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Artigo: Internet e Direito Autoral

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Artigo IBCCRIM 
Artigo: Internet e Direito Autoral 
As opiniões expressas nos artigos publicados responsabilizam apenas seus autores e não representam, 
necessariamente, a opinião deste Instituto 
Marcelo De Luca Marzochi 
Advogado/SP 
Autor do livro 
A Internet nasceu de um projeto militar norte-americano denominado ARPAnet. O objetivo desse projeto 
era a construção de uma rede de comunicação que resistisse em caso de calamidade, como um 
bombardeio nuclear. O conceito da Internet é uma rede na qual todos os pontos se eqüivalem e não há 
comando central. Antigamente apenas interligava universidades e centros de pesquisa. Em 1987 foi 
liberada pela primeira vez para uso comercial. No Brasil, apenas em 1995. Em 1992, com o surgimento 
das primeiras empresas provedoras de acesso nos Estados Unidos, a rede começou a se popularizar[1]. 
É o símbolo dessa nova era que se apresenta, a globalização. Enquanto o símbolo da Guerra Fria era um 
muro, que separava, a Internet é o símbolo dessa nova era, que une[2]. 
Dada a grande facilidade de manipulação de dados e informações[3], a violação dos direitos autorais se 
tornou o delito mais comum praticado na Internet. Este delito está previsto no artigo 184 do Código Penal. 
Segundo Júlio Fabbrini Mirabete em seu Código Penal Interpretado, no crime do artigo 184 o sujeito ativo 
é qualquer pessoa que violar (ofender, infringir, transgredir) o direito autoral de outrem. O crime é 
consumado com a violação, ainda que o sujeito não obtenha o proveito econômico. 
Segundo Celso, Roberto, Roberto Júnior e Fábio Delmanto no Código Penal Comentado, o crime do 
artigo 184 possui três figuras. No caput a conduta prevista é violar a qual se caracteriza pelo dolo, a 
vontade livre e consciente[4] de ofender o direito do autor. No parágrafo primeiro é a reprodução sem 
autorização do autor que se caracteriza pelo dolo com a consciência da falta de autorização e o intuito de 
lucro. No parágrafo segundo é a conduta de quem vende, expõe à venda, aluga, introduz no país, 
adquire, oculta, empresta, troca ou tem em depósito, a qual se caracteriza pelo dolo com a vontade de 
praticar estas ações, com consciência de que o original ou cópia foi produzido ou reproduzido com 
violação do direito do autor e com o intuito de lucro. 
A Lei 9610/98 - que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorias - diz o seguinte em seu 
artigo 7.º, caput: 
"São obras intelectuais protegidas as criações de espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em 
qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro". 
Pela segunda parte do artigo, podemos perceber que o meio Internet como expressão de obras 
intelectuais está previsto, haja vista a intenção do legislador tenha sido a de proteger o artista em 
qualquer situação, presente ou futura. Essa interpretação é reforçada pelos conceitos - todos aplicáveis 
ao material que circula pela Internet - fixados pelo legislador no artigo 5.º da mesma lei, como por 
exemplo a publicação, transmissão, distribuição, comunicação ao público, reprodução e radiodifusão. 
Há um problema em relação ao link[5] sobre se este caracterizaria a violação de direitos autorais através 
da distribuição, reprodução ou publicação indevida. 
Reportagem do "The New York Times"[6] de 23 de março de 2001 mostrava o caso da empresa Better 
Business Bureau, que ameaçava processar a BizMove.com por violação da marca porque esta mantinha 
em seu site vários links para o site da primeira. 
O link é um dos fundamentos e uma das maiores inovações da Internet. É uma maneira de fazer uma 
ligação de um texto com outro, de uma página à outra, ou um site a outro. Pode ser uma palavra ou uma 
imagem os quais, quando clicados, nos leva à outra página ou documento. 
O link não disponibiliza o material. É uma simples instrução, a indicação do caminho de como acessar 
determinada página ou documento. Portanto, não há violação de direitos do autor nesse caso, muito 
menos prejuízo para o proprietário do site indicado no link. 
Vejamos o caso da música. A música na Internet virou polêmica em 2000 com o Napster. O Napster é um 
pequeno programa disponível na Internet que permite ao usuário compartilhar arquivos de música. Serviu 
ainda de inspiração para criação de diversos programas para troca de arquivos pela rede, baseados na 
tecnologia P2P (peer-to-peer: ponto a ponto). 
