Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Materiais cerâmicos: estruturas, propriedades e diagramas de fases Lílian Amaral de Carvalho Formação Inicial e Continuada + IFMG Lílian Amaral de Carvalho Materiais cerâmicos: estruturas, propriedades e diagramas de fases 1ª Edição Belo Horizonte Instituto Federal de Minas Gerais 2021 FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C331m Carvalho, Lílian Amaral de. Materiais cerâmicos: estruturas, propriedades e diagramas de fases [recurso eletrônico] / Lílian Amaral de Carvalho – Belo Horizonte : Instituto Federal de Minas Gerais, 2021. 55 p. : il. color. E-book, no formato PDF. Material didático para Formação Inicial e Continuada. ISBN 978-65-5876-102-0 1. Estrutura Cristalina. 2. Cerâmica. 3. Propriedade mecânica I. Carvalho, Lílian Amaral de. II. Título. CDD 620.14 Catalogação: Rejane Valéria Santos - CRB-6/2907 Índice para catálogo sistemático: Materiais Cerâmicos - 620.14 2021 Direitos exclusivos cedidos ao Instituto Federal de Minas Gerais Avenida Mário Werneck, 2590, CEP: 30575-180, Buritis, Belo Horizonte – MG, Telefone: (31) 2513-5157 Pró-reitor de Extensão Diretor de programas de Extensão Coordenação do curso Arte gráfica Diagramação Carlos Bernardes Rosa Júnior Niltom Vieira Junior Lílian Amaral de Carvalho Ângela Bacon Eduardo dos Santos Oliveira © 2021 by Instituto Federal de Minas Gerais Todos os direitos autorais reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico. Incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização por escrito do Instituto Federal de Minas Gerais. Sobre o material Este curso é autoexplicativo e não possui tutoria. O material didático, incluindo suas videoaulas, foi projetado para que você consiga evoluir de forma autônoma e suficiente. Caso opte por imprimir este e-book, você não perderá a possiblidade de acessar os materiais multimídia e complementares. Os links podem ser acessados usando o seu celular, por meio do glossário de Códigos QR disponível no fim deste livro. Embora o material passe por revisão, somos gratos em receber suas sugestões para possíveis correções (erros ortográficos, conceituais, links inativos etc.). A sua participação é muito importante para a nossa constante melhoria. Acesse, a qualquer momento, o Formulário “Sugestões para Correção do Material Didático” clicando nesse link ou acessando o QR Code a seguir: Para saber mais sobre a Plataforma +IFMG acesse https://mais.ifmg.edu.br Formulário de Sugestões http://forms.gle/b873EGYtkvK99Vaw7 https://mais.ifmg.edu.br/ Palavra da autora Seja bem-vindo ao curso “Materiais Cerâmicos: estruturas, propriedades e diagramas de fases”. Nele iremos estudar os materiais cerâmicos, analisando: • suas características; • suas estruturas; • suas propriedades; • seus diagramas de fases. Leia atentamente os textos, analise os exercícios resolvidos e assista às videoaulas que foram gravadas especialmente para este curso. Espero que você tire proveito dele e, o mais importante, que realmente aprenda e utilize os ensinamentos em sua vida profissional! Bons estudos! Lílian Amaral de Carvalho Apresentação do curso Este curso está dividido em 2 semanas, cujos objetivos de cada uma são apresentados, sucintamente, a seguir. SEMANA 1 - Conhecer os materiais cerâmicos e suas estruturas. - Conhecer os fatores que afetam as massas específicas das cerâmicas e como calculá-las. - Conhecer as principais imperfeições dos materiais cerâmicos organizados. SEMANA 2 - Conhecer as propriedades mecânicas dos materiais cerâmicos e os motivos dessas propriedades. - Aprender a interpretar os diagramas de fases dos materiais cerâmicos. Carga horária: 20 horas. Estudo proposto: 10 horas semanais. Apresentação dos Ícones Os ícones são elementos gráficos para facilitar os estudos, fique atento quando eles aparecem no texto. Veja aqui o seu significado: Atenção: indica pontos de maior importância no texto. Dica do professor: novas informações ou curiosidades relacionadas ao tema em estudo. Atividade: sugestão de tarefas e atividades para o desenvolvimento da aprendizagem. Mídia digital: sugestão de recursos audiovisuais para enriquecer a aprendizagem. Sumário Semana 1 – Definição e estruturas cristalinas ............................................... 15 1. Estruturas das cerâmicas organizadas ............................................... 15 1.1. Materiais cerâmicos: definição ........................................................... 15 1.2. Fatores que influenciam as estruturas dos materiais cerâmicos ........ 17 1.3. Estruturas cristalinas comuns ............................................................. 20 Estruturas com proporção de 1 cátion para 1 ânion ................................... 20 Estruturas com proporções diferentes de 1 cátion para 1 ânion ................ 22 Estruturas com dois cátions diferentes ...................................................... 23 Resumo das estruturas comuns ................................................................ 23 2. Massa específica de cerâmicas organizadas ..................................... 24 3. Imperfeições nas cerâmicas organizadas........................................... 27 3.1. Impurezas nas cerâmicas iônicas ...................................................... 28 3.2. Difusão em cerâmicas ........................................................................ 30 Semana 2 – Propriedades mecânicas das cerâmicas ................................... 33 4. Propriedade mecânicas ...................................................................... 33 4.1. Propriedades mecânicas gerais das cerâmicas ................................. 33 4.2. Fratura frágil em cerâmicas ................................................................ 33 5. Diagramas de fases ........................................................................... 38 5.1. Interpretação de diagramas de fases ................................................. 38 Referências ................................................................................................... 