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Fortaleza ● Ceará
Eduardo Macedo
Ilustrações Eduardo Azevedo
Copyright © 2018 Eduardo Macedo
Copyright © 2018 Eduardo Azevedo
Coordenação Editorial, 
Preparação de Originais e Revisão
Kelsen Bravos
Projeto e Coordenação Gráfi ca 
Daniel Dias
Design Gráfi co 
Emanuel Oliveira
Eduardo Azevedo
Revisão Final
Marta Maria Braide Lima
Sammya Santos Araújo
Conselho Editorial
Maria Fabiana Skeff de Paula Miranda
Sammya Santos Araújo
Antônio Élder Monteiro de Sales
Sandra Maria Silva Leite
Antônia Varele da Silva Gama
Catalogação e Normalização
Gabriela Alves Gomes
Governador
Camilo Sobreira de Santana
Vice-Governadora
Maria Izolda Cela de Arruda Coelho
Secretário da Educação
Rogers Vasconcelos Mendes
Secretária-Executiva da Educação
Rita de Cássia Tavares Colares
Coordenador de Cooperação
com os Municípios (COPEM)
Márcio Pereira de Brito
Orientadora da Célula
de Apoio à Gestão Municipal
Gilgleane Silva do Carmo
Orientador da Célula
de Fortalecimento da Aprendizagem
Idelson de Almeida Paiva Júnior
Orientadora da Célula
do Ensino Fundamental II
Ana Gardennya Linard Sírio Oliveira
SEDUC - Secretaria da Educação do Estado do Ceará
Av. Gen. Afonso Albuquerque Lima, s/n - Cambeba
Fortaleza - Ceará | CEP: 60.822-325
(Todos os Direitos Reservados)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
M141f Macedo, Eduardo.
A fantástica peleja entre bode Ioiô e boi Mansinho / Eduardo Mace-
do; ilustrações de Eduardo Azevedo. - Fortaleza: SEDUC, 2018. 
80p. il.
ISBN 978-85-8171-239-0
1. Literatura infantojuvenil. I. Azevedo, Eduardo. II. Título.
CDU 028.5
Aos meus fi lhos e esposa: 
Davi, Heitor e Riteméia. 
Tão amados, tão cearenses.
5
No céu onde os animais
Gozam seu viver eterno,
Sob um sol que irradiava
Branda luz e calor terno,
A bicharada amargava 
Um marasmo sempiterno.
As onças não mais sentiam
Gosto pelas capivaras,
Ante a leões indolentes 
Porcos passavam em varas,
Lobos e ovelhas pastavam
Juntos nas mesmas searas.
Predadores não caçavam,
Presas também não fugiam.
Nem sequer mesmo os mosquitos
Hematófagos zumbiam,
Pois seus pequeninos corpos
De sangue não mais nutriam.
6
Até que uma certa vez,
Um urubu altaneiro
Resolveu por recorrer 
Ao seu santo padroeiro
E partiu ao Canindé
Junto com um companheiro.
Depois de voar bastante
Ao lado dum Carcará,
Mestre urubu alcançou
O sertão do Ceará.
Era outubro e São Francisco1
Estava a serviço lá.
A fim de não empalhar
O santo na romaria,
O banzeiro foi direto 
Lhe dizendo o que queria:
— Eu vim pedir permissão
Para fazer cantoria.2
9
Sem maior indagação,
São Francisco autorizou
E a dupla de carniceiros
Ao paraíso voltou.
Logo abriram inscrições;
Veja quem se habilitou:
Um zebuíno com fitas
Nos dois chifres, amarradas,
Empunhando uma viola 
Com sete cordas douradas
E no pescoço um rosário
De contas enfileiradas.
Carregando uma rabeca
E portando um certo cheiro
De ranço, cana e tabaco,
Um bode pai-de-chiqueiro
Berrou que também queria 
Cantar em tal pardieiro.
10
Após uma reprimenda,
Exigindo mais respeito,
O urubu inscreveu ambos, 
Tendo o primeiro sujeito
O nome de Boi Mansinho,3
Muito adequado ao seu jeito.
O outro, um tanto devasso,
Por Ioiô apresentado4
Foi logo escolhendo um banco,
No que o boi pôs-se ao seu lado
E foi puxando um baião,5
Tendo assim iniciado:6
Boi Mansinho — Eu sou o dito Mansinho,
Boi do meu Padrinho Ciço.7
Sou dócil que nem cordeiro,
Nunca causei rebuliço,
Não dou trabalho a vaqueiro
Nem sou rês de dar sumiço.
11
12
Bode Ioiô — Eu sou o Bode Ioiô,
Mais fino pai-de-chiqueiro.
Sou vadio, sou boêmio,
Mulherengo e cachaceiro.
Pelas ruas da cidade
Perambulo o dia inteiro.
BM — Pois vá logo me dizendo,
Bode, se tomou cachaça,
Pois pelejar com pinguço 
É coisa que não tem graça.
Cantador que canta bêbado,
Suja seu nome na praça.
BI — Se não tem o que dizer,
Não venha falar besteira.
Pois foi bebendo e fumando
Pela Praça do Ferreira
Que eu ganhei uma eleição8
De forma honesta e ordeira.
13
BM — Ganhou mas nunca assumiu,
Seu pleito foi debochado.
Quem sabe na Roma antiga,
Teria sido empossado.9
Mas aqui no Ceará
Bode fica pra guisado.
BI — Não acho conveniente
Vir falar em culinária,
Alguém que foi conduzido
Para a penitenciária,
Abatido em plena rua,
Sem licença sanitária.10
BM — Bode, você me respeite,
Se meu destino foi duro,
Jamais por vontade própria
Me meti num só apuro.
Mais vale sofrer martírio
Do que morrer imaturo.
14
BI — Falar em maturidade
Quem conviveu com fanáticos
Que torturam a si próprios
Durante ritos lunáticos?11
Com quem não tem coerência,
Não podemos ser simpáticos.
BM — Existe uma diferença
Entre fanatismo e fé.
Você que é ímpio, talvez,
Nunca saiba como é.
O credo no Rei dos Reis,
Em Jesus de Nazaré.
BI — Bem aquém do Nazareno
Está a crença dos seus.
Sabemos que um tal cavalo
Foi louvado como um deus.12
Quanto a ti, só falta o ouro
Do bezerro dos judeus.13
15
Nesta altura Boi Mansinho
Pelas ventas bufou quente.
Endireitou a viola,
Puxou o banco pra frente
E um galope à beira-mar14
Tirou de dentro da mente.
16
BM — Seu bode safado, metido, agourento,
Do mal-do-caroço, da unha mofada,
Agora você paga a língua afiada,
Segure a rabeca bicho fedorento.
Não sei se lhe sobra desconhecimento,
Mas essa mentira que está a falar
Foi no Caldeirão, que é outro lugar,
Pois onde eu morava era no Baixa Dantas.15
Seu verso é fornido de maldades tantas,
Nos dez de galope da beira do mar.
