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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO MONITORAMENTO E DIAGNÓSTICO DE BUCHAS DE ALTA TENSÃO Leonardo Nunes Alves da Silva PROJETO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO ELETRICISTA. Rio de Janeiro – RJ 2007 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO MONITORAMENTO E DIAGNÓSTICO DE BUCHAS DE ALTA TENSÃO Leonardo Nunes Alves da Silva PROJETO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO ELETRICISTA. Área de concentração: Sistemas de potência Orientador: Orsino Borges de Oliveira Filho. Rio de Janeiro – RJ 2007 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO MONITORAMENTO E DIAGNÓSTICO DE BUCHAS DE ALTA TENSÃO Leonardo Nunes Alves da Silva PROJETO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO ELETRICISTA. _____________________________________ Eng. Orsino Borges de Oliveira Filho, M.Sc (Orientador) ______________________________________ Prof. Ivan Herszterg, M.Sc (Co-Orientador) ______________________________________ Prof. Alessandro Manzoni, D.Sc. Rio de Janeiro – RJ 2007 DA SILVA, LEONARDO NUNES ALVES. Monitoramento e Diagnóstico de Buchas de Alta Tensão. Rio de Janeiro 2007. 88 páginas. Monografia, Universidade Federal do Rio de Janeiro. iii À minha mãe e minha avó, pelo carinho e dedicação. iv iv AGRADECIMENTOS Gostaria de começar agradecendo a minha mãe Isaura e minha avó Rosa, por terem me proporcionado todos os meios para que eu chegasse até aqui. Com certeza não alcançaria tal objetivo sem as bases sólidas da educação recebida por elas. Agradeço também ao meu irmão Leandro por nossas saudosas memórias de infância e por sua contagiante alegria em viver cada momento intensamente. Agradeço a minha irmã Marita por todo carinho, zelo e preocupação que sempre teve comigo e meu irmão. Grandes valores morais foram aprendidos com ela. Agradeço a todos meus familiares por cada palavra de incentivo e apoio na longa e difícil jornada ate aqui. Agradeço a todos os meus amigos que direta ou indiretamente contribuíram para que eu chegasse nesse momento, em especial aos meus amigos da graduação. Os cinco anos de convivência que tive com eles nunca serão esquecidos. Agradeço a todos os professores da UFRJ, em especial aos professores Alessandro Manzoni e Ivan Herszterg, pela contribuição que deram para a realização desse trabalho. Agradeço aos engenheiros Alain Levy, André Tomaz, José Cardoso e Hélio Amorim, colegas que sempre se mostraram dispostos a ajudar. Por fim gostaria de fazer um agradecimento especial ao Engenheiro Orsino Borges, por sua inestimável ajuda no desenvolvimento desse trabalho e pelo apoio e atenção que sempre teve comigo durante os dois anos em que trabalhamos juntos no CEPEL. v DA SILVA, Leonardo Nunes Alves. Monitoramento e Diagnóstico de Buchas de Alta Tensão. Rio de Janeiro 2007. 88 páginas. Monografia, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Resumo Esta monografia tem como objetivo a apresentação de um sistema de monitoramento e diagnóstico “on-line” de buchas de alta tensão. É dada ênfase ao monitoramento de três grandezas em especial: capacitância, tangente de delta e descargas parciais, por serem consideradas as grandezas mais importantes no diagnóstico de buchas. Os capítulos iniciais do trabalho explanam de uma forma geral sobre assuntos pertinentes a buchas de alta tensão e o capítulo 4 trata especificamente das grandezas capacitância, tangente de delta e descargas parciais, mostrando o programa de monitoramento que foi desenvolvido para elas no centro de pesquisas de energia elétrica - CEPEL. O capitulo 1 é uma introdução sobre a motivação e a importância do desenvolvimento de sistemas de monitoramento “on-line” de buchas de alta tensão. O capitulo 2 fala sobre os tipos de buchas existentes, focando sobre seus aspectos construtivos e de funcionamento, e por fim apresenta os principais ensaios de buchas de alta tensão. O capítulo 3 discute a medição de outras grandezas complementares para fins de diagnóstico de buchas de alta tensão, além das grandezas principais focadas nesse trabalho. As grandezas capacitância, tangente de delta e descargas parciais são apresentadas de forma apenas qualitativa no capitulo 3. O capítulo 4 mostra com riqueza de detalhes as grandezas capacitância, tangente de delta e descargas parciais, bem como mostra passo a passo o desenvolvimento dos sistemas de medição e do programa de monitoramento “on-line” para essas grandezas. Por fim, no capitulo 5 pode-se ver que o sistema de monitoramento apresentado nesse trabalho, em relação aos sistemas comerciais disponíveis no mercado, têm algumas vantagens tais como uma maior facilidade para calibração, portabilidade e integração dos resultados de diferentes grandezas monitoradas, o que gera base para um diagnóstico mais efetivo para o desempenho dielétrico de buchas de alta tensão. vi Sumário AGRADECIMENTOS RESUMO 1. INTRODUÇÃO 1 2. BUCHAS DE ALTA TENSÃO 6 2.1. INTRODUÇÃO 6 2.2. TIPOS DE BUCHAS 6 2.2.1. BUCHAS NÃO-CAPACITIVAS 6 2.2.2. BUCHAS CAPACITIVAS 8 2.2.2.1. BUCHAS DE PAPEL RESINADO (RBP) 10 2.2.2.2. BUCHAS DE PAPEL IMPREGNADO EM ÓLEO (OIP) 11 2.2.2.3. BUCHAS DE PAPEL IMPREGNADO EM RESINA (RIP) 12 2.3. PROJETO DE BUCHAS DE AT 13 2.3.1. DIMENSÃO DO LADO DA BUCHA NO AR 15 2.3.2. DIMENSÃO DO LADO DA BUCHA NO ÓLEO 19 2.3.3. GRADIENTES RADIAIS 19 2.4. APLICAÇÕES PARA BUCHAS DE AT 20 2.4.1. BUCHAS PARA TRANSFORMADORES E REATORES 20 2.4.2. BUCHAS PARA SUBESTAÇÕES ISOLADAS A GÁS 27 2.4.3. BUCHAS PARA AT EM CORRENTE CONTÍNUA (ATCC) 28 2.5. ENSAIOS EM BUCHAS DE AT 30 2.5.1. MEDIDA DE CAPACITÂNCIA E TANGENTE DE DELTA 32 2.5.2. ENSAIOS DE SUPORTABILIDADE E DE DESCARGAS PARCIAIS 32 2.5.3. ENSAIOS DE IMPULSO DE TENSÃO 33 2.5.4. ENSAIOS DE ESTABILIDADE TÉRMICA 34 2.5.5. ENSAIO DE AUMENTO DE TEMPERATURA 34 2.5.6. OUTROS ENSAIOS 35 3. DIAGNÓSTICO DE BUCHAS 36 3.1. MEDIÇÃO DE CAPACITÂNCIA E TANGENTE DE DELTA 37 3.1.1. CUIDADOS RECOMENDADOS 37 3.1.2. EQUIPAMENTOS DE MEDIÇÃO 37 3.1.3. PROCEDIMENTOS DE MEDIÇÃO 38 3.1.4. CORREÇÃO DE TEMPERATURA 39 3.1.5. INTERPRETAÇÃO DAS MEDIDAS 40 3.1.5.1. COMENTÁRIOS SOBRE A TANGENTE DE DELTA PARA BUCHAS OIP 40 3.1.5.2. COMENTÁRIOS SOBRE A TANGENTE DE DELTA PARA BUCHAS RIP 41 3.1.5.3. ANÁLISE DAS VARIAÇÕES DE TANGENTE DE DELTA EM BUCHAS OIP E RIP: 42 3.1.5.4. COMENTÁRIOS SOBRE A TANGENTE DE DELTA PARA OS TAPS CAPACITIVOS DE BUCHAS OIP E RIP 43 3.1.5.5. COMENTÁRIOS SOBRE A CAPACITÂNCIA 43 3.2. MEDIDAS DE DESCARGAS PARCIAIS 44 3.3. ANÁLISE DE GASES DISSOLVIDOS (DGA) 44 3.3.1. RETIRADA DE AMOSTRAS DE ÓLEO DE BUCHAS DE AT 44 3.3.1.1. PROCEDIMENTO DE RETIRADA DE ÓLEO PARA GOB, GOE E GOH. 45 3.3.1.2. PROCEDIMENTO DE RETIRADA DE ÓLEO PARA GOEK, GOM E SIMILARES: 47 3.3.1.3. PROCEDIMENTO DE RETIRADA DO ÓLEO PARA GOA, GOC E GOG: 47 3.3.2. ANÁLISE DE UMIDADE 48 3.3.3. INTERPRETAÇÃO DAS ANÁLISES 49 3.4. INSPEÇÃO DA SUPERFÍCIE DO ISOLADOR - HIDROFOBICIDADE 49 3.4.1. CLASSES DE HIDROFOBICIDADE 49 3.4.1.1. EQUIPAMENTOS DE ENSAIO 50 3.4.1.2. PROCEDIMENTO DE ENSAIO 50 3.4.1.3. CLASSIFICAÇÃO DA HIDROFOBICIDADE50 3.5. TERMOVISÃO 53 4. SISTEMA DE MONITORAMENTO DE BUCHAS AT EM DESENVOLVIMENTO NO CEPEL 54 4.1. INTRODUÇÃO 54 4.2. OBJETIVOS E MOTIVAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO PROJETO 54 4.3. SISTEMA DE MEDIÇÃO DE CAPACITÂNCIA, TANGENTE DE DELTA E DESCARGAS PARCIAIS. 58 4.3.1. DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA DE MEDIÇÃO 58 4.3.2. SISTEMAS DE MEDIÇÃO PROPRIAMENTE DITOS 60 4.3.2.1. SISTEMA PARA MEDIÇÃO DE DESCARGAS PARCIAIS 60 4.3.2.2. SISTEMA PARA MEDIÇÃO DE CAPACITÂNCIA E TANGENTE DE DELTA 63 4.3.2.3. PROGRAMA DESENVOLVIDO 67 4.3.2.4. SIMULAÇÕES REALIZADAS EM BANCADA 67 4.3.2.5. ENSAIOS REALIZADOS EM LABORATÓRIO 68 4.3.3. ESTRUTURA E INSTALAÇÃO DO SISTEMA INTEGRADO DESENVOLVIDO 69 4.3.3.1. SISTEMA DE MEDIÇÃO 71 4.3.3.2. SISTEMA DE OPERAÇÃO 72 4.3.3.3. SISTEMA DE ANÁLISE 73 5. CONCLUSÕES GERAIS 74 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 76 7. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 77 1 1. Introdução As buchas de alta tensão são partes importantes que integram os grandes equipamentos de alta tensão presentes em todas as plantas de geração e subestações de transmissão, distribuição e de grandes consumidores de energia elétrica. São equipamentos hermeticamente fechados e projetados para trabalhar ao tempo ou abrigados, submetidos às solicitações elétricas e mecânicas normais de regime permanente ou anormais e transitórias previstas de ocorrerem em serviço. Entretanto, fatores tais como possíveis falhas de projeto em termos de dimensionamento e controle de campos elétricos, falhas nas execuções desses projetos, má qualidade de materiais, armazenamentos inadequados no caso de buchas reservas colocadas em serviço, penetração de umidade devida a defeitos na vedação, bem como solicitações elétricas ou mecânicas imprevistas, podem levar a ocorrência de falhas das buchas e, conseqüentemente, dos equipamentos dos quais elas fazem parte. Alguns aspectos atuais, como por exemplo: necessidade de projetos cada vez mais compactados e operação dos equipamentos em regime permanente de carga máxima ou até mesmo em sobrecarga, têm também contribuído para ocorrência de falhas tanto das buchas como dos equipamentos. Soma-se a esses aspectos também a idade já avançada de grande parte dos equipamentos em serviço no sistema elétrico brasileiro. Do ponto de vista prático, em todas as empresas de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica do setor elétrico brasileiro há registros de diversas ocorrências de explosões de equipamentos tais como transformadores de potência, transformadores para instrumentos e reatores em serviço. Mais recentemente, têm ocorrido várias falhas de transformadores de potência e reatores estratégicos para o bom funcionamento do sistema elétrico brasileiro, com indicativos de terem sido as buchas de alta tensão desses equipamentos as principais envolvidas nas falhas. Essas falhas envolvem riscos elevados de acidentes envolvendo vidas humanas e causam, entre outros inconvenientes, interrupções prolongadas de fornecimento de energia, custos elevados na troca ou reparos dos equipamentos ou parte deles e aumento nos valores dos contratos de seguros. Nas figuras 1.1, 1.2, 1.3 e 1.4, estão apresentados exemplos de falhas e incêndios envolvendo buchas de alta tensão de transformadores de potência. 