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1 Revint - A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA OPOSIÇÃO AO GOLPE DE 1964

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A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA OPOSIÇÃO AO GOLPE DE 
1964: contextualização política e social1 
Women’s participation in the 1964 swat opposition: political and social context
MALZONI, Evelin2
ARAÚJO, Luís Guilherme Nascimento de3
DIOTTO, Nariel4
BRUTTI, Tiago Anderson5
1 O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 
– Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.
2 Discente do curso de Direito, da Universidade de Cruz Alta - Unicruz, Cruz Alta, Brasil. E-mail: evelinmalzoni07@
gmail.com.
3 Discente do curso de Direito, da Universidade de Cruz Alta - Unicruz, Cruz Alta, Brasil. E-mail: guilhermedearaujo@
live.com. Bolsista do PIBIC “Tolerância, igualdade e educação na construção do bem-comum”.
4 Mestranda em Práticas Socioculturais e Desenvolvimento Social (UNICRUZ). Especialista em Direito 
Constitucional (FCV/PR). Bacharela em Direito (UNICRUZ). Bolsista CAPES. Email: nariel.diotto@gmail.com
5 Pesquisador Grupo de Pesquisa Jurídica em Cidadania, Democracia e Direitos Humanos - GPJur, Docente da 
Universidade de Cruz Alta - Unicruz, Cruz Alta, Brasil. E-mail: tbrutti@unicruz.edu.br.
RESUMO
O presente artigo visa refletir sobre a participação 
das mulheres na oposição ao regime ditatorial 
instalado no Brasil em 1964, compreendendo 
sua atuação política dentro dos movimentos 
de esquerda. Buscou-se, após uma breve 
contextualização do período, delimitar algumas 
formas de atuação das mulheres dentro do 
movimento político, refletir sobre as torturas e 
violações das quais foram vítimas e, analisar 
os limites que lhe foram impostos devido a 
sua condição, enquanto pertencente ao gênero 
feminino - historicamente e culturalmente 
desprezado - dentro da esfera política e social da 
época.
Palavras-chave: Autoritarismo. Brasil. Ditadura. 
Golpe de 1964. Feminismo. 
ABSTRACT
This article aims to reflect on the participation of 
women in the opposition to the dictatorial regime 
installed in Brazil in 1964, understanding their 
political performance within the leftist movements. 
It was sought, after a brief contextualization of the 
period, to delimit some forms of action of women 
within the political movement, to reflect on the 
tortures and violations they were victims of, and 
to analyze the limits imposed on them due to their 
condition, as belonging to the female gender - 
historically and culturally despised - within the 
political and social sphere of the time.
Keywords: Authoritarianism. Brazil. Dictatorship. 
1964 coup. Feminism.
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MALZONI | ARAÚJO | DIOTTO | BRUTTI
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
As mulheres tiveram um papel fundamental entre a oposição ao golpe de 1964, ocorrido 
no Brasil: estudantes, operárias e camponeses fizeram oposição ao governo então vigente, 
participando, inclusive, da Guerrilha do Araguaia. Trazer a perspectiva feminina do período 
é de grande importância, tendo em vista que, no espaço público e político, a mulher foi (e 
continua sendo) invisibilizada e silenciada, limitada a obediência daqueles homens que estão 
no poder. 
Para discorrer sobre o assunto, em uma primeira seção, foi analisado o contexto sócio-
político da instalação da ditadura militar, no ano de 1964 e, posteriormente, buscou-se trazer a 
participação das mulheres no período, as quais foram grandes vítimas de atrocidades e violações, 
torturadas e humilhadas não apenas em razão de sua visão política, mas em decorrência do 
preconceito e sexismo da sua própria condição de gênero. 
Resumidas à “putas comunistas”, não lhe era reconhecido o poder de escolha sobre a 
visão política. Sexualizadas e objetualizadas, inclusive, devido a sua forma de pensar, foram 
constantemente vítimas de violência sexual. Trazer a perspectiva dessas mulheres é fundamental 
para entender os resquícios de uma política sexista que predomina até os dias atuais, e acaba por 
silenciar e dificultar a participação das mulheres no espaço político. 
