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MODERNISMO CONTEXTO HISTÓRICO: − No Brasil, o termo Modernismo envolve aspectos ligados ao movimento, propriamente dito, à estética e ao período histórico. Desde o início do século, a literatura tradicional, acadêmica e elitizante se mantém ao lado de tendência renovadoras, representadas por escritores como Euclides da Cunha, Monteiro Lobato e Lima Barreto. Com o passar do tempo, a busca pelo novo e as tentativas de renovação da arte brasileira se multiplicam com a promoção de exposições de pintura, escultura modernas e artigos nos jornais, dedicados às tendências vanguardistas europeias − Na Europa, essa vanguarda tem como marca o avanço tecnológico e científico do início do século XX. Nesse período, o cotidiano das pessoas sofre uma verdadeira revolução com a supervalorização do progresso e da máquina. O capitalismo entra em crise financeira, oriundo do conflito, leva à Segunda Guerra Mundial, e nos anos intermediários, conhecidos como “os anos loucos”, as pessoas passaram a conviver com a incerteza e com o desejo de viver somente o presente. Tais experiências despertam o anseio de interpretar e expressar a realidade de forma diferenciada, dando origem aos movimentos da vanguarda europeia. • Futurismo: liderado pelo italiano Marinetti, exalta a velocidade e a máquina; • Cubismo: oriundo da pintura, fraciona a realidade, remontando-a, a seguir, por meio de planos geométricos superpostos, tendo como representantes, por exemplo, Pablo Picasso; • Dadaísmo: com seu líder Tristan Tzara, nega totalmente a lógica, a coerência e a cultura, como forma de oposição ao absurdo da guerra. Tzara toma i termo dadá, que não significa nada, e o aplica à arte que produz, afirmando não reconhecer nenhuma teoria e declarando a morte da beleza. • Surrealismo: lançado em 1924, por André Breton, com o Manifesto do Surrealismo, prega o apego à fantasia, ao sonho e à loucura, além da utilização da escrita automática em que o artista, provocado pelo impulso, registra tudo o que lhe vem à mente, sem preocupação com a lógica. − Essas vanguardas passam a exercer influência sobre os artistas e intelectuais brasileiros. Dessa forma, vão surgindo obras de autores jovem que, descontentes com a tradição acadêmica e parnasiana, demonstram que a literatura brasileira está sofrendo um processe dinâmico de transformação. Três datas marcam as diferentes fases desse movimento, iniciado com a Semana de Ate Moderna. − Certas transformações foram responsáveis pela criação do ambiente propício à instalação das novas ideias, ressaltando-se: o Centenário da Independência e a Primeira Guerra Mundial, que favoreceu a expansão da indústria brasileira, promoveu novas relações políticas, além de abrir espaço para a renovação na educação e nas artes. Deu origem, também, ao questionamento do sistema político vigente, até então comandado pela oligarquia ligada à economia rural. Há, ainda, a grande influência da mão-de-obra imigrante, instalada no Sul, centro de poder da vida econômica e política do país. Outros fatos importantes foram o triunfo da Revolução de Outubro de 1930, cujo levante se deu em 1922, e o fundação do Partido Comunista Brasileiro. − Igualmente relevante, foi a quebra da Bolsa de Valores de Novas Iorque, em 1929, levando à queda do café brasileiro na balança de exporão, nessa mesma data. Tal fato, desestabiliza, no Brasil, o grupo dirigente e abre espaço para o novo, dando legitimidade à arte e à literatura modernas, entendidas, a princípio, como “capricho”. O país vive os últimos anos da República Velha, caracterizada pelo domínio político das oligarquias, formadas pelas grandes propriedades rurais. Em 1922, com a revolta do forte de Copacabana, o Brasil entra num período revolucionário de fato, culminando com a revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas. Características: − O Modernismo tem como característica unificadora o desejo de liberdade de criação e expressão, aliados aos ideais nacionalistas, visando, sobretudo, emancipar-se da dependência europeia. Esse anseio de independência inclui: o vocabulário, a sintaxe, a escolha de temas e a maneira de ver o mundo. Ao rejeitarem os padrões estilístico portugueses, seus criadores cobrem de humor, ironia e paródia as manifestações modernistas, passando a utilizar as expressões coloquiais, próximas do falar brasileiro, promovendo a valorização diferenciada do léxico. − O mais importante é a atualidade, por isso centram o fazer literário na expressão da vida cotidiana, descrita com palavras do dia-dia, afastando-se da literatura tradicional, consagrada ao padrão culto. Um exemplo de incorporação da linguagem oral, na criação poética e descrição de coisas brasileiras, valorizando o prosaico, recoberto de bom humor, é o poema de Mário de Andrade, O poeta come amendoim (1924). Contudo, é preciso ressaltar que não havia imposição de normas e nem tratamento unificado dos temas. − Os modernistas revelam o nacionalismo, através da etnografia e do folclore. O índio e o mestiço passam a ser considerados por sua “força criadora”, capaz de provocar “a transformação da nossa sensibilidade, desvirtuada em literatura pela obsessão da moda europeia”. Cantam, igualmente, a civilização industrial, destacando: a máquina, a metrópole mecanizada e tudo que está marcado pela velocidade. Ao comporem o perfil psicológico do homem moderno, expõem angústias e infantilidades como