2 Figura 1.1 - Bucha de alta tensão após ocorrência de falha. Figura 1.2 - Bucha de alta tensão em chamas após ocorrência de falha. 3 Figura 1.3 - Bucha de alta tensão e transformador em chamas após ocorrência de falha. Figura 1.4 – Técnicos visitando área após ocorrência de falha e incêndio em bucha de alta tensão 4 Tem sido crescente, portanto, o interesse dessas empresas por sistemas para monitoramento e diagnóstico sobre o estado operativo de buchas de alta tensão dos equipamentos em serviço, de tal maneira que seja possível ter informações que subsidiem as tomadas de decisão sobre a necessidade de retirada ou não dos equipamentos de serviço, antes que falhas importantes aconteçam, evitando os seus efeitos e prejuízos. Várias técnicas de monitoramento e diagnóstico aplicadas em buchas de alta tensão em serviço podem ser aplicadas para se identificar seu estado de funcionamento e eventuais riscos ao sistema no qual ela opera e assim adotar uma sistemática de avaliação on-line das buchas de alta tensão, visando dar maior consistência ao diagnóstico dos equipamentos. Atualmente, já há no mercado alguns sistemas para monitoramento e diagnósticos de buchas de alta tensão em serviço ou “on line”. Todos eles são baseados em grandezas relacionadas com o estado do sistema isolante das buchas, sobretudo nas medições de capacitância e tangente de delta, que podem indicar falhas internas e aumento de perdas no dielétrico da bucha, e na medição de descargas parciais, que indicam início de ocorrência de descargas internas que podem progredir para falhas completas. Integram esses equipamentos também o monitoramento tradicional de gases dissolvidos no óleo e outros ensaios complementares. Dentre os métodos existentes, aqueles que utilizam os taps capacitivos das buchas para fazer o monitoramento on-line da capacitância e tangente de delta e das descargas parciais são os mais promissores. Essas grandezas, quando integradas numa análise conjunta com outros dados sobre as buchas, processadas e analisadas por meio de sistemas inteligentes, são capazes de fornecer informações úteis sobre desempenho das buchas de alta tensão, contribuindo para evitar as falhas e suas conseqüências. Por toda essa importância das buchas de alta tensão e pelo interesse em sua integridade no sistema elétrico, esse trabalho tem como objetivo principal apresentar informações sobre sistemas utilizados para monitoramento e diagnóstico de buchas, mas apresenta também informações mais aprofundadas sobre buchas de alta tensão em geral nos capítulos iniciais, com o intuito de fazer uma introdução mais 5 detalhada para aqueles que não têm total domínio do assunto, além de complementar o presente trabalho com material pertinente ao foco principal. Com isso acredita-se que o assunto é apresentado de forma a propiciar um entendimento mais didático e consistente para os interessados no tema. 6 2. Buchas de Alta Tensão 2.1. Introdução Uma bucha de alta tensão (AT) é um dispositivo utilizado para fazer a passagem de um condutor eletricamente energizado em AT através de alguma barreira aterrada ou em potencial elétrico muito diferente do potencial elétrico do condutor. Exemplos de tais barreiras são paredes que abrigam uma subestação e tanques de metal utilizados em equipamentos de AT tais como transformadores, reatores e disjuntores. Uma bucha de AT deve fornecer isolamento elétrico para a tensão nominal e eventuais sobretensões do sistema e também serve como suporte mecânico para os condutores e conexões externas. 2.2. Tipos de buchas As características que definem os tipos de buchas de AT dependem da tensão nominal, dos materiais e meios isolantes e do ambiente no qual ela será instalada. Em termos gerais, as buchas são divididas em dois tipos: As buchas não- capacitivas e as buchas capacitivas aterradas. 2.2.1. Buchas não-capacitivas De uma forma bem simplificada, uma bucha não-capacitiva nada mais é do que um condutor revestido por material ou meio isolante tais como porcelana, vidro, resina, papel, etc. como mostrado na figura 2.1. O raio “a” é função da tensão elétrica no condutor, das características do material isolante e da geometria dos eletrodos e o raio “b” é função do ambiente no qual a bucha é utilizada. Como mostrado na figura 2.2, a distribuição do campo elétrico nas buchas não é linear através de sua camada isolante e nem ao longo de sua superfície. A concentração de campo elétrico no meio isolante pode levar à ocorrência de descargas parciais e comprometer a vida útilda bucha. Por outro lado, altos campos axiais podem resultar em trilhamento e descargas na superfície do isolamento. 7 Conforme a tensão nominal aumenta, as dimensões da bucha, resultantes de considerações sobre campo elétrico e possibilidade de descargas, podem aumentar de tal forma a tornar impraticável a sua construção. Figura 2.1 - Buchas não-capacitivas [1]. Figura 2.2 - Distribuição de tensão nas buchas não-capacitivas [1]. A não-uniformidade do campo elétrico numa bucha pode ser minimizada por meio de mecanismos de controle considerados na etapa de projeto. Em buchas com isolador de resina, um eletrodo de controle eletricamente ligado ao flange de montagem pode revestir o próprio isolador, reduzindo o campo da interface do 8 flange. (figura 2.3). A função do eletrodo de controle, que tem forma de tubo, é reduzir o gradiente do potencial no flange e ao longo da superfície da bucha. Figura 2.3 - Controle de campo usando tubo de controle [1]. 2.2.2. Buchas Capacitivas Para tensões nominais acima de 50 kV, o princípio da bucha capacitiva aterrada é geralmente usado, como mostrado na figura 2.4. O material isolante mais utilizado para esse tipo bucha é papel com resina ou óleo, sob as seguintes denominações: • Papel resinado (RBP) • Papel impregnado em óleo (OIP) • Papel impregnado em resina (RIP) 9 Figura 2.4 - Bucha Capacitiva [1]. O papel é disposto em camadas em volta do condutor central da bucha, formando capacitores concêntricos entre o tubo e o flange de montagem. O diâmetro e o comprimento de cada camada são escolhidos de acordo com as capacitâncias parciais, resultando numa distribuição uniforme do campo elétrico axial e um controle de campo radial dentro dos limites do material isolante (figura 2.5). Figura 2.5 – Linhas de potencial em buchas capacitivas e não-capacitivas [1]. 10 2.2.2.1. Buchas de Papel Resinado (RBP) Atualmente, o campo de atuação das buchas RBP está limitado à baixa tensão, particularmente em chaves de manobra, devido às características dielétricas do RBP. Nas buchas RBP, o papel é primeiramente coberto com resina fenólica ou epóxica, para depois ser moldado, através de calor e pressão, em sua forma cilíndrica e camada por camada, tendo cada camada uma densidade apropriada. A utilização dessas buchas é limitada pela espessura e qualidade do material que foi fabricada e pelo risco de instabilidade térmica em seu isolamento, que pode ocorrer devido às perdas dielétricas geradas pela componente resistiva da corrente que passa pelo material isolante. Essas buchas RBP são projetadas para operar com um campo radial máximo de aproximadamente 20 kV/cm [1]. O isolamento das buchas RBP, simplificadamente, nada mais é do que um laminado de papel e resina. A bucha, conseqüentemente, pode possuir uma considerável quantidade de ar distribuído entre as lâminas, o que estabelece um ponto fraco do sistema isolante quanto à possibilidade de descargas parciais. Eventuais erros cometidos durante o processo de fabricação das buchas RBP podem provocar rachaduras em formatos de circunferências no isolamento, possibilitando um aumento do campo elétrico, o que torna ainda mais provável a ocorrência de descargas parciais. Quando em operação, a entrada de umidade pode provocar a delaminação, que é o processo de separação involuntária das camadas de papel, assim como o aumento e a instabilidade das perdas dielétricas no isolamento das buchas RBP. Descargas que ocorrem nos finais das camadas de laminado provocam a produção de carbono, que se estendem axialmente. Já descargas no espaço vazio entre uma camada e outra, produzem disrupção radial entre elas. Ambas as formas de descargas parciais são progressivas e têm efeito cumulativo. Quando combinadas e com seus efeitos em estágio avançado levam a falha completa do isolamento, seja por instabilidade térmica do sistema isolante ou por solicitações geradas por sobretensões transitórias. 