíbrio cambial. d) Elevação dos níveis de eficiência e de produtividade do parque produtor interno. e) Elevação do diferencial de salários. 4- O subsídio às exportações, quando empregado como instrumento de política comercial, representa: a) uma política para desestimular as exportações. b) uma redução de custo para o produtor. c) uma política para estimular as importações. d) um desestímulo ao produtor interno. e) um aumento da geração de rendasque podem ir para estrangeiros. 5-Contrariamente ao que imaginavam os mercantilistas, os economistas clássicos demonstraram que: a) O comércio exterior poderia ser mutuamente vantajoso para os países participantes. b) O comércio exterior não poderia induzir a ganhos de escala e produtividade e, consequentemente, à diminuição dos custos de oportunidade decorrentes da não especialização. c) A especialização e a divisão internacional do trabalho, mas sob o impacto de desenconomias crescente de escala. 29 d) Sempre que um país obtivesse ganhos em suas trocas externas, os países com os quais comerciou incidiriam em perdas. e) A obtenção de saldos favoráveis em transição comerciais com outros países se colocaria como de importância vital para o aumento da riqueza nacional. 6 - Quem governa as políticas comerciais internacionais? a) OMC. b) ONU. c) GATT. d) As políticas comerciais não são governadas por nenhuma instituição. e) FMI. 7- Qual das afirmativas a seguir será a menor barreira às importações de câmeras digitais de R$300? a) Uma quota que aumente o preço interno das câmeras em 10%. b) Uma tarifa ad-valorem de 5%. c) Uma tarifa específica de US$ 10. d) Uma quota que aumente o preço interno das câmeras em 5%. e) Um imposto composto de US$ 5 e 1%. 8-Dois países poderiam tirar mútuo proveito do comércio externo, produzindo e trocando dois bens diferentes, mesmo se um deles tiver vantagem absoluta na produção de ambos os bens, desde que as vantagens comparativas sejam diferenciadas. A demonstração teórica dessa possibilidade é devida: a) aos mercantilistas. b) A. SMITH c) STUART MILL d) A.D.RICARDO e) MARSHALL 30 9- As quotas que o governo impõe quando adota uma política comercial são: ____________________________________________________ ____________________________________________________ 10- Uma tarifa de importação de US$ 10 por unidade de bem importado imposta por um país grande: ____________________________________________________ ____________________________________________________ GABARITO Unidade 1 1. D 2. A 3. E 4. B 5. A 6. A 7. E 8. D 9. Obstáculos quantitativos que oneram ou inviabilizam as importações. 10. É uma tarifa ad-valorem. 31 BALANÇO DE PAGAMENTOS E DÍVIDA EXTERNA Nesta unidade vamos procurar compreender as características macroeconômicas das relações entre países. Em primeiro lugar, apresentaremos o balanço de pagamentos, instrumento analítico que é utilizado para avaliar os efeitos das transações econômicas e financeiras de um país com o resto do mundo e depois as reservas internacionais e a dívida externa, um dos assuntos mais polêmicos da atualidade, porque envolve uma grande parte os países, tanto os mais desenvolvidos, como aqueles em menor estágio de desenvolvimento. OBJETIVOS: Entender como o Balanço de Pagamentos registra as relações econômicas entre uma nação e o resto do mundo, com ênfase no entendimento das relações do Brasil com o exterior. Compreender a evolução do endividamento externo e suas consequências no desenvolvimento de um país, notadamente o caso brasileiro. Entender a articulação entre balanço de pagamentos, reservas cambiais e dívida externa. PLANO DA UNIDADE Conceitos básicos e estrutura do Balanço de Pagamentos Contabilização do balanço de Pagamentos Balanço de Pagamentos do Brasil Reservas Cambiais Dívida Externa Uma boa leitura. U N ID A D E 2 32 BALANÇO DE PAGAMENTOS O Balanço de Pagamentos não é questão nova a ser abordada. Na disciplina Economia I, unidade 6, na parte relativa ao Setor Externo, algumas considerações já foram expressas a este respeito. Nesta fase de nossos estudos aprofundaremos mais este tema detalhando suas contas e formas de contabilização. A estrutura e os resultados do balanço internacional de pagamentos são elementos que reportam a conceitos de soberania. Superávits, déficits ou estados de equilíbrio dependem de fatores como geografia e história, padrões de riqueza e de preferências políticas, evolução e estágio da tecnologia. Mas dependem também de como é administrada a taxa de câmbio e os outros meios de regulação de fluxos externos líquidos. Ocorre, porém, que esses meios de refletem um grande jogo de interesses, internos e externos. E não há um único padrão que seja capaz de conciliar os interesses de vários grupos em todos os países a um só tempo. JOAN ROBINSON E JOHN EATWELL. An Introduction to Modern Economics. 