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 
Essa pesquisa está vinculada a participação no Grupo de Pesquisa em Cidadania, 
Democracia e Direitos Humanos (GPJur/UNICRUZ), voltando-se para a rediscussão da condição 
das mulheres no decorrer da história e da importância de sua participação na construção da atual 
conjuntura sócio-política do Brasil. A pesquisa aqui exposta foi bibliográfica, usando o método 
de abordagem hipotético-dedutivo, um estudo que implica em tentativas e eliminação de erros, 
que não leva a uma certeza, pois o conhecimento absolutamente certo e demonstrável por vezes 
não é alcançado. Esse método visa construir uma teoria que elabore hipóteses das quais as 
conclusões obtidas possam ser deduzidas, sobre as quais se pôs.
É fazer previsões, que podem ser rejeitadas ou aceitas, e com isso obter uma resposta 
para o problema. De acordo com Diniz (2015, p. 02):
O método hipotético-dedutivo consiste em se perceber problemas, lacunas ou 
contradições no conhecimento prévio ou em teorias existentes. A partir desses 
problemas, lacunas ou contradições, são formuladas conjecturas, soluções ou 
hipóteses [...]
As bases da realização da pesquisa, na primeira seção, serão estruturadas por material 
doutrinário, legislação específica e artigos científicos físicos e virtuais. Na segunda seção, 
enfatizou-se a luta das mulheres na ditadura brasileira por meio da obra “Direito à memória e à 
A participação das mulheres na oposição ao golpe de 1964: contextualização política e social 
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verdade: luta, substantivo feminino”, sob organização de Tatiana Merlino e Igor Ojeda. Busca-
se a compreensão da participação das mulheres no período ditatorial vivido pelo Brasil pós 
golpe de 1964, identificando a necessidade de relembrar as atrocidades desse período, vividas 
principalmente pelas mulheres, a fim de promover a reflexão acerca do tema e evitar que a perda 
de direitos humanos e fundamentais se repita.
3 CONTEXTO HISTÓRICO DE UM BRASIL AUTORITÁRIO
 No Brasil do século XX, o ocaso das liberdades e garantias democráticas e a opressão 
como política oficial de Estado foram estruturados através de uma sólida base legislativa, 
que foi o sustentáculo do regime militar. O início dos anos 1960 marcou o princípio de uma 
forma de ação política específica, por meio da organização popular, que se voltava a questionar 
o arbítrio dos governos internos e a considerável dependência econômica externa, e exigia 
mudanças nas estruturas políticas, sociais e econômicas, visando cada vez mais a inclusão 
das camadas populares e trabalhadoras da sociedade no âmbito da política e dos objetivos da 
atuação governamental brasileira. 
 De fronte a isso, o grupo de militares que se estabeleceu no poder através do golpe 
de 1964 vinha de uma doutrina militar remota, que aludia à atuação do Brasil na II Guerra 
Mundial onde, ao atuar junto aos países da base aliada, terminou se sedimentando uma forte 
aproximação entre oficiais norte-americanos e militares brasileiros. Ao fim do grande 
conflito, uma considerável geração de militares brasileiros passou a se aprofundar nos modos 
como os Estados Unidos organizavam e estabeleciam a atuação das forças armadas em seu 
território. “Quando esses oficiais retornavam dos EUA, já estavam profundamente influenciados 
por uma concepção de ‘defesa nacional’” (ALVES, 1987, apud PRIORI, et al., 2012, p. 200).
 Não obstante o entrelaçamento entre as forças armadas brasileiras e as concepções 
políticas belicitas norte-americanas, fez-se notória uma profunda submissão econômica, que 
ditou os rumos do desenvolvimento do país nos anos que se seguiram ao golpe. Nas palavras de 
Almeida (2016, p. 209-210)
o golpe militar, saudado por muitos como a preservação da unidade nacional diante 
dos perigos do comunismo, resultou em várias medidas econômicas que obrigaram 
as empresas brasileirasa se associar ao capital estrangeiro, o que coincidiu com o 
interesse dos países industrializados em transferir parte de suas linhas de produção 
para nações semi-industrializadas, como o Brasil. Os regimes autoritários são 
essenciais para retirar possíveis oposições de burgueses relutantes ou de trabalhadores 
descontentes, revelando que os exércitos se preparam menos para inimigos exteriores 
do que para reforçar a opressão em território nacional.