11 2.2.2.2. Buchas de Papel Impregnado em Óleo (OIP) A isolação do tipo OIP é largamente utilizada em buchas de AT para transformadores de potência, reatores e transformadores de instrumentos, que operam em sistemas das mais altas tensões de operação existentes. Buchas OIP são fabricadas com papel disposto em camadas e sua impregnação com óleo é feita após secagem a vácuo. Geralmente, o papel usado em sua fabricação é do tipo “Kraft” puro, que é um tipo de papel normalmente amarronzado e feito a partir da polpa dos troncos de madeira tipo eucalipto e tratado com uma solução de sulfato de sódio, que está disponível em largura de até 5 metros. Essa largura é adequada para a maioria das aplicações, mas para buchas de ultra-alta tensão, vários métodos de alongar o comprimento da camada capacitiva são utilizados, tais como a técnica de construção multi-pedaços ou com a utilização de fitas de papel. É de extrema importância que o papel seja suficientemente poroso, para permitir eficiente secagem e impregnação, garantindo características de suportabilidade dielétrica adequada. A figura 2.6 mostra as etapas no processo de fabricação de uma bucha capacitiva do tipo OIP. E n rro lla r c on p ro ce so M on ta je . P ro ceso d e v a c ío y E n sayo d e ru tin aE n ro la r c om p ro c es so d e s e cag em M on ta g em P ro ce s so d e vácuo e im p reg na ção c om ó leo E n s a io d e ro tin a C am ad a d e a lum ín io P ap e l k ra f t Figura 2.6 – Processo de fabricação de uma bucha tipo OIP [3]. O óleo utilizado é um óleo mineral do mesmo tipo que se utiliza em transformadores. Antes da impregnação com o óleo, deve ser realizado um processo para garantir condições de baixa umidade e baixo volume de gás, como também alta suportabilidade dielétrica. Em certas aplicações, outras propriedades também podem ser importantes, como por exemplo, resistividade e conteúdo de fibra para buchas utilizadas em corrente contínua (cc). 12 A fabricação da bucha pode ser realizada por uma montagem completa em autoclaves ou em locais apropriados que permitam a aplicação de vácuo durante o processo antes de sua impregnação com óleo. Defeitos de fabricação são geralmente detectados em ensaios de rotina. No caso de uma montagem correta das buchas OIP, nenhum tipo de substância gasosa será encontrado no seu interior e, como conseqüência dos cuidados adicionais tomados no processo de fabricação, atividades de descargas parciais ocorrerão para níveis muito mais altos de campo elétrico, quando comparados com as buchas RBP. Assim, as buchas OIP são designadas para trabalhar com campos radiais de valores típicos de 45 kV/cm [1]. 2.2.2.3. Buchas de Papel Impregnado em Resina (RIP) A isolação do tipo RIP foi desenvolvida na década de 60 para ser utilizada em equipamentos de manobra em sistemas de distribuição e isolação de barramentos. Mais recentemente, desenvolvimentos científicos aumentaram seu campo de aplicação em equipamentos e estruturas com tensões de até 800 kV. No processo de fabricação das buchas RIP, fitas ou folhas de papel crepe são enroladas sobre um condutor. Camadas condutoras são montadas umas após as outras, de uma determinada maneira que permita o controle da distribuição de capacitâncias. O isolamento de papel, ainda sem nenhum tipo de tratamento, é seco em uma autoclave, num processo controlado de calor e vácuo. Após esse processo, a resina epóxi é então adicionada na fabricação. Como as buchas projetadas para níveis elevados de tensão, da ordem de centenas de kV, podem ter comprimento acima de 6 metros, é de suma importância que a resina tenha baixa viscosidade para assegurar total impregnação. Durante o ciclo de cura da resina, eventuais encolhimentos no comprimento original são controlados para evitar o aparecimento de futuras fissuras, devido a esforços mecânicosinternos. O produto resultante do ciclo de cura é então submetido a um processo de secagem e retirada de gás, o que faz com que a bucha tenha características de baixas perdas dielétricas e bom desempenho em relação a descargas parciais. A figura 2.7 mostra o processo de fabricação de uma bucha capacitiva do tipo RIP. 13 E n ro la r S eca g em e im p re g n açã o com re s in a s o b vá cu o U s in ag em M on ta g em e e n sa io d e ro t in a C am ad a d e a lu m ín io P ap e l c rep e Figura 2.7 – Processo de fabricação de uma bucha tipo RIP [3]. Durante a fabricação, as camadas condutoras seguem a forma do papel crepe. O espaço entre as camadas varia de acordo com saliências e depressões da estrutura do papel crepe. O espaçamento das camadas das buchas RIP é, conseqüentemente, maior do que o das buchas RBP e OIP. As buchas do tipo RIP são projetadas para operar com campo radial de aproximadamente 36 kV/cm [1]. 2.3. Projeto de Buchas de AT O tipo de bucha de maior interesse para aplicação em alta tensão é o tipo capacitivo e, por isso, seu projeto e aplicações são abordadas a seguir, particularmente o caso de buchas utilizadas em transformadores de potência e reatores. É essencial que uma bucha de at seja projetada para suportar as solicitações que são impostas tanto em regime permanente quanto em regime transitório. As solicitações mais prováveis para buchas de at são mostradas na tabela 2.1. Um parâmetro determinante das dimensões de uma bucha de AT é o campo elétrico. A ação do campo elétrico se dá tanto radialmente, através da isolação, quanto axialmente, ao longo de sua superfície. A determinação do máximo campo permissível para cada material utilizado na isolação de buchas de AT tem sido feita por experiência e por meio de ensaios laboratoriais, considerando uma expectativa de vida útil de aproximadamente 40 anos. 14 Tabela 2.1 - Solicitações prováveis para buchas de AT Elétrico Sobre-tensões de impulso atmosférico Sobre-tensões de manobra Tensão de freqüência nominal Térmico Perdas Condutivas Perdas Dielétricas Radiação Solar Mecânica Esforços devidos a conexões externas Esforços mútuos devidos a ângulos de montagem Forças provocadas por fenômenos naturais Forças provocadas por curto-circuito Ambientais Temperatura Natureza do meio circundante (ar, óleo, gás). Poluição O projeto da parte capacitiva da bucha tem o objetivo de controlar as solicitações de campos elétricos internos, mantendo-os abaixo de níveis considerados seguros. A distribuição desses campos é dependente de quatro fatores, conforme mostrado na figura 2.8. • 0r , raio do condutor. • nr , raio da camada exterior. • ll , comprimento da primeira camada capacitiva. • nl , comprimento da última camada capacitiva. Figura 2.8 – Corte longitudinal simplificado de buchas capacitivas [1]. 15 Nas seções 2.3.2 e 2.3.3 irá se abordar de forma quantitativa a dependência da distribuição do campo em relação a esses quatro parâmetros. Um desenho de uma bucha OIP típica, com uma extremidade operando no ar e outra operando no óleo, é mostrado na figura 2.9. � Enrolamento Capacitivo � Porcelana do lado de Ar � Porcelana do lado de óleo � Flange � Cabeça da Bucha � Tubo Central � Proteção contra Corona � Apoio do transformador Figura 2.9 - Secção de uma bucha típica de transformador [1]. 2.3.1. Dimensão do lado da bucha no ar Para uso em recintos fechados, com poluição e umidade moderados, buchas que utilizam materiais isolantes que têm como composição fundamental resina não precisam de proteções externas adicionais. Buchas que utilizam óleo, gás ou papel 16 impregnado em óleo como isolante sempre exigem que a isolação seja protegida do meio externo. Esta proteção é geralmente feita por porcelana, mas invólucros de isoladores poliméricos vêm sendo também utilizados. O comprimento do isolador é determinado considerando-se as solicitações relacionadas a impulsos atmosféricos e de manobra. O projeto da bucha deve ser tal que o campo axial ao longo da superfície do isolador seja o mais uniforme possível. O comprimento é também afetado pelo ambiente no qual a bucha é exposta. Em ambientes poluídos, a ocorrência de descargas superficiais em condições de alta umidade e tensão normal de operação é dependente da distância da superfície isoladora, como por exemplo, o comprimento da superfície isoladora entre a alta tensão e a terra [6]. A norma IEC 60815 [6] fornece maiores detalhes técnicos sobre o projeto de isoladores para utilização em atmosferas poluídas. As informações sobre a severidade da poluição no ambiente onde a bucha vai ser utilizada definem uma distância de escoamento mínima especificada (l), como indicado na tabela 2.2. A distância de escoamento mínima total (L) para a bucha, relativa a tensão, é determinada por [1]: L = dK * rU * l Onde: dK = Fator de correção do diâmetro para aumento da distância de escoamento, com o diâmetro médio do isolador mD mD < 300 mm dK =1 300 < mD < 500 mm dK =1,1 mD > 500 mm dK =1,2 rU = Tensão nominal da bucha (kV) Em certas áreas desertas ou costeiras, uma combinação de condições climáticas adversas, como longos períodos sem chuva, freqüentes neblinas, tempestades de areia, maresia, entre outras, leva a acumulação de poluentes condutores e ocorrências de arcos elétricos entre pontos na superfície isoladora. 