1973 O Balanço de Pagamentos revela os resultados agregados das relações econômicas de um país com o resto do mundo. Os fluxos - reais e financeiros - das transações com bens e serviços, das transações unilaterais de rendimentos e dos movimentos de capitais são totalizados, em termos contábeis, demonstrando a composição das relações externas em sua totalidade. É o saldo líquido desses fluxos - reais e financeiros - que permite visualizar o nível do estoque de divisas externas que caracteriza a liquidez internacional da economia. Fluxos reais correspondem aos fluxos comerciais de mercadorias e os de prestação de serviços com as correspondentes contrapartidas financeiras. Fluxos financeiros dizem respeito aos movimentos puramente financeiros resultantes de entradas e saídas de capitais de risco, empréstimos internacionais, entre outros. Estoque se refere a um ponto no tempo, fluxo a um período de tempo. A idéia de fluxo está ligada à mudança, ou seja, variações quantitativas entre dois pontos no tempo, enquanto que estoque indica os saldos em um determinado ponto no tempo. Um fluxo sempre está ligado ao estoque que representa uma variável. Existem duas maneiras de ligar o Fluxo ao Estoque. Uma delas é de que maneira um fluxo aumenta o estoque (Fluxo de entrada) e a outra é como um fluxo diminui o estoque (Fluxo de saída). 33 Todo este conjunto de resultados líquidos das transações externas permite revelar uma variável, o endividamento externo líquido, cujo estoque demonstra como foram estabelecidos os fluxos de intercâmbio internacional de um país ao longo do tempo. Conceitos e Estrutura do Balanço de Pagamentos Como já dissemos anteriormente, o balanço de pagamentos é o registro sistemático das transações econômicas de um país com o exterior, ou seja, entre residentes e não residentes de um país durante determinado período de tempo (Unidade 6 da disciplina Economia 1). Segundo CARVALHO & SILVA (1999), “a distinção entre residentes e não residentes está associada ao local em que produzem e consumem bens e serviços. Assim, residente é a pessoa física ou jurídica domiciliada em um país. Inclui os indivíduos com residência física, mesmo que sejam imigrantes, as filiais de empresas estrangeiras sediadas no país, os funcionários em serviço no exterior, bem como os indivíduos que se encontram transitoriamente no exterior em viagens de turismo, negócios e etc. Não-residente, por oposição, é todo aquele que não se enquadra na definição de residente.” A classificação das contas, a metodologia de levantamento e o registro das transações internacionais seguem as orientações recomendadas pelo Fundo Monetário Internacional – FMI. Todas as transações internacionais são registradas como variáveis “fluxo” e seus saldos definem-se como fluxos líquidos. Já os resultadosdo balanço de pagamentos, déficits ou superávits, são remetidos para duas variáveis “estoque”, as reservas cambiais e o endividamento externo. Quatro categorias de transações econômicas do país com o exterior são utilizadas no levantamento das informações para registro: 34 os fluxos comerciais de bens e os de prestação de serviços com suas respectivas contrapartidas financeiras; os movimentos puramente financeiros que resultam dos empréstimos internacionais (de curto e/ou de longo prazo) e de fluxos de entrada e saída capitais para investimento; as transferências unilaterais de ajuda externa, sob a forma de auxílios e donativos ou de remessas pessoais, independentemente de contrapartida e, as alterações nos estoques de ativos e passivos internacionais do país resultantes de todas transações anteriormente citadas. Assim, definida a natureza de cada transação econômica, as mesmas são classificadas em diferentes grupos de contas, também designadas como rubricas. Estes grupos, já apresentados em estudos anteriores, apresentam a seguinte estrutura: Balanço Comercial - (BC) Balanço de Serviços - (BS) Transferências Unilaterais - (TU) Balanço de Transações Correntes - (TC = BC+BS+TU) Balanço (ou Movimento) de Capitais Autônomos - (KA) Erros e Omissões - (EO) Saldo do Balanço de Pagamentos – (TC + KA + EO) Balanço (ou movimento) de capitais compensatórios – (KC) 35 Dois agrupamentos (grupos de contas) são importantes para análise: as transações correntes (TC) e os movimentos de capitais (MK). 1. Transações Correntes (TC) Como transações correntes são consideradas todas as operações que envolvem o registro dos movimentos com bens e serviços (os fluxos reais), inclusive os fluxos de remuneração por serviços de fatores de produção, tais como juros, lucros e dividendos. Assim, é considerada neste grupamento a soma algébrica dos saldos do Balanço Comercial, do Balanço de Serviços e das Transferências Unilaterais: TC = BC + BS + TU 1.1 Balanço Comercial (BC) Nesta rubrica são registradas as exportações e as importações de mercadorias (bens tangíveis) pelo valor FOB (free on bord), ou seja, pelo seu preço de venda acrescido de todas as despesas e danos até o momento da colocação da mercadoria a bordo do veículo que as transportará do país de origem para o país de destino. Isto significa que o critério FOB de registro considera o custo da mercadoria sem incluir o custo do frete e do seguro que incidem sobre o transporte internacional do país de origem para o país de destino. É importante notar que as exportações representam entrada de divisas (moeda estrangeira) e, como tal são registradas com o sinal positivo. Já as importações, como representam saída de divisas do país, são registradas com o sinal negativo. 36 1.2 Balanço de Serviços (BS) Como o prórprio nome indica, neste Balanço são registradas todas as operações de compra e venda de serviços, ou seja, os bens intangíveis. Nesta rubrica são registrados os saldos das operações de transporte (serviços de frete), de seguros, de gastos com turismo e viagens internacionais, os serviços governamentais (manutenção de embaixadas, consulados e outras formas de representação dos governos no exterior). Também são registradas as rendas de capitais sob a forma de remessas de lucros ou juros; os juros decorrentes de financiamentos e empréstimos; os lucros decorrentes das remessas feitas por empresas internacionais que operam no país (dividendos pagos a não residentes) e outros tipos de serviços que vão desde pagamentos de comissões e propaganda até direitos autorais e patentes. 