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PADRE CICERO

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INSTITUTO DE FORMAÇÃO E EDUCAÇÃO TEOLOGICA
LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA
MARIA IÊDA PEREIRA DE OLIVEIRA SILVA
O PADRE CÍCERO E A DEVOÇÃO DOS ROMEIROS, PRINCIPAIS ASPECTOS DA HISTÓRIA E DA VIVÊNCIA DOS FIÉIS.
LAVRAS DA MANGABEIRA - CE
2015
MARIA IÊDA PEREIRA DE OLIVEIRA SILVA
O PADRE CÍCERO E A DEVOÇÃO DOS ROMEIROS, PRINCIPAIS ASPECTOS DA HISTÓRIA E DA VIVÊNCIA DOS FIÉIS.
Monografia de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de História da IFETE - Instituto de Formação e Educação Teológica, como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciatura Plena em História.
Orientador: José Junior Aguiar
LAVRAS DA MANGABEIRA – CE
2015
MARIA IÊDA PEREIRA DE OLIVEIRA SILVA
Avaliação da monografia intitulada, O PADRE CÍCERO E A DEVOÇÃO DOS ROMEIROS, PRINCIPAIS ASPECTOS DA HISTÓRIA E DA VIVÊNCIA DOS FIÉIS.
, apresentado ao Instituto de Formação e Educação Tecnológica – IFETE, como requisito parcial para a obtenção de Licenciatura Plena em História. Qualquer citação atenderá as normas da ética científica.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Orientador(a) Prof. Esp. José Junior dos Santos Aguiar
____________________________________________
Orientador(a) Prof. Esp.
_________________________________________________
Membro da Faculdade de Educação Teológica -IFETE
Monografia apresentada em ____/______/2015
 Conceito________________
Dedico ao esposo e filhos, nora e genro, e a minha mãe Vivência Moreira que me ajudaram a vencer cada momento. 
Agradeço primeiramente a Deus, segundo a minha família e em especial ao meu amigo José Maria do Nascimento e toda a equipe de coordenadores, professores e colegas que me trouxeram momentos alegres que ficarão para sempre em minha memória. 
 
Olha lá,
 no alto do Horto!
 Ele está vivo,
 o Padim não tá morto!	
 
 Luiz Gonzaga.	 
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..................................................................................1
CAPÍTULO I. BIOGRAFIA................................................................3
CAPÍTULO II.MARIA DE ARAUJO.................................................11
CAPÍTULO III.BEATO JOSE LOURENÇO.....................................12
CAPÍTULO IV. O ROMEIRO...........................................................15
CAPÍTULO V. O JUAZEIRO...........................................................19
CAPÍTULO VI. O SAGRADO E O PROFANO...............................22
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................24
REFERÊNCIAS...............................................................................25
RESUMO
Padre Cícero Romão Batista, grande percursor de toda uma história de fé e de coragem que trouxe para a igreja um grande numero de fieis, que acreditam em seus milagres e o consideram como santo, apesar de ainda não ser canonizado pela igreja católica. Este trabalho tem o intuito de mostrar sua história e seus caminhos que foram percorridos e suas lutas durante toda a sua vida, sua batalhas, sucessos e fracassos, suas marcas perante a vida e à igreja. Visa apresentar uma análise de trajetória do padre Cícero e a construção de um modelo de santidade em torno de sua figura, entre os romeiros que o veneram. a renovação de fé que constrói paradigmas e criticidades. a consideração e a oração do padre pelos romeiros, e a trajetória como devoto, a demonstração de uma história de fé e de purificação. a fé que move as montanhas e transformam a vida de muitos, que os levam para frente e que os reformam psicologicamente. Uma viagem diante de uma história de fé e de sofrimento, de superação e de conquista, que independe da realidade, e que é considerado um marco na vida daqueles que o conhece.
Palavras Chave: Padre Cícero, Romeiro, Igreja, Fé.
ABSTRACT
Father Cícero romão baptista, great precursor of all a story of Faith and courage that brought to the church a larg number of Faith who believe in his miracles and consider it holy, although not yet canonized by the catholic church. This work aims to show its history and its paths thatwere covered and their strugless throughout his life i, his battles, cessesses and failles, thair brands to life and the church. Aims to presente na analysis of the priest Cícero trajectory and the construction of a modelo f holiness around his figure among the pilgrims who workship him. The renewal of Faith building paradigms and criticality. Consideration and the prayer of the priest by pilgrims, and the trajectory as a devout, demonstrating a history of Faith and the purification. The Faith that moves mountains and transformed the live of many, that take forward the reform and psychologically. A trip on a history and Faith, courage and suffering, to overcome and conquer, wich is independet of reality, and wich is considered a milestone in lives of those who know him.
Keyword: Father Cícero, Rosemary, Faith.
INTRODUÇÃO
	Cícero Romão Batista foi um dos grandes percursores de uma cidade e de toda uma história que até hoje têm levantado criticidade tanto para com devotos quanto para a igreja. Uma história que vêm através dos tempos, colocando e sobrepondo fatos místicos que até então não foram revelados. Com o tempo várias outras histórias aparecem e começam a fazer parte desse leque de historicidade. Após a sua beatitude, como padre mudou-se para Juazeiro e a partir de então começou sua grande jornada de lutas e batalhas que repercutiu durante muito tempo, e que até hoje faz parte da vivência dos moradores de Juazeiro. Após a hóstia virar sangue nas mãos da beata Maria de Araújo em março de 1889, iniciou-se aí uma luta do padre contra a igreja e com todos os fiéis. O fator que fez com que a história fosse conhecida e fosse alvo de críticas da imprensa e até a igreja tomou consciência, porque o fato aconteceu outras 49 vezes. Toda a cidade ficou completamente assustada tornando o Padre Cícero uma pessoa de grande conhecimento para a comunidade. Após a igreja tomar conhecimento dessa história fora constatado que o Padre e a beata estaria ludibriando os fieis da igreja católica, tornando o padre suspenso de sua ordem da igreja e a beta excomungada. Essa polêmica foi notória, todos da comunidade foram proibidos de falar sobre o ocorrido, deixando os devotos com medo. A partir de então começaram as perseguições da hierarquia Católica Cearense. Por determinação do Bispo, Padre Cícero havia sido proibido de rezar a missa em Juazeiro, fazendo com que ele rezasse apenas na cidade do Crato e que era acompanhada por uma grande quantidade de fieis. O padre era, além disso, um conselheiro trazendo uma grande multidão de pessoas que buscaria uma orientação para as suas lavouras e negócios, indecisões e desesperanças. Atendia todos que chegavam em busca de conselhos e esperança e também tinham o propósito de receber sua benção. Era uma pessoa de grande fé e acreditava no trabalho, fazia com que todos os seus devotos deixassem de lado a ociosidade e buscasse uma melhor maneira de viver, aumentando então a produtividade da cidade e agregando valor monetário às famílias que estariam desempregadas e passando fome. Foi nesse tempo em que o cariri foi conhecido como o “celeiro do Ceará”. Por conta disso, o Padre começou a ter influência com a política se engajando cada vez nesse espaço. Pois conhecia vários coronéis da época e que eram bastante fortes e possuíam grande influência com os todos os espaços. Juazeiro foi então invadida por cangaceiros fazendo que todos os coronéis se reunissem e pensassem na melhor maneira de como se livraria deles, o Padre Cícero então interviu na audiência para que não fosse derramado sangue, mas o conflito seria inevitável, tornando os moradores da comunidade vítimas indefesas desse conflito. Com a morte do político Floro Bartolomeu começou o declínio da vida políticado Padre Cícero. Mas o mesmo começou a iniciar uma grande batalha contra as enfermidades que lhe obrigaram a se afastar da vida política e do âmbito social. O Padre Cícero e os Coronéis foram responsáveis pela sedição de Juazeiro, mas a igreja acreditava que o Padre Cícero era o responsável por aquela revolução. Após ter o conhecimento de sua excomunhão da igreja tornou-se ainda mais enfermo limitando assim, ainda mais a sua vida social recebendo os romeiros em sua casa para que fossem dadas as bênçãos. Limitava quase todo o seu tempo em orações e em bênçãos diárias, ajudava de todas as maneiras possíveis as pessoas da comunidade. Atendendo ao pedido de um dos romeiros em sua falência de vida para que abençoasse todos os romeiros ali presentes, levantando-se com grande esforço desenhou três cruzes com o braço dizendo “No céu pedirei a Deus por vocês todos”. Faleceu aos 90 anos, no dia 20 de Julho de 1934. Os milagres, os devotos e os romeiros que acreditavam nas orações do Padre continuaram se fortalecendo após a sua morte, foi aí que começou uma grande busca para a sua canonização, tornando dificultoso devido a sua vida política e a sua excomunhão. Até hoje sua história é contata e recriada através da voz dos seus romeiros que fazem suas promessas e recebem graças dando espaços a novas histórias e a novas contações que ultrapassam os limites da fé e da explicação teórica.
CAPÍTULO I. BIOGRAFIA.
	Nascido no Crato (Ceará), no dia 24 de Março de 1844, seus pais eram Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência Romana (D.Quinô). Com seis anos de idade começou seus estudos com o Prof. Rufino de Alcântara Montezuma. Estudar era a paixão de Cícero, cada vez mais possuía predileção pelos livros e pelas histórias dos Santos e dos Mártires. Assim, aos 12 anos fez seu primeiro voto de castidade pela influência pela leitura de São Francisco de Sales (DINIZ, 2011).
Segundo Neto (2009, p.18)
Por trás do balcão da lojinha da família, o pai de Cícero tirava o sustento da casa com a venda de artigos os mais variados, que iam de fechaduras de latão a chapéus para senhoras, de parafusos de ferro a gravatas de seda. Com o dinheiro que pingava no caixa, Joaquim Romão sempre cuidou de proporcionar boa educação ao único varão que o destino lhe concedeu, Cícero, o filho do meio entre as irmãs Maria Angélica, dois anos mais velha, e a caçula Angélica Vicência, cinco anos mais nova (NETO. 2009 p.18).
	Em 1860 quando completou 16 anos e foi matriculado no Colégio do Padre Inácio de Souza Rolim, em Cajazeiras – Paraíba. Lá permaneceu somente por dois anos tendo em vista a morte inesperada do seu pai no dia de 1862. Cícero é obrigado a voltar pra casa, muito triste por interromper seus estudos, para cuidar a sua mãe suas irmãs solteiras, além do pequeno comércio deixado pelo pai. Após ter ido dormir Cícero têm a aparição do seu pai que pede para que ele não desanime que Deus dará um jeito. Mas com o tempo as dificuldades só aumentavam, começaram a aparecer novas dificuldades e a família começava a passar por grandes apertos, e somente em 1865, Cícero foi para o seminário em Fortaleza com a ajuda do Coronel Antônio Luiz Alves Pequeno que era seu padrinho de Crisma (DINIZ, 2011). 
Cícero logo percebeu que a rotina do seminário seria marcada pela vigilância e pela disciplina. O dia começava cedo, antes do nascer do sol. Às 5h15, deveria estar de pé, com a cama devidamente arrumada, já cumprida a obrigação das orações e meditações matinais. Os dormitórios permaneciam trancados o resto do dia, só sendo permitida a presença ali em casos extraordinários e, ainda assim, com a devida autorização e supervisão da direção da casa. Às cinco e meia da manhã, Cícero e os demais colegas seminaristas assistiam à missa, de onde saíam direto para a sala de estudos ou, se fosse dia marcado para tal, para a sala de banhos, aberta por curtos períodos, sendo rigorosamente fechada depois do horário determinado. Só então, às sete e meia, iam para o café — isso nos dias em que o jejum não era obrigatório. O resto da manhã de Cícero era dividido entre aulas e momentos de estudo individual, nos quais, ordenava o regulamento, deveria ser observado o mais profundo e respeitoso silêncio (NETO, 2009, p 24).
	
