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A produção crítica de Roberto Schwarz - os principais feitos e a linha conjuntiva que congrega sua produção ensaística

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ivo
s
Meta da aula 
Mapear a produção crítica de Roberto Schwarz, 
destacando-lhe os principais feitos, a fim de 
explicitar a linha conjuntiva que congrega sua 
produção ensaística. 
Esperamos que, ao final desta aula, você seja 
capaz de:
1. reconhecer o processo de formação intelectual 
de Roberto Schwarz e o papel desempenhado 
pelos pensadores com os quais o ensaísta 
mantém diálogo;
2. reconhecer a importância e a inovação da 
abordagem crítica de Roberto Schwarz no que 
concerne ao conceito das “Ideias fora do lugar” 
para os estudos da literatura brasileira.
Roberto Schwarz e as 
ideias fora do lugar
André Dias 
Ilma Rebello 
Marcos Pasche 18AULA
Literatura Brasileira I | Roberto Schwarz e as ideias fora do lugar
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INTRODUÇÃO Muitos estudiosos ao longo dos anos de sua produção acabam por trabalhar 
com determinados temas que os acompanham, direta ou indiretamente, 
durante a vida inteira. Outros, apesar de se ocuparem de uma longa lista 
de assuntos dentro de determinada área, conquistam notoriedade a partir 
de contribuições específicas, que favorecem a compreensão mais ampla e 
aprofundada sobre determinada questão. Tanto o primeiro quanto o segundo 
tipo de estudioso são imprescindíveis em qualquer campo do conhecimento, 
cada um com suas particularidades deixará para as áreas em que atuam um 
legado importante.
No campo dos estudos literários, conforme observamos até aqui, são muitos 
os nomes que ajudaram a fundar, estabelecer e, em diversos momentos, 
questionar a formação do cânone da literatura brasileira. Cada um ao seu 
modo ofereceu o melhor que tinha em seus respectivos tempos e condições 
de produção. Vejamos: Nelson Werneck Sodré com sua mirada marxista 
foi buscar nos fundamentos econômicos as bases para a construção de sua 
História da literatura brasileira (Aula 7). Já Afrânio Coutinho sustentou seu 
trabalho historiográfico a partir de postulados estéticos e estilísticos (Aulas 8 
e 9). Antonio Candido, por sua vez, além de criar a concepção de “literatura 
como sistema” ajudou a efetuar uma revisão dos parâmetros da crítica literária 
brasileira (Aulas 10, 11 e 16) e Alfredo Bosi (como vimos nas Aulas 12 e 17) 
construiu sua trajetória profissional a partir do legado do historicismo dialético.
Na aula de hoje, vamos conhecer um pouco do pensamento de Roberto 
Schwarz, ensaísta e crítico literário, uma das mais potentes vozes dos estudos 
literários brasileiros, autor de obra vasta e fundamental para a compreensão 
de determinados aspectos da literatura e da cultura brasileira. 
Roberto Schwarz (Viena, Áustria, 1938)
Crítico de literatura e cultura, poeta e dra-
maturgo. Filho de Käthe e Johann Schwarz, 
Roberto Schwarz muda-se para o Brasil com a 
família, de origem judaica, no início de 1939, 
quando ocorre a anexação de seu país natal 
pela Alemanha. No Brasil, nos anos 1950, 
trava contato com o também emigrado Ana-
tol Rosenfeld (1912-1973), que desempenha, 
em sua formação, o papel de mentor literá-
rio e filosófico. Entre 1957 e 1960, Schwarz 
estuda Ciências Sociais na Universidade de 
São Paulo (USP). Nessa instituição, participa, 
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Anatol Herbert Rosenfeld (Alemanha, 
1912 – São Paulo, SP, 1973)
Filósofo, crítico de arte, jornalista e 
professor. Estuda Filosofia e Teoria 
da Literatura na Universidade de 
Berlim. Intelectual de origem judaica, 
interrompe o doutorado devido à 
perseguição nazista. Refugia-se no 
Brasil, instalando-se em São Paulo, 
em 1937. Trabalha como lavrador em 
uma fazenda no interior de São Paulo. 
Em seguida, torna-se caixeiro-viajante, 
ofício que faz pelo Brasil e propicia o aprendizado da língua portuguesa. 
Durante esse período, não abandona as atividades intelectuais, escre-
vendo poemas e crônicas em alemão e em português. A partir de 1945, 
passa a trabalhar como jornalista, escreve em periódicos de língua alemã 
e em jornais brasileiros. Em 1956, a convite do crítico Antonio Candido 
(1918), assina a seção de Letras Germânicas no "Suplemento Literário" 
de 1958 a 1964, de um seminário de leitura da obra de Karl Marx que 
reúne intelectuais como o filósofo José Arthur Giannotti, o historiador 
Fernando Novais e o sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Schwarz 
cursa mestrado em Teoria Literária na Universidade de Yale, Estados 
Unidos, de 1961 a 1963. De volta ao Brasil, em 1963, torna-se assistente 
de Antonio Candido (1918) no Departamento de Teoria Literária da USP. 
Com a ditadura militar, parte, em 1968, para o exílio em Paris, onde, anos 
depois, obtém o doutorado em Estudos Latino-Americanos na Sorbonne 
(Universidade de Paris III) com a tese Ao vencedor as batatas, sobre a obra 
de Machado de Assis (1839-1908). Quando retorna ao Brasil, em 1978, 
começa a lecionar Literatura e Teoria Literária na Universidade Estadual 
de Campinas (Unicamp), pela qual se aposenta em 1992. 