1.3 Transferências Unilaterais Neste grupo são contabilizados todos os movimentos de donativos internacionais que não tem como contrapartida compra ou venda de bens e serviços ( transferência não retribuídas). São registrados os pagamentos ou recebimentos de donativos de qualquer natureza, tais como doações de alimentos, ajuda a populações por desastres naturais, ajuda para reparações de guerra e ainda transferências de recursos de imigrantes a seus familiares. Movimentos de Capitais (MK) Neste agrupamento são contabilizados os fluxos crédito, moeda e títulos que representam investimentos. Duas rubricas são consideradas: os movimentos de capitais autônomos (KA) e os movimentos de capitais compensatórios (KC). Portanto temos: MK = KA + KC 37 2.1 Movimentos de Capitais Autônomos Esta rubrica, também denominada como Balanço de Capitais Autônomos, corresponde ao saldo das entradas e saídas voluntárias ( capitais que entram ou saem livremente do país), tais como empréstimos, investimentos, amortizações. As entradas de capitais estrangeiros no país são registradas com sinal positivo pois significam entradas de divisas, entretanto, elas constituem um Passivo Externo, ou seja, obrigações em relação aos residentes no exterior. 2.2 Movimentos de Capitais Compensatórios (MK) Este grupo, também é conhecido como Demonstrativo de Resultado. Nele são registrados os empréstimos de regularização do FMI - Fundo Monetário Internacional, especificamente destinados para cobrir os déficits do Balanço de Pagamentos (financiamentos compensatórios) e a variação das reservas internacionais. Erros e omissões Neste item são registradas as discrepâncias entre os fluxos de entradas e saídas de recursos e as variações nos estoques de reservas cambiais do país. Saldo Total do Balanço de Pagamentos O resultado final do balanço de pagamentos revela a posição do país em suas relações com o exterior. Quando há défict ( - ) significa que o total de débitos superou o montante dos créditos, ou seja, as saídas de divisas foram superiores às entradas, implicando queda nas reservas cambiais do país. Um superávit ( + ), ao contrário, indica que o total dos créditos foi maior que o total dos débitos, ou seja, as entradas de divisas foram superiores que as saídas o que aumentará o saldo das reservas cambiais 38 Saldos do Balanço de Pagamentos, Movimento de Capitais Compensatórios e variação das Reservas Internacionais Dada a composição do item movimento de capitais compensatórios (KC) podemos deduzir que seu resultado é igual, com sinal contrário ( - BP ), ao saldo do Balanço de Pagamentos, refletindo o fluxo de caixa derivado das transações do país com o exterior. As reservas internacionais correspondem ao estoque de meios de pagamentos internacionais que as autoridades monetárias detêm. Sua variação depende do saldo do Balanço de Pagamentos, dos Empréstimos de Regularização do Fundo Monetário Internacional - FMI e das diversas contrapartidas existentes na conta de capitais compensatórios. Estas questões ficarão mais claras a seguir, ao abordarmos os procedimentos de contabilização do balanço de pagamentos. QUADRO 1: Estrutura do Balanço de Pagamentos BC – BALANÇO COMERCIAL Exportações (FOB) Importações (FOB) BS – BALANÇO DE SERVIÇOS Viagens internacionais Transportes Seguros Serviços Governamentais Rendas de Capitais Lucros e dividendos Lucros reinvestidos Juros Serviços diversos TU – TRANSFERÊNCIAS UNILATERAIS TC – SALDO DO BALANÇO DE PAGAMENTOS EM CONTA CORRENTE (BC + BS + TU) 39 KA – MOVIMENTO DE CAPITAIS AUTÔNOMOS Investimentos diretos Reinvestimentos Empréstimos e financiamentos Amortizações Capitais de curto prazo Outros capitais EO – ERROS E OMISSÕES BP – SALDO TOTAL DO BALANÇO DE PAGAMENTOS (TC + KA + EO) KC – MOVIMENTOSDE CAPITAIS COMPENSATÓRIOS (- BP) Contas de caixa (reservas) Haveres a curto prazo no exterior Ouro monetário Direitos Especiais de Saque (DES) Empréstimos de regularização Atrasados Contabilização do Balanço de Pagamentos Por ser um instrumento contábil, todos os registros das transações internacionais obedecem às regras da contabilidade, ou seja, ao método de partidas dobradas. Isto significa que um crédito em uma conta corresponde a um débito em outra, e vice-versa. Para efeito de registro as contas do Balanço de Pagamentos são divididas em dois grupos de natureza distinta: contas operacionais e contas de caixa. As contas operacionais correspondem às operações que geram pagamentos e recebimentos de recursos (exportações, importações, fretes e seguros, investimentos, amortizações, transferências unilaterais e outras). Sua contabilização é realizada com a seguinte lógica: transações que resultam em entrada de divisas são registradas com sinal positivo (+), ou seja, à crédito. transações que representem saída de divisas, é lançada a débito, ou seja, com sinal negativo ( - ). 