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➢ Autor: Gregório de Matos Guerra (“Boca do in- ferno”) 1633 (ou36). Filho de um senhor de en- genho. Gregório formou-se em direito em Coim- bra. Em Lisboa exerceu o cargo de juiz do cível. No Brasil, em certa altura da sua vida, abando- nou tudo percorrendo o interior da Bahia como cantador itinerante. Neste momento, conviveu com todas as camadas da população. Devido a sua vertente satírica acabou sendo exiliado na Angola podendo regressar ao Brasil, mas não a Bahia. Morreu em 1696; ➢ Movimento literário: Barroco (século XVII); o Gregório foi extremamente influenciado por Luis de Góngora. ➢ Gênero literário: lírico; ➢ Organizado por José Wisnik, e publicado em 1975, o livro abrange 173 poemas, os quais fo- ram divididos em: o Poesia de circunstância (poesia satírica e poesia encomiástica); o Poesia amorosa (lírica e erótico-irônica); o Poesia religiosa. ➢ A poética gregoriana reflete perfeitamente as características do Barroco seiscentista, um es- tilo artístico ancorado no gosto dos contrários (fusionismo), com o manejo quase constante das antíteses e paradoxos. A poesia gregoriana re- vela o ambiente barroco da dúvida (feísmo), das incertezas da vida e do gosto pelos temas fúne- bres; ➢ A linguagem barroca é sinuosa, não linear, bem à imagem da Ouroboros, a serpente que morde a própria cauda, representando o movimento cí- clico do conhecimento. Na poética do Barroco, por exemplo, a sintaxe visual organiza-se em função de relações inéditas na torsão dos ter- mos, num jogo de relações que transita o núcleo da poesia para suas extremidades num movi- mento que representa a elipse, daí que surgiu o retorcimento da coluna; ➢ Quando Gregório volta ao Brasil, já formado em leis, diz-se que ele se dedica mais fortemente ao seu trabalho poético. Começa a fazer sátiras constantes à sociedade colonial baiana, como forma de “punir” as atrocidades ali cometidas. A Bahia era o berço de uma sociedade colonial em construção, o berço de uma nova cultura, com suas mesclas, embebida pelas festas coloniais, pela religiosidade exacerbada e punitiva, pela co- mercialização marítima, pelo sistema escravista, pela gente que nascia. ➢ Tem o propósito de ridicularizar o que é retra- tado, com o intuito de provocar humor. É uma forma de denunciar os defeitos do outro, espe- cialmente o comportamento hipócrita daqueles que viveram o século XVII; ➢ Retrato forte de uma Bahia pautada pela injus- tiça e ganância se faz presente nos poemas; ➢ É possível encontrar um profundo lamento pela situação da Bahia do século XVII; ➢ Encontramos comentários ácidos acerca da in- competência dos governantes da Bahia; ➢ Alguns problemas sociais e econômicos vividos na Bahia são denunciados: a fome e os pecados da Bahia”; ➢ A esperteza das pessoas que tentam ganhar vantagem em cima dos outros e das circunstân- cias também é retratada; ➢ A severa crítica quanto ao comportamento das pessoas também pode ser notada quando o po- eta julga aqueles que entende por plebe; ➢ Os caramurus, descendentes dos portugueses, e os indígenas, são evocados. Aqui nota-se o ressentimento de Gregório de Matos, uma vez que o autor é um homem nascido em uma famí- lia branca e privilegiada, agora sendo obrigado a perceber o sucesso financeiro de camadas da população que não compartilham o mesmo berço de ouro; ➢ O governador Antônio Luís da Câmara Coutinho também é satirizado por meio de uma crítica ao seu corpo e ao seu comportamento enquanto governante; ➢ Dono de um nome parecido com Antônio Luís da Câmara Coutinho, Antônio Luís de Sousa Mene- zes, que governou entre 1684 e 1687, também é satirizado. Encontramos a sátira sobre Mene- zes, chamado de Braço de Prata; ➢ Há, também, uma crítica ao comportamento do Padre Lourenço Ribeiro, que, um dia, desdenhou dos poemas de Gregório de Matos; ➢ O comportamento pouco adequado dos religiosos também é denunciando, assim como a própria Igreja, mas, ao contrário do anterior, há aqui um nome a ser criticado, o do frei Miguel Novelos; ➢ Questões provenientes de Portugal se fazem presente, uma vez que há uma crítica severa àqueles que esperavam pelo retorno impossível do Dom Sebastião, rei de Portugal morto em uma batalha em Marrocos, ainda no século XVI. Os sebastianistas, como eram chamadas as pessoas que ainda tinham fé de que o rei havia sobrevivido e voltaria para governar Portugal, são chamados de bestianistas por Gregório, de modo a ironizar toda a espera do grupo; ➢ Ao contrário da poesia satírica, concentrada em denunciar, por meio da ridicularização do retra- tado, a poesia encomiástica não tem o intuito de provocar humor. Por conta disso, não apresenta a mesma acidez da sátira. Em comum, no en- tanto, tanto a poesia satírica quanto a encomi- ástica tratam de eventos e pessoas do cotidi- ano; ➢ Para organizar a seção, foi selecionado apenas os poemas que fazem menção às figuras relaci- onadas à