Foi ordenado no dia 30 de novembro de 1870 aos 26 anos e retornou ao Crato aguardando a definição do Bispo sobre o seu destino. Padre Cícero, assim então chamado foi convidado pelo Prof. Semeão Correa de Macedo para visitar Juazeiro (então pertencendo ao Crato), para celebrar a Missa do galo no Natal de 1971. Foi amor a primeira vista, a pequena Juazeiro encantou-se com a oratória do jovem padre de 28 anos, estatura baixa, pele branca, cabelos claros e olhos azuis. A recíproca foi verdadeira (DINIZ, 2011).
	Pouco tempo depois de receber as ordens rezou sua primeira missa, logo Padre Cícero acreditava em forças misteriosas e mensagens de outro mundo, aconteceu que, em sua chegada ao interior coincidentemente chegou na primeira hora, do primeiro dia, do primeiro mês, do primeiro ano, de uma década que se iniciava, era 1 hora de 1/1/1871 (NETO, 2009).
	Em Abril de 1872, Padre Cícero chega com a família para fixar residência naquele pequeno aglomerado de casas de taipa e uma pequena capelinha dedicada a Nossa Senhora das Dores. Após 5 anos de sua chegada à comunidade começava a tremenda seca de 1877, quando as pessoas começavam a criar estima por ele, por ser uma pessoa de bom coração, caridoso e carismático, e também por ser devoto de Nossa Senhora das Dores e Nossa Senhora do Rosário, o qual sempre falava: “Rezem o rosário da Mãe de Deus, todos os dias, de manhã e de noite!”. Juazeiro então crescia lentamente, após o término da seca a forma era aparente, e o esquecimento do Imperador para com eles era maior, pois não os ajudaria com bons auxílios (DINIS, 2011).
 	No dia 19 de Março, assim que os sertanejos acordaram, ao olhar para o alto não viram uma nuvem sequer no céu, Deus os havia abandonado, esta data coincide com o equinócio de outorno, época em que o sertanejo esperava que fosse uma época chuvosa. Quando não chovia o agricultor do sertão se desenganava e o povo se desesperava, havia chegado, mais um tempo de seca, privação e sofrimento (NETO, 2009).
E assim foi. Durante três anos seguidos, o sertão ardeu como uma caldeira do Inferno. Entre 1877 e 1879, o Nordeste viveu uma das maiores e mais dramáticas secas de toda a história. Nem mesmo o oásis caririense escapou. Como de costume, as doenças vinham a galope, na garupa da falta de água e de comida. Uma epidemia de varíola elevou o obituário do triênio, só na província do Ceará, à cifra assustadora das 180 mil almas, contra os pouco mais de 6 mil mortos de toda a década anterior. Cícero Romão, que na seca de 1862 perdera o pai para o cólera, aos 34 anos viveria nova e dolorosa tragédia pessoal: entre as vítimas da grande estiagem, estava sua irmã Maria Angélica, a filha mais velha de dona Quinô. “Tenho tanto medo”, confessou Cícero em carta ao bispo, atribuindo o flagelo à fúria divina. “Nem se pode duvidar que tanta avareza, tanta impudicícia, tanto assassinato, tanto crime em escala nunca vista façam continuar o castigo e aparecer outros maiores”, previu (NETO, 2009, p. 35).
	
	Para o Padre Cícero, esse tempo havia isso a época em que foram vistos os quatro cavaleiros do Apocalipse – a Fome, a Peste e Morte. Todos os padres e bispos rezavam à Deus pela intercessão de sua misericórdia, para que Deus ouvissem suas preces e acabasse com aquela matança. Dom Luiz, apavorado diante daquilo fez uma promessa pública de que logo a seca iria acabar e quando isso acontecesse mandaria construir um grande tempo em Fortaleza, dedicado ao Sagrado Coração de Jesus. O Padre Cícero comovido com a seca realizava procissões entre uma igreja e outra, de vilarejo em vilarejo, rezando para que se findasse a seca (NETO, 2009). 
Para grandes males, grandes remédios. Assim como veio, a seca foi embora. Em 1880, houve água em fartura. Tão logo os primeiros pingos de chuva caíram no chão, levantando noar o tão esperado cheiro de terra molhada, os demônios da peste saciaram sua sede de sangue. A varíola cedeu. No Cariri, o povo agradecido teve certeza de que Deus enfim ouvira suas preces. Cícero, revigorado pela fé dos juazeirenses, acelerou as obras de reconstrução da capela de Nossa Senhora das Dores. Ao mesmo tempo, começou a planejar o prometido templo ao Coração de Jesus (NETO, 2009, p 35).
	