17 Para combater tais condições, as distâncias de escoamento são aumentadas para valores acima 40 mm/kV [1]. Projetos modernos de isoladores de porcelana geralmente usam um perfil de saias alternadas longas e curtas (ALS) no isolador. Esse perfil resulta num desempenho superior para climas adversos, como por exemplo, a neblina e permite uma limpeza mais fácil dos isoladores sob condições de chuva e vento. A fabricação dos isoladores de porcelana para buchas de AT, quando feita em uma única peça, é limitada pela tendência de encurvamento durante o processo de queima, se a bucha tiver uma relação elevada entre sua altura e o diâmetro do furo interno por onde passa o condutor. Para buchas de AT, essa relação é tipicamente maior do que 6. Para resolver esse problema, a peça é subdividida em seções e cada uma delas é submetida ao processo de queima. A bucha completa é montada a partir da colagem das secções com adesivo epóxi. Por exemplo, a porcelana que fica ao ar livre em buchas de 420 kV é montada, tipicamente, com três seções para dar uma altura global de 3,5 m, com uma relação entre sua altura e o diâmetro do furo de aproximadamente 10. Utilizando-se materiais adesivos de boa qualidade adequadamente ajustados nas juntas das seções, pode-se considerar a montagem como se fosse uma peça única. A utilização de isoladores compostos poliméricos está restrita, no momento, devido as grandes preocupações com estabilidade a longo prazo. Eles têm muitas vantagens sobre os isoladores de porcelana, sendo mais leve, resistente à explosão e tendo melhor hidrofobicidade devido ao composto de borracha com silicone moldado sobre suas saias. 18 Tabela 2.2 - Níveis de Poluição, Severidades dos ambientes e mínimas distâncias de escoamento [1]. Severidade Equivalente dos Ambientes (Valores de Referência) Método da névoa salina Método da camada sólida Vapor- Neblina Kieselguhr Níveis de Poluição e Ambientes típicos Salinidade (kg/ 3m ) Densidade do Sal Depositado (mg/ 2cm ) Condutividad e da Camada (µS) Mínima Distância de escoamento especificada l (mm/kV) I - Luz - Ventos constantes e / ou Chuva - Agrícola - Montanhoso (> 10 km acima do nível do mar, sem ventos marítimos). 5 -14 0,03 - 0,06 15 -20 16 II - Normal - Indústrias sem fumaça poluidora - Grandes quantidades de casas com ventos e /ou chuvas, expostos a ventos marítimos não muito próximos. 14 - 40 0,1 - 0,2 24 - 35 20 III - Pesado - Grande densidade de indústrias - Subúrbios de grandes cidades (perto do mar) 40 - 112 0,3 - 0,6 36 25 IV - Muito Pesado - Condutores empoeirados, Fumaça. - Fortes ventos úmidos do mar - Deserto > 160 31 19 2.3.2. Dimensão do lado da bucha no óleo O lado da bucha com isolador no óleo (figura 2.9, item 3) é normalmente uma porcelana cônica ou uma armação de resina fundida. A graduação axial interna das camadas capacitivas é dependente da tensão de ensaio a freqüência nominal que resulta em um campo de aproximadamente 12 kV/cm. Isso determina a dimensão c (figura 2.9). As dimensões b e c juntas com as exigências físicas do flange de montagem e a corrente do transformador, determinam as dimensões nr e nl das camadas capacitivas, vide figura 2.8 [1]. 2.3.3. Gradientes Radiais Ainda que seja possível projetar uma bucha com gradiente radial constante, isso somente pode ser alcançado à custa de um gradiente axial variável. Na maioria dos casos, um gradiente axial constante é desejável enquanto que o gradiente radial pode variar e atinge o máximo no condutor ou para a camada no potencial de terra. Os valores dos campos no condutor ( 0E ) e na camada de potencial de terra ( nE ) são dados pelas equações abaixo [1]: 0 0 ( 1) 2 log V a E ar b + = 1 ( 1) 2 log n n V a E ar b− + = Onde l n l a l = e 0 nrb r = . 0E é máximo quando a < b e nE é máximo quando a > b . O raio 0r é dependente da corrente nominal, do método de conexão entre a bucha e o enrolamento do transformador e da forma como a bucha é construída. Um valor ótimo de nr pode ser calculado. Tendo determinado as dimensões das camadas capacitivas extremas, as camadas intermediárias podem ser calculadas. O método detalhado do cálculo pode variar, mas o objetivo é sempre conseguir campo radial aceitável em cada uma das 20 camadas capacitivas parciais e campo axial uniforme, com o mínimo número de camadas. Desde que, como exposto, o gradiente axial varia ao longo de toda a espessura do isolador, o espaçamento entre as camadas capacitivas para tensão constante entre quaisquer duas camadas, que formam um capacitor parcial, também deve variar. Não é necessário que as camadas capacitivas cubram 100% do comprimento do lado de ar do isolador. Na prática, com 60 % ou menos da graduação interna por meio de camadas capacitivas, já se tem uma adequada graduação para a maioria das buchas. 2.4. Aplicações para Buchas de AT 2.4.1. Buchas para transformadores e reatores Os transformadores para alta tensão necessitam de buchas terminais para todos os enrolamentos de AT, e os reatores shunt precisam de buchas para a entrada dos terminais de alta tensão. Dependendo da configuração do sistema, a parte exterior pode operar no ar, óleo ou gás. Nas figuras 2.10 a, b, c e d, estão mostrados exemplos de buchas de alta tensão utilizadas em transformadores de grande importância no sistema elétrico brasileiro. 21 a) b) c) d) a) Transformador, 13,8/500 kV, 186 MVA, CHESF, UHE Luiz Gonzaga, uma fase da geradora, b) Transformador 13,8/500 kV, GERASUL, UHE Salto Santiago, uma fase da geradora em GIS, c) Maior transformador da América Latina, 16/500 kV, 416,5 MVA, TRACTBEL, UHE de Machadinho, em laboratório para ensaios de localização de descargas parciais pelo método de emissão acústica. d) Autotransformadores, 230/500 kV, ELETRONORTE, SE de Vila do Conde. Figura 2.10 - Exemplos de buchas em transformadores e reatores de AT. [Cortesia CEPEL]. 22 Para tensões de até 50 kV, buchas do tipo não-capacitivas geralmente são usadas. No caso dos transformadores do tipo “secos” (os que não utilizam nenhum liquido para auxiliar no isolamento), elas são normalmente de resina moldada. Já com transformadores que utilizam meios isolantes líquidos, buchas com isoladores de porcelana são normalmente utilizadas para aplicações ao ar livre e com resina moldada para conexões abrigadas. As buchas capacitivas foram desenvolvidas para aplicações em tensões até 1600 kV. Buchas de transformadores e reatores não são exclusivamente do tipo OIP, sendo as buchas do tipo RIP e algumas do tipo RBP também utilizadas, particularmente para tensões acima de 245 kV. [1]. Em alguns casos, os cabos que vêm do enrolamento do transformador são passados através do tubo da bucha e terminam na sua cabeça. Esse tipo de conexão, chamado condutor guiado, é limitado a uma corrente nominal de aproximadamente 1250 A, devido às limitações das dimensões de cabos flexíveis. No caso de correntes mais elevadas, um tipo de conexão diferente pode ser utilizado, fazendo com que o próprio tubo suporte da bucha seja o condutor, conforme mostrado na figura 2.11. Como as buchas que utilizam o sistema isolante do tipo RIP têm suas camadas impregnadas em resina, que forma um conjunto sólido, elas não necessitam de um tubo de suporte. No caso de conexões do tipo condutor guiado utilizar cabos isolados a papel, a blindagem para o campo elétrico no terminal do transformador não é necessária, permitindo assim uma redução de material utilizado no terminal inferior da bucha. A extremidade a óleo da bucha pode ser de duas formas: convencional e do tipo reentrante. As buchas consideradas até agora nesse texto são do tipo convencional. Através da comparação das duas formas, mostradas na figura 2.12, pode ser visto que a parte que fica no óleo da bucha do tipo reentrante é mais curta e, como não existe a necessidade de blindagem de campo, tem-se também uma redução de material utilizado no terminal inferior da bucha. As buchas reentrantes apresentam grande dificuldade em sua instalação, pois os condutores dos transformadores devem ser isolados com papel para aproximadamente 30% da tensão de operação, sendo possível o surgimento de gases em sua superfície interna. Nas figuras 2.13, 2.14 e 2.15 estão mostrados detalhes de buchas de alta tensão tipo capacitivas utilizadas em transformadores e reatores, incluindo um 23 detalhe de falha de isolamento na região do condutor, que deve suportar os 30% da tensão total da bucha. Figura 2.11 - Conexões em buchas de transformadores. (a) Tipo condutor guiado (b) Tipo conexão terminal Figura 2.12 - Figuras do campo no lado do transformador de conexões de buchas. (a) Tipo Convencional (b) Tipo reentrante 24 Figura 2.13 - Parte interna de uma bucha tipo capacitiva convencional, 500 kV, utilizada na UHE da Itaipu Binacional [2]. Figura 2.14 - Bucha completa tipo capacitiva convencional, 550 kV, utilizada em transformadores da GERASUL [2]. 25 a) b) c) d) a) Falha por descarga no isolamento papel-óleo, b) Reparo com fitas de papel, c) Fase intermediária do reparo e d) Terminal do cabo pronto para ser inserido na bucha para processo de secagem, vácuo e impregnação. Figura 2.15 - Parte interna do final do condutor preparado para uma bucha capacitiva tipo reentrante. O isolamento dessa parte final do condutor deve suportar cerca de 30% da tensão [2]. Para o flange de montagem da bucha, uma conexão com a última camada capacitiva é trazida ao exterior através de um tap capacitivo. Este tap é utilizado para medições de grandezas elétricas relacionadas ao transformador e à bucha, como por exemplo, tensão, descargas parciais, capacitância e tangente de delta. Como a capacitância da bucha é muito menor que a capacitância entre a última camada e o terra, para prevenir a geração de alta tensão e centelhamento no tap capacitivo é de suma importância que ele seja mantido curto-circuitado quando a bucha estiver em serviço e o tap não estiver sendo utilizado. Em casos particulares,um tap de potencial intermediário pode ser necessário. Nesse caso camadas extras são incluídas para estabelecer um divisor de tensão com fator de escala diferente. Este tipo de tap tem alta capacitância quando comparado a parte principal da bucha 26 e pode ser usado em operação para disponibilizar uma tensão de até 5 kV e com uma potência de saída típica de 100 VA. Essa saída de tensão pode ser utilizada para alimentar relés e para a conexão de impedâncias de medição de sistemas de monitoramento e diagnóstico. Na figura 2.16 estão mostrados alguns detalhes de taps capacitivos e conexões de impedâncias de medição nesses taps. a) b) c) d) a) Tap capacitivo com tampa original que o mantém curco-circuitado. b) Tap capacitivo aberto, c) Adaptador conectado ao tap capacitivo, d) Fixação de uma caixa de impedância de medição conectada ao tap capacitivo de uma bucha. Figura 2.16 - Detalhes de tap capacitivo de bucha de transformador, 500 kV [Cortesia CEPEL]. 