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corrigidas gratuitamente na maior comunidade 
colaborativa de redação do Brasil 

https://psalm.escreveronline.com.br
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Apresentação 
A redação está presente na grande maioria dos exames de acesso 
às universidades públicas e privadas do Brasil. Com vagas cada 
vez mais disputadas, por concorrentes cada vez mais preparados, 
a redação tem se tornado uma espécie de “critério de 
desempate”. Isso quer dizer que em cursos de alta demanda, 
como medicina, direito e engenharia, por exemplo, “ir bem” na 
redação significa conseguir uma vaga na universidade dos seus 
sonhos. 
Este caráter de “critério de desempate” que tem a redação se 
justifica pelo fato de que esta se diferencia das outras matérias 
escolares, pois exige habilidades diferentes. Responder a uma 
questão de física ou de biologia, por exemplo, requer um tipo de 
raciocínio e conhecimentos técnicos específicos que são 
exaustivamente treinados nas escolas e nos cursinhos. 
Escrever um bom texto, em contrapartida, envolve outros 
aspectos, como a sua capacidade de interpretação e 
argumentação, seu conhecimento de mundo e sua posição crítica 
perante os problemas da sociedade. Por isso, a redação é o meio 
utilizado pelas universidades para escolherem aqueles 
candidatos que mais se encaixam no perfil de aluno que elas 
desejam ter, ou seja, um aluno que tenha as capacidades acima 
listadas, sendo estas expressas na prova de redação. 
 