 Com base nesta relação foi criada a Escola Superior de Guerra (ESG), diretamente 
ligada ao Estado Maior das Forças Armadas, órgão em que se elaboraram algumas das diretrizes 
da Doutrina de Segurança Nacional e muitos dos seus programas e dispositivos políticos 
derivados, como o Serviço Nacional de Informações (SNI). Toda essa estruturação dos meios e 
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tecnologias de controle veio a se materializar historicamente no Ato Institucional Nº 1. Como 
sistematiza Priori (2012, p. 200-201):
Por meio do AI-1, foi institucionalizado o sistema de eleição indireta para Presidente 
da República, bem como foi dado poderes ao presidente para ditar nova constituição, 
fechar o congresso, decretar estado de sítio, impor investigação sumária aos 
funcionários públicos contratados ou eleitos, abrir inquéritos e processos para apurar 
responsabilidades pela prática de crime contra o Estado ou contra a ordem política 
e social, suspender direitos políticos de cidadãos pelo prazo de dez anos e cassar 
mandatos legislativos de deputados federais, estaduais ou vereadores.
 Sob a égide dos atos institucionais, como estrutura jurídica, e a autoridade indiscutível 
dos militares no quadro executivo serviriam como sustentação e salvaguarda da atuação de 
todas as forças repressivas, independentemente dos métodos de ação escolhidos. A criação de 
órgãos voltados à repressão foi algo comum durante a vigência do governo militar, como os 
DOI-CODI, o CIEX, a CISA, se contar com consolidação dos DOPS por todo o território 
brasileiro.
 Esteve sempre presente, porém, o esforço em caracterizar o regime militar como um 
regime atrelado aos princípios democráticos, o que tornou a ideologia mais uma faceta da 
dominação e opressão, pois ainda que no visível exercício de um regime autoritário de exceção 
os seus mantenedores intentavam legitimá-lo como um sistema político e modo de governo 
baseado na vontade do povo. Conforme aduz Aquino (2000, p. 272) desde o primeiro general-
presidente até o último buscou-se salientar, principalmente nos discursos de posse dirigidos ao 
povo, a adoção de “ações e comportamentos em nome da defesa da democracia no país”. Fator 
este que se faz presente hodiernamente onde, mesmo que “democratizado, o país se recusa a 
prestar contas às vítimas de um regime que [...] o próprio Estado brasileiro reconhece ter sido 
ilegal e antidemocrático” (ALMEIDA, 2016, p. 210).
 Constata-se que no decorrer de 21 anos em que se mantiveram os militares com o 
poder, a existência de qualquer forma de administração democrática e republicana foi apenas 
ficta, ideologicamente construída, tendo em vista o notório papel de repressão exercido pelos 
órgãos policiais e instituições jurídicas, com claro objetivo de emudecer possíveis perturbações 
sociais que estremecessem o pleno andamento das ações e programas do Poder Executivo 
militarizado.
 “Em princípio, o golpe foi tido como um movimento fadado a ser de curta duração e de 
alcance limitado” (CARONE, 1982, p. 3, apud PRIORI, 2012, p. 202). Todavia, no passar dos 
primeiros anos, a cúpula do comando militar cada vez mais se estruturava institucionalmente 
sobre os pilares do autoritarismo e entoava o discurso da defesa de valores nacionais, patriotas, 
dotado de tendências anticomunistas, pouco relacionadas com a verdadeira conjuntura política 
do país. O golpe buscou ser caracterizado como uma intervenção de cunho corretivo, destinada 
a preservar aspectos relevantes para a continuação do desenvolvimento que outrora o Brasil 
representou. No entanto, as formas de pôr em prática essas premissas não se deixaram limitar 
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pela axiologia democrática e republicana, quando, por exemplo, se usou da cassação de direitos 
políticos de uma grande parcela da população, de parlamentares e até membros do Poder 
Judiciário para uniformizar a prática institucional.
 Portanto, o panorama da luta pelo retorno da democracia envolveu múltiplos arranjos 
e formas de resistência. O aparelhamento estatal canalizado para a opressão e o esforço para o 
silenciamento de qualquer voz que representasse a mínima oposição tornou o simples dissenso 
um objeto pelo qual se lutar. Dessa forma, o caráter de ilegalidade passou a ser a regra para 
grande parte dos focos de oposição, como os partidários de antigos partidos de esquerda, como 
o movimento estudantil e também a classe artística. Dentro desses variados agrupamentos 
voltados a se opor ao governo militar, contou-se com determinante participação feminina, desde 
a organização dos movimentos até a máxima expressão de resistência através da luta armada.