45 Currículo da autora ........................................................................................ 47 Glossário de códigos QR (Quick Response) ................................................. 49 file:///C:/Users/Niltom/Downloads/(E-book%20+IFMG)%20-%20Materiais%20Cerâmicos%20-.docx%23_Toc75782324 file:///C:/Users/Niltom/Downloads/(E-book%20+IFMG)%20-%20Materiais%20Cerâmicos%20-.docx%23_Toc75782337 Plataforma +IFMG Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 15 Mídia digital: Antes de iniciar os estudos, vá até a sala virtual e assista ao vídeo “Apresentação do curso”. 1. Estruturas das cerâmicas organizadas 1.1. Materiais cerâmicos: definição Os materiais podem ser divididos, a grosso modo, em quatro classes: metálicos, cerâmicos, polímeros e compósitos. A Figura 1 mostra as características gerais das três primeiras classes. Os compósitos são materiais heterogêneos (mais de uma fase), formados pela combinação de mais de um tipo de material, podendo esses materiais seremda mesma classe (duas cerâmicas, dois polímeros, etc). Uma fase apresenta as mesmas características em todos os seus pontos, sendo uniforme quando observada ao microscópio. Sempre que olhamos para uma mistura homogênea (uma única fase) vemos "uma só coisa". Objetivos - Conhecer os materiais cerâmicos e suas estruturas. - Conhecer os fatores que afetam as massas específicas das cerâmicas e como calculá-las. - Conhecer as principais imperfeições dos materiais cerâmicos organizados. Semana 1 – Definição e estruturas cristalinas Plataforma +IFMG Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 16 Figura 1 – Classes básicas dos materiais. Fonte: Elaborado pela autora. Os materiais cerâmicos são inorgânicos, formados por compostos de elementos metálicos e não metálicos, em proporções bem definidas. Os sais comuns, como o cloreto de sódio (NaCl), são classificados como materiais cerâmicos, assim como os óxidos metálicos, como a alumina (Al2O3). Outros exemplos são: os compostos presentes no cimento, o vidro, as louças de cerâmicas, os revestimentos cerâmicos, a sílica e o tijolo, sendo muito importantes para a construção civil em geral, mas não são restritas a essa área. Dica do Professor: Note que nos dois exemplos fornecidos (NaCl e Al2O3) temos elementos metálicos e não metálicos formando um composto de proporção definida. No caso do NaCl, temos a proporção de um cátion Na+ para um ânion Cl-, enquanto no Al2O3 temos dois cátions Al3+ para três ânions O2-. As ligações que ocorrem entre os átomos/íons que constituem as cerâmicas variam, dependendo da diferença de eletronegatividade entre os átomos, podendo possuir caráteres covalentes ou iônicos, não sendo “puras”, conforme exemplos mostrados na tabela abaixo. Ligações puramente covalentes só existem em materiais formados por átomos do mesmo elemento. Exemplos: C-C no diamante. Composto Porcentagem da natureza iônica Caráter predominante CaFe2 89% Iônico NaCl 67% Iônico ZnS 18% Covalente Tabela 1 – Caráteres covalentes e iônicos de cerâmicas. Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Callister e Rethwisch (2012). Plataforma +IFMG Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 17 A Figura 2 resume as informações sobre as cerâmicas. Figura 2 – Características das cerâmicas. Fonte: Elaborado pela autora. 1.2. Fatores que influenciam as estruturas dos materiais cerâmicos As estruturas das cerâmicas de ligações predominantemente iônicas podem ser consideradas como um empilhamento de íons positivos (cátions) ou negativos (ânions). Os fatores que influenciam a estrutura do cristal produzido são mostrados na Figura 3. Plataforma +IFMG Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 18 Figura 3 – Fatores que influenciam a estrutura cristalina das cerâmicas. Fonte: Elaborado pela autora. As estruturas cristalinas das cerâmicas serão estáveis quando todos os contra-íons (íon de carga oposta) que estão ao redor de um íon central encostarem nele (Figura 4). Figura 4 – Estabilidade de estruturas iônicas. Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Callister e Rethwisch (2012). Portanto, o número de coordenação (quantidade de átomos encostados, segundo o modelo de esferas rígidas, no átomo/íon em análise) dependerá muito da diferença entre os raios, como já foi mostrado nas Figuras 3 e 4. Quanto maior for a diferença entre os raios dos íons, menor será o número de coordenação. Números de coordenação muito altos, como 8, só são possíveis para íons com tamanhos semelhantes. Para se determinar o número de coordenação de um íon pela análise dos raios dos íons, analisa-se as Regras de Pauling, resumidas na Tabela 2. Para números de coordenação superiores a 4 as esferas Plataforma +IFMG Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 19 que representam os átomos de cor azul foram colocadas com certa transparência para facilitar a visualização dos átomos que estão atrás. Tabela 2 – Influência dos raios dos íons no número de coordenação do átomo/íon marcado em amarelo. Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Callister e Rethwisch (2012). Os raios de alguns íons comuns estão presentes na Tabela 3. Podemos utilizá-los para tentarmos prever o número de coordenação de alguns compostos iônicos. Por exemplo, para o cloreto de sódio (NaCl), a razão rcátion/rânion é 0,563, o que nos indica um número de coordenação igual a 6. Algumas substâncias com valores de rcátion/rânion próximos ao limite entre as coordenações podem “fugir” da regra de Pauling, então temos que tomar cuidado pois existem exceções. Cátion Raio iônico (nm) Ânion Raio iônico (nm) Al3+ 0,053 Br- 0,196 Ca2+ 0,100 Cl- 0,181 Fe3+ 0,069 F- 0,133 Na+ 0,102 I- 0,220 Mg2+ 0,072 O2- 0,140 K+ 0,138 S2- 0,184 Tabela 3 – Raios de íons comuns. Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Callister e Rethwisch (2012). Plataforma +IFMG Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 20 1.3. Estruturas cristalinas comuns Como já foi dito, as estruturas das cerâmicas de ligações predominantemente iônicas podem ser consideradas como um empilhamento de íons positivos (cátions) ou negativos (ânions). Em estruturas cerâmicas organizadas, mas de caráter covalente, podem ser vistas como um empilhamento de átomos unidos por ligações covalentes. Analisaremos as mais comuns nos próximos tópicos. Estruturas com proporção de 1 cátion para 1 ânion A estrutura mais comum deste grupo é a sal-gema, que é a do sal NaCl. Nessa estrutura tanto os cátions quanto os âniíons possuem número de coordenação igual a 6, conforme pode ser observado na Figura 5. Se visualizarmos os cátions e ânions de maneiras isoladas, veremos que cada um deles está organizado na forma de redes de cubo de face centradas (CFCs), conforme Figuras 6 e 7. Figura 5 – Estrutura sal-gema, do cloreto de sódio (NaCl), em proporções não reais. Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Callister e Rethwisch (2012). Figura 6 – Estrutura CFC do cloreto na estrutura sal-gema (proporções não reais). Fonte: Elaborado pela autora. Plataforma +IFMG Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 21 Figura 7 – Estrutura CFC do cátion sódio na estrutura sal-gema (proporções não reais). Fonte: Elaborado pela autora. Outra estrutura possível é a do cloreto de césio (CsCl), mostrada na Figura 8, com número de coordenação, tanto para os cátions quanto para os ânions, igual a 8. Se analisarmos os cátions e ânions de maneira isolada, veremos que cada um deles possui estrutura cúbica simples. Figura 8 – Estrutura do cloreto de césio (CsCl), em proporções não reais. Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Callister e Rethwisch (2012). A estrutura blenda de zinco (Figura 9), também chamada de esfarelita, ocorre quando o número de coordenação é 4. A ligação Zn-S tem caráter covalente e a geometria formada é tetraédrica tanto para o zinco quanto para o enxofre. Plataforma +IFMG Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 22 Figura 9 – Estrutura blenda de zinco (proporções não reais). Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Callister e Rethwisch (2012). Estruturas com proporções diferentes de 1 cátion para 1 ânion Ocorrem quando os módulos das cargas dos íons não são iguais. O número de coordenação e o tipo da estrutura variam de acordo com as cargas e os tamanhos dos íons, conforme estudamos no tópico 1.2. Como exemplo, temos as estruturas fluorita, com a proporção de um cátion para dois ânions, como o CaF2, e a antifluorita, com a proporção de dois cátions para um ânion, como o K2O. As duas estruturas são bem semelhantes, ocorrendo apenas a troca das posições dos ânions pelos cátions e vice-versa, conforme Figura 10. Figura 10 – Estruturasfluorita e antiflorita (proporções não reais). Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Callister e Rethwisch (2012). Plataforma +IFMG Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 23 Mídia digital: Vá até a sala virtual e veja o vídeo “Estrutura da antifluorita”. Ele mostra com mais detalhes a organização dos átomos nessas estruturas. Estruturas com dois cátions diferentes Alguns compostos são formados por mais de um cátion na estrutura. Da mesma forma que as demais, o número de coordenação e a estrutura irá depender das cargas dos íons e das proporções cátions/ânions. Como exemplo, temos a estrutura do titanato de bário (BaTiO3), na Figura 11, onde os ânions óxido se encontram no centro de cada face da célula unitária, os cátions bário nos vértices e os cátions titânio no centro de cada célula unitária. Figura 11 – Estrutura do titanato de bário (proporções não reais). Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Callister e Rethwisch (2012). Resumo das estruturas comuns A Tabela 4 resume as estruturas mais comuns e as suas características. Analisando- se as cargas e os raios dos íons de um composto cristalino de estrutura desconhecida, podemos realizar uma previsão dessa estrutura, como mostrado na videoaula “Materiais cerâmicos e suas estruturas”. Plataforma +IFMG Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 24 Nome da estrutura Proporção Compactação dos ânions Números de coordenação Cátion Ânion Sal-gema (cloreto de sódio) 1 cátion: 1 ânion Cubo de face centrada 6 6 Cloreto de Césio 1 cátion: 1 ânion Cúbica simples 8 8 Esfarelita (blenda de zinco) 1 cátion: 1 ânion Cubo de face centrada 4 4 Fluorita 1 cátion: 2 ânions Cúbica simples 8 4 Perovskita 1 cátion A: 1 cátion B: 3 ânions Cubo de face centrada 12 (A) 6 (B) 6 Espinélio 1 cátion A: 2 cátions B: 4 ânions Cubo de face centrada 4 (A) 6 (B) 4 Tabela 4 – Resumo das características de cada estrutura cerâmica. Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Callister e Rethwisch (2012). Assista à videoaula abaixo, que explica o conteúdo da primeira parte da semana e mostra a resolução de um exercício, e faça os exercícios propostos. Mídia digital: Vá até a sala virtual e assista à videoaula “Materiais cerâmicos e suas estruturas”. Atividade: Para concluir a primeira etapa de estudos, vá até a sala virtual e faça os “Exercícios sobre estruturas das cerâmicas”. 2. Massa específica de cerâmicas organizadas As massas específicas (ρ) dos materiais cerâmicos podem ser calculadas de maneira semelhante ao cálculo realizado para materiais metálicos. Para determiná-la, basta analisarmos as quantidades de cátions e ânions presentes no interior da célula unitária, calcularmos a massa desses íons e dividirmos pelo volume da célula unitária. Isto pode ser equacionado pela fórmula abaixo: 𝝆 = 𝒏,( ∑ 𝑴𝑪 + ∑ 𝑴𝑨) 𝑽𝑪. 