27 2.4.2. Buchas para subestações isoladas a gás As buchas de entrada para subestações isoladas a gás (GIS) de AT freqüentemente utilizam porcelana pressurizada. O gás isolante dentro da bucha é o mesmo dos dutos. O controle do campo é feito através de um arranjo de eletrodos perfilados entre o flange e o condutor. A porcelana é dimensionada para resistir a altas pressões do gás utilizado na GIS e apresenta complicações ao sistema se sofrer algum tipo de dano em operação. Uma melhoria de projeto é feita por meio da chamada bucha de pressão-dupla, onde um tubo reforçado de material polimérico é usado coaxialmente no interior da bucha ao longo da porcelana e suporta a maior parte da pressão exercida pelo gás. O intervalo entre o tubo e a porcelana faz com que a porcelana esteja submetida a uma pressão reduzida. As buchas do tipo RIP de gás para ar são fabricadas para tensões até 525 kV. As camadas capacitivas do tipo RIP lacram a GIS e a porcelana pode ser preenchida com um material composto ou gás em baixa pressão. Isso possibilita a utilização de uma porcelana bem leve para ser usada e operada em qualquer ângulo sem modificação. Para esse tipo de bucha, pesquisas estão sendo realizadas com o intuito de substituir a porcelana por um isolador composto ou para modelar saias de borracha com silicone diretamente sobre a superfície tipo RIP. Como o lado a gás da bucha pode ser usado diretamente dentro ou muito perto de disjuntores, os componentes da bucha devem apresentar boa resistência aos produtos da decomposição do 6SF , particularmente o fluoreto de hidrogênio (HF). Isto pode ser feito cobrindo as buchas RIP com uma espécie de esmalte rico em alumínio. Um exemplo de bucha de alta tensão isolada a gás, mas com isolamento feito de material polimérico é mostrado na figura 2.17 [1]. Em GIS, transientes muito rápidos (VFTs), resultantes de chaveamentos, geram grandes problemas para conexões externas das buchas. Devido à velocidade de propagação de um VFT, é possível o aparecimento de altas tensões entre o condutor e a primeira camada da bucha capacitiva. Atualmente não existem ensaios de rotina que demonstrem com precisão o comportamento dinâmico das buchas para tais transientes. Entretanto, ensaios têm sido desenvolvidos através da aplicação de impulsos atmosféricos cortados dentro do duto da GIS a aproximadamente 70% do nível básico de isolamento do sistema [1]. 28 Figura 2.17 - Buchas para GIS [1]. 2.4.3. Buchas para AT em corrente contínua (ATCC) O projeto de uma bucha para ATCC é fortemente influenciado pela resistividade dos vários materiais que são usados em sua construção, em oposição ao que acontece com a sua permissividade no caso de ATCA. Enquanto as permissividades do papel, óleo, porcelana, entre outros materiais, variam praticamente na mesma ordem de grandeza, suas resistividades variam numa escala maior do que 10000:1. Conseqüentemente, é importante para o projeto de buchas para ATCC o estudo da distribuição da tensão no corpo e no entorno da bucha. Exemplos dessa distribuição são mostrados na figura 2.18. A primeira figura na parte superior mostra o efeito do campo em corrente alternada numa bucha de transformador do tipo papel impregnado em óleo. Um campo concêntrico é produzido no óleo entre os isoladores de papel e a parede protetora do 29 transformador. Na segunda figura ao centro, a distribuição em corrente contínua para o mesmo arranjo é mostrada, onde a alta resistividade do papel comparada com a do óleo, concentra o campo na parte dos isoladores. Para reduzir essa concentração de campo bem como o campo da superfície de porcelana, cilindros concêntricos são colocados em volta da bucha. O resultado dessa técnica construtiva é ilustrado pela terceira figura na parte inferior da figura 2.18. Na prática, um grande número de cilindros e barreiras cônicas pode ser necessário para que se alcance um controle de campo satisfatório. Como a relação entre as resistividades dos diferentes materiais varia com a temperatura, estudos de campo são feitos para valores acima dos valores nominais de operação do transformador, para tornar possível conhecer o seu comportamento e o de suas buchas de AT com respeito à distribuição de campo em condições críticas de solicitações. Figura 2.18 - Figura de campos em Buchas HVDC [1]. Em um sistema ATCC, efeitos danosos de poluição e riscos de falhas com ocorrência de incêndios são motivos de preocupação. Para reduzi-los, as buchas de ATCC são desenvolvidas para trabalhar horizontalmente, levando diretamente os condutores para dentro das construções ou equipamentos. Esquemas de soluções alternativas com buchas horizontais são mostradas na figura 2.19. A poluição em 30 sistemas de ATCC pode provocar descargas superficiais na bucha, que por sua vez em contato com alguma substância inflamável pode provocar incêndios. Como agravante a essa situação, uma exposição à chuva da superfície isolante da bucha poluída não uniformemente pode aumentar ainda mais os riscos de descargas. Quando um isolador poluído é parcialmente protegido da chuva por algum tipo de construção, a diferença na resistividade da superfície seca para a molhada reduz drasticamente a tensão de descarga superficial. Outros métodos para melhoria de desempenho de buchas em ATCC usando saias reforçadas e materiais isolantes que absorvem menos a umidade têm sido desenvolvidos. Figura 2.19 - Arranjos alternativos para transformadores (a) Buchas Externas (b) Buchas de parede 2.5. Ensaios em buchas de AT Ensaios adequados são essenciais para se ter certeza de que os equipamentos vão operar com bom desempenho durante toda a vida útil especificada. Os equipamentos elétricos de AT são ensaiados de acordo com normas técnicas ou com especificações técnicas que levam em consideração condições particulares dos sistemas onde os equipamentos vão operar. Do ponto de vista elétrico, equipamentos tais como buchas de alta tensão são ensaiados para 31 avaliação do desempenho dielétrico: ensaios que envolvem aplicação de alta tensão e do desempenho eletromecânico: ensaios que envolvem aplicação de correntes mais elevadas, por exemplo: ensaios de curto circuito e de arco de potência. Há também os ensaios para determinação ou verificação de parâmetros característicos de projeto, como por exemplo, o ensaio para medição de capacitância e tangente de perdas de uma bucha de alta tensão. Para possibilitar o ensaio de buchas em laboratório de alta tensão nas condições representativas da instalação real no tanque do transformador ou reator, um tanque de ensaio com dimensões adequadas ao nível de tensão da bucha e com óleo isolante é utilizado. A figura 2.20 mostra um desenho desse tipo de tanque e uma bucha de transformador sendo preparada para ensaio. 2300 3150 TANQUE DEÓLEO OBS.: Medidas em "mm" 4200 1000 1365 395 505 430 280 980 175 400 φ 495 M E T Á LI C O E P O X I 650 Figura 2.20 - Bucha de papel impregnado sendo prepara no tanque de ensaios em laboratório de alta tensão [2]. 32 2.5.1. Medida de capacitância e tangente de delta Este ensaio é o mais aplicado mundialmente, quando se pensa em ensaios em buchas de alta tensão e sistemas de isolação como um todo. O instrumento mais comumente utilizado para essa medição é baseado na ponte de Schering e seus resultados (para maiores detalhes, ver referência em [7]), principalmente o valor do fator de dissipação, também chamado de fator de perdas ou tangente de delta, dá uma indicação da qualidade do projeto, processo de fabricação e dos materiais utilizados na bucha. Fator de dissipação ou tangente de delta é uma grandeza associada às perdas no isolamento e relaciona a componente resistiva com a componente capacitiva da corrente total que circula pela bucha. Com isso, pode indicar aspectos do estado operativo ou da qualidade da estrutura isolante ou de quantidade de umidade de uma bucha RBP e OIP. Um aumento contínuo na tangente de delta é indicativo de deterioração do isolamento elétrico em operação que pode estar acompanhado ou não do aumento de descargas parciais internas. Por isso esses parâmetros são importantes para diagnósticos sobre o estado operativo das buchas de alta tensão em serviço. 