Alguns de seus mais significativos ensaios são publicados em língua 
inglesa em forma de livro e em importantes periódicos, como a New Left 
Review. Um dos últimos ensaios do crítico se ocupa, aliás, da repercussão 
internacional mais recente de Machado de Assis.
Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural Literatura Brasileira, http://www.itaucultural.
org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?fuseaction=biografias_texto&cd_
verbete=5817&cd_item=35&cd_idioma=28555.
DAS CIÊNCIAS SOCIAIS À CRÍTICA LITERÁRIA OU O 
ENSAÍSTA EM CONSTRUÇÃO
Roberto Schwarz inicia sua trajetória acadêmica na área das 
Ciências Sociais, na Universidade de São Paulo (USP). Porém, suas pri-
meiras influências intelectuais vêm do campo da filosofia e da literatura, 
através da amizade travada com Anatol Rosenfeld, crítico e filósofo, que 
desempenhou o papel de uma espécie de preceptor do jovem Schwarz.
Literatura Brasileira I | Roberto Schwarz e as ideias fora do lugar
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de O Estado de S. Paulo, colaboração que mantém até 1967, quando o 
caderno para de ser editado. Ainda no Estadão, contribui também com 
crônicas, textos de ficção e artigos nas áreas de história, teoria da litera-
tura e teatro. De 1962 a 1967, leciona estética teatral na Escola de Arte 
Dramática do Estado de São Paulo (EaD). No mesmo período, envolve- 
se ativamente com a cena teatral paulista, estabelecendo diálogos, por 
meio de seus artigos, com importantes diretores do período. A convite do 
crítico Décio de Almeida Prado (1917-2000), em 1954, publica o clássico 
livro O teatro épico. Durante sua trajetória intelectual, não se vincula a 
nenhuma instituição de ensino, embora receba inúmeros convites para 
lecionar em universidades. Prefere sustentar-se, ministrando cursos 
particulares de filosofia e escrevendo como freelancer para jornais e 
revistas. Preserva, dessa maneira, sua independência intelectual, além 
de dispor de tempo para dedicar-se a seus projetos. Participa, no fim de 
sua vida, da comissão editorial da revista Argumento. Postumamente, 
a editora Perspectiva publica uma série de livros com escritos, deixados 
por Rosenfeld, editados pelo professor Jacó Guinsburg (1921), entre os 
quais estão Texto/Contexto II e Prismas do Teatro.
Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural Literatura Brasileira, http://www.itaucultural.
org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?fuseaction=biografias_texto&cd_
verbete=8893&cd_item=35&cd_idioma=28555
O encontro de Schwarz com Rosenfeld marcou tão profundamente 
o primeiro que, anos mais tarde, já um intelectual respeitado, no livro 
Que horas são? (1987), ele publica um breve e afetuoso ensaio chamado 
“Os primeiros anos de Anatol Rosenfeld no Brasil” em que rememora 
o itinerário do amigo no país. 
Após abandonar a Alemanha e um doutorado quase finalizado 
sobre o Romantismo alemão, em 1936, para fugir do nazismo, Rosenfeld 
chega ao Brasil, em 1937, onde exerceu inicialmente os ofícios de traba-
lhador do campo, lustrador de portas e caixeiro viajante (representava 
as gravatas Back). Com a última atividade, pôde guardar algum dinheiropara assim dedicar-se à sua verdadeira vocação, os estudos filosóficos e 
críticos. Sobre o período de transição vivido pelo intelectual alemão no 
país, Roberto Schwarz afirma:
Quando julgou que as economias eram suficientes, Rosenfeld 
deixou as gravatas, organizou-se para viver com o mínimo, e 
dedicou alguns anos integrais à leitura. Instalou-se no porão da 
casa de um amigo, na rua Artur Azevedo, onde pagava um aluguel 
pequeno. [...] Aí Rosenfeld vivia enfurnado, entre a escrivaninha, 
a cama e os livros empilhados. Havia também algumas cadeiras 
de pau para os amigos e visitas, que ele recebia com inesquecível 
civilidade. Nesse tempo eu teria uns doze anos, e o visitava em 
manhãs de domingo, acompanhado de meu pai. Este, que tinha 
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8dificuldade para conciliar as funções de chefe de família e as ambi-
ções de escritor, admirava muito a resolução com que Rosenfeld 
pusera em prática seu plano de vida radical. Conforme acreditei 
mais tarde, foi um período em que ele, Rosenfeld, alimentou um 
projeto filosófico de mais fôlego, que depois foi deixando de lado, 
premido pelas solicitações do cotidiano da vida intelectual pau-
lista. Mas, a disposição para o fundamental estava sempre com 
ele, e fazia parte do “efeito filosófico” que realmente emanava de 
sua pessoa (SCHWARZ, 1987, p. 80). 
