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CAPA C A P SCENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DESTINADO A CRIANÇAS E ADULTOS COM TRANSTORNOS MENTAIS C A P S Letícia Gouveia Silva CENTRO UNIVERSITÁRIO DO TRIÂNGULO ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 2019 C A P S CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DESTINADO A CRIANÇAS E ADULTOS COM TRANSTORNOS MENTAIS Letícia Gouveia Silva LETÍCIA GOUVEIA SILVA CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL UBERLÂNDIA 2019 Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Triangulo (UNITRI), como requisito para a obtenção do titulo de bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Figura de abertura 1: Última pintura de Van Gogh*. Disponível em: Wikipedia Acessado em: 01/04/2019 * Vinvenct WillemVan Gogh foi um pintor holandês pós impressionista, possuía distúrbios mentais por perturbações epiléticas. Durante suas crises, ele não conseguia pintar devido as suas frequentes e intensas alucinações, mas recusava-se a conviver com os outros doentes mentais. “A única diferença entre a loucura e a saúde mental, é que a primeira é muito mais comum.” Millôr Fernandes Figura de abertura 2: Obra encontrada em um antigo sanatório. O artista era um esquizofrênico. Disponível em: Geekness. Acessado em: 01/04/2019 Resumo Assim como há o avanço de inúmeras tecnologias hoje existentes no mundo desde suas criações, por que não mesclar os avanços arquitetônicos, hospitalares e terapêuticos para se obter um novo parâmetro de projeto? Com este questionamento em pauta, tem-se em mente a correlação com a criação de um projeto de Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) especializado em transtornos mentais destinado à todas as idades. O trabalho desenvolvido em um CAPS é a reintegração do paciente que sofre de algum transtorno na comunidade que o circula. Aqui, será concebido de total plenitude a dignidade aos usuários do espaço, garantindo- lhes segurança, conforto físico e psicológico na realização de suas atividades. O enfoque é proporcionar aos enfermos ambientes agradáveis, convidativos, saudáveis e produtivos, revertendo o pensamento que muitos tem sobre ser um local sóbrio e melancólico. Seguindo as recomendações obrigatórias que um CAPS deve ter para funcionar, e trabalhando em conjunto com a psiquiatria, a psicologia, a arquitetura, grandes resultados serão obtidos para dar a melhor assistência àqueles que necessitam. Figura de abertura 3: Desenho de Eugene Andelsek.* Disponível em: Geekness. Acessado em: 01/04/2019 *Andelsek era um desenhista americano que sofria de esquizofrenia. Este desenho foi criado usando um compasso, régua, e um conta -gotas de colírio para acrescentar cores. Abstract Just as there is the advancement of countless technologies today existing in the world since its creations, why not merge the architectural, hospital and therapeutic advances to get a new project parameter? With this point, we have in mind the correlation with the creation of a Psychosocial Care Center (CAPS) project specializing in mental disorders destined to all ages. The work developed in a CAPS is the reintegration of the patient who suffers from some disorder in the community that surrounds it. Here, it will be fully conceived of the dignity of the users of space, guaranteeing them safety, physical and psychological comfort during their activities. The focus is to provide for the diseased, welcoming, healthy and productive environments, reversing the thought that many people have about being a sober and melancholyc place. Following the mandatory recommendations that a CAPS must have to function, and working together with psychiatry, psychology, architecture, great results will be obtained to give the best assistance to those who need it. Lista de figuras Figura 1: Esquema introdutório Figura 2: Esquema introdutório Figura 3: Franco Basaglia no Brasil Figura 4: Franco Basaglia no Brasil Figura 5: Linha do tempo Figura 6: Linha do tempo Figura 7: Similaridades entre o Hospital de Barbacena e o campo de concentração nazista Figura 8: Estação Bias Fortes, conhecida pelos “trens de doido” Figura 9: Dormitórios do Hospital de Barbacena Figura 10: A loucura e as grades Figura 11: A falta de alimentação retratada no corpo Figura 12: As crianças do colônia Figura 13: Cartilha do censo 2010 Figura 14: Características de Pessoas com Deficiência Intelectual e Psicossocial Figura 15: Representação da localidade de um CAPS Figura 16: Corredor humanizado em Vejle Psychiatric Hospital Figura 17: Corredor humanizado BNA Academy Figura 18: Peter Rosegger Casa de Cuidados Figura 19: Hospital das Clínicas de Uberlândia Figura 20: Pacientes esperam atendimento em corredor Figura 21: Uso da cor verde Figura 22: Uso da cor laranja Figura 23: Uso da cor vermelha Figura 24: Uso da cor azul Figura 25: Uso da cor amarela Figura 26: Uso da cor branca Figura 27: Uso da cor preta Figura 28: Uso da cor lilás Figura 29: Grupos voluntários visitam a Santa Casa da Bahia na ala infantil Figura 30: Esquema elaborado com relação as terapias psicológicas alternativas ao CAPS Figura 31: Esquema elaborado com relação as terapias físicas alternativas ao CAPS Figura 32: Voluntário da Associação Viva e Deixe Viver Figura 33: ONG Patas Therapeutas em uma de suas visitas a Santa Casa de São Paulo Figura 34: Imagem 3D UBS Riacho Fundo Figura 35: Setorização Figura 36: Processo de criação arquitetônica de espaços Figura 37: Planta baixa setorizada e fluxos Figura 38: Planta baixa setorizada Figura 39: Jardim interno Figura 40: Corte Figura 41: Espelho d’agua como mecanismo de conforto Figura 42: Praça aberta Figura 43: Maquete física Figura 44: Vista aérea do hospital infantil Figura 45: Pavimento projetado por Mikyoung Kim Figura 46: Imagem 3d do terraço Figura 47: Vista superior do jardim Figura 48: Planta humanizada Figura 49: Esquema de artifícios Figura 50: Ativador manual de sons Figura 51: Espaços de convivência Figura 52: Painéis de madeira recuperada Figura 53: Caminho pelos painéis luminosos Figura 54: Mezanino no terraço Figura 55: Visão aérea do hospital Figura 56: Vista de um dos jardins internos Figura 57: Planta esquemática setorizada do 1 pavimento Figura 58: Masterplan do hospital com setorização e fluxos Figura 59: Masterplan do hospital com paisagismo Figura 60: Espaço jardim externo Figura 61: Jardim de entrada Figura 62: Visão superior do edifício Figura 63: Corte esquemático Figura 64: Localização de Uberlândia Figura 65: Visão panorâmica da cidade Figura 66: Center Shopping Figura 67: Parque do Sabiá Figura 68: Setores da cidade de Uberlândia Figura 69: Bairros integrados Figura 70: Mapa 3d da cidade com localização dos CAPS Figura 71: Localização do bairro Segismundo Pereira Figura 72: Visão aproximada do bairro Segismundo Pereira Figura 73: Terminal Novo Mundo Figura 74: Terminal Santa Luzia Figura 71: Localização do bairro Segismundo Pereira Figura 72: Visão aproximada do bairro Segismundo Pereira Figura 73: Terminal Novo Mundo Figura 74: Terminal Santa Luzia Figura 75: Mapa de zoneamento da região Figura 76: Mapa satélite aproximado a área de projeto com principais edificações do entorno Figura 77: Principais edificações do entorno Figura 78: Mapa satélite da área com demarcação do terreno Figura 79: Mapa satélite da área e fachadas do terreno Figura 80: Visão Noroeste e Nordeste do terreno Figura 81: Visão Sudeste e Sudoeste do terreno Figura 82: Visão panorâmica Leste e Oeste Figura 83: Carta Solar fachada Norte Figura 84: Carta Solar fachada Leste Figura 85: Carta Solar fachada Sul Figura 86: Carta Solar fachada Oeste Figura 87: Direção dos ventos dominantes Figura 88: Mapa topográfico Figura 89: Corte topográfico Figura 90: Mapa da malha viária Figura 91: Mapa dos espaços públicos e privados Figura 92: Mapa perfil fundiário Figura 93: Mapa dos espaços construídos Figura 94: Mapa de uso e ocupação do solo Figura 95: Empreendimentos Avenida Francisco RibeiroFigura 96: Mapa de gabaritos Figura 97: Atribuições das unidades assistenciais de saúde Figura 98: Esquema da distribuição dos blocos Figura 99: Setorização e fluxos Figura 100: Setorização 3d Figura 101: Disposição não linear do edifício Figuras de abertura e tabelas Figura 1: Última pintura de Van Gogh Figura 2: Obra encontrada em um antigo sanatório. Figura 3: Desenho de Eugene Andelsek. Figura 4: Watercolor background. Figura 5: Watercolor background. Figura 6: Watercolor background. Figura 7: Watercolor background. Figura 8: Watercolor background. Figura 9: Desenho de Louis Wain. Tabela 1: Divisão dos modelos de CAPS Tabela 2: Uso das cores e suas influencias segundo o FengShui Tabela 3: 4 municípios mineiros mais populosos Tabela 4: Legislação de zoneamento urbano Tabela 5: Atribuições dos serviços setorizados Tabela 6: Programa de necessidades INTRODUÇÃO PARTE 1 | ARQUITETURA HOSPITALAR PARTE 2 | PARALELOS 17 23 29 35 55 57 63 69 21 Figura de abertura 4: Watercolor background. Fonte: PNG Tree Aspectos históricos Raízes hospitalares: Holocausto Brasileiro Manicomialidade: ambiência e alternativas Concurso para UBS Riacho Fundo Sky Crown Garden Hospital Infantil Nelson Mandela PARTE 3 | INSERÇÃO PARTE 4 | CORPÓREO CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS APÊNDICE 77 79 86 109 111 118 121 122 125 Aproximação Posição Necessidades Partido Introdução Diante da busca por um programa que tivesse como foco primordial sanar um espaço arquitetônico em que sejam exploradas a solução técnica de uma problemática pré- existente com foco no bem estar e sensações humanas, é que foi escolhido este tema. Desde os primórdios, a sociedade possuía uma mentalidade obscura quanto aos doentes mentais, em que sua cura estava relacionada a salvação de sua alma, ou seja, havia uma ligação entre instituições religiosas. Por