BI — Cante à beira-mar, martelo ou quadrão,
Que meu improviso faz o que é preciso;
Mergulha no inferno, sobe ao paraíso,
Derruba serrote, soterra grotão.
Se foi Baixa Dantas ou foi Caldeirão,
Não é nem preciso diferenciar,
O povo é o mesmo, só muda o lugar,
Todos seguidores do mesmo beato.
Com esse repente, mil bois eu abato,
Cantando galope na beira do mar.
17
BM — Com esse repente da lâmina cega,
Você não abate sequer um mocó.
Nessa barba velha, vou meter um nó,
Sua lira é curta, seu coice não pega.
Devemos respeito pra aquele que prega
O que o evangelho tem para ensinar.
Em todo o planeta não houve um lugar
Com outro cristão igual a Zé Lourenço.16
Respeite o beato, respeite o que penso
Nos dez de galope na beira do mar.
BI — Eu sei do beato, de onde ele veio,
É cria do padre que foi coronel,
Que no Juazeiro criou seu plantel
De ovelhas devotas que lhe foram meio
De vida, recurso. Viveu do alheio,
Pois tudo que tinha vieram lhe dar
Em troca de bênção, para se salvar,
Por causa do embuste do sangue sagrado.17
Assim o Padim construiu seu reinado,
Graças aos romeiros, na beira do mar.
18
BM — Então significa que os despossuídos
Que no Juazeiro encontraram amparo
Foram, na verdade, vítimas dum avaro
Que se aproveitava dos pobres falidos?
É prudente ler sobre os fatos vividos
Antes desta boca espumenta falar;
Foi o Padre Cícero que veio a fundar
Uma das maiores cidades do estado18
Com leais romeiros, fiéis ao seu lado,
Cantando galope na beira do mar.
BI — Deixe a minha boca mascando seu fumo
E nos detenhamos à nossa peleja.
Seus ídolos, ambos, a fé sertaneja
Premeram até derramar todo o sumo.
Pessoas humildes, sem bens e sem rumo
São presas facílimas de capturar,
Qualquer prosa besta lhes pode levar
A cometer crimes, serem exploradas.
Eu prefiro as gentes mais civilizadas,
Nos dez de galope na beira do mar.
19
BM — Os civilizados, o que cometeram
Em nome da ordem e do progressismo?
Levaram ao povo manso o cataclismo,
Lá no Caldeirão aldeões abateram.
Ataques aéreos até promoveram,
Sem velhos, crianças, mulheres poupar
E quando não tinham mais o que levar,
Deixaram as casas de taipa queimando.
O povo pacato viu tudo chorando
Nos dez de galope na beira do mar.
BI — O que comentou-se pela capital
É que a maioria era riograndense
E que, desta feita, em solo cearense,
Segunda Intentona haveria, afinal.19
Aliou-se o Estado à Força Nacional
Depois do capitão Bezerra expirar,20
Visando aos comunistas capturar,
Getúlio mandou o capitão Macêdo
Com três aviões, mil projéteis e medo,21
Nos dez de galope na beira do mar.21
BM — Se ser comunista é repartir o pão,
Amparar o próximo, banir o dinheiro,
Plantar para todos, rezar no cruzeiro,
Então eu não posso lhe dizer que não.
Porém, não aceito essa especulação
De dizer que a gente iria guerrear,
Se até no 14 para auxiliar
O Padrinho Ciço, não fomos à guerra,
Mandamos apenas o que dava a terra,22
Conforme o beato veio orientar.
BI — E quanto a um tal Severino Tavares,
Que com Zé Lourenço chegou a viver?
No meio da mata, logrou a fazer
Plano pra mandar a polícia pros ares.
Espalhou seus homens por vários lugares,
Com paus e com foices veio a lhes armar.
No instante em que percebeu se aproximar
Bezerra e a volante que vinha do Crato
Matou quatro deles, sem pena, no ato,
Fugindo em seguida, na beira do mar.
22
BM — O que motivou o cruento incidente
Que três camponeses também vitimou,
Foi a natureza má que cultivou
Capitão Bezerra entre o povo da gente.
Entretanto a Deus é que cabe, somente,
O poder da vida, de dar ou tirar.
Portanto quem matou, não deve matar,
Quem pecou decida por não pecar mais.
Isto vale aos homens, vale aos animais
Que como você, pecam na beira do mar.
BI — Pecado não tenho, pois nada declaro
De Deus, se ele existe, se é ou não é,
Pois não conhecendo, não faço banzé
E o que não se compra não pode ser caro.
Porém, quem tem fé, não é caso raro,
Vive a Deus clamando para o ajudar
Sem julgar se aquilo que está a rogar
É justo, importante, ou a outro não fere.
Portanto, acusar-me a si não confere
Nos dez de galope na beira do mar.
24
No calor quente da brasa.
A anta corria o pires
Do apurado da casa,
Mas vaca fechava a mão
E galo não dava a asa.
Então urubu falou:
— Façam o que é preciso!
Sem agrado não se canta
Nem se faz bom improviso.
Quem tiver dinheiro pague,
Só não pague quem for liso.
Nisto, ouviu-se na plateia
Um relincho, de repente.
Alguém fazia um pedido
Para a dupla concorrente,
Depositando no pires
Três pratas e uma corrente.
25
Das terras orientais23
Pediu para que cantassem
Pra todos os animais
Um mote decassilábico 24
De versos memoriais.
Numa oração que mistura
Verdade e mirabolância,
Os ruminantes cantaram
Em completa concordância.
Improvisando no mote
Partiu o boi sem ganância.
26
BM — Antes que eu fosse dado a meu padrinho,
Juazeiro cumpria sua sina:
“Cada casa um quintal, uma oficina”,
Instruía o padre a cada amiguinho.25
Nisto a vila virava um torvelinho
Com hóstias que sangravam sem parar.
Romeiros vinham de todo lugar,
Peregrinando àquele chão sagrado.
Tudo isso aconteceu num passado
Em que eu fui testemunha ocular.
BI — No período em que tudo arremedava,
Os franceses, num tosco galicismo,
Antecipando o próprio modernismo,
Um grupo cearense inaugurava
Uma agremiação que publicava
Trabalhos de inspiração popular,
Visando o “Pão do Espírito” fabricar
Sem adição de fermento importado.26
Tudo isso aconteceu num passado
Em que eu fui testemunha ocular.
27
BM — Meu “Padim Padre Ciço” recebeu
Belo dia (que ao certo eu ignoro)
A visita dum tal de Doutor Floro27
A quem rapidamente ele cedeu.
Depois disso muito se sucedeu:
Logo a vila vinha a se emancipar;
Houve guerra, não gosto de lembrar,
Sei que o Padre derrotou o Estado.