2.5.2. Ensaios de Suportabilidade e de descargas parciais Embora classificados como ensaios separados, o ensaio de suportabilidade em ATCA e a medição de descargas parciais são freqüentemente realizados em um ensaio só. A forma mais simples de se quantificar descargas parciais é por meio da medição de uma grandeza chamada carga aparente, medida em pC. Descargas parciais são a maior causa de falhas em buchas de AT. Elas possuem um efeito muito mais danoso nas buchas tipo OIP e por isso o limite de 10 pC para 1,5* 3rU foi estabelecido para restringir seus possíveis efeitos. Geralmente, em condições de bom projeto, materiais adequados e bom processo de fabricação, isolações do tipo RIP e OIP apresentam níveis de descargas parciais inferiores a 10 pC. Modernos sistemas de medição digitais que detectam as descargas parciais foram desenvolvidos para melhorar a sensibilidade das medidas. Sistemas 33 desenvolvidos para monitoramento a partir de medidas de corrente no tap capacitivo de buchas, podem mostrar os sinais associados às descargas parciais em terminais de vídeo, na forma de uma elipse ou distribuídos de forma sincronizada ao longo da senóide do sinal de tensão em corrente alternada do sistema. Descargas parciais aparecem como pequenos pulsos, que podem ser medidos através de sua comparação com outros pulsos já calibrados. Pela posição do pulso de descarga na elipse ou ao longo da senóide, é possível identificar alguns tipos de falta que já são catalogados. Figura 2.21 - Buchas sendo ensaidas em laboratório de AT [1] e [Cortesia CEPEL] 2.5.3. Ensaios de impulso de tensão Sobretensões geradas por descargas atmosféricas e por manobras de circuitos, representam transitórios que podem ocorrer em qualquer sistema de alta tensão. Ensaios com tensões de impulso são realizados para se conhecer o desempenho de equipamentos aos transitórios de alta freqüência. Solicitações representativas de impulsos atmosféricos são aplicadas em buchas de todos os tipos 34 utilizadas em todos os níveis de alta tensão e solicitações representativas de impulsos de manobra são aplicadas para buchas que trabalhem com um valor nominal de tensão acima de 300 kV. Esses ensaios são realizados em laboratórios de alta tensão durante o final da etapa de fabricação ou durante a fase de recebimento do equipamento. Há casos de realização desses ensaios também após reparos significativos. Por causa da infra-estrutura requerida em termos de geradores de impulso e sistemas de medição, ensaios de impulsos são muito raramente realizados no campo e por isso também não são utilizados para efeito de monitoramento do estado operativo de buchas em serviço [1]. 2.5.4. Ensaios de estabilidade térmica Este ensaio é aplicado a buchas de transformadores de tensão nominal superior a 300 kV. Com ele pretende-se demonstrar que perdas dielétricas não levam a um aquecimento contínuo que indique possibilidade de instabilidade térmica da bucha em operação. O ensaio é realizado com a bucha imersa em óleo aquecido a 90ºC. Uma tensão igual à máxima sobretensão temporária projetada para a bucha é então aplicada e por meio de medições periódicas de capacitância e tangente de delta, o desempenho térmico da bucha é analisado. A bucha, em condições normais de estabilidade térmica, deve ser capaz de dissipar o calor gerado pelas suas perdas, o que é indicado por uma estabilização ou crescimento muito lento do valor da tangente de delta ao longo do tempo. Caso contrário, a tangente de delta aumenta continuamente até que um sobreaquecimento fora de controle ocorre, resultando em um colapso da isolação. Devido ao baixo valor de tangente de delta inerente às buchas OIP e RIP, a estabilidade térmica não é normalmente um problema. Somente em certas aplicações, como de buchas óleo para gás onde o resfriamento é restrito, é dada uma atenção especial ao ensaio de estabilidade térmica [1]. 2.5.5. Ensaio de aumento de temperatura O objetivo desse ensaio é demonstrar a propriedade das buchas em conduzirem correntes nominais sem exceder as limitações térmicas da isolação. As buchas do tipo OIP e RIP são restritas para uma temperatura máxima de 105ºC e 120ºC, respectivamente. A mais alta taxa térmica do material das buchas RIP não 35 significa necessariamente que condutores de bitolas menores podem ser usados. O Material das buchas RIP é um bom isolante térmico e o projeto das buchas OIP permite mais prontamente um resfriamento dos condutores por convecção dentro do óleo da bucha. As condições de operação de diferentes tipos de bucha, particularmente as buchas de altas correntes usadas em arranjos de dutos de fase isolada, devem ser cuidadosamente consideradas. Num ensaio típico, uma bucha alcança valores nominais de corrente de 10 kA sob condições de ensaio padrão seguindo especificações técnicas, enquanto que em um ambiente com a temperatura do ar elevada, o que equivale ao ambiente interno de dutos, por exemplo, a máxima corrente é reduzida para 7 kA. Isso causa óbvias dificuldades na especificação e uso desse tipo de buchas [1]. 2.5.6. Outros Ensaios Em conjunto com os principais ensaios elétricos apresentados anteriormente, outros ensaios ou cálculos podem ser requeridos para análise de outras propriedades das buchas. Alguns deles são: • Ensaios de vazamento: resistência a vazamento por pressões internas e externas de óleo ou gás. • Ensaios de esforços mútuos: demonstram a capacidade da bucha em suportar forças impostas por conexões, curtos-circuitos, entre outros. • Ensaios de curto-circuito: realizados para comprovar uma capacidade térmica adequada e prevenir superaquecimentos e danos à isolação durante ocorrência de curto-circuito. 36 3. Diagnóstico de buchas Existem muitos métodos utilizados para realizar diagnósticos sobre estado operativo de buchas de alta tensão, a partir do monitoramento de grandezas relacionadas com o desempenho da sua isolação em serviço. As principais grandezas elétricas monitoradas para fins de diagnósticos de buchas e do próprio transformador são a capacitância, tangente de delta e as descargas parciais. Por estarem diretamente ligadas ao assunto principal desse trabalho, as medições de capacitância, tangente de delta e descargas parciais serão abordadas com um maior refinamento de detalhes no capítulo 4 e por isso nesse capitulo serão feitas apenas análises qualitativassobre essas grandezas. Tendo em vista uma tendência metodológica atual de se ter um sistema integrado para monitorar várias grandezas relacionadas ao estado operativo de buchas de AT, procurou-se nesse capítulo analisar outras grandezas que não fossem as do foco principal do trabalho. Essas outras grandezas dão informações complementares sobre o estado operativo das buchas de AT e com isso possibilitam um diagnóstico mais consistente e seguro desse equipamento. As grandezas e ensaios complementares abordadas nesse capítulo são: Análise de gases dissolvidos no óleo isolante da bucha, análise de umidade no interior da bucha, classificação de hidrofobicidade e a termovisão. As técnicas utilizadas para medição dessas grandezas são realizadas no campo e podem ser feitas tanto com o equipamento fora de serviço como com o equipamento em serviço, sendo esse último o caso mais desejado por representar a realidade da operação e não requerer desenergização para realização da medição. A seguir são mostrados alguns procedimentos utilizados para medição das principais grandezas que servem como base para diagnóstico de buchas de transformadores de potência, dando-se maior atenção aos que podem ser realizados por meio de instrumentos já disponíveis comercialmente. 37 3.1. Medição de capacitância e tangente de delta 3.1.1. Cuidados Recomendados Para iniciar qualquer trabalho que exija conexão de instrumentos nos transformadores no campo, como é o caso da medição de capacitância e tangente de delta das suas buchas de AT, deve-se ter certeza que o transformador está desenergizado ou fora de serviço e adequadamente aterrado. Como já foi observado anteriormente, o tap capacitivo das buchas não deve ser deixado em aberto durante a operação do transformador. Os taps capacitivos das buchas de AT já vêm equipados com uma tampa que serve para vedar o tap contra a penetração de umidade, bem como para mantê-lo curto-circuitado. Para conexão de impedâncias de medição ou instrumentos no tap capacitivo da bucha, essa tampa deve ser removida com o transformador desenergizado e aterrado. As impedâncias que são conectadas no tap devem ter componentes de proteção contra sobretensão para o caso de alguma falha que possa colocar os terminais do tap em condições de circuito aberto. No caso de se tratar de substituição da bucha por uma bucha reserva, antes de se colocar a bucha reserva em serviço, a sua capacitância e a tangente de delta devem ser medidas, preferencialmente em laboratório, e comparadas com os valores referenciados em avaliação técnica ou com relatórios de ensaios anteriores. Se os resultados mostrarem que a bucha reserva está em boas condições, após a sua instalação completa no transformador, a conexão elétrica entre o tanque e o flange de montagem deve ser verificada. 3.1.2. Equipamentos de Medição Pontes adequadas para medição de capacitância e tangente de delta no campo estão disponíveis em diversos modelos de vários fabricantes e são, na sua maioria, baseadas no princípio da ponte de Schering. Para conectar a ponte no tap capacitivo, um adaptador especial deve ser usado para certos tipos de buchas. Este dispositivo é descrito nas informações do produto para cada tipo de bucha. 