A grande inovação é ter transformado cada computador ligado ao sistema em cliente e servidor ao 
mesmo tempo, numa rede descentralizada. O programa exibe uma lista dos arquivos disponíveis nos 
computadores de usuários registrados no sistema e que estejam conectados ao serviço naquele 
momento. Ao encontrar a música desejada o programa permite que um usuário faça a cópia diretamente 
do computador de outro usuário. 
Ao invés de comprar um disco por causa de uma única música, pode-se recorrer ao sistema e buscá-la de 
graça na Internet. Várias gravadoras processaram a Napster, empresa proprietária do programa, por estar 
facilitando a pirataria e o desrespeito aos direitos autorais. Mas o primeiro resultado foi conseguido pela 
banda Metallica que conseguiu na Justiça dos Estados Unidos que todos os usuários que tivessem 
copiado suas músicas fossem banidos do sistema[7]. 
Um serviço semelhante ao Napster no Brasil não renderia uma grande discussão jurídica, como querem 
alguns os quais afirmam que a empresa não comete pirataria diretamente, por não se caracterizar o 
intuito de lucro. Entretanto, a empresa fornece as condições materiais para a realização do delito - o que 
caracteriza a co-autoria - do artigo 184 caput do Código Penal. Além é claro de responder por perdas e 
danos, dano moral e pelas demais sanções previstas na lei 9610/98. 
Em novembro de 2000, a Napster fez um acordo com uma das maiores gravadoras do mundo e passou a 
ser um serviço pago[8]. Entretanto, o compartilhamento de arquivos se tornou um modelo de negócio. 
Vários programas nos moldes do Napster continuam no mercado possibilitando a troca de arquivos de 
maneira quase anônima. 
Apesar da polêmica em torno do MP3, a venda de discos só tem aumentado. Muitos artistas encontraram 
na distribuição gratuita de suas músicas a maneira de se tornarem conhecidos e ao mesmo tempo 
alavancarem a venda de discos. 
Vejamos a posição de Nicholas Negroponte[9] sobre direito autoral: 
"A lei do direito autoral está totalmente ultrapassada. Trata-se de um artefato gutenberguiano. Como se 
trata de um processo reativo, é provável que sucumba inteiramente antes que possa corrigi-la. A maior 
parte das pessoas preocupa-se com os direitos autorais em razão da facilidade de se fazerem cópias. No 
mundo digital, a questão não é apenas a facilidade, mas também o fato de que a cópia digital é tão 
perfeita quanto o original, e, com o auxílio do computador e de alguma imaginação, até melhor. Da 
mesma forma que séries de bits podem ter seus erros corrigidos, pode-se também limpar, melhorar e 
libertar uma cópia de quaisquer ruídos. A cópia é perfeita. A indústria da música sabe disso muito bem, e 
o fato de a cópia ser perfeita tem motivado a demora no lançamento de muitos produtos eletrônicos, 
(...).O tratamento hoje dispensado aos direitos autorais, e a atitude em relação a eles, varia radicalmente 
de um veículo para outro. A música desfruta de considerável atenção internacional, e os compositores de 
melodias, letras e sons são reembolsados por anos e anos. A melodia de "Parabéns a você" é de domínio 
público, mas se você quiser usar a letra numa cena de filme, tem de pagar royaties à Warner/Chappell. 