forma de demonstrar o caráter e a complexidade do ser humano, apoiando-se, para tanto, na psicanálise, no surrealismo e na antropologia. • Mário de Andrade: o A poesia de Mário de Andrade mostra nítido estágios de evolução: seu primeiro livro, Há uma Gota de Sangue em Cada Poema (1917), mostra poemas ainda num estilo mais conservador. A preocupação é usar a poesia enquanto instrumento de paz e denunciar os horrores da primeira guerra mundial. Os livros Paulicéia Desvairada e Losango Cáqui já denotam todas a sua tendência modernista: verso livres, linguagem solta e lírica, nacionalismo exaltado, principalmente em sua paixão declarada em cantar a cidade de São Paulo com toda a sua agitação, a garoa e fumaça. São poemas que mostram a vida quotidiana, a preocupação em descrever simples ideias e emoções, uso da ironia e do poema-piada, a poesia-telegrama, a montagem e a colagem de imagens e divulgação das ideias de vanguarda. O livro Paulicéia Desvariada, primeira obra poética modernista, já continha em seu início o famoso “Prefácio Interessantíssimo”: conjunto de ideias onde são expostas as características do Modernismo. o O livro Clã do Jabuti já denota sua fase mais nacionalista, na busca de uma identidade mais brasileira dentro de sua poesia, com o vasto uso de nosso rico folclore, conciliando as tradições africanas, indígenas e sertanejas. Já sua última fase poética pode ser vista nos livros posteriores, principalmente em Lira Paulistana, onde se tem uma poesia mais madura, pessoal, sem a ironia e a digitação dos primeiros anos do Modernismo. Os poemas nessa fase são marcados por um tom mais solene, sereno e triste. o Em prosa, destaque para os dois romances de Mário de Andrade: Macunaíma e Amar, Verbo Intransitivo. Em Macunaíma está presente todo o seu nacionalismo e sua forte ligação com o folclore. Há uma colagem de anedotas e lendas brasileiras, onde as culturas do norte e do sul convivem juntas. O personagem Macunaíma, anti-herói serve de ponte para a fusão de todas as nossas vertentes culturais, nossas tradições e expressões de linguagem. Em Amar, Verbo Intransitivo, há a denúncia da hipocrisia da elite burguesa de São Paulo, bem como uma profunda análise psicológico dos personagens que retoma as teorias de Freud e desmistifica a relação familiar. O mesmo é contatado em muitos de seus contos, porém com um cenário diferente: bairros paulistas típicos ou suburbanos. o Mário de Andradedeixou ainda uma vasta lista de obras, principalmente a respeito de Música e folclore, bem como correspondências a amigos e intelectuais, reunidas posteriormente sob a forma de livros. • Oswald de Andrade: o Ele manteve-se sempre fiel ao projeto do Modernismo e, sobretudo, às rupturas com os cânones do passado. Sua poesia “pau-brasiil” prime pela linguagem reduzida, telegráfica, coloquial e repleta de humor; uma “poesia brasileira original de exportação”. Sua prosa pode ser dividida em três momentos: crepuscular, relativa ao período de transição para o Modernismo, apresentando já o embrião de uma “prosa cinematográfica”, mas um tanto incerta, revelando imaturidade; parodística e cubista, encontrada no “romance-invenção” Memórias Sentimentais de João Miramar, composto de frases curtas, fragmentos justapostos, montagens, poemas intercaladas e emprego da paródia mascando as peripécias dos heróis e o período experimental do movimento. o Memórias Sentimentais de João Miramar em espacial, encerra simultaneísmo, exposição das “ordens do subconsciente”, riqueza de neologismos, estilo telegráfico e quebra da ordem sintática Seus capítulos são curtíssimos com a condensação de sensações, numa técnica próxima do cinema, representada pelo processo de “colagem rápida de signos”. Essa “técnica cubista” dá “ao estilo de Oswald o que ele tem de mais inesperado e intrigante “, e por ser concentrada se aproxima da poesia, representando o primeiro passo do Modernismo”. o O último momento corresponde à prosa de tese, aplicada ao romance cíclico inacabado, Marco Zero, espécie de romance mural. Contudo, os romances-invenções são representativos do bom Modernismo praticado por Oswald, cuja obra é definida por Alfredo Bosi como “um leque de promessas realizadas pelo meio ou simplesmente irrealizadas”. o As obras poéticas do Pau-Brasil e da antropofagia representam, também, esse Modernismo, satirizando a vida burguesa levada pelos “aristocratas” do café nas grandes capitais. Em Pau-Brasil, o escritor se utiliza da síntese para unir além da vida pré-colonial e colonial brasileira o espaço moderno e essa união, nas palavras de Alfredo Bosi, “define a visão do mundo e a poético de Oswald”. • Manuel Bandeira o A poesia de Manuel Bandeira nasce parnasiana e simbolista e, aos poucos, se distingue como “o melhor verso livre em português”. O poeta transita do Parnasianismo ao Modernismo e experiências concretistas, conservando e adaptando os ritmos e forças mais regulares. o Em sua obra, o aspecto biográfico, marcado pela tragédia e tuberculose, é poderoso, constando até em obras nitidamente modernas, como Libertinagem. Há, ainda, a marca da melancolia, da paixão pela vida e das imagens brasileiras. As figuras femininas surgem envoltas em “ardente sopro amoroso”, enquanto outros poemas tratam da condição humana e finita sem deixar de demonstrar o desejo de transcendência como em Momento num café, Contrição, Maçã, A Estrela e Boi Morto.
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