meio dos avanços da medicina e da psiquiatria, que serão abordados neste trabalho posteriormente de maneira explicativa, é que houve uma preocupação quanto a essas pessoas. Atualmente existem diversos locais destinados a tratamentos terapêuticos para dar suporte à população que necessita de tais cuidados, excluindo as repugnantes medidas adotadas em um passado próximo. A partir de uma metodologia indireta, baseando-se na leitura de dissertações, livros, documentários, e filmes, é possível entender a trajetória da arquitetura hospitalar bem como a abordagem psiquiátrica dos enfermos ao longo dos anos, incluindo todo o programa de necessidades. Ademais, é imprescindível o uso das normas da Vigilância Sanitária nestes ambientes hospitalares. Somados, é possível redigir o embasamento teórico deste trabalho para posteriormente ser implantado no projeto. Nise da Silveira foi uma mulher de grande influencia existente na área da psiquiatria, pois, além de ter sido uma das primeiras mulheres a se formarem em medicina, posteriormente especializada em psiquiatria, foi uma revolucionária quanto aos antigos manicômios, dando início à luta antimanicomial. Nise defendia a loucura necessária para se viver; ela se rebelou perante a gravidade da situação dentro dos hospícios da época que contava com torturas, e ficou presa entre 1934 a 1936, denunciada por uma colega de trabalho por envolvimento com o comunismo. Em 1944, após recusar-se a seguir o tratamento da época por meio de tortura, ela foi transferida para o Setor de Terapia Ocupacional do Pedro II, e, a partir disso, ela implementou a Terapia Ocupacional no tratamento psiquiátrico. 17 . psiquiátrico. Graças à ela, doentes mentais puderam ser autores de algumas obras que encontram-se no Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro. De acordo com Nise, o canal de comunicação com paciente esquizofrênicos graves, que até o momento não se comunicavam através da fala, foi direcionada às artes plásticas, dando “voz” às angustias internas que estavam vivenciando. Além da arte introduzida no tratamento, ela também encorajou os pacientes a conviverem com animais domésticos como cães e gatos durante o tratamento, ocasionando em uma afetividade mútua, antes não imaginável. É notória a importância dos métodos usados por ela nos hospitais, uma vez que faz uso dos avanços da medicina psiquiátrica. Conclusivamente, também fazendo uso da metodologia direta, através de visitas técnicas ao CAPS X em Uberlândia e realização de entrevistas a funcionários que trabalham no local e a psicólogos, passa a existir uma preocupação perante a estes locais na cidade, visto que os CAPS existentes aqui, estão alocados em antigas residências alugadas pela prefeitura. Devido a este fato, tais estabelecimentos não estão totalmente propícios para atender com eficiência as necessidades requeridas, consequência de uma má adaptação do espaço antigo. Consequentemente não há acessibilidade no local para alguns deficientes e o espaço não suporta de maneira integra as atividades propostas. Nas duas páginas seguintes, há um esquema (figura 1) realizado pela autora de modo a sintetizar com mais clareza a parte introdutória deste trabalho, seguido de algumas referências utilizadas. 1818 19 1 3 Apresentação do corpóreo Necessidades do programa; O terreno e suas condicionantes; Conceito da proposta e concepção; Estudo ambiental; Apresentação do projeto; Compreensão do usuário, histórico e entendimento das normasPesquisa bibliográfica Pesquisa história sobre o assunto no mundo e no Brasil; Estudo sobre conceitos psicológicos e psiquiátricos das pessoas com deficiência mental; Apresentação dos Centros de Atenção Psicossocial; Estudo da arquitetura hospitalar e sua humanização como fortalecedor do processo de cura; Estudo da acessibilidade aplicada; Entendimento dos estudos para projeção do edifício 19 Figura 1: Esquema elaborado pela autora de forma a sintetizar a parte introdutória do trabalho. Fonte: a autora. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Resolução RDC nº 50 (2002) Politica Nacional de Humanização Ministério da Saúde Franco Basaglia Phillipe Pinel Nise da Silveira Nise da Silveira 20 2 Análise da área de projeto Estudo do contexto regional; Diagnóstico da cidade de Uberlândia, análise da legislação existente, morfologia; urbana, analise ambiental e infraestrutura urbana; Apresentação da demanda da cidade de Uberlândia sobre os CAPS; Estudo de um raio de 500m da área de projeto a fim de entender o seu funcionamento através de visita em campo a área; O terreno e suas características topográficas; Análise em campo e estudos de caso Pesquisa qualitativa Pesquisa quantitativa Análise urbana 20 Figura 2: Esquema elaborado pela autora de forma a sintetizar a parte introdutória do trabalho Fonte: a autora.. Entrevistas concebidas a autora Dados estatísticos Legislação Urbana da cidade de Uberlândia com relação a área de inserção 21 Figura de abertura 5: Watercolor background. Fonte: PNG Tree PARTE 1 Arquitetura Hospitalar A arquitetura hospitalar é um campo difícil, pois o hospital reúne, em um único prédio, diferentes funções, algumas incompatíveis entre si. Mas, o que a torna ainda mais difícil é que temos que desenhar um edifício capaz de acolher, de forma digna, as pessoas, quando se encontram mais debilitadas e carentes de todo o conforto físico e mental que a arquitetura pode proporcionar. (TOLEDO, [19--?]) 22 1.1) Aspectos históricos O entendimento por doença mental sofreu inúmeras transições ao longo dos anos na história da humanidade, bem como a nomeação do espaço que servira de abrigo e amparo aos doentes ou necessitados dos cuidados médicos. Asylum, sanatório e manicômio, foram alguns dos diversos nomes que estes locais eram denominados. Ao analisar-se a linha do tempo (ilustrado pela autora na pagina x), no período da antiguidade clássica, a justificativa para as doenças mentais estava relacionada a ação sobrenatural. Os filósofos gregos propuseram uma ideia organicista* para esta questão, e, com isso, passou a existir um apoio aos doentes mentais. No entanto,no fim da Idade Média a concepção foi totalmente alterada: esses indivíduos foram vistos como possuídos pelo demônio, consequentemente começaram a aprisionar essas pessoas, sendo submetidos a tortura, Os primeiros hospícios na Europa datam do século XV. Já no século XVII, já proliferados, os hospícios eram locais que abrigavam doentes mentais, marginalizados, e cidadãos excluídos pela sociedade (mendigos, portadores de doenças etc.). Contudo, no século XVIII surge Phillippe Pinel** modificando a ideia dos manicômios e libertando os doentes das correntes. Para ele, deveria haver uma reeducação do paciente impondo respeito as normas e desencorajando-o de más posturas. Porém, com o passar dos anos, passa a existir uma leitura equivocada do pensamento de Pinel, que propunha um equilíbrio entre firmeza e gentileza para com os necessitados. Ou seja, passaram a adotar a tortura como um método de correção distorcido da ideia original, como banhos frios, eletrochoques etc. A ideia de submissão ainda persistia mesmo no século XX. No Brasil, os hospitais psiquiátricos surgiram de acordo com a influencia da psiquiatria francesa e o tratamento moral. Em 1853 foi construído o Asilo Pedro II, no Rio de Janeiro; em 1884 foi inaugurado o Hospício São Pedro de Porto Alegre (atual Hospital Psiquiátrico de São Pedro). * Conceito organicista: explicar o comportamento em termos físicos – os biologistas. ** Phillippe Pinel (1745-1826): francês, influenciado pelos ideais do iluminismo e da revolução francesa, Pinel, considerado o pai da psiquiatria, foi um dos precursores do ato de libertar os pacientes inseridos nos manicômios das correntes, devolvendo-lhes a liberdade de movimento. 23 A partir de todo esse pretexto, nota-se que o doente mental tem sua total autonomia revogada, tornando-se vulnerável ao mundo a sua volta. Não bastando a doença em si, surge a preocupação com os que o rodeiam e suas metodologias de “correção”, como descreve Ugolotti abaixo. Em Minas Gerais, nesta época passou a existir algumas alternativas para os doentes mentais, como anexos para loucos (inseridos nas Santas Casas de Misericórdia). Barbacena foi contemplada com a instalação de um hospital especializado em psiquiatria em 1903. Nos primeiros 30 anos o hospital funcionava corretamente, tornando-se um centro de referencia para internação de pacientes. No entanto, o número de enfermos aumentava drasticamente, ocasionando mudanças no local para atender a todos, chegando a abrigar mais de quatro mil detentos. O que muitos não esperavam é que isso era o início do Holocausto Brasileiro que será discorrido neste trabalho posteriormente. No ano de 1961, Franco Basaglia* atuou na luta antimanicomial na Itália. Em Trieste, o tratamento hospitalar e manicomial deu-se origem a uma rede de tratamento que oferecia centros de convivência, moradias assistidas, inserção de emergência psiquiátrica em hospital geral, dentre outros serviços de atenção comunitária. Mais tardar, a reforma psiquiátrica foi um movimento que se originou após o fim da Segunda Guerra Mundial nos países ocidentais. Com o objetivo de desospitalizar e inserir o doente mental novamente na sociedade, buscava alterações nas formas de tratamento utilizadas por alternativas humanizadas. Tal questão é abordada no Brasil em 1970 e as mudanças começaram a ocorrer: como alternativa às internações, foi criado o ambulatório, enquanto que em meados de 1990 o governo participa de tal "Eles são mais mal tratados que os criminosos; eu os vi nus, ou vestidos de trapos, estirados no chão, defendidos da umidade do pavimento apenas por um pouco de palha. Eu os vi privados de ar para respirar, de água para matar a sede, e das coisas indispensáveis à vida. Eu os vi entregues às mãos de verdadeiros carcereiros, abandonados à vigilância brutal destes. Eu os vi em ambientes estreitos, sujos, com falta de ar, de luz, acorrentados em lugares nos quais se hesitaria até em guardar bestas ferozes, que os governos, por luxo e com grandes despesas, mantêm nas capitais." (Esquirol, 1818, apud Ugolotti, 1949) * Franco Basaglia (1924 – 1980) foi um psiquiatra italiano. Responsável por promover e influenciar uma importante reforma no sistema de saúde mental italiano e em outros países. 