Não é lá muito lógico, mas, de qualquer maneira, isso faz parte de um complexo sistema de proteção aos 
compositores e intérpretes. Um pintor, pelo contrário, mais ou menos dá adeus a sua pintura no ato da 
venda. Um sistema do tipo pague-para-ver [pay-per-view] seria impensável. (...) Assim, mesmo para o 
mundo analógico, o sistema atual não vai durar muito tempo nem é inteiramente justo. No mundo digital, 
não se tratasimplesmente de ser mais fácil copiar e de as cópias serem mais fiéis. Nós conheceremos 
um novo tipo de fraude, que pode afinal não ser fraude alguma. Quando leio algo na Internet e qual um 
recorte de jornal, quero mandar uma cópia para alguém ou para uma lista, isso parece inofensivo. No 
entanto, com menos de uma dúzia de teclas digitadas, eu poderia retransmitir esse material para milhares 
de pessoas por todo o planeta (o que não acontece com o recorte de jornal). Recortar bits é bem diferente 
de recortar átomos. Na economia irracional da Internet de hoje, não custa sequer um centavo fazer o que 
descrevi anteriormente. Ninguém possui uma idéia clara de quem paga o quê na Internet, mas ela parece 
um serviço gratuito para a maioria dos usuários. Mesmo que isso venha a mudar no futuro, e algum 
modelo econômico racional seja aplicado à Internet, a distribuição de 1 milhão de bits para 1 milhão de 
pessoas poderá custar não mais do que um ou dois centavos. Com certeza, o preço não chegará nem 
perto das tarifas postais ou das taxas cobradas pela Federal Express, as quais se baseiam na 
movimentação de átomos. (...) O que acontece, então, quando transmitimos bits - que são, na realidade, 
amorfos - como aqueles dados sobre a previsão do tempo de que falei antes? Difícil dizer se um modelo 
das condições do tempo feito em computador é ou não uma expressão desse tempo. Na verdade, um 
modelo completo e robusto das condições do tempo feito em computador constitui, antes, uma simulação 
dessas condições, tão próxima da "coisa real" quanto se pode conceber. Decerto, a "coisa real" não é 
uma expressão de si mesma, mas ela própria. (...) Veja o mercado de ações. As flutuações dos preços 
das ações minuto a minuto podem ser apresentadas de várias maneiras diferentes. O conjunto dos 
dados, tanto quanto o conteúdo da lista telefônica, não pode ser objeto de direito autoral. Objeto deste 
seria, sem dúvida, uma ilustração do desempenho de uma determinada ação ou grupo de ações. Cada 
vez mais o receptor, e não o transmissor, dará esse tipo de forma aos dados, complicando ainda mais o 
problema da proteção. Em que medida esse conceito do caráter amorfo dos dados pode ser estendido a 
materiais menos prosaicos? A um noticiário (o que é possível) ou a um romance (algo mais difícil de se 
imaginar)? Quando os bits são bits, deparamos com todo um novo elenco de questões, e não apenas 
com os velhos problemas como a pirataria. O meio não é mais a mensagem." 
Veja o que diz John Perry Barlow[10]: 
"A última vez que se tentou amplamente usar a tecnologia para evitar as cópias - lembra quando a 
maioria dos softwares era protegida contra cópia? - ela falhou completamente. Embora os executivos do 
entretenimento sejam lentos demais para perceber isso, um dia eles se darão conta que deveriam ter 
entendido há muito tempo: a livre proliferação da expressão não diminui seu valor comercial. O acesso 
livre a aumenta e deveria ser encorajado, em vez de reprimido. (...) A maioria de nós vive hoje graças à 
inteligência, produzindo "verbos", isto é, idéias em vez de "substantivos", como automóveis e torradeiras. 
Médicos, arquitetos, executivos, consultores, advogados: todos sobrevivem economicamente sem serem 
"proprietários" de seu conhecimento. (...)Desde que o MP3 começou a inundar a rede, as vendas de CDs 
aumentaram 20%. Depois de desistir da proteção contra cópias, a indústria de software esperava que a 
pirataria se espalhasse. E isso não aconteceu - o mercado continua crescendo. Por quê? Quanto mais um 
programa é pirateado, mais provavelmente ele se tornará um padrão. Todos esses exemplos apontam 
para a mesma conclusão: a distribuição não comercial de informação aumenta a venda de informações 
comerciais. A abundância gera abundância. (...) Depois da morte do direito autoral, acho que nossos 
interesses serão garantidos pelos seguintes valores práticos: relacionamento, conveniência, 
interatividade, serviço e ética. (...) Em geral, se substituirmos "propriedade" por "relacionamento" 
entenderemos por que uma economia de informação digitalizada pode funcionar muito bem na ausência 
de uma lei de propriedade. Conveniência é outro fator importantíssimo na remuneração futura da criação. 
O motivo pelo qual o vídeo não matou o cinema é que era mais conveniente alugar um vídeo que copiá-
lo. Software é fácil de ser copiado, mas a pirataria não empobreceu Bill Gates. Por quê? No longo prazo é 
mais conveniente entrar num relacionamento com a Microsoft se você pretende usar seus produtos 
permanentemente. A interatividade também é fundamental para o futuro da criação. Desempenho é forma 
de interação. (...) Finalmente, há o papel da ética. As pessoas se sentem inclinadas a premiar o valor 
criativo, se não for difícil demais fazê-lo." 
Nomes de Domínio 
O nome de domínio, domain-name, é uma seqüência de letras ou números que servem para indicar um 
endereço na Internet. Vejamos a estrutura de um endereço: 
http://www.marzochi.com.br 
Onde marzochi é o nome de domínio, com indica comercial, a categoria a que esse domínio pertence 
e br indica o país, no caso Brasil. 
