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Introdução O volume de sangue circulante no adulto é aproximadamente de 5L. Em uma amostra desse sangue, coletada e centrifugada, podemos observar a separação do sunguem em 2 fases: 60% plasma (água , proteínas, carboidratos, lipídeos, eletrólitos e gases) e 40% componentes celulares (plaquetas, hemácias e leucócitos). O componentes celulares é a fração do sangue que precipita e corresponde ao Volume globular ou hematócrito - definição: porcentagem de volume ocupado por glóbulos vermelhos/hemácias no volume total de sangue; ele varia de acordo com a idade e sexo, permanecendo em torno de 40%. A q u a n t i d a d e d e s a n g u e p ro d u z i d a diariamente por um adulto saudável é de cerca de 50ml/dia. Isso corresponde a 400 bilhões de plaquetas, 200 bilhões de hemácias e 20 bilhões de leucócitos. Essa produção de células se faz necessário para reposição da perda diária. Entre elas há diferenças morfológicas e funcionais, porém, todas elas, são originadas de um pequeno número de células altamente indiferenciadas, as células tronco hematopoiéticas que habitam a medula óssea de um indivíduo normal. O mecanismo de produção das células sanguíneas é a hematopoiese e se faz de maneira complexa. A hematopoiese envolve a autorreprodução de células tronco, o processamento dessas em outras linhagens celulares, amadurecimento em células diferenciadas e funcionalmente ativas. A hematopoiese começa na embriogênese do indivíduo e ocorre em diferentes tecidos (fase embrionária e fetal) e somente na medula óssea após o nascimento. A produção sanguínea pode ser dividia em fase primitiva e definitiva. Fase Primitiva → início próximo à 3ª semana gestacional (após a gastrulação) e ela desaparece por completo antes do 60º dia gestacional. O saco vitelínico é infiltrado por células mesodérmicas, os hemangioblastos. Essas células são capazes de gerar células endoteliais e hematopoiéticas primitivas. Os hemangioblastos que infiltram o saco vitelínico forma os vasos sanguíneos e agrupamentos celulares, as ilhas sanguíneas - nelas são produzidos eritrócitos nucleados e macrófagos. Fase Definitiva → ela se inicia ao redor do 30º dia gestacional em uma estrutura embrionária, a aorta-gônada-mesonefro ( AG M ) . A s p r i m e i r a s c é l u l a s - t ro n c o hematopoiéticas se dispõem ao longo da parede ventral da futura aorta dorsal. Essas c é l u l a s p o d e p r o l i f e r a r p o r t e m p o indeterminado e potencial de multilinhagem, porém, e las não produzem célu las sanguíneas maduras. Ao redor do 35º dia, após ao desenvolvimento da circulação sanguínea, as primeiras células sanguíneas ( m o r f o l o g i c a m e n t e d i f e r e n c i a d a s e biologicamente ativas) são identificadas no fígado embrionário. São eles: eritrócitos, monócitos, granulócitos e linfócitos. Elas são o r i g i n a d a s d e c é l u l a s - t r o n c o q u e , possivelmente, migraram da AGM. A produção de sangue no 2º trimestre ocorre Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG H e m a t o p o i e s e essencialmente no fígado com pouca participação do baço. Ao redor da 11ª semana, células-tronco hematopoiéticas do fígado migram para medula óssea e inicia-se a hematopoiese medular. A produção de sangue na medula óssea se inicia ao redor de 90-100 dias de gestação. Ela é o principal órgão hematopoético no 3º trimestre gestacional e é o único local de produção sanguínea depois do nascimento. O tecido hematopoético não é localizado em região específica do organismo. Ele ocupa a medula óssea, a qual se desenvolve no interior dos ossos em formação. A produção hematopoética do recém nascido ocorre na medula óssea de todos os ossos esponjosos e trabeculares. Nos primeiros anos de vida a medula óssea hematopoética vai sendo substituída por tecido gorduroso e entre adolescência e fase a adulta, a produção ocorre apenas na medula óssea de vértebras, costelas, esterno, ossos do quadril e extremidades próximas dos ossos longos. Célula-tronco Hematopoética A primeira evidência científica da existência de uma células capaz de gerar todas as células do sangue e do sistema imunológico foi realizada em 1961. No experimento