38 As pontes de medição comerciais de capacitância e tangente de delta, normalmente já possuem fonte de tensão embutida. A tensão deve ser ajustada em 10 KV no mínimo e o sinal de tensão deverá estar livre de harmônicos. Para evitar problemas, quando se ajusta o zero do indicador, a tensão deve ser sincronizada com a tensão na rede. 3.1.3. Procedimentos de medição Se a medição for feita em uma bucha por meio do tap capacitivo, não é preciso que se desconecte o topo da bucha, sendo necessária apenas a abertura da chave seccionadora que isola o transformador de todo o sistema. Por medida de segurança e para se reduzir a influência da indutância dos enrolamentos do transformador, todos eles deverão ser curto-circuitados. Enrolamentos que não estão sendo utilizados na medição devem ser aterrados. A ponte deverá ser colocada numa base livre de vibrações. Se o capacitor padrão utilizado como referência para a medição for separado do instrumento, ele deve ser colocado numa base isolada para não afetar o sinal que deve circular pela impedância de medição. Dependendo de qual isolamento está sendo ensaiado, a fonte de tensão será conectada até o topo da bucha ou do tap capacitivo por cabos separados Condutores para a aplicação de tensão ou para o retorno de terra não devem ser iguais aos utilizados para as conexões do medidor. Os condutores do circuito de medição devem ser os menores possíveis e não devem tocar em objetos aterrados. Todos cabos utilizados na medição devem estar limpos e secos. Isto também se aplica para as buchas que estão sendo ensaiadas e para o capacitor padrão. Se a bucha está em sua caixa de transporte, devem ser evitados ambientes mais úmidos. O tap capacitivo também deve ser limpo e seco. Condições de muito baixa umidade podem ser necessárias do tap capacitivo para uma medição da tangente de delta com melhor exatidão em cima de 2C . Nesse caso, um equipamento especial para retirar umidade do ar deve ser utilizado. 39 3.1.4. Correção de temperatura O valor medido de tan δ deve ter seu valor corrigido por causa do efeito da temperatura, de acordo com os fatores de correção dados pela figura 3.1 e tabela 3.1. xGO representa todas as buchas capacitivas do tipo “papel impregnado de óleo” (OIP) e xGS representa as buchas capacitivas do tipo “papel impregnado de resina” (RIP). Assume-se que todas as buchas têm a mesma temperatura do óleo que está no topo do transformador. A medição deve ser executada na temperatura mais alta possível e correções serão feitas para 20º C. Figura 3.1 - Tangente de delta como função da temperatura [10]. Atualmente existem instrumentos de medição digitais disponíveis no mercado que já apresentam os resultados de tangente de delta com as devidas correções de acordo com a temperatura informada. Esses instrumentos também apresentam os resultados de capacitância e têm o mesmo princípio de funcionamento dos instrumentos analógicos, a menos da automação do procedimento para ajustes e da digitalização dos sinais. 40 Tabela 3.1 – Fatores de correção para tan δ 3.1.5. Interpretação das Medidas 3.1.5.1. Comentários sobre a tangente de delta para buchas OIP A tangente de delta é uma propriedade crítica em buchas OIP. É determinada principalmente pelo nível de umidade no papel e pelo grau de contaminantes no sistema de isolação. Aliados a esses fatores, a tangente de delta tem grande dependência da temperatura. O comportamento principal está mostrado na figura 3.2 para diferentes temperaturas e graus de umidade. 41 Figura 3.2 -tan δ em função do nível de umidade e temperatura em buchas OIP [10]. Para o fabricante do corpo capacitivo da bucha, o objetivo é alcançar o fator de dissipação mais baixo possível, da ordem de 10-4. A contribuição para o fator de dissipação advinda de contaminantes é evitada pelo próprio controle do material, bem como por altas exigências de limpeza nos locais de fabricação. A quantidade de umidade na bucha é determinada pela técnica de enrolamento e pelo processo de secagem do corpo que forma a parte isolante da bucha. 3.1.5.2. Comentários sobre a tangente de delta para buchas RIP Quando se mede tan δ em buchas RIP antes da bucha ser colocada em serviço, podem aparecer divergências do valor de tan δ comparado com os valores nominais. A razão disso, provavelmente, é penetração de umidade na camada de superfície da bucha RIP. Isto pode ocorrer, por exemplo, se uma bucha é armazenada sem sua bolsa protetora devidamente lacrada, permitindo que ar com alto grau de umidade penetre na camadada superfície exterior da bucha. Normalmente o valor de tan δ irá diminuir em relação ao seu valor inicial de placa se a bucha for armazenada num local fechado com umidade controlada 42 durante uma semana. Se o transformador for energizado e a bucha for posta em operação, o valor irá cair dentro de algumas poucas horas [10]. 3.1.5.3. Análise das variações de tangente de delta em buchas OIP e RIP: De acordo com os principais fabricantes de buchas de AT do tipo OIP e RIP, os resultados de medição de tangente de delta realizados após a bucha ser colocada em serviço devem ser analisados à luz de suas variações ao longo do tempo. A periodicidade de medição depende da evolução dos resultados e, atualmente, com o desenvolvimento de sistemas digitais de monitoramento das buchas com os transformadores em serviço, esses resultados podem ser acompanhados continuamente e informados remotamente aos técnicos responsáveis via software e redes de comunicação. As principais decisões e ações recomendadas pelos fabricantes de acordo com as variações observadas são: • Aumento de 0-25%: O valor é registrado. Nenhuma ação adicional é recomendada. • Aumento de 25-40%: O circuito de medida é verificado para ver se existe algum tipo de interferência externa. Influências externas podem ser, por exemplo, influências de correntes próximas alimentando equipamentos ou barras de algum circuito. Se a diferença permanecer, as gaxetas do plug do nível de óleo são trocadas de acordo com a informação do produto para as buchas. O valor de medida é registrado e a bucha pode ser retornada em serviço. • Aumento de 40-75%: Medidas serão repetidas dentro de um mês ou acompanhadas atenciosamente em um sistema de monitoramento contínuo. 43 • Mais do que 75%: A bucha deve ser colocada fora de serviço, a menos que se tenha certeza que o valor absoluto da tangente de delta seja menor do que 0,4%. 3.1.5.4. Comentários sobre a tangente de delta para os Taps capacitivos de Buchas OIP e RIP Alguns usuários também querem usar a capacitância do tap capacitivo ( 2C ) e a tangente de delta medida para o tap capacitivo como parâmetros para diagnóstico. Baseados em experiências anteriores, recomenda-se que isso seja evitado. Existem inúmeras razões para que esses valores não sejam utilizados, tais como: O tap capacitivo é conectado à camada aterrada mais externa no corpo da bucha. A camada sólida da camada aterrada contém um adesivo junto com celulose. Isto significa que a contribuição para a tangente de delta daquela parte difere da celulose pura no isolamento principal da bucha. Isto também significa que esta parte não pode ser usada para propósitos de diagnósticos, pois o adesivo afeta o valor da tangente de delta. Como a camada externa é aterrada, conseqüentemente o isolamento entre a camada externa e o flange de montagem não está sujeito a campos elétricos não causando assim quaisquer perdas dielétricas. É provável que se a bucha for colocada num local contaminado, impurezas externas afetem o resultado. Umidade na proximidade dos taps capacitivos também pode afetar as medidas. Levando em conta todas as variações da tangente de delta em cima do isolamento do tap capacitivo, devem-se considerar possíveis variações de 0,4 a 3,0 % nos seus valores medidos. 3.1.5.5. Comentários sobre a Capacitância O valor medido da capacitância 1C deve ser comparado com o valor nominal da bucha ou com relatórios de ensaios anteriores. Se um aumento de mais de 3%, comparado com o valor medido em fábrica, for observado, deve-se entrar em contato com o fabricante. Já o valor da capacitância 2C é influenciado pelo modo no qual as buchas são montadas nos transformadores e por isso não deve ser usado para diagnósticos. 44 3.2. Medidas de Descargas Parciais Medições de descargas parciais são normalmente realizadas em ensaios de rotina, podendo indicar efeito corona externo ou degradação do isolamento interno das buchas de AT. Descargas resultantes de atividades elétricas no interior dos transformadores ou reatores ou nas proximidades das conexões da bucha podem ser evitadas conectando-se enrolamentos de medidas externos, restringindo assim a medição somente das descargas parciais que ocorrerem nas próprias buchas. A fonte de descargas parciais pode ser localizada por meio de métodos que utilizam sensores acústicos. 3.3. Análise de Gases dissolvidos (DGA) Esta análise atua de forma complementar às medições de capacitância e tangente de delta de buchas de AT, para auxiliar num diagnóstico integrado do estado operativo das buchas. Esta análise pode ser usada unicamente nas chamadas “buchas preenchidas por líquido”, como por exemplo, as buchas do tipo xGO . Normalmente não se recomenda a retirada de amostras de óleo de buchas de AT, pois elas são lacradas e qualquer retirada de óleo significa sua abertura em condições que nem sempre estão de acordo com as normas para preservar suas características originais. Além disso, corre-se o risco de fechamento incorreto da bucha, o que possibilita a entrada de umidade e contaminates, comprometendo seu desempenho dielétrico. Entretanto, quando um problema é reconhecido pelas características do óleo, por exemplo, um alto fator de potência em cima de 1C , a retirada de amostras de óleo é necessária para a análise dos gases. 3.3.1. Retirada de Amostras de Óleo de Buchas de AT Amostras de óleo devem ser retiradas preferencialmente em condições de clima seco. Se por alguma razão urgente a retirada tenha que ser feita em qualquer outra condição climática, os seguintes procedimentos devem ser observados: • Secar e limpar a área em volta do plug de coleta de óleo antes de retirada da amostra • Proteger a área do plug de eventuais condições de chuva. 