A característica do domínio é ser único, pois indica um endereço também único. O conflito surge quando 
esse nome de domínio é igual ou similar ao de uma marca. 
Qual a definição de marca? Todas as definições dizem "sinal distintivo aposto - aos produtos, artigos ou 
serviços - para diferenciá-los de outros idênticos ou semelhantes, de origem diversa". 
Pelo fato de um domínio ser único ele passa a ser usado como "sinal distintivo", portanto com valor 
equivalente, com a natureza jurídica de uma marca. 
Segundo Clóvis Silveira[11], "enquanto o nome de domínio é único, uma marca de produto ou serviço 
pode estar repetida em muitas classes de marcas e ter proprietários diferentes". Então, somente seria 
objeto de discussão o domínio que estivesse sendo usado como marca. 
Waldemar Álvaro Pinheiro[12] diz que o registro de marca alheia na Internet traz como conseqüência o 
prejuízo do proprietário, a vantagem ilícita por parte do usurpador e a indução a erro de terceiros. 
Classifica tal conduta como concorrência parasitária, a qual define como o ato de tirar proveito das 
realizações e do renome adquirido por outrem, ainda que não tenha a intenção de prejudicar. 
Segundo Gustavo Corrêa[13]: 
"(...) podemos concluir que o endereço eletrônico, ou domínio, da mesma forma que a marca, é parte 
integrante do estabelecimento comercial, enquadrando-se perfeitamente na categoria dos bens 
incorpóreos. (...) o domínio nos possibilita o acesso às informações alojadas em um servidor. Estas 
podem estar relacionadas tanto à marca de determinado produto quanto ao título de um estabelecimento 
comercial. Assim, o núcleo do domínio pode ser tanto a marca quanto o título do estabelecimento 
comercial, dependendo da natureza e do objetivo da informação armazenada no servidor. (...) Vemos o 
domínio como algo não primordialmente responsável pela distinção de produto ou serviço, semelhante ou 
afim, não sendo por isso marca. Porém, pelo fato de desempenhar função identificadora dentro da 
Internet, seu núcleo, sim, poderá estar relacionado à marca de um produto ou serviço, dependendo da 
natureza da informação alojada no site, e assim, deverá obedecer aos preceitos da lei que regula os 
direitos e obrigações relativos à propriedade industrial, sob pena de ser praticado o crime de concorrência 
desleal, previsto nos artigos 195 e 209 da Lei de Propriedade Industrial (lei 9279/96). A natureza jurídica 
do endereço eletrônico se aproxima muito da natureza do nome empresarial, aquele com o qual o 
comerciante se apresenta no comércio. Fica fácil relacioná-los quando aprendemos que o nome 
empresarial é responsável por tutelar diferentes interesses de um empresário, sendo eles a preservação 
de seu crédito perante o mercado e de sua clientela. Nesse mesmo sentido, o endereço eletrônico 
também os protege, pois é o meio pelo qual a clientela se relaciona com o estabelecimento,e também a 
maneira pela qual o estabelecimento é visto no ciberespaço. (...) Com relação à matéria em questão, 
Fábio Ulhoa Coelho afirma que: 'a adoção de núcleo de endereço eletrônico que possa induzir o 
internauta em erro quanto à identidade do empresário titular do estabelecimento virtual configura 
concorrência desleal. O prejudicado tem direito, além da indenização por perdas e danos, à prestação 
jurisdicional cautelar que autorize medidas registrárias e técnicas capazes de obstar a prática desleal'." 
Sobre o conflito entre domínio e marca, diz Jacques Labrunie[14]: 
"(...) a doutrina reconhece à marca várias funções. Em documento preparado pela International 
Trademark Association - INTA, em 1997, foram identificadas duas principais funções para a marca: 
indicação de origem (prevenir confusão dos consumidores) e qualidade. Luiz Leonardo, no Anuário de 
Propriedade Industrial da ABPI de 1979, identificou três funções para as marcas: indicação de origem, 
garantia da qualidade e publicidade e propaganda. Para Paul Mathèly, a marca exerce uma função 
essencial, de distinguir produtos e serviços; uma derivada, de garantia de qualidade e uma complementar, 
de publicidade. (...) Não há dúvida que a doutrina reconhece a função e importância econômica da marca, 
como sinal distintivo, de suma importância para o funcionamento do mercado e das empresas em geral. 