4 A PARTICIPAÇÃO FEMININA NO GOLPE DE 1964 COM BASE NA OBRA 
“LUTA, SUBSTANTIVO FEMININO”
A resistência das mulheres é muito presente ao longo da história do Brasil, não apenas 
em um contexto ditatorial pós Golpe de 1964, mas muito antes as mulheres já se organizavam 
em movimentos políticos e de ruptura com o sistema patriarcal: as sufragistas, buscando seu 
direito de votar e participar do pleito eleitoral, as operárias que denunciavam os abusos vividos 
nas fábricas, as mulheres burguesas e feministas, que lutavam pela possibilidade de frequentar 
as escolas e universidades, em um período marcado pela sua exclusão do espaço público e da 
vida civil.
Durante o contexto sócio-político brasileiro, quando se implantou a ditadura civil-militar 
com o golpe de 1964, “as mulheres também foram protagonistas, como militantes da resistência 
e como organizadoras da sociedade civil para o retorno do país à democracia” (MERLINO; 
OJEDA, 2010, p. 28). O golpe de 1964,
[...] institucionalizou a detenção, a prisão e o sequestro, o banimento, a tortura, o 
assassinato e o desaparecimento, deixando um legado sinistro: mortos e desaparecidos 
políticos, uma legião incontável de militantes – homens e mulheres – presos e 
torturados e histórias de vida truncadas. A política de repressão é praticada quando o 
poder político, aliado ao poder policial e militar, outorga-se o direito sobre o corpo, 
a mente, a vida e a morte dos cidadãos. Exercer continuadamente atos que sustentam 
essa política é um gesto que, aos poucos, torna-se sobre-humanamente desumano, e 
apaga, devagar, a repugnância inata ao crime (MERLINO; OJEDA, 2010, p. 28).
A grande maioria dos militantes que permaneceram no país durante esse período tornou-
se clandestino político, abandonando suas famílias, casas, profissões e próprias identidades, 
permanecendo no anonimato para proporcionar a continuidade da luta contra o autoritarismo. 
Muitas das relações pessoais ficaram esparsas e, frequentemente, notícias de mortes e 
falecimentos de amigos e familiares ficaram conhecidas e foram ligadas ao momento político 
vivido no Brasil. A militância, em muitos casos, era descoberta apenas após a morte, pois,
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A clandestinidade escolhida como forma de sobrevivência dentro do país foi, no 
princípio, uma defesa para o militante, mas, como um bumerangue, tornou-se um 
ponto vulnerável: a repressão aproveitou o anonimato dos militantes capturados, com 
seus nomes frios e identidades fabricadas, para negar, às famílias e aosadvogados, o 
verdadeiro nome do preso. Dessa forma, eliminou-os, enterrou-os, fê-los desaparecer 
com nomes frios, como indigentes, nenhum nome, os NN (MERLINO; OJEDA, 
2010, p. 29).
As mulheres participaram ativamente do momento político vivido no país e foram alvos 
de atrocidades, principalmente em decorrência do seu gênero. O corpo da mulher tornou-se 
presa do torturador que, autorizado por seus superiores, “incorporou ingredientes próprios e 
piores ao ato que, por delegação, lhe foi solicitado e previamente permitido” (MERLINO; 
OJEDA, 2010, p. 30). Não importava a condição da mulher (se fosse mãe, se estivesse grávida, 
se fosse jovem, ou idosa), não havia tréguas: o próprio desejo da mulher pela maternidade foi 
usado com implacável vingança, tendo em vista que muitas tornaram-se estéreis após sevícias 
e estupros.
Algumas foram cingidas com uma cinta de aço que, paulatinamente apertada, levou-as 
à morte; outras foram assassinadas a sangue frio; muitas foram estupradas, mutiladas 
e atingidas pelas armas. Algumas enlouqueceram pela dor e pela brutalidade e não 
sobreviveram aos choques elétricos. Todas, em sua provável maioria, foram despidas 
à força em algum momento. São brasileiras que fazem parte da galeria de mulheres 
combatentes e destemidas, muitas delas ainda insepultas por estarem desaparecidas 
(MERLINO; OJEDA, 2010, p. 30-31). 