A redação também é importante pelo fato de que ela pode 
diferenciar um candidato dos demais, no caso em que boa parte 
3
dos candidatos são muito bons em todas as matérias. Isso pode 
ser observado na disputa de vagas que se tem geralmente para 
cursos concorridos, como os cursos de medicina. Para passar 
para a segunda fase de Medicina no vestibular da Fuvest em 
2011, por exemplo, o candidato precisou acertar mais de 80% da 
prova objetiva. Ou seja, para conseguir uma vaga neste curso era 
preciso mais do que acertar a maior parte das questões da prova 
e, dessa forma, escrever uma boa redação poderia ajudar o 
candidato a sair à frente dos demais. 
O que isso significa? “Ir bem na redação” pode diferenciar você 
dos outros candidatos, aumentando suas chances de conseguir a 
vaga tão sonhada na universidade. Porém, muitos cursinhos e 
escolas que preparam para o vestibular acabam deixando a 
redação em segundo plano, priorizando outras matérias, e isso 
pode determinar o seu insucesso no vestibular. 
Pensando nisso, nós, professores da EscreverOnline, criamos 
este livro eletrônico completo e extensivo sobre redação no 
vestibular & ENEM para suprir essa demanda. 
Nos capítulos a seguir, você conhecerá o que há de mais 
atualizado sobre redação no vestibular. 
Obrigado por adquirir este livro e bons estudos! 
- Profa. Fernanda, prof. Alexandre e toda a equipe de 
professores da EscreverOnline 
4
ENEM 2014: lições aprendidas 
A repercussão do ENEM 2014 foi incomparável e pode ser 
sentida até hoje, mesmo depois de tantos anos. A sociedade 
brasileira acompanhou em choque o cenário em que mais de 500 
mil alunos tiraram nota zero na prova de redação - o pior 
desempenho da história da prova! 
Do restante, 55% tiraram menos de 500 pontos (metade do 
total), e apenas 250 atingiram a nota máxima de 1000. 
Diante de tal cenário, caro estudante, não se assuste: como diria 
o grande químico francês Louis Pasteur, "a sorte favorece a 
mente bem preparada". 
Sua postura diante disso deve ser de ação. Para não fazer parte 
da estatística ruim no ENEM deste ano, leia e releia este livro e, 
se fizer parte do nosso treinamento online com correções, treine 
com afinco e siga cuidadosamente as orientações dos nossos 
professores. 
Você consegue! Nós estamos aqui para ajudar. 
- Os autores 
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Sumário 
Começando do começo: o Projeto de Texto 1 
Cap. 1 - Afinal... o que é cobrado em uma redação? 6 
1. Aspectos formais do texto: coesão e modalidade 10 
2. Olhando para o conteúdo do texto: coerência, conhecimento 
de mundo e uso da coletânea 15 
Cap. 2 – Sobre os gêneros textuais 27 
1. Imagem do interlocutor 28 
2. Características dos gêneros textuais 33 
3. Alguns exemplos de gêneros textuais 36 
a) Relato 36 
b) Notícia 39 
c) Editorial 46 
d) Artigo de opinião 49 
e) Dissertação 55 
f) A redação no ENEM 61 
Cap. 3 – Vícios de redação: siga estes quatro conselhos 
simples para não os cometer erros mais comuns 67 
Cap. 4 – Alguns erros gramaticais comuns no português 73 
Cap. 5 - Acentuação 81 
Cap. 6 – Articulação textual 87 
1. Coesão intra e interparágrafos 87 
2. Conjunções 94 
Cap. 7 – Dissertação aprofundada 104 
1
2
1
Começando do começo: o Projeto de Texto 
Escrever um texto requer organização e planejamento. Se você 
começar a escrever sem saber aonde quer chegar ou que ideias 
quer defender, seu texto poderá ficar vago, confuso e incoerente. 
A organização e o planejamento são importantes, pois eles 
facilitam a leitura e, consequentemente, a adesão do leitor àquilo 
que você defende em seu texto. Afinal, um leitor atento 
consegue, muitas vezes, perceber se um texto foi planejado com 
antecedência ou se o autor foi escrevendo e pensando na 
continuidade dos fatos ou dos argumentos apenas depois de já 
ter começado a escrever. 
Algo similar ocorre quando assistimos a um filme. Em alguns 
casos, notamos no final do filme que os elementos que surgiram 
ao longo da narrativa eram essenciais para entender toda a 
história. Isso mostra que houve um planejamento por parte do 
autor, definindo quem são os personagens, que relação eles têm, 
por que certo objeto aparece em uma cena ou por que a câmera 
foca em uma parte determinada do cenário, etc. 
E de que modo organizamos um texto para que ele fique claro e 
coerente? 
Em primeiro lugar, é muito importante que você saiba qual é o 
tema principal do seu texto, definindo que ideias quer apresentar 
ou defender. Para isso, é importante também que você conheça 
os objetivos e as principais características do gênero que vai 
usar. 
Por exemplo, para escrever uma narrativa, você tem que 
planejar, como dissemos a respeito dos filmes, quem são os 
personagens, onde e quando a história se passa, quais são as 
principais ações dos personagens, qual o clímax e como é o 
fechamento dos acontecimentos. Sabendo como a história vai 
terminar, fica mais fácil conduzir o leitor ao longo do texto. 
2
O leitor também é um elemento importante que deve ser 
considerado neste planejamento, pois é muito importante que 
você tenha bem definido quem é o seu interlocutor, ou seja, a 
pessoa que vai ler seu texto. Toda produção escrita tem um 
interlocutor e aquilo que escrevemos deve estar direcionado 
especificamente a ele. 
No caso de uma carta, por exemplo, você tem que criar a 
imagem tanto de quem está escrevendo quanto de quem vai 
recebê-la. Para construir essa imagem, você pode pensar nas 
seguintes questões: 
• Por que essa carta está sendo enviada por essa pessoa? 
• Por que o destinatário específico foi escolhido? 
• Qual a relação entre ambos? 
Assim, considerando essas questões no planejamento do texto, 
é possível selecionar melhor o que deve ser escrito e, inclusive, 
qual a linguagem mais apropriada para aquele determinado 
momento. 
Na dissertação, um dos gêneros mais pedidos nos vestibulares e 
concursos ainda hoje, o planejamento também é essencial. É 
preciso ter bem definido qual o tema da proposta, qual será a 
tese defendida e quais argumentos são importantes para provar 
essa tese. Depois disso, fica mais simples organizar as ideias e 
relacionar os argumentos entre si. 
O projeto de texto, portanto, não é apenas um rascunho. Você 
até pode já começar a escrever seus parágrafos, mas também é 
possível apenas listar as principais ideias que estarão presentes 
em seu texto, como uma lista demodo mais esquemático, por 
exemplo, para que você possa ter uma visão do seu texto como 
um todo. 
Ele deve ser organizado de uma forma que seja entendido por 
você e facilite sua escrita. Não há um jeito único de se fazer um 
projeto, mas fazê-lo é imprescindível para um bom resultado em 
3
sua redação. 
Para você ter uma ideia de como pode ser feito um projeto de 
texto, veja o exemplo dado a seguir, em relação à proposta de 
redação do ENEM 2006: 
REDAÇÃO ENEM – 2006 
Uma vez que nos tornamos leitores da palavra, 
invariavelmente estaremos lendo o mundo sob a influência 
dela, tenhamos consciência disso ou não. A partir de então, 
mundo e palavra permearão constantemente nossa leitura e 
inevitáveis serão as correlações, de modo intertextual, 
simbiótico, entre realidade e ficção. 
Lemos porque a necessidade de desvendar caracteres, 
letreiros, números faz com que passemos a olhar, a 
questionar, a buscar decifrar o desconhecido. Antes mesmo 
de ler a palavra, já lemos o universo que nos permeia: um 
cartaz, uma imagem, um som, um olhar, um gesto. São 
muitas as razões para a leitura. Cada leitor tem a sua 
maneira de perceber e de atribuir significado ao que lê. 
Inajá Martins de Almeida. O ato de ler. Internet: www.amigosdolivro.com.br 
(com adaptações). 
Minha mãe muito cedo me introduziu aos livros. Embora nos 
faltassem móveis e roupas, livros não poderiam faltar. E 
estava absolutamente certa. Entrei na universidade e tornei-
me escritor. Posso garantir: todo escritor é, antes de tudo, 
um leitor. 
Moacyr Scliar. O poder das letras. In: TAM Magazine, jul./2006, p. 70 (com 
adaptações). 
Existem inúmeros universos coexistindo com o nosso, neste 
exato instante, e todos bem perto de nós. Eles são 
bidimensionais e, em geral, neles imperam o branco e o 
negro. 
Estes universos bidimensionais que nos rodeiam guardam 
s u r p r e s a s i n c r í v e i s e i n i m a g i n á v e i s ! V i a j a m o s 
instantaneamente aos mais remotos pontos da Terra ou do 
Universo; ficamos sabendo os segredos mais ocultos de vidas 
humanas e da natureza; atravessamos eras num piscar de 
4
olhos; conhecemos civilizações desaparecidas e outras que 
nunca foram vistas por olhos humanos. 
Estou falando dos universos a que chamamos de livros. Por 
uns poucos reais podemos nos transportar a esses universos 
e sair deles muito mais ricos do que quando entramos. 
Internet: www.amigosdolivro.com.br (com adaptações). 
Considerando que os textos acima têm caráter apenas 
motivador, redija um texto dissertativo a respeito do 
seguinte tema: 
 
