Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ ALESSANDRA BECKER SERPA BRUNA RUSSI DA COSTA A AFETIVIDADE DO PROFESSOR: CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO DAS CRIANÇAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL CURITIBA 2021 ALESSANDRA BECKER SERPA BRUNA RUSSI DA COSTA A AFETIVIDADE DO PROFESSOR: CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO DAS CRIANÇAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Graduação em Pedagogia – Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, Setor de Educação, Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Licenciatura Plena em Pedagogia. Orientadora: Prof(a). Msc. Taís Glauce Fernandes de Lima Pastre CURITIBA 2021 TERMO DE APROVAÇÃO ALESSANDRA BECKER SERPA BRUNA RUSSI DA COSTA A AFETIVIDADE DO PROFESSOR: CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANOS DAS CRIANÇAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Graduação em Pedagogia – Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, Setor de Educação, Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Licenciatura Plena em Pedagogia. _________________________________________ Prof(a). Msc. Taís Glauce Fernandes de Lima Pastre Orientador(a) – Departamento INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ ______________________________________ Prof(a). Dr(a). Lucimar Rosa Dias Departamento de Planejamento e Administração – DEPLAE INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ Curitiba, 27 de maio de 2021. AGRADECIMENTOS A Deus, por tudo que tem realizado em nossas vidas, e por todas as bênçãos recebidas ao longo das nossas trajetórias. A nossa querida orientadora, Profª Msc. Taís Glauce Fernandes de Lima Pastre, por nos guiar ao longo deste trabalho com todo carinho, compreensão, dedicação, incentivo, paciência, e, principalmente, sabedoria. Aos nossos familiares, por nos apoiarem durante todo o processo, e nos ampararem emocionalmente para que conseguíssemos cumprir essa etapa. Ao Curso de Pedagogia Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, da Universidade Federal do Paraná, por nos proporcionar um ensino público de qualidade, através de recursos e momentos inesquecíveis. A Lourdes Beatriz Vieira, responsável pela organização e infraestrutura do polo EaD, por todo auxílio e atenção. Agradecemos também uma a outra, pela identificação e pela construção de uma valiosa amizade ao longo da graduação, amizade essa que se sustentou em momentos turbulentos das nossas vidas particulares, e, mesmo com todos os obstáculos e dificuldades estávamos ali, uma pela outra, nos apoiando, nos fortalecendo, e compreendendo o verdadeiro significado do “ser amigo” e do “ser equipe”. Não há educação sem amor. O amor implica luta contra o egoísmo. Quem não é capaz de amar os seres inacabados não pode educar. Não há educação imposta, como não há amor imposto. Quem não ama não compreende o próximo, não o respeita. Paulo Freire RESUMO O presente trabalho é uma pesquisa qualitativa descritiva de revisão bibliográfica que visa compreender como a afetividade do professor pode contribuir para o desenvolvimento humano dos alunos na Educação Infantil. O principal objetivo deste estudo foi identificar de que forma a construção do vínculo da afetividade entre professor e aluno pode cooperar para com o desenvolvimento integral da criança. Essa discussão é de suma importância acadêmica, pois, ao abordarmos a relevância da afetividade na Educação Infantil, há a possibilidade de a temática obter mais visibilidade nos meios acadêmicos e ser mais discutida nas instituições de ensino com os profissionais da educação. Há também a pertinência social, visto que, é necessário que haja a compreensão de que ao construir o vínculo da afetividade com o professor, o aluno alcançará progressos nos aspectos físicos, cognitivos e psicossociais, e tal fato contribui para o seu desenvolvimento integral e há a importância pessoal, uma vez que ambas as pesquisadoras estão inseridas no âmbito da temática e, por meio da atuação no campo da Educação Infantil, houve a oportunidade de identificar que a afetividade pode exercer contribuições ao desenvolvimento humano das crianças. A Revisão de Literatura do trabalho apresentou reflexões sobre a Educação Infantil, sobre o desenvolvimento humano e sobre a afetividade. E, através das bases de dados da Educar em Revista, do Google Acadêmico e da Scielo, foram selecionados para objetos de estudo 10 artigos científicos que se conectavam com o tema e, por meio desses artigos foram elaboradas discussões de resultados em três categorias: afetividade e o processo de ensino aprendizagem; afetividade e o desenvolvimento infantil; e afetividade e a relação entre professor e aluno. O estudo mostrou que a afetividade na Educação Infantil é significativa e fundamental, tendo em vista que esse segmento é a primeira etapa da Educação Básica para crianças com idade entre 0 e 5 anos, por isso os alunos e seus familiares precisam ser acolhidos pela equipe de profissionais da educação e, os laços afetivos, principalmente, com o professor, necessitam ser construídos, visando e almejando o pleno desenvolvimento do educando. Palavras-chave: Afetividade. Educação Infantil. Desenvolvimento humano. ABSTRACT The present work is a qualitative descriptive research of bibliographic review that aims to understand how the affectivity of the teacher can contribute to the human development of students in Early Childhood Education. The main objective of this study was to identify how the construction of the bond of affection between teacher and student can cooperate for the integral development of the child. This discussion is of paramount academic importance, since, when addressing the relevance of affectivity in Early Childhood Education, there is the possibility that the theme will gain more visibility in academic circles and be further discussed in educational institutions with education professionals. There is also social relevance, since it is necessary to understand that when building the bond of affection with the teacher, the student will achieve progress in the physical, cognitive and psychosocial aspects, and this fact contributes to their integral development and there is the personal importance, since both researchers are inserted in the scope of the theme and, through acting in the field of Early Childhood Education, there was an opportunity to identify that affectivity can exert contributions to the human development of children. The Literature Review of the work presented reflections on Early Childhood Education, on human development and on affectivity. And through the databases of Educar em Revista, Google Scholar and Scielo, 10 scientific articles that connected with the topic were selected for study objects and, through these articles, discussions of results were developed in three categories: affectivity and the teaching-learning process; affectivity and child development; and affectivity and the relationship between teacher and student. The study showed that affectivity in Early Childhood Education is significant and fundamental, considering that this segment is the first stage of Basic Education for children aged 0 to 5 years, so students and their families need to be welcomed by the care team. Education professionals and affective bonds, especially with the teacher, need to be built, aiming and aiming atthe full development of the student. Keywords: Affectivity. Child education. Human development. LISTA DE ABREVIATURAS BNCC - Base Nacional Comum Curricular DCNEB - Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica DCNEI - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente EI – Educação Infantil LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional PCNEI - Parâmetro Curricular Nacional da Educação Infantil RCNEI - Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora UNB - Universidade de Brasília UNIFAFIBE - Centro Universitário UNIFAFIBE UNIVESP- Universidade Virtual do Estado de São Paulo UNOESTE – Universidade do Oeste Paulista UFPR – Universidade Federal do Paraná UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 10 1.1 JUSTIFICATIVA............................................................................................ 12 1.2 OBJETIVOS ........................................................................................ .........12 1.2.1 Objetivo geral ............................................................................................... 13 1.2.2 Objetivos específicos .................................................................................... 13 2 METODOLOGIA........................................................................................... 14 3 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................ 16 3.1 EDUCAÇÃO INFANTIL ................................................................................ 16 3.2 DESENVOLVIMENTO HUMANO ................................................................. 20 3.2.1 Conceito de desenvolvimento humano ......................................................... 21 3.2.2 Desenvolvimento físico ................................................................................. 23 3.2.3 Desenvolvimento cognitivo ........................................................................... 24 3.2.4 Desenvolvimento psicossocial ...................................................................... 