No mesmo período em que o país era assolado pela violência e pela tortura, mesmo em 
ambiente hostil, as mulheres da sociedade civil e de organizações sociais continuavam sua luta 
por meio da organização de protestos nas ruas, universidades, sindicatos, igrejas e etc., buscando 
denunciar as violações da ditadura e buscando formas de vencê-la. A campanha pela anistia, 
por exemplo, fruto da indignação de vários setores da sociedade brasileira, foi organizada, 
inicialmente, por mulheres pertencentes ao Movimento Feminino pela Anistia (MERLINO; 
OJEDA, 2010).
A participação em movimentos estudantis, partidos políticos e sindicatos era um desafio 
ao papel feminino tradicional. Mesmo que em menor número que os homens, as mulheres 
também armaram-se buscando o fim da ditadura militar, na maioria dos casos, jovens com menos 
de trinta anos de idade e estudantes universitárias. Contudo, não foram apenas jovens mulheres 
de classe média e universitárias a se organizarem no regime militar, pois a rápida urbanização 
das cidades, originária dos fluxos migratórios internos, expandiu a organização do movimento 
de mulheres para às periferias. Portanto, na guerrilha não havia apenas homens, “mas também 
mulheres armadas lutando por essa causa, sendo que algumas desapareceram, seus corpos nunca 
foram encontrados e são consideradas desaparecidas políticas”. (MACIOSEK, 2017, p. 776). 
As mulheres também tiveram efetiva participação na Guerrilha do Araguaia, que 
ocorreu entre meados de 1960 (quando os primeiros militantes do Partido Comunista do 
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Brasil – PCdoB, chegaram à região) e 1974 (quando os últimos guerrilheiros foram caçados 
e abatidos por militares). Nesse período, houveram muitas execuções, tendo em vista que a 
“eliminação de vestígios e tortura estão nos relatos colhidos, assim como na literatura existente 
sobre a guerrilha” (PEIXOTO, 2011, p. 1). Os militares foram instruídos de que não fizessem 
prisioneiros, sendo que, desde o início, a intenção foi realizar uma operação de “limpeza”. O 
primeiro integrante do PCdoB se instalou na região no ano de 1966 e, em 1972, às vésperas da 
primeira expedição dos militares, já eram quase setenta pessoas. Grande parte desses homens 
e mulheres no Araguaia era composta de lideranças estudantis que haviam participado de 
manifestações contra a ditadura militar, nas grandes cidades do país e muitos já haviam sido 
presos por outras atividades de oposição ao regime (PEIXOTO, 2011).
Mesmo que as organizações que se opuseram ao regime ditatorial questionassem o 
modelo de sociedade, ainda haviam distinções entre os gêneros dentro dessas organizações, 
tendo em vista que poucas mulheres assumiram cargos de liderança. A repressão do período 
construiu uma imagem da mulher militante, contrária aos padrões impostos pela ditadura militar: 
aquela que rompesse os padrões vigentes e integrasse a esfera pública e política, era vista como 
uma “puta comunista”, termo que os próprios agentes da repressão usavam, principalmente 
durante os interrogatórios e as sessões de tortura (COLLING, 1997). Nesse sentido:
Para a repressão, a mulher militante será definida sempre como “puta comunista”. [...] 
Além da caracterização da mulher militante como prostituta, a repressão trabalhava 
na tentativa de desmoralização com duas outras ideias: a de que as mulheres estavam 
buscando homens e a de mulher-macho (COLLING, 1997, p. 84).
Este tipo de tratamento, extremamente discriminatório e sexista, visava desmerecer a 
atuação política das mulheres, o que visava reforçar a tese de que lugar da mulher era no espaço 
privado. Aquelas que buscassem o espaço público e a atuação política, estariam fazendo por 
interesses sexuais, na busca por um companheiro ou companheira, e não por interesse político. 
Em suma, questionava-se a capacidade de a mulher agir por interesses próprios, ou sem a 
tutela de um homem. Além disso, sustentava-se que para exercer a sua militância, a mulher 
deveria negar a sua feminilidade. Contudo, a participação das mulheres “[...] na contestação à 
ordem, entre 1966 e 1968, deu-se, sobretudo, por meio do movimento estudantil, que forneceu 
a maioria dos quadros para os grupos de extrema esquerda” (COLLING, 1997, p. 84).