(...) Pouco importa se aquele que registra como nome de domínio, marca alheia, está utilizando ou não 
o site, pois mesmo que o site esteja vazio, o legítimo titular da marca esta impedido de registrar sua 
marca como nome de domínio - o que caracteriza uma turbação ao uso normal da marca. (...) A Internet 
não criou um mundo à parte. As regras do ordenamento jurídico aplicam-se da mesma forma. O uso 
indevido é indevido por qualquer meio." 
O registro de uma marca famosa como domínio é garantia de audiência, de acessos ao endereço 
eletrônico[15]. No Brasil, torna-se proprietário de um domínio quem primeiro o registrar, posição adotada 
mesmo após vários casos de pirataria. 
A reportagem "Lotação Esgotada", de Hélio Gurovitz na revista Exame em 1996, mostrou os primeiros 
casos. Uma empresa de informática de São Paulo tentou registrar como domínios, marcas como "Coca-
Cola", "American Express", "Danone". Nos Estados Unidos, um jornalista da revista Wired, registrou o 
domínio mcdonalds.com, só devolvendo ao Mcdonald's depois da empresa ter feito doações à entidades 
de caridade. 
Ao iniciar suas atividades no mercado brasileiro em 1999, o provedor norte-americano America On-
line constatou que seu domínio -aol.com.br - havia sido registrado por uma empresa de informática de 
Curitiba com o mesmo nome. A empresa americana perdeu a briga na Justiça. 
Os produtores do filme The Matrix, constataram - antes de lançar o filme - que o domínio thematrix.com já 
tinha dono. Optaram então por colocar o site do filme no endereço whatisthematrix.com. 
Um caso interessante é o dos sites whatshappening.com - americano - e do espanhol quepasa.com. Os 
dois são provedores de conteúdo,portais na linguagem dos especialistas da área. Oferecem o mesmo tipo 
de serviço que vai de notícias ao horóscopo. A única diferença é que o site americano oferece o serviço 
apenas em inglês enquanto o site espanhol oferece em espanhol e inglês. 
Acontece que o site americano estava processando o espanhol por violação de marca, haja vista os 
nomes de domínio, embora em línguas diferentes, terem o mesmo significado. O caso foi mostrado numa 
reportagem da revista Wired em 13 de outubro de 1999. Fica a pergunta: houve violação da marca, ou se 
trata de uma tentativa do site americano de barrar a concorrência? 
Esses conflitos só se resolverão após briga judicial. Muitos domínios registrados estão à venda pela 
Internet. Um dos primeiros casos resolvidos pela Justiça brasileira foi o do domínio ayrtonsenna.com.br, o 
qual havia sido registrado pela escola "Meu Cantinho" de Curitiba. No dia 10 de abril de 2000, sentença 
do Tribunal de Justiça do Paraná devolveu o domínio para a empresa Ayrton Senna Promoções, da 
família do piloto[16]. A escola recorreu e perdeu. O Tribunal de Justiça do Paraná decidiu que nome ou 
marca notórios têm os mesmos direitos na Internet[17]. 
Outro caso foi o do domínio www.embratel.com. A empresa brasileira de telecomunicação recorreu ao 
Comitê Arbitral da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), ligado a Organização das 
Nações Unidas, que delibera sobre disputas por registros de domínios genéricos, na maioria os .com, e 
conseguiu reaver o domínio que levava a sua marca, o qual estava registrado por um cidadão chamado 
Kevin McCarthy, um nome muito comum, equivalente a "João da Silva" no Brasil[18]. 
O processo é mais rápido, cerca de sessenta dias, mais barato e sua posição é reconhecida pela justiça 
americana. A OMPI exige a prova de três itens: que o domínio é igual ou similar a marca registrada; que o 
reclamante deve ser considerado como não tendo direitos sobre o domínio e explicar por que o uso do 
nome deve ser considerado de má-fé[19]. 
A OMPI também resolveu o caso envolvendo o livro infantil Harry Potter, sucesso de vendas em 2000 por 
todo o mundo. A Time Warner, detentora dos direitos sobre o livro, conseguiu reaver 107 endereços, 
registrados em diversas categorias, como .com e .org, envolvendo o nome Harry Potter[20]. 
A Justiça brasileira cancelou o registro dos nomes de domínio Jornal Nacional e Globo 
Esporte devolvendo-os à proprietária das marcas, a Rede Globo de Televisão. O empresário que havia 
feito o registro foi condenado ainda a pagar indenização de quinhentos reais por dia de utilização indevida 
das marcas[21]. 
Em 2 de julho de 2000 a Confecções New Top Ltda. foi condenada a pagar multa diária de 20 salários 
mínimos pelo período de 21 de fevereiro a 19 de maio de 2000, pelo uso indevido da marca Bloomberg 
em um site na Internet. A marca é mundialmente conhecida e pertence a Comunicações Bloomberg L.P., 
com sede nos Estados Unidos e a filial brasileira, Bloomberg do Brasil Comércio e Serviços Ltda. 
Descobriu-se também que tinha sido registrado pela empresa mais oito conhecidos nome de domínio, 
sem qualquer relação com o ramo de confecções[22]. 
O problema não é o fato de que se torna proprietário o primeiro que o registrar. É o registro, por parte de 
terceiros, de marcas alheias como domínio, que se tornou um negócio atrativo. A solução para essa 
questão seria delegar a responsabilidade em relação ao combate desse tipo de pirataria ao órgão 
responsável pelo registro, a FAPESP, o qual deveria obrigar o requerente a demonstrar o vínculo, o 
interesse no nome a ser registrado. Com isso evitar-se-ia, pelo menos, os problemas com os domínios 
registrados no Brasil, os terminados em .br. Todavia o órgão de registro alega não ter poderes para 
decidir sobre propriedade de marcas, pois isso seria objeto de decisão do Poder Judiciário. E os 
provedores alegam que são simples prestadores de serviço e com o crescimento acelerado da Internet 
fica impossível a fiscalização. 
Sobre essa questão Ivan Moura Campos[23] diz o seguinte: 
"Uma regra básica, adotada em todo o mundo, é o princípio da precedência no tempo para efeito de 
registro, ou seja 'quem registra primeiro recebe o nome'. No Brasil, além disso, é feita uma consulta a uma 
lista de marcas notórias, as protegidas em todas as classes da propriedade industrial para evitar que 
indivíduos não vinculados à empresa tentem registrar nomes como CocaCola.com.br, por exemplo. Em 
caso de pendência, o Comitê Gestor cumpre eventual decisão do Judiciário. Ciclicamente aflora a idéia de 
que o registro de nomes de domínio deveria ser concedida somente após uma consulta à base de marcas 
do INPI. Ora, isso não é feito em lugar nenhum do mundo, pela simples razão de que não há um 
consenso sobre se há relação entre o universo das marcas e o dos nomes de domínio. Além do mais, 
quantas marcas se registram por dia em média, para obter o registro demarca definitivo? Amarrar um 
registro ao outro teria inviabilizado o crescimento da Internet ainda no berçário. Uma alternativa em 
estudo para o caso brasileiro, a exemplo da dotada pela ICANN, nos Estados Unidos, envolve o 
credenciamento de instâncias administrativas extrajudiciais para conciliação e arbitragem, abrindo a 
oportunidade de entendimento entre as partes, sem prejuízo de, em caso de insucesso, recorrer-se às 
instâncias judiciais, como se faz hoje. (...) Em qualquer país, o registro de nomes de domínio é feito em 
uma base de dados única, central, pelo motivo simples de que não pode haver homônimos. Nos Estados 
Unidos, onde o número de 'hosts' sob nomes de domínios genéricos é muito maior que a soma do resto 
do mundo e o volume de solicitações é extraordinariamente grande, foi adotado um sistema de 
'ciberdespachantes' ('registrars') para os domínios genéricos de primeiro nível '.com', '.org' e '.net', 
mantendo, obviamente, um banco de dados centralizado, no 'registry'. Não há nenhum motivo que 
justifique a adoção de procedimento semelhante no Brasil, com relação ao registro '.br', a começar pelo 
fato de qualquer computador conectado à Internet poder fazer um registro em um par de minutos. O Brasil 
não precisa, e esperamos que não venha a precisar, de ciberdespachantes. As funções de registrar 
nomes de domínio e assinalar endereços IP são de interesse público e nem mesmo nos Estados Unidos, 
onde quase tudo é exercido pela iniciativa privada, o governo está ausente da formulação destas 
políticas. Cada país tem adotado solução própria para estabelecer uma autoridade para registro de 
nomes e endereços, desde ONGs, passando por autarquias e ministérios, mas sempre com a presença 
ou supervisão governamental. 