25 3.2.5 Desenvolvimento humano e as relações afetivas ......................................... 25 3.2.5.1 Família como contexto de desenvolvimento humano ................................... 26 3.2.5.2 A escola como contexto de desenvolvimento humano ................................. 26 3.3 AFETIVIDADE .............................................................................................. 27 3.3.1 Afetividade relacional entre família e escola ................................................. 30 3.3.2 Afetividade do professor e aluno .................................................................. 30 3.3.3 Afetividade no processo de ensino e aprendizagem .................................... 32 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ..................................................... 34 5 DISCUSSÃO.......... ...................................................................................... 39 5.1 AFETIVIDADE E O PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM............... 39 5.2 AFETIVIDADE E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL ................................. 47 5.3 AFETIVIDADE E A RELAÇÃO ENTRE PROFESSOR E ALUNO ................ 53 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 59 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 62 10 1 INTRODUÇÃO Nesta pesquisa, procurar-se-á entender como a afetividade do professor de Educação Infantil pode contribuir para o desenvolvimento humano das crianças. Sendo assim, será apresentado um estudo de Revisão Bibliográfica baseado em uma busca sistematizada. Essa busca será iniciada pelas palavras-chave: afetividade; desenvolvimento humano; educação infantil. O período compreendido por Educação Infantil, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB, é desde o nascimento da criança até os seus cinco anos de idade (LDB, 1996). As crianças são seres humanos que possuem direitos e deveres. Os seus direitos devem ser absolutamente garantidos pela família, pela sociedade e pelo poder público, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA (ECA, 2017). A educadora Tizuko Morchida, por meio de entrevista concedida em 2010, para a UNIVESP, destacou que, contemporaneamente, o brincar e a brincadeira fazem parte dos direitos da criança. E é também no ciclo temporal da infância que os comportamentos e sentimentos estão a se desenvolver, e, consequentemente, o desenvolvimento afetivo do indivíduo (CAPELASSO, 2011). A perspectiva da afetividade será objeto de estudo ao longo da pesquisa do trabalho de conclusão de curso. A afetividade está relacionada ao psicológico do ser humano, e está propícia às mudanças diante de situações, visto que duas de suas características são as escolhas pessoais e as preferências de cada indivíduo, a partir das suas interações sociais e amadurecimento intelectual. Além disso, o vínculo afetivo também está relacionado ao desenvolvimento cognitivo, biológico e social do sujeito. Estes aspectos podem influenciar inúmeras circunstâncias e situações na vida de uma pessoa (BENATO, 2001). O interesse pela temática surgiu diante de uma constatação prática de ambas as integrantes da equipe que lecionam em escolas de Educação Infantil pública e privada. Ao ser desenvolvido, no dia a dia, o trabalho em sala de aula, identificou-se o quanto a afetividade com o professor pode contribuir positivamente para o desenvolvimento humano da criança. Para o meio acadêmico, a discussão do assunto é de relevância, pois, por meio dessa pesquisa, almejamos ampliar a argumentação e a asserção das contribuições que a afetividade com o professor traz 11 para o desenvolvimento humano das crianças. Acredita-se que a temática tem potencial para ser mais explorada e, consequentemente, expandida nas comunidades escolares e acadêmicas. Ademais, ao construir o vínculo afetivo com a criança, o professor viabiliza e oportuniza que a mesma desenvolva melhor seus processos físicos, cognitivos, e psicossociais, gerando contribuições para a sua formação social. Objetiva-se, com a pesquisa, identificar como as relações afetivas com o professor contribuem no desenvolvimento humano das crianças na Educação Infantil. Tendo como princípio o respectivo objetivo central, será desenvolvida a pesquisa visando coletar estudos relacionados às palavras-chave, analisando a contribuição do vínculo afetivo com o professor para o desenvolvimento humano das crianças, compreendendo a importância da afetividade na Educação Infantil e identificando quais aspectos estimulam o vínculo afetivo entre professores e crianças. Definiu-se como metodologia de estudo a pesquisa de Revisão Bibliográfica, de caráter qualitativo descritivo, com a finalidade de coletar informações teóricas por meio de livros e bases de dados já estabelecidas, sendo elas a: Educar em Revista, Google Acadêmico e Scielo e, também por meio de critérios de busca específicos – palavras-chave: afetividade; desenvolvimento humano; educação infantil; títulos; resumos; ano: 2010 a 2020; e idioma: português. O autor Antonio Carlos Gil (2002, p.45) cita que a principal vantagem da pesquisa bibliográfica “reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”. De acordo com Gil (2002, p.42), as pesquisas descritivas são “as quehabitualmente realizam os pesquisadores sociais preocupados com a atuação prática” e dentre alguns objetivos de estudo dessa vertente priorizara-se “estudar as características de um grupo”, nesse caso, professores e crianças. A partir do estudo da autora Capelasso (2011), verificamos que é por meio do vínculo afetivo que se estabelece a relação dinâmica entre o sujeito e o mundo real. E, com isso, há a oportunidade de verificar e compreender as potencialidades que tendem a se desenvolver ao longo dessa concepção afetiva. As vivências afetivas podem se manifestar no contexto cognitivo e social e, através dessas manifestações, busca-se analisar os efeitos que os meios afetivos do 12 âmbito familiar, social e escolar apresentam nas ações sociais da criança que está ingressa na Educação Infantil (CAPELASSO, 2011). O problema que norteará a elaboração da pesquisa será o seguinte: de que forma a afetividade do professor pode contribuir para o desenvolvimento humano das crianças na Educação Infantil? Acreditamos que a resposta para esse problema é de interesse pessoal, acadêmico e social, pois pode trazer contribuições para ações do cotidiano escolar, envolvendo professor e criança. 1.1 JUSTIFICATIVA Nessa pesquisa será apresentado o tema da afetividade. Ambas as pesquisadoras estão inseridas no âmbito da temática e, por meio da atuação no campo da Educação Infantil, identificamos que a afetividade pode exercer contribuições ao desenvolvimento humano das crianças. Acredita-se que quando a afetividade é tida como um dos guias da educação, esta tende a contribuir positivamente para a formação de uma comunidade escolar com mais assistência, igualdade e empatia. Essa pesquisa bibliográfica será de relevância para a comunidade acadêmica, visto que abordará uma temática que tem a necessidade de ser mais explorada e discutida, ou seja, a correlação da afetividade com o desenvolvimento dos alunos pode e deve ter mais atenção dentro das instituições de ensino, e dos meios acadêmicos. Ao serem abordadas, por meio dessa pesquisa bibliográfica, as contribuições que a afetividade com o professor pode trazer para o desenvolvimento humano das crianças na Educação Infantil, há a oportunidade de evidenciar para a sociedade o quão importante é a construção desse vínculo, pois é ele que viabilizará o enriquecimento e o progresso da criança nos processos físicos, cognitivos, e psicossociais. Sendo assim, acreditamos que o vínculo da afetividade pode contribuir para a formação e para o pleno desenvolvimento do indivíduo e, tal fato, pode possibilitar que essas crianças se tornem, futuramente, cidadãos críticos e reflexivos. 1.2 OBJETIVOS 13 1.2.1 Objetivo geral Identificar como a afetividade pode contribuir no desenvolvimento humano das crianças na Educação Infantil. 1.2.2 Objetivos específicos Pesquisar e coletar estudos já publicados, e com as palavras-chave pré- definidas; Analisar a contribuição da afetividade com o professor para o desenvolvimento humano das crianças na educação infantil; Compreender a importância da afetividade na educação infantil; Identificar aspectos que estimulam o vínculo afetivo entre professores e alunos. 14 2 METODOLOGIA O estudo será desenvolvido por meio de uma pesquisa qualitativa descritiva, de Revisão Bibliográfica, realizada com buscas em livros e em bases de dados predefinidas, sendo elas: Educar em Revista, Google Acadêmico e Scielo. As palavras-chave definidas para esse estudo foram: afetividade, educação infantil, desenvolvimento humano. Os critérios de inclusão que a equipe utilizará para filtrar as buscas nos respectivos bancos de dados serão, respectivamente: palavras-chave; títulos; resumos; ano (2010 a 2020); e idioma português (pois a equipe não terá tempo hábil para realizar a tradução de outras pesquisas). Em contrapartida, optamos pelos seguintes critérios de exclusão: estudos que não abordam o segmento da afetividade e estudos que não apresentam discussões envolvendo a educação. A presente pesquisa será realizada por meio de uma abordagem qualitativa descritiva, em que estaremos em constante diálogo com a teoria. Segundo Antonio Carlos Gil (2002, p.133), a abordagem qualitativa necessita de alguns fatores para ser construída, como: “dados coletados, a extensão da amostra, os instrumentos de pesquisa e os pressupostos teóricos que nortearam a investigação”. Essa análise pode ser desenvolvida, conforme ressalta Gil (2002, p.133), em sequências compreendidas pela “redução dos dados, a categorização desses dados, sua interpretação e a redação do relatório”. Para Gil (2002), a linha da pesquisa descritiva objetiva, principalmente, descrever as particularidades de respectivas populações ou fenômenos, e a coleta de dados é um dos meios mais significativos para se obter os resultados. O estudo será desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica, objetivando, com isso, ampliar a obtenção de dados informacionais por meio dos estudos teóricos analisados. Gil (2002) cita que as pesquisas bibliográficas são geradas com embasamento em materiais já existentes, sendo os livros e os artigos científicos os principais meios possibilitadores para angariar conteúdos. Ao desenvolvermos esse projeto, foi realizada uma investigação no acervo teórico das seguintes universidades: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE), Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Centro Universitário UNIFAFIBE, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade de Brasília (UNB), e Universidade Federal do Rio Grande do 15 Sul (UFRGS). As palavras-chave definidas nortearam nossas buscas para a elaboração da Revisão de Literatura deste estudo e, certamente, nos direcionarão para a ampliação da próxima etapa de pesquisa. A coleta, a pesquisa e as análises dos dados bibliográficos serão o principal caminho a ser percorrido durante a produção da pesquisa, pois é a partir dessas informações que almeja-se alcançar a resposta do questionamento proposto para o trabalho, tendo a consciência de que mais dúvidas podem vir a surgir durante o levantamento teórico e que, certamente, estas serão discutidas. E, a partir disso, objetiva-se constatar como o vínculo afetivo com o (a) professor (a) pode contribuir no desenvolvimento humano das crianças na Educação Infantil, evidenciando o papel dos professores diante das perspectivas abordadas. 16 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 EDUCAÇÃO INFANTIL A Educação Infantil teve início no Brasil há mais de cem anos, mas o estopim da vertente educacional foi a partir dos anos 80 e 90, quando as mulheres começaram a ingressar no mercado de trabalho com mais assiduidade. Por conta disso, a demanda por espaços que assegurassem cuidado e ensino para as crianças começou a expandir (PINTO, 2007). O Estatuto da Criança e do Adolescente, amparado pela Lei nº8.069/1990, artigo 53 e 54, preserva o direito da criança à educação intencionando o seu pleno desenvolvimento como cidadã. É responsabilidade do Estado garantir atendimento em creche e pré-escola para crianças com idade entre zero e cinco anos, viabilizando níveis elevados de ensino, pesquisa, e criação artística; respeitando a capacidade de cada educando (ECA, 2017). Em 1996, por meio da Emenda Constitucional nº14, art. 211, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394), a LDB, promulgada no mesmo ano, os termos creche e pré-escola deixaram de ser usados oficialmente e o termo educação infantil tornou-se a nomenclatura formal. Sendo assim, o período que a Educação Infantil compreende é desde o nascimento da criança até os seus cinco anos de idade (PINTO, 2007). O Referencial Curricular Nacional paraa Educação Infantil, RCNEI, ressalta que cada criança tem as suas próprias características sociais, cognitivas, emocionais e afetivas. Diante dessas especificidades, a Educação Infantil necessita promover a compreensão, o conhecimento e o reconhecimento da forma única como cada criança vivencia o mundo, pois independente de traços em comum, as crianças sempre permanecerão únicas por conta das suas individualidades e diferenças (RCNEI, 1998). O documento destaca que para promover o educar com crianças faz-se necessário: Propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural (RCNEI, 1998, p.23). 17 Priorizando essas especificidades de ensino, as crianças terão a possibilidade de desenvolver a sua autonomia, além de conhecer, segundo o RCNEI (1998, p.23) suas “potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas”. A Base Nacional Comum Curricular, BNCC, acentua que o segmento da Educação Infantil consiste em educação e cuidado e ambos não podem ser desconectados. Diante disso, o documento elenca seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento que necessitam ser inseridos no contexto da EI, sendo eles: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se (BNCC, 2017). Os eixos que estruturam a Educação Infantil são o das brincadeiras e o das interações e, visando o desenvolvimento integral das crianças, a organização curricular da BNCC é composta por cinco campos de experiências, que direcionam para os objetivos de aprendizagem, saberes e conhecimentos. Os cinco campos de experiências da BNCC (2017, p.41 a 43): “O eu, o outro e o nós”, “Corpo, gestos e movimentos”, “Traços, sons, cores e formas”, “Escuta, fala, pensamento e imaginação”, e “Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações” são embasados nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, DCNEI (BNCC, 2017). As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, DCNEI, estão ligadas as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, DCNEB, e objetivam determinar normas para a organização das propostas pedagógicas na educação infantil. Ademais, as DCNEI (2010, p.11) também indicam princípios e fundamentos para “orientar as políticas públicas e a elaboração, planejamento, execução e avaliação de propostas pedagógicas e curriculares”, com o foco voltado para a educação das crianças. A proposta curricular que as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, DCNEI, recomenda para a Educação Infantil é a de priorizar eixos educacionais que estimulam a interação e a brincadeira, oportunizando experiências que desenvolvam todas as faces que a criança exige e necessita (DCNEI, 2010). O desenvolvimento infantil depende do incentivo das capacidades cognitivas, motoras e intelectuais. E essas capacidades são desenvolvidas por meio das práticas pedagógicas que necessitam ser realizadas em espaços adequados. O mesmo se aplica ao oferecimento das esferas educacionais, que objetivam zelar pelos diferentes vieses sociais e, com isso, garantir uma educação igualitária. A obrigatoriedade de provimento da Educação Infantil é de responsabilidade dos 18 municípios, conforme determinação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 1996). Dessa forma, o primeiro ciclo da Educação Básica é garantido por lei, logo, torna-se direito das crianças, devendo ser ofertado em dois níveis de ensino: creche (0 a 3 anos) e pré-escola (4 a 5 anos). Com essa divisão, intenciona-se o respeito pelas diversidades sociais do ambiente, e visa o desenvolvimento integral da criança em seu aspecto social, intelectual, psicológico e físico (LDB, 1996). O Parâmetro Curricular Nacional da Educação Infantil, dispõe em seu texto padrões de qualidade para esse ciclo da educação e considera que as crianças nascem com direitos essenciais, que visam garantir o favorecimento do seu desenvolvimento e crescimento. Entre eles consta que: As crianças precisam ser apoiadas em suas iniciativas espontâneas e incentivadas a: brincar; movimentar-se em espaços amplos e ao ar livre; expressar sentimentos e pensamentos; desenvolver a imaginação, a curiosidade e a capacidade de expressão; ampliar permanentemente conhecimentos a respeito do mundo da natureza e da cultura apoiadas por estratégias pedagógicas apropriadas; diversificar atividades, escolhas e companheiros de interação em creches, pré-escolas e centros de educação infantil (BRASIL, 2006, p.19). A Educação Infantil é a primeira das três modalidades que compõem a Educação Básica e está voltada para crianças com até cinco anos de idade. Portanto, faz parte do seu princípio desenvolver as capacidades psicomotoras, sociais e intelectuais da criança, intuindo para uma formação integral (LDB, 1996). Nas perspectivas da Educação Básica, a Educação Infantil tem a finalidade de proporcionar para a criança o seu primeiro ciclo de aprendizado formal, objetivando desenvolvê-las de forma integral. No Brasil, a EI é obrigatória para indivíduos a partir dos quatro anos de idade, e essas vertentes educacionais, de acordo com Pinto (2007, p. 12), “devem possuir, assim, uma metodologia de trabalho que considere as especificidades das crianças pequenas. A avaliação do trabalho desempenhado na escola visa o alcance de padrões de qualidade”. A criança, segundo Vygotsky, constrói o seu desenvolvimento a partir de um processo histórico, cultural e social e, a evolução desse desenvolver, acontece por meio das trocas do sujeito com o meio e das suas interações sociais, que são responsáveis pelo alcance dos saberes construídos durante a vida (EMILIANO; TOMÁS, 2015). Segundo Emiliano e Tomás (2015, p.61), “é a partir das relações 19 sociais, da inserção da criança na cultura que esta vai se apropriando de novas aprendizagens e, assim, se desenvolvendo”. O teórico Jean Piaget considera que as crianças são sujeitos ativos de seu desenvolvimento cognitivo e a construção dos seus conhecimentos acontece por meio das ações (CORRÊA, 2017). Dessa forma, Felipe (2001, p.32) considera que “conhecer significa inserir o objeto do conhecimento em um determinado sistema de relações, partindo de uma ação executada sobre o referido objeto”. E a partir desse processo de contato com o mundo é que a criança vai construindo a sua inteligência (FELIPE, 2001). Comparando as teorias de Piaget e Vygotsky sobre o desenvolvimento, observa-se que Piaget sustenta que o termo de socialização proposto por Vygotsky é muito amplo e que o desenvolvimento não se apega somente à socialização, contudo, é de real importância psicológica para desenvolver a função cognitiva do indivíduo. Vygotsky valoriza a construção da aprendizagem por meio das interações sociais, principalmente, as que ocorrem no âmbito escolar, devido às ações mediadas pelos professores (DONGO-MONTOYA, 2013). Para o autor, o educador é o responsável por favorecer um ambiente de aprendizado integrador entre criança e meio. E, para que essa mediação seja benéfica, faz-se necessário que o profissional da educação esteja disposto a proporcionar relações enriquecidas à criança, para que a mesma possa se desenvolver integralmente (RABELLO; PASSOS, 2010). Os professores que atuam no âmbito da Educação Infantil necessitam ter conhecimentos específicos bem definidos, como demonstra Pinto (2007, p.13 e 14), “conhecimentos de medidas básicas de saúde e segurança, técnicas de apresentação de atividades para crianças, técnicas de manejo de grupo e conhecimentos do conteúdo do currículo da primeira infância”. Aotrabalhar como professor, o indivíduo carece ter uma visão de mundo ampliada, pois segundo Kloeppel (2014, p.25), está sempre a “pensar, repensar e agir, em e para a educação”. Para a autora, Ana Julia Kloeppel, o papel do educador: Exige um movimento de compreensão de que ensinar vai muito além de uma boa formação técnico-científica e que aprender não se restringe ao desenvolvimento cognitivo e cultural. Ensinar exige, sobretudo, estar atento verdadeiramente ao outro. Ensinar e aprender envolvem, cotidianamente, a descoberta do mundo, de si e do outro, em uma relação de alteridade, de 20 maneira a buscar garantir o desenvolvimento humano e social que se pretende em um universo como o da escola (KLOEPPEL, 2014, p.25). 3.2 DESENVOLVIMENTO HUMANO O desenvolvimento humano está presente em todas as etapas da vida do indivíduo, iniciando no primeiro suspiro e terminando no último. O mesmo conceito pode ser denominado também como desenvolvimento do ciclo de vida. O desenvolvimento humano está interligado a três principais domínios: o físico, que está relacionado às capacidades sensoriais e habilidades motoras, o cognitivo, que remete à atenção, raciocínio e memória, e o psicossocial, responsável pelas emoções, personalidade e relações sociais. Esses domínios estão conectados e o mal funcionamento de um, consequentemente, pode afetar o outro (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Visto do ponto psicológico, o desenvolvimento humano apresenta diversas perspectivas e, com isso, inúmeras vertentes discorrem sobre a temática, entre elas: ambientalistas, inatistas, evolucionistas, construcionistas, sociointeracionistas e a psicanálise. Os ambientalistas argumentam que as crianças nascem sem nenhum conhecimento e, no decorrer do tempo, vão desenvolvendo a aprendizagem através do processo de imitação; os inatistas defendem que as crianças já nascem biologicamente estruturadas para se desenvolver, isto é, o ambiente não gera aprendizagem; os evolucionistas sustentam que o desenvolvimento humano acontece nas variações individuais relacionadas aos mecanismos biológicos; os construcionistas consideram o desenvolvimento como uma combinação biológica e os aprendizados conquistados pelo meio, o principal estudioso dessa vertente é Jean Piaget; os sociointeracionistas possuem Lev Vygotsky como referência e preservam que o desenvolvimento humano é originado através das trocas sociais do indivíduo; e a psicanálise justifica o desenvolvimento como ações conscientes e inconscientes da criança (RIBEIRO, 2005). O desenvolvimento humano, de acordo com Pinto (2007, p.18), é viabilizado ao sujeito por meio dos ciclos temporais e das “interações contínuas entre o indivíduo e o seu contexto sociocultural”. Dentro do universo infantil, as crianças estão em constante adequação com o seu meio e, por isso, tendem a buscar inúmeras alternativas para se adaptarem da forma mais ideal dentro dos momentos 21 vivenciados e, tal fato, possibilita o desenvolvimento infantil. Com isso, Pinto (2007, p.19) enfatiza que “a criança interage com uma multiplicidade de contextos e pessoas e, nessas interações, ela ativamente seleciona e elabora as mensagens culturais a ela transmitidas, construindo o seu desenvolvimento de forma idiossincrática”. Diversos pesquisadores projetam as suas pesquisas tendo o desenvolvimento humano como foco central de discussão e, com isso, há a percepção de que partem de diferentes explicações, isto é, cada ideia reflete os conhecimentos e interesses do seu autor (GALLAHUE, 2013). 3.2.1 Conceitos de desenvolvimento humano A teoria das fases–estágios do desenvolvimento humano são as pioneiras e buscam enfatizar que o desenvolvimento do indivíduo ocorre em fases e, com isso, não podem ser adiantados e/ou pulados. Esses conceitos ressaltam como sucede de maneira geral o desenvolvimento do sujeito. Sigmund Freud, Erik Erikson e Arnold Gesell são alguns dos principais autores que representam a respectiva teoria, porém, cada um com seu viés de estudo (GALLAHUE, 2013). O contexto do desenvolvimento humano possui diversos modelos teóricos. A psicanálise é uma das teorias precursoras e os estágios psicossexuais apresentados pelo autor Sigmund Freud são os maiores refletores das áreas corporais as quais o indivíduo busca encontrar-se para satisfazer seus desejos ou seu id (parte do inconsciente responsável pelos desejos e fontes de prazer). O ego do sujeito está correlacionado à mediação comportamental do id e do superego (área do inconsciente que está relacionada à razão, consciência e senso comum do indivíduo). Freud argumenta que os estágios psicossexuais estão divididos em oral, anal, fálico, latente e genital e, que cada estágio está baseado em sensações físicas e atividades motoras, que estão diretamente interligadas ao desenvolvimento da personalidade do sujeito (GALLAHUE, 2013). A teoria do desenvolvimento humano conhecida como psicossocial e apresentada por Erik Erikson tem como ênfase a influência social, diferentemente da teoria defendida por Freud. Os estudos de Erikson ressaltam que a vida do ser humano está dividida em oito ciclos, e, com isso, o desenvolvimento possui uma linha contínua que desconsidera fatores hereditários como algo influenciador, mas 22 sim, como o principal fator de formação do sujeito para as suas experiências sociais e mediações, intuindo para orientar os movimentos do mesmo visando estabelecer um desenvolvimento pleno e contínuo (GALLAHUE, 2013). O desenvolvimento e o crescimento estão correlacionados à perspectiva física e motora e estão entrelaçados ao amadurecimento do sistema nervoso. Esse conjunto de conexões denomina-se teoria da maturação. A teoria da maturação objetiva verificar as mudanças sociais e emocionais durante o desenvolvimento do indivíduo e essa é a vertente de estudo do autor Arnold Gesell (GALLAHUE, 2013). A teoria das tarefas desenvolvidas possui como principal estudioso o autor Robert Havighurst. Essa base de estudo direciona-se para a importância de o indivíduo alcançar respectivos objetivos em um determinado momento ou tempo. Conhecida também como a teoria do ambiente, o idealizador Robert Havighurst argumenta em Gallahue (2013, p. 44 e 45) que “o desenvolvimento é como um jogo de forças biológicas, sociais e culturais”, nas quais a criatura continua se especializando e alterando-se para melhor funcionalidade na sociedade. Havighurst defende que existem fases para o estudo e isso se deve a uma exigência social, mas que, a aprendizagem só ocorre quando o corpo está pronto, visto que o desenvolvimento acontece da infância até o fim da vida (GALLAHUE, 2013). O autor Jean Piaget também busca, através de seus estudos sobre a teoria do desenvolvimento cognitivo, explicar o desenvolvimento humano. Piaget enfatiza que, por meio de sinais infantis, é possível comprovar a aquisição dos processos cognitivos para o desenvolvimento de pensamentos. Entretanto, o autor David L. Gallahue aponta falhas nesse processo de desenvolvimento, pois Piaget não considerou as diferentes aquisições cognitivas que o indivíduo realiza durante o decorrer de sua vida (GALLAHUE, 2013). A teoria ecológica é conhecida também como teoria contextual e Gallahue (2013, p.45) consiste em observar o desenvolvimento “como função do contexto ambiental e do período temporal histórico que a pessoa vive”. Para explicar o desenvolvimento humano essa teoria se ramifica em duas, a primeira se baseia, de acordo com Gallahue (2013, p.45), em “um processo transacional descontínuo e auto-organizado entre a tarefa, o indivíduo e o ambiente ao longo de toda a vida”, e é estudada por Nicholas Bernstein. A segunda é desenvolvida por Roger Barker e Urie Bronfenbrenner e é representada pela avaliação do desenvolvimento como “função da interpretação individual de condições ambientaisespecíficas em 23 transação com o momento sociocultural e histórico”, conforme explica Gallahue (2013, p.47). Os estudiosos Schmidt e Lee Kephart explicam que o desenvolvimento acontece através de algo que ocorre no contexto perceptivo-motor e as combinações eventuais internas entre o input sensorial e o output motor (GALLAHUE, 2013). O ciclo da vida relaciona-se a uma construção social que está naturalmente intrínseca no cotidiano do indivíduo mesmo sendo uma invenção cultural. Contudo, apesar de ser uma ideologia imposta socialmente, o desenvolvimento possui suas fases e essas fases devem ser assistidas e orientadas para que o indivíduo possa se desenvolver integralmente (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Para fins acadêmicos, os cientistas estudam o desenvolvimento do eu, em três aspectos, o desenvolvimento físico, o desenvolvimento cognitivo e o desenvolvimento psicossocial. A divisão do conjunto do desenvolvimento humano é feita por períodos da vida, sendo que o período pré-natal (da concepção ao nascimento), primeira infância (do nascimento aos três anos) e segunda infância (dos três aos seis anos) são os períodos que mais se enquadram ao presente trabalho (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 3.2.2 Desenvolvimento físico O desenvolvimento físico está relacionado, de acordo com Papalia e Feldman (2013, p.37), ao “crescimento do corpo e do cérebro, as capacidades sensoriais, as habilidades motoras e a saúde”. O termo também pode ser conhecido como desenvolvimento motor, mas nas literaturas a nomenclatura mais recorrente é desenvolvimento psicomotor, que está correlacionado ao movimento humano (GALLAHUE, 2013). A habilidade motora é considerada uma ação aprendida e voluntária do indivíduo com alguma parte do seu corpo, a qual possui um objetivo pré- estabelecido. Já o controle motor está relacionado para Gallahue (2013, p.32-33) ao “estudo dos mecanismos neurológicos e físicos relacionados ao movimento humano”. O autor define o desenvolvimento motor como o desenvolvimento que apresenta uma mudança constante e comportamental ao longo da vida, sendo um 24 processo que envolve o meio, o ambiente e o sistema biológico, que afetam o sistema motor do início da vida até o fim (GALLAHUE, 2013). O desenvolvimento motor acontece desde a concepção do indivíduo até o final da sua vida. No período pré-natal, o desenvolvimento físico se representa na concepção, na interação genética com influência do ambiente, na formação de estruturas corporais e no desenvolvimento do cérebro. Com o nascimento, inicia-se a fase da primeira infância, do zero aos três anos de idade, e nessa fase o desenvolvimento motor é representado por diferentes funcionamentos dos sentidos e sistema corporal, o cérebro amplia suas capacidades e é sensível a influências ambientais e o crescimento estrutural e habilidades motoras se desenvolvem rapidamente. O período denominado segunda infância, dos três aos seis anos de idade, tem como representação um crescimento constante tornando a estrutura física do indivíduo mais semelhante a de um adulto. Nessa fase acontecem distúrbios do sono, redução de apetite, desenvolvimento da coordenação motora global e fina, os sujeitos apresentam preferência pelo uso de uma das mãos e também há o aumento da força física (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 3.2.3 Desenvolvimento cognitivo O desenvolvimento cognitivo está conectado, segundo Papalia e Feldman (2013, p.37) à “aprendizagem, atenção, memória, linguagens, pensamento, raciocínio e a criatividade”. Os aprendizados são mudanças que ocorrem internamente no indivíduo e acarretam em mudanças comportamentais. Para Gallahue (2013, p.32) “aprender é resultado da experiência, educação e treinamento, interagindo com os processos biológicos”. Bem como teorizam os construcionistas ao afirmar que o desenvolvimento ocorre a partir dessa combinação (GALLAHUE, 2013). O autor Jean Piaget, em Gallahue (2013), coloca como indicadores do desenvolvimento cognitivo do indivíduo a idade cronológica, identificando-as da seguinte forma: sensório-motora, que ocorre do nascimento até os dois anos, a fase pré-operacional, que se desenvolve dos dois aos sete anos, as operações concretas, dos sete aos onze anos e as operações formais, que transcorrem dos doze anos em diante (GALLAHUE, 2013). 25 O desenvolvimento cognitivo ocorre desde a concepção do indivíduo até o final da sua vida. O período pré-natal é marcado pelo desenvolvimento das competências de aprendizagem e lembranças e correspondem a estímulos sensoriais, tendo relação ao desenvolvimento do cérebro e suas funções. A primeira infância aprimora o desenvolvimento das capacidades de memorização do indivíduo, desde as primeiras semanas, o uso da linguagem progride rapidamente e a capacidade de solução de problemas aparece perto do final desta etapa. O período da segunda infância apresenta um indivíduo com pensamento egocêntrico, mas com o passar do tempo passa a existir mais compreensão com o outro, a linguagem e a memória continuam em constante desenvolvimento (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 3.2.4 Desenvolvimento psicossocial O desenvolvimento psicossocial está interligado ao emocional, as interações sociais, e à personalidade do indivíduo. Cada sujeito é único e possui uma combinação distinta e coerente de emoções, com o tempo essas emoções se combinam com as relações sociais, as quais estabelecem vínculos formativos da personalidade do ser humano (PAPALIA; FELDMAN, 2013). O desenvolvimento psicossocial acontece desde a concepção do indivíduo até o final da sua vida. No primeiro ciclo, o sujeito em desenvolvimento corresponde às vozes familiares e desenvolve preferências por elas. Na primeira infância percebe-se a formação de vínculos afetivos com familiares e demais pessoas, a autoconsciência do sujeito se desenvolve e percebe-se o aumento do interesse em outras crianças. E na segunda infância, de acordo com Papalia e Feldman (p.40, 2013), o “autoconceito e a compreensão das emoções tornam-se mais complexos; a autoestima é global”, a criança mostra-se mais independente, controlada e com iniciativa, desenvolve sua identidade de gênero, as brincadeiras tornam-se mais imaginativas, sociais e elaboradas e nessa fase a agressão e o temor podem se tornar fato comum (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 3.2.5 Desenvolvimento humano e as relações afetivas 26 As relações afetivas são primordiais para o desenvolvimento humano do indivíduo e ocorrem com o influenciar da família e também no meio escolar (MELLO; RUBIO, 2013). O ambiente escolar e familiar, na formação do cidadão, partilha funções políticas, sociais e educacionais. Família e escola possuem ampla responsabilidade na formação e construção do conhecimento do indivíduo, cada um com as suas devidas atribuições (MELLO; RUBIO, 2013). Os conhecimentos desenvolvidos por ambas as partes são diferentes, uma vez que a escola é dotada de conteúdos curriculares, os quais baseiam a instrução fornecida durante o processo de ensino-aprendizagem. Mas, uma variável está nos ensinamentos familiares, uma vez que de cunho particular, cada família possui seus objetivos, suas crenças e princípios (MELLO; RUBIO, 2013). 3.2.5.1 Família como contexto de desenvolvimento humano Os primeiros ambientes socializadores do indivíduo são em meio familiar e a família estabelece modelos e padrões culturais, bem estar da criança, valores, crenças, significados e ideias, portando um valor significativo e influente no desenvolvimento e comportamento de cada um. A família é responsável pelo desenvolvimento inicial das relações afetivas, sociais e cognitivas do sujeito e essas referências possibilitam que a criança estabeleça suas relações com o mundo (MELLO; RUBIO, 2013). É por meio das relações familiares que acontecem as frequentes transformações na sociedade,influenciando diretamente na formação e relação de outras famílias. Com isso, compreende-se que a estrutura familiar afeta a formação do conhecimento do cotidiano e os meios de interações familiares. No contexto familiar, a criança desenvolve suas capacidades de resolver problemas, de controlar emoções, de se expressar e essas experiências são ampliadas em diferentes ambientes (MELLO; RUBIO, 2013). 3.2.5.2 A escola como contexto de desenvolvimento humano 27 O ambiente escolar é um ambiente físico, psicológico, multicultural e social, e é responsável pelo desenvolvimento e aprendizagem do indivíduo, pela diversidade de conhecimentos e pela capacitação do educando em diversas áreas. Em continuação ao trabalho familiar, a escola apresenta ao aluno diversos conhecimentos, regras, valores e atividades, as quais envolvem conflitos, problemas e diferenças (MELLO; RUBIO, 2013). A escola é um ambiente essencial para a formação integral do indivíduo, da sociedade e da humanidade, estando sujeita a modificações e adaptações a partir do meio cultural e social ao qual está inserida. O ambiente escolar tem como prioridade as atividades formativas, sendo esse meio identificado como um espaço de desenvolvimento e aprendizagem do currículo comum educacional, envolvendo todas as experiências realizadas e/ou vivenciadas. Deve-se considerar os aspectos culturais, sociais, cognitivos, afetivos e históricos, presentes nessas interações do indivíduo. Os conhecimentos adquiridos em meio familiar estão diretamente relacionados aos conhecimentos desenvolvidos e construídos na escola (MELLO, RUBIO, 2013). Os laços afetivos intrínsecos, que são desenvolvidos pelo indivíduo em ambiente familiar e/ou escolar, facilitam que o mesmo consiga lidar com situações problema de maneira simultânea ou individual. (MELLO; RUBIO, 2013). 3.3 AFETIVIDADE A afetividade exerce um papel fundamental nas relações humanas, representando emoção, motivação, personalidade e sentimento, influenciando autoestima, pensamento e personalidade humana. O modo afetivo é um estado psicológico que permite ao indivíduo demonstrar suas afeições pelo próximo (MELLO, 2013). As emoções estão cotidianamente presentes quando se trata da relação de aquisição do conhecimento. A intimidade comunicacional da afetividade e da cognição são a estruturação do indivíduo e influenciam diretamente na aprendizagem do mesmo (BENATO, 2001). Em seu estudo, Castro cita Dantas (1990, p. 10) sobre a forma com que a afetividade se caracteriza como “os processos psíquicos que acompanham as 28 manifestações orgânicas da emoção”. A autora ainda define que a afetividade pode bem ser conceituada como “uma das formas de amor” (CASTRO, 2018). Estudiosos como Piaget, Vygotsky, e Wallon sustentam que no cotidiano da educação escolar a afetividade é tão fundamental para a construção dos saberes dos alunos como as metodologias de ensino (COSTA, 2017). As relações afetivas possibilitam, segundo Costa (2017, p.02), o desenvolvimento “de educação mais humana, tratando a criança como pessoa completa e possibilitando que o momento de aprendizado não se desvincule do ser criança, isto é, dos seus interesses e necessidades”. Henri Wallon citado por Costa (2017) defende que a afetividade tem grande importância para o desenvolvimento humano e que os indivíduos desde o primeiro dia de vida estão conectados pelo afeto, além disso, a afetividade também oportuniza relações sociais positivas. Na educação escolar, estabelecer o vínculo afetivo simboliza, conforme ressalta Costa (2017, p.05), “acreditar que a criança é capaz de se tornar uma pessoa mais autônoma nas resoluções de problemas em sua vida e ser socialmente participativa ao interagir com o meio”. A construção de um elo afetivo entre professor e aluno proporciona contribuições para a aprendizagem e para o desenvolvimento da criança (COSTA, 2017). A teoria de Lev Vygotsky, mencionada em Emiliano e Tomás (2015), ressalta que as emoções trazem influências e modificações para o comportamento, com isso, quando as palavras são proferidas e emitidas com sentimentos o receptor, sente-as de forma distinta de quando essa ação não acontece. Durante a realização da prática docente é essencial que o professor familiarize a sua conduta com uma emoção positiva, ou seja, aquelas que estão relacionadas a sentimentos positivos (EMILIANO; TOMÁS, 2015). Segundo Emiliano e Tomás (2015, p.65), “ao professor é necessário que faça não só com que o aluno apreenda e assimile o conteúdo, mas que além de tudo seja capaz de sentir o conteúdo relacionando-o às emoções”. Souza apresentou em seus estudos (2011) a colocação de Piaget em relação a afetividade. O autor defende que o afeto é fundamental para o desempenho da inteligência e que sem ele “não haveria nem interesses, nem necessidades, nem motivação” (PIAGET, 1962 apud SOUZA, 2011, p.52). Em sua consideração, Piaget também defende que a afetividade é uma condição necessária para que o indivíduo construa o seu conhecimento, mas não a caracteriza como uma condição suficiente para constituir inteligência. 29 É a partir da afetividade que a criança forma o seu “eu-corporal”, decorrente de suas vivências familiares, sociais e educacionais (CAPELASSO, 2011). A partir dessa bagagem vivencial da criança, valoriza-se a importância de as relações familiares estarem bem estabelecidas, pois para Capelasso (2011, p.32), “o sujeito se torna sensível aos estímulos na medida em que ele se torna assimilável às estruturas já construídas”, e, com isso, ocorre um conflito emocional na criança, no modo que ela está submetida a um ambiente conflituoso e mal estruturado, (BENATO, 2001), uma vez que, segundo Capelasso (2011, p.32) “suas condutas estão sendo modificadas no aspecto afetivo e social”. Logo, verifica–se a real importância dessa interação da criança com o adulto e como isso influencia no desenvolvimento emocional e afetivo do indivíduo. Segundo Benato (2001), área cognitiva e afetiva estão relacionadas ao meio psicológico do indivíduo e o seu desenvolvimento depende do seu fator cultural, isto é, suas experiências de troca. Com isso, o autor Vygotsky (1991) ressalta o quão benéfico é para a criança em desenvolvimento essas experiências em situações diversas, e o quão rico é em aspectos intelectuais que favorecem o desenvolvimento emocional e afetivo do ser humano. Portanto, Benato (2001), verifica que um indivíduo aprendiz está diretamente relacionado a outro relacionando a linguagem cultural e social. É a partir da afetividade, que nos pequenos espaços sociais, ocorre o ensino e a aprendizagem. Entretanto, a autora ainda esclarece que o valor significante dos afetos não é dependente de um código afetivo, isto é, podem ou não ser automáticos, envolvem uma estruturação do subconsciente. Logo, conclui-se que o afeto possui um modo comportamental, a fim de demonstrar sinais perceptíveis. O desenvolvimento afetivo reflete nas capacidades emocionais do indivíduo, isto é, os desejos, anseios, a sua sociabilidade, que estão em constante modificação. Ao profissional da educação espera–se que proporcione diversas experiências de uma maneira multidimensional, a fim de se ampliar esse desenvolvimento (BENATO, 2001). É necessário ser sensível às diferentes fases cognitivas e afetivas da criança, já que, como demonstra Capelasso (2011, p.38), “um bom desenvolvimento humano requer um ambiente que ofereça condições saudáveis para atender as necessidades de cada um”. 30 A afetividade é um vínculo importante na vida dos indivíduos, sua formação primitiva ocorre no ambiente familiar, mas a mesma favorece a formação de um elo entre professor e aluno (DE PAULA; FARIA, 2010). 3.3.1 Afetividade relacional entre família e escola O vínculo afetivo estabelecido entre escola e famíliamostra-se importante, pois é a partir do mesmo que vários obstáculos serão vencidos ao longo da vida escolar da criança (DE PAULA; FARIA, 2010). Segundo Chalita (2004, p.26), “a família é essencial para que a criança ganhe confiança, para que se sinta valorizada, para que se sinta assistida”. Portanto, é positivo que seja estabelecido um vínculo de comunicação entre a família e a escola, já que é um trabalho recíproco, o qual ambas são dependentes (DE PAULA; FARIA, 2010). As conquistas e derrotas que acontecem durante o processo escolar podem ser evidenciadas por diferentes aspectos, sendo um deles o envolvimento familiar (DE PAULA; FARIA, 2010). A relação afetiva está caracterizada por um conjunto de comportamentos que o indivíduo estabelece com um ou mais sujeitos sociais. Constata-se que a influência do comportamento familiar influencia nos primeiros relacionamentos sociais da criança, em busca de apego, carinho e/ou emoções (MONDIN, 2005). A criança não é um indivíduo independente, por isso, requer um responsável que vá lhe instruir durante esse período de dependência de duas maneiras, a primeira é zelando pelas suas necessidades orgânicas, como alimentação, moradia, proteção e calor. A segunda é oferecer um ambiente adequado para o desenvolvimento de suas capacidades mentais, sociais e motoras. Para ambas as formas, é necessário que a criança sinta-se afeiçoada e segura (MONDIN, 2005). É no meio familiar que a criança aprende a desenvolver seu senso emocional, quando a família a prepara para uma maturidade emocional, que está presente em diversas áreas da vida do indivíduo, sendo em situações de oralidade ou de vínculo (MONDIN, 2005). As famílias que se mostram mais presentes na vida escolar de seus filhos são as mesmas em que a criança se apresenta mais motivada para aprender e mostrar suas conquistas e feitos (DE PAULA; FARIA, 2010). 3.3.2 Afetividade do professor e aluno 31 As relações afetivas com o professor variam conforme a personalidade do aluno, suas atitudes e comportamentos apresentados. Cada instrução dada pelo educador está correlacionada aos seus sentimentos, emoções e laços afetivos para com o seu público. Desde o primeiro encontro com seus alunos, formam-se pares afetivos, isto é, alunos os quais o professor conseguirá se relacionar e se fazer compreender, de maneira recíproca (MARCHAND, 1985). O professor deve ter a habilidade de interagir com o pensamento, sentimentos, razões e ser capaz de transmitir e mediar o que deve ser ensinado. Só se pode ensinar aquilo que se recebe, sendo assim, o professor deve ter sido preparado de maneira afetiva para que possa ensinar da mesma forma (DE PAULA; FARIA, 2010). Na contemporaneidade, o professor assume um papel mais complexo, o qual demanda uma maior sensibilidade para com seus alunos. As contribuições que se espera do professor é que seja um mediador do conhecimento e, para isso, o mesmo deve possuir atitudes que facilitem a introdução do processo cognitivo e afetivo por parte do aluno (RIBEIRO, 2010). “Toda maturidade exige um tempo, cuja duração é quase irredutível”, é o que enfatiza Marchand (p.17, 1985). A criança possui seu tempo e espaço para desenvolver-se de maneira saudável e é nessa perspectiva que se observa a criança em função de suas ações, as quais podem ser influenciadas pelas suas instruções (MARCHAND, 1985). Para De Paula e Faria (p.4, 2010), “só se aprende a amar, quando se é amado. Por isso a criança tem que se sentir amada, para descobrir o que é amor”. E esse sentimento do vínculo afetivo transmite segurança para a criança, possibilitando-a participar e explorar diferentes aspectos do ambiente e do mundo que a cerca (DE PAULA; FARIA, 2010). A relação entre professor e aluno contribui para o processo de ensino aprendizagem e pode ser de grande valia para a aquisição positiva de conteúdos curriculares. Os alunos tendem a sentirem-se mais interessados pelas disciplinas em que o professor demonstra mais afetividade, priorizando uma relação mais harmoniosa com os educandos, consequentemente, se estabelece uma relação recíproca, pois o aluno passa a se dedicar mais em tal disciplina, sendo em tom de 32 participação e/ou dedicação em seus estudos. Portanto, o professor não deve abdicar da relação afetiva no meio educacional (RIBEIRO, 2010). 3.3.3 Afetividade no processo de ensino aprendizagem Em “A construção do afeto”, Celso Antunes (2000) ressalta que o maior estímulo é que o ensino e a aprendizagem sejam construídos por meio de afeto e carinho. O processo de educar consiste na conscientização do aluno de que ele faz parte de uma sociedade e que ele é um indivíduo com defeitos e qualidades e com um papel fundamental dentro da mesma (DE PAULA; FARIA, 2010). O ambiente físico, no qual se compartilha conhecimento, é um espaço que o aluno possui determinadas posturas, que são resultantes de suas vivências sociais e afetivas, e tende a se adaptar às posturas apresentadas pelo professor que coloca suas concepções afetivas e sociais em prática. As relações sociais e afetivas, entre os diferentes alunos em sala de aula, serão reflexo da postura e conduta que o professor manifesta com a turma naquele ambiente. As crianças possuem a necessidade de se sentirem acolhidas e aceitas no ambiente e faz-se necessário que o educador possua a habilidade de solucionar problemas interpessoais, a fim de perceber e diferenciar as emoções, ou seja, é necessário que o professor conheça a linguagem corporal dos seus alunos (FARIA; MUÑOZ, 2010). É no ambiente escolar, com a mediação do professor, que a criança deve formar novos padrões de conduta, desenvolvendo um repertório mais complexo de ações cognitivas. O processo de ensino aprendizagem deve ser o recurso que intui para proporcionar às crianças momentos e experiências que lhe garantam o seu desenvolvimento afetivo e cognitivo (FARIA; MUÑOZ, 2010). O professor deve ter internalizado que o aluno não está ali apenas para aprender conteúdos curriculares, mas também para desenvolver sua “alfabetização emocional”. Na prática pedagógica, o professor deve ser capaz de mesclar conteúdos que envolvam e trabalhem os sentimentos e conhecer os seus alunos a fim de que possa desenvolver assuntos que envolvam as diversas individualidades das crianças, sem as expor. A criança tende a se apegar ao que conhece, portanto, seu momento de aprendizagem será mais relevante quando sentir prazer naquilo e/ou encontrar familiaridade com o tema (FARIA; MUÑOZ, 2010). Faria e Muñoz, 33 (2010, p.12-13) apontam que “as relações afetivas professor/aluno nesse contexto são provocadoras de experiências inusitadas no cotidiano escolar”. As vivências de sala de aula, apresentam-se de maneiras diversificadas, no âmbito emocional, as quais corroboram para a construção cognitiva do indivíduo (CASTRO, 2018). A afetividade permite ao aluno desenvolver seu cognitivo e, tal fato, segundo Ribeiro (2010, p.2), resulta na construção de “interações de natureza histórica, social e biológica que se estabelecem no cotidiano”. Desta forma, a dimensão afetiva é tão importante quanto as demais áreas do conhecimento e, em função disso, o vínculo afetivo não pode ser desconsiderado na relação entre professor e aluno (RIBEIRO, 2010). 34 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Ano e data de coleta; país e cidade; numeração Autor Título Revista (vol. e p.) Objetivo do estudo Metodologia Resultados 2010. 22 de setembro de 2020. Brasil, Curitiba-PR. ARTIGO 1 Aurino Lima Ferreira Nadja Maria Acioly- Régnier Contribuições de Henri Wallon à relação cognição e afetividade na educação. Educar em Revista (n. 36 p.21-38) Contribuições de Henri Wallon à relação cognição e afetividade na educação. Uma pesquisa bibliográfica que situae define os complexos afetivos e cognitivos na teoria waloniana e destaca a noção de pessoa engajada como síntese fundamental para o entendimento da relação entre afetividade e cognição no campo educacional. A proposta educativa apoiada nas reflexões wallonianas é não se tornar mais um instrumento de adequação das pessoas aos modelos perversos de opressão que imperam nas relações sociais baseadas nos modelos econômicos dominantes. 2011. 22 de setembro de 2020. Brasil, Três Corações- MG. ARTIGO 2 Maria Sueli Turatti Alícia Greyce Turatti Pessolato Marília Marinho Silva A importância da afetividade na educação da criança. Revista da Universidade Vale do Rio Verde (vol.9 e p.129-142) Influência da afetividade relacionada ao ensino. Uma pesquisa que busca verificar a influência da escola e do professor na formação psicossocial do indivíduo. É de substancial importância a presença de um ambiente escolar acolhedor e de educadores capacitados a exercer adequadamente suas tarefas, porém sensíveis ao transmitir afeto na mais ampla concepção da palavra. Afetividade em todos os aspectos da vida seja social, profissional e pessoal, inclusive por toda a vida escolar fará com que o mesmo consiga atingir a realização plena dos seus ideais. 2012. 25 de setembro de Márcia Camila Souza de Afetividade na Educação Infantil. Revista Eletrônica da Univar (n.7 e Voltar os olhares para as necessidades Com base na LDB e nas pesquisas O amor e o afeto tornam-se a solução para 35 2020. Brasil, Barra do Garças- MT. ARTIGO 3 Amorim Elaine Cristina Navarro p.1-7) do universo da educação infantil no que diz respeito ao desenvolvimento integral da criança. bibliográficas realizadas para a elaboração desse artigo, podemos afirmar que a Educação Infantil tem como objetivo contribuir para a formação global e harmônica da criança, de maneira afetiva e lúdica, de maneira que a afetividade e cognição são inseparáveis. uma boa educação, pois acreditamos em uma educação mais humana, que adote uma pedagogia do amor, que tenha a capacidade de influenciar em nossas próprias vidas em diversos aspectos. 2013. 21 de setembro de 2020. Brasil, Porto Alegre-RS. ARTIGO 4 Elvira Cristina Martins Tassoni Sérgio Antônio da Silva Leite Afetividade no processo de ensino- aprendizagem: as contribuições da teoria walloniana. Revista Educação (vol.36 e p.262-271) Discutir a afetividade nos processos de ensino- aprendizagem, baseando-se na perspectiva walloniana. O estudo foi realizado através de situações de sala de aula foram vide gravadas e utilizou-se o procedimento da autoscopia, que consiste em possibilitar aos alunos a observação do material filmado e gravar, em áudio, os seus comentários sobre as experiências vividas. Os resultados apontam de que forma os acontecimentos da sala de aula, de maneira especial as ações dos professores nas situações de ensino, afetam a aprendizagem dos alunos e a sua relação com os objetos de conhecimento. 2013. 21 de setembro de 2020. Brasil, Santo Amaro-SP. ARTIGO 5 Tágides Mello Juliana de Alcântara Silveira Rubio A importância da Afetividade na Relação Professor/ Aluno no Processo de Ensino/ Aprendizagem na Educação Infantil. Revista Eletrônica Saberes da Educação (vol.4 e s/p) Abordar a afetividade como fator imprescindível no processo de ensino aprendizagem, pois age de forma positiva na vida educacional. O estudo aborda de forma bibliográfica a afetividade como fator imprescindível no processo de ensino aprendizagem, pois age de forma positiva na vida educacional. Através do afeto, o aluno adquire todas as condições necessárias para se sentir As instituições de Educação Infantil que primam pela qualidade da educação e propiciam interações sociais afetivas, contribuem para a formação de crianças saudáveis, inteligentes e, acima de tudo, felizes. 36 seguro e protegido. 2013. 21 de setembro de 2020. Brasil, Maringá-PR. ARTIGO 6 Cláudia Aparecida Valderramas Gomes O lugar do afetivo no desenvolvimento da criança: implicações educacionais. Psicologia em estudo (vol.18 e p.509-518) Analisar algumas proposições da Psicologia Histórico- Cultural acerca do psiquismo humano, notadamente no que tange à constituição dos processos afetivos na relação com o desenvolvimento infantil. Este estudo, de natureza teórica, tem por objetivo analisar algumas proposições da Psicologia Histórico- Cultural acerca do psiquismo humano, notadamente no que tange à constituição dos processos afetivos na relação com o desenvolvimento infantil. Esse trabalho possui como resultado diversos elementos como: o fato de se analisar o afetivo como algo que se acrescenta ao cognitivo, facilitando ou dificultando as apropriações da criança na escola ou a conquista de novos conhecimentos que permitam avançar os limites do seu desenvolvimento. Romper com o pressuposto de que os processos afetivos acontecem naturalmente. Mediando a relação da criança com o conhecimento está o adulto, a quem cabe, por isso, um importante papel na criação intencional de situações que promovam necessidades e o desejo do conhecimento. 2017. 25 de setembro de 2020. Brasil, Juína- MT. ARTIGO 7 Helena Voltolini do Nascimento Maria Aparecida Miranda de Oliveira Maria de Fátima Oliveira Afetividade na Educação Infantil. Revista Saberes Docentes (vol.2 e s/p.) Abordar a importância da afetividade na educação infantil, bem como a aproximação necessária entre professor e aluno para que a aprendizagem aconteça. A pesquisa se faz nas ideias defendidas sobre afetividade na vida da criança e em seu meio de aprendizagem, sendo do tipo bibliográfico, em que cada ideia defendida e discutida e A importância de o docente estar dando segurança para seus alunos aprenderem, além de deixar evidente a importância do envolvimento existente entre docente e aluno durante o período que a criança está na 37 analisada para o aprimoramento da tese que se busca defender. escola, buscando sempre o aprimoramento do saber. 2017. 25 de setembro 2020. Brasil, Guarulhos- SP. ARTIGO 8 Ana Angélica Markic Tecitura: afetividade e aprendizagem na educação infantil. Revista Educação (vol.12 e p.42-51) Apresentar uma reflexão da relação estabelecida entre a afetividade, o processo de ensino e aprendizagem e sua relação que está inteiramente ligada ao desenvolvimento do aluno na educação infantil. O estudo se foca no levantamento bibliográfico pertinente à área, fundamentado na teoria de Henri Wallon e no trabalho de formação continuada realizado como coordenadora pedagógica da Rede Municipal de Educação Infantil de São Paulo -SP, que atendem crianças na faixa etária entre 4 e 5 anos. Assim, analisar a relação entre pais e filhos - professores e alunos na construção do conhecimento. Conclui-se que os afetos são parte intrínseca de qualquer interação humana dentro ou fora da sala de aula e não é apenas o aluno quem tende a ser beneficiado com uma abordagem mais afetiva. 2018. 19 de setembro de 2020. Brasil, Campinas- SP. ARTIGO 9 Isabela Costa Dominici Maria de Fátima Cardoso Gomes Vanessa Ferraz Almeida Neves Por que aprender a ler?”: afeto e cognição na Educação Infantil. Pro-Posições (vol.29 e p.15-40) Analisar os sentidos e os significados atribuídos à linguagem escrita na trajetória de duas crianças de 5 anos em uma turma de Educação Infantil. O estudo ocorreu através de análise dos dados, os quais foram obtidos por meio de um estudo de caso realizado e a observação participante, como anotações em caderno de campo, entrevista com os participantes e vídeo gravação. O mesmo estudo ainda é fundamentado nos pressupostos da Psicologia Histórico- Percebe-se que os processos de apropriação da linguagem escrita envolvem aspectos cognitivos e afetivos, interação com artefatos culturais e vivências socioculturais. 38 Fonte: COSTA, PASTRE e SERPA (2020). Cultural e da Etnografia em Educação. 2018. 19 de setembro de 2020. Brasil, Belo Horizonte- MG. ARTIGO 10 Daniela Guimarães Rachel Arenari Na creche, cuidados corporais, afetividade e dialogia. Educação em Revista (vol.34 e s/p.) Compreender as manifestações afetivas e as possibilidades dialógicas na relação professor-bebê na creche, considerando-as como centrais na ação pedagógica. Essa pesquisa foi realizada de forma prática numa turma de berçário em uma creche pública, onde foram descritas e analisadas práticas pedagógicas na perspectiva da discussão das peculiaridades da docência com bebês e a base teórica ancora-se nos estudos de Mikhail Bakhtin e Henri Wallon, de modo especial nos conceitos de dialogia e afetividade. O estudo indica que a intencionalidade pedagógica no berçário envolve a atenção para as iniciativas dos bebês, além da qualidade relacional do trabalho cotidiano. 39 5 DISCUSSÃO Neste tópico serão analisadas e discutidas as ideias, as metodologias e os resultados dos dez artigos selecionados como objetos de estudo do presente trabalho. As discussões serão desenvolvidas por meio de três categorias: afetividade e o processo de ensino aprendizagem; afetividade e o desenvolvimento infantil; e afetividade e a relação entre professor e aluno. Objetiva-se, com essa fragmentação, possibilitar uma argumentação enriquecida e ampla sobre a temática apresentada. 5.1 AFETIVIDADE E O PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM A primeira categoria de estudo abordará a afetividade e o processo de ensino aprendizagem tendo como base teórica os artigos de números 1, 4, 5 e 9 sendo eles, respectivamente, de acordo com o quadro de resultados: “Contribuições de Henri Wallon à relação cognição e afetividade na educação”, publicado em 2010, com autoria de Aurino Lima Ferreira e Nadja Maria Acioly-Régnier, “Afetividade no processo de ensino-aprendizagem: as contribuições da teoria walloniana”, dos autores Elvira Cristina Martins Tassoni e Sérgio Antônio da Silva Leite, publicado no ano de 2013, “A importância da Afetividade na Relação Professor/Aluno no Processo de Ensino/Aprendizagem na Educação Infantil”, autores Tágides Mello e Juliana de Alcântara Silveira Rubio, publicação em 2013, e “Por que aprender a ler?: afeto e cognição na Educação Infantil”, das autoras Isabela Costa Dominici, Maria de Fátima Cardoso Gomes e Vanessa Ferraz Almeida Neves, publicado em 2018. O artigo 1, “Contribuições de Henri Wallon à relação cognição e afetividade na educação”, dos autores Aurino Lima Ferreira e Nadja Maria Acioly-Régnier, 2010, apresenta as definições de afetividade, bem como, relata as dificuldades e a demora para inserir o caráter afetivo dentro do contexto educacional e desenvolvimentista, devido à herança positivista que a respectiva área carrega. Os autores supracitados, discorrem ao longo do estudo bibliográfico sobre as principais contribuições da teoria Walloniana que corroboram para a compreensão da relação entre a afetividade e a cognição no âmbito da educação. A escolha pelo estudioso Henri Wallon (1968) se dá por conta da concepção psicogenética à qual o autor defende: perceber o indivíduo como pessoa integral. As teorias de Wallon possuem um movimento dialético entre a afetividade, a cognição e os níveis biológicos e socioculturais que 40 contribuem para o processo de ensino aprendizagem, e caracteriza a relação entre aluno e professor no âmbito escolar como elemento essencial para o processo de formação integral do indivíduo. Ainda neste estudo, para os autores Ferreira e Acioly-Régnier (2010, p. 26), o teórico Wallon (1968) define a afetividade como: “um domínio funcional que apresenta diferentes manifestações que irão se complexificando ao longo do desenvolvimento e que emergem de uma eminente base orgânica, até alcançarem relações dinâmicas com a cognição”. Wallon também salienta que conforme se estrutura essa base orgânica, os sujeitos vão se tornando cada vez mais sociais. Em sua obra “A evolução psicológica da criança”, Henri Wallon (1968), destaca que o desenvolvimento psíquico e o desenvolvimento biológico do indivíduo são indivisíveis, e tal fato possibilita a conclusão de que existe uma relação recíproca entre o meio e o ser vivo. A teoria Walloniana argumenta que a cognição está em constante interação com o surgimento da inteligência, brotando das entranhas orgânicas e, aos poucos, vai adquirindo complexidade na relação dialética com o social. A cognição permanece indissolúvel da afetividade e com o passar do tempo ambas encontram um equilíbrio mútuo entre si. O estudioso ainda aponta em sua obra “A evolução psicológica da criança” (1968) que os aspectos afetivo, motor e cognitivo são conjuntos funcionais, e com a integração dinâmica no meio orgânico e social, ou seja, no processo de desenvolvimento do indivíduo, o desenvolvimento não ocorre de forma linear, mas sim por estágios. Nos estágios em que a força centrípeta predomina, isto é, o movimento é feito para si mesmo (puberdade, impulsivo emocional, adolescência, entre outros) o conjunto funcional afetivo se sobressai. Enquanto que, quando há a prevalência da força centrífuga, na qual a movimentação acontece para fora (projetivo, sensório motor, entre outros), o conjunto funcional cognitivo é o predominante. Henri Wallon (1968) destaca que essa mudança de domínios não exclui a presença de conjuntos não dominantes, pois é a partir dessa interação que ocorre a formação complexa da personalidade do sujeito. A função do educador é compreender o indivíduo como pessoa completa e, com isso, constata-se que se deve abandonar a visão errônea da segregação do ser humano. O ato de educar está vinculado, de acordo com Ferreira e Acioly-Régnier (2010, p. 34), citando o pensamento de Varela, Thompson e Rosch (2004), à “atuação incorporada a um 41 mundo e a uma mente com base em uma história de diversidade de ações desempenhadas por um ser no mundo”. Ao concluírem o estudo baseado nas contribuições Wallonianas, os autores destacam que o processo educativo ainda está vinculado a um método fracassado de ensino, a pedagogia de métodos. Diante dessa perspectiva há a acentuação da importância de se enxergar o desenvolvimento integral do indivíduo, considerando que as relações cognitivas/afetivas não se dissociam e que nenhuma das potencialidades do sujeito devem ser negligenciadas. O artigo 4, “Afetividade no processo de ensino-aprendizagem: as contribuições da teoria walloniana”, dos autores Elvira Cristina Martins Tassoni e Sérgio Antônio da Silva Leite, 2013, inicialmente enfatiza sobre a responsabilidade da escola em tornar o conhecimento curricular algo acessível ao seu aluno, intuindo para a diversidade de experiências, visto que as ações pedagógicas do professor influenciam na aprendizagem e no conhecimento dos discentes. A pesquisa bibliográfica e explicativa objetiva, a partir das ideias de Henri Wallon, verificar a influência do aspecto
Compartilhar