A trajetória intelectual de Rosenfeld já tinha sido examinada por 
Schwarz no livro O pai de família e outros estudos (1978). O ensaio 
“Anatol Rosenfeld, um intelectual estrangeiro” destaca, entre outras 
questões, a disponibilidade do filósofo para o diálogo e as mediações 
que ele mantinha com o pensamento de Marx e Freud. Nas palavras de 
Roberto Schwarz:
[...] Nos cursos de Rosenfeld, que não tinham finalidade de diplo-
ma, a matéria de ensino cruzava-se facilmente com o acaso das 
intervenções, e logo entrava pela atmosfera mais viva do interesse 
real, que não se acomoda na compartimentação acadêmica das 
disciplinas. Havia uma admirável capacidade de se deixar inter-
romper e de acompanhar confusões e digressões, sem perder de 
vista o rumo geral do seminário. Menos pela matéria, que afinal 
era a de todas as introduções, e mais pela variedade e paciência 
deste movimento, suas aulas davam uma ideia verdadeiramente 
apreciável da Filosofia, aberta e tão livre de embromação quanto 
possível.
[...] Em termos de visão, Rosenfeld obviamente devia muito a 
Marx e Freud. Mas discordava da ênfase que o discurso deles 
havia tomado nos seguidores. Não se convencia da cientificidade 
exclusiva reivindicada pelas análises psicanalíticas e marxistas. 
Quando adaptadas ao campo literário ou filosófico, lhes pareciam 
reducionistas (SCHWARZ, 1978, p. 104 e 106).
Nas breves passagens apresentadas, podemos perceber, além da 
disponibilidade para o diálogo aberto com o outro, a capacidade de 
examinar criticamente as formulações, até mesmo dos pensadores com 
os quais Rosenfeld mantinha intenso diálogo. Ao destacar tais caracte-
rísticas do filósofo alemão que se radicou no Brasil, Schwarz acaba por 
explicitar um dos aspectos mais importantes do seu próprio pensamen-
to, a saber, a capacidade de manter os olhos livres e o espírito aberto. 
Literatura Brasileira I | Roberto Schwarz e as ideias fora do lugar
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Estes dois atributos ajudaram a consolidar no ensaísta o entendimento 
de que nenhum pensamento, por mais refinado e relevante que seja, é 
uma verdade acabada ou configura-se como um monumento intocável. 
Municiado com as primeiras lições do mestre Rosenfeld, Roberto 
Schwarz seguiu seu caminho pavimentado pelas mais variadas postula-
ções de orientação marxista, que vão desde as obras de Lukács, passando 
por Adorno e Walter Benjamin até chegar a Brecht. Soma-se, ainda, à 
rede dialógica de Schwarz as contribuições de Antonio Candido, de quem 
recebeu indicações imprescindíveis para um melhor emprego da teoria 
literária à realidade nacional. 
Em 1977, o ensaísta lança o livro Ao vencedor as batatas: forma 
literária e processo social nos inícios do romance brasileiro, fruto de 
sua tese de doutorado apresentada na Sorbonne (Universidade de Paris 
III). Estudo seminal sobre os primeiros romances de Machado de Assis, 
o trabalho inaugura um novo momento da fortuna crítica dedicada ao 
legado literário do maior romancista brasileiro e, ao mesmo tempo, 
alça Roberto Schwarz à condição de um dos mais importantes ensaístas 
brasileiros. Além disso, na obra em questão, o estudioso faz também um 
exame minucioso do romance Senhora, de José de Alencar, apresentando 
as contradições existentes na ficção do escritor. 
Ao vencedor as batatas teve ainda o mérito de apresentar uma 
das formulações mais instigantes sobre pensamento social brasileiro, que 
ainda hoje, 35 anos após sua publicação, gera excelentes debates. No 
capítulo I da obra, intitulado “As ideias fora do lugar” o ensaísta, através 
da análise do discurso literário de Machado de Assis, chama atenção 
para o fato da infância da modernidade brasileira ter se dado sob bases 
absolutamente arcaicas. Na segunda parte da nossa aula, exploraremos 
mais detidamente essa questão. Por enquanto, dedique algum tempo para 
pensar sobre tudo o que vimos até aqui.
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Theodor W. Adorno (1903–1969)
Filósofo, sociólogo e musicólogo alemão. 
É um dos expoentes da chamada Escola de 
Frankfurt, juntamente com Max Horkheimer, 
Walter Benjamin, Herbert Marcuse e Jürgen 
Habermas. Judeu exilado durante o nazismo 
em Oxford, depois nos Estados Unidos (de 
1934 a 1949).
Nos anos 1930, Adorno elabora com Hork- 
heimer o projeto de “teoria crítica”, aplicação 
da crítica marxista aos novos mecanismos de 
dominação e alienação (“sociedade admi-
nistrada”, padronização da cultura), sem 
esquecer aqueles gerados pelo marxismo 
ortodoxo (totalitarismo) e levando em conta 
os desdobramentos não previstos por Marx: 
em vez de uma pauperização crescente, a integração da classe operária 
na classe média.
Na obra Dialética do esclarecimento (1947), publicada após a guerra em 
coautoria com Horkheimer, é rejeitada a ideia de que a vitória do pro-
letariado bastaria para abolir a dominação do homem pelo homem. É 
a própria razão que, instrumentalizando-se, tornou-se responsável pela 
alienação e pelas novas formas de barbárie.
(BARAQUIN; LAFFITTE, 2007, Dicionário universitário dos filósofos, p. 1).
Georg Lukács (1885–1971) 
Filósofo húngaro, pensador do marxismo 
político, Lukács foi também um dos mais 
influentes críticos literários no século XX. Sua 
importante obra de crítica literária começou 
bem cedo em sua carreira, com A teoria do 
romance (1917), um trabalho seminal de teo-
ria literária. O livro é uma história do romance 
enquanto forma literária, e uma investigação 
de suas distintas características, e demonstra 
forte inspiração hegeliana.