24 em 1970 e as mudanças começaram a ocorrer: como alternativa às internações, foi criado o ambulatório, enquanto que em meados de 1990 o governo participa de tal reforma, regulamentando os serviços de atendimento extra hospitalares. Por fim, a reforma no Brasil firmou-se definitivamente em Abril de 2001, graças à Lei Paulo Delgado (baseada na lei 180 italiana). LEI Nº 10.216, DE 06 DE ABRIL DE 2001 - define novas diretrizes para o tratamento de doenças mentais no Brasil, que traz a responsabilidade para o Estado de cuidar e tratar doentes mentais, em instituições próprias e com a participação da família. São assegurados os tratamentos sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra. Com os pacientes sendo tratados em ambientes terapêuticos pelos meios menos invasivos possíveis, recebendo informações a respeito da doença e dos tratamentos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). LEI ITALIANA Nº 180 DE 13 DE MAIO DE 1978 - adota normativamente os pressupostos do movimento anti-institucional (o fechamento dos manicômios e a criação de serviços alternativos na comunidade); criação de regras rígidas quando da necessidade de tratamento involuntário e também proíbe a internação psiquiátrica; construção de novos hospitais psiquiátricos. A arquitetura começa a ser vista como um papel primordial a fim de se obter um ambiente hospitalar digno e adequado ao processo de cura, assim como afirma Foucault em uma de suas passagens, destacando a função de cura do hospital. A arquitetura hospitalar é um instrumento de cura do mesmo estatuto que um regime alimentar, uma sangria ou um gesto médico. O espaço hospitalar é medicalizado em sua função e em seus efeitos. Esta é a primeira característica da transformação do hospital no final do século XVIII . (Foucault, 1979: 109). 25 As propostas de Franco Basaglia finalmente passaram a gerar influencia no país, posteriormente ocasionando, como ponto de partida, a criação dos Centros de Atenção Psicossocial, Além disso, houve uma reestruturação do Serviço de Atendimento ao Alcoolista, tornando-se um hospital sem internação. Ademais, pode-se citar mais três serviços, como o Programa de Saúde da Família (PSF), o Centro de Convivência e o Ambulatório de Saúde Mental, ocasionando o processo de desospitalização. Ainda hoje existem diversas palestras, seminários e afins com relação a metodologia utilizada por Basaglia. Em meados de 1979, Basaglia esteve no Brasil, especificamente na Comunidade Terapêutica Enfance e Instituto de Psiquiatria Social, fotografado por Rogelio Casado (figuras 3 e 4). “Foi um momento inesquecível da reforma psiquiátrica antimanicomial brasileira, marcando a trajetória de jovens aspirantes à psiquiatria social”, (Casado, 2015). Figura 4: 35 anos de Franco Basaglia no Brasil, na Comunidade Terapêutica Enfance e Instituto de Psiquiatria Socia Fonte: Rogelio Casado Figura 3: Franco Basaglia na Comunidade Terapêutica Enfance e Instituto de Psiquiatria Social Fonte: Rogelio Casado 26 Os “loucos da cidade” do Rio de Janeiro foram diagnosticados como doentes mentais merecedores de um espaço social digno a sua reintegração e tratamento Hospício Pedro II (1º Hospício brasileiro), dominado pela Igreja Católica. Com a Proclamação da República, os médicos assumem e o local é administrado pelo Poder Público, renomeando o para Hospício Nacional de Alienados. Ampliação da estrutura manicomial no país através de colônias para os doentes. Utilização do trabalho como tratamento. 1830 1852-1890 1920Intensificação das técnicas de eletroconvulsoterapi a, choque, lobotomias. 1930-1950 Início da privatização: o Estado passa a comprar serviços de saúde no setor privado 1960 Inviabilidade do modelo privatista para manter a questão financeira do Estado. 1970 27 27 Nas figuras 5 e 6 a seguir, foi-se criado uma linha do tempo pela autora com embasamento no texto anteriormente aqui discorrido e suas devidas referências, de maneira a sintetizá-lo. Figura 5: Linha do tempo do avanço da psiquiatria de 1830 a 1970 Fonte: a autora 1º Congresso Brasileiro de Psicanálise de Grupos e Instituições no Rio de Janeiro. 1º Congresso Nacional de Trabalhadores em Saúde Mental em São Paulo. II Encontro Nacional de Trabalhadores de Saúde Mental em Salvador. 19791978 5º Conferência Nacional de Saúde em Brasília, que impulsionou politicamente a Reforma Psiquiátrica. 1980 1986 1º Conferência Nacional de Saúde Mental (influencia italiana); 2º Congresso Nacional de Trabalhadores da Saúde Mental; Criação dos Núcleos de Atenção Psicossocial, Centros de Referência em Saúde Mental, Centros de Atenção Psicossocial, Moradias Assistidas, Hospitais-dia; 1º CAPS em São Paulo: CAPS Itapeva. 1987 Projeto de Lei que propõe a extinção dos manicômios e sua substituição por moradias de atendimento. Lei 10.216; 3º Conferência Nacional de Saúde Mental em Brasília destacando a Reforma Psiquiátrica. 2001 28 Figura 6: Linha do tempo do avanço da psiquiatria de 1978 a 2001 Fonte: a autora 1.2) Raízes: Holocausto brasileiro 1933, Alemanha. De repente, como um sopro, parece que voltamos à época dos temidos campos de concentração nazista (ilustrado na figura 7), à época em que Hitler tomou o poder alemão e extinguiu inúmeros inocentes, apenas por serem contrários ao poder ou serem judeus. É assim que resume a canção de Sueli acima, uma das pacientes do Hospital de Barbacena. O Hospital Colônia de Barbacena, localizado na cidade de Barbacena, em Minas Gerais, teve seu início no ano de 1903. A cidade recebeu a denominação de “cidade dos loucos”, por ser constituída de sete instituições psiquiátricas inseridas em sua localidade. Inicialmente fora criado como um Sanatório*, no entanto, pouco depois recebeu a nomeação de Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, tornando-se “referência” para o país em psiquiatria. O que muitos não sabiam, é justamente como eram tratados os então “enfermos” e “desajustados”, visto que eram encaminhados para o local aqueles diagnosticados com tristeza, rebeldia etc. A verdade veio à tona em meados de 1980, quando o psiquiatra italiano Franco Basaglia denominou a instituição como um campo de concentração nazista, devido ao tratamento * Sanatórios: comuns em épocas antigas, eram edificações direcionadas ao tratamento de doentes com tuberculose, excluindo-os da sociedade. “Ô seu Manoel, tenha compaixão Tira nós tudo desta prisão Estamos todos de azulão Lavando o pátio de pé no chão Lá vem a boia do pessoal Arroz cru e feijão sem sal E mais atrás vem o macarrão Parece cola de colar bolão Depois vem a sobremesa Banana podre em cima da mesa E logo atrás vem as funcionarias Que são umas putas mais ordinárias.” (ARBEX, D. Holocausto brasileiro. São Paulo. Editora: Geração Editorial. 2013) 29 instituição como um campo de concentração nazista, devido ao tratamento desumano direcionado aos pacientes. Basaglia impôs o fechamento do local, porém isso só ocorreu no final da década de 80. No livro “Holocausto Brasileiro”, de Daniela Arbex*, pode-se perceber claramente a relação das medidas adotadas entre um campo de concentração nazista e o Colônia. Havia o “trem de doido”** (figura 8) (denominação famosa após Guimarães Rosa descreve-lo em seu poema apresentado na próxima pagina), que era responsável por levar os indivíduos de todo o país (com uma viagem única de somente ida) para o local, sendo um real campo de extermínio para os pacientes. Assim que chegavam ao local, eram separados em ala feminina, masculina e infantil, posteriormente alguns eram direcionados à trabalhos forçados. Eram obrigados à humilhação ao ficarem nus para o banho coletivo e, em seguida, recebiam os “azulões” (similar ao pijama azul usado nos campos de concentração nazista. Figura 7: Similaridades entre o Colônia e um campo de concentração nazista. Fonte: Luiz Alfredo. * Daniela relata, em seu livro, de maneira bem descritiva os acontecimentos do hospital em Barbacena, e inclui uma vasta quantidade de entrevistas aos sobreviventes do holocausto. ** O “trem de doido” foi o transporte férreo designado por levar os enfermos ao hospital quase que diariamente. 30 “A hora era de muito sol – o povo caçava jeito de ficarem debaixo da sombra das árvores de cedro. O carro lembrava um canoão no seco, navio. A gente olhava: nas reluzências do ar, parecia que ele estava torto, que nas pontas se empinava. O borco bojudo do telhadilho dele alumiava em preto. Parecia coisa de invento de muita distância, sem piedade nenhuma, e que a gente não pudesse imaginar direito nem se acostumar de ver, e não sendo de ninguém. Para onde ia, no levar as mulheres, era para um lugar chamado Barbacena, longe. Para o pobre, os lugares são mais longe.” (ROSA, G. Primeiras Estórias: Sorôco, sua mãe, sua filha. Editora: José Olympio. 