O PODER DE TRANSFORMAÇÃO DA LEITURA 
Nessa proposta do Enem, o tema mais amplo é LEITURA. No 
entanto, não é possível escrever uma redação de 30 linhas 
falando sobre tudo que possa estar relacionado a esse tema. Por 
isso, é necessário fazer um recorte, ou seja, decidir sobre o que, 
especificamente, se falará a respeito do tema geral.
Alguns vestibulares esperam que o candidato estabeleça sozinho 
a relação entre os textos de apoio (chamados também de 
coletânea) e defina um recorte temático. Outros, já apresentam 
este recorte explicitamente na proposta, como ocorre nas 
propostas do ENEM. No segundo caso, é bastante importante 
que você fique atento ao recorte temático para não fugir do 
tema, pois isso pode fazer com que sua redação seja anulada.
Definido o recorte temático, é preciso decidir qual a tese a ser 
defendida. Nessa proposta fica bastante claro que a leitura é 
vista de forma positiva, pois tem um poder transformador, que 
parece trazer grandes benefícios aos leitores. A partir dessa 
observação, podemos definir uma tese a ser defendida como, por 
exemplo, a seguinte: a leitura tem o poder de transformar as 
pessoas de forma positiva, trazendo prazer e melhorias para 
a vida dos indivíduos.
Lembre-se de deixar bem claro, em sua introdução, qual a tese 
defendida. Assim, seu interlocutor já sabe quais os objetivos do 
5
texto que está lendo e fica mais fácil estabelecer relações com os 
argumentos.
Para definir quais serão os argumentos apresentados em seu 
texto, há dois caminhos:
• Selecionar o que há de mais importante nos textos de 
apoio apresentados pela proposta.
• Selecionar outros argumentos a partir do seu 
conhecimento de mundo sobre o assunto.
Ou ainda você pode “cruzar” os dois caminhos, trabalhando com 
um dos argumentos da coletânea e acrescentando outro 
argumento a partir de seu conhecimento sobre o tema. É 
importante ressaltar aqui o uso da palavra “selecionar”, pois é 
inevitável que você escolha alguns argumentos que podem ser 
úteis para defender sua tese. Afinal, como se trata de um texto de 
aproximadamente 30 linhas, você não poderá falar sobre 
absolutamente tudo em relação ao tema. Por isso, é preciso 
escolher quais são os argumentos que sustentarão suas ideias e 
que podem ser melhor relacionados no texto. Geralmente, quem 
opta por apresentar muitos argumentos, acaba não se 
aprofundando em nenhum deles, o que resulta em um texto 
superficial e, muitas vezes, bastante confuso.
Tendo tudo isso em mente e organizado no papel, você já pode 
estabelecer quais argumentos serão apresentados em cada 
parágrafo e de que forma eles serão relacionados, conduzindo o 
leitor à sua conclusão. Esta deve apresentar um apanhado geral 
de tudo que foi escrito, retomando a tese apresentada no início 
do texto, reforçando, assim, o seu ponto de vista sobre o tema.
6
Capítulo 1 
Afinal... o que é cobrado em uma redação? 
Ainda que as grades de correção dos vestibulares apresentem 
algumas pequenas diferenças em relação ao modo como são 
atribuídas as notas aos candidatos, os critérios avaliados são 
sempre os mesmos.
Por isso, é muito importante saber quais aspectos exatamente 
são levados em consideração quando os corretores avaliam seu 
texto. Pois, conhecendo o que é esperado de nós, fica mais fácil 
saber o que é preciso ser feito para conseguir uma boa nota.
Vejamos, então, quais são os principais quesitos observados em 
uma redação.
 
