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Aula 03-PENAL - Extinção da punibilidade

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DIREITO PENAL 
 
Aula 3 
 
 
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE 
 
CONSIDERAÇÕES GERAIS 
 
Punibilidade 
 
• Punibilidade é consequência da infração penal e não elemento desta, portanto não a extingue, 
salvo anistia e abolitio criminis. 
 
• A abolitio criminis funciona como causa superveniente de extinção da tipicidade. 
 
• Anistia gera atipicidade temporária do fato. 
 
Rol exemplificativo 
 
• O rol do art. 107 do CP é exemplificativo. 
 
Efeitos 
 
• A extinção da punibilidade que atinge a pretensão punitiva apaga todos os efeitos penais 
(ex.: não será reincidente). Os extrapenais continuam (ex.: obrigação de reparar o dano). 
 
• A extinção da punibilidade que atinge a pretensão executória apaga somente o efeito 
principal (a pena) da condenação (ex.: ainda será reincidente), exceto no caso de abolitio 
criminis e anistia. 
 
 
 
CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE DO CÓDIGO PENAL 
 
Estão previstas no art. 107 do CP: 
 
“Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: 
I - pela morte do agente; 
II - pela anistia, graça ou indulto; 
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; 
IV - pela prescrição, decadência ou perempção; 
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; 
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; 
VII e VIII (Revogados pela Lei nº 11.106, de 2005) 
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.” 
 
 
MORTE DO AGENTE 
 
• Extingue todas as espécies de penas (inclusive de multa). 
 
• Atinge todos os efeitos penais (primários e secundários). 
 
• Após o trânsito em julgado subsistem os efeitos extrapenais (obrigação de reparar o dano e o 
perdimento de bens) por previsão expressa na CF, art. 5º, XLV. 
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• É causa personalíssima de extinção que não se comunica aos demais coautores. 
 
• A morte somente se prova pela certidão de óbito (CP, art. 62). 
 
o E se foi proferida sentença extintiva com base em certidão de óbito falsa? 
 
▪ 1ª corrente: o réu somente pode ser processado pelo crime de falso, pois não 
há revisão criminal pro societa (dominante na doutrina). 
 
▪ 2ª corrente: a sentença pode ser revogada, pois não fez coisa julgada em 
sentido estrito, sendo inexistente por se basear em documento falso (STF e 
STJ). 
 
 
ANISTIA 
 
Conceito 
 
• É o esquecimento jurídico de uma ou mais infrações penais (Damásio de Jesus). 
 
• É a exclusão, com efeitos retroativos, de fatos criminosos do campo de incidência do campo 
penal. 
 
• Atinge somente fatos e não indivíduos. 
 
Competência para a concessão 
 
• A anistia é concedida pelo Congresso Nacional, por lei ordinária (CF, arts. 21, XVII, e 48, VIII). 
 
Competência para declarar a extinção da punibilidade 
 
• No caso de anistia a competência para declarar a extinção da punibilidade é do juiz, de ofício, 
ou a requerimento do interessado ou do Ministério Público, por proposta da autoridade 
administrativa ou do Conselho Penitenciário (LEP, art. 187). 
 
• Será do juiz (1º grau de conhecimento), do Tribunal (grau de recurso ou competência 
originária) ou do juízo das execuções (fase de execução), a depender de onde esteja 
tramitando o processo. 
 
Efeitos da sentença extintiva 
 
• Na anistia a sentença possui efeitos ex tunc (para o passado), apagando todos os efeitos 
penais (primários e secundários), rescindindo até mesmo a condenação. 
 
• Permanecem os efeitos civis. 
 
Inaplicabilidade 
 
• A anistia, assim como o indulto e a graça (indulto individual), não se aplicam aos crimes 
hediondos, à tortura, ao tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e terrorismo (art. 2º, I, da 
Lei de Crimes Hediondos e art. 5º, XLIII, da CF): 
 
o "Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e 
drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: 
I - anistia, graça e indulto; (...)" 
 