1962.) direcionados a trabalhos forçados, além de que eram obrigados à humilhação ao ficarem nus para o banho coletivo e, em seguida, recebiam os “azulões” (similar ao pijama azul usado nos campos de concentração nazista). Ali não existia um sistema de água encanada, leitos hospitalares com maca, e muito menos uma alimentação digna, causando uma grande quantidade de pessoas anoréxicas. Os enfermos eram obrigados a dormir sobre folhas (figura 9) e até mesmo empilhados, afim de reduzir o frio com o calor humano. Além disso, precisavam lidar com torturas físicas e psicológicas, como terapia de choque, estupros – grávidas se sujeitavam a cobrir-se de fezes afim de proteger a si e a seu filho dos funcionários e outros pacientes – e até mesmo com o frio intenso de Barbacena (consequentemente muitos não conseguiam sobreviver às noites frias e amanheciam sem vida). Direitos Humanos era algo inexistente aos ali presentes. O cemitério criado ao lado do hospital já não suportava a extensiva demanda de corpos e, com isso, deu-se inicio ao tráfico de corpos. Faculdades de medicina, enfermagem, e até odontologia entravam neste comércio para encomendar os corpos das vítimas para posterior estudo, principalmente a Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais. Figura 8: Estação Bias Fortes, onde chegava o “trem de doido”, originada pelo conto “Sorôco, sua mãe, sua filha”, de 1962, descrito por Guimarães Rosa de maneira poética. Disponível em: ShortHand Social Acessado: 26/02/2019 31 Figura 9: A imagem retrata o espaço destinado aos leitos cobertos de grama e folhagens. Fonte: Luiz Alfredo 32 Vale ressaltar que 70% dos diagnosticados como enfermos, não haviam sequer uma doença mental. Na época, a instituição funcionava basicamente como um grande depósito humano. Eram levados para lá pessoas consideradas alcoólatras, homossexuais, pobres, adolescentes rebeldes e pessoas rejeitadas pelas famílias. Além de tudo citado anteriormente, ainda tem-se um ponto totalmente imoral e infeliz: a situação das crianças. Aquelas que ali cresceram, nunca aprenderam a ler, a escrever e muito menos puderam desfrutar das brincadeiras de criança. Eram tratadas como qualquer outro adulto. Com relação à imprensa, a revista “O Cruzeiro” realizou uma matéria com fotos feitas pelo fotografo Luiz Alfredo (figuras 9, 10, 11 e 12) na década de 1960, como uma denúncia à o que acontecia no local, mas acabou sendo esquecidodepois de um tempo. Em 1980 o tema voltou à tona em novos meios de comunicação, atraindo olhares de nomes importantes da psiquiatria e impulsionando a reforma psiquiátrica no país. Nos dias atuais, o local ainda funciona sob administração da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), e foi renomeado como Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, com aproximadamente 160 pacientes da época. Das 33 crianças internadas, apenas quatro ainda estão vivas, e foram transferidas para o Centro Psíquico da Adolescência e Infância, em Belo Horizonte. Também foram criadas casas terapêuticas para abrigar os antigos internos que sobreviveram, dando-lhes melhores condições de vida, bem como oferecendo-lhes seus direitos humanos anteriormente revogados. Por fim, como forma de marcar a história e lembrar a sociedade de tudo o que aconteceu, criou-se o Museu da Loucura em 1996, no torreão do antigo Hospital Colônia, dedicando-se a relembrar a história que muitos tiveram a infelicidade de estar presente. A passagem abaixo de Wellerson Durães, no artigo de Daniela Arbex, discorre de sua visita ao hospital enquanto estudante de Neuropsiquiatria Infantil. Figura 10: A loucura e as grades Fonte: Luiz Alfredo Figura 11: A falta de alimentação adequada é refletida na magreza dos pacientes Fonte: Luiz Alfredo 33 “Wellerson Durães de Alkmin, 59 anos, membro da Escola Brasileira de Psicanálise e da Associação Mundial de Psicanálise, jamais esqueceu o primeiro dia em que pisou no hospital em 1975. “Eu era estudante do Hospital de Neuropsiquiatria Infantil, em Belo Horizonte, quando fui fazer uma visita à Colônia ‘Zoológica’ de Barbacena. Tinha 23 anos e foi um grande choque encontrar, no meio daquelas pessoas, uma menina de 12 anos atendida no Hospital de Neuropsiquiatria Infantil. Ela estava lá numa cela, e o que me separava dela não eram somente grades. O frio daquele maio cortava sua pele sem agasalho. A metáfora que tenho sobre aquele dia é daqueles ônibus escolares que foram fazer uma visita ao zoológico, só que não era tão divertido, e nem a gente era tão criança assim. Fiquei muito impactado e, na volta, chorei diante do que vi.” ARBEX, Daniela. Holocausto Brasileiro: 50 anos sem punição. 2011. https://tribunademinas.com.br/noticias/cidade/20-11-2011/holocausto-brasileiro-50-anos-sem- punicao.html Acesso em: 26/02/2019. Figura 12: As crianças do Colônia Fonte: Luiz Alfredo 34 1.3) Manicomialidade: ambiência e alternativas Inicialmente, é necessário entender algumas questões com relação às pessoas que fazem uso deste espaço. Para o Estatuto da pessoa com deficiência (2016), a denominação correta para estes indivíduos é “Pessoa com Deficiência” (PCD), sendo este resultado de inúmeras terminologias utilizadas anteriormente, hoje consideradas inadequadas. Para crianças, ainda é valido usar o termo “especial”. Atualmente, no brasil há 23,9% (45 milhões de pessoas) da sociedade diagnosticada com algum tipo de deficiência (visual, auditiva, mental, intelectual ou motora), como apresentado no gráfico de figura 13, com dados retirados do IBGE de 2010. Ao longo dos anos, a sociedade havia criado parâmetros sociais que excluíam e descriminalizavam pessoas “anormais”. Desde a antiguidade, como fora apresentado neste trabalho, essas pessoas, em especifico com algum tipo de deficiência mental, sofreram muito preconceito e dificuldade de aceitação. Até hoje ainda é possível encontrar um certo preconceito para com elas, mas, no entanto, é um processo que obtém avanços e obteve diversas melhorias e garantias de direitos das PCDs. Segundo o Estatuto da Pessoa com Deficiência. de Lei nº 13.146/2015), pode-se identificar uma PCD aquela que permanentemente não possui capacidade plena para realizar determinadas atividades consideradas “normais” para a sociedade, devido a perda total ou parcial de sua estrutura ou função. “Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.” (Estatuto da Pessoa com Deficiência. 2015, p. 08) * A região do sudeste é onde mais possui a incidências dessas pessoas. Assim sendo, é imprescindível a criação de locais adequados que irão atender as necessidades dessa parcela da população. Figura 13: Cartilha do Censo 2010 35 Intelectual Redução dos padrões intelectuais, anterior aos 18 anos de idade, considerando-os abaixo da media. Classifica-se quanto ao grau de limitação: nível leve, moderado, severo ou profundo. Associam-se a duas ou mais limitações nas áreas de habilidades como comunicação, socialização, autonomia, adaptação, segurança e cuidados pessoais. (decreto 5.296/04). Ou seja, são deficiências causadas por algumas doenças que limitam o desenvolvimento da pessoa e modifica o sistema nervoso. Exemplos: - Síndrome de Down - Síndrome do X Frágil - Síndrome de Angelman Psicossocial Este, em contrapartida, não é denominado como um distúrbio psicológico, mas por sequelas ocasionadas por um transtorno mental, bem como aquelas desencadeadas por estados, como: - Esquizofrenia - Transtorno bipolar - Depressão - Epilepsia - Transtorno por uso de álcool e drogas De acordo com a Cartilha dos Direitos das Pessoas com Deficiências (p. 9-13, 2013), a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência garante o acesso a saúde sem discriminação e ainda especializado às suas necessidades. Dessa forma, deve ser oferecido serviços específicos aos pacientes, como diagnostico e intervenção precoce, de maneira a prevenir deficiências adicionais. Ainda implica que os profissionais. Figura 14: Esquema que apresenta as características de Pessoas com Deficiência Intelectual e Psicossocial. Fonte: A autora, com base no artigo 5º do decreto 5296/2004 Além disso, segundo o artigo 5º do decreto 5296/2004, as PCDs são classificadas em: auditiva, física, intelectual, visual e múltipla deficiência. Por sua vez, será discorrido na figura 14 de maneira prática somente aqueles que dizem questão da proposta deste trabalho . 36 oferecido serviços específicos aos pacientes, como diagnostico e intervenção precoce, de maneira a prevenir deficiências adicionais. Ainda implica que os profissionais devam ser qualificados, recebendo instruções previas, relacionando-se as atuais praticas de humanização que será discorrido no decorrer do trabalho. Além de tudo, também garante o direito a educação, a acessibilidade, ao lazer, e a liberdade. Criados para superar o modelo traumático asilar posterior a reforma psiquiátrica, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) foram feitos como pontos estratégicos da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), do Sistema Único de Saúde (SUS). Tem como objetivo primordial atender a população com deficiência mental ou psicossocial em sua área de abrangência, oferecendo acompanhamento clínico e reabilitação* social através de atividades comunitárias, acesso ao lazer e exercícios de direito. Além disso, visa criar um novo parâmetro de espaço para pessoas que sofrem com algum transtorno psíquico, seja este gerado por um transtorno mental, dependência de álcool e drogas ou outras situações clinicas que geram obstáculos para que esses indivíduos criem laços sociais ou realizem projetos de vida. Estes espaços funcionam como um método substitutivo às internações em hospitais psiquiátricos antiquados, como foi em Barbacena, em que o paciente perdia totalmente os laços familiares e sociais devido as internações de longa data. Levando em consideração o altíssimo teor social que estes ambientes possuem, é imprescindível a projeção de um local acolhedor para apoiar e ajudar os que sofrem de algum transtorno mental ou experiencias traumáticas de sofrimento. Ademais, os espaços visam promover interações sociais entre eles e a comunidade local afim de existir uma reintegração. Seu funcionamento pode destinar-se a funções diurnas,que possibilitem o usuário frequentar o serviço diariamente e retornar ao seu lar após as atividades, ou requerer um cuidado intensivo** devido a algum transtorno mental severo que justifique sua permanência noturna. Nestes espaços, são oferecidos diversas atividades terapêuticas, com auxilio de uma equipe composta por psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, enfermeiros, terapeutas, educadores artísticos e físicos. * No contexto de reabilitação, o indivíduo deixa de ser considerado um “paciente”, como quem espera pelo tratamento, e passa a se tornar um “usuário” da rede. ** A internação deve se prolongar exclusivamente o tempo necessário para que aja o reestabelecimento da desordem psicológica do paciente. Esse tempo em geral não passa de 3 dias e qualquer internação de maior período não se justifica. 