com camundongos, foi capaz de perceber que todas as linhas celulares era produzida por uma célula originária da medula óssea. Essa células proveniente da medula óssea, implantada no baço do camundongo, foi chamada de CFU-S ou Unidade Formadora de Colônias no Baço. Além disso, no ano de 1960, a identificação do cromossomo Filadelfia - resultado da translocação adquirida de material genético dos cromossomos 9 e 22 - em pacientes com anemia mieloide crônica em precursores de todas as linhagens hematopoiéticas nos forneceu uma evidência de que realmente existe uma célula imatura, a célula-tronco hematopoética, capaz de autorreprodução e de gerar todas as células sanguíneas diferenciadas. A evidência definitiva dessa células veio de e x p e r i m e n t o s d e r e c o n s t i t u i ç ã o hematopoética com células primitivas geneticamente marcadas no ano de 1980. As células-tronco hematopoética são raras → 1:10mil células da medula óssea. Elas são morfologicamente indiferenciadas, mas são componentes das células mononucleares da medula óssea. Além disso, são capazes de autorreprodução, manutenção de seu compartimento por toda a vida, geração de células progenitoras comissionadas com o desenvolvimento de linhagens diferenciadas. C e r c a d e 9 5 % d a s c é l u l a s - t r o n c o hematopoiéticas estão em fase G0 e somente cerca de 5% em proliferação. Cada estágio de diferenciação nessas células está associado com a perda progressiva no potencial de multi-linhagem, ou seja, a cada vez que uma células precursora de diferencia na célula de uma linhagem específica, essa Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG célula diferenciada perde a capacidade de produzir as células das outras linhagens. O modelo clássico da hematopoese separa o processo em 3 compartimentos funcionais: c é l u l a s - t r o n c o h e m a t o p o é t i c o multipotenciais, células progenitoras e células diferenciadas. O modelo clássico propõe que as células do c o m p a r t i m e n t o m u l t i p o n t e c i a l s e autorreproduzem e são capazes de reprodução assimétrica, ou seja, quando uma dessas células se divide ela gera uma c é l u l a s t ro n c o m u l t i p o t e n c i a l q u e permanece no compartimento multipotencial (pode gerar todas as linhagens) e uma outra célula que perde a multipotencialidade e segue o processo de reproduções e diferentes funções progressivas, ou seja, entra no compartimento de progenitoras. Essa nova célula gerada pode realizar autorreprodução e produção de progenitores mieloides e linfoides, a CFU-GEMM e CFU-L. As células progenitoras CFU-GEMM também se autorreproduzem, mas geram colônias que, em sua diferenciação final, produzirão neutrófilos, monócitos, eritrócitos e plaquetas. Já progenitoras CFU-L são responsáveis pela produção dos linfócitos T, B e NK. Estudos recentes demonstram que o c o m p a r t i m e n t o d a c é l u l a - t r o n c o é heterogêneo e questiona alguns passos que estão envolvidos na hematopoese. Entretanto, ficamos com o modelo clássico que reflete as características básicas da hematopoese, como veremos a seguir. Hematopoese Características essenciais 1) A célula-tronco hematopoética é capaz de autorreprodução e de originar todas a linhagens de células. 2) A expansão na atividade hematopoética ocorrer no compartimento das células progenitoras, derivadas da célula-tronco. 3) As células progenitores proliferam e perdem progressivamente a capacidade de gerar múltiplas linhagens. 4) As células diferencias (granulócitos, monócitos, l infócitos, eritrócitos e plaquetas) são o resultado final de todo o processo hematopoético. Os leucócitos envolvem padrõesde reconhecimento antigênicos e preservação da vida em ambientes hostis. As plaquetas possuem função fundamento no controle de sangramentos, embora tenha cada vez mais funções biológicas que estão sendo descobertas. As hemácias possui a função básica de transporte de oxigênio para os tecidos. Hemácia A hemácia possuo formato de disco bicôncavo extremamente flexível, sendo um ‘pacote’ extremamente pequeno que ocupa um volume ou VCM de 80 -100 fentolitros ( ). Nesse volume, nós temos 100-400 milhões de moléculas de uma proteína chamada hemoglobina (com o ferro) que desempenha a função básica da hemácia, transporte de oxigênio para os tecidos do corpo. 