"Art. 5º (...) 
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XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a 
prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os 
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores 
e os que, podendo evitá-los, se omitirem;" 
 
 
DO INDULTO E DA GRAÇA (INDULTO INDIVIDUAL) 
 
Conceito e considerações gerais 
 
• O Indulto e a graça (indulto individual) são modalidades de clemência concedida a um 
destinatário certo (benefício individual), no caso da graça (indulto individual), ou a vários 
beneficiários, no caso do indulto. 
 
o Exemplo de indulto: Decreto nº 8.940, de 22 de dezembro de 2016 (indulto natalino).
 
 
• Em regra, a graça (indulto individual) é concedida por provocação do interessado; o indulto 
de forma espontânea pelo Presidente da República aos condenados que preencherem os 
requisitos legais. 
 
• A graça e o indulto, diferentemente da anistia, não dizem respeito a fatos criminosos, mas 
sim a pessoas, tratando-se de variados motivos, como de ato humanitário, por exemplo. 
 
• O indulto também pode incidir na medida de segurança (INFO 806/STF). 
 
• Aplicam-se aos crimes de ação penal pública ou privada. 
 
• Falta grave e interrupção do prazo 
 
o Súmula 535/STJ: “A prática de falta grave não interrompe o prazo para fim de 
comutação de pena ou indulto.”. 
 
o OBS: pode impedir o benefício se for previsto expressamente no decreto presidencial. 
 
Natureza jurídica 
 
• O indulto e a graça (indulto individual), assim como a anistia, são causas de extinção da 
punibilidade (CP, art. 107, II). 
 
Competência para a concessão 
 
• O indulto e a graça (indulto individual) são concedidos pelo Presidente da República, através 
de decreto (CF, 84, XII): 
 
o "CF, art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: 
(...) 
XII - conceder INDULTO e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos 
instituídos em lei; (...)" 
 
• Embora a competência para conceder a graça (indulto individual) não esteja prevista 
expressamente no art. 84, XII da CF, entende-se que está implícito, pois a expressão "indulto" 
aborda também o "indulto individual", sinônimo da graça. 
 
Competência para declarar a extinção da punibilidade 
 
• Concedido o indulto ou a graça (indulto individual), o Juiz declarará extinta a pena ou ajustará 
a execução aos termos do decreto, no caso de comutação (LEP, art. 192). 
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Delegação 
 
• É permitida a delegação para a concessão do indulto ou da graça (indulto individual) aos 
Ministros de Estado, ao PGR ou ao AGU (CF, art. 84, parágrafo único): 
 
o "Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuições 
mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao 
Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os 
limites traçados nas respectivas delegações." 
 
Efeitos da sentença extintiva 
 
• No indulto e na graça (indulto individual) a sentença extingue apenas os efeitos primários da 
condenação, ou seja, a própria pena (efeito principal). 
 
• Os efeitos penais secundários, como a reincidência, e os extrapenais, como a obrigação de 
reparar o dano, subsistem. 
 
• OBS: quais são os efeitos penais e extrapenais? 
 
o Efeitos penais: 
 
▪ Primários: submeter o condenado à execução forçada. 
▪ Secundários: interrupção da prescrição, reincidência, poder de revogar o 
“sursis” etc. 
 
o Efeitos extrapenais: 
 
▪ Ex.: Genéricos (CP, art. 91): obrigação de indenizar, perda em favor da 
União, dos instrumentos do crime, do produto do crime; 
 
▪ Ex.: Específicos (CP, art. 92): perda de cargo, função pública ou mandato 
eletivo; a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela; a 
inabilitação para dirigir veículo, etc. 
 
Inaplicabilidade 
 
• O indulto e a graça (indulto individual), assim como a anistia, não se aplicam aos crimes 
hediondos, à tortura, ao tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e terrorismo (art. 2º, I, da 
Lei de Crimes Hediondose art. 5º, XLIII, da CF): 
 
o "Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e 
drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: 
I - anistia, graça e indulto; (...)" 
 