37 Na tabela abaixo, criada pela autora, tem-se a explicação dos CAPS e como são divididos, levando em consideração o público, a população do município e horários de funcionamento: Dentre eles, resumidamente, o CAPS III é destinado a pacientes com transtornos mentais e permite internação, além de funcionar durante 24 horas diariamente. CAPS I CAPS II CAPS III CAPS infantil CAPS álcool e droga Público Atendimento geral Atendimento geral Atendimento geral Especializado no atendimento de crianças e adolescentes Especializado no atendimento de usuários de álcool e drogas População mínima para implantação do serviço Entre 20.000 a 70.000 habitantes Entre 70.000 e 200.000 habitantes Acima de 200.000 habitantes Acima de 200.000 habitantes Acima de 200.000 habitantes Funcionamento Dias comerciais, das 8 às 18:00 Dias comerciais, das 8 às 18:00 ou até as 21:00 24 horas diariamente, incluindo feriados e finais de semana Dias comerciais, das 8 às 18:00 ou até as 21:00 Dias comerciais, das 8 às 18:00 ou até as 21:00 Tabela 1: Divisão dos modelos de CAPS Fonte: a autora 38 De acordo com o Manual de Estrutura Física dos Centros de Atenção Psicossocial e Unidades de Acolhimento (2013, p. 17), do Ministério da Saúde (2013), esses ambientes devem considerar; - a afirmação da perspectiva de serviços de portas abertas, no sentido literal e simbólico: espaços e relações de “portas abertas”;* - a disponibilidadee o desenvolvimento de acolhimento, cuidado, apoio e suporte; - a configuração de um serviço substitutivo, territorial, aberto e comunitário - espaços que expressem o “cuidar em liberdade” e a afirmação do lugar social das pessoas com a experiência do sofrimento psíquico e da garantia de seus direitos; - a atenção contínua 24 horas compreendida na perspectiva de hospitalidade; - a permeabilidade entre “espaço do serviço” e os territórios no sentido de produzir serviços de referência nos territórios.(Ministério da Saúde, 2013) - respeito aos direitos humanos, garantindo a autonomia e a liberdade das pessoas; promoção da equidade, reconhecendo os determinantes sociais da saúde; - combate a estigmas e preconceitos; - garantia do acesso e da qualidade dos serviços, ofertando cuidado integral e assistência multiprofissional, sob a lógica interdisciplinar; - atenção humanizada** e centrada nas necessidadesdas pessoas; - desenvolvimento de atividades no território, que favoreça a inclusão social com vistas à promoção de autonomia e ao exercício da cidadania; - ênfase em serviços de base territorial e comunitária, com participação e controle social dos usuários e de seus familiares; - desenvolvimento da lógica do cuidado para pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, tendo como eixo central a construção do projeto terapêutico singular”. . (Ministério da Saúde, 2013) * Este mecanismo tem como objetivo integrar o espaço hospitalar a comunidade local, afastando antigos parâmetros sobre esses locais serem assimilados a uma prisão. ** A humanização preza um relacionamento entre profissional e paciente de maneira mais humanitária e amigável, como forma de fazer com que seu tratamento seja mais tranquilo. Além disso, é imprescindível focar em algumas diretrizes da RAPS, segundo o Manual de Estrutura Física dos Centros de Atenção Psicossocial e Unidades de Acolhimento (2013, p. 6): 39 Para facilitar o acesso do enfermo ao ambiente do CAPS, é necessário que o terreno selecionado esteja inserido em uma área mais residencial, possuindo um entorno acessível (transporte público) e seja bem localizado, ou seja, que ofereça uma diversidade de pontos estratégicos por perto, tais como comércio local, serviços próximos, espaços destinados a cultura e ao lazer, a fim de facilitar o contato do paciente com a comunidade* local, bem como a inserção da mesma com o ambiente hospitalar. Além disso, é preferível a alocação do edifício em vias locais, objetivando um menor fluxo veicular. A figura 15 representa um local característico para uma boa inserção do CAPS, como discorrido acima. * Inserido em uma zona sem um alto trafego veicular e com um apoio comunitário, a relação do CAPS com os moradores da região pode se tornar mais forte, inspirando as pessoas a visitarem o local e participarem das oficinas junto aos usuários e pacientes da rede. Além disso, com o apoio desses locais, os próprios pacientes podem trabalhar com a sua liberdade e autonomia e usufruir desses espaços comunitários, CAPS RESIDENCIA RESIDENCIA CULTURA E LAZER CULTURA E LAZER COMÉRCIO LOCAL COMÉRCIO LOCAL TRANSPORTE PÚBLICO TRANSPORTE PÚBLICO TRANSITO CALMO Figura 15: representação de inserção de um CAPS Fonte: a autora 40 Além do cuidado primordial na escolha da localização do terreno, é importante atentar-se na relação entre o espaço do CAPS e o ambiente externo. Inicialmente, a fim de se retirar a sensação de ser uma edificação enclausurada* com o objetivo de resguardar a sociedade dos que sofrem de alguma doença mental, vale tornar o local mais permeável com espaços abertos em meio a natureza, que provoque a sensação de um cuidado mais libertador e de portas abertas, disponível para trocas sociais. O uso de artifícios naturais é bem vindo neste objetivo, com o uso de árvores, arbustos, etc., consegue-se gerar um fluxo acessível ao meio externo; quando necessário, basta fazer uso de cercas vivas ou arbustos altos para criar a privacidade necessária em determinada região, evitando o aprisionamento que cercas por todo o terreno iriam transmitir. A edificação também deve conter um aspecto mais fluido (figura 16) e aberto ao exterior, conectando ambientes e possibilitando a livre circulação de pacientes. Com relação aos ambientes internos, estes também devem estar integrados aos externos para facilitar o acesso dos pacientes às áreas de convívio, bem como a integração a natureza (figura 17). Após uma entrevista realizada pessoalmente com um profissional da área de Terapia Holística, Lucas Cárpio Galvão (buscar no apêndice p. 125), no dia 27 de Fevereiro de 2019, ele enfatizou o uso da arte terapia no tratamento de enfermidades psicológicas, tornando-se valioso criar espaços de convivência entre os pacientes que ao mesmo tempo faça uso de mecanismos terapêuticos, Figura 17: Corredor humanizado Fonte: Koen van Velsen Disponível em: 01/04/2019 Acessado: 13/03/2019 Figura 16: Vejle Psychiatric Hospital Fonte: Niels Nygaard Disponível em: ArchDaily Acessado: 13/03/2019 41 Um assunto que cada vez tem tomado mais espaço nos debates, é a questão da humanização hospitalar. Devido a relevância do assunto, o Ministério da Saúde desenvolveu o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar, que, em 2013, teve seu projeto convertido em uma política pública de saúde, a Política Nacional de Humanização (PNH)*. O processo de humanização no ambiente hospitalar implica a compreensão da valorização individual de cada individuo que se dirige ao espaço, ou seja, prega a importância de serem recebidos e acolhidos pelos profissionaisali inseridos, dando- lhes mais atenção enquanto discorrem sobre seus problemas, queixas e necessidades. Os enfermos necessitam de cuidados humanitários para que seja gerada uma experiencia positiva entre ambos os lados, e isso inclui a cordialidade, a preocupação, o sorriso e o acolhimento do profissional, além de uma arquitetura voltada ao âmbito humanizado, com presença da natureza e cores (figura 18), a fim de se quebrar a sobriedade de espaços hospitalares comuns (figura 19) (figura 20). * O programa visa investir na melhoria e qualidade dos serviços oferecidos pelo SUS. Figura 18: Peter Rosegger Nursing Home Fonte: Paul Ott Disponível em: ArchDaily Acessado: 13/03/2019 Figura 19: Hospital das Clínicas Uberlândia Fonte: TV Integração Disponível em: G1 Acessado: 13/03/2019 Figura 20: Pacientes esperam atendimento em corredor de hospital Fonte: TV Integração Disponível em: G1 Acessado: 13/03/2019 42 Atualmente, há diversos estudos na área da medicina que afirmam que as cores produzem efeitos diversos na psicologia humana, podendo ocasionar tranquilidade, fome, raiva, paz, etc. Por exemplo, uma nota a se levar durante a projeção de quartos para os pacientes, é a de se evitar o uso da cor branca no teto, pois, uma vez que a cor branca reflete intensamente a luz, pode gerar um ofuscamento ao individuo, consequentemente causando uma sensação exaustiva, dando-lhe a necessidade de repouso. (FARINA, 1990, p. 91). O referencial teórico com relação ao estudo sobre a psicologia das cores é extenso, no entanto, as cores mais usuais possuem efeitos surpreendentes, capazes de harmonizar ambientes e retirando a sobriedade. No esquema abaixo, há alguns exemplos de cores e seus respectivos efeitos nos usuários do espaço, bem como no ambiente. Verde A cor promove uma calmaria ao ambiente e transmite o equilíbrio. Por outro lado, deve ser usado de maneira dosada, pois seu excesso pode causar depressão aos usuários. (Figura x) Figura 21: Uso da cor verde Disponível em: Pinterest Acessado: 13/03/2019 Laranja Promove a sensação de alegria, jovialidade e entusiasmo. Também provoca fome (muito usado em marcas de alimentos). Figura 22 Uso da cor laranja em leito hospitalar. Disponível em: Pinterest Acessado: 13/03/2019 43 Vermelho