10−6 Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Além disso, ela possui algumas enzimas que são responsáveis por manter a hemácia viva por 100 - 120 dias. Após esse tempo médio, a hemácia morre e é substituída por outra. A hemácia possui membrana plasmática e abaixo dela o citoesqueleto, que é uma associação de proteínas que permitem ela ser extremamente flexível - ela possui diâmetro de 7 µm e consegue transpor vasos da microcirculação de 2 µm. Todos esses componentes da hemácia já nos dão ‘pistas’ em problemas que podemos ter: alterações em estrutura que formam o citoesqueleto, alteração na proteína de transporte de oxigênio (hemoglobina) e deficiência de enzimas necessárias para produção de energia para a hemácia (hemácia não tem núcleo). Hemoglobina É uma proteína de classe globular sendo formada por 4 cadeias polipeptídicas, cada cadeia possui em seu interior 1 grupamento heme e cada grupamento possui em seu centro 1 átomo de ferro, totalizando 4 átomos de ferro por hemoglobina. O ferro é a estrutura responsável pela atividade biológica da hemácia - transporte de oxigênio. Por que precisamos de hemácia se é o ferro que transporta oxigênio? 1) O ferro é extremamente reativo; se houver ferro livre no corpo ele irá oxidar os tecidos e destruí-los. 2) O ferro precisa de uma estrutura que o estabilize - grupamento heme e esse é estabilizado pela 4 cadeias polipeptídicas. A l é m d i s s o , n ã o p o d e r í a m o s t e r a hemoglobina livre circulante sem a hemácia porque ela é extremamente viscosa. A hemácia é o produto final de uma série de eventos que se iniciam com uma célula-tronco hematopoética na medula óssea e que 15 dias depois surge uma série de quantidade de células. E l a d e r i v a d o p r i m e i ro p ro g e n i t o r hematopoético BFU-E (unidade formadora de eritrócitos). A BFU-E não é identificada morfologicamente. Ela só é identificado em culturas ou, eventualmente, em biologia molecular. Além disso, a BFU-E não está presente circulando na corrente sanguínea, como progenitor ela habita a medula óssea. Ela só possui um objetivo final: se transformar em hemácia (observar os compartimento da hematopoese na imagem). A BFU-E se reproduz e depois de um certo número de reprodução ela se transforma em CFU-E (unidade formada de colônias de eritrócito) que também habita a medula óssea e também não é ident ificada morfologicamente. Ela em algum momento gerará uma célula chamada de pró- eritroblasto. Isso just ifica a extrema sensibilidade da CFU-E à secreção pelos rins do hormônio eritropoetina. ● Eritropoetina → hormônio sintetizado essencialmente nos rins que possui a capacidade de expandir a propriedade da CFU-E de reproduzir. ● Pró-eritroblasto → é o primeiro precursor da hemácia que podemos reconhecer microscopicamente em lâmina corada; assim com CFU-E e BFU-E só possui o objetivo final de gerar hemácia (precursores comissionados da linhagem eritroide). Ele possui grande quantidade de material genético porque é metabolicamente muito ativo. Em certo momento ele se transforma eritroblasto ainda na medula óssea. ● Eritroblasto → é como se fosse uma hemácia nucleada que habita a medula óssea; ele não se divide mais e só possui o caminho de ir se diferenciando até virar hemácia; ele sintetiza uma proteína fundamental na medula óssea, a hemoglobina; quando o eritroblasto se diferencia para uma célula que tem muita hemoglobina e pouco material genético, ele Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG expulsa o núcleo na medula óssea, se transformando em reticulócito. ● Reticulótico → é como se fosse uma hemácia jovem; já não possui mais núcleo, tem muita hemoglobina e somente resquício de material genético; ele vive 1-2 dias na medula óssea e após disso ele cai na corrente sanguínea e vai circular como se fosse uma hemácia, porém maior e mais azulado (policromatofilia); após algum tempo na circulação e no baco ele irá perder parte da membrana e todo o material genético se transformando em hemácia. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG
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