Fonte: http://pt.wikipedia.
org/wiki/Theodor_W._
Adorno
Fonte: http://pt.wikipedia.
org/wiki/Gy%C3%B6rgy_
Luk%C3%A1cs
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Walter Benjamin (1892–1940)
Ensaísta, crítico literário, tradutor, filósofo 
e sociólogo judeu alemão. Benjamin tinha 
seu ensaio “A obra de arte na época de 
sua reprodutibilidade técnica” na conta de 
primeira grande teoria materialista da arte. 
O ponto central desse estudo encontra-se na 
análise das causas e consequências da destrui-
ção da “aura” que envolve as obras de arte, 
enquanto objetos individualizados e únicos. 
Com o progresso das técnicas de reprodução, 
sobretudo do cinema, a aura, dissolvendo-se 
nas várias reproduções do original, destituiria 
a obra de arte de seu status de raridade. 
Bertolt Brecht (1898–1956)
Dramaturgo, poeta e encenador, Brecht 
foi um dos autores mais importantes do 
século XX. Seus trabalhos artísticos e teóri-
cos influenciaram profundamente o teatro 
contemporâneo, tornando-o mundialmente 
conhecido a partir das apresentações desua 
companhia, o Berliner Ensemble, realizadas 
em Paris, durante os anos 1954 e 1955.
Ao final dos anos 1920, Brecht torna-se mar-
xista, vivendo o intenso período das mobiliza-
ções da República de Weimar, desenvolvendo 
o seu teatro épico. Seus textos e montagens 
fizeram-no conhecido mundialmente. Brecht 
é um dos escritores fundamentais desse século: revolucionou a teoria e a 
prática da dramaturgia e da encenação, mudou completamente a função 
e o sentido social do teatro, usando-o como arma de consciencialização 
e politização.
Fonte: http://en.wikipedia.
org/wiki/Walter_Benjamin
Fonte: http://pt.wikipedia.
org/wiki/Bertolt_Brecht
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8ROBERTO SCHWARZ E AS IDEIAS FORA DO LUGAR 
Em Ao vencedor as batatas, Roberto Schwarz propõe-se a estu-
dar, como sugere o subtítulo do livro, “forma literária e processo social 
nos inícios do romance brasileiro”. Entretanto, mesmo sendo uma obra 
produzida em meados dos anos 1970 – só para não esquecer, a 1ª edição 
é de 1977 – Schwarz resiste à “tentação” de sustentar suas reflexões com 
os postulados da teoria estruturalista tão em voga naquele período. Em 
vez de iniciar o trabalho fazendo uma varredura completa da estrutura 
textual dos romances de Machado de Assis, o estudioso opta por abrir 
o estudo a partir de uma análise minuciosa dos processos sociais com 
os quais o autor de Dom Casmurro dialogaria profundamente, durante 
o desenvolvimento composicional de suas narrativas.
O conceito de “Ideias fora do lugar”, que dá nome ao primeiro 
capítulo de Ao vencedor as batatas, nasce, então, da escolha do ensaísta 
em operar com noções que privilegiavam a busca do entendimento pleno 
dos processos sociais que se forjaram no Brasil, ao longo de sua formação 
histórica, e suas implicações, na construção dos discursos literários de 
Machado de Assis. Dito de outra maneira, temos a seguinte questão: 
para melhor compreender os caminhos artísticos presentes na prosa 
machadiana, é preciso entender como o escritor relacionava-se com as 
ideias hegemônicas presentes na sociedade brasileira oitocentista. 
A abordagem de Schwarz consegue apresentar magistralmente a 
súmula de tais ideias e como elas se configuravam contraditoriamente no 
tecido social brasileiro, sobretudo quando olhadas em perspectiva com 
as fontes europeias. O primeiro aspecto do problema apresentado que 
o autor destaca no ensaio será, justamente, o contrassenso ideológico 
sob o qual se pretendeu estabelecer os valores da sociedade brasileira, 
ao longo do século XIX.
Toda ciência tem princípios, de que deriva o seu sistema. Um dos 
princípios da Economia Política é o trabalho livre. Ora, no Brasil 
domina o fato “impolítico e abominável” da escravidão.
Este argumento – resumo de um panfleto liberal, contemporâneo 
de Machado de Assis – põe fora o Brasil do sistema da ciência. [...] 
Grande degradação, considerando-se que a ciência eram as Luzes, 
o Progresso, a Humanidade etc. Para as artes, Nabuco expressa 
um sentimento comparável quando protesta contra o assunto 
escravo no teatro de Alencar: “Se isso ofende o estrangeiro, como 
Literatura Brasileira I | Roberto Schwarz e as ideias fora do lugar
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não humilha o brasileiro!” Outros autores naturalmente fizeram o 
raciocínio inverso. Uma vez que não se referem à nossa realidade, 
ciência econômica e demais ideologias liberais e que são, elas 
sim, abomináveis, impolíticas e estrangeiras, além de vulneráveis. 
“Antes bons negros da costa da África para felicidade sua e nossa, 
a despeito de toda a mórbida filantropia britânica, que, esquecida 
de sua própria casa, deixa morrer de fome o pobre irmão branco, 
escravo sem senhor que dele se compadeça, e hipócrita ou estólida 
chora, exposta ao ridículo da verdadeira filantropia, o fado de 
nosso escravo feliz”.