Em março de 2001, o juiz da 2.º Vara Cível de Brasília, Alfeu Gonzaga Machado, determinou a 
responsabilidade da FAPESP no registro indevido de dois domínios, os quais deveriam ser suspensos e 
transferidos para a autora da ação. A Fundação 18 de Março - FUNDAMAR - alegou violação da marca, 
registrada por ela no INPI, com relação aos domínios fundamar.com.br e fundamar.org.br registrados pela 
empresa Transitória Brasileira e pela Fundação Marlim Azul[24]. 
A ICANN (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers), um conselho de fiscalização 
internacional para endereços na Internet selecionou uma série de novos domínios, os chamados domínios 
de primeiro nível, que indicam a categoria, para evitar a sobrecarga de nomes .com, o qual contava com 
mais de vinte milhões de registros[25]. Os selecionados foram os seguintes: .info e .biz para uso 
geral, .propara profissionais, .name para sites pessoais, .museum para museus, .aero para empresas 
aéreas e .coop para cooperativas de negócios[26]. 
As eleições viraram o alvo dos piratas também. Reportagem do jornal Gazeta Mercantil[27] mostrava que 
os nomes dos virtuais candidatos à eleição presidencial de 2002 estavam registrados em nome de 
terceiros. 
Os exemplos citados mostram claramente a intenção de lucrar com o nome alheio. Há domínios 
registrados por uma empresa com sede em Manila nas Filipinas. Outros em nome de Vasconcellos 
morador de Punta del Este no Uruguai. Os terminados em .br estavam em nome de empresas brasileiras. 
Foi criado, pelo Tribunal Superior Eleitoral e Comitê Gestor da Internet, o domínio "can.br" para os 
candidatos às eleições municipais[28] do ano 2000. Foi a forma encontrada para padronizar a campanha 
pela rede, facilitando a busca de informações pelos eleitores e a fiscalização[29]. Embora a lei eleitoral 
não tenha previsto a Internet como meio de campanha, o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral é 
que se aplica à rede as mesmas disposições referentes aos demais meios de comunicação. 
Conclusão 
O direito autoral é necessário. Não há motivo para declará-lo morto. Deve existir como forma de garantir 
segurança financeira ao artista, estímulo à criação e circulação de conhecimento. 
A Internet é mais um meio de expressão das criações artísticas, dentro da esfera de proteção legal. O 
direito autoral é uma questão de ordem pública, pois visa garantir a produção e a circulação do 
conhecimento. 
O meio digital não é um obstáculo à proteção ao autor. A própria tecnologia tem meios para coibir a 
violação. E não se trata de uma mudança cultural. Basta a aplicação efetiva da lei. 
 
[1] Bê-a-bá da Internet, no endereço http://www.uol.com.br/internet/beaba/manual.htm, 1997. 
[2] FRIEDMAN, Thomas L. . Manifesto para o mundo veloz. O Estado de São Paulo. São Paulo, 23 de 
maio 1999. Caderno 2, p. D-4 até D-7 
[3]"No texto 'Data, Information, Knowledge and Competency', disponível em sua página na Internet 
(http://www.ime.usp.br/~vwsetzer), Valdemar Setzer, professor titular de Ciência da Computação na USP, 
propõe uma compreensão dos termos 'dado', 'informação' e 'conhecimento' bem diferente da que tem sido 
divulgada pelos arautos da nova era tecnológica. Para Setzer, dados são abstrações formais 
quantificadas que podem ser armazenadas e processadas por computador . Informação são abstrações 
informais (não podem ser formalizadas segundo uma teoria matemática ou lógica) que representam, por 
meio de palavras, som ou imagem, algum significado para alguém. Informações podem ser armazenadas 
em computador, mas não podem ser processadas (para isso seria preciso quantificá-las, reduzindo-as a 
dados). Enquanto dados são puramente sintáticos, informações contém semântica. Conhecimento é uma 
abstração interna e pessoal gerada a partir da experiência. Nesse sentido, não pode ser completamente 
descrito, representado, caso contrário seria apenas informação. Portanto, o conhecimento não pode ser 
armazenado nem processado por um computador." LOBO, Flávio. A Era da Ignorância.Carta Capital. 
São Paulo, 6 de dezembro 2000, n.º 137, p. 22. 
[4]A falta desse requisito caracteriza o erro de tipo. Mirabete e Delmanto citam jurisprudência sobre o 
caso de vendedor ambulante de "fitas piratas", sem instrução que não é capaz de entender a ilicitude da 
conduta. 