Bahia do século XVII, como governado- res, bispos, entre outros. A única pessoa que não é mencionada nominalmente está presente no soneto “A um Fulano da Silva, excelente can- tor, ou poeta”, em que elementos da mitologia grega são evocados para elogiar o homenageado anônimo; ➢ Chamamos a atenção para o fato de que o Braço de Prata, Antônio Luís de Sousa Mene- zes, cuja sátira integra o livro, é mais uma vez evocado por Gregório de Matos. Dessa vez, no entanto, a sua menção se dá de maneira elogi- osa, sendo chamado, inclusive, de herói; ➢ O único espaço físico contemplados pela poesia encomiástica de Gregório de Matos é a ilha de Gonçalo Dias, onde o poeta foi refugiado e, mui- tas vezes, contou com a proteção do governa- dor; ➢ Tem por tema as damas brancas da fidalguia brasileira, centrando-se em respeitosos versos elogiosos, enquanto a erótico-irônica tem como temática as minorias da sociedade, como as mu- lheres negras, mulatas e as freiras. São elas os objetos de escárnio do poeta, sempre elitista; ➢ As religiosas são contempladas na poesia lírica a partir de uma abordagem distinta da poesia eró- tico-irônica. Isso porque, na poesia erótico- irô- nica, Gregório de Matos tem como alvo de sua acidez apenas as freiras que não seguem o comportamento esperado pela Igreja. ➢ Perceba a diferença de abordagem, inclusive, na maneira como os títulos são distribuídos. No pri- meiro poema lírico que compõe a seção, conhe- cemos Ângela, senhora branca da fidalguia bai- ana. A mesma mulher é outra vez tema de um soneto, no qual Gregório de Matos lamenta o fato de não ter conseguido tê-la como esposa; ➢ Outra mulher branca que se encontra presente na seção da poesia lírica é Angélica, cujo nome dá uma aura de anjo à sua figura, estratégia de Gregório de Matos para idealizar a dama, da mesma maneira como faz com Ângela, mencio- nada anteriormente. O nome da mulher é asso- ciado ao angelical já no primeiro verso; ➢ Na poesia lírica de Gregório de Matos, um nome frequente é o de Floralva, dama que conheceu o poeta em Pernambuco (proibido de voltar para a sua Bahia após seu exílio, Gregório de Matos en- contra asilo em Pernambuco, onde conhece Flo- ralva). Note que, assim como Angélica e Ângela, o nome faz menção à pureza, de modo a reme- ter à flor e à brancura. À mulher é destinado quase uma parte especial da lírica gregoriana; o Como se quatro sonetos destinados à mesma dama não fossem o suficiente, Gregório de Matos escreve mais textos para Floralva, numa sequência que re- vela o desejo da conquista e a idealiza- ção da mulher da fidalguia branca; o Apesar dos esforços de Gregório de Matos, Floralva não corresponde às ex- pectativas do poeta. Talvez por isso, na poesia erótico-irônica, a mulher é con- templada com um poema cujo tom em muito se difere dos demais, presentes na poesia lírica. ➢ A poesia lírica não é direcionadaapenas às da- mas brancas da alta sociedade brasileira do sé- culo XVII. Também podemos mencionar sonetos em que elementos da natureza são usados como ponto de partida para refletir acerca do estado de espírito do eu lírico e poemas centra- dos em refletir sobre o peso da vida; ➢ Com tom bastante diferente da poesia lírica, a poesia erótico-irônica também compõe a seção da poesia amorosa. É nela onde encontramos poemas que, centrados em mulheres negras e mulatas, percebamos a diferença de trata- mento de Gregório de Matos. O vocábulo chulo, com termos jocosos, é empregado para se re- ferir aos corpos dessas mulheres, sem poupar os seus órgãos genitais; o Há também mulheres brancas no grupo, mas apenas quando ferem o orgulho de Gregório de Matos (possivelmente quando não cedem às suas investidas). ➢ Na poesia religiosa, Gregório de Matos se vê em um difícil conflito. Isso porque, como se faz no- tar ao longo de toda a obra, o “Boca do Inferno” é dono de uma língua ferina, capaz de condenar a todos, sem perdão. Contudo, na poesia religi- osa, há o confronto de sentimentos proporcio- nado por questões típicas do Barroco: o sagrado e o profano, o cristianismo e o paganismo; ➢ Percebe-se que, na poesia de Gregório de Ma- tos, há o medo da morte, ao mesmo tempo em que o pavor vem acompanhado do alívio pela existência em Deus. Todavia, o alívio proporcio- nado pela existência de Deus acaba desencade- ando outro medo, dessa vez pelo medo das con- sequências de seus próprios atos, pouco cris- tãos, na Terra; ➢ Tem-se o conflito entre a vida enquanto peca- dor e o comportamento cristão, o arrependi- mento quanto aos atos terrenos e o medo do juízo final (tendo em vista as atitudes pouco cristãs do poeta) como principais temas dos po- emas; ➢ Embora pudesse estar associada à poesia lírica, Maria dos Povos, esposa de Gregório de Matos, é homenageada no soneto “A Maria dos Povos, sua futura esposa”, em que as qualidades da mulher – a formosura e a discrição– são vene- radas.
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