Cada um a seu modo, estes autores refletem a disparidade entre a 
sociedade brasileira, escravista, e as ideias do liberalismo europeu. 
Envergonhando a uns, irritando a outros, que insistem na sua 
hipocrisia, estas ideias – em que gregos e troianos não reconhe-
cem o Brasil – são referências para todos. Sumariamente, está 
montada uma comédia ideológica, diferente da europeia. É claro 
que a liberdade do trabalho, a igualdade perante a lei e, de modo 
geral, o universalismo eram ideologia na Europa também; mas lá 
correspondiam às aparências, encobrindo o essencial a exploração 
do trabalho. Entre nós, as mesmas ideias seriam falsas num sen-
tido diverso, por assim dizer, original. A Declaração dos Direitos 
do Homem, por exemplo, transcrita em parte na Constituição 
Brasileira de 1824, não só não escondia nada, como tornava mais 
abjeto o instituto da escravidão. [...]Que valiam, nestas circuns-
tâncias, as grandes abstrações burguesas que usávamos tanto? 
Não descreviam a existência – mas nem só disso vivem as ideias. 
[...] Essa impropriedade de nosso pensamento, que não é acaso, 
como se verá, foi de fato uma presença assídua, atravessando e 
desequilibrando, até no detalhe, a vida ideológica do Segundo 
Reinado. Frequentemente inflada, ou rasteira, ridícula, ou crua, e 
só raramente justa no tom, a prosa literária do tempo é uma das 
muitas testemunhas disso (SCHWARZ, 1977, p. 13-14).
Na passagem apresentada, Schwarz destaca um dos problemas 
centrais do Brasil da primeira metade do século XIX. Dividido entre o 
trabalho escravo que sustentava a base da economia concreta e o ideário 
do liberalismo europeu de caráter Iluminista, as classes dominantes do 
país dividiam-se entre os insatisfeitos e os satisfeitos com o legado da 
escravidão. Enquanto a Europa e a América do Norte já haviam superado 
o problema da escravidão, o Brasil continuava irremediavelmente atrela-
do a ela. Por outro lado, o problema ideológico do liberalismo europeu 
estava vinculado à exploração da força de trabalho que, em geral, era 
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8muito mal remunerada. Essa questão esvaziava ou colocava em xeque a 
crença no progresso da humanidade, propagada pelo ideário Iluminista.
No desenvolvimento do ensaio, Roberto Schwarz assim apresenta 
as bases sociais do Brasil do século XIX:
[...] Como é sabido, éramos um país agrário e independente, 
dividido em latifúndios, cuja produção dependia do trabalho 
escravo por um lado, e por outro do mercado externo. Mais ou 
menos diretamente, vêm daí as singularidades que expusemos. 
Era inevitável, por exemplo, a presença entre nós do raciocínio 
econômico burguês – a prioridade do lucro, com seus corolários 
sociais – uma vez que dominava no comércio internacional, para 
onde a nossa economia era voltada. A prática permanente das 
transações escolava, neste sentido, quando menos uma pequena 
multidão. Além do que, havíamos feito a Independência há pouco, 
em nome de ideias francesas, inglesas e americanas, variadamente 
liberais, que assim faziam parte de nossa identidade nacional. Por 
outro lado, com igual fatalidade, este conjunto ideológico iria 
chocar-se contra a escravidão e seus defensores, e o que é mais, 
viver com eles (SCHWARZ, 1977, p. 14).
A descrição social do Brasil do século XIX, além de fortalecer a 
tese central do ensaísta, aponta para outra grande contradição do país. 
No Brasil, o liberalismo esbarrava na incongruência da escravidão:
Impugnada a todo instante pela escravidão a ideologia liberal, que 
era a das jovens nações emancipadas da América, descarrilhava. 
[...] Por sua mera presença, a escravidão indicava a impropriedade 
das ideias liberais; o que, entretanto, é menos que orientar-lhes 
o movimento. Sendo embora a relação produtiva fundamental, 
a escravidão não era o nexo efetivo da vida ideológica. A chave 
desta era diversa. Para descrevê-la é preciso retomar o país como 
todo. Esquematizando, pode-se dizer que a colonização produziu, 
com base no monopólio da terra, três classes de população: o 
latifundiário, o escravo e o “homem livre”, na verdadedepen-
dente. Entre os primeiros dois a relação é clara, é a multidão dos 
terceiros que nos interessa. Nem proprietários nem proletários 
seu acesso à vida e a seus bens depende materialmente do favor, 
indireto ou direto, de um grande. O agregado é a sua caricatura. 
O favor é, portanto, o mecanismo através do qual se reproduz 
uma das grandes classes da sociedade, envolvendo também outra, 
a dos que têm. Note-se ainda que entre estas duas classes é que 
irá acontecer a vida ideológica, regida, em consequência, por 
este mesmo mecanismo. Assim, com mil formas e nomes, o favor 
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atravessou e afetou no conjunto a existência nacional, ressalvada 
sempre a relação produtiva de base, esta assegurada pela força. 