[5]KAPLAN, Carl. Is linking illegal?. The New York Times. New York, 16 de junho 2000, Technology, no: 
endereço http://www.nytimes.com 
[6]KAPLAN, Carl. When linking isn't better business. The New York Times. New York, 23 de março 2001. 
Technology, no endereço http://www.nytimes.com 
[7] GREGO, Maurício. A Era Napster. Info Exame. São Paulo, n.º 171, p. 45-54, junho 2000. 
[8] TINOCO, Luís Fernando. A festa acabou. Veja. São Paulo, edição 1674, p. 138-139, 8 de novembro 
2000. 
[9] NEGROPONTE, Nicholas. A Vida Digital. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 
[10] BARLOW, John Perry. Economia de idéias. Info Exame. São Paulo, p. 67-72, fevereiro 2001. 
[11] SILVEIRA, Clóvis. Internet e a Propriedade Intelectual. Palestra realizada na XL Semana Jurídica da 
Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, 1997. 
[12]PINHEIRO, Waldemar Álvaro. Do registro de marcas alheias na Internet. Revista dos Tribunais: São 
Paulo, vol. 753, p. 66-72, julho 1998. 
[13] CORRÊA, Gustavo Testa. Aspectos Jurídicos da Internet. São Paulo: Saraiva, 2000. 
[14] LABRUNIE, Jacques. Conflitos entre nomes de domínio e outro sinais distintivos. In: DE LUCCA, 
Newton e SIMÃO FILHO, Adalberto (org.). Direito & Internet. Bauru: Edipro, p. 239-256, 2000. 
[15]PASTOR, Luiza. Valorizar a marca decide sucesso na rede.O Estado de São Paulo. São Paulo, 3 de 
julho 2000. Economia, p. B-14. 
[16] GASQUES, Marcus Vinícius. Época. São Paulo, edição 102, p. 60-61, 1 de maio 2000. 
[17] MAGRO, Maíra Evo. Tribunal cancela domínio na Internet. Valor Econômico. São Paulo, 29 de 
março 2001. Legislação & Tributos, p. E-2. 
[18] VEJA. Tiro na máfia.com. Veja. São Paulo, edição 1650, p. 131, 24 de maio 2000. 
[19] MOREIRA, Assis. OMPI amplia o combate a posseiros da Web. Gazeta Mercantil. São Paulo, 18 de 
julho 2000. Primeiro Caderno, p. A-10. 
[20]NEBEHAY, Stephanie. Herói infantil derrota pirata digital nos EUA. Valor Econômico. São Paulo, 22 
de dezembro 2000.Empresas & Tecnologia, p. B-5. 
[21]O ESTADO DE SÃO PAULO. Globo pode usar 'Jornal Nacional' na Internet. O Estado de São Paulo. 
São Paulo, 31 de maio 2000. Geral, p. A-11. 
[22]MAGALHÃES, Thélio de. Justiça dá a primeira sentença condenando pirataria na Web. O Estado de 
São Paulo. São Paulo, 3 de julho 2000. Economia, p. B-14. 
[23]CAMPOS, Ivan Moura. Comitê Gestor, Internet e interesse público. O Estado de São Paulo. São 
Paulo, 2 de janeiro 2001. Economia, p. B-2. 
[24]FURTADO, Clarissa. Fapesp suspenderá domínios. Gazeta Mercantil. São Paulo, 7 de março 2001. 
Primeiro Caderno, p. A-12. 
[25]DEL REY, Marina. Conselho decide como desafogar o sufixo .com. Valor Econômico. São Paulo, 17 
de novembro 2000. Empresas & Tecnologia, p. B-4. 
[26]GAITHER, Chris. 7 domains to compete with .com. The New York Times. New York, 17 de novembro 
2000. Technology, no endereço http://www.nytimes.com 
[27]SOMENZARI, Luciano. Registros eletrônicos para 2002 são alvo de pirataria na Web. Gazeta 
Mercantil. São Paulo, 20 de setembro 2000. Primeiro Caderno, p. A-7. 
[28] Resolução TSE 20.684 - Processo administrativo n.º 18.493. 
[29] SILVA, Sônia Cristina. Candidatos ganham domínio na Internet. O Estado de São Paulo. São Paulo, 
8 de julho 2000. Primeiro Caderno, p. A-6. 
MARZOCHI, Marcelo De Luca. Internet e Direito Autoral. Disponível na internet: 
www.ibccrim.org.br, 18.07.2002

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