	Antes mesmo de ter ocorrido os fenômenos misteriosos e místicos que foi e ainda hoje é o principal instrumento de Maria de Araújo, o Padre Cícero então nunca recebera nenhum pagamento pelos seus trabalhos religiosos, e se mantinha com aquilo que as pessoas doavam. Levava uma vida e humilda, com uma simplicidade imensa. Pobreza era extrema, não cuidava nem da sua própria batina, calçados e cabelos, que eram sempre desarrumados. Por isso, em uma de suas idas ao Crato, o Monsenhor Fernandes Távora, o então vigário da Paróquia, deu-lhe batina e calçados, pedindo para Cícero fosse mais arrumado mandando-lhes cortar os cabelos e fazer a barba. Então em 1888, o Padre Cícero então fora nomeado vigário de São Pedro do Cariri, abrindo aos novos conhecimentos da vida religiosa (DINIZ, 2011).
	Começou então a trabalhar se empenhando para que o amor de Deus fosse pregado para todas as pessoas, fazendo missão, pregando, visitando e exortando. Conseguiu com isto, tirar o homem que vivia no campo, aumentando a população tanto do Juazeiro quanto nos municípios vizinhos. Foram vastas as vezes em que o Padre ia aos sítios com o pretexto de ensinar ao homem como se deveria plantar (DINIZ, 2011).
	 Morou em casa de palha, com os familiares, assim como todos os outros moradores dali. Através da oração e da bondade de Deus a realidade do Juazeiro mudou, antes era devastada pelo alcoolismo, forrós e meretrícios. Padre Cícero conseguiu através de a palavra colocar fé e ordem juntamente com as suas orações a Deus, e assim trabalhou para que fosse construída uma igreja (FEITOSA, 2011). 
	Após doze anos depois de O padre Cícero chegar a Juazeiro, o segundo Bispo do Ceará, Dom Joaquim José Vieira, vindo para benzeu a nova igreja e para registrar o acontecimento no livro de tombo: “A capela de Juazeiro começada em 1875 pelo Padre Cícero Romão Batista, sacerdote inteligente, modesto e virtuoso, é um monumento que atesta eloquentemente o poder da fé e da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, Batista, pois é admirável que um sacerdote pobre tenha podido construir um templo vasto e arquitetônico em tempos anormais quais aqueles que atravessa esta diocese, assolada pela seca, fome e peste” (FEITOSA, 2011).
	Essa era então o inicio de uma grande jornada a qual o Padre estaria disposto a lutar, pela sua igreja e pela sua fé, foi então que durante uma missa, em 6 de março de 1889, Padre Cícero dava a comunhão aos fieis e no momento em que dava a comunhão à beata Maria de Araújo, a hóstia se transformou em sangue. O fato se repetiu outras 49 vezes, durante dois anos, sendo considerado um milagre pela população. Em uma das vezes a hóstia foi então examinada pelo o até então Bispo da Diocese do Ceará, D. Joaquim José Vieira (DINIS, 2011).
	Diversas foram as classes que examinava o fenômeno da transformação da hóstia, eram eles Médicos, Bacharéis, Padre e representantes de todas as classes, o que fora percebido então que na beata Maria de Araújo saiam suores de sangue, da testa, da palma das mãos e dos pés (DINIZ, 2011).
Para a 1ª comissão de Inquérito, o sangue aparecido na hóstia era sangue mesmo e não era de Maria de Araújo. O Padre Antero estava convencido disto e pediu exame químico: “Para V. Revdma. Não há questão em Juazeiro, visto dizer V. Excia. Que o sangue aparecido nas hóstias é o próprio sangue de Maria de Araújo. Poderia acabar facilmente com esta questão, procedendo a um exame especial sobre este ponto: era o meio mais fácil e seguro de descobrir-se a falsidade e resolver a questão, do contrário, sempre permanecerá alguma dúvida” (ARAUJO, 2011, p 53,54).
	As pessoas então começavam a desacreditar naquilo e a duvidar, mas o Padre Cícero creu que aquela se tratava de uma manifestação de Deus, através da hóstia. Foi por crer que o Padre Cícero então fora suspenso de sua ordem eclesiástica em 1896. Vasta foram as interrupções das pessoas com o Padre para tentar lhes perguntar sobe o ocorrido, mas mandavam as pessoas rezarem o terço da Mãe de Deus, de todas as formas que pudessem (DINIZ, 2011).
	Com as orações e as rezas que o Padre então fazia nas ruas e nas estradas, nas casas das pessoas e até mesmo em baixo das árvores, mais pessoas o seguia e mais pessoas de outros lugares o procuravam foi ai que a população da cidade então começava a aumentar chegavam romeiros de todos os lugares, e eles começaram então a lhe chamarem de Padim ciço, por respeito. 
	Padre Cícero então teve um sonho, explica Diniz (2011, p. 45):
 ...que se achava sentado à cabeça de uma grande de escola antiga, pertencente ao Sr. Simião Macêdo, então professor do povoado de Juazeiro e pai do atual mestre Pelúzio Macêdo. Viu no mesmo sonho que entravam na sala do dito professor os doze Apóstolos de Jesus Cristo, tendo à frente o próprio coração de Jesus. Todos tinham grande estatura e se puseram em pé aos lados da mesa, enquanto o Coração de Jesus, colocando-se por detrás do Padre Cícero, disse-lhe em voz forte e temível: “Eu estou muito magoado com as ofensas de que o homes me tem feito e me fazem diariamente. Vou fazer um esforço pela salvação de todos, mas, se não quiserem se corrigir acabarei o mundo. E quanto a ti (disse, dirigindo-lhe ao Padre) toma conta destes”. E o padre viu que começavam a entrar na dita sala diversos indivíduos particularmente sertanejos mal vestidos e mal calçados (DINIZ, 2011).
	