Associa-se ao desempenho físico, é capaz de promover estímulos relacionados a agitação, ação, e até agressividade. Figura 23: Uso da cor vermelha em sala de espera hospitalar. Disponível em: Pinterest Acessado: 13/03/2019 Amarelo Influencia diretamente o intelecto, podendo favorecer a concentração do individuo. Possui efeito antidepressivo. Figura 25: Uso da cor amarela em leito hospitalar. Fonte: Alder Hey Children’s Hospital Acessado: 13/03/2019 Azul Possui os mesmos efeitos que o verde, no entanto, é usado de maneira bem mais ampla em espaços terapêuticos. Seu uso também deve ser dosado. Figura 24: Uso da cor azul em sala de espera hospitalar. Disponível em: https://jdarquiteturahospitalar.blogspot.com/2013/04/ Acessado: 13/03/2019 44 https://jdarquiteturahospitalar.blogspot.com/2013/04/ Branco Por ser uma cor neutra, permite uma ampla propagação das outras cores no ambiente. No entanto, se usado em excesso, possui um teor sóbrio. Figura 26: Uso da cor branca em sala de espera hospitalar. Fonte: Aiyuhua Hospital for Children and Women Acessado: 13/03/2019 Preto Possui a capacidade de anular os efeitos das outras cores inseridas no ambiente. Figura 27: Uso da cor preta em sala de espera. Fonte: Pinterest Acessado: 13/03/2019 Lilás Promove o relaxamento por possuir propriedades sedativas. Figura 28: Uso da cor lilás em sala de espera. Fonte: Pinterest Acessado: 13/03/2019 Tabela 2: Uso das cores e suas influencias segundo o FengShui Fonte: a autora 45 Conclusivamente, hoje a terapia pode fazer um uso constante das cores, considerando-as como aliadas, para que seja possível guiar um paciente ou funcionário através de sua mente com a ajuda da psicologia das cores. Tal estudo com relação a consequência sofrida pela mente humana é refletido na conclusão de Fernand Léger, previamente citado por Modesto Farina, O avanço das áreas cientificas e tecnológicas tem requerido muita competência dos profissionais nestes ambientes hospitalares, mas, atualmente, a convivência com os pacientes também tem cobrado sua postura ética e solidariedade. Felizmente hoje pode-se fazer uso de diversas técnicas para tornar o processo de internação ou terapia mais humanizado, como discorrido anteriormente. Além de todo o teor técnico, é imprescindível a inserção de atividades complementares aos pacientes e internos, a fim de se buscar sua individualidade. Assim como afirma Pessini, muitos dos hospitais e suas equipes pregam medidas exclusivamente técnicas, excluindo o teor humanitário e sua compreensão com a individualidade do ser humano. “(...) o hospital policromo, a cura pelas cores, um domínio desconhecido que começa a apaixonar os jovens médicos. Salas repousantes, verdes e azuis para os nervosos, outras vermelhas e amarelas para os deprimidos e anêmicos (...) e a influencia da luz-cor agiu sobre eles”. [Fernand Léger (1975:101-108, apud FARINA, 1990, p. 92)] “Vivemos numa sociedade dominada pela analgesia, em que fugir da dor é o caminho racional e normal. À medida que a dor e a morte são absorvidas pelas instituições de saúde, as capacidades de enfrentar a dor, de inseri-la no ser e de vivê-la são retiradas da pessoa. Ao ser tratada por drogas, a dor é vista medicamente como um barulho de disfuncionamento nos circuitos fisiológicos, sendo despojada de sua dimensão existencial subjetiva. Claro que esta mentalidade retira do sofrimento seu significado íntimo e pessoal e transforma a dor em problema técnico. “ (PESSINI, Bioética 2002, p.57) 46 A inserção de atividades complementares aos pacientes simboliza um avanço na abordagem humanizada com essas pessoas, no entanto, também evidencia a necessidade de espaços melhor estruturados para que seja possível dar apoio à elas. Hoje, os CAPS, por serem instalados na maioria das vezes em residências alugadas pelo setor publico, não possuem espaços propícios e reservados para sediar procedimentos e atividades em grupo, seja em um ambiente fechado ou ao ar livre. A arte terapia, a musicoterapia, a terapia ocupacional e a meditação, por exemplo, requerem espaços amplos para a interação coletiva e/ou locais destinados a armazenagem de instrumentos e materiais. Apesar de tais atividades não possuírem espaços direcionados a elas, funcionários e profissionais colocam-nas em prática na rede publica de saúde. Na Santa Casa da Bahia, por exemplo, há ações humanitárias inseridas no tratamento de pacientes, como comemoração de datas especiais, música nas enfermarias, apoio do Núcleo do e Atendimento ao Cliente (responsável por ouvir queixas e sugestões de clientes). Ademais, também promovem visitas de grupos a fim de entreterem os pacientes, como ilustra a figura 29 ao lado. Estes cuidados com os pacientes e usuários da rede propiciam uma valorização da individualidade de cada ser ali presente, praticando sua autonomia, valorização de suas particularidades e promovendo suas expressões artísticas, uma vez que, ao serem inseridos num espaço hospitalar, sofrem de um “desculturamento”, ou seja, são retirados de si seus hábitos rotineiros para que se encaixem num ambiente mais hostil. "Nos novos dispositivos da rede de atenção, a ênfase na particularidade de cada caso, o trabalho multiprofissional, a escuta e o respeito ao louco e a invenção de novas estratégias de intervenção sobre o campo social e clínico deram ensejo à recuperação do uso da atividade como um valioso recurso no tratamento clínico e na reabilitação psicossocial" (Guerra, 2004, p.24) Figura 29: Grupos voluntários visitam a Santa Casa da Bahia na ala infantil Disponível em: Hospital Santa Izabel Acessado: 11/03/2019 47 De maneira sucinta, nas figuras 30 e 31 serão apresentadas algumas terapias alternativas ou integrativas (complementaresaos tratamentos convencionais da medicina), divididas em dois grupos: psicológicos, e físicos. Reconhecidos pela Organização Mundial da Saúde, estes métodos buscam meios menos agressivos, fazendo uso de trabalhos psicológicos em busca pelo bem estar e, conclusivamente, a cura, partindo de seu interior. Arte terapia Atividade terapêutica que faz uso da arte para que o paciente interaja expondo seus sentimentos e pensamentos. Visa o autoconhecimento e autonomia do individuo, trabalhando com a educação, a arte, e a ciência, Musicoterapia Essa atividade é responsável por utilizar a musica e seus elementos no desenvolvimento do individuo, favorecendo o aprendizado, a expressão e a comunicação. Pode ser realizada em grupo, além de que atende as necessidades físicas da pessoa. Pet terapia Neste caso, a atividade terapêutica se da através do convívio entre os animais e os pacientes, como um apoio ao tratamento de pessoas, estimulando seus aspectos emocionais e físicos, além de melhorar a qualidade de vida. Psicológicos Figura 30: Esquema elaborado com relação as terapias psicológicas alternativas ao CAPS Fonte: a autora 48 Jardim sensorial São abordados exercícios autônomos do usuário do espaço que o permite interagir com o mesmo em questão. Sons e luzes que podem ser ativados pela própria pessoa incentivam sua automação. Além disso, há o trabalho com o olfato, através de flores. Exercícios físicos Essa atividade é responsável por utilizar a musica e seus elementos no desenvolvimento do individuo, favorecendo o aprendizado, a expressão e a comunicação. Pode ser realizada em grupo, além de que atende as necessidades físicas da pessoa. Biodança Neste caso, a atividade terapêutica se da através do convívio entre os animais e os pacientes, como um apoio ao tratamento de pessoas, estimulando seus aspectos emocionais e físicos, além de melhorar a qualidade de vida. Físicos Conclusivamente, é importante que os ambientes hospitalares façam uso destes meios alternativos a exclusivamente os medicamentos. Dessa maneira, trabalhando a questão psicológica/mental somada as atividades físicas, de maneira a se evitar que o corpo fique totalmente inerte no período de internação, o individuo estará em equilíbrio entre sua mente e seu corpo, favorecendo sua melhora e bem estar, consequentemente reduzindo o tempo necessário de internação ou de melhora de seu estado no momento em questão. Figura 31: Esquema elaborado com relação as terapias físicas alternativas ao CAPS Fonte: a autora 49 Além disso, há visitas de grupos para prestar atividades voluntárias, como é o exemplo da Associação Viva e Deixe Viver, que oferecem oficinas de leitura (figura 32) para crianças em hospitais. Além de promover atividades, eles também oferecem pequenos cursos para treinar e capacitar pessoas que desejam participar das atividades voluntarias para tornarem-se contadores de histórias. Além dessas oficinas, é importante que aqueles que sofrem de algum transtorno mental tenham acesso à brincadeiras e atividades físicas para trabalhar sua autonomia Figura 32: Voluntário da Associação Viva e Deixe Viver promovendo oficina de leitura. Disponível em: Associação viva e deixe viver Acessado: 13/03/2019 50 Bem como se faz necessária a presença dos grupos de apoio aos pacientes e oficinas, também deve-se atentar a importância de atividades físicas e brincadeiras em espaços externos, que são deixadas de lado muitas veze pela falta de espaço nos ambientes dos CAPS. Além de um estimulo psíquico e social, não se pode deixar de lado as questões físicas do paciente como ser humano, ou seja, deve-se criar espaços ao ar livre direcionados a brincadeiras e exercícios físicos. O trabalho com jogos propicia, para o individuo, uma maior interação em grupo e até consigo mesmo, de maneira a trabalhar seu pensamento e raciocínio. Assim sendo, partindo do pressuposto da importância de tais atividades, Bettelheim (1988) afirma que as brincadeiras promovem a superação de traumas e frustrações, favorecem a interação social entre os indivíduos, e ainda estimula a expressão dos sentimentos e pensamentos. Brincar relaciona-se e a uma leitura e análise de um possível problema, em conjunto com sua posterior solução, ou seja, na brincadeira os participantes exercitam sua mente e capacidade intelectual. O valor da brincadeira está justamente por ela ser agradável em si, proporcionando prazer imediato diversos benefícios psicológicos e emocionais. Mesmo com o avanço da medicina, as medicações que são indicadas aos pacientes com transtornos mentais não são o suficientes para suprir sua melhora, principalmente em crianças e adolescentes, aí entra a psicoterapia e a prática de atividades lúdicas no ambiente hospitalar. “O brincar foi uma maneira que o ser humano encontrou de buscar o equilíbrio entre a satisfação e não satisfação de seus impulsos mais primitivos, bem como o equilíbrio de sua emoção e de sua afetividade. Jogar e brincar permite que as pessoas se adaptem ao meio, passem a valorizar os demais integrantes e a respeitar regras e valores”. (ROCHA, 2005). 