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DIREITO DAS SUCESSÕES SUCESSÃO LEGÍTIMA - COLATERAL O Colateral na Sucessão A última classe de herdeiros legítimos na ordem de vocação hereditária, é a classe dos colaterais, consoante art. 1.829, IV do CC: Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: (...) IV - ao colateral. Isto significa que os colaterais apenas serão chamados à sucessão, na ausência de herdeiros das demais classes (descendentes, ascendentes e cônjuge/companheiro). Ademais, somente são convocados os colaterais até o 4º grau: Art. 1.839. Se não houver cônjuge sobrevivente, nas condições estabelecidas no art. 1.830, serão chamados a suceder os colaterais até o quarto grau. Regra da Proximidade e Direito de Representação na linha colateral Na linha colateral, também se aplica a regra da proximidade, segundo a qual os mais próximos excluem os mais remotos. E quanto ao direito de representação na linha colateral, ele se restringe aos filhos dos irmãos, ou seja, aos sobrinhos. Art. 1.840. Na classe dos colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos, salvo o direito de representação concedido aos filhos de irmãos. Neste diapasão, temos a lição de Flávio Tartuce (2020, p. 1.451): os irmãos (colaterais de segundo grau) excluem os sobrinhos e tios (colaterais de terceiro grau). Ainda ilustrando, os sobrinhos e tios (colaterais de terceiro grau) excluem os primos, sobrinhos-netos e tios-avós (colaterais de quarto grau). Porém, conforme se verá, se o falecido deixou um irmão e um sobrinho, filho de outro irmão pré-morto, o último terá direito sucessório junto ao irmão do falecido vivo, por força do direito de representação. Colaterais de 2º Grau: Irmãos Bilaterais e Unilaterais A lei estabelece diferentes critérios de divisão da herança entre os colaterais, conforme se trate de sucessão de irmãos bilaterais e unilaterais. Irmãos bilaterais são aqueles que tem mesmo pai e mesma mãe. Já os irmãos unilaterais são irmãos apenas por parte de pai, ou por parte de mãe (“meio-irmão”). Se os irmãos unilaterais tiverem o mesmo pai, serão irmãos unilaterais consanguíneos, e se forem irmãos por parte de mãe, serão irmãos unilaterais uterinos. Se os irmãos bilaterais estiverem concorrendo com unilaterais, ou seja, numa mesma sucessão, concorrem irmãos de mesmo pai e mãe, com irmãos apenas por parte de mãe ou pai, a divisão da herança será feita de forma diferenciada entre eles: Art. 1.841. Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada um destes herdará metade do que cada um daqueles herdar. 1ª situação: Concorrendo quatro irmãos, sendo dois unilaterais (I1 e I2) e os outros dois Bilaterais (I3 e I4). Os irmãos bilaterais deverão receber o dobro do que receberem os unilaterais. Atribuir para cada irmão bilateral o número 2, e a cada unilateral o número 1 (já que 2 é o dobro de 1). Assim sendo, teríamos I1 = 1 I2 = 1 I3 = 2 I4 = 2 Total = 1 + 1 + 2 + 2 = 6 Montar as frações: I1 = 1/6 I2 = 1/6 I3 = 2/6 I4 = 2/6 Sendo a herança total de R$ 600.000,00, cada irmão unilateral receberia R$ 100.000,00 (equivalente a 1/6); e cada irmão bilateral receberia o dobro, a saber, R$ 200.000,00 (equivalente a 2/6). Ou seja: I1 = 1/6 = R$ 100.000,00 I2 = 1/6 = R$ 100.000,00 I3 = 2/6 = R$ 200.000,00 I4 = 2/6 = R$ 200.000,00 Total: R$ 600.000,00 Todavia, se concorrerem apenas irmãos unilaterais, a herança será dividida em quinhões iguais: Art. 1.842. Não concorrendo à herança irmão bilateral, herdarão, em partes iguais, os unilaterais. Colaterais de 3º Grau: Sobrinhos e Tios Na sucessão dos colaterais, em se aplicando a