	Após o sonho Padre Cícero então começava a procurar missões e a realizar missas, e confissões, acreditava que havia sido uma referência de Deus e que era seria o designado para realizar aquelas ações. O padre então tinha o costume de chamar os padres que visitavam a cidade para a sua mesa para que conversassem sobre a cidade e para que ele lhes falasse sobre a história do lugar e do que já havia acontecido (DINIZ, 2011).
	 Já havia antes acontecido a transubstanciação da hóstia, mas o padre não queria que aquilo se tornasse público, e uma das provas é que meses antes da primeira manifestação do ocorrido intermediado por Maria de Araújo, muitas pessoas virão que enquanto o Padre levantava a hóstia, ela então transformou-se em sangue entre os seus dedos, então o vinho também se fez sangue quando a mesma caiu dentro do cálix. Era notório o semblante perturbado do Padre que logo pediu para que silêncio e em seguida guardou o cálix. Só depois disso, então, que a hóstia transformara-se em sangue nas mãos da beata Maria de Araújo que era então conhecida por sua honestidade (DINIZ, 2011).
 	A história da hóstia que virou sangue começava então a criar uma grande repercussão, trazendo muitas pessoas de fora para pedir conselhos e bênçãos ao Padre Cícero. Com isso foram construídas novas casas e o povoado começava a crescer de acordo com a crença do povo. Até a igreja tomar consciência do ocorrido as pessoas já acreditavam que havia sido um milagre, e cada vez a história era contada (DINIZ, 2011).
	Em 1889, o padre Cícero foi então à Roma, para se reunir com o Papa Leão XIII e com os membros da Congregação do Santo Orifício, conseguindo posteriormente a sua absolvição Mas até hoje o bispo Dom Fernando Panico diz que a excomunhão não chegou a ser aplicada, e pede sua reabilitação que ainda está em processo no Vaticano (SOBREIRA, 2011). 
	Novos negócios se estabeleciam por pessoas de outros lugares, oficinas de artes e cursos para a aprendizagem, para que as pessoas da cidade começassem também a contribuir para com o desenvolvimento da cidade. Assim muitas outras pessoas procuravam o lugar para a moradia, desse modo criaram-se então um aumento na economia e no desenvolvimento da comunidade (ARAUJO, 2011). 
	As pessoas cresciam junto com o seu desenvolvimento,criando novos alicerces para o constructo de uma nova cidade. Por onde o Padre andava, nas casas e nas comunidades sempre falava que a cidade estaria se tornando um lugar de oficina e oração, de trabalho e que seria outra vivência totalmente diferente da qual chegou, estava se tornando uma comunidade com uma melhor vivência, com novas perspectivas de crescimento (FEITOSA, 2011).
	Para Araujo (2011. p.39) ao promover a valorização ética do trabalho, o Padre Cícero contribuiu para romper com as representações ‘escravocratas’, nas quais o trabalho estava associado à ‘dor’, ao ‘castigo’ e, portanto, à humilhação e à desvalorização do homem. 
	Padre Cícero tinha contato com diversas pessoas que eram representantes ilustres a comunidade, exercia o amor ao próximo e era tão bem feitor que ninguém jamais encontrou nele algo que o diminuísse, era espontâneo e aconselhador, tinha ideias boas e as praticava com fé, sabia consolar. Suas palavras pareciam minar do coração e que se dirigiam para o coração alheio, diminuindo a angústia de quem o procurava. Aquele que conversava com o Padre e lhes contava sua dificuldade e dores dificilmente saia a mesma pessoa, o mesmo era transfigurado pelas palavras do Padre que o acolhia de bom grado. Até aos seus inimigos o Padre Cícero não tinha maledicência, e tratava assim como os outros, com caridade (SOBREIRA, 2011).
	Para Sobreira (2011. p, 63) Padre Cícero tinha o amor apaixonado da pobreza que foi, por dilatados anos, a dama eleita de seu coração, seu amor a essa virtude se manifestava até no traje, uma grosseira batina de merinó ou de brim, sapatos de lã preta, leito pobríssimo, e na mesa, uma frugalidade bem digna de imitação.
	Com o passar dos tempos e em virtude das decepções causadas pelos fatos, o Padre Cícero ficou proibido de exercer suas funções sacras. Sua ordem lhes foi retirada, por decorrência dos acontecimentos que não estavam trazendo bem à igreja. Padre Cícero era conhecido e recebia o nome de anjo da paz, e aos 70 anos, começava então a participar mais ativamente na politica (SOBREIRA, 2011).
	Começou então a se filiar ao Partido Republicano Conservador (PRC), sendo o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, em 1911, quando o pequeno povoado já havia passado para cidade, em 1926 foi então eleito deputado federal, mas não assumiu o cargo (SOBREIRA, 2011).
	Em 4 de outubro de 1911, o Padre Cícero se reuniu com outros 16 líderes políticos da região para que firmassem um acordo de cooperação mútua com o propósito de apoiar o governador Antônio Pinto Nogueira Accioli. A notícia se espalhou até chegar aos ouvidos dos corneis que demarcaram como marco importante na história do coronelismo brasileiro [1].
	Logo, quando Franco Rabelo foi destituído do cargo de Governador, retornando ao seu poder de 1914, ficando conhecida como a Sedição de Juazeiro, sendo eleito e ainda vice-governador do Ceará, no Governo do General Benjamin Liberato Barroso. No final dos anos 20, o Padre Cícero começou então a perder sua notoriedade na política, acabando logo, após a Revolução de 1930, mas o conhecimento das pessoas como santo e milagroso aumentava e que o tornava cada vez mais conhecido [2].
	Após o seu fracasso na política Padre Cícero voltava então não perdeu sua coragem e reivindicava sempre pelos direitos dos mais necessitados e fazia sempre o que podia. Mais enfermo e mais velho mal saia de casa para as novas e para as procissões, os romeiros vinham visita-lo em sua residência, muitos fieis se encontravam lá, e faziam filas enormes para que pudessem ter uma conversa rápida com ele e lhes tomasse sua benção (S0BREIRA, 2011).
	Cada vez mais enfermo e incapaz de sair de casa, o Padre Cícero ficava cada mais debilitado, mas rezava sempre o terço em seu quarto com os romeiros, nunca deixando de lado o que prezou durante toda a sua jornada. No dia 20 de Julho de 1934, muito doente rezava e pedia para os que os seus fieis rogassem à Deus por ele, e que lhes colocasse em um bom lugar no céu, mais tarde já sem forças levantou-se de sua cama e desenhou três cruzes com o seu cajado, e foi até a janela, dizendo aos seus fieis que nunca deixassem de rezar o terço da mãe de Deus, ao se deitar disse aos fieis que estavam presentes em seu quarto “ no céu pediram a Deus por todos vocês”, vindo a falecer logo em seguida (SOBREIRA, 2011).
	Eram seis e meia da manhã quando se ouvira os choros vindos da casa do Padre Cícero, a partir de então tiveram a certeza de que realmente teria falecido, e onde suas última palavras foram “Vou rograr à Nossa Senhora por vocês.” A mão já desfalecida caiu pesadamente e abriu se abrira entregando-se então sua alma à Deus (DINIZ, 2011).
	As pessoas clamavam e choravam durante o dia e a noite, enquanto outros tocavam o fereto do venerado com flores e rosários (DINIZ, 2011). 
Repetiam-se, durante todo o trajeto, da casa do grande morto ao seu último jazigo, entre muitas outras, as frases seguintes: “Meu padim ciço morreu! Morreu pai! Minha Nossa Senhora das Dores ! ai ! Que será de mim ?...” Eram expressões de almas sinceras, a quem ele tantas vezes amparou, como bom pai e que não souberam pagar os benefícios com negras ingratidão, como fizeram tantíssimo de seus mais beneficiados e que talvez tenham batido palmas, ao saberem da morte do grande brasileiro (DINIZ, 2011 p. 230).
	
 	Mais de uma hora e meia foram gastos durante todo o percursso à igreja de Nossa Senhora das Dores e a Capela de Nossa Senhora do Pérpetuo Socorro, diferentemente dos enterros comuns que se gastavam meia hora (DINIZ, 2011).
É ocioso dizer que dobraram os sinos, o dia inteiro, e que pairava sobre tudo uma atmosfera de tristeza, sendo de notar-se uma circunstância interessante, isto é, o aparecimento de bandos de andorinhas, o que é raro nesta localidade, e o desencadeamento de fortes ventanias, nos dias seguintes à morte do Padre Cícero (DINIZ, 2011, p. 232).
	