𝑵𝑨 Plataforma +IFMG Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 25 Sendo: • n’ a quantidade de fórmulas do sal no interior da célula unitária. • ∑ 𝑀𝐶 a soma dos pesos atômicos dos cátions na fórmula da cerâmica. • ∑ 𝑀𝐴 a soma dos pesos atômicos dos ânions na fórmula da cerâmica. • Vc o volume da célula unitária e NA o número de Avogadro (6,02.1023) Conforme a equação, temos que avaliar a quantidade de fórmulas do sal no interior da célula unitária. Essa determinação tem que ser feita analisando-se apenas a fração do átomo/íon que está no interior da célula, desprezando-se as demais partes externas do átomo. Vamos prever, por exemplo, a massa específica da estrutura do cloreto de sódio, mostrada na Figura 5 do tópico 1.3. Células unitárias com menos espaços vazios tendem a ser mais densas. Primeiro iremos analisar a quantidade de fórmulas de NaCl por célula. Cada íon cloreto (Cl-) presente nos vértices da célula unitária contém apenas 1/8 do seu volume no interior da célula. Isto pode ser percebido dividindo-se a esfera de qualquer cloreto no vértice da face superior da célula na horizontal e dividindo a meia-esfera de baixo em 4 partes - cruz. Você verá que a parte que está para dentro da célula é referente a apenas ¼ da metade inferior da esfera, ou seja, 1/8 do total. Os cloretos que estão no meio das faces da célula possuem ½ da esfera para dentro da célula. No total, teremos 8 cloretos nos vértices e 6 cloretos nas faces (Figura 12) e, somando-se todos os “pedaços” deles, teremos 4 cloretos “inteiros”: ( 1 8 . 8) + (6. 1 2 ) = 4 Figura 12 – Frações dos átomos no interior da célula unitária (proporções não reais). Fonte: Elaborado pela autora. Plataforma +IFMG Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 26 Para o caso dos cátions sódio (Na+), temos ¼ da esfera dos cátions presentes no meio da aresta e um átomo inteiro no meio da célula unitária para dentro da célula unitária. No total, também teremos 4 cátions “inteiros” por célula unitária: ( 1 4 . 12) + 1 = 4 Assim, temos 4 fórmulas do NaCl por célula unitária. Agora vamos calcular o volume da célula unitária. Para facilitar, a estrutura do NaCl foi colocada em proporções reais e a visualização de uma única face da célula unitária na Figura 13. Pela vista da face, podemos observar que cada aresta da célula unitária é formada por dois raios de cada íon. Com os valores presentes na Tabela 3 podemos calcular o tamanho da aresta da célula unitária e, após, o seu volume. Comprimento da aresta= 2. rCl- + 2. rNa+ =2.(0,181)+2.(0,102)=0,566 nm Figura 13 –Estrutura do NaCl em proporção real e vista de apenas uma das faces da célula unitária. Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Callister e Rethwisch (2012). A massa específica é geralmente expressa em g/cm³ ou kg/dm³. Vamos calculá-la em g/cm³. Para isso, o volume que será utilizado tem que estar na unidade “cm³” e, consequentemente, teremos que converter o comprimento da aresta para cm. Utilizarei o fator de conversão, que é 10-7 quando se passa de nanômetros para centímetros: Comprimento da aresta= 0,566 nm = 0,566.10-7 cm Agora podemos calcular o volume da célula, que é cúbica: 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑒 𝑢𝑚 𝑐𝑢𝑏𝑜 = 𝑎𝑟𝑒𝑠𝑡𝑎3 = (0,566. 10−7 𝑐𝑚)3 = 1,813. 10−22 𝑐𝑚³ Por fim, basta usarmos esses valores na fórmula: 𝜌 = 4. (22,99 + 35,45)𝑔. 𝑚𝑜𝑙−1 (1,813. 10−22 𝑐𝑚)3.6,02.1023𝑚𝑜𝑙−1 = 2,14 𝑔/𝑐𝑚³ Plataforma +IFMG Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 27 A videoaula abaixo ensina como fazer a previsão da massa específica de um material cerâmico e mostra a resolução do exemplo acima. Mídia digital: Vá até a sala virtual e assista à videoaula “Massa específica de cerâmicas organizadas”. 3. Imperfeições nas cerâmicas organizadas Assim como ocorre nas estruturas metálicas, as cerâmicas organizadas podem apresentar defeitos. Entretanto, diferentemente dos metais, as estruturas das cerâmicas de caráter iônico apresentam íons de cargas opostas e o princípio de eletroneutralidade (mesma quantidade de cargas positivas e negativas) deve ser mantido. Toda estrutura deve ser neutra! Como consequência disso, os defeitos em cerâmicas iônicas não ocorrem de forma isolada, sendo impactado no contra-íon. O defeito de Schottky (Figura 14) é formado por um par de lacunas aniônica e catiônica (para materiais com proporção de um cátion para um ânion). Como está ocorrendo a ausência de um de cada íon, a eletroneutralidade é mantida. Para íons com proporções diferentes de um cátion para um ânion, as lacunas catiônicas e aniônicas devem manter a mesma proporção dos cátions e ânions no composto. Figura 14 –Defeito de Schottky. Fonte: Elaborado pela autora. O defeito de Frenkel (Figura 15) é formado por um par contendo uma lacuna catiônica e um cátion intersticial. Acontecequando o cátion, por geralmente ser bem menor que o ânion, sai de sua posição e se encaixa de maneira intersticial na estrutura. A eletroneutralidade não se altera, já que houve apenas uma mudança de posição. Defeitos de Frenkel aniônicos podem ocorrer quando o ânion é menor que o cátion, como é o caso dos compostos UO2 e CeO2. Plataforma +IFMG Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 28 Figura 15 –Defeito de Frenkel. Fonte: Elaborado pela autora. A presença de íons de fácil oxidação/redução também pode ocasionar defeitos no material. Por exemplo, o Fe2+ do óxido de ferro (II), FeO, pode ser facilmente oxidado para Fe3+. Esta alteração da carga deve ser compensada para não afetar o princípio de eletroneutralidade, e isto ocorre pela geração de defeitos. Uma possibilidade é a formação de uma lacuna de Fe2+ para cada dois ferros oxidados a Fe3+. Observe que dois Fe3+ possuem seis cargas positivas, e essas posições antigamente eram ocupadas por dois Fe2+ (quatro cargas positivas). A formação da lacuna reestabelece o equilíbrio, pois onde existam três Fe2+ (seis cargas positivas) agora existem dois Fe2+ e uma lacuna (seis cargas positivas). Atenção: quanto maior a temperatura, maior a quantidade de defeitos no material. 