Tudo isso aconteceu num passado
Em que eu fui testemunha ocular.
28
BI — De manhã, comendo o pão matinal,
Antônio Sales teve uma visão:28
Criaria nova associação,
Seria a “Padaria Espiritual”.
Com estatuto feito para tal
E padeiros para o Pão amassar,
Jamais veio outro grupo a se igualar…
Fosse eu vivo seria associado!
Tudo isso aconteceu num passado
Em que eu fui testemunha ocular.
29
BM — Homens pobres produzindo e plantando,
No roçado, nas croas, nos currais,
Reproduzindo belos animais,
Conforme a pastagem ia brotando.
O povo, pra si próprio trabalhando,
Fez a aristocracia se zangar,
Pois mão de obra começou a faltar.
Por isso o Caldeirão foi massacrado.
Tudo isso aconteceu num passado
Em que eu fui testemunha ocular.
BI — Em apoio à sua aristocracia,
Abonando o massacre campesino,
Na capital cantou-se o mesmo hino
Em louvor à mais pura hipocrisia.29
Artes malignas duma burguesia
Que o próprio povo vive a desdenhar.
Canudos, Caldeirão, qualquer lugar30
Onde o pobre desponta é desmanchado.
Tudo isso aconteceu no passado,
Hoje ainda é comum de observar.
30
Ao final do último berro,
Ioiô secou a garganta.
Debaixo da sua barba
Vinha caminhando a anta.
Ele se abaixou e disse:
— Tem cana aqui pra quem canta?
Gargalhou bicho do mato,
Da cidade e da fazenda.
Urubu ficou zangado
E deu-lhe outra reprimenda.
Prosseguindo, ele pediu
Um quadrão por encomenda.31
32
BM — Nosso compadre urubu
BI — Que tem a canela branca,
BM — Mas nada tem com carranca,
BI — Essa só tem com zebu.
BM — O que dizer sobre tu?
BI — Sou um grande garanhão.
BM — No inferno, aqui mesmo não,
BI — Pois aqui tudo é pecado!
Isso é quadrão perguntado,
Isso é responder quadrão.
BI — Que passa no Juazeiro?
BM — Um lugar muito magnífico!
BI — Não esqueça o frigorífico.
BM — É do bode o paradeiro.
BI — Quem foi que morreu primeiro?
BM — Diga em qual situação.
BI — O bode ou o boi capão?
BM — Você ‘stá muito enganado!
Isso é quadrão perguntado,
Isso é responder quadrão.
33
BM — Sou um touro zebuíno.
BI — Porém, nem com cabra pode.
BM — Isso só se eu fosse um bode
BI — Sem barba e do chifre fino.
BM — Não passa de um libertino
BI — Só não banco o ermitão.
BM — Sempre fui um bom cristão
BI — Com um harém dedicado.
Isso é quadrão perguntado,
Isso é responder quadrão.
BI — Eu sou do tipo maltês
BM — Do malte que vem do uísque?
BI — Prefiro que não se arrisque
BM — Pra não perder o freguês.
BI — Eu pago no fim do mês
BM — Com juros e correção
BI — Alcatra, filé, coxão,
BM — E também rabo arrancado!32
Isso é quadrão perguntado,
Isso é responder quadrão.
34
BM — Tu já foste um engenheiro?
BI — Nunca gostei de serviço.
BM — Mas já me disseram isso.
BI — Conversa de presepeiro.
BM — E a história do seresteiro?
BI — De quando caí no chão?
BM — Quando escutou a canção…33
BI — Foi cauim mal fermentado.
Isso é quadrão perguntando,
Isso é responder quadrão.
35
BI — Que diz dessa cantoria?
BM — Digo que melhor não há.
BI — Só vindo do Ceará
BM — Dupla de tanta mestria.
BI — Canto com toda alegria
BM — Pra cobra, tatu, veado,
BI — Mas fique ressabiado
BM — Quando cantar pra Cancão.34
Isso é quadrão perguntado,
Isso é responder quadrão.
36
Neste instante um jabuti,
Que vinha mexendo a mão
Desde o início da peleja,
Arrancou um patacão
De dentro do casco velho
E juntou à apuração.
O bicho, bicentenário,
De notória experiência,
Pediu para os cantadores
Cantarem com eloquência
“Que me falta fazer mais”,
Decassílabo de ciência. 35
37
38
BM — Eu vivi lá no Sítio Baixa Dantas,
Dá saudade toda vida que penso
Em Don’Ana, beato Zé Lourenço,
Nos roçados, nos pomares, nas plantas.
Entre humildes homens, mulheres santas,
Fui criado à parte dos animais.
Para mim os cuidados eram tais
Porque era “o boi do Padrinho Ciço”.
Sendo assim, depois que fiz tudo isso,
O que é que me falta fazer mais?
Mas o que é que me falta fazer mais,
Se o que eu fiz até hoje ninguém faz?
39
BI — Eu cheguei em Fortaleza tangido
Pela seca do 15 com meu dono.
Percorri os caminhos do abandono,
Vi o êxodo do povo sofrido.
Ao chegar na capital fui vendido
A uma empresa de peles animais,36
Porém, como sou simpático demais,
Resolveram me ter como mascote.
Por isso canto com razão o mote:
O que é que me falta fazer mais?
Mas o que é que me falta fazer mais,
Se o que eu fiz até hoje ninguém faz?
40
BM — Apesar de ser um touro zebu,
No cabresto ia onde me levavam.
Junto ao pé do mourão nem me amarravam
E diziam “que boi mansinho és tu”.
Pra comer me davam manga, caju
E soltavam-me pelos milharais.
Dos meus chifres fizeram castiçais,
Pondo velas para rezar benditos.
Fui no mundo um dos touros mais bonitos,
O que é que me falta fazer mais?
Mas o que é que me falta fazer mais,
Se o que eu fiz até hoje ninguém faz?
41
BI — Todo dia terminava o serviço
E do Peixe proCentro eu me mandava.
Semelhante a ioiô, ia e voltava,
Nome e fama ganhei por causa disso.
Entre as gentes andava sem enguiço,
Vez em quando imitava os vendavais,
Alevantando as saias das vestais
Pra espiar o que debaixo existia.37
Isso tudo no meu tempo eu fazia,
O que é que me falta fazer mais?
Mas o que é que me falta fazer mais,
Se o que eu fiz até hoje ninguém faz?
42
BM — Ao “Padim” me deu Delmiro Gouveia,38
Por valioso animal reprodutor
Para aumentar do rebanho o valor,
O que logo despencou pela areia.
Inventaram uma conversa feia,
De que tinham dotes medicinais
Os rejeitos dos meus órgãos renais,
O que soube Floro Bartolomeu.
Ligeiro um magarefe me abateu
Não restando a mim nada fazer mais.
Mas o que é que me falta fazer mais,
Se o que eu fiz até hoje ninguém faz?