40 Estas duas contas são agrupadas no saldo do Balanço de Pagamentos em transações correntes (TC) e nos movimentos de capitais Autônomos (KA) e resultam no saldo total do Balanço de Pagamentos (BP): BP = TC + KA Por outro lado, as contas de caixa registram as reservas internacionais e correspondem à contrapartida das contas operacionais. São, portanto, os mesmos recebimentos e pagamentos pelas importações, exportações, fretes e seguros, rendas sobre os capitais, etc. Entretanto a lógica de contabilização é inversa, ou seja, o débito ( - ) significa aumento das reservas interncionais e o crédito ( + ) redução de reservas. Para facilitar seu entendimento, observe a sintese destes lançamentos segundo cada conta e sua correspondencia com as reservas: Conta Entrada de reservas Saída de reservas Operacional Crédito ( + ) Débito( - ) Caixa Débito ( - ) Crédito ( + ) IMPORTANTE: Quando a conta operacional é lançada a crédito temos um aumento dos ativos (divisas) ou uma redução das obrigações com os não-residentes; O débito na conta operacional significa perda de divisas ou aumento das obrigações do país. Já observamos que, de acordo com a lógica da contabilidade, a todo crédito corresponde um débito o que, necessáriamente faz com que o saldo entre todas as contas seja igual a zero. No caso do Balanço de Pagamentos, o que garante esta igualdade são os movimentos dos capitais compensatórios, ou seja, reservas e empréstimos de regularização do FMI, ou seja, teríamos então a seguinte igualdade: BP + KC = 0 41 Se houver superávits (BP > 0), significa que as reservas aumentam. Ocorrendo déficit (BP < 0), há saída de divisas, ou seja, uma possibilidade do país perder reservas reduzindo a liquidez internacional do país. Neste caso, se o país não dispuser de reservas suficientes ou não quiser delas fazer uso, pode receber empréstimo de regularização do FMI, desde que adote um programa de ajuste de acordo com as regras impostas pelo FMI. Na possibilidade de não poder adotar nenhuma dessas alternativas, as obrigações vencidas e não pagas são lançadas como atrasados. Por outro lado, podem ocorrer diferenças temporais na contabilização das transações devido a apurações inadequadas, com pouco rigor ou mesmo operações de difícil apuração (subfaturamentos, contrabando, remessas de capitais ilegais, entre outros). Assim acrescentam-se à rubrica erros e omissões dessas diferenças. Na prática ela é construída por resíduo, senão vejamos: se BP + KC = 0, então BP = - KC Sabemos, também por definição que: BP = TC + KA Como os movimentos de capitais compensatórios (KC) são informações normalmente apuradas com rigor pelo Banco Central, os erros e omissões (EO) são estimados por resíduo, da seguinte maneira: EO = - KC - (TC + KA) Para entender melhor, tomemos um exemplo numérico retirado dos resultados do Balanço de Pagamentos do Brasil para 2009 divulgado pelo Banco Central (Quadro I – SERIEBALPAG): 42 TC = - 35.063 KA = 70.799 KC = - 34.497 Aplicando na expressão acima<, temos: EO = 34497 – ( - 35.063 + 70.700) = - 1.239 Balanço de Pagamentos do Brasil No Brasil o balanço de pagamentos começou a ser contabilizado em 1947 pelo Banco do Brasil e pela Fundação Getúlio Vargas. Atualmente o órgão reponsável pela contabilização é o Banco Central. Os dados do balanço de pagamentos são publicados em milhões de dólares norte-americanos, em valores correntes, sem ajustamento sazonal. Compreendem o país como um todo e estão compilados de acordo com os critérios estabelecidos na 5ª edição do Manual de Balanço de Pagamentos do Fundo Monetário Internacional – BPM-5.(BACEN). Grande parte dos pesquisadores adota como critério para suas análises dos balanços de pagamentos do Brasil os diferentes padrões de ajustes nas contas externas ocorridos em diferentes momentos históricos. Segundo CARVALHO e SILVA(2000) 1 , “Desde o início, o saldo do balanço de pagamento em transações correntes tem sido predominantemente deficitário, o que é considerado natural para economias pobre, que dependem de poupança externa para se desenvolver.” Os autores apontam que estes déficits foram decorrentes dos déficts na conta de serviços já que o balanço 1 Economia Internacional, 2000, p.116. 43 comercial apresentou resultados predominantemente positivos no período. A exceção foi a década de 70, período que o Brasil passou também a apresentar déficits em seu balanço comercial em função do aumento dos gastos com importação resultante do choque externo imposto ao mundo pelo cartel dos países produtores do petróleo ocorrido em 1973. A década de 80, período de crise da dívida externa, se caracterizou pelos cortes nos fluxos de capitais das nações industrializadas para as nações menos desenvolvidas. CARVALHO e SILVA (2000, P. 116) lembram que, “os países devedores foram submetidos a fortes pressões para pronto pagamento dos créditos tomados no passado. Com isso foram forçados a adotar programas de ajustamentos que tinham como meta obter rápido incremento de divisas para honrar compromissos externos.” O Brasil não foi exceção. Enfrentou um período de grande recessão no início dos anos 80. “A essa situação estavam intimamente associadas às contas externas do País: as dívidas contratadas pelo Brasil nas décadas de 60 e 70 foram feitas a taxas flutuantes, as quais tiveram grande aumento no mercado internacional. Nesse período, o desequilíbrio no Balanço de Pagamentos se deveu basicamente à rubrica juros da dívida externa (NASCIMENTO & SOUZA) 2 .” O processo de ajustamento das contas externas buscou obter superávits comerciais com estímulo às exportações (maxidesvalorização do cruzeiro e redução do salário real – elementos indutores para o mercado externo), juntamente da redução nas importações. Com essa política, o balanço comercial brasileiro saiu de um déficit de US$ 2,8 bilhões em 1980 para superávits favoráveis até 1994. A política de comércio exterior dos anos 90 se caracterizou por