1) Tema 
 
Toda redação deve cumprir aquilo que a proposta pede. Isso é 
muito importante, pois redações que fogem do tema acabam 
sendo anuladas.
Como dissemos na seção sobre Projeto de Texto, em alguns 
vestibulares é mais fácil saber qual o recorte temático da 
proposta e o que deve ser feito. Por exemplo, a proposta da 
Fuvest, em 2011, pedia para que fosse redigida uma redação 
sobre o seguinte tema: “O altruísmo e o pensamento a longo 
prazo ainda têm lugar no mundo contemporâneo?”. Aqui, 
observamos claramente que o recorte temático já está definido 
pela pergunta e, para desenvolvê-lo de modo adequado, era 
preciso aparecer uma discussão que respondesse à questão 
colocada.
Outros vestibulares, no entanto, pedem para que seus candidatos 
depreendam o tema que deve ser discutido a partir da leitura dos 
textos presentes em uma coletânea apresentada na proposta. 
7
Nesse caso, então, cabe ao candidato definir o recorte temático. 
Por exemplo, se a proposta apresentou textos sobre educação, 
tocando no assunto do salário dos professores, sabemos que o 
tema geral é educação, mas devemos fazer um recorte nesse 
tema, falando especificamente da questão salarial dos 
professores. Se o candidato não entrar nessa discussão e falar 
apenas sobre como os alunos não respeitam mais os professores, 
por exemplo, sua redação pode ser desconsiderada.
Isso nos deixa claro que os vestibulares buscam avaliar também 
se seus candidatos são bons leitores.
2) Gênero textual 
 