3.1. Impurezas nas cerâmicas iônicas As cerâmicas podem apresentar impurezas, assim como os metais, sendo possíveis soluções sólidas intersticiais e substitucionais. Soluções sólidas intersticiais ocorrem quando o átomo da impureza entra em uma posição que originalmente era vazia (interstício) na estrutura do composto. Já as soluções sólidas substitucionais ocorrem quando o átomo da impureza substitui um átomo da estrutura original do composto. A Figura 16 ilustra as impurezas substitucionais e intersticiais. Plataforma +IFMG Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 29 Figura 16 – Impurezas substitucionais e intersticiais. Fonte: Elaborado pela autora. Quando a presença da impureza provocar um distúrbio na eletroneutralidade do material, a sua incorporação originará defeitos de forma a se manter a eletroneutralidade. Atenção: um cátion de carga +2, para ser inserido substituindo um cátion +1 em uma estrutura, irá ocasionar uma lacuna catiônica em uma posição contendo outro cátion de carga +1, por exemplo. De forma geral, as Regras de Hume-Rothery para a formação de soluções sólidas substitucionais para os metais são válidas para as cerâmicas. A Tabela Abaixo as resume. Fator Regra Exemplos Tamanho Para que a solução sólida seja substitucional, a diferença entre os raios do hospedeiro e da impureza que irá substituí-lo deve ser menor que 15%. Incorporação de Cd-S em Cd-Se é favorecida pelo raio: rS2- = 0,184 nm rSe2-= 0,198 nm Carga As cargas do hospedeiro e do substituinte devem ser iguais para favorecer a solução sólida em maiores concentrações. Incorporação de Cd-S em Cd-Se também é favorecida pela carga, já que os dois ânions possuem cargas iguais a -2. Afinidade química Quando o substituinte pode formar novas fases (novos compostos químicos) com os hospedeiros, a solução sólida não será tão favorável Al3+ não é favorecido no MgO, pois tendem a formar a nova fase MgAl2O4. Plataforma +IFMG Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 30 pois as espécies tenderão a formar a nova fase em maiores concentrações do soluto. Estruturas cerâmicas Quando o composto que está se inserindo na estrutura do hospedeiro possui, quando puro, a mesma estrutura dele, a solução sólida será mais favorecida pois ambos terão o mesmo número de coordenação tanto para os cátions quanto para os ânions, facilitando a substituição. MgO e NiO possuem a mesma estrutura, com a mesma organização dos átomos e números de coordenação. Por isso, a substituição será favorecida por este quesito. Tabela 5 – Regras de Hume-Rothery para cerâmicas. Fonte: Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Carter e Norton (2013). 3.2. Difusão em cerâmicas A difusão em compostos iônicos é mais complexa do que a que ocorre em metais, tendo em vista que existem pelo menos 2 íons diferentes. Ela normalmente ocorre pelo mecanismo de lacunas, já que a movimentação intersticial não é favorecida pela presença de íons grandes, a grande atração entre íons de cargas opostas e a grande repulsão entre íons de cargas iguais. Geralmente há movimentação simultânea de outros íons de cargas opostas ou lacunas na vizinhança para se manter a eletroneutralidade local. A presença de imperfeições auxilia o processo de difusão. Agora que terminamos o conteúdo da segunda semana do nosso curso, assista à videoaula abaixo, que resume o assunto. Mídia digital: Vá até a sala virtual e assista à videoaula “Defeitos e impurezas em cerâmicas iônicas”. Concluída essa semana de estudos é hora de uma pausa para a reflexão. Faça a leitura (ou releitura) de tudo que lhe foi sugerido, assista aos vídeos propostos e analise todas essas informações com base na sua experiência profissional. Esse intervalo é importante para amadurecer as novas concepções que esta etapa lhe apresentou! Plataforma +IFMG Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 31 Atividade: Para concluir a segunda etapa de estudos, vá até a sala virtual e faça o “Exercício sobre densidade, imperfeições e difusão em cerâmicas”. Nos encontramos na próxima semana. Bons estudos! Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 32 Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 33 4. Propriedade mecânicas 4.1. Propriedades mecânicas gerais das cerâmicas As cerâmicas, em geral, são resistentes, mas apresentam fratura frágil, isto é, sem ter deformação plástica considerável. Outra característica deste grupo é ter resistência à tração variável, mesmo em formulações idênticas. Entenderemos os motivos destas características nessa semana de aula. 4.2. Fratura frágil em cerâmicas Ao se aplicar uma força de tração (puxando as duas extremidades do material em direções opostas ou deixando uma extremidade presa e puxando a outra) sobre um material ele irá sofrer, inicialmente, uma deformação elástica, sendo esta seguida por uma deformação plástica. A deformação de um material é chamada de elástica quando, ao se cessar a força, o material volta ao comprimento original antes da aplicação da força, conforme Figura 17. Figura 17 – Deformação elástica de um material. Fonte: Elaborado pela autora. Objetivos Conhecer as propriedades mecânicas dos materiais cerâmicos e os motivos dessas propriedades. - Aprender a interpretar os diagramas de fases dos materiais cerâmicos. Semana 2 – Propriedades mecânicas das cerâmicas Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 34 A deformação é dita plástica quando, após o cessar da força de tração, o material não retorna completamente ao tamanho original (Figura 18). Essa diferença entre os tamanhos original e final é a deformação plástica do material nas condições em que o teste foi realizado. Toda deformação plástica é permanente! Figura 18 – Deformação plástica de um material. Fonte: Elaborado pela autora. Atenção: toda deformação plástica é precedida de uma deformação elástica, nem que ela seja mínima, conforme Figura 18. Um material é chamado de frágil quando ele se parte com deformações plásticas mínimas, diferentemente dos materiais dúcteis, que sofrem grandes deformações plásticas, conforme esboços da Figura 19. Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 35 Figura 19 – Fraturas em materiais frágeis e dúcteis. Fonte: Elaborado pela autora. Essa característica dos materiais cerâmicos se deve à presença: • dos íons, nocaso das estruturas iônicas; • e das ligações covalentes contínuas nas cerâmicas que formam sólidos covalentes, já que estes não formam moléculas isoladas, mas o sólido como um todo está ligado covalentemente. Fratura frágil em cerâmicas iônicas cristalinas Como já vimos, normalmente as cerâmicas iônicas são formadas por íons positivos e negativos bem organizados. Ao se aplicar uma força sobre este material, camadas iônicas são deslocadas, o que faz com que haja o encontro de fileiras íons de cargas iguais, conforme Figura 20 abaixo. Este encontro provoca grande repulsão eletrostática no material, fazendo que ele se rompa. Cerâmicas se rompem, em testes de tração, com deformações de apenas 0,1%, um valor extremamente baixo. Figura 20 – Repulsão entre as fileiras de íons devido ao deslocamento de uma delas. Fonte: Elaborado pela autora. Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 36 Fratura frágil em cerâmicas covalentes cristalinas No caso de cerâmicas que formam sólidos covalentes, o sólido está inteiramente ligado por ligações covalentes, como mostrado na Figura 21. Para estes materiais, o rompimento ocorre mediante a quebra das ligações covalentes. A deformação elástica é mínima, já que as ligações covalentes não são facilmente “esticadas”, e praticamente não há deformação plástica. Figura 21 – Cerâmica covalente. Fonte: Elaborado pela autora. Cerâmicas não cristalinas (amorfas) se deformam mais facilmente que as cristalinas por movimentos de escoamento que se assemelham aos líquidos, mas com viscosidade muito maior, sendo essa deformação facilitada pelo aumento da temperatura. Influência das imperfeições nos materiais Os testes de tração em cerâmicas são muito influenciados por imperfeições do material, como a presença de poros ou trincas. Esses defeitos amplificam o efeito da tensão sobre o material e são difíceis de serem controlados durante a produção do material. Por isso, uma mesma formulação cerâmica pode apresentar uma variação muito grande de resistência à tração, como mostrado na Figura 22. Além disso, é difícil se preparar os materiais nas geometrias necessárias e prendê-los sem fraturá-los. Por estes motivos, os ensaios de tração não são utilizados de parâmetro para a resistência mecânica das cerâmicas. Quanto maior a porosidade e/ou a presença de trincas, menor será a resistência à tração do material. Figura 22 – Variação da resistência à tração das cerâmicas devido às imperfeições. Fonte: Elaborado pela autora. Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 37 Já quando uma força de compressão é aplicada nos materiais cerâmicos, eles se mostram bem resistentes, cerca de 10 vezes mais que à tração. Outro benefício dos testes que envolvem forças de compressão é que eles são pouco influenciados pelas imperfeições citadas anteriormente. Isso ocorre pois a força de compressão não é capaz de propagar trincas nos materiais, diferentemente das forças de tração. Basta você imaginar uma calça sem rasgos e outra com um corte provocado por uma faca. A peça cortada irá se rasgar muito mais facilmente que a que não tinha defeitos quando uma força de tração for aplicada sobre ela. Já para forças de compressão, ao se comprimir a calça, o rasgo não será propagado. O teste de flexão é o teste normalmente utilizado para se medir a resistência do material cerâmico. Quando se aplica uma força de flexão (Figura 23) em um material, a face superior dele, que está sendo pressionada, sofre uma força de compressão enquanto a face inferior sofre forças de tração. Por esse motivo, a trinca será iniciada na parte inferior da peça. Essa força causa uma deformação no material até ele se romper. Os valores de tensão necessários para a ruptura costumam variar entre 70 e 500 GPa. Figura 23 – Esboço dos ensaios de flexão em três e quatro pontos. Fonte: Elaborado pela autora. Atenção: Os testes de flexão fornecem resultados mais confiáveis que os resultados de tração e raramente se observa deformação plástica no material, apenas elástica. Agora, acesse a videoaula gravada especialmente para você, que resume o conteúdo que foi abordado, e faça os exercícios propostos. Mídia digital: Vá até a sala virtual e assista à videoaula “Propriedades mecânicas de cerâmicas”. Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 38 Atividade: Para concluir a terceira etapa de estudos, vá até a sala virtual e faça o “Exercício sobre as propriedades mecânicas das cerâmicas”. 5. Diagramas de fases As misturas cerâmicas podem ser homogêneas, quando se dissolvem completamente uma na outra e apresentam apenas uma fase, ou heterogêneas, quando não se solubilizam completamente e, por isso, apresentam mais de uma fase. Uma fase apresenta as mesmas características em todos os seus pontos, sendo uniforme quando observada ao microscópio. Sempre que olhamos para uma mistura homogênea vemos "uma só coisa". Os diagramas de fases binários (dois componentes) são gráficos que apresentam, usualmente, a temperatura (eixo y) em função da concentração de um dos compostos (eixo x), à pressão constante. No caso de cerâmicas, esses compostos normalmente compartilham um íon em comum, como: Al2O3 com MgO, que compartilham o ânion óxido (O2-) em comum. O diagrama de fases mostra as fases presentes quando se varia a temperatura ou a concentração dos compostos. Ele é muito útil, pois nos dá condição de analisarmos a quantidade de fases, as concentrações dos compostos em cada fase e até mesmo a proporção das fases (a porcentagem de cada fase na mistura heterogênea). 