CAPÍTULO 2. MARIA DE ARAÚJO
	
	“Maria de Araújo era filha legítima de Antônio de Araújo e Ana Araújo, pobres e honestos agricultores cearenses. Nasceu a 24 de maio (Domingo do Espírito Santo) de 1863, no então povoado do Juazeiro do Crato, e faleceu dia 17 de Janeiro de 1914, durante a campanha que esta cidade mantinha contra as forças rabelistas” (DINIZ, 2011, p. 41).
	Foi sepultada no mesmo lugar em que o Padre Cícero também foi sepultado, na Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, onde muitas pessoas conduziram seu corpo desfalecido até o túmulo, inclusive o Padre Cícero e pessoas importantes da época, políticos, professores e revolucionários (DINIZ, 2011).
	Morena de Cabelos crespos e curtos, de estatura média, tinha a cabeça pequena e arredondada, olho negro e suave tinha os lábios grossos e o pescoço proporcional ao corpo. Era uma pessoa doce, e de havia tido uma boa criação, vestia hábito de beata, preto, conservado e a cabeça coberta, trabalhava e vivia honestamente e era conhecida por todos pelos seus gestos irrepreensíveis (DINIZ, 2011).
Padre Cícero tinha pela beata Maria de Araújo uma particular consideração, razão por que, quando ela morreu, lhe dedicou uma atenção toda especial. Mandou abrir-lhe uma sepultura na Capela do Socorro e providenciou-lhe um enterro digno de uma pessoa ilustre. [3]
	Era engomadeira e lavadeira de roupas, vivia sempre ocupada em sua humilde profissão, e também fazia bolos pra vender. Foi pobre durante toda a sua vida, criava meninos e os ajudavam porque passavam muita necessidade (DINIZ, 2011).
CAPÍTULO 3. BEATO JOSÉ LOURENÇO
	Chegou em Juazeiro em 1890, aos 20 anos, quando ainda era viva a Beata Maria de Araújo e o fanatismo pelos acontecimentos da hóstia ainda chamava atenção de todos. José Lourenço deixou a enxada e se dirigiu ao campo, arrendou um trecho do sítio Baixa Danta, que naquela época pertencia a João de Brito e ali se instalou. Era muito esforçado, e transformava terras secas em pleno pomar que desenvolvia várias frutas, jaqueiras, limeiras, coqueiros, bananas, mamoeiros, abacateiros (SOBREIRA, 2011).
	Com a sua fama de prosperidade e de seuinesgotável espírito de caridade, sua moradia começava a se esforçar para que suas terras fossem produtivas e isso chamava atenção cada vez mais das pessoas de outras comunidades que começariam a migrar pra lá, e a casa do beato tinha vários órfãos, porque cuidava deles e dava assistências às outras famílias, auxiliando para fazerem o possível para terem uma boa colheita. Foi com essa humanização do Beato que ele estaria se tornando uma pessoa bastante reconhecida, pelos seus atos de ajuda (SOBREIRA, 2011).
	Mas essa realidade mudou com a Revolução de 1914, quando se recolheu à Juazeiro, se dispondo a morrer pelo Padre Cícero, mas ele não chegou a lutar, porque não gostava de fazer mal ao outro quaisquer que fosse a situação. Com seu afastamento da lavoura, teve grandes prejuízos. Foi indenizado pelos danos da Revolução e logo retomou o seu trabalho refazendo tudo o que havia sido destruído (SOBREIRA, 2011).
	O Beato foi então presenteado pelo Padre Cícero com um touro de raça quando já estava bem instalado em Baixa Danta onde morava. Tratava bem os seus pássaros e tudo o que lhes pertencia, era bastante zeloso e tinha muito cuidado no tratamento dos seus animais, o que traria uma grande consideração pelo Padre Cícero (SOBREIRA, 2011).
	No tempo em que o Padre Cícero presenteou o Beato José Lourenço o Juazeiro sofria pela interferência de Flórido Bartolomeu na política do estado e muitos jornalistas que também queriam assaltar o bolso do Padre Cícero. Começaram então as perseguições, Dr. Floro havia conseguido dominar o Padre Cícero, admitindo como verdadeiras as acusações contra José Lourenço, que logo fora preso e conduzido à Juazeiro em companhia do boi, sendo este morto publicamente e o beato preso. Logo o Beato foi obrigado a comer a carne do boi, seu querido ‘mansinho’, sofrendo pelos protestos da população e pelas humilhações a eles referidas (SOBREIRA, 2011).
	Mas as perseguições contra o Beato não acabariam ai, logo, a Revolução de 1930 lhes traria novas perseguições por ser considerada uma pessoa despreitada, leviano e pernicioso. Mas o beato fugiu, deixando tudo e logo procurou outro lugar, um asilo, mas foi preso mesmo assim e solto posteriormente regredindo para Baixa Danta e continuando sua vida como se nada houvesse acontecido e sem guardar nem um rancor nem ressentimento dos seus perseguidores. Após vários anos, em 1936 o Beato fora obrigado a vender suas terras, perdendo todo o seu trabalho que construiu durante muitos anos e mudou-se para um lugar chamado de Caldeirão dos Jesuítas que era propriedade do Padre Cícero. Era um terreno acidentado e muito pedregoso, mas muito bom para a plantação de cereais e algodão (SOBREIRA, 2011).
	Durantes anos de trabalho construiu sua casa e um engenho assim como fizera em Baixa Danta que cercou todo o território colocou cancelões, durante esse tempo várias outras casas eram construídas e rapidamente aquele deserto se tornaria um habitat de uma população de muitos imigrantes. Lá havia dois açúdes que foram contruídos durante os anos de 1931 e 1932. As laranjeiras eram bonitas, tinham mais ou menos uns 100 pés, assim como bananeiras, coqueiros, roseriros, embuseiros, guabirobeiras, eucaliptos e varias plantações de piteira. E ao lado destes atrepados em altas árvores eram vistos grandes plantações de algodão. Toda a plantação havia sido constituída pelo Beato e com o suor do seu esforço (SOBREIRA, 2011). 
“Um semeador saiu a semear. E semeando, parte da semente caiu ao longo do caminho (...)“: (...) outras, enfim, caíram em terra boa: deram frutos, cem por um, sessenta por um, trinta por um (...)“; (...)a terra boa semeada é aquele que ouve a palavra e a compreende, e produz fruto: cem por um, sessenta por um, trinta por um” (Bíblia Sagrada, Mateus 13: 4; 8; 23).
	
	Mas o Beato se ausentou durante muitos anos e isso afetou sua plantação quando muitos perversos abriram os cercados e invadiram suas plantações dando-lhes incalculáveis prejuízos. Até sua casa foi furtada sendo roubados vários dos seus objetos domésticos. Mas logo reconstruiu tudo quando voltou. Sofreu várias acusações injustas mas não sabia se defender, era dotado de um espírito dócil e amigo da paz ajudava sempre os que mais necessitavam, nunca havia sido protagonista de guerra e nem de violência. Era um idealista e muito humanitário. O beato então considerava o Padre Cícero como o patriarca de Juazeiro, era um humilde camponês que não tinha pensamentos rebeldes. Era preciso somente conversar com ele para perceber a humildade e a mansidão que transparecia. Na sua casa ele alimentava mais de 300 pessoas, homens, mulheres, adultos, crianças e idosos, por eles tinham respeito e clamor. A cada dia o numero de pessoas aumentava, e logo fora conhecido como o ‘apóstolo do bem’ (SOBREIRA, 2011).
Alojados no Caldeirão eles deram início a toda uma construção e em pouco tempo fizeram daquele lugar um ambiente de prosperidade. Sempre imbuídos do ideal religioso abraçavam as adversidades da vida com fé, espírito de luta na esperança de dias melhores e com ideais de igualdade, autonomia e justiça, utilizando as terras consideradas improdutivas e transformando-as em solos férteis, produtivos, vivendo uma sociedade socialista primitiva, sobrevivendo com recursos próprios, legitimando a participação, construindo a cidadania, exercitando o caminho de homens sujeitos, criadores e fazedores de uma história que impulsionava a tomada de uma consciência de classe. Visto que classe social é uma (...) “categoria econômica fundamental que aglutina grupos, indivíduos e movimentos na sociedade civil e política” (...) (GONH, 1999, p. 39).
	
	O Beato era acusado importunadas vezes pela prática inapropriada do culto católico ministrando-o com fetichistas. Sustentou as pessoas em sua casa durante os 23 meses da seca além das pessoas que ali moravam. O caldeirão era assim chamado porque ali havia um grande caldeirão de pedra que conservava água durante o período de estiagem e por terem vividos escondidos ali naquela época que era considerada remota, dois jesuítas. Lá viveram o resto da vida debaixo de uma enorme baraúna, e que depois fora cortada por um caçador a fim de retirar dele uma colmeia que ali estava alojado em um dos seus galhos. Isso deixou o Padre Cícero enraivecido que logo deu a ordem para o Beato para que ele procurasse os restos mortais da árvore e a conservasse da melhor maneira possível. O Beato logo encontrou e o colocou em um lugar que escolheu, sobre a terra construiu uma casa e do lado construiu um cemitério. Onde durante o tempo fora edificada uma capela, estando lá até hoje (SOBREIRA, 2011).
	