Esteve presente por toda parte, combinando-se às mais variadas 
atividades, mais e menos afins dele, como administração, política, 
indústria, comércio, vida urbana, Corte etc. Mesmo profissões 
liberais, como a medicina, ou qualificações operárias, como a 
tipografia, que, na acepção europeia, não deviam nada a ninguém, 
entre nós eram governadas por ele. E assim como o profissional 
dependia do favor para o exercício de sua profissão, o pequeno 
proprietário depende dele para a segurança de sua propriedade, e 
o funcionário para o seu posto. O favor é a nossa mediação quase 
universal – e sendo mais simpático do que o nexo escravista, a 
outra relação que a colônia nos legara, é compreensível que os 
escritores tenham baseado nele a sua interpretação do Brasil, 
involuntariamente disfarçando a violência, que sempre reinou na 
esfera da produção (SCHWARZ, 1977, p. 15-16).
A escravidão no Brasil era, de fato, uma incongruência sob todos 
os aspectos. Contudo, desde o período colonial, a relação social mediada 
pelo conceito do “favor” foi urdida e passou a definir efetivamente o 
“espírito” brasileiro. O monopólio da terra definiu os três tipos básicos 
de classes no país: o latifundiário, o escravo e o homem livre. Este último, 
de livre só tinha o nome, pois, na realidade, sempre dependeu do favor 
dos mais abastados para garantir a sobrevivência.
O desenvolvimento do país se deu, desde os seus primórdios, 
através do jogo de interesses entre as classes abastadas e aquela advinda 
da figura do homem livre, mas pobre, por isso dependente. Olhada em 
perspectiva, a sociedade brasileira traz enraizada, até os dias de hoje, a 
cultura do favor que, com o tempo, foi sendo elaborada e incorporada 
nas práticas sociais do país. O tempo se encarregou de sedimentar tal 
cultura e forjar a mentalidade patrimonialista, que perpassa muitas vezes 
a esfera dos negócios privados, mas vai expressar todo seu potencial 
nocivo nas esferas da administração pública. Por isso, não é raro ver-
mos homens públicos que tratam a máquina pública como se fosse seu 
patrimônio privado. É importante destacar ainda que muitos escritores 
brasileiros – Machado de Assis seguramente foi um dos mais perspicazes 
– através do discurso literário, expuseram as entranhas perversas desse 
mecanismo social. 
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8A incorporação do “favor” como “mediação quase universal” no 
Brasil teve como consequência, por um lado, a desarticulação do Estado 
burguês tal qual preconizado pelos ideais liberais. Por outro lado, a prá-
tica do “favor” provocou a substancial perda do valor da educação e da 
cultura, uma vez que o que importa é a relação de “amizade” e “compa-
drio”, sempre disponíveis a qualquer tempo. Nas palavras de Schwarz:
Vimos que nela as ideias da burguesia – cuja grandeza sóbria 
remonta ao espírito público e racionalista da Ilustração – tomam 
função de ...ornato e marca de fidalguia: atestam e festejam a 
participação numa esfera augusta, no caso a da Europa que 
se... industrializa. O quiproquó das ideias não podia ser maior. 
A novidade no caso não está no caráter ornamental de saber e 
cultura, que é da tradição colonial e ibérica; está na dissonância 
propriamente incrível que ocasionam o saber e a cultura de tipo 
“moderno” quando postos neste contexto. São inúteis como um 
berloque? São brilhantes como uma comenda? Serão a nossa 
panaceia? Envergonham-nos diante do mundo? (SCHWARZ, 
1977, p. 18).
A questão central do problema apresentado pelo ensaísta está 
menos no aspecto decorativo que a educação e a cultura assumem diante 
da prática do “favor” e mais na percepção da inutilidade de tais atributos 
em um tipo de sociedade marcadamente patrimonialista.
O percurso empreendido por Roberto Schwarz na construção do 
conceito das “Ideias fora do lugar” é sintetizado da seguinte maneira 
pelo ensaísta:
Partimos da observação comum, quase uma sensação, de que 
no Brasil as ideias estavam fora de centro, em relação ao seu 
uso europeu. E apresentamos uma explicação histórica para esse 
deslocamento, que envolvia as relações de produção e parasitismo 
no país, a nossa dependência econômica e seu par, a hegemonia 
intelectual da Europa, revolucionada pelo Capital. Em suma, para 
analisar uma originalidade nacional, sensível no dia a dia, fomos 
levados a refletir sobre o processo da colonização em seu conjun-
to, que é internacional. O tic-tac das conversões e reconversões 
de liberalismo e favor é o efeito local e opaco de um mecanismo 
planetário (SCHWARZ, 1977, p. 24). 
De maneira clara e demonstrando rara sensibilidade para apre-
ensão da vida brasileira, Roberto Schwarz nos oferece, através de seu 
estudo, uma visão do país, plasmada das páginas literárias com uma 
Literatura Brasileira I | Roberto Schwarz e as ideias fora do lugar
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propriedade poucas vezes vista até então.
Atende ao Objetivo 1
1. Leia o trecho do ensaio “Contribuição, salvo engano, para uma dialética 
da volubilidade”, de Sergio Paulo Rouanet: 
Mas creio que se Schwarz escreve tão bem, isso tem uma explicação mais 
geral: ele não é apenas leitor de Machado, mas também de Proust, Mann, 
Joyce e Musil. É hábito quase escandaloso entre nós. Em geral, o crítico 
literário brasileiro lê muita crítica e pouca literatura. De tanto frequentar 
Todorov e Kristeva, a sua escrita (perdão, escritura) tem um aspecto deci-
didamente búlgaro. Todos leram o que Barthes escreveu sobre Sarrasine e 
Bakhtin sobre Pantagruel, mas quantos têm o hábito de ler regularmente 
Balzac e Rabelais? (ROUANET, 2003, p. 304-305).