Além de escrever sobre o tema ou recorte temático solicitado 
pela proposta, é imprescindível que seu texto seja adequado ao 
gênero que está sendo pedido.
Por exemplo, se a proposta pede para que o candidato escreva 
uma dissertação e ele escreve uma carta, não adequou seu texto 
ao gênero em questão.Logo, sua redação também poderá ser 
anulada.
Para que isso não ocorra, é muito importante conhecer os 
gêneros pedidos nos vestibulares, para que você possa escrever 
seu texto de acordo com as características de cada um deles. Isso 
ainda serve para saber adequar a linguagem ao gênero em 
questão, o que também será avaliado em sua redação. No 
capítulo 2 nós apresentamos alguns gêneros que são mais 
pedidos nos vestibulares para que você possa conhecê-los 
melhor.
3) Coletânea 
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Alguns vestibulares apresentam na proposta da redação uma 
seleção de textos que podemos chamar de textos-base. Ou seja, 
são textos que apresentam algumas ideias e opiniões acerca do 
tema que deve ser discutido e que podem ajudá-lo a definir o 
que será escrito em sua redação. Esse critério avalia se o 
candidato, além de ser um bom escritor, é também um bom 
leitor.
Portanto, é importante saber usar os textos presentes na 
coletânea de forma que eles acrescentem algo à sua redação. Por 
isso, procure não copiar apenas o que está na coletânea em seu 
texto, pois seu leitor perceberá se a inclusão de um determinado 
trecho estiver deslocada ou artificial.
Para que isso não ocorra, mostre que as ideias retiradas da 
coletânea estão totalmente relacionadas às suas próprias ideias. 
Mais uma vez destacamos a importância do projeto de texto 
para que se faça um bom uso da coletânea.
 
4) Coesão 
A coesão está relacionada à estrutura de um texto e à 
organização das ideias. Nesse quesito, os corretores buscam 
avaliar se as ideias estão bem relacionadas por meio de 
conectivos, se a passagem de um parágrafo para o outro mostra 
relação entre eles e se a pontuação do texto está adequada.
É importante ficar atento à coesão da redação, pois a falta de 
conexão entre as ideias pode fazer com que um texto apresente 
também problemas de coerência, que é outro quesito importante 
na avaliação.
5) Coerência 
 
9
Enquanto a coesão refere-se à organização e à estrutura do texto, 
a coerência está relacionada ao conteúdo daquilo que se escreve.
Um texto coerente deve sempre mostrar uma relação lógica 
entre as ideias e não pode apresentar contradições. Por isso, é 
importante organizar sua redação antes de escrevê-la, como 
você viu na seção sobre projeto de texto.
Na maioria dos textos, sobretudo em gêneros mais objetivos, 
como é o caso da dissertação, é necessário também haver uma 
coerência externa, ou seja, as informações trazidas para o texto 
devem ser verdadeiras em um contexto real. Neste momento, 
percebemos a importância de se ter um bom conhecimento de 
mundo. 
 
6) Modalidade 
 
Outro quesito levado em consideração na correção de redações é 
a modalidade, ou seja, a adequação da linguagem utilizada ao 
gênero em que se está escrevendo e a adequação à norma culta 
do português brasileiro.
Para ter uma boa nota de modalidade, portanto, é preciso saber 
escrever corretamente, evitando erros de ortografia, de 
concordância, de regência ou de acentuação, por exemplo. Além 
disso, é preciso fazer escolhas lexicais adequadas, não apenas 
em relação ao caráter formal do texto, mas também 
considerando o sentido das palavras no contexto em que são 
empregadas. 
É importante ressaltar que, ainda que alguns vestibulares 
possam pedir gêneros menos formais (como é o caso da 
Unicamp, em que são pedidos inclusive gêneros orais), continua 
sendo necessário escrever de acordo com as regras gramaticais.
10
Até este momento demos um panorama geral sobre os principais 
critérios considerados nas provas de redação dos vestibulares. 
Apresentaremos, nas seções a seguir, alguns destes critérios de 
modo mais detalhado, além de falarmos um pouco sobre a 
importância do conhecimento de mundo e do uso da coletânea 
para a redação. 
1. Aspectos formais do texto: coesão e modalidade 
Nesta seção, falaremos um pouco sobre dois aspectos que dizem 
respeito à estrutura formal do texto: a coesão e a modalidade.
a) Coesão
Observe o trecho abaixo:
“A menina estava brincando no balanço. A menina caiu. A menina era 
delicada. A menina chorou. A menina decidiu que nunca mais iria 
brincar no balanço. A menina achava que o balanço era perigoso”.
 