A participação das mulheres nos movimentos de oposição à ditadura militar demonstra 
o quanto foram importantes na construção e organização de movimentos a fim de romper 
com o regime autoritário instalado no país. Contudo, também foram grandes vítimas das 
atrocidades cometidas pelos militares: resumidas a “putas comunistas”, o seu gênero e sexo 
biológico tornavam-se alvo de grandes violações, foram estupradas, violentadas e cruelmente 
assassinadas. Sua condição de gênero, a qual a despendia um tratamento de inferioridade e 
carência de intelectualidade, a obrigava a seguir padrões morais previamente impostos pelo 
regime ditatorial. Enquanto isso, na resistência e oposição ao regime, fora impedida de assumir 
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cargos de liderança, demonstrando que, mesmo dentro das organizações de esquerda, haviam 
concepções que a reduziam ao “sexo frágil”. Mesmo diante de todas as atrocidades e de toda a 
violência do período, demonstraram o seu papel de resistência dentro do meio político, inclusive 
na luta armada, o que se demonstrou determinante na queda do regime militar e na construção 
da democracia.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O debate sobre a mulher e sobre a sua participação no meio político é sempre muito 
importante, pois é nítida a existência de um massacre intelectual, moral e físico que, desde 
sempre, dizimou inúmeras mulheres e silenciou muitas vozes. Permitir que a condição dessas 
mulheres seja reconhecida e que, seu papel enquanto atriz do meio político, seja enaltecido e 
não diminuído, é trazer um pouco de justiça para essas mulheres silenciadas em suas lutas. 
Quando se discute o período militar e a instalação de uma ditadura, dificilmente vem a 
memória a atuação de mulheres. Imagina-se, inicialmente, um exército de homens, com suas 
armas, enfrentando manifestantes (também homens) nas ruas das capitais brasileiras. Quando 
se trata da Guerrilha do Araguaia, reproduz-se a imagem de homens armados, numa dicotomia 
esquerda versus direita, deixando de lado aquelas mulheres que, igualmente aos homens, se 
armaram para opor-se ao autoritarismo.Essas mulheres, manifestantes, comunistas e guerrilheiras foram pessoas muito 
humanas, que muitas vezes beiram o esquecimento: foram jovens, muitas delas de classe média 
e universitárias, numa luta talvez utópica, mas cheia de significado. Foram mulheres cientes na 
necessidade de uma nova organização social, inspiradas por experiências comunistas no mundo 
inteiro, que buscaram uma ressignificação da sociedade. Discutir a condição dessas mulheres 
permite uma reflexão acerca dos diferentes papeis de gênero, da violenta opressão que sofreram 
(inclusive por parte de um Estado violento), e da sua invisibilidade na esfera política, mesmo 
na vigência de uma democracia. 
REFERÊNCIAS 
AQUINO, M. A. A especificidade do regime militar brasileiro: abordagem teórica e exercício 
empírico. In: REIS FILHO, D. A. (Org.). Intelectuais, história e política (séculos XIX e 
XX). Rio de Janeiro: 7 Letras, 2000. p. 271-287.
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Sartre: direito e política: ontologia, liberdade e revolução. São 
Paulo: Boitempo, 2016. 
COLLING, Ana Maria. A resistência da mulher à ditadura militar no Brasil. Rio de
Janeiro: Record/Rosa dos Tempos, 1997.
DINIZ, Marco Túlio Mendonça. Contribuições ao ensino do método hipotético-dedutivo a 
A participação das mulheres na oposição ao golpe de 1964: contextualização política e social 
Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão 109
ISSN 2358-6036 – v. 7, p. 101 - 109, 2019
estudantes de Geografia. Geografia Ensino & Pesquisa, vol. 19, n. 2, maio/ago. 2015.
MACIOSEK, Gabriella Candida. Análise da representação das mulheres nas forças armadas 
na mídia brasileira. Anais do EVINCI, UniBrasil, Curitiba, v.3, n.2, p. 771-784, 2017.
MERLINO, Tatiana; OJEDA, Igor (Orgs.). Direito à memória e à verdade: Luta, substantivo 
feminino. São Paulo: Editora Caros Amigos, 2010.
PEIXOTO, Rodrigo Corrêa Diniz. Memória social da Guerrilha do Araguaia e da guerra que 
veio depois. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 6, n. 3, Belém, 
2011.
PRIORI, A., et al. História do Paraná: séculos XIX e XX [online]. Maringá: Eduem, 2012. A 
Ditadura Militar e a violência contra os movimentos sociais, políticos e culturais, p. 199-213. 
ISBN 978-85-7628-587-8.

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