regra da proximidade, os irmãos terão preferência em relação a tios e sobrinhos, na medida em que os irmãos são colaterais de 2º grau, e os tios e sobrinhos, colaterais de 3º grau. Ou seja, os sobrinhos e tios apenas serão convocados à sucessão, na ausência de irmãos. Todavia, na ausência da sucessão, se houver sobrinhos e tios, sendo eles de mesmo grau de parentesco (3º grau), a lei estabelece que sejam chamados primeiro os sobrinhos, que preferirão aos tios. Os tios apenas serão chamados, na ausência de sobrinhos, conforme caput do art. 1.843 do CC: Art. 1.843. Na falta de irmãos, herdarão os filhos destes e, não os havendo, os tios. (...) Outra regra diferenciada em se tratando de sucessão dos sobrinhos, é que se concorrerem à herança somente filhos de irmãos falecidos, os mesmos herdarão por cabeça, ou seja quinhões iguais, conforme §1º do art. 1.843 do CC: Art. 1.843. (...) §1º Se concorrerem à herança somente filhos de irmãos falecidos, herdarão por cabeça. (...) Já se na sucessão forem chamados sobrinhos, e concorrerem sobrinhos filhos de irmão bilateral, com sobrinhos filhos de irmão unilateral, reproduz-se a mesma regra do art. 1.841 do CC, segundo a qual unilaterais receberão metade do que for atribuído aos bilaterais: Art. 1.843. (...) §2º Se concorrem filhos de irmãos bilaterais com filhos de irmãos unilaterais, cada um destes herdará a metade do que herdar cada um daqueles. Exemplo: Por ocasião do falecimento de A, deixou como parentes vivos: - um irmão bilateral (I1); - dois sobrinhos S1 e S2, filhos do irmão bilateral premoriente (I2); - um irmão unilateral (I3); - dois sobrinhos S3 e S4, filhos do irmão unilateral premoriente (I4); Serão chamados à sucessão os dois irmãos vivos (I1 e I3) e os sobrinhos em representação dos irmãos premorientes (S1 e S2 representando I2; S3 e S4 representando I4). No entanto, como concorrerão irmãos bilaterais e filhos de irmãos bilaterais, com irmãos unilaterais e filhos de irmãos unilaterais, estes deverão receber metade do que àqueles for atribuído. Tomando por hipótese uma herança no valor de R$ 600.000,00, primeiro devemos identificar qual quinhão será atribuído aos irmãos (inclusive os premorientes), e somente depois deverá ser feita a divisão dos quinhões dos premorientes entre os sobrinhos. Assim sendo: Atribuir para cada irmão bilateral o número 2, e a cada unilateral o número 1 (já que 2 é o dobro de 1). Assim sendo, teríamos I1 = 2 I2 = 2 I3 = 1 I4 = 1 Total = 2 + 2 + 1 + 1 = 6 Montar as frações: I1 = 2/6 I2 = 2/6 I3 = 1/6 I4 = 1/6 Sendo a herança total de R$ 600.000,00, cada irmão bilateral (I1 e I2) receberá R$ 200.000,00 (equivalente a 2/6); e cada irmão unilateral (I3 e I4) receberá R$ 100.000,00 (equivalente a 1/6). Ou seja: I1 = 2/6 = R$ 100.000,00 I2 = 2/6 = R$ 100.000,00 I3 = 1/6 = R$ 200.000,00 I4 = 1/6 = R$ 200.000,00 No entanto, I2 e I4 são premorientes, e portanto, serão chamados, em representação, seus respectivos filhos, dividindo seus quinhões entre eles: Se todos os herdeiros convocados forem todos filhos de irmãos bilaterais, ou então, todos filhos de irmãos unilaterais, herdarão também quinhões iguais: Art. 1.843. (...) §3º. Se todos forem filhos de irmãos bilaterais, ou todos de irmãos unilaterais, herdarão por igual. Por fim, cabe trazer exemplo que aborde todas as regras referentes aos colaterais de 3º grau, e ao direito de representação dos filhos dos irmãos. Exemplo: O autor da herança, não possuía descendentes, tampouco ascendentes vivos. Ao tempo de sua morte, deixou como parentes vivos apenas um Tio por parte de Mãe, e seus sobrinhos. Sabe-se