CAPÍTULO 4. O ROMEIRO
	“Advindo de lugares distantes, segundo Guimarães (2011) a romaria é uma realidade abrangente e complexa, em que diversos elementos ou matrizes se cruzem numa fusão sem sempre tranquila, formado, consequentemente, um tapete que vai sendo tecido até a plena expressão do desenho em conjunto, deixando somente pra depois o parecer completo de sua significação. Entram assim os elementos coletivos e subjetivos da experiência religiosa: a decisão, a partida, o quase sempre longo e dificultoso caminho feito de expectativas, gestos e partilha intensa oração, até confluir para o encontro com o lugar sagrado”.
	O autor quer dizer que as experiências de fé e de forania fazem parte da vida de um romeiro, são consequências inevitáveis e que o ajudam tanto a tecer quanto a multiplicar suas expectativas, e através disso fazer uma nova significação da sua fé. O apoio do outro também faz parte, a vida em grupo que faz com quem todos se mantenham com mais fé e os ajudam a continuar nessa jornada de esperança. 
Tantos anos depois, em vez de exigirem provas científicas contra ou a favor do decantado milagre, os romeiros estão mais interessados nos prodígios que afirmam receber eles próprios, do Céu, por obra e graça do “Padim Ciço”. Por isso, estão no Juazeiro. Por esse motivo, sobem a pé a colina do Horto, alguns descalços, outros levando pedras à cabeça, em sinal de penitência. Há os quecarregam pesadas cruzes de madeira às costas, para repetir na pele os sofrimentos de Cristo. De um modo ou de outro, chegam ao topo da montanha esbaforidos, mas felizes, por ter cumprido a promessa feita. Lá no alto, amontoam-se nas escadarias da enorme estátua e deixam seus nomes rabiscados a caneta ou a carvão na parte mais baixa do sacerdote de pedra. Os botões inferiores da batina da imensa escultura exercem um fascínio peculiar sobre os devotos, que debruçam a cabeça sobre eles, em novas e emocionadas orações. O vão entre o cajado e o corpo da estátua igualmente se reveste de significados mágicos. É por ali que os romeiros se espremem, passando pela fresta, com a intenção de se livrarem das tentações e dos pecados (NETO, 2009, p.312).
	
	O Padre Cícero, mesmo antes da sua morte já arrastava multidões pela cidade, ou seja, a história do padre se tornou conhecida e assim vinham para conhecê-lo e ficavam para as suas celebrações, outros vinham pedir conselhos, pois era também um bom conselheiro sobre os negócios e sobre as lavouras, muitos políticos e pessoas notórias eram conhecedores dele e costumava ir frequentemente às missas e as novenas que celebrava todos os dias nas casas das famílias, isso o tornava mais conhecido e até então sua história foi levada á outras cidades e outros estados, foi aí que a jornada da peregrinação começou, muitas pessoas de outras cidades vinham conhecer o Padre que era muito falado naquela época e acabavam gostando e retornando outras vezes (DINIZ, 2011).
	Antes já se ouviu falar que os romeiros de Juazeiros seriam a malfeitoria da cidade, pois não é bem assim, explica Diniz (2011 p.54) “aqui moram e têm morado romeiros idiotas, romeiros cretinos, loucos, fanáticos e romeiros inteligentes e bem como os mais legítimos representantes de brasilidade. É exato que no começo muitos criminosos se fizeram romeiros, e penitentes mais ou menos sinceros, vindo residir junto ao Padre Velho, para cuidarem de sua regeneração e salvação, o que parte deles conseguiu, ao menos em relação à cadeia”.
	A crença e a fé dos romeiros não lhes tiravam a confiança nos milagres já acontecidos pelo Padre Cícero, muitos vinham entender o que havia acontecido, e começariam então a acreditar naquilo, onde os olhos começavam a se voltar para o Padre como o “Padre milagroso”, e sua história então começou a ser contada e cada vez mais a busca pelo Padre aumentava. Mesmo que a igreja tivesse proibido que alguém comentasse sobre o fato da hóstia ter virado sangue, os fiéis não desacreditavam, e nutriam aquela fé e sabiam também que aquilo um dia poderia ser reconhecido (SOBREIRA, 2001).
No Horto, os mais fervorosos não dispensam uma nova caminhada de 45 minutos ao sol, agora por uma trilha aberta no mato, até chegarem ao chamado Santo Sepulcro. Lá, crem, Jesus Cristo foi crucificado. Grandes formações rochosas em granito bruto pontilham o lugar. As enormes pedras que parecem abrolhar do chão formam labirintos naturais, com fendas apertadas entre elas, o que novamente dá ensejo a simbologias e crenças. Passar pela chamada “Pedra do Pecado” — um dos trechos de ultrapassagem mais difícil, por causa do pequeno espaço aberto por uma fissura na rocha — constitui um desafio a que só os mais arrojados (e os mais místicos) se arriscam (NETO, 2009, p 312).
	
A fé é um dos aspectos a qual é mais vistoso no semblante de um romeiro, as roupas caracterizam um milagre alcançado, a pele escura do sol ardido, e os lábios ressecados pelo calor constante faziam parte de uma jornada do romeiro peregrino. Muitos fiéis de cidades distantes passavam dias nas estradas em direção ao Juazeiro, o sofrimento e a esmola faziam parte daquela ação (DINIZ, 2011).
	Para o romeiro de Juazeiro ele era o porta-voz da divindade, o conselheiro seguro e o protetor na hora do desamparo e da angústia (SOBREIRA, 2011).
	Existem diversos aspectos que contribuem para o romeiro e que também fazem parte da vivência do mesmo, estão interligadas por um conjunto de ideias que fazem sentido para ele e que faz parte: a preparação para a saída, a trajetória da viagem, a chegada à cidade que tanto estimam, cada um desses aspectos está inseridos neles uma gama de sentimentos que somente o romeiro saberia discernir. Na chegada á cidade, o romeiro paga a sua promessa, vai aos lugares mais sarados e logo após vai para a igreja para se confessar e depois a missa para que lhes seja dada a comunhão. Visitam a “igreja matriz”, de “Nossa Senhora do Perpétuo Socorro” onde foi enterrado o Padre Cícero. A subida a serra do horto, e a ida ao museu do Padre Cícero, para finalizar vão para as demais igrejas, e por final a igreja dos Franciscanos, na chegada circulam 3 vezes buzinando para agradecer a sua visita, onde caminham pelo o “passeio das almas” e onde fazem um ritual de dar 3 voltas pela estátua do São Francisco das chagas com a buzina do ônibus ligada, para pedir ao Santo que os protejam em sua viagem de volta (GUIMARÃES, 2011). 
	A graça alcançada precisava ser retribuída ao Santo através das chagas dos romeiros, do sol que ardia do calor que não cessava, do cansaço físico e psicológico que rodeava e que assolava àquele que vinha agradecer, mas acima de tudo isso tinha a oração, que os mantinha e que ainda hoje mantêm viva a tradição do caminhar léguas e mais léguas para agradecer, do subir a ladeira do horto para que seja retribuída toda a graça que fora pedida com muita fé.	A sacola que pesava nas costas e a roupa empoeirada, os olhos tristes de cansaço e que faziam pena, olhos que falavam sobre a fé aos olhos que quem via, ali existia algo que era maior, a oração, a fé, que os mantinham naquela situação, porque fazia parte, era necessário, contribuía para a uma fé inabalada por fraqueza e por dor. A fé e a oração, no entanto, são duas características que são imprescindíveis aos romeiros (GUIMARÃES, 2011).
	Na chegada à cidade, os peregrinos iam direto para a estátua do Padre Cícero onde se colocavam de joelhos e agradecia pela sua chegada e subiam as escadas até a estátua ainda de joelhos. Uma das preces pedidas ao Santo era que lhes dessem força para voltar, seria mais uma longa caminhada, outra longa peregrinação de volta pra casa (GUIMARÃES, 2011).
	Mas muitos desses romeiros peregrinos não voltavam pra casa e acabavam se fixando na cidade, moravam nas ruas e pediam esmolas. Mas muitas outras pessoas construíam suas casas tanto na cidade quanto na subida da colina do horto, aumentando a população, vinham de muitos estados á procura de um trabalho, e de uma nova esperança de vida, mas muitos não conseguiam e voltavam. Os que ficavam e conseguiam trabalho logo se fixavam (GUIMARÃES, 2011).
	A diocese então decidiu fazer missas em sua homenagem todos os dias 20 de cada mês que seria o aniversário de morte do Padre Cícero começava então uma grande caminhada de romeiros que protagonizava mais conhecimento das pessoas com sua história. Com o tempo a quantidade de fiéis nas romarias só aumentava, e que traz até mais de 2 milhões de pessoas, sendo reconhecida como processo cultural, que contribui com a história do lugar com as vivências dos romeiros, que são os seguidores do Padre Cícero (GUIMARÃES, 2011).
	Com as romarias a cidade então começou a ganhar novos moradores, os seguidores do Padre Cícero começou a se mudar pra cá, em busca de uma nova esperança, de um novo emprego e de uma nova vida, tornando aumentando a população e aumentando a produtividade da cidade, com isso, foi assim chamado de “população flutuante”, porque muitas pessoas vinham para as romarias e acabam ficando (GUIMARÃES, 2011).
	A cidade começou a ganhar notoriedade devido a vasta busca pelo padre e por sua história, a economia da cidade só aumentava gerando mais emprego e com isso mais pessoas procuravam o Juazeiro como moradia, ao contrário desse alavancar da economia mais pessoas passavam fome e mais pessoas moravam nas ruas, aumentando assim o índice de romeiros que vinham para as romarias e sem condições para voltar para a sua cidade acabavam ficando aumentando a população dedesabrigados desordenadamente (FEITOSA, 2011).
	Na chegada do Padre à cidade só havia mais ou menos 32 casas, poucas famílias as quais o pároco encontrou, naquele tempo, era sede de município em 1911 e logo passou a ser a maior cidade do interior cearense, com prosperidade e influência no urbanismo, na educação, no comércio, no artesanato e na política. Somente Brasília conseguia superar o Juazeiro por ser uma cidade em que o crescimento acontecia tão rápido e florescente (FEITOSA, 2011).
										