51 Nos dias atuais, muito se discute perante pesquisas no campo da interação humana- animal, as quais provam que tal relação promove benefícios psicológicos para os seres humanos. Biologicamente, há melhoras nas taxas de pressão sanguínea e batimentos sanguíneos, melhora dos diagnosticados com depressão e ansiedade por promover uma menor agitação etc. Na Universidade da Califórnia, há uma pesquisa que comprova que pacientes com Alzheimer sofrem menos estresse quando há a presença de um animal por perto. Além dos adultos, os cães e gatos promovem benefícios também a crianças, pois ensinam os pequenos a terem compaixão e empatia, além de reduzir os riscos de se desenvolver alergia e asma. Posteriormente, depois de todos os exemplos de atividades que podem ser realizadas no espaço do CAPS, também há a Atividade Assistida por Animais (AAA), ou pet terapia. Esta técnica baseia-se na forte relação da saúde humana com a interação animal, e é visada desde meados do século XIX, como pode-se notar através do depoimento de Florence Nightingale*. A Atividade Assistida por Animais nada mais é do que uma atividade casual que envolve voluntários e/ou profissionais e seus animais de estimação, a fim de oferecer exercícios educacionais, um momento de descontração, recreação, entretenimento e socialização. Os animais passam por rígidos critérios de avaliação sobre sua saúde e seu comportamento para ser liberado para uma visita aos pacientes de todas as idades. Sua programação pode ser semanal, quinzenal ou até esporádica, podendo ser uma atividade coletiva. “Um animal de pequeno porte é geralmente uma ótima companhia para os convalescidos, principalmente aqueles acometidos de casos crônicos. Um pássaro de estimação na gaiola é muitas vezes o único prazer de um invalido que está confinado ao seu quarto há anos. Se ele consegue limpar e alimentar o animal sozinho, ele deve sempre ser encorajado a fazê-lo”.(Nightingale, 1859/2003, p. 86) * Florence Nightingale (1820-1910, Londres), foi uma enfermeira britânica pioneira nas praticas de enfermagem moderna. 52 Em São Paulo há uma ONG denominada de Patas Therapeutas* (figura 33), que promovem atividades com os pets como a Atividade Assistida por Animais (visitas casuais), Terapia Assistida por Animais (atividades especificas para cada patologia com o suporte de um animal), e a Educação Assistida por Animais (mesmo critério da TAA, no entanto, destinada a área de educação). Imagem 33: ONG Patas Therapeutas em uma de suas visitas a Santa Casa de São Paulo Fonte: ONG Patas Therapeutas Acessado: 13/03/2019 * A ONG é uma organização sem fins lucrativos composta por uma equipe baseada em voluntários e profissionais que participam com seus próprios animais de estimação. Eles fazem visitas a hospitais, asilos e abrigos nas cidades de São Paulo e Porto Feliz. 53 54 55 Figura de abertura 6: Watercolor background Fonte: PNG Tree PARTE 2 Paralelos“Toda uma problemática se desenvolve então: a de uma arquitetura que não é mais feita simplesmente para ser vista (fausto dos palácios), ou para vigiar o espaço exterior (geometria das fortalezas), mas para permitir um controle interior, articulado e detalhado – para tornar visíveis os que nela se encontram”. (Foucault, 1983, p.154) 56 3.1) Concurso para a Unidade Básica de Saúde de Riacho Fundo No ano de 2016, segundo Eduardo Souza, no endereço online denominado ArchDaily, foi-se criado, pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Codhab/DF), um concurso para implantação de uma Unidade Básica de Saúde no Residencial Riacho Fundo, Distrito Federal, Este trabalho serviu de inspiração e embasamento para este projeto final de graduação, principalmente devido ao fato de apresentar necessidades mínimas para um bom funcionamento deste espaço, ou seja, o projeto premiado em 1º lugar dos arquitetos Alexandre Ruiz da Rosa, André Bihuna D’Oliveira, Haraldo Hauer e Rodrigo Vinci, oferece um local totalmente simplificado, funcional, e fluído (imagem 34). Tabela 1: 4 municípios mineiros mais populosos. Fonte: autora Imagem 34: Imagem 3D do local de espera com vista para jardim interno. Disponível em: ArchDaily Acessado em: 14/03/2019 57 Em defesa de seu projeto, os arquitetos fizeram uso da seguinte citação de Oscar Hagerman para relacionar o projeto: Segundo Eduardo Souza (Archdaily, 2017), a criação (figura 36) foi baseada na utilização de blocos quadrados com pátios internos para se ter dois focos projetuais, o interno sendo a humanização funcional e o externo sendo o espaço urbano. Na setorização retirada do ArchDaily, é possível analisar a setorização do espaço (figura 35). Figura 36: Processo de criação arquitetônica dos espaços. Disponível em: ArchDaily Acessado em: 14/03/2019 58 “Para mim, os pátios são como espaços exteriores domesticados: neles se está conectado a natureza, se escuta o canto dos pássaros, sente o cheiro do campo depois das chuvas e se pode observar as estrelas pela noite. Mas também são lugares que estão protegidos de correntes de ar, isolados de ruídos. Em seus corredores você pode estar enquanto chove.” (HAGERMAN, Oscar. Oscar Hagerman. Monterrey: Biblioteca de Disenõ Quórum, 2006, apud RUIZ, BIHUNA, HAUER e VINCI, 2016). Imagem 35: Setorização Disponível em: ArchDaily Acessado em: 14/03/2019 Na planta baixa retirada do ArchDaily pode-se analisar a distribuição de espaços e os acessos à edificação (figura 37). A entrada da edificação possui uma área de estacionamento aberta e um acesso de embarque e desembarque, contando com uma praça para pedestres. Ao se adentrar na edificação através do bloco central, que tem o papel de distribuidor de fluxos, encontra-se a recepção, o setor administrativo e apoio, uma área técnica e o jardim interno. Nos outros dois blocos há a concentração do setor clínico. 59 Imagem 37: Planta baixa Disponível em: ArchDaily, adaptado pela autora Acessado em: 14/03/2019 LEGENDA Setor clínico/fluxo técnico Setor administrativo Fluxo veicular Fluxo público Acesso serviço/funcionários Acesso público Acesso veículos SETORIZAÇÃO E FLUXOS Abaixo pode-se observar a divisão do espaços do projeto, composto por ambientes clínicos, técnicos, áreas de espera entre outros (figura 38). 60 Imagem 38: Planta baixa Disponível em: ArchDaily, adaptado pela autora Acessado em: 14/03/2019 LEGENDA Jardim interno Terraço Praça pública Vestiários/WC privado Salas clínicas Salas administrativas Salas técnicas Enfermaria Salas de apoio admin. Recepção Embarque/desembarque Espaço de espera Estacionamento Banheiros públicos DIVISÃO DOS ESPAÇOS Os espaços de espera destinados aos usuários são inseridos em zonas de circulação reduzidas, que são ampliadas externamente graças ao jardim interno que possui um pequeno pátio (figura 39), ou seja, mesmo internamente possuem fluidez e vista livre para a área verde. No corte da edificação é possível observar a simplicidade das linhas e o uso do vidro para permitir a integração com o exterior (figura 40). 61 Imagem 39: Jardim interno com vista para área de espera interna Disponível em: ArchDaily Acessado em: 14/03/2019 Imagem 40: Espelho d'água como mecanismo para conforto térmico Disponível em: ArchDaily Acessado em: 14/03/2019 A simplicidade arquitetônica também está presente na forma estrutural do espaço, que conta com lajes de concreto moldadas in loco, pilares em tubo de aço e rampas em laje de concreto conectando os níveis de cada bloco. A vedação conta com placas pré- moldadas de concreto e o sistema de cobertura conta com treliças metálicas. Em todo o corpo foi visado a economia, a simplicidade, e a modulação. Os blocos foram um pouco elevados do nível do solo, ligado ao conforto térmico (figura 41), além de possibilitar o uso de piso elevado a fim de dar apoio às instalações técnica como fios, tubos etc. Um dos principais focos do projeto foi o conforto térmico através de medidas praticas, como o espelho d'água que utiliza da captação de agua das chuvas posteriormente tratada, criando faixas de ar confortáveis, fachada dupla externa, cobogós horizontais que podem ser observados na praça de acesso (figura 42) que quebram a insolação excessiva no interior. Também foi disponibilizada a maquete física do projeto, onde é possível observar atentamente a relação dos espaços fechados com os jardins (figura 43). 