43
BI — Veja bem como funciona o destino:
Meu patrão na empresa também foi
Doutor Delmiro, ex-dono do Boi,
Visionário, homem de imenso tino. 39
Não fui morto, assim me quis o destino,
Eu caí pelos males figadais
E subi para as plagas divinais,
Mas, meu corpo, levaram pra empalhar.
No museu, quem quiser vai me encontrar,
O que é que me falta fazer mais?
Mas o que é que me falta fazer mais,
Se o que eu fiz até hoje ninguém faz?
44
Com refrão acompanhado
Pela plateia completa
Terminou mais um estilo
Que agrada ouvinte e poeta.
Logo veio informação
De quanto rendeu a meta.
Urubu e carcará,
Mais a anta calcularam
O quanto os bichos do céu
Aos cantadores doaram.
A soma foi tão diversa
Que todos se admiraram.
Entre os metais a presença
De grãos, açúcar e sal.
Patacas, vinténs e réis
Do Brasil colonial,
Dobrões, denários romanos
E moedas de 1 real.
45
Na verdade, não seria
De causar admiração,
Já que na plateia estavam
Bichos de toda nação.
Desde de antes da antiguidade
Até o tempo em questão.
Citemos alguns dos quais
Vivem em nossa memória:
Incitatus, Cacareco
E Tião tiveram glória40
Na política e por ela
Ingressaram na história.
O Rabicho da Geralda
Com a Vaca do Burel,
Corta-Chão e o Mandingueiro,
Corredores de tropel,
Rompe-Ferro, Ventania
E outros bichos do Cordel.41
47
Também estavam presentes
A serpente desgraçada,42
Que subiu até ali
Sem que ninguém visse nada.
De Balaão à jumenta
Que vivia na pancada.
Esses são suficientes
Para termos uma ideia
De quantos compareceram
Para ver tal epopeia:
No céu dos bichos jamais
Reuniu-se igual plateia.
Então, pra finalizar
Afamada cantoria,
Os ruminantes cantaram
Versos em apologia
A si próprios, exaltando
Sua própria maestria.
48
BI — Sou repentista de feira,
Meu improviso é ligeiro.
Cantador que diz besteira
Comigo vai pro bueiro.
Tenho meu ranço apurado,
Se topo com um coitado
Tenho pena do revés.
É treze com doze, é onze com dez,
É nove com oito, é sete com seis,
É cinco com quatro,
Mais um, mais dois e mais três.
Com o freio da rabeca
Vou mostrar como se breca
O cantador de vocês.43
49
50
BM — Sete cordas de viola44
São correntes inquebráveis
Pra prender bode gabola,
Repentistas descartáveis.
Abuse da mansidão,
Porém, tema meu bordão
De treze mil cascavéis.
É treze com doze, é onze com dez,
É nove com oito, é sete com seis,
É cinco com quatro,
Mais um, mais dois e mais três.
No veneno do meu pinho,
Mato igual um passarinho
O cantador de vocês.
51
BI — Quando eu canto o povo vibra,
A plateia colabora.
Recebo em real, em libra,
Cem, duzentos, noves fora.
O povo fica contente,
Valorizando o repente
E também os menestréis.
É treze com doze, é onze com dez,
É nove com oito, é sete com seis,
É cinco com quatro,
Mais um, mais dois e mais três.
Eu vou dar, por piedade,
A metade da metade
Pro cantador de vocês.
BM — Eu sou um touro cristão,
Seguidor do evangelho,
Sempre partilhei o pão
Com adulto, novo e velho.
A toda essa bicharia
Cantamos com alegria,
Cumprimos nossos papéis.
É treze com doze, é onze com dez,
É nove com oito, é sete com seis,
É cinco com quatro,
Mais um, mais dois e mais três.
Ele pode é ser ateu,
Porém, cantou como eu,
O cantador de vocês.
53
À última estrofe do Boi,
O Bode não deu rebate.
Ficava assim evidente
Que terminava em empate.
Ambos receberam louros
Naquele poético embate.
A partilha do apurado
Se deu em três partes, veja:
Um terço ficou pro Boi,
Um pro Bode, um pra Igreja
De São Francisco das Chagas,
Que permitiu a peleja.
Escrevi tal pergaminho,
Mesclando fatos vividos
A outros não ocorridos
Com Ioiô e com Mansinho,
Espécimes da memória
Do Ceará, terra de história,
Onde eu trilho meu caminho.
NOTAS EXPLICATIVAS, HISTÓRICAS E LITERÁRIAS
1. A romaria de São Francisco das Chagas é uma das
maiores do Brasil e ocorre, anualmente, no município
cearense de Canindé, geralmente, no mês de outubro,
quando são realizadas as novenas em devoção ao santo.
Os pontos mais visitados são a estátua e a basílica
de São Francisco. Ela reúne, anualmente, milhares de
fiéis oriundos de diversas regiões do país, que seguem
à cidade em comboios de carros, motos, caminhões, 
por meio de cavalgadas e, até mesmo, a pé. Longe
de se restringir ao seu aspecto religioso, as festas de
São Francisco são um evento que vem promovendo a
cultura popular há décadas, fomentando, dentre outras
modalidades, a cantoria e o cordel e servindo de ponto
de partida a artistas canindeenses e cearenses.
2. As cantorias ou pelejas são disputas realizadas
entre repentistas, poetas improvisadores de versos, 
que geralmente se acompanham de violas. Embora a
rabeca tenha sido também utilizada, atualmente, caiu
em desuso. Caracterizam-se por desafios nos quais
um deles formula uma estrofe improvisada e o outro
responde, também em improviso. As formas poéticas
utilizadas são extremamente variadas, diferenciadas
55
entre si pelo número de versos, estrutura de rimas
e bordões, nas quais diversos temas e intenções são
explorados: atualidades, costumes, geografia, política,
escárnio, apologia etc. Têm origem ibérica e africana e se
desenvolveram no Nordeste brasileiro.
3. Boi Mansinho foi um touro zebuíno de propriedade
do Padre Cícero Romão Batista. Extremamente dócil, foi
presente do industrial Delmiro Gouveia ao sacerdote,
sendo dado, em seguida, ao beato José Lourenço para ser
criado no Sítio Baixa Dantas como reprodutor bovino.
Devido à sua origem e temperamento, era adornado,
banhado e alimentado de forma diferenciada pelos
moradores do sítio, com destaque a popular conhecida
por “Don’Ana”.
4. Bode Ioiô foi assim batizado por “subir e descer” todos
os dias da Praia do Peixe (atual Praia de Iracema), onde
vivia, ao Centro da capital cearense. O caprino emigrou
para Fortaleza com um grupo de retirantes que fugia
da terrível seca de 1915. Ele popularizou-se pela sua
sociabilidade e conquistou a simpatia dos fortalezenses, 
garantindo livre trânsito pelas ruas da cidade. Tomador
de cachaça e apreciador de charutos, vivia em meio à
boemia, nos bares e serenatas de então.