45 A pressão interna da bucha de AT não deve ser alterada com a retirada da amostra de óleo, pois foi fabricada para trabalhar num determinado intervalo fixo de pressão. Sendo assim, o óleo removido da bucha deve ser substituído pelo mesmo volume de óleo novo. A antiga gaxeta também deve ser substituída por uma nova após a retirada da amostra de óleo da bucha de AT. 3.3.1.1. Procedimento de Retirada de Óleo para GOB, GOE e GOH. A retirada da amostra de óleo da bucha é feita através de um plug no topo da bucha, com uma mangueira de borracha equipada com uma espécie de seringa especial conectada em sua ponta que vai direto ao plug. A localização desse plug é dada na figura 3.3. A dimensão da gaxeta é dada na tabela 3.2 e seu material é de um tipo especial de borracha que resiste ao contato direto com o óleo dos transformadores de potência. 46 Figura 3.3 – Localização dos Plugs de retirada para GOA, GOB, GOC, GOE, GOH e GOG. Tabela 3.2 – Dimensão para as gaxetas 47 3.3.1.2. Procedimento de Retirada de Óleo para GOEK, GOM e similares: Deve-se conectar a extremidade da mangueira no bocal, e este na válvula no flange, para que o procedimento da retirada de amostras de óleo seja realizado corretamente. De acordo com a temperatura do ambiente externo à bucha, a pressão em seu interior pode ser acima ou abaixo da pressão atmosférica. Depois da retirada do óleo, a bucha não deve ser energizada por 12 horas no mínimo. 3.3.1.3. Procedimento de Retirada do Óleo para GOA, GOC e GOG: Nas buchas GOA, GOC e GOG, as amostras de óleo devem ser retiradas através de um plug de nível de óleo, localizado no topo da bucha de acordo com as figuras 3.4 e 3.5. Se a bucha está verticalmente montada, o nível de óleo está compatível com o nível do plug para uma temperatura de 20 ºC e a amostra é retirada por uma simples seringa. Entretanto, se a temperatura do óleo é mais alta do que 20 ºC, o nível do óleo será maior que o nível do plug e a mangueira, onde fica a seringa que retira as amostras de óleo,é equipada com um bocal especial para prover uma melhor conexão, conforme ilustrado na figura 3.4. Por fim, se a temperatura está abaixo de 20 ºC, o nível de óleo será abaixo do nível do plug e a amostra é retirada de acordo com a figura 3.5.. Figura 3.4 – Retirada de amostras de óleo em GOA para T > 20 ºC 48 Figura 3.5 – Retirada de amostras de óleo em GOA para T < 20 ºC 3.3.2. Análise de Umidade Dependendo do tipo de manipulação que a bucha é submetida, o ambiente no qual está operando ou ainda a forma como foi estocada, umidade pode aparecer em seu interior, o que pode comprometer suas propriedades dielétricas. Aliados aos ensaios de capacitância e tangente de delta, a análise de umidade atua também como um complemento no diagnóstico do estado operativo de buchas de AT. Esta análise é usada somente nas chamadas “buchas preenchidas por líquido”, como exemplo temos as buchas do tipo xGO . Como já foi dito, não se recomenda à retirada de amostras de óleo de buchas de AT, salvo em casos excepcionais onde o conhecimento de seu grau de umidade é decisivo para se conhecer o estado operativo da bucha. Comparada com um transformador a bucha tem uma relação papel-óleo bem mais elevada. Isso significa que, indiferentemente do processo de fabricação da bucha, existirá sempre muito mais umidade no papel do que no óleo. No papel a umidade é medida em %, enquanto que no óleo a umidade é medida em ppm, partes por milhão. Dependendo da temperatura da bucha, a umidade irá passar do papel pra o óleo ou vice-versa, de acordo com as chamadas “curvas de equilíbrio” de umidade óleo-papel. Devido a isto, a bucha sempre irá mostrar uma umidade mais elevada no óleo, depois de certo tempo de serviço em altas temperaturas. Conseqüentemente, para se chegar a valores válidos, a amostra de óleo deve ser retirada pelo menos 48 horas depois da bucha inteira ter alcançado a temperatura do local onde está localizada. A retirada de amostras de óleo de buchas de AT é executada de forma similar à análise de gases dissolvidos (DGA) citada anteriormente. 49 3.3.3. Interpretação das Análises A bucha é entregue pelo fabricante com a umidade de seu isolamento a óleo de no máximo 3 ppm. Se concentrações de umidade mais altas forem medidas, é sinal de que o sistema que lacrava a bucha de contato com o meio externo está danificado. Para concentrações maiores do que 10 ppm, é executada a medição de tan δ, conforme descrito no item 3.1.3, e a retirada das amostras de óleo, obedecendo as recomendações da seção 3.1.5. As buchas de AT que possuírem concentrações de umidade em seu óleo maiores do que 20 ppm são retiradas de operação. 3.4. Inspeção da superfície do Isolador - Hidrofobicidade Sabe-se que uma superfície isoladora que possua grande aderência à água está sujeita a ocorrência de descargas superficiais, o que pode conseqüentemente comprometer sua qualidade isolante. Por isso, é de grande importância se conhecer esse grau de aderência, o que se chama de classificação de hidrofobicidade. 3.4.1. Classes de Hidrofobicidade Um melhor desempenho dielétrico de isoladores tem como origem a chamada hidrofobicidade, que é a capacidade que um material possui de repelir a água de sua superfície. Essa propriedade sofre mudanças com o passar do tempo, devido à exposição a condições climáticas externas e a desgastes elétricos provocados por descargas parciais. Sete classes de hidrofobicidade (HC 1-7) são conhecidas. HC 1 corresponde a uma superfície completamente hidrofóbica, repelente a água, e HC 7, a uma superfície completamente hidrófila, onde a água é facilmente aderida à camada externa da superfície. Com essa classificação, pode-se fazer uma precisa, rápida e fácil identificação de hidrofobicidade dos isoladores inspecionados no campo. 50 3.4.1.1. Equipamentos de Ensaio O único equipamento necessário para classificar a hidrofobicidade de isoladores no campo é uma garrafa comum de spray capaz de produzir uma boa névoa. A garrafa de spray utiliza água corrente e que não contenha nenhum tipo de contaminante químico, tais como detergentes e solventes. Podem-se utilizar também equipamentos auxiliares tais como uma lente de aumento e uma lâmpada para auxiliar na visualização da superfície isoladora e uma fita métrica, para a medição de dimensões. 3.4.1.2. Procedimento de ensaio A área a ser ensaiada é de 50 – 100 2cm e se por algum motivo essa exigência não puder ser satisfeita, deve-se fazer menção no relatório final. Borrifa-se a água numa freqüência de 1-2 vezes por segundo a uma distância de 25 ± 10 cm, mantendo-se o processo durante 20-30 segundos. A classificação de hidrofobicidade é dada dentro dos 10 segundos depois de encerrado o tempo de ensaio. A classificação de hidrofobicidade pode ser dificultada por ventos fortes ou outros fatores meteorológicos, e nesse caso também se deve fazer menção no relatório final. 3.4.1.3. Classificação da Hidrofobicidade A aparência do isolador após o ensaio é analisada de acordo com uma das sete classificações de hidrofobicidade (HC), conforme dito anteriormente. O critério para tais classificações é dado pela tabela 3.3. Também se deve levar em consideração a forma no qual é feito o contato entre as gotas de água e a superfície do isolador, o que é definido na figura 3.6. Nesta figura, pode-se observar que existem 2 tipos de ângulo de contato: o ângulo de contato avançado ( aθ ) e o ângulo de contato atrasado ( rθ ). Uma gota de água exibe esses ângulos numa superfície inclinada. O ângulo de contato atrasado é o mais importante para avaliar as propriedades de hidrofobicidade da superfície de um isolador. O ângulo de inclinação da superfície afeta rθ . 51 Tabela 3.3 – Critério para a classificação de hidrofobicidade HC Descrição 1 Somente algumas gotas discretas são formadas Θr >> 80º ou maior para a maioria das gotas 2 Somente algumas gotas discretas são formadas 50º< Θr < 80º para a maioria das gotas 3 Somente algumas gotas discretas são formadas 20º< Θr < 80º para a maioria das gotas e normalmente não ficam durante muito tempo com o aspecto circular 4 Gotas discretas e Rastros molhados de fluxo de água já são Observáveis (como exemplo Θr = 0º). Áreas completamente molhadas < 2 2cm . Juntos cobrem < 90% da área testada. 5 Algumas das áreas completamente molhadas > 2 2cm e cobrem < 90% da área testada. 6 Áreas completamente molhadas cobrem > 90%, mas pequenas áreas secas ainda são observadas 7 Uma contínua camada de água cobre toda a área testada Plano Inclinado Plano Horizontal Figura 3.6 – Definição de ângulos de Contato Fotos típicas de superfícies de isoladores em ensaio de hidrofobicidade são mostradas na figura 3.7. O HC deve ser analisado para diferentes posições: ao longo do isolador e ao longo da superfície em cada uma das seqüências de caminho (no topo, na base, nas saias maiores, nas saias menores). Diferentes caminhos em volta 52 da circunferência do isolador devem ser considerados para uma mais detalhada e fácil coleta de dados durante o ensaio. Figura 3.7 – Exemplos Típicos de superfícies com HC de 1 até 6 [3]. 53 3.5. Termovisão Um aumento excessivo da temperatura na cabeça da bucha, quando provocado pela passagem de correntes elétricas muito superiores às nominais, pode ser um indicativo de problemas oriundos do sistema elétrico. Solicitações desse tipo, se ocorrerem com freqüência muito alta durante um determinado intervalo de tempo, podem determinar uma menor vida útil da bucha de AT. Pontos quentes podem indicar também resistências de contato elevadas nas conexões da bucha. O monitoramento contínuo da temperatura da cabeça da bucha e seu entorno, também geram informações importantes que podem contribuir para o diagnóstico
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