"Art. 5º (...) 
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a 
prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os 
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores 
e os que, podendo evitá-los, se omitirem;" 
 
 
ABOLITIO CRIMINIS 
 
• Requisitos: 
 
o Revogação formal do tipo; 
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o Supressão material do fato criminoso. 
 
• Princípio da continuidade normativo-típica: 
 
o Há alteração formal do tipo; 
o A intenção do legislador é manter o fato criminoso; 
o Não ocorre abolitio criminis; 
o Ex.: revogação do art. 214, do CP (atentado violento ao pudor), mas o fato passou a ser 
previsto no art. 213, do CP. 
 
• Natureza jurídica: é causa extintiva da punibilidade (CP, art. 107): “Extingue-se a punibilidade: 
(...) III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso”. 
 
• Coisa julgada: não respeita a coisa julgada. 
 
 
 
DECADÊNCIA 
 
Conceito 
 
• Decadência é a perda do direito de queixa ou de representação em razão da inércia do seu 
titular por determinado tempo. 
 
Natureza jurídica 
 
• A decadência é causa de extinção da punibilidade (CP, art. 107, IV). 
 
Prazo 
 
• O prazo, salvo se outro dispuser a lei, é de 06 meses a contar (CP, art. 103): 
 
o do dia em que o ofendido veio a saber quem é o autor do crime; ou 
o do esgotamento do prazo para o oferecimento da denúncia, no caso de ação penal 
privada subsidiária da pública 
 
• O prazo tem natureza penal, contando-se na forma do art. 10 do CP (incluindo-se o dia do 
começo e excluindo-se o do vencimento). 
 
• O prazo é para o oferecimento e não para o recebimento da queixa-crime. 
 
• O prazo decadencial é preclusivo e improrrogável, não havendo causas suspensivas ou 
interruptivas. 
 
• No crime continuado o prazo conta-se separadamente para cada delito parcelar. 
 
• No crime habitual o prazo conta-se do último fato praticado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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TABELA – DIFERENÇAS ENTRE DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO 
 
 DECADÊNCIA PRESCRIÇÃO 
 
Somente ocorre antes da propositura da 
ação. 
Pode ocorrer antes ou durante a ação ou, ainda, 
após o transito em julgado. 
Somente ocorre na ação privada ou pública 
condicionada. 
Ocorre em qualquer tipo de ação. 
Extingue o direito de queixa ou de 
representação. 
Extingue o direito de punir. 
O prazo não se suspende, nem se 
interrompe. 
O prazo pode ser suspenso ou interrompido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ATIVIDADE PÓS-AULA 
 
 
Com base na aula, responda o exercício, apontando a resposta correta e 
justificando cada uma das alternativas, fundamentando na lei, doutrina e na 
jurisprudência, quando for o caso. 
 
EXERCÍCIO 
 
1) Assinale a opção que apresenta motivos que extinguem a punibilidade. 
 
a) Morte do agente; retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; e, nos crimes de 
ação privada, renúncia ao direito de queixa ou perdão aceito 
b) Anistia, graça ou indulto; retroatividade de lei que não mais considera o fato como 
criminoso; e, nos casos de crimes patrimoniais, reparação do dano. 
c) Prescrição, decadência ou perempção; renúncia do direito de queixa ou perdão aceito, nos 
crimes de ação pública; e prescrição, decadência ou perempção. 
d) Casamento do agente com a vítima, nos crimes contra os costumes definidos na Parte 
Especial do Código Penal; morte do agente; e prescrição, decadência ou perempção. 
e) Anistia, graça ou indulto; retroatividade de lei que não mais considera o fato como 
criminoso; perdão extrajudicial, concedido pela vítima nos crimes praticados sem violência 
ou grave ameaça.

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