que A possuía 4 irmãos, todos premorientes, sendo dois irmãos I1 e I2, bilaterais, e os outros dois irmãos I3 e I4, unilaterais. Entre os bilaterais, I1 não deixou filhos; I2 deixou dois filhos, S1 e S2. Entre os unilaterais, I3 deixou um filho S3; e I4 deixou dois filhos S4 e S5. Assim sendo, falecendo o autor da herança A, quais parentes sobrevivem-lhe? - 1 tio - 2 sobrinhos S1 e S2, filhos do irmão bilateral premoriente I2; - 1 sobrinhos S3, filho do irmão unilateral premoriente I3; - 2 sobrinhos S4 e S5, filhos do irmão unilateral premoriente I4. Destes sobreviventes, quais serão chamados à sucessão, considerando que tanto o tio, como os sobrinhos, são parentes de 3º grau? Serão chamados apenas os sobrinhos. O tio,muito embora tenha o mesmo grau de parentesco que os sobrinhos, não será convocado à sucessão, por força do que determina o caput do art. 1.843. Agora que sabemos que os sobrinhos serão chamados, a que título sucederão? Sucederão por direito próprio, na medida em que, como todos os irmãos eram premorientes, pula-se a geração como se não existisse, partindo-se para a próxima, que receberão por direito próprio. Assim sendo, os sobrinhos serão chamados não representando seus pais, mas sim por eles próprios. Sabendo que os sobrinhos serão convocados, por direito próprio, como será feita a divisão dos quinhões de cada um dos sobrinhos? Considerando que concorrem sobrinhos unilaterais e sobrinhos bilaterais, estes receberão o dobro do que for atribuído àqueles. Assim sendo: Atribuir para cada sobrinho bilateral o número 2, e a cada unilateral o número 1 (já que 2 é o dobro de 1): S1 = bilateral = 2 S2 = bilateral = 2 S3 = unilateral = 1 S4 = unilateral = 1 S5 = unilateral = 1 Total = 2 + 2 + 1 + 1 + 1 = 7 Montar as frações: S1 = 2/7 S2 = 2/7 S3 = 1/7 S4 = 1/7 S5 = 1/7 Colaterais de 4º grau: primos, sobrinhos-netos e tios-avós O legislador foi silente em relação à concorrência de colaterais de 4º grau, que são os primos, sobrinhos-netos e os tios-avós. Sabe-se que os colaterais serão chamados à sucessão, até o 4º grau, e que os colaterais de 4º grau somente serão chamados se não houver colaterais de grau mais próximo. No entanto, não há regras acerca da possibilidade de haver, simultaneamente, colaterais de 4º graus de diferentes troncos. Neste ponto, cabe trazer, mais uma vez, a lição de Tartuce (2020, p. 1.452): Insta observar que o CC/2002 não traz regras a respeito da sucessão dos colaterais de quarto grau (primos, sobrinhos-netos e tios-avós). Também não trata da situação de haver apenas sobrinhos-netos bilaterais e sobrinhos-netos unilaterais. Deve-se concluir, em relação a tais parentes, que herdam sempre por direito próprio. Ato contínuo de conclusão, como são parentes de mesmo grau, um não exclui o direito do outro. Desse modo, se o falecido deixou somente um primo, um tio-avô e um sobrinho-neto, os três receberão a herança em quotas iguais. O mesmo deve ser dito nos casos de concorrência de sobrinhos-netos bilaterais com unilaterais. REFERÊNCIAS COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Civil, volume 5: família e sucessões. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 7: direito das sucessões. 13. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. SCHEREIBER, Anderson. Manual de Direito Civil: contemporâneo. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 10. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. TEIXEIRA, Daniele Chaves (Coord.). Arquitetura do Planejamento Sucessório. 2. ed. 1. reimpr. Belo Horizonte: Fórum, 2019.
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