CAPÍTULO 5. O JUAZEIRO
	Segundo Peixoto (2011 p. 21) “O povoamento inicial do Juazeiro do Cariri data, pouco mais ou menos, de 1800. Começou com o padre Pedro Ribeiro Monteiro, de saudosíssima memória. Apenas ali chegara pioneiro, tratou de logo esse padre comprar terras e de situar nelas fazendas de gados e miuças. Religioso que era, afortunado, dispondo de uma larada de mancipios que trouxera consigo dos sertões do Jaguaribe-mirim, enquanto que assim procedia, levantava a primeira orada, o primeiro altar, a primeira cruz”.
O Cariri, vasto arco de serras verdes e vales férteis, é uma espécie de oásis encravado no meio do árido chão nordestino. Antes dos índios que lhe deram nome, outros povos mais antigos seguiram o curso dos rios e chegaram àquele lugar. Deixaram como testemunho de sua passagem um sem-número de inscrições e desenhos gravados na pedra. Em tempos ainda mais imemoriais, tudo aquilo fora um único e imenso oceano. Centenas de milhares de fósseis, muitos deles encontrados em sítios arqueológicos à flor da terra, ainda estão ali para comprovar que peixes pré-históricos, ouriços-do-mar, moluscos de duas conchas e outras criaturas de água salgada habitaram o lugar há cerca de 110 milhões de anos, época bem anterior à chegada dos primeiros humanos na Terra. O mar, um dia, virou sertão (NETO, 2009, p.31).
	Logo então, fora feita a ermida de Nossa Senhora das Dores, causando espanto para os pequenos moradores do sitio quando era avistada. Juazeiro foi construída à beira de um rio, logo chamado de salgadinho, onde logo o povoado era crescente com o passar dos anos (PEIXOTO, 2011).
	Em 1856, com a morte do padre começaram então as discórdias, a ambição tomou conta do lugar e as rixas eram frequentes, tudo isso causava um amontoado de contenções que desmantelavam e sobrecarregavam os moradores de rancor, por antes ser um lugar bom, e de bem estar, animado e tão cheio de vida, mas a evolução social e a morte do padre causaram descontrole aparente fazendo com que as pessoas descumpram as regras. A paz e a tranquilidade só iria começar depois que o Padre Cícero chegasse de morada na cidade (PEIXOTO, 2011).
	O Padre Cícero então chegou à cidade, recém-formado e as inflamando amor ao próximo, as mãos que ainda cheiravam a santos oléos, logo as pessoas que o avistava demonstravam um bom contato com o sacerdote por ter o semblante de paz e de humildade e por sua pretensão de trazer felicidade e amor, com isso, o Juazeiro dava mais um passo para a sua caminhada (PEIXOTO, 2011). 
	A cidade até então era pequena, tinha mais ou menos três trechos de ruas, onde havia cerca de doze casinhas de telhas e de tijolos, e uns vinte casebres de taipa e telhas, ou taipa e palhas de palmeiras. A capelinha que foi construída pelo Padre Cícero era toda de tijolos e telhas, um sinozinho e um altar com uma estátua de Nossa Senhora das Dores (DINIZ, 2011).
	Após a chegada do Padre à cidade e com o aumento dos fieis a capela então já não comportava tantas pessoas, o Padre então decidiu demolir com o auxílio do Senhor Landim, pai do mestre Pelúzio, que era um professor da comunidade, e outras pessoas que também ajudaram. Foi então transformada em outra capela, maior e que era suficiente para todas as pessoas e para que seja cultuada a missa em boas circunstâncias. Logo fora transformada em igreja matriz, desde 1922 quando o padre Dr. Manoel Macedo era vigário (DINIZ, 2011).
	Ainda hoje se vê as grandes estátuas de Nossa Senhora das Dores e do Sagrado Coração de Jesus, apesar de nela se terem gasto mais de duzentos contos de réis, que foram adquiridos pelo Padre Cícero. Juazeiro começou então um marco na história da religiosidade e da cultura, através dos acontecimentos políticos da região do Cariri. Foi tudo graças a ação do Padre Cícero, seu patriarca que hoje é considerada um dos maiores centros de religiosidade popular da América Latina e que atrai milhões de romeiros todos os anos (PEIXOTO, 2011).
	O movimento de imigração começara então a crescer desordenadamente, multiplicando e desenvolvimento outros padrões de comunidade pelo crescente número de pessoas, tudo isso vinha acontecendo devido ao “milagre de Juazeiro”. Com o tempo e com a crescente população o Padre Cícero então ganhava cada vez mais uma característica mística atraindo então mais romeiros e fieis, atraia mais fieis que vinham em busca da história do milagre e para o encontro do padre que já eram devotos antes mesmos de conhecê-lo, o povoado então se constituía em torno da fé daqueles que acreditavam no Padre Cícero e na sua história (ARAUJO, 2011).	
Mas nem só de romarias vive o Juazeiro. A “metrópole do Cariri” se tornou um dos principais aglomerados urbanos, comerciais e industriais do Nordeste. Nas últimas décadas, a antiga vila de cerca de trinta casas de taipa que um dia recebeu padre Cícero descobriu uma nova vocação econômica. Juazeiro do Norte é a sede do maior polo universitário do interior cearense. São mais de cinquenta cursos de nível superior — incluindo medicina, direito, jornalismo e psicologia. Novos empreendimentos imobiliários e hoteleiros surgem a todo instante para atender à demanda das dezenas de milhares de estudantes nordestinos atraídos pelas faculdades juazeirenses (NETO, 2009, p 313-314).
	