uma maior abertura ao mercado externo (notadamente através da redução tarifária), resultando em aumentos tanto nas importações quanto nas exportações. Entre 1990 e 1991, período 2 Um breve análise do balanço de pagamentos do Brasil,p.12, disponível em: www.mdic.gov.br/arquivos/dwnl_1196954731.pdf, acessado em 21 de outubro de 2010 44 do governo Collor, houve uma drástica redução dos investimentos diretos no país e nos empréstimos e financiamentos em longo prazo. Segundo CARVALHO e SILVA (2000, P. 116) de1992 em diante o país, superada a crise de confiança em nosso governo, o país voltou a captar recursos do exterior em volumes crescentes. A implantação do Plano Real (1994) teve como uma de suas consequências a valorização do Real frente ao dólar. Com isso as importações foram estimuladas e reduziram-se as exportações. Essas políticas, cambial e comercial, levaram à queda do Balanço Comercial já em 1994 e a déficits nos 5 anos posteriores. De saldos superiores a US$ 10 bilhões por ano, o país passou apresentar déficits crescentes (US$ 3,4 bilhões em 1995 atingindo US$ 6,5 bilhões em 1999). Além disso, as altas taxas de juros proporcionaram aumento do déficit no Balanço de Serviços, trazendo como conseqüência uma queda acentuada no saldo das transações correntes (déficits de US$ 18 bilhões em 1995, US$23,5 bilhões em 1996, US$30,4 bilhões em 1997, US$33,4 bilhões em 1998). Segundo CARVALHO e SILVA (2000, P. 117), “para cobrir estes déficits o país contou com ingresso de capitais autônomos em tal volume que superou largamente a necessidade de financiamento. Por esta razão o saldo do balanço de pagamentos apresentou superávits e consequentemente aumento das reservas internacionais.” A partir dos anos 2001 o balanço de pagamentos veio registrando superávits crescentes e aumentos nas reservas internacionais. LACERDA e OLIVEIRA (2009, P.6) 3 comentam que “ a propósito dos efeitos significativos oriundos da crise financeira, se analisamos numa trajetória de médio prazo, nos últimos dez anos, o Balanço de Pagamentos Brasileiro apresentou um quadro de transformação. Por um lado ocorreu uma reversão substancial do desempenho da balança comercial. De um déficit de quase US 7,0 3 Financiamento externo e instabilidade: uma abordagem pós-keynesiana sobre a economia brasileira do período 1998-2008 , (2009), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS, disponível em: www.ppge.ufrgs.br/akb/encontros/2009/11.pdf, , acessado em 21 de outubro de 2010. 45 bilhões registrado nos anos 1997 e 1998, o saldo evoluiu consistentemente para um expressivo superávit de US$ 46 bilhões em 2006 e US$ 40 bilhões em 2007.” O volume das exportações cresceu significativamente a partir de 2002, atingindo US$ 197,9 bilhões em 2008, quase quatro vezes o volume exportado em 1997 ( US$ 57,2 bilhões). Por outro lado, apesar das importações aumentarem significativamente no período, foi possível garantir o superávit do balanço comercial. Em 2009 o valor das exportações foi menor mais ainda apresentou resultado significativo, US$ 152,9 bilhões. As importações atingiram US$ 127,7 bilhões, garantindo um superávit de US$ 25,3 bilhões. Com relação ao Balanço de Serviços, as remessas de lucros e dividendos para o exterior e o pagamento de juros foram os fatores preponderantes para que o déficit no período. LACERDA e OLIVEIRA (2009, p. 7) afirmam que “ o impacto das exportações sobre o resultado de transações correntes e o superávit nas contas de capital são importantes para explicar a reversão do resultado total do balanço de pagamentos”. Assim, o desempenho positivo que o balanço de pagamentos vem registrando indica que o Brasil vem caminhando no sentido de melhorar sua fragilidade externa. 4 Os fluxos de capitais vêm aumentando o nível das reservas internacionais do país, atingindo um recorde de US$ 238 bilhões em 2009, além de diminuir o endividamento externo do país. “A vulnerabilidade externa ou fragilidade externa significa uma baixa capacidade de resistência das economias nacionais frente a fatores desestabilizadores ou choques externos. A vulnerabilidade tem duas dimensões igualmente importantes. A primeira envolve as opções de resposta com os instrumentos de política disponíveis; e a segunda incorpora os custos de enfrentamento ou de ajuste frente aos eventos externos. 4 A discussão deste tema não é parte do programa desta disciplina. Para aprofundar seus conhecimentos acesse os estudos de LACERDA e OLIVEIRA (2009) e GONÇALVES, R. (1998) anteriormente citados. 46 Assim, a vulnerabilidade externa é tão maior quanto menor forem às opções de política e quanto maiores forem os custos do processo de ajuste”. GONÇALVES, R. (1998) Globalização Econômica e Vulnerabilidade Externa. Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, disponível em: www.reggen.org.br/midia/documentos/globalizacaoeconomica. pdf, acessado em 25 de outubro de 2010. Na próxima parte faremos a articulação entre balanço de pagamentos, reservas internacionais e dívida externa. Para saber mais sobre Balanço de Pagamentos do Brasil acesse os endereços abaixo: http://www.bcb.gov.br/sddsp/balpagam_p.htm http://www.fazenda.gov.br/spe/publicacoes/conjuntura/ informativo_economico/2010/2010_09/setor_externo/IE %202010%2009%2021%20BALAN%C3%87O%20DE% 20PAGAMENTOS.pdf www.bcb.gov.br/?SERIEBALPAG http://www.bcb.gov.br/?BOLETIM RESERVAS INTERNACIONAIS E DÍVIDA EXTERNA Reservas Internacionais Entende-se como reservas internacionais o estoque de ativos que um país possui em poder das autoridades monetárias (Banco Central). Estes ativos ficam disponíveis para o pagamento de dívidas ou aquisição de direitos de não-residentes de um país. Essa reservas são constituídas: 47 pelo estoque de divisas estrangeiras e títulos externos ; pela posição de ouro monetário; pelos direitos especiais de saque (DES); pelas reservas do país em poder do FMI. As reservas têm origem nos fluxos de entrada e de saída de divisas estrangeiras. O esquema abaixo mostra os principais fluxos de entrada e saída de divisas estrangeiras. Fonte: ROSSETTI -1997 DES é uma moeda escritural emitida pelo FMI que tem seu valor definido a partir de uma cesta das cinco moedas dos países com maior participaçãp nas trocas internacionais: França (Euro), Alemanha (Euro), Japão (iene), Reino Unido (libra esterlina) e Estados Unidos (dólar). 48 Quando há desequilíbrios nestes fluxos, mais entradas que saídas, o banco central acumula reservas. Inversamente, quando o país é deficitário, há uma saída de divisas que o banco central cobre fazendo uso das reservas em estoque, provocando a variação das reservas cambiais. “Mas as implicações não se limitam à alteração desse variável. Vão além, podendo afetar o processo de acumulação externa líquida e os graus de endividamento externo do país. Vistas em conjunto, as implicações dependerão das origens do desequilíbrio (se em transações correntes ou em movimentos de capital ) e dos padrões das operações compensatórias.” ROSSETTI (1997). A razão disto é que um dos papéis das reservas internacionais é de financiar os déficits temporários no balanço de pagamentos”. Neste sentido, a variação das reservas internacionais depende do padrão do balanço de pagamentos, ou seja, dos desequilíbrios que possam ocorrer nas transações correntes e da forma como os eventuais déficits serão cobertos, por empréstimos e financiamentos e por movimentos autônomos de capital. Reservas Internacionais do Brasil Segundo o Banco Central reservas internacionais brutas compreendem ativos externos prontamente disponíveis, sob controle do Banco Central, cujaprincipal função é o financiamento de desequilíbrios no balanço de pagamentos ou a regulação da magnitude desses desequilíbrios, pelo ajuste do nível da taxa de câmbio mediante intervenção no mercado de câmbio. Abrangem haveres no Banco Central e a posição de reserva no FMI. As reservas internacionais brasileiras no Banco Central são constituídas por ouro monetário, DES e ativos em moeda estrangeira, representados por depósitos (overnight, acordo de recompra no FED, prazo fixo), títulos, títulos de exportação (até outubro de 2000), créditos cedidos a outros países (até fevereiro de 2001) e créditos cursados em acordo de convênio. A posição de reserva no FMI também é computada nas reservas no Banco Central. Um depósito overnight é um depósito negociado no mercado monetário interbancário, vigente do dia da negociação. 49 Reservas Internacionais do Brasil Ativos de reservas oficiais e outros ativos em moeda estrangeira Liquidez - US$ milhões Dez/07 Dez/08 Dez/09 Set/10 Ativos de Reserva Oficiais 1/ 180.334 193.783 238.520 275.206 Reservas em moeda estrangeira (em divisas conversíveis) 163.526 190.929 228.644 264.013 (a) Títulos 156.057 188.746 219.933 240.016 dos quais: emissor sediado no Brasil, mas domiciliado no exterior - - - - (b) Total de moeda e depósitos em: 7.470 2.183 8.711 23.997 Outros bancos centrais, BIS e FMI 2/ 250 253 253 18.727 Bancos sediados no Brasil - - - - dos quais: domiciliados no exterior - - - - Bancos sediados no exterior 2/ 7.220 1.931 8.459 5.271 dos quais: domiciliados no Brasil - - - - Posição de reserva no FMI - - 946 1.582 DES 2 1 4.510 4.495 Ouro (inclusive depósitos de ouro) 3/ 901 940 1.175 1.412 Volume em mil onças troy 1.080 1.080 1.080 1.080 15878+5815Outros ativos de reservas 15.905 1.913 3.244 3.703 Instrumentos derivativos -32 - - -13 Empréstimos a não residentes não bancários 4/ 58 34 9 89 Cédulas e moedas - - - - Títulos adquiridos com acordo de recompra 5/ 15.878 1.880 3.234 3.628 Outros Ativos em Moedas Estrangeiras - - - - 1/ Valores marcados a mercado desde novembro de 2000. 50 2/ A partir de maio de 2010, dado revisado em função de correção de erro no sistema de apuração. 3/ Engloba estoque de ouro financeiro disponível e depósitos a prazo. 4/ Inclui valores de créditos de exportação. 5/ Títlulos adquiridos, com compromisso de recompra, com a entrega de outros títulos em operação reversa. 6/ Até abril de 2006: garantias colaterais, constituídas por títulos do Tesouro americano custodiados no Banco de Compensações Internacionais (BIS). 7/ Até abril de 2006: garantias colaterais, constituídas por depósitos em aplicações no BIS. 8/ Créditos decorrentes de reestruturação da dívida da Polônia. Fonte: Banco Central do Brasil disponível em: http://www.bcb.gov.br/pec/sdds/port/templ1p.shtm, acessado em 20 de outubro de 2010 DICAS DE LEITURA: Relatório de Gestão das Reservas Internacionais, BANCO CENTRAL DO BRASIL, Junho 2010, v2, disponível em: http://www.bcb.gov.br/?GESTAORESERVAS Vonbun, C. Reservas Internacionais para o Brasil: Patamares Ótimos e Custos Fiscais, disponível em: http://ppe.ipea.gov.br/index.php/ppe/article/viewFile/11 54/1063 Dívida Externa Atualmente, dívida externa é um dos assuntos mais polêmicos porque envolve uma grande parte dos países. A dívida começa a existir a partir das relações internacionais de compra e venda de produtos. Excepcionalmente um balanço de pagamentos