Ao destacar as qualidades da produção de Roberto Schwarz, Rouanet acaba 
por efetuar um exame severo do ofício do crítico. Destaque os principais 
pontos abordados na avaliação do estudioso, explicando como eles aju-
dam a compreender o percurso formativo do trabalho crítico de Schwarz.
RESPOSTA COMENTADA
A afirmação de Rouanet joga luz sobre um problema grave que 
acomete parte do campo da crítica literária brasileira. As colocações 
do estudioso confrontam a prática de muitos críticos de literatura, 
que supõem poder prescindir da leitura literária para efetuar seus 
trabalhos. Em outras palavras, Rouanet demonstra que a crítica 
literária sem a presença da literatura é um engano, e pautar a 
atividade crítica apenas com as contribuições dos estudos teóricos 
estrangeiros – mesmo os mais importantes – é insuficiente para 
o desenvolvimento de um trabalho verdadeiramente consistente.
ATIVIDADE
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Ao destacar a clareza da expressão escrita de Schwarz, Rouanet 
acaba por traçar uma espécie de percurso formativo do ensaísta 
que pauta seu trabalho crítico pelo mergulho profundo nas obras 
literárias, que devem funcionar como base central de toda atividade 
crítica. Ou seja, para Rouanet, o que faz de Roberto Schwarz um 
grande crítico é a capacidade do estudioso de travar um diálogo pro-
fundo com as principais obras da literatura universal.
Para conhecer melhor o pensamento de Roberto Schwarz, 
acesse o site Youtube e assista ao programa Obra Aberta da 
TV Cultura e Arte, exibidoem 2002, sobre a produção literária 
de Machado de Assis. Nele, Roberto Schwarz analisa os mais 
variados aspectos da cultura brasileira presentes na obra do 
autor de Memórias póstumas de Brás Cubas.
O programa está dividido em quatro blocos, conforme os 
links abaixo:
1 – http://www.youtube.com/watch?v=m5y1Tc5sKN8
2 – http://www.youtube.com/watch?v=VcN9VtdOzt8&featu
re=relmfu
3 – http://www.youtube.com/watch?v=qmYVXuvMwxg&fea
ture=relmfu
4 – http://www.youtube.com/watch?v=KUlu1TC8vEA&featu
re=relmfu
CONCLUSÃO
Por fim, é preciso que se diga que o ineditismo das formulações de 
Roberto Schwarz sacudiu o cenário da crítica literária e social brasileira 
dos anos 1970, gerando uma série de debates em torno do pensamento 
do autor. Todavia, engana-se quem supõe que o alcance e as discussões 
em torno das ideias do ensaísta ficaram circunscritos apenas aos anos 
1970. Ainda hoje, trinta e cinco anos após a sua publicação, as “Ideias 
fora do lugar continuam a instigar o pensamento e a reflexão. Mas isso, 
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isso já é outra história...
ATIVIDADE FINAL 
Atende ao Objetivo 2
Leia o capítulo de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e em 
seguida responda à questão: 
CAPÍTULO LXXIV
HISTÓRIA DE D. PLÁCIDA
Não te arrependas de ser generoso; a pratinha rendeu-me uma confidência 
de D. Plácida, e conseguintemente este capítulo. Dias depois, como eu a 
achasse só em casa, travamos palestra, e ela contou-me em breves termos 
a sua história. Era filha natural de um sacristão da Sé e de uma mulher que 
fazia doces para fora. Perdeu o pai aos dez anos. Já então ralava coco e fazia 
não sei que outros trabalhos de doceira, compatíveis com a idade. Aos quinze 
ou dezesseis casou com um alfaiate, que morreu tísico algum tempo depois, 
deixando-lhe uma filha. Viúva e moça, ficaram a seu cargo a filha, com dois 
anos, e a mãe, cansada de trabalhar. Tinha de sustentar a três pessoas. Fazia 
doces, que era o seu ofício, mas cosia também, de dia e de noite, com afinco, 
para três ou quatro lojas, e ensinava algumas crianças do bairro, a dez tostões 
por mês. Com isto iam-se passando os anos, não a beleza, porque não a tivera 
nunca. Apareceram-lhe alguns namoros, propostas, seduções, a que resistia.
— Se eu pudesse encontrar outro marido, disse-me ela, creia que me teria 
casado; mas ninguém queria casar comigo.
Um dos pretendentes conseguiu fazer-se aceito; não sendo, porém, mais 
delicado que os outros, D. Plácida despediu-o do mesmo modo, e, depois 
de o despedir, chorou muito. Continuou a coser para fora e a escumar os 
tachos. A mãe tinha a rabugem do temperamento, dos anos e da necessidade; 
mortificava a filha para que tomasse um dos maridos de empréstimo e de 
ocasião que lha pediam. E bradava:
— Queres ser melhor do que eu? Não sei donde te vêm essas fidúcias de pessoa 
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8rica. Minha camarada, a vida não se arranja à toa; não se come vento. Ora 
esta! Moços tão bons como o Policarpo da venda, coitado... Esperas algum 
fidalgo, não é?