	A população do Juazeiro foi constituída por romeiros, outrora, vindo de várias partes do Nordeste, assim foi criado um caldeirão de cultura que reunia tradições e costumes e que eram recriados com o passar dos anos. Todas essas características culturais foram formadoras e através delas foi constituída a cidade e determinaram as comemorações do centenário de emancipação política da cidade em 2011. Na cidade de Juazeiro, o que se concretizava nesse espaço econômico é a fé que está interligada imaterialmente, se criando e se constituindo um espaço de grande dimensão cultural, que produz e se desenvolve a partir dessa produção e dessa multiplicidade de simbolismos existentes (ARAUJO, 2011).
Hoje juazeiro pesa por si mesma: cidade populosa, centro de romarias, um empório centro cultural universitário, centro de comunicação viária, aeroviária, de telefonema sem fio e telecomunicação, um lastro sólido de artesanato, de indústria, de comércio, foco convergente e divergente da economia sul cearense, força decisiva da política estadual, cidade embelezada e saneada, pacata e laboriosa, atração maior do turista e lugar onde todos se sentem bem (FEITOSA; IMEPH, 2011, p. 69).
CAPÍTULO 6. O SAGRADO E O PROFANO
	
	Émile Durkheim (1996, p.51) em seus estudos sobre a religião observa que “o sagrado e o profano foram pensados pelo espírito humano como gêneros distintos, como dois mundos que não têm nada em comum”. E conclui que: “existe religião tão logo o sagrado se distingue do profano” Emile Durkheim (1996, p. 50). Com isto, pode-se dizer que, tudo que está ligado a religião e crenças se manifestam como sempre com uma realidade atípica do que é natural, relacionando assim ao anormal, metafísico, que transcende as explicações teóricas, isto é considerado profano, ou seja, aquilo que não é sagrado.
	Mircea Eliade (2004) baseia-se no conceito de sagrado como hierofonia, a manifestação de uma entidade sagrada, isto é, Deus. Outrora, nas sociedades arcaicas as tendências de se viver o mais possível no sagrado ou que fosse mais próximo do sagrado era algo que estaria impregnado na vida do individuo. Em toda história da religião existe um considerável número de hierofanias, manifestação das realidades sagradas, por exemplo, a manifestaçãoem uma pedra de algo que é sagrado, ou em uma árvore até a hierofania suprema, que é, para os cristãos, a encarnação de Deus em Jesus Cristo. Surge um paradoxo: A manifestação desse sagrado em alguma coisa é ao mesmo tempo, e continue sendo ele mesmo, porque segue participando do meio cósmico envolvente (ELIADE, 2004).
	Para o pensador francês René Girard (1998), o sagrado tradicional é sacrificial em grande medida, pois é a morte real ou simbólica que sacraliza o bode expiatório, distanciando-o em relação ao mundo cotidiano. O autor argumenta que a articulação dos diversos fenômenos sociais opera através da íntima relação do sagrado com a violência: “a violência e o sagrado são inseparáveis” (RENE GIRARD, 1998, p. 32).
	A violência do sacrifício além de produzir o sagrado, também sacraliza a própria violência, que passa a ser considerada purificada por aquele que o comete. O mecanismo do bode expiatório é a fonte de tudo o que há nas religiões mítico-culturais. Tudo o que é religioso é advindo de uma vítima expiatória, e as grandes instituições humanas, religiosas e profanas, é advinda do rito (GIRARD, 1998).
O rito coloca ordem, classifica, estabelece as prioridades, dá sentido do que é importante e do que é secundário. O rito nos permite viver num mundo organizado e não-caótico, permite-nos sentir em casa, num mundo que, do contrário, apresentar-se-ia a nós como hostil, violento, impossível (TERRIN, 2004. p.19)	
	A estrutura do mito é constituída por camadas ad infinitum, que são reproduzidas no seio de cada versão, cujos episódios, aparentemente sucessivos, não se alinham segundo uma ordem irreversível o modo d eventos históricos, isto se trata de uma reprodução de um modelo que é fundamental e que é apresentado sob um modelo de diferentes perspectivas aos das versões (STRAUSS, 1991).
	A televisão renova o mito e suas versões, mostrando através dessa sociedade moderna e criando uma expectativa em que o publico sabe qual seria o fim disto. No mesmo contexto, Rocha (1989, p.95) também define o mito como “uma narrativa através da qual uma sociedade se expressa, indica seus caminhos, discute consigo mesmo”. Segundo ele, o mito não possui alicerces sólidos, não possui verdades eternas, ou seja, isso é uma construção daquilo que repousa no solo. O mito flutua, o único registro que se têm, é a do imaginário, seu poder e sua sensação é a emoção da dádiva. A sua possibilidade de compreensão e de vivência é a prazer do jogo, e não a da certeza (ROCHA, 1989).
	Segundo Bathes (1980): 
A função do mito é transformar uma intenção histórica em natureza, uma contingência em eternidade. Ora, este processo é o processo da ideologia burguesa. Se a nossa sociedade é objetivamente o campo privilegiado das significações míticas, é porque o mito é formalmente o instrumento mais apropriado para a inversão ideológica (BARTHES, 1980, p.162).
	O mito é um sistema de comunicação, uma mensagem que não tem formato específico e, assim, pode ser adaptada. O autor explica que a fala mítica é uma mensagem que pode, além de toda tomar forma oral, ser composta por escritas ou por representações: “o discurso escrito, assim como a fotografia, o cinema, a reportagem, o esporte, os espetáculos, a publicidade, tudo isto pode servir de suporte à fala mítica” (BARTHES, 1980, p.132).
	Existe um tipo de socialização onde as práticas são criadas de acordo com a finalidade, podendo ela ou não, reforçar a memória e os vínculos já existentes na sociedade. O que o ritual confirma isto ritualiza e só reforça que esse caráter também seja de nível social. Por isso, existe toda uma importância de relação entre o objeto e a fé, entre o símbolo e mito, um tipo de linguagem caracterizada por codificações (BARTHES, 1989). 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
	A busca da paz e da oração foi o grande alavancar na vida do Padre Cícero, pois sempre fazia pelos pobres aquilo que os outros negavam, e não vivia de luxo porque mais gente necessitava. A vida de humildade tomou de conta de uma vida plena e que fora concebida por muitas derrotas perante a igreja e a sociedade que outrora não existia tanto discernimento quanto hoje. Ainda ficando na história um ponto de interrogação, aquele que nunca será encontrada respostas concretas, porque aquilo que sente não pode ser explicado, o romeiro não expõe em palavras seu sentimento, sua oração de agradecimento e seus sentimentos, é notório em seu semblante um aspecto de acolhimento para com o que vem buscar, a renovação de uma fé e de uma complexidade de sentimentos que ele mesmo constrói e que ele mesmo não sabe transpor. Uma dinamicidade que é acompanhada através de pesquisas científicas, mas que fica um pouco subentendido, uma característica de uma fé que eleva, que dá forças e que quase sempre é demonstrada através de uma lágrima e um sorriso, do ato de se ajoelhar e agradecer, de criar costumes e de segui-los. Fatos incomensuráveis que seguem através de uma cultura e que todos os anos se renovam com a visita dos romeiros à cidade. Bendito seja aquele que encontra forças e se constrói perante a sua fé e oração, esse sim pode ser considerado um exímio romeiro.
REFERÊNCIAS
ARAUJO, MARIA DE LOUDES. A cidade do Padre Cícero: trabalho e fé, IMPEH, 2011.
BARTHES, R. Sistema da moda. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1979.
BÍBLIA SAGRADA, 75 ed. Editora Ave Mana Ltda. São Paulo-SP: Edição Claretianas, 1991.
DINIZ, M. Mistérios de joazeiro. / 2. ed. IMEPH, 2011.
DURKHEIM, É. As formas elementares da vida religiosa, Martins Fontes, São Paulo, 1996.
ELIADE, M. O sagrado e o profano: A essência das religiões. São Paulo, Martins Fontes, 2001.
GIRARD, RENNÉ. A violência e o Sagrado. Rio de Janeiro, Paz e terra, 1998.
GUIMARÃES, FAUSTO DA COSTA. Memórias de um romeiro. / 1. ed. IMEPH, 2011.
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