Ao ler esse pequeno texto, percebemos que a leitura não ocorre 
de forma fluida, pois, além de uma grande repetição de palavras 
(no caso “a menina”), as frases não mostram relação umas com 
as outras e há muitos pontos finais, o que deixa o texto com uma 
impressão de texto “cortado”.
No entanto, este não é um problema difícil de resolver, pois, em 
nossa língua, há diversos recursos que nos permitem organizar o 
texto, estabelecendo relação entre as ideias. A esse processo 
damos o nome de coesão, quesito muito cobrado nos 
vestibulares e que é imprescindível na escrita de qualquer texto.
Para que um texto tenha uma boa coesão, então, é preciso ficar 
atento à pontuação (uso de vírgulas e pontos finais), para que a 
leitura do seu texto seja fluida, e usar os recursos coesivos de 
11
que dispomos na língua. Além disso, é necessário estabelecer 
relações entre as ideias tanto dentro do parágrafo 
(intraparágrafo) quanto entre um parágrafo e outro 
(interparágrafos), conforme mostraremos no capítulo 6.
 
Fique atento a períodos muito longos ou parágrafos sem 
pontuação, pois isso pode prejudicar o entendimento de seu 
texto!
 
Veja a seguir alguns recursos coesivos importantes:
1) Uso de termos que se refiram a algo que já foi dito ou a algo que 
esteja relacionado ao contexto daquilo que se fala (algo que está 
externo ao texto).
 
Exemplos:
I) Espero que veja este filme.
Nesse caso, o pronome este não retoma algo que já foi 
mencionado no texto, mas faz referência a um filme que tanto 
quem escreve e como quem lê o texto sabe qual é.
 
II) Ontem assistimos “O Discurso do Rei”. Este filme foi o 
campeão do Oscar de 2011.
Aqui, o pronome este faz referência ao nome do filme, que já 
havia aparecido no texto (“O Discurso do Rei”).
 
2) Substituir uma palavra ou oração inteira por algum outro termo.
 
Exemplo:
I) Maria quer passar no vestibular e eu também.
O uso de também nesta frase substitui toda a oração “quer 
passar no vestibular”, evitando assim uma repetição 
desnecessária: “Maria quer passar no vestibular e eu quero 
passar no vestibular”.
12
 
3) Omitir uma palavra, expressão ou oração.
 
Exemplo:
I) Júlio foi mal na prova e eu não.
Aqui, foi omitido o trecho “foi mal na prova”, evitando a 
repetição mais uma vez. Se não houvesse a omissão, a frase 
ficaria: “Júlio foi mal na prova e eu não fui mal na prova”.
4) Trocar uma palavra por um sinônimo, por uma palavra mais ou 
menos ampla ou  ainda por um pronome que o substitua.
 
Exemplos:
I) A prova de ontem foi adiada. Ela será realizada na próxima 
semana.
Aqui, o pronome ela substitui o termo a prova.
 
II) Os nutricionistas falam da importância da maçã em qualquer 
dieta. A fruta ajuda a controlar o colesterol e diminui o risco de 
algumas doenças.
Nesse caso, a palavra maçã foi substituída por uma palavra mais 
ampla (fruta), na qual está inserida.
5) Uso de conjunções para estabelecer relações entre palavras, 
orações e parágrafos. Existem diferentes conjunções para expressar 
as mais variadas relações entre o que se quer dizer. Muitas vezes o 
simples uso de uma conjunção entre um parágrafo e outro já faz com 
que a coesão do texto fique melhor. Para isso é importante saber qual 
é a função de cada conjunção, evitando relações sem sentido e com 
problemas de coerência:
Exemplos:
I) Estudei muito, no entanto, fui mal na prova. 
II) Estudei muito, portanto, fui mal na prova. (?)
Nestes exemplos, observamos que não basta apenas utilizar a 
conjunção, é precisa utilizá-la corretamente. A oração “estudei13
muito” nos leva para a conclusão de “sucesso na prova”, porém 
temos aqui uma conclusão contrária, a do insucesso, expressa 
por “fui mal na prova”. Assim, para que possamos estabelecer 
uma relação entre as duas orações é preciso utilizar uma 
conjunção que expresse uma relação de oposição, tal como é 
feito em (I) através da conjunção “no entanto”. A mesma relação 
não pode ser estabelecida pela conjunção “portanto”, já que esta 
é uma conjunção conclusiva e não opositiva. Assim, o 
enunciado em (II) nos parece estranho, pois “ir mal na prova” 
não é uma conclusão natural para “estudar muito”, mostrando 
assim um uso inadequado da conjunção, ao gerar uma 
incoerência. 
Estes são alguns dos recursos que podemos usar para a boa 
coesão de um texto. Observamos que enquanto alguns deles são 
usados quase que de modