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CONFORTO AMBIENTAL Vanessa Guerini Scopell Tipologias climáticas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as diferentes tipologias climáticas. Definir as características de cada clima. Reconhecer as interferências do clima na arquitetura. Introdução Neste capítulo, você vai estudar o que são as tipologias climáticas, enten- dendo o seu conceito e a sua aplicação. Além disso, você vai estudar sobre os diferentes climas, suas características e especificidades, reconhecendo como as condições e tipologias climáticas podem influenciar os projetos de arquitetura. Tipologias climáticas Quando se pensa em clima, percebe-se a sua infl uência direta na satisfação ou não com o ambiente natural, bem como na sensação de frio ou calor, abrangendo também diversos outros aspectos. Segundo Pena ([2018], documento on-line), o clima pode ser compreendido como “[...] o comportamento e a dinâmica das condições da atmosfera em um dado local, composto por um conjunto de condições meteorológicas que se sucedem e repetem-se ciclicamente ao longo de alguns meses ou anos”. O autor ressalta a distinção do termo clima em relação ao termo tempo, esse último se referindo às condições naturais momentâneas do ar. Conforme Nascimento, Luiz e Oliveira (2016, documento on-line), “[...] o clima é o resultado das interações da radiação solar com os aspectos físicos geográfi cos e a circulação atmosférica”. Para se avaliar o clima de determinada área ou região, é preciso levar em conta alguns fatores. Segundo Pena ([2018], documento on-line), é necessário estabelecer “[...] um panorama sobre o regime anual de chuvas, as estações que se definem localmente, as temperaturas médias e uma série de elementos que marca as suas condições naturais”. Existem vários tipos de clima atuantes no nosso planeta, que são in- fluenciados por aspectos como continentalidade, latitude, altitude, massas de ar, correntes marinhas, entre outros. Assim, cada tipo de clima apresenta especificidades relacionadas à temperatura, à pressão atmosférica, à radiação solar e à umidade do ar. Conforme Pena ([2018]), é possível representar as condições climáticas de um determinado lugar por meio de um climo- grama, que se resume a um gráfico em que são demonstradas as tempera- turas médias e o índice de precipitação a cada mês do ano (Figura 1). Esse gráfico pode auxiliar no planejamento de cada atividade, prevendo ações mais apropriadas para determinadas épocas do ano com base nos registros climáticos. Figura 1. Exemplo de climograma. Fonte: Adaptada de Pena ([2018]. Para Nascimento, Luiz e Oliveira (2016, documento on-line), os estudos sobre os aspectos climáticos são importantes para auxiliar nas atividades hu- manas, uma vez que fatores variados “[...] são analisados de forma a sintetizar as informações do clima de uma dada localidade e efetuar a classificação climática”. Assim, considera-se todas as variações e classificações do clima como tipologias climáticas, conforme leciona Ayoade (2003, p. 141): Tipologias climáticas2 As tipologias climáticas dos diferentes lugares, definidas com base nas caracte- rísticas dos parâmetros atmosféricos, correspondem a importantes insumos ao planejamento urbano, rural, regional e ambiental, principalmente a atividades diretamente relacionadas à organização e produção do espaço, a exemplo da agricultura, da indústria e do turismo. Segundo Vianello (1991, p. 216), “[...] uma região ou domínio climático se refere a certa área da superfície da Terra delimitada por um conjunto de condições climáticas aproximadamente homogêneas”. Mendonça e Danni- -Oliveira (2007, p. 52) acrescentam que: [...] apesar de que distintos lugares na superfície terrestre não apresentem climas idênticos, é possível que a combinação de diferentes elementos e fatores do clima resulte em uma região com condições climáticas homogêneas quando comparada à outras, sendo denominada de região climática. É importante destacar que toda classificação ou tipologia climática é ba- seada nos diferentes padrões do clima e tem como objetivo “[...] sistematizar, sintetizar, simplificar, condensar e comunicar a grande quantidade de infor- mações referentes às características do clima de dada localidade, denominada de região ou de domínio climático”, conforme lecionam Nascimento, Luiz e Oliveira (2016, documento on-line). Ressalta-se ainda que, em virtude da transitividade gradual entre os diferentes tipos de clima, a delimitação de cada tipologia e a classificação de cada área não pode ser considerada com exatidão. As diferenças climáticas vêm sendo estudadas desde o início da civilização grega. Segundo Strauss (2007, p. 34, documento on-line): É nesse contexto que se enquadra a primeira classificação climática, realizada por Parmênides em 500 a.C., na qual foram definidas, conforme a influência da latitude na insolação e, por conseguinte, na temperatura, três zonas gerais: a zona tórrida, entre os Trópicos de Câncer e Capricórnio; a zona temperada, entre os Trópicos e os Círculos Polares e; a zona frígida, entre os Círculos Polares e os Polos. Segundo Mendonça e Danni-Oliveira (2007), com a evolução dos sistemas de meteorologia e o desenvolvimento da tecnologia, atualmente existem pelo menos 200 esquemas de classificações climáticas. Dentre eles, duas abordagens se destacam, sendo a primeira delas considerada empírica, que leva em conta a combinação de vários elementos ou características do clima, e a segunda chamada de genética, que considera os controladores ou fatores climáticos. Sobre a abordagem empírica, Maluf (2000, p. 147) explica o seguinte: 3Tipologias climáticas A abordagem empírica, também considerada como descritiva, apresenta dois segmentos. Um dos segmentos utiliza essencialmente a descrição dos elementos climáticos, com base em dados meteorológicos, enquanto o outro se baseia no efeito do clima sobre os elementos naturais, geralmente sobre a vegetação ou o solo. Os sistemas de classificação do clima apoiados na abordagem empírica se baseiam geralmente na descrição dos elementos climá- ticos: temperatura do ar, precipitação, umidade e evapotranspiração. Alguns empregam como critérios o balanço de radiação, as amplitudes térmicas, a temperatura dos meses mais frios e mais quentes, a duração dos períodos chuvosos e de estiagem ou a quantidade de dias com chuva. A abordagem genética também se divide em duas vertentes: uma delas leva em consideração a “[...] dinâmica das massas de ar e o regime das chu- vas, enquanto a outra considera o balanço de energia como principal fator controlador do clima”, conforme lecionam Nascimento, Luiz e Oliveira (2016, documento on-line). Uma importante classificação climática é datada do ano de 1874 e foi criada por De Candolle, um cientista francês. O autor, a partir de uma vertente empírica, classifica o clima com base no desenvolvimento da vegetação, elencando cinco zonas: megatherms, xerophiles, mesotherms, microtherms e hekistotherms (Figura 2). Figura 2. Classificação climática proposta por De Candolle. Fonte: Nascimento, Luiz e Oliveira (2016). Tipologias climáticas4 No ano de 1879, Alexandre Supan elaborou outro tipo de classificação climática, a qual dividia o planeta nos climas quente, frio e temperado, usando como referência as temperaturas médias de cada região (Figura 3). Figura 3. Classificação climática elaborada por Alexandre Supan. Fonte: Nascimento, Luiz e Oliveira (2016). Essas primeiras propostas definiram regiões climáticas de uma maneira mais generalizada. Nascimento, Luiz e Oliveira (2016, documento on-line) res- saltam que, após essa primeira fase, surgiram outras propostas mais completas: Mais do que uma classificação dos climas, Herbertson propôs em 1905 uma classificação das principais regiões naturais do mundo. Para tanto, utilizou como critério as idades geológicas, as médias anuais de temperatura, a de- finiçãoda estação chuvosa, os diferentes tipos de vegetação e a densidade populacional. O autor destaca que o clima não pode ser visto apenas como um dos elementos físicos a serem quantificados e considerados na classificação, mas, sobretudo, como a síntese das várias influências que atuam na superfície. O estudo de Herbertson resultou em uma divisão de seis regiões principais, subdividas em outras categorias, sendo elas: polar, temperada fria, temperada quente, deserto ocidental, montanhas tropicais ou subtropicais elevadas (tipo tibetano) e planícies equatoriais (tipo amazônico). No ano de 1947, Holdridge classificou o clima em 37 regiões, denominadas por ele de zonas vitais. Segundo Nascimento, Luiz e Oliveira (2016, documento on-line), “[...] essas zonas corres- ponderiam aos tipos de vegetação condicionados pelos parâmetros de temperatura média anual, precipitação média anual, evapotranspiração e umidade”. Um dos principais sistemas que classifica as tipologias climáticas foi elaborado em 1918 por Wladimir Köppen. Esse estudo sofreu uma alteração 5Tipologias climáticas no ano de 1936 e recebeu contribuições de Rudolf Geiger no ano de 1961. A partir desses estudos, surge a classificação climática de Köppen-Geiger. Segundo Nascimento, Luiz e Oliveira (2016, documento on-line): A classificação Köppen-Geiger relaciona o clima com a vegetação e se baseia em critérios numéricos da temperatura média do mês mais frio para definir cinco regiões climáticas principais: tropical, árida, temperada, fria e polar, representadas por letras maiúsculas — A, B, C, D e E, respectivamente. Com base na distribuição sazonal da precipitação e em características adicionais de temperatura, este sistema divide-se, respectivamente, em tipos e subtipos, representados por letras minúsculas. A tabela de Köppen-Geiger foi transformada por Kottek e seus colaboradores em um mapa que facilita a visualização das tipologias climáticas de cada região do mundo. Para acessá-lo, visite o link a seguir. https://goo.gl/51YKut Outra classificação bastante utilizada como referência é o estudo elaborado por Strahler. O mesmo criou grupos climáticos divididos em 13 zonas, base- adas em aspectos como as massas de ar e as latitudes. Conforme Sant’Anna Neto (2001, p. 41): Além de considerar os elementos precipitação e temperatura para definir e dis- tinguir as regiões climáticas do mundo, na proposta de classificação de Strahler também é incorporado o paradigma dinâmico no que se refere às características e aos regimes das massas de ar, sendo apontada como a contribuição mais sig- nificativa na busca de uma classificação climática de base genética e dinâmica. Para visualizar o mapa da classificação utilizada por Strahler, acesse o link a seguir. https://goo.gl/UUpeyt Tipologias climáticas6 Pode-se perceber que os estudos desenvolvidos apresentam algumas se- melhanças entre si. As tipologias climáticas, apesar de serem tratadas por meio de diferentes nomenclaturas, têm como referência aspectos em comum, tratando as regiões a partir de reflexões e percepções diferentes. Nota-se que a diferença entre os sistemas se baseia principalmente nas vertentes de pesquisa, sendo a classificação empírica voltada especificamente à descrição das características do clima de cada área, enquanto a vertente genética busca esclarecer os motivos dos diferentes climas do planeta. O que é climatologia e para que serve? A climatologia é fundamental na medida em que fornece dados para projetar edificações, possibilitando uma arquitetura mais regionalista e eficiente em termos de conforto humano e consumo de energia. Trata-se de um ramo da geografia física que se dedica a estudar o clima e o tempo. Como vimos, entende-se como “tempo” o estado meteorológico da atmosfera, como condições de vento, ar, temperatura e umidade, e como “clima” o conjunto de condições atmosféricas que caracterizam um determinado local ou região. A climatologia, como ciência, tem se tornado cada vez mais importante, já que inúmeras atividades humanas, como agricultura, economia, indústria e comércio, dependem de dados do clima para a tomada de decisões e a obtenção de eficiência. Um agricultor tem necessidade de informações do clima para saber quais decisões tomar com relação às melhores épocas do ano para plantio, como poderá plantar e em que época colher determinado gênero agrícola. A partir de dados de satélites e de estações medidoras, a climatologia moderna vem fornecendo dados e informações mais precisas sobre chuvas, geadas, secas, ventanias, temporais, furacões, etc. Em países que estão ainda em desenvolvimento, a climatologia tem se desenvolvido mais devido à sua importância para a agricultura e a aviação. No Brasil, já existem estudos, pesquisas e, inclusive, informações prontas e disponíveis para auxiliar e orientar projetos de edificações que seguem diretrizes bioclimáticas (Renato ([2018]). Características do clima Dentre diversos estudos, mapas e tipologias climáticas, algumas propostas se destacam por serem voltadas especifi camente para o território brasileiro. Jurca (2005) cita as propostas de Delgado de Carvalho, Peixoto, Guimarães e Bernardes, e destaca a proposta de Henrique Morize (Quadro 1), iniciada 7Tipologias climáticas no ano de 1889 e aprimorada no ano de 1922. Conforme Sant’Anna Neto (2001, p. 13), essa classifi cação climática [...] foi elaborada com base em dados de 106 estações meteorológicas no território brasileiro e se baseou nos conceitos apresentados por Köppen, utilizando-se de médias anuais de temperatura e de totais pluviométricos para definir três tipos climáticos: equatorial, subtropical e temperado — divididos em outros nove subtipos. Fonte: Adaptado de Nascimento, Luiz e Oliveira, 2016. Tipo Subtipo Localização Equatorial Superúmido Amazônia Úmido continental Interior do Norte Semiárido Nordeste Subtropical Semiúmido marítimo Litoral oriental Semiúmido de altitude Altiplanos centrais Semiúmido continental Interior do Brasil Temperado Superúmido marítimo Litoral meridional Semiúmido/latitudes médias Planícies do interior do Sul Semiúmido das altitudes Locais de grande altitude Quadro 1. Classificação climática de Henrique Morize Para Sant’Anna Neto (2001), essa proposta é considerada como um marco para a evolução da climatologia e meteorologia do Brasil, pois reúne um conjunto de registros das estações meteorológicas que servem de embasamento para as análises climáticas. Segundo Nascimento, Luiz e Oliveira (2016), as classifi- cações foram se desenvolvendo cada vez mais, tornando-se mais específicas e fundamentadas. Nesse contexto surge a proposta de Nimer, que é utilizada como referência pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A proposta de classificação dos climas brasileiros de Nimer se apoia na de- finição de três sistemas: o primeiro é relativo à gênese climática baseada nos padrões de circulação atmosférica, configurando três climas zonais (equatorial, tropical e temperado); o segundo emprega as frequências médias de valores extremos de temperatura, definindo regiões térmicas (quente, subquente, meso- térmico brando e mesotérmico mediano); e o terceiro, que relaciona o número Tipologias climáticas8 de meses secos com o tipo de vegetação natural predominante, define regiões com padrões homogêneos de umidade e seca (que variam de superúmido a semiárido) (NASCIMENTO; LUIZ; OLIVEIRA, 2016, documento on-line). Os climas zonais brasileiros considerados pelo IBGE são: equatorial, tropical (dividido em zona equatorial, Nordeste oriental e Brasil central) e temperado. Para visualizar o mapa da classificação climática adotada para o Brasil, acesse o link a seguir. https://goo.gl/NhTayZ O clima equatorial está localizado mais especificamente na área da Floresta Amazônica, ao norte do território brasileiro e em parte do estado do Mato Grosso. Essa tipologia climática prevalece nas áreas próximas à Linha do Equador.As suas principais características são a alta umidade do ar e a temperatura elevada, que geram chuvas constantes. Segundo dados do IBGE, a temperatura média do clima equatorial é de 26ºC, com umidade relativa média de 90%. O clima tropical é encontrado nas áreas entre o Trópico de Capricórnio e o Trópico de Câncer. Apresenta como características gerais a temperatura alta, porém com menos precipitações se comparado ao clima equatorial. O clima tropical da zona equatorial compreende áreas dos estados de Piauí, Tocantins, Ceará, Rio Grande de Norte, Pernambuco, Maranhão, leste de Roraima e oeste da Paraíba. Nessas áreas, os invernos sãos mais secos e os verões, mais chuvosos. O clima tropical Brasil central tem como características mais acentuadas a estiagem e os verões bastante chuvosos. Com temperatura média anual de 20º C, compreende os estados de Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Bahia, sul do Piauí e do Tocantins e norte do Paraná. Já a tipologia tropical Nordeste oriental concentra-se na faixa litorânea da região nordeste e tem temperatura média anual de 25ºC. O clima temperado pode ser caracterizado como a tipologia mais fria se comparada ao clima equatorial e tropical. Esse clima é encontrado na Região Sul do país, mais especificamente nos estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Esse clima apresenta as estações bem definidas; durante o inverno, a temperatura dessa região pode chegar a menos de 0ºC, com granizo 9Tipologias climáticas e neve. A média de temperatura do clima temperado fica em torno de 19ºC, com umidade relativa do ar de 80%. Interferências do clima na arquitetura À medida que o desenvolvimento das cidades foi acontecendo, as edifi cações foram evoluindo, considerando para as suas adaptações também as regiões em que estavam inseridas. Após a Revolução Industrial, com o surgimento da arquitetura moderna, muitas edifi cações passaram a ser padronizadas, tornando-se independentes de especifi cidades e condições climáticas das áreas em que estavam inseridas. Segundo Renato ([2018], documento on-line), “[...] esta arquitetura, cujas características convergiam, seja onde é que fosse construída, foi chamada de ‘Estilo Internacional’, e em muito ignorava os princípios da arquitetura regionalista, fomentando gasto excessivo de energia”. A maioria das edificações propostas nesse período era conformada em grandes volumes quadrados ou retangulares, com concreto e panos de vidro, implantados em qualquer espaço, independentemente do solo, da vegetação e do clima. Segundo Renato ([2018]), para obter conforto térmico interna- mente utilizava-se ventiladores, ar-condicionado ou aquecedores. Esse estilo arquitetônico ocasionou falta de energia e demandou a construção de usinas hidrelétricas, no Brasil, e termoelétricas e nucleares, na Europa. Ainda con- forme Renato ([2018], documento on-line): Tais práticas degradam o meio ambiente, aquecem e destroem belos cenários naturais, o que faz o mundo acordar para fontes alternativas de energia e edifi- cações com melhor eficiência energética, que aproveitem os recursos naturais, e assim produzindo construções e edificações que sejam adequadas ao clima local. O preceito de adequar a edificação ao clima em que será inserida, apesar de ter sido esquecido durante o movimento moderno, vem de muito antes desse período, destacado ainda por Vitrúvio na arquitetura romana. O mesmo dizia que, para as edificações estarem bem adequadas, era necessário levar em conta o clima local de cada construção. Para Renato ([2018]): [...] ter boas informações do local e do clima onde uma edificação será cons- truída, é importante para que se obtenha um resultado de qualidade em termos de projeto e consequentemente de conforto e eficiência energética com relação à edificação à ser construída. É baseado nestas informações com relação às Tipologias climáticas10 variáveis climáticas (como temperatura, umidade, ventos, movimentos do sol) que se adotam as estratégias de conforto térmico (técnicas apropriadas) para se obter soluções eficientes com relação às variáveis do meio ambiente. Pode-se dizer que adequar a edificação por meio de propostas para obtenção do conforto térmico é um papel importante da arquitetura, e o seu resultado é diretamente influenciado pelas condições climáticas de cada local. Conforme Lamberts (2017), em locais com altas temperaturas, a adoção de ventilação natural e proteção solar das paredes é um importante artifício para amenizar o calor, que pode ser feito por meio de beirais e do isolamento térmico com mantas ou outros materiais. Além disso, em áreas onde a luz direta do sol é importante em algumas estações e em outras não, pode-se utilizar os brises móveis, que ajudam no controle da entrada de sol na edificação. Já para climas mais frios é importante o isolamento térmico da edificação, que evita a entrada do vento na mesma, mantendo o calor interno. Para as co- berturas, quanto mais área tiverem, mais calor conseguirão reter, melhorando a temperatura interna. Além disso, com essas condições climáticas, é necessário esquadrias duplas e com boa vedação, juntamente com paredes mais grossas e o uso de alguns revestimentos especiais. Segundo Soares (2012), é importante utilizar nas paredes revestimentos com alta inércia térmica, pois são materiais que vão retendo o calor do sol durante o dia e, com o pôr do sol, começam a troca de calor com a parte interna da vedação. São boas opções as paredes externas revestidas em pedras e as internas com revestimento drywall e lã de rocha. Quando as condições climáticas são consideradas, é possível propor constru- ções adequadas para cada região do Brasil e do mundo, garantindo