apresenta equilíbrio em sua contabilização. Situações de déficits ou superávits ocorrem normalmente nas transações econômicas de um país com o exterior. Costuma-se interpretar que um país que apresente 51 superávit em suas transações adotou uma política econômica de sucesso. O contrário, acúmulo de sucessivos déficits indica que o do futuro do país está comprometido. Sabemos que quando um país estabelece relações econômicas com resto do mundo pode tanto receber como enviar bens e serviços para o exterior. Remessas maiores que recebimentos indicam que houve um superávit no balanço de pagamentos em conta corrente. O contrário, remessas menores que os recebimentos caracterizam uma situação de déficit e os residentes do país, consequentemente estão aumentando sua dívida com o exterior. A dívida externa compreende o total apurado em determinada data dos débitos contratuais efetivamente desembolsados e ainda não quitados, devidos por residentes de uma economia aos não residentes, onde haja a obrigatoriedade de pagamento de principal e/ou juros em algum(s) ponto(s) no futuro. OS TIPOS DE DÍVIDAS Uma dívida pode ser privada ou pública, interna ou externa. Quando falamos que uma dívida é pública ou privada, estamos nos referindo a quem contraiu o empréstimo: se foi uma pessoa física ou uma empresa privada, a dívida é privada; se foi um órgão público, a dívida é pública. Já quando falamos que uma dívida é interna ou externa, nos referimos ao tipo de moeda em que essa dívida terá que ser paga: se a dívida pode ser paga em reais, trata- se de dívida interna; se a dívida tem que ser paga em moeda estrangeira, trata-se de dívida externa. Portanto, existem: dívida pública interna, dívida pública externa, dívida privada externa, dívida privada interna. Na perspectiva do desenvolvimento econômico e social, as dívidas mais importantes são a dívida interna (pública) e a dívida externa (pública mais privada). A primeira impõe constrangimentos ao orçamento público, enquanto a última aumenta a restrição das contas externas e provoca políticas e estratégias de ajuste com efeitos profundos e amplos sobre a sociedade. GONÇALVES e POMAR (2001) 52 Para o Banco Central a dívida externa bruta compreende as operações de dívida contraídas sob a forma de empréstimos em moeda de curto, médio e longo prazos, de importação financiada, arrendamento mercantil (Leasing) e financiamento de serviços, com prazo de pagamento superior a 360 dias, registradas no sistema Registro Declaratório Eletrônico – Registro de Operações Financeiras (RDE-ROF) do Banco Central do Brasil, e outros passivos oriundos do Plano Contábil das Instituições Financeiras (Cosif), das linhas de créditos no exterior de empresas estatais e do saldo devedor do Convênio de Créditos Recíprocos (CCR) – o CCR é um convênio em moeda estrangeira firmado entre o Banco Central do Brasil e os bancos centrais dos países participantes (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela). A dívida externa brasileira é uma herança que vem sendo aumentada desde a Independência e representa hoje o maior problema para o crescimento econômico do país.5 Segundo GONÇALVES e POMAR (2001), “o Brasil é um país endividado. A dívida externa brasileira passou por vários ciclos de crescimento. Nos últimos 30 anos (1968/1999), em valores nominais, o estoque da dívida externa brasileira cresceu 237 bilhões de dólares! Se tomarmos como ponto de partida o ano de 1982 (crise do México), o estoque cresceu 158 bilhões de dólares. Se nos limitarmos ao período (1995/1998), correspondente ao primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, o estoque da dívida cresceu 99 bilhões de dólares.” A partir de 2006, a dívida externa vem aumentando, passando de US$ 175,6 bilhões para US$ 228,6 bilhões em 2009. 5 GONÇALVES & POMAR. O Brasil endividado (2001), São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2ª. reimpressão, disponível em: http://www.fpabramo.org.br/o-que-fazemos/editora/livros/brasil- endividado-o-como-divida-externa-aumentou-mais-de-us-100-bilhoes53 Em nota para imprensa, divulgada recentemente o Banco Central informa que “a dívida externa total para setembro de 2010 foi estimada em US$243,8 bilhões, com elevação de US$8 bilhões em relação à posição estimada para o mês anterior. Em setembro, a dívida externa de longo prazo totalizou US$190,8 bilhões, com 54 crescimento de US$3 bilhões, enquanto a dívida externa de curto prazo, que atingiu US$53 bilhões, cresceu US$5 bilhões. Os principais fluxos que afetaram o estoque da dívida externa de longo prazo foram ingressos líquidos de títulos, US$1,2 bilhão, e de empréstimos diretos, US$935 milhões. O incremento de estoque devido a variações de paridades foi estimado em US$1,2 bilhão. Quanto à dívida externa de curto prazo, o acréscimo observado deveu-se à elevação de US$4,3 bilhões verificada no saldo dos empréstimos diretos em moeda, e ao aumento de US$784 milhões ocorrido nas obrigações em moedas estrangeiras dos bancos comerciais.” (Banco Central, NOTA PARA A IMPRENSA - 25.10.2010, Setor Externo, disponível em: http://www.bcb.gov.br/?ecoimpext) DICAS DE LEITURA: GONÇALVES & POMAR. O Brasil endividado (2001), São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2ª. reimpressão, disponível em: http://www.fpabramo.org.br/o-que- fazemos/editora/livros/brasil-endividado-o-como-divida- externa-aumentou-mais-de-us-100-bilhoes NIEMEYER, N. Dívida Externa Brasileira de 1999 a 2002: Interagindo em um Mercado Financeiro Internacional Instável em Situação de Extrema Vulnerabilidade Externa (2004), PUC, São Paulo, disponível em: http://www.sep.org.br/artigo/25_NIEMEYER.pdf A próxima unidade será dedicada a entender a relação entre os pagamentos internacionais e a taxa de câmbio. Bom estudo para você. 55 EXERCÍCIOS 1- Numa determinada economia, o valor das exportações (FOB) é de 18 bilhões de dólares e o valor das importações (CIF) é de 19 bilhões de dólares, sendo que os fretes e seguros sobre as importações correspondem a, respectivamente, 2 bilhões e 1 bilhão de dólares. O saldo da balança comercial é: a) um superávit de 2 bilhões de dólares. b) um déficit de 1 bilhão de dólares. c) um superávit de 1 bilhão de dólares. d) um déficit de 4 bilhões de dólares. e) nem déficit, nem superávit. 