D. Plácida jurou-me que não esperava fidalgo nenhum. Era gênio. Queria 
ser casada. Sabia muito bem que a mãe o não fora, e conhecia algumas que 
tinham só o seu moço delas; mas era gênio e queria ser casada. Não queria 
também que a filha fosse outra coisa. Trabalhava muito, queimando os dedos 
ao fogão, e os olhos ao candeeiro, para comer e não cair. Emagreceu, adoeceu, 
perdeu a mãe, enterrou-a por subscrição, e continuou a trabalhar. A filha 
estava com quatorze anos; mas era muito fraquinha, e não fazia nada, a não 
ser namorar os capadócios que lhe rondavam a rótula. D. Plácida vivia com 
imensos cuidados, levando-a consigo, quando tinha de ir entregar costuras. 
A gente das lojas arregalava e piscava os olhos, convencida de que ela a 
levava para colher marido ou outra coisa. Alguns diziam graçolas, faziam 
cumprimentos; a mãe chegou a receber propostas de dinheiro...
Interrompeu-se um instante, e continuou logo:
— Minha filha fugiu-me; foi com um sujeito, nem quero saber... Deixou-me 
só, mas tão triste, tão triste, que pensei morrer. Não tinha ninguém mais no 
mundo e estava quase velha e doente. Foi por esse tempo que conheci a 
família de Iaiá; boa gente, que me deu que fazer, e até chegou a me dar casa. 
Estive lá muitos meses, um ano, mais de um ano, agregada, costurando. Saí 
quando Iaiá casou. Depois vivi como Deus foi servido. Olhe os meus dedos, 
olhe estas mãos... E mostrou-me as mãos grossas e gretadas, as pontas dos 
dedos picadas da agulha. — Não se cria isto à toa, meu senhor; Deus sabe 
como é que isto se cria... Felizmente, Iaiá me protegeu, e o senhor doutor 
também... Eu tinha um medo de acabar na rua, pedindo esmola...
Ao soltar a última frase, D. Plácida teve um calafrio. Depois, como se tornasse 
a si, pareceu atentar na inconveniência daquela confissão ao amante de uma 
mulher casada, e começou a rir, a desdizer-se, a chamar-se tola, “cheia de 
fidúcias”, como lhe dizia a mãe; enfim, cansada do meu silêncio, retirou-se 
da sala. Eu fiquei a olhar para a ponta do botim (ASSIS, 1988, p. 133-135).
a) Explique em que medida o trecho apresentado articula-se com as teses 
desenvolvidas em “As ideias fora do lugar”, especialmente no que diz respeito às 
questões da cultura do “favor”. 
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RESPOSTA COMENTADA
O trecho apresentado ilustra bem a questão do “favor” como mediação preferen-
cial nos jogos sociais do Brasil oitocentista. Na verdade, a mediação do “favor” nas 
relações sociais extrapolou o século XIX e ainda hoje pode ser percebida como um 
dos traços mais marcantes da sociedade brasileira. Tal fato só reforça a atualidade 
das críticas apresentadas no romance de Machado de Assis.
No caso específico do capítulo LXXIV de Memórias póstumas de Brás Cubas, a 
mediação do “favor” fica explicitada na figura de D. Plácida, senhora de origem 
pobre, viúva e trabalhadora braçal. Depois de uma sucessão de adversidades, pri-
meiro passa a viver na condição de agregada da família de Iaiá Virgília, depois se 
vê presa em uma teia de adultério (relação de Brás Cubas e Virgília) que contraria 
seus princípios éticos, contudo, garante sustento e proteção contra uma velhice de 
abandono e miséria. 
R E S U M O
A trajetória acadêmica e intelectual de Roberto Schwarz contou com uma for-
mação sólida na área das Ciências Sociais, mas também recebeu contribuições 
fundamentais dos mais variados intelectuais de orientação marxista. Entre eles 
podemos destacar as figuras de Anatol Rosenfeld, Theodor W. Adorno, Georg 
Lukács, Walter Benjamin e Bertolt Brecht. Antonio Candido foi também figura 
muito importante na consolidação do caminho do ensaísta.
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LEITURA RECOMENDADA
Como já dito, a atualidade das formulações de Roberto Schwarz vem atravessando 
o tempo e mantendo-se viva até o presente. Para conhecer um pouco dos diálogos 
suscitados pelo trabalho do estudioso, leia o seguinte:
BOSI, Alfredo. Ideologia e contraideologia. São Paulo: Cia. das Letras, 2010.
___________. A escravidão entre dois liberalismos. In. Dialética da colonização. São 
Paulo: Cia das Letras, 1992.
SCHWARZ, Roberto. Por que “ideias fora do lugar”? In. Martinha versus Lucrécia: 
ensaios e entrevistas. São Paulo: Cia. das Letras, 2012. 
A formulação do conceito de “As ideias fora do lugar” alçou Roberto Schwarz 
à condição de um dos mais importantes intelectuais do país. Em linhas gerias, o 
referido conceito aponta a contradição presente no pensamento da elite brasileira 
oitocentista, que consistia em defender, no plano do discurso, os ideais do libera-
lismo. Entretanto, na prática, o que contava era o uso da mão de obra escrava que 
sustentava a produção da economia. A formulação do estudioso destaca ainda o 
problema do “favor” como “mediaçãouniversal” nas relações sociais brasileiras. Tal 
mediação acaba por transformar o saber e a cultura em meros adornos de classes, 
uma vez que o que conta realmente são as relações patrimonialistas.

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