56
5. Os acompanhamentos de viola entoados durante os
repentes são chamados de “baiões de viola” e seguem
o que é definido em notação musical por “compasso
binário”. Dizem os repentistas que ele é essencial ao
“tempero” da mente durante os desafios.
6. A peleja entre os dois animais inicia com uma
apresentação na forma de sextilha, construção poética,
extremamente, popular no cordel, que consta de uma
estrofe formada por seis versos de sete sílabas poéticas
(heptassilábicos), rimados somente entre os versos pares, 
ou seja, segundo, quarto e sexto. A notação que indica as
rimas da sextilha é ABCBDB.
7. Padre Cícero Romão Batista foi um sacerdote católico
que nasceu no município cearense do Crato, em 1844,
e faleceu na cidade que ajudou a fundar, Juazeiro do
Norte, no ano de 1934. Ordenado padre no Seminário
da Prainha, escola religiosa que formou outros grandes
nomes da história do Ceará, no natal de 1871 recebeu a
incumbência de celebrar uma Missa do Galo no povoado
de Juazeiro, localidade então pertencente ao município
do Crato. Já no ano seguinte, em decorrência da sua
imediata identificação com o povo do lugar, muda-se
para lá em definitivo, sobre o que alegaria, maistarde,
57
ter recebido em sonho esta missão do próprio Jesus
Cristo. Com a força dos seus sermões e um carisma
inigualável, conforme intervinha junto aos populares sua
fama se espalhava e, ajudado pelas notícias dos supostos
milagres da hóstia, a pequena localidade passaria a
receber gente dos arredores e além, resultando no
ajuntamento de pessoas que, trinta e dois anos depois, 
constituiriam o município de Juazeiro do Norte.
8. Bode Ioiô era tão popular, entre os alencarinos, que
chegou a ser o nome mais votado para vereador nas
eleições municipais de Fortaleza, em 1922.
9. Conta-se que o imperador romano Caio Calígula, que
reinou entre os anos 37 e 41 d.C., teria nomeado seu
cavalo preferido, Incitatus, como senador do império.
10. Boi Mansinho viveu na primeira comunidade religiosa
liderada pelo beato José Lourenço, no Sítio Baixa Dantas, 
pedaço de terra arrendada, habitada e cultivada por
sertanejos que viviam em regime comunitário. Em
decorrência de conflito de interesses, uma vez que o
lugar prosperou e arrebanhou populares que passavam
a viver dignamente com os frutos do próprio trabalho,
a aristocracia e igreja locais começaram a espalhar
58
boatos que logo alcançariam a capital cearense, de que lá
havia práticas fanáticas de adoração ao Boi, como uma
entidade sagrada, uma vez que era propriedade do Padre
Cícero. Dizia-se até que ali se bebia a urina do animal
como panaceia a todo e qualquer mal. Floro Bartolomeu,
braço político do padre, a fim de mostrar provas de
civilidade, em 1912, mandou prender o beato e ordenou
que trouxessem o boi para ser sacrificado em frente à
penitenciária de Juazeiro, no que encaminhou os cortes
do animal abatido para serem vendidos no açougue.
Conta-se, ainda, que por dias a carne do Mansinho foi
ofertada como única refeição ao beato que, embora
sentisse fome, negou-se a comê-la.
11. Comunidades messiânicas como a do Caldeirão 
da Santa Cruz do Deserto, a de Canudos, a de Pau de
Colher etc., foram constituídas por pessoas simples que
se uniram ao redor de lideranças religiosas como os
beatos José Lourenço e Antônio Conselheiro. Nelas, todos
trabalhavam para o sustento comum e professavam
sua fé de forma independente, sem a interferência da
igreja oficial. Dessa forma, se por um lado surgiu a
possibilidade de práticas extremas como a penitência,
onde o fiel se automutilava a fim de obter a purificação
dos pecados, por outro incomodava o clero e a sociedade
59
locais, que perdiam o controle religioso, social e
econômico sobre tais indivíduos. São esses credos e
ritos que caracterizam o que é chamado por muitos de
“catolicismo sertanejo”.
12. Na época em que existiram as comunidades lideradas
pelo beato José Lourenço foram vítimas de muitos
boatos em que eram feitas acusações de fanatismo. Além
do próprio Boi Mansinho, chegaram a circular boatos de
que um cavalo estava sendo idolatrado, inclusive, dizia-
se que raspas de seus cascos estavam sendo utilizadas no
preparo de chás milagrosos.
13. O bezerro de ouro foi um ídolo criado por Aarão para
o povo hebreu durante o período em que Moisés subiu o
Monte Sinai para receber as tábuas da lei mosaica. É tido
como símbolo da idolatria a um falso deus.
14. O “galope à beira-mar” é um estilo de cantoria
caracterizado por estrofes de dez versos hendecassílabos 
(de onze sílabas poéticas) cujas rimas dos versos sexto,
sétimo e décimo terminam com a sílaba tônica “ar”, com 
o objetivo de rimar com o bordão, geralmente, “Nos 
dez de galope na beira do mar”. A estrutura de rima das
estrofes é ABBAACCDDC. Aqui o Boi deixa a sextilha a 
60
fim de vencer o Bode num estilo mais complexo e já
inicia em escárnio, vingando-se das acusações que ele 
lhe fez de fanatismo.
15. A comunidade do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto
foi o segundo grupo messiânico liderado pelo beato José
Lourenço. Ela existiu entre os anos de 1926 e 1937 e foi
fundada logo após a experiência do Sítio Baixa Dantas.
Sua história foi extremamente dramática, pois em
decorrência da morte do Padre Cícero, em 1934, passou
a ser alvo duma desconstrução moral feita pela imprensa
cearense que culminou na invasão de 11 de setembro
de 1936, quando as casas do arraial foram queimadas, 
populares foram presos e violentados, e no subsequente
massacre. O Caldeirão foi reiteradamente comparado a
Canudos, como forma de justificar sua periculosidade e
os meios pelos quais deveria ser desfeito.
16. José Lourenço Gomes da Silva foi um paraibano
nascido em Pilões de Dentro, no ano de 1872. Homem 
de alta estatura, pele escura, muito carismático e sempre 
bem falado por todos que relatam tê-lo conhecido. Foi 
arrendatário do pedaço de terra do Sítio Baixa Dantas, 
no Crato, onde, sob proteção do amigo Padre Cícero,
fundou sua primeira comunidade, de onde, 35 anos
61
depois, seguiu com seus adeptos a uma localidade mais 
afastada onde fundaria a comunidade do Caldeirão da 
Santa Cruz do Deserto.
17. O fenômeno conhecido por “Milagre da Hóstia”
ocorreu pela primeira vez em Juazeiro, no ano de 1889.