2- Um país paga juros sobre sua dívida externa para um outro país credor. Esta transação será registrada no Balanço de Pagamentos do país devedor com valor: a) negativo no balanço de serviços. b) positivo no balanço de serviços. c) negativo no balanço de capitais autônomos. d) positivo no balanço de capitais autônomos. e) negativo no balanço de capitais compensatórios . 3- Identifique a transação classificada como movimento de capitais autônomos na estrutura do balanço de pagamentos. a) Remessa de lucros para o exterior. b) Amortização de empréstimos externos. c) Remessa de royalteis para o exterior. d) Pagamentos de seguros sobre importação. e) Pagamentos de juros de empréstimos externos. 4- Considere as seguintes operações realizadas entre residentes e não residentes num determinado ano (em milhões de dólares): 1- O país exporta, recebendo à vista, mercadorias no valor de U$$100 milhões. 56 2- O país importa, pagando à vista, mercadorias no valor de U$$110 milhões. 3- Ingressam no país, sob forma de investimento direto, U$$70 milhões em forma de bens de capital. 4- Ingressam no país, sob forma de investimento de curto prazo, em moeda estrangeira U$$80 milhões. 5- O país paga ao exterior U$$50 milhões sob forma de juros e lucros. 6- O país paga ao exterior U$$10 milhões sob forma de fretes. 7- O país recebe de residentes no exterior um total de U$$25 milhões. 8- As empresas estrangeiras instaladas no país reinvestem U$$5 milhões nesse país. Com base nestas operações, pode-se afirmar que o saldo do balanço comercial, o saldo do balanço de serviços , o saldo do balanço de pagamento em conta corrente e o saldo total do balanço de pagamentos são respectivamente, a) - 80, - 65, - 120, + 35. b) - 10, - 60, - 45, + 110. c) - 10, - 65, - 50, + 105. d) - 80, - 60, - 115, + 40. e) + 80, +60, +165, +320. 5- Uma economia apresentou, em determinado ano, o seguinte registro de suas transações com o exterior: 57 Exportações de mercadorias (FOB) = 100 Importações de mercadorias (FOB) = 90 Donativos ( saldo líquido recebido)= 5 Saldo do Balanço de Pagamentos em conta corrente (déficit) = - 50 Movimento de capitais autônomos ( entrada líquida) = 10 Então, o saldo do balanço de serviços é: a) - 65 (déficit) b) - 70 (déficit) c) - 35 (déficit) d) 10 (superávit) e) - 15 (déficit) 6- Identifique o item abaixo que não se acha incluído na rubrica de conta corrente do balanço de pagamentos: a) as exportações de bens e serviços. b) as importações de bens e serviços. c) os fluxos de entrada de capital. d) as doações do governo. e) as doações recebidas pelo governo. 7- Quanto ao balanço de pagamentos de um país, sabe-se que: 58 a) o saldo total do balanço de pagamentos é igual à soma da balança comercial com o balanço de serviços, salvo erros e omissões. b) o saldo de transações correntes, se positivo (superávit), implica na redução em igual medida do endividamento externo bruto, no período. c) a soma do movimento de capitais autônomos com o de capitais compensatórios iguala (com o sinal trocado) o saldo de transações correntes, salvo erros e omissões . d) a soma do movimento de capitais autônomos com o de capitais compensatórios iguala ( com o sinal trocado) o saldo do balanço de pagamentos e) o saldo total do balanço de pagamento é igual à soma da balança comercial com o balanço de serviços e as transferências internacionais, salvo erros e omissões . 8- Considere que um país tenha realizado ao longo do ano as seguintes transações com o exterior ( em unidades monetárias) : Exportação de soja : 500 Importações de petróleo :350 Pagamentos de juros de dívida externa : 50 Lucro reinvestido: 30 Remessa de lucros: 40 Refinanciamento de juros: 60 Pagamento de fretes e seguros : 100 Amortização de dívida: 70 Obtenção de empréstimos : 120 Temos que a( o) : 59 a) Transferência líquida de recursos ao exterior é igual a 150 b) Saldo da conta de captais autônomos é igual a 50 c) Renda líquida enviada ao exterior é igual a 180 d) Variação de reservas é negativa e igual a - 80 e) Saldo em transações correntes é igual a - 40 9- O Balanço de Pagamentos de determinado país acusa déficit em conta corrente e superávit no saldo total. O que se pode afirmar, supondo que não haja erros e omissões? ____________________________________________________ ____________________________________________________ 10- Considerem os seguintes dados das contas nacionais do Brasil (valores hipotéticos): Saldo da balança comercial 450 Exportação de serviços (não-fatores) 250 Importação de Serviços (não-fatores) 150 Saldo das transações correntes do País com o exterior (déficit) 150 Donativos líquidos recebidos do exterior (superávit) 50 Movimento de capitais autônomos (entrada
Compartilhar