62 Imagem 41: Espelho d'água como mecanismo para conforto térmico Disponível em: ArchDaily Acessado em: 14/03/2019 Imagem 43: Maquete física projetual Disponível em: ArchDaily Acessado em: 14/03/2019 Imagem 42: Praça aberta no acesso a edificação Disponível em: ArchDaily Acessado em: 14/03/2019 3.2) Crown Sky Garden Na cidade de Chicago, no estado de Illinois nos Estados Unidos, foi construído no ano de 2012, o Hospital Infantil de Chicago (figura 44), segundo fontes retiradas do ArchDaily; os arquitetos responsáveis foram Solomon Cordwell Buenz, Anderson Mikos Architects e ZGF Architects. O hospital foi inserido em uma zona predominantemente urbana na cidade, com vista para o “Parque Seneca”, próximo também ao Museu de Arte Contemporânea. Posteriormente, no 11º andar, foi criado o projeto paisagístico de Mikyoung Kim Design (arquiteto paisagista de Boston), espaço denominado por Crown Sky Garden (figura 45). A explicação para tal, segundo o próprio arquiteto, foi baseado em pesquisas cientificas sobre a importância da valorização da luz natural e espaços contemplativos em ambientes hospitalares, a fim de se reduzir o tempo de recuperação do paciente. Imagem 44: Vista aérea da fachada principal do hospital infantil Disponível em: ArchDaily Acessado em: 14/03/2019 63 Imagem 45: Pavimento projetado por Mikyoung Kim Disponível em: ArchDaily Acessado em: 14/03/2019 O terraço (figura 46) tem como função primordial ser um local destinado a interações para as famílias, profissionais do hospital e crianças, oferecendo muita conexão com a natureza, por ter sido explorado exaustivamente o uso da luz natural graças a pele de vidro que circula o pavimento (WORLDLANDSCAPEARCHITECT, 2013). O projeto paisagístico abusa de artifícios naturais para que seja possível obter-se uma experiencia agradável com a natureza, como uso de pedras naturais, muito bambu (imagem 47) para criar espaços um pouco mais privativos (parede vegetal) e acolhedores, como um nicho. Além disso, também há um sistema de som que é ativado pelas pessoas, emitindo sons da natureza, e um sistema de iluminação automática. Imagem 46: Imagem 3D do projeto. Disponível em: World Landscape Architect Acessado em: 14/03/2019 64 Imagem 47: Visão superior do jardim Disponível em: World Landscape Architect Acessado em: 14/03/2019 Com relação à setorização do pavimento (figura 48), há espaços de contemplação com bancos de madeira recuperada, jardins destinados ao plantio de bambu que emite um agradável cheiro, espaço de exposição de arte, umaparede luminosa e uma área com luz e som interativos para os usuários. Imagem 48: Planta humanizada. Disponível em: World Landscape Architect Acessado em: 14/03/2019 65 LEGENDA Plantação de bambu Espaço de contemplação Área de exposição de arte Área interativa (luz e som) Livre circulação Segundo Toni Backes (2016), paisagista fundador da escola de paisagismo Perau do Enconto, no Rio Grande do Sul, a natureza atua como principal elemento de recuperação e cura da pessoas. Para ele, os jardins saciam todos os 5 sentidos humanos (tato, visão, olfato, audição, paladar), pois em um jardim terapêutico tem-se o aroma das flores, sons de pássaros e água, aguçando os sentidos enquanto se promove uma distração positiva, sendo esta considerada um ponto para plena recuperação de doentes. De acordo com a concepção de Backers, pode-se analisar que o local trabalhou muito bem os sentidos humanos relacionados ao tato (ativação manual dos sons e luz), olfato, visão e audição, como é apresentado o esquema abaixo (figura 49). Figura 49: Esquema de artifícios. Disponível em: Lurie Childrens, adaptado pela autora Acessado em: 14/03/2019 66 Este projeto também possui um teor sustentável, assim como o primeiro estudo de caso apresentado. Aqui, Mikyoung Kim abusou de materiais naturais para compor todo o cenário: os bancos (imagem 51), painéis e esculturas de madeira (imagem 52) espalhados pelo ambiente existentes são todos de madeira recuperada, que foram posteriormente tratadas para serem utilizadas. O terraço de vidro foi constituído de agregados de vidro reciclados. No local, há uma escultura de madeira que possui um molde de uma mão, que funciona como ativador dos sons ambientes (figura 50). 67 Imagem 52: Paineis de madeira recuperada Disponível em: World Landscape Architect Acessado em: 14/03/2019 Imagem 51: Espaços de convivência Disponível em: World Landscape Architect Acessado em: 14/03/2019 Imagem 50: Ativador manual de sons Disponível em: World Landscape Architect Acessado em: 14/03/2019 Outro destaque sustentável são as parede com iluminação embutida (figura 53), que foram construídas com painéis de resina criadas com no mínimo 40% de material reciclado. Estes painéis são extremamente efetivos contra micróbios, e possibilitam uma gradativa mudança de cor ao se transitar pelo caminho sinuoso. A fim de incluir todos os doentes, no 12º pavimento, com vista para o Sky Garden, há o espaço denominado de “casa da árvore” (figura 54). Este local é o preferido de crianças extremamente tímidas ou que possuem algo distúrbio imunológico que as impede de visitar o jardim. O espaço é todo protegido por uma camada de vidro e conta com piso de madeira reciclada. 68 Imagem 53: Caminho pelos painéis de madeira luminosa Disponível em: World Landscape Architect Acessado em: 14/03/2019 Imagem 54: Pequeno mezanino da casa da arvore Disponível em: World Landscape Architect Acessado em: 14/03/2019 3.3) Nelson Mandela Childrens Hospital Construído em 2016, localizado na cidade de Joanesburgo, África do Sul, o edifício (figura 55) foi fruto de um concurso* em 2009, com uma área de aproximadamente 29.900m². Sheppard Robson e JCA foram os responsáveis pelo projeto conceitual, recebendo apoio dos escritórios locais GAPP e Ruben Reddy. Para se criar um projeto funcional, a equipe solicitou ajuda de especialistas na área medica e de conhecimento local para a instalação pediátrica moderna no campus da Universidade de Witwatersrand em Parktown, uma localização central. (Archdaily, 2017) Imagem 55: Visão da entrada principal do hospital Disponível em: ArchDaily Acessado em: 19/03/2019 69 * Nelson Mandela (ex-presidente da África do Sul), havia feito um ultimo pedido antes de seu falecimento, baseado em melhorar os serviços de saúde publica oferecidos pelo governo. O hospital emprega 150 médicos pediátricos e 450 enfermeiros, possuindo instalações que possuem 200 leitos, auditório, e diagnósticos avançados. O objetivo era evitar a construção de um único bloco, que consequentemente ocasiona extensos corredores fechados ao mundo exterior. Então, criou-se seis alas (cada uma com uma especialidade clinica), todas conectadas por uma “rua”, que contem três pontos de encontro principais com vista para o jardim (figura 56). 70 Imagem 56: Vistas para o jardim interno Disponível em: ArchDaily Acessado em: 19/03/2019 O prédio possui instalações especializadas em tratamentos neurológicos, oncológicos, endócrinos, cardiovasculares e até processos cirúrgicos pediátricos (figura 57). Além disso, também conta com acomodações para acompanhantes e familiares 71 Imagem 57: Planta esquemática do 1 pavimento. Disponível em: ArchDaily Acessado em: 19/03/2019 9. Corredor de circulação 10. Enfermaria ala oncológica 11. Enfermaria ala cirúrgia 12. Enfermaria ala cardíaca 13. Sala de aula Estacionamento Escadas/elevadores LEGENDA 1. Ala oncológica Diurna 2. Enfermaria 3. Ala renal 4. Brinquedoteca 5. Sala da família 6. Sala de jogos família 7. Área de estudo/pesquisa 8. Sala de família central 9 1 11 7 13 5 10 5 5 5 6 2 3 5 4 4 4 4 4 8 12 Os acessos ao hospital se dividem em espaços para pedestres e veículos (figura 58). A fachada principal abriga o estacionamento público com acesso ao estacionamento coberto. Além disso, há um estacionamento exclusivo para funcionários. 72 Imagem 58: Masterplan do hospital com setorização externa Disponível em: ArchDaily Acessado em: 19/03/2019 Estacionamento publico Setor ambulatorial Estacionamento funcionários LEGENDA Acesso principal público Acesso veículos SETORIZAÇÃO E FLUXOS 73 Imagem 59: Masterplan do hospital com paisagismo Disponível em: World landscape architect Acessado em: 19/03/2019 Resultado do desejo de criar espaços convidativos aos pacientes, tem-se cinco pátios internos e três jardins externos direcionados a terapia ocupacional, e também espaços recreativos para as crianças. O entorno possui uma reserva ambiental, tornando a paisagem predominantemente verde. (figura 59) LEGENDA JARDINS EXTERNOS 01 Entrada principal 02 Jardim público 03 Jardim infantil 04 Jardim sensorial 05 Jardim de terapia ocupacional JARDINS INTERNOS 06 Diurno 07 Recreativo 08 Da família 09 Da cura 10 Silencioso 11 Terraço 12 Espaço esportivo ESPAÇOS GERAIS 13 Estacionamento coberto 14 Ambulatório 15 Contenção de água 1 16 Contenção de agua 2 17 Estacionamento para funcionários 18 Jardim para reabilitação 19 Área de serviços 20 Contenção de água 3 21 Espaço de caminhada Entrada principal PAISAGISMO Pode-se observar que o hospital é composto por 5 jardins externos (figura 60), cada um composto por uma função especifica, e 5 jardins internos. Na entrada (figura 61), de maneira a reduzir a experiencia desgastante de um hospital, há um jardim para recepcionar os indivíduos, que conta com flores bem coloridas, assentos, arvores, pergolados em madeira e muito paisagismo que favorecem bons espaços de permanência ao ar livre para pacientes, funcionários e familiares. 74 Imagem 60: Espaço de jardim externo Disponível em: World landscape architect Acessado em: 19/03/2019 Imagem 61: Jardim frontal Disponível em: World landscape architect Acessado em: 19/03/2019 O hospital havia sido planejado com 200 leitos, com possibilidade de extensão para até 300 leitos. O prédio possui instalações especializadas em tratamentos neurológicos, oncológicos, endócrinos, cardiovasculares e até processos cirúrgicos pediátricos. Além disso, também conta com acomodações para acompanhantes e familiares. Em seu exterior, o edifício é revestido predominantemente de tijolos, referenciando o solo argiloso da região. Algumas fachadas recebem brises horizontais de diferentes cores para diferenciar os departamentos internos (figura 62). No corte conceitual é possível observar a divisão de serviços do hospital em seus diversos níveis (figura 63). 75 Cuidados graves Área de apoio Imagem 63: Corte conceitual Disponível em: ArchDaily
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