Durante as missas celebradas por Padre Cícero, no ato
da comunhão, a hóstia que o sacerdote oferecia à beata
Maria de Araújo se transformava em sangue. O fato foi
motivo de grande alarido na região e em todo o estado
do Ceará, resultando em duas expedições investigativas
enviadas pela arquidiocese de Fortaleza e culminou na
ida do próprio padre ao Vaticano. O suposto milagre
teve consequências distintas para Cícero: rendeu sua
excomunhão da Igreja Católica, porém, foi responsável
pelas levas de peregrinos que passaram a viajar a
Juazeiro, muitos dos quais lá ficaram e ajudaram a
formar o núcleo populacional da cidade. Desde então
fundou-se a tradição romeira que perdura até hoje e
chega a levar mais de dois milhões de fiéis por ano à
“cidade sagrada”.
18. Com quase 270 mil habitantes, Juazeiro do Norte é a
terceira maior cidade do Estado do Ceará, ficando atrás
somente da capital e do município de Caucaia, da Região
Metropolitana de Fortaleza.
62
19. A Revolução Comunista de 1935, pejorativamente
classificada como “intentona” pelos opositores de então,
foi um levante popular que ocorreu nos estados do Rio
Grande do Norte, Pernambuco e Rio de Janeiro durante o
governo de Getúlio Vargas. Tinha por objetivo a tomada
do poder e respectiva instauração de um governo
popular, além da nacionalização de empresas, realização
da reforma agrária e outras medidas de cunho socialista.
Os militares potiguares foram os primeiros a se mobilizar
e no 21º Batalhão de Caçadores a sublevação durou de
23 a 27 de novembro daquele ano, quando instauraram
o Comitê Popular Revolucionário. Como muitos rio-
grandenses-do-norte haviam emigrado para o Caldeirão
na esperança da vida comunitária e livre, com a morte do
Padre Cícero, em 1934, o boato de que os camponeses de 
lá planejavam um novo levante revolucionário comunista
foi utilizado para justificar a invasão e a consequente
destruição do povoado.
20. José Gonçalves Bezerra foi o militar responsável
pela primeira expedição oficial ao Caldeirão. Disfarçado
de negociante e acompanhado de um civil, seguiu a
comunidade, em 1936, com a intenção de investigar se
os camponeses estavam se armando para um levante
e, apesar de evidência alguma de armamentos ter sido
63
encontrada, retornou, em seguida, com uma força
volante de 150 homens que realizaram a desocupação
do arraial, seguida de saque e incêndio das habitações.
Nesse ato, como o beato José Lourenço havia fugido, os
militares torturaram pessoas em busca de informações
sobre seu paradeiro e mataram seu estimado cavalo,
o Trancelim. Essas atitudes extremamente violentas
marcaram o povo do lugar que após a invasão passou
a viver pelas matas dos arredores, sendo uma parte
com o beato e outra sob liderança de Severino Tavares, 
membro influente da comunidade recém-desfeita, cujo
grupo, favorável à luta armada, planejou e realizou uma
emboscada para matar o Capitão Bezerra, que sucumbiu
juntamente com um filho, o sargento Anacleto, e mais
dois homens que compunham a volante.21. Ainda em 1937, o ministro da guerra do presidente
Getúlio Vargas e futuro presidente do Brasil, Eurico
Gaspar Dutra, autorizou um ataque aéreo ao Caldeirão e
arredores, que foi comandado pelo capitão aviador José
Macedo. Três aviões sobrevoaram e bombardearam o
lugar e, em seguida, uma expedição por terra perseguiu
e matou os remanescentes. Assim, sem resistência nem
possibilidade de fugir, mais de 400 pessoas foram mortas
num massacre sem precedentes na história do país. Os
64
familiares das vítimas jamais puderam sepultar seus
mortos, pois as forças oficiais enterraram os corpos em
vala comum que jamais foi encontrada.
22. Em 1914, Padre Cícero, Floro Bartolomeu, José
Marrocos, Padre Alencar Peixoto e outras autoridades
locais encabeçaram a chamada “Sedição de Juazeiro”,
movimento político que abalou o solo cearense e 
resultou na emancipação e fundação do município de
Juazeiro do Norte, então território ligado ao Crato. A 
partir de um sério confronto com forças oficiais que
sitiaram a cidade, um exército formado por sertanejos
fiéis à figura do Padre Cícero saiu vitorioso e marchou
até a capital cearense, depondo o então governador 
Franco Rabelo e restituindo o poder ao oligarca
Nogueira Acioly, político ligado aos coronéis do interior
do estado. Nesse episódio,o beato José Lourenço, 
pacifista, contrário a qualquer tipo de violência, 
negou-se a enviar homens ao combate, restringindo-
se a fornecer alimentos produzidos na comunidade
para a cidade sitiada. Mais tarde, após a invasão do 
Caldeirão, também foi contrário a Severino Tavares, que
arregimentou parte dos remanescentes do arraial para
o confronto com as forças oficiais.
65
23. Referência à jumenta de Balaão, animal falante que
aparece no Livro dos Números, do Velho Testamento.
Mais à frente, no poema, a personagem é referida
diretamente.
24. Mote é um estribilho, bordão ou tema sugerido pela
plateia durante as cantorias. Neste caso, o mote foram os
populares versos “Tudo isso aconteceu num passado / Em
que eu fui testemunha ocular”, cujo tema foi cantado em
martelo agalopado, que é uma construção composta por
dez versos decassilábicos (de dez sílabas poéticas) com
estrutura de rimas ABBAACCDDC.
25. O carisma que tinha Padre Cícero para com seus fiéis 
- a quem chamava de “amiguinhos” - foi responsável pelo 
incrível ajuntamento de gente ao seu redor. Miseráveis,
jagunços, pequenos negociantes, pessoas de fé, muitos,
recém-convertidos ao “catolicismo sertanejo” do padre,
eram alvo dos sermões de palavras simples e objetivas que 
ele formulava. Enquanto alguns buscavam a proteção do
“Padim”, como era carinhosamente chamado, outros viam 
a possibilidade de prosperar juntamente com o vertiginoso
crescimento de Juazeiro. “Quem roubou, não roube mais”,
“quem matou, não mate mais”, “cada quintal, uma oficina” 
são exemplos das palavras que o padre dirigia às multidões.
66
26. Na virada do século XIX ao XX, um grupo de artistas
e intelectuais cearenses fundou um dos movimentos
artísticos-literários mais importantes do Brasil: a
Padaria Espiritual. Com trinta anos de antecipação à
Semana de Arte Moderna, ocorrida em São Paulo em
1922, o movimento que primava por temas nacionais
e populares, tecia fortes críticas sociais e se opunha
vigorosamente ao estrangeirismo vigente, caracterizado,
principalmente, pela adoção de valores franceses. Seu
estatuto, que conta com 48 itens, evidencia o caráter
irreverente e genial da agremiação, que era constituída
por um “padeiro-mor”, padeiros, forneiros e amassadores, 
que editaram entre os anos de 1891 e 1896 o jornal
literário “O pão”, periódico que viria a lançar grandes
nomes da literatura cearense e nacional como Antônio
Sales, Rodolfo Teófilo, Juvenal Galeno e Adolfo Caminha.