que todas as necessidades dos ocupantes daquela edificação possam ser satisfeitas, amenizando também os impactos ambientais da mesma e o consumo de energia. Para Lamberts (2017, documento on-line), “[...] conhecer os dados climáticos de um local permite identificar os períodos de maior probabilidade de desconforto e, consequentemente, definir as estratégias que devem ser incluídas no projeto para compensar essas condições”. Assim, a ideia de relacionar a arquitetura com o clima, levando em conta as condições climáticas e os aspectos sustentáveis, possibilita chegar a uma harmonia entre o espaço construído e o espaço natural existente, minimizando os impactos e considerando as modificações na paisagem urbana. 11Tipologias climáticas Como adotar estratégias arquitetônicas que sejam adequadas para o inverno e o verão? Para evitar ambientes muito quentes, é importante priorizar a ventilação cruzada, que se dá por janelas em fachadas opostas, permitindo a saída do ar quente e a entrada do ar fresco. Fonte: Adaptada de Instituto Brasileiro de desenvolvimento da Arquitetura ([2018]). Já para a proteção contra o frio, o ideal é usar materiais que tenham grande inércia térmica para o revestimento das paredes. Trata-se de materiais que vão retendo o calor do sol lentamente durante o dia e, com o pôr do sol, começam a troca de calor com os ambientes ao seu redor. Paredes revestidas de pedra voltadas para o poente são um exemplo disso. O ideal é que haja a associação de ambas as soluções, já que, no Brasil, as estações causam mudanças bruscas na temperatura, e temos regiões em que há calor durante o dia e frio à noite. Até mesmo os revestimentos podem ser associados, como os carpetes, tapetes e pisos de madeira, que aquecem os ambientes, e as cerâmicas, vidros e algumas pedras, que esfriam os espaços. Esses materiais precisam ser combinados no mesmo projeto para garantir não somente o conforto em relação ao clima, mas a eficiência e a durabilidade da edificação. Além disso, é importante estudar o posicionamento da casa em relação ao sol, verificando as necessidades do verão e do inverno. As fachadas devem ser analisadas para que as aberturas sejam suficientes para circulação do ar e para que o sol não invadao interior da casa, gerando desconforto no calor, mas que, ao mesmo tempo, ofereça proteção no frio (SOARES, 2012). Tipologias climáticas12 AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. INSTITUTO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO DA ARQUITETURA. Refresque sua casa usando a ventilação cruzada. Fórum da Construção Civil, [2018]. Disponível em: <http:// www.forumdaconstrucao.com.br/conteudo.php?a=4&Cod=2064>. Acesso em: 12 set. 2018. JURCA, J. Classificações climáticas: variações têmporo-espaciais e suas aplicações nos livros didáticos e como subsídios ao zoneamento agroclimático. 2005. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2005. LAMBERTS, R. Desempenho térmico de edificações. Aula 3: arquitetura e clima. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. Disponível em <http://www.labeee.ufsc.br/si- tes/default/files/disciplinas/Aula-Arquitetura%20e%20Clima_0.pdf>. Acesso em: 12 set. 2018. MALUF, J. R. T. Nova classificação climática do estado do Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Agrometeorologia, v. 8, n. 1, p.141-150, 2000. MENDONÇA, F.; DANNI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia: noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Oficina de Textos, 2007. NASCIMENTO, D. T. F.; LUIZ, G. C.; OLIVEIRA, I. J. Panorama dos sistemas de classificação climática e as diferentes tipologias climáticas referentes ao estado de Goiás e ao Distrito Federal (Brasil). Élisée — Revista de Geografia da UEG, Porangatu, v. 5, n. 2, p. 59-86, jul./dez. 2016 Disponível em <http://www.revista.ueg.br/index.php/elisee/article/viewFile/5769/3986>. Acesso em: 12 set. 2018. PENA, R. F. A. Clima. Mundo Educação, Goiânia, [2018]. Disponível em: <https://mundoedu- cacao.bol.uol.com.br/geografia/clima.htm>. Acesso em: 12 set. 2018. RENATO, J. Clima, construção e arquitetura. JRRIO, Rio de janeiro, [2018]. Disponível em: <https://www.jrrio.com.br/construcao-sustentavel/pb-clima-e-construcao.html>. Acesso em: 12 set. 2018. 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