5.1. Interpretação de diagramas de fases Todo diagrama de fases (também conhecido como diagrama de equilíbrio) é dividido por linhas (linhas de equilíbrio) e essa divisão provoca a formação de regiões. Dentro de cada região do gráfico é descrita a fase ou a mistura de fases que está presente. Cada linha de equilíbrio corresponde à temperatura, naquela composição, em que se tem o equilíbrio químico entre as fases que existem nas regiões que são divididas pela linha, elas coexistem. Vamos analisar isso em um diagrama de fases real, iniciando com o tipo mais simples, o isomorfo. Sistemas isomorfos são aqueles em que as substâncias que os compõem são totalmente solúveis umas nas outras. O diagrama de fases do sistema Al2O3- Cr2O3 (Figura 24) possui três regiões distintas. A superior é formada pelo líquido fundido homogêneo. A inferior é formada pela solução sólida homogênea contendo a mistura de Al2O3 e Cr2O3. A do meio corresponde às faixas de temperatura e composição em que o líquido e o sólido coexistem. Três pontos foram marcados no gráfico: A (30% p Cr2O3, 2200 °C), B (30% p Cr2O3, 2100 °C) e C (30% p Cr2O3, 2000 °C). Para descobrirmos qual(is) será(ão) a(s) fase(s) presentes em cada ponto, basta analisarmos a região em que aquele ponto está. O ponto A está na região “Líquido” do gráfico e, portanto, a amostra, que contém 30%p de Cr2O3, estará na fase líquida a 2200 °C. A amostra, nas condições do ponto B, será Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 39 composta por duas fases, o líquido e a solução sólida. Já nas condições do ponto C, a amostra será formada pela solução sólida homogênea. Figura 24 – Diagrama de fases do sistema isomorfo Al2O3-Cr2O3. Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Callister e Rethwisch (2012). Como o diagrama binário contém apenas dois componentes, para descobrirmos a concentração do componente que não está explícito no eixo x basta subtrairmos 100 pelo valor do componente que está no eixo x. Por exemplo, a concentração de Cr2O3 nos pontos A, B e C era igual a 30%. Logo, a concentração de Al2O3 nos três pontos será igual a 70% (100-30). Também podemos utilizar os diagramas de fases para determinarmos as concentraçõesdos compostos em cada fase das regiões em que a amostra é heterogênea. Usaremos o ponto B da Figura 24 como exemplo. Para isso, temos que traçar uma reta horizontal na temperatura em que o ponto se encontra (chamada de linha de amarração) e identificarmos as concentrações em que esta reta encontra as linhas de equilíbrio com as fases puras, conforme Figura 25. No caso em análise, a linha de amarração encontrou com a linha de equilíbrio que faz divisa com a fase líquida na concentração igual a 20%p de Cr2O3 e encontrou com a linha de equilíbrio que faz divisa com a fase sólida na concentração igual a 40%p de Cr2O3. Esses valores correspondem às concentrações de Cr2O3 nas duas fases que estão presentes no ponto B. Assim, a fase sólida presente no ponto B terá concentrações de Cr2O3 e Al2O3 iguais a 40% e 60%, respectivamente, enquanto a fase líquida presente no ponto B terá concentrações desses compostos iguais a, respectivamente, 20% e 80%. Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 40 Figura 25 – Linha de amarração no diagrama de fases do sistema Al2O3-Cr2O3. Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Callister e Rethwisch (2012). Por fim, podemos prever qual será a porcentagem de cada fase em determinado ponto do diagrama de fases. Para isso, precisaremos dos valores das concentrações de cada fase que determinamos anteriormente. Temos que realizar a chamada “regra da alavanca” e calcular a porcentagem de cada fase, utilizando as fórmulas abaixo: %𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎: ( 𝐶𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑎 − 𝐶𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎 𝐶𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑎 − 𝐶𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎 ) . 100 %𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑎: ( 𝐶𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎 − 𝐶𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎 𝐶𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑎 − 𝐶𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎 ) . 100 Observe que o dividendo da fração (parte superior da divisão) é referente ao tamanho do lado oposto ao da fase que estamos analisando, enquanto o divisor é referente ao tamanho completo da linha de amarração (desde a fase sólida até a fase líquida). Vamos fazer o cálculo para a fase líquida do ponto B: %𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎: ( 𝐶𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑎 − 𝐶𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎 𝐶𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑎 − 𝐶𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎 ) . 100 = ( 40 − 30 40 − 20 ) . 100 = 50% Como só temos duas fases, então podemos determinar a porcentagem da outra fase subtraindo-se os 50% de 100 % (total): 100 – 50 = 50%. Se tivéssemos feito o cálculo pela fórmula, também chegaríamos no mesmo resultado. Este resultado nos mostra que, nas condições de temperatura e concentração do ponto B, a amostra será formada por 50% em peso de fase líquida (contendo 20%p de Cr2O3 nesta fase) e 50% em peso de fase sólida (contendo 40% p de Cr2O3 nesta fase). Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 41 Vamos analisar mais um exemplo, mas desta vez de um diagrama mais complexo, de um sistema eutético binário. Sistemas eutéticos possuem pelo menos duas fases sólidas e possuem regiões sólidas heterogêneas, como podemos observar no diagrama de fases MgO-Al2O3 (Figura 26). Figura 26 –Diagrama de fases do sistema MgO-Al2O3. Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Callister e Rethwisch (2012). Iremos analisar o ponto “X” marcado no gráfico, identificando, neste ponto, as fases presentes, as concentrações dos compostos em cada fase e as porcentagens de cada fase. A concentração da amostra, nesse ponto, é igual a 20%p de Al2O3 e 80%p de MgO. A temperatura é 2200 °C. Atenção: O diagrama de fases eutético tem este nome por possuir uma concentração na qual ocorre a transformação eutética. A transformação eutética é aquela em que o líquido se transforma em duas fases sólidas distintas. O sistema MgO-Al2O3 possui duas transformações eutéticas diferentes. Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 42 Figura 27 –Linha de amarração no ponto X do diagrama de fases do sistema MgO-Al2O3. Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Callister e Rethwisch (2012). O ponto está na região que contém as fases MgO(ss) e líquido. Ao fazer a linha de amarração (Figura 27), podemos perceber que ela se encontra com a linha de divisa com MgO (ss) em concentração aproximada de 13%p de Al2O3 e com a linha de divisa com o líquido em 45%p de Al2O3. Então, a fase MgO (ss) é composta por 13%p de Al2O3 e 87%p de MgO, enquanto a fase líquida é composta por 45%p de Al2O3 e 55%p de MgO. Para descobrirmos as porcentagens de cada fase na mistura, temos que fazer a regra da alavanca: %𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎: ( 𝐶𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎 − 𝐶𝑀𝑔𝑂 𝐶𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 − 𝐶𝑀𝑔𝑂 ) . 100 = ( 20 − 13 45 − 13 ) . 100 = 21,9% A porcentagem de fase sólida MgO (ss) na amostra será 78,1% (100-28). Terminamos a análise do ponto “X”. Por mais complexo que um diagrama de fases possa ser, a análise será sempre igual, então entenda bem o princípio dela. Agora, acesse a videoaula desta parte do conteúdo e faça os exercícios propostos. Mídia digital: Vá até a sala virtual e assista à videoaula “Diagramas de fases de cerâmicas”. Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 43 Atividade: Para concluir a quarta etapa de estudos, vá até a sala virtual e faça o “Exercício sobre diagramas de fases de cerâmicas”. Chegamos ao fim do nosso curso. Obrigada por participar até aqui! Busque sempre o seu aprimoramento profissional e pessoal! A Plataforma +IFMG possui diversos cursos que poderão auxiliá-lo 😉 Acesse a Plataforma +IFMG e confira os cursos gratuitos disponíveis. https://mais.ifmg.edu.br/ Instituto Federal de Minas Gerais Pró-Reitoria de Extensão 44 Parabéns pela conclusão do curso. Foi um prazer tê-lo conosco! 45 Referências Callister, W. D. J.; Rethwisch, D. G. Ciência e Engenharia de materiais: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2012. Carter, C. B.; Norton, M. G. Ceramic Materials: Science and Engineering. 2 ed. Nova York: Springer, 2013. Kingery, W. D.; Bowen, H. K.; Uhlmann, D. R. Introduction to ceramics. 2 ed. Nova York: John Wiley & Sons, 1976. 46 47 Currículo da autora Feito por (professor- autor) Data Revisão de layout Data Versão Lilian Amaral de Carvalho 18/05/2021 Viviane Lima Martins 18/05/2021 1.0 Lilian Amaral de Carvalho é Doutora (2012-2015), mestre (2011-2012) e bacharel (2007-2010) em Química pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Licenciada em Química (2019) e Especialista em Gestão de Sala de Aula (2021) pela Universidade de Uberaba. Foi professora substituta no Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais e professora do Centro Universitário Una (unidades de Betim e Belo Horizonte), entre 2014 e 2019, sendo paraninfa e professora homenageada de duas turmas do curso de Engenharia Química da última instituição citada. Preparou o material didático das disciplinas Físico-Química e Química para Processos, disciplinas ofertadas na modalidade de ensino híbrido (atividades presenciais e à distância) no Centro Universitário Una, e é co-autora de dois livros didáticos aprovados pelo MEC que tratam do uso da metodologia de projetos no ensino básico. É parecerista de periódicos científicos e orientadora de trabalhos de conclusão de curso e de projetos de ensino, pesquisa e extensão, atuando em diversas áreas. Atualmente é professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais e coordenadora do Centro de Educação a Distância (CEAD), atuando no campus Arcos. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0449687798098980 http://lattes.cnpq.br/0449687798098980 48 49 Glossário de códigos QR (Quick Response) Mídia digital Apresentaçãodo curso Mídia digital Estrutura da antifluorita Mídia digital Materiais cerâmicos e suas estruturas Mídia digital Massa específica de cerâmicas organizadas Mídia digital Defeitos e Impurezas em cerâmicas iônicas Mídia digital Propriedades mecânicas de cerâmicas Mídia digital Diagramas de fases de cerâmicas 50 Plataforma +IFMG Formação Inicial e Continuada EaD A Pró-Reitoria de Extensão (Proex), neste ano de 2020 concentrou seus esforços na criação do Programa +IFMG. Esta iniciativa consiste em uma plataforma de cursos online, cujo objetivo, além de multiplicar o conhecimento institucional em Educação à Distância (EaD), é aumentar a abrangência social do IFMG, incentivando a qualificação profissional. Assim, o programa contribui para o IFMG cumprir seu papel na oferta de uma educação pública, de qualidade e cada vez mais acessível. Para essa realização, a Proex constituiu uma equipe multidisciplinar, contando com especialistas em educação, web design, design instrucional, programação, revisão de texto, locução, produção e edição de vídeos e muito mais. Além disso, contamos com o apoio sinérgico de diversos setores institucionais e também com a imprescindível contribuição de muitos servidores (professores e técnico- administrativos) que trabalharam como autores dos materiais didáticos, compartilhando conhecimento em suas áreas de atuação. A fim de assegurar a mais alta qualidade na produção destes cursos, a Proex adquiriu estúdios de EaD, equipados com câmeras de vídeo, microfones, sistemas de iluminação e isolação acústica, para todos os 18 campi do IFMG. Somando à nossa plataforma de cursos online, o Programa +IFMG disponibilizará também, para toda a comunidade, uma Rádio Web Educativa, um aplicativo móvel para Android e IOS, um canal no Youtube com a finalidade de promover a divulgação cultural e científica e cursos preparatórios para nosso processo seletivo, bem como para o Enem, considerando os saberes contemplados por todos os nossos cursos. Parafraseando Freire, acreditamos que a educação muda as pessoas e estas, por sua vez, transformam o mundo. Foi assim que o +IFMG foi criado. O +IFMG significa um IFMG cada vez mais perto de você! Professor Carlos Bernardes Rosa Jr. Pró-Reitor de Extensão do IFMG Características deste livro: Formato: A4 Tipologia: Arial e Capriola. E-book: 1ª. Edição Formato digital
Compartilhar