Entre os itens mais interessantes do estatuto estão
as determinações que proíbem o uso de palavras
estrangeiras e a menção a animais não nativos nas obras
dos associados, e o seu “artigo 26”, que define como
“inimigos naturais dos padeiros – o clero, os alfaiates e a
polícia”. Ainda hoje a Padaria Espiritual inspira gerações
de leitores e escritores por todo o país.
67
27. Floro Bartolomeu foi um médico baiano nascido
em 1876. Chegou a Juazeiro motivado por notícias a
respeito da mina de cobre do Coxá, que ficava em terras
de propriedade do Padre Cícero. Tornou-se rapidamente
amigo do padre e virou seu braço direito em questões
políticas, tendo liderado as tropas juazeirenses durante
os eventos que culminaram na Sedição de Juazeiro.
Deputado federal, foi responsável pela convocação de
Lampião e seu bando à presença de Padre Cícero, a fim
de lhe dar patente de capitão e armá-lo para combater a
Coluna Prestes em passagem pela região.
28. Antônio Sales nasceu em Paracuru, Ceará, no ano
de 1868. Foi romancista e poeta, além de político. Certa
feita, durante o café da manhã, teve a visão que resultou
na ideia de criar a Padaria Espiritual: ao pão que alimenta
o corpo deveria corresponder um que alimentasse a
alma, porém, não aquele ofertado pelas religiões, mas um
alimento literário, crítico, de inspiração irreverente
e original.
29. Durante as agitadas décadas de 1910, 20 e 30, 
as notícias e boatos que corriam o Ceará e o Brasil
destratando a comunidade do Caldeirão, tiveram em
Fortaleza ampla receptividade. As diferenças que havia
68
entre a capital e o interior do estado se encontravam
potencializadas desde a deposição do então governador
Franco Rabelo pelas tropas de Floro Bartolomeu. A
população alencarina, que era massivamente contrária ao
oligarca Nogueira Acioly, considerava os interioranos do
sul do estado como fanáticos retrógrados e ignorantes.
30. Canudos foi a maior comunidade messiânica da
história nacional. Localizava-se no sertão da Bahia,
às margens do Rio Vaza-Barris, e em seu auge contou
com mais de 25 mil pessoas. Seu líder, o cearense
Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido por Antônio
Conselheiro, resistiu gloriosamente a três combates
contra as forças legais da república, motivadas, como
de costume, por interesses oligarcas e elitistas, sendo
derrotado apenas no quarto embate, que resultou no
massacre de cerca de 20 mil sertanejos e na morte
do próprio Conselheiro. O episódio, ocorrido entre
os anos de 1896 e 1897, inspirou uma das maiores
obras literárias do Brasil: “Os sertões”, de Euclides da
Cunha, que foi correspondente de imprensa durante as
campanhas militares no arraial.
31. O “quadrão perguntado” é um estilo poético do
repente formado por perguntas e respostas alternadas
69
entre os dois cantadores, num total de oito versos
heptassilábicos (de sete sílabas poéticas), de forma que
ao final ambos cantam juntos o refrão “Isso é quadrão
perguntado / Isso é responder quadrão”. Sua estrutura de
rimas pode ser AABBAACCDDC ou ABBAACCDCD.
32. Bode Ioiô foi encontrado morto nas ruas da cidade
no ano de 1931. Devido à sua popularidade passou de
mascote urbano a símbolo da irreverência cearense,
o que resultou em seu empalhamento e consequente
inclusão no acervo do Museu do Ceará, quando, no ano
de 1996, teve o rabo arrancado por algum visitante
irresponsável. Mesmo morto o bode continuou a ser
motivo de anedotas e duas versões para sua morte
surgiram: uma delas dizia que ele havia morrido de
cirrose hepática, devido ao abuso de bebidas, e outra
afirmava que teria sido vítima de crime passional, tendo
sido morto por algum marido enciumado cuja esposa
havia lhe traído com ele!
33. Um dos episódios mais curiosos ocorridos com o
Bode Ioiô trata da suposta reencarnação da alma do
engenheiro Paulo de Castro Laranjeira em seu corpo
caprino. Conta-se que o homem sofria de uma paixão
não correspondida por uma bela moça da sociedade
70
fortalezense e em uma determinada noite do ano de
1897, com o peito dilacerado de amor, durante uma
serenata em que cantava a modinha “Teu desprezo”
diante da janela, da musa, ele tirara a própria vida,
incidente que ficou marcado na história de Fortaleza.
Anos depois, diz-se que vinha Ioiô caminhando pelas
ruas e ao se aproximar dum grupo de boêmiosque
cantarolava a tal modinha, o bicho caiu em crise
epilética. Os seresteiros pararam para acudi-lo e,
restabelecido o bode, quando tornaram a cantar a
música, o animal sofreu nova crise convulsiva. Pronto, foi
o suficiente para que Ioiô ficasse associado à figura do
engenheiro Laranjeira para sempre.
34. Cancão de Fogo é um dos personagens mais
tradicionais da literatura de cordel brasileira. Trata-se
de um “amarelinho”, espécie de sabichão que apesar
de parecer bobo, sempre passa a perna nas pessoas, a
exemplo de João Grilo, Pedro Malasartes e outros.
35. A modalidade “que me falta fazer mais” é um estilo
de repente cantado com melodia, composto por martelos
improvisados e alternados pelos pelejadores, intercalados
pelo refrão de onze sílabas poéticas “Mas o que é que me 
falta fazer mais, / Se o que eu fiz até hoje ninguém faz?”, 
71
cantado em conjunto entre cada estrofe. Geralmente trata
de fatos inventados, mirabolantes, que os poetas dizem
ter feito para tirar vantagem dos parceiros de cantoria.
36. Ao chegar a Fortaleza, fugindo da famosa seca
do 15, Bode Ioiô foi comprado pela filial da empresa
britânica Rossbach Brazil Company, uma indústria de
exportação de peles de animais. Não se sabe ao certo
se ele seria abatido para fornecer couro, mas o fato é
que Ioiô acabou se tornando a mascote da empresa,
ficando responsável por “limpar” o terreno da instalação,
comendo o mato e as gramíneas excedentes.
37. Durante suas andanças pelo centro de Fortaleza, Ioiô
era acusado de levantar com os chifres as saias de moças
que por ali passavam.
38. Delmiro Gouveia nasceu no município do Ipu, Ceará,
e foi um dos pioneiros da indústria brasileira. À margem
do Rio São Francisco ele construiu a primeira hidrelétrica
do Nordeste, segunda do país. Foi um grande fabricante
de linhas, inclusive, chegando a desbancar a famosa
marca escocesa, “Corrente”. Presenteou Padre Cícero com
o Boi Mansinho por volta do ano 1900. Foi morto em
1917 sob suspeita de assassinato encomendado pelos 
seus concorrentes.
72
39. O elo que entrecruza o destino dos animais
repentistas nesta fantástica peleja é Delmiro Gouveia,
aqui chamado de “patrão” por Ioiô, uma vez que foi
representante no Brasil da empresa que o comprou da
família de retirantes, e presenteou o amigo Padre Cícero
o touro reprodutor zebuíno, Boi Mansinho.
40. O rinoceronte Cacareco e o macaco Tião foram
animais de zoológico que, assim como ocorreu com
o Bode Ioiô, tiveram massiva votação de protesto em
eleições de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente.
Cacareco, um rinoceronte fêmea, foi eleito vereador em
1959 com a soma de cerca de 100 mil votos, enquanto
Tião foi o terceiro mais votado para prefeito em 1988,
totalizando cerca de 400 mil votos, o que só foi possível
porque na época de tais eleições, o voto era feito em
cédula de papel onde o eleitor escrevia a caneta.
41. Nesta passagem são mencionados bichos que
figuraram em poemas da tradição oral e do cordel de 
épocas diversas: Rabicho da Geralda foi um boi bravio,
barbatão, que consta em resgate feito pelo escritor José de
Alencar no século XIX e é considerado precursor do tema
de gestas de gado do cordel; Vaca do Burel protagoniza
outra coleta popular feita pelo folclorista pernambucano 
73
Sílvio Romero; Corta-Chão é o touro brabo do romance
de cordel “A gesta do touro Corta-Chão”, de Eduardo
Macedo; Mandingueiro é a estrela do clássico cordel de 
Luiz da Costa Pinheiro, “O boi mandingueiro e o cavalo
misterioso”; e Rompe-Ferro e Ventania são dois cachorros
presentes no clássico “Juvenal e o dragão”, daquele que é
considerado o pai do cordel brasileiro, o poeta paraibano 
Leandro Gomes de Barros.
42. Referência à serpente bíblica que, em dupla com a 
jumenta de Balaão, são os únicos dois animais falantes
que aparecem no livro sagrado do cristianismo. Se 
no Velho Testamento, que tem origem hebraica, o
réptil aparece como símbolo da sabedoria, no Novo
Testamento ele é transformado no diabo, opositor de
Deus e da sua criação.
43. “O cantador de vocês” é um estilo composto por dez
versos heptassilábicos improvisados, onde se canta o
seguinte refrão entre os versos sexto e sétimo: “É treze
com doze, é onze com dez, / É nove com oito, é sete com
seis, / É cinco com quatro, / Mais um, mais dois e mais
três”. A modalidade é derivada da embolada e tem como
motivo o deboche ou valorização de um poeta pelo outro.
Nesse caso, apesar de começarem em tom de “arenga”,
74
Ioiô e Mansinho terminam elogiando um ao outro a fim
de encerrar o espetáculo de forma amistosa e honrosa.
44. O encordoamento da viola nordestina utilizada pelos
cantadores repentistas tem um total de sete cordas, 
afinadas conforme a afinação padrão do violão (E-B-
G-D-A-E), porém, com diferenças: embora os calibres
das cordas variem, as primeiras quatro - de “mi” a “ré”
- seguem o violão, enquanto as três últimas cordas são
afinadas todas em uníssono, em tom “lá”, para serem
tocadas juntas.
75
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
RAMOS, Francisco Régis Lopes. O massacre do Caldeirão:
história oral do 11 de setembro de 1936. Fortaleza:
Expressão Gráfica, 2016.
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repentistas em São Paulo. São Paulo: Ibrasa, 1996.
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2ª edição. São Paulo: Martin Claret, 2013.
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76
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Disponível em <http://www.cearaagora.com.br/site/lista-
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CAPITÃO ZÉ BEZERRA E A TRAGÉDIA DO CALDEIRÃO. 
Disponível em <http://cariricangaco.blogspot.com.
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Acesso em 26/10/2017.
BODE IOIÔ, ILUSTRE RETIRANTE DA SECA DE 1915,
COMPLETA UM SÉCULO DA CHEGADA A FORTALEZA.
Disponível em <http://tribunadoceara.uol.com.br/
noticias/perfil-2/bode-ioio-ilustre-retirante-da-seca-de-
1915-completa-um-seculo-da-chegada-a-fortaleza/>
Acesso em 27/10/2017.
NO DIA EM QUE O BODE IOIÔ VIROU GENTE. Disponível
em <http://calamus-scribae.blogspot.com.br/2012/05/no-
dia-em-que-o-bode-ioio-virou-gente.html> Acesso em
27/10/2017.
TARCÍSIO HOLANDA. O massacre do Caldeirão. Jornal do 
Brasil, 01/02/1981, Caderno Especial, página 2.
Eduardo Azevedo
Nasci e moro em Fortaleza. Sou graduado em
Geografi a pela Universidade Estadual do Ceará.
Sou professor da rede municipal de ensino 
de Fortaleza, como também sou ilustrador de
livros por vocação. Comecei minha carreira
artística no início dos anos 2000, desenhando
capas de folhetos de literatura de cordel para
a editora Tupynanquim, onde ilustrei meus
primeiros livros. Mas foi em 2006 que decidi me
tornar ilustrador profi ssional quando ilustrei
os livros de literatura infantil “A Branca de 
Neve em Cordel” e o “Sapo com medo d’água”.
Fui vencedor do Prêmio Luís Sá na categoria
Quadrinhos do Edital da SECULT de 2011, com
a obra “A Batalha de Oliveiros com Ferrabrás”,
também pela Tupynanquim editora. Coordenei 
o 3º Festival de Ilustração de Fortaleza que
ocorreu durante a XII edição da Bienal
Internacional do Livro do Ceará. Participo,
ainda, das coleções do Paic, Prosa e Poesia
desde o começo.
Eduardo Macedo
Saudações! Meu nome é Eduardo Macedo. Sou
poeta, xilógrafo e compositor cearense. Apesar 
de ter nascido na capital, costumo cantar e 
entalhar o sertão que carrego na alma. Sou fi lho
de pais interioranos, cada um de um extremo 
oposto do estado, o que acabou me rendendo um 
pé na Chapada do Araripe e outro na Serra do
Arapari. Já publiquei diversos títulos em cordel e,
sempreque escrevo, cuido de valorizar a cultura 
e a memória brasileiras, nordestinas e do Ceará,
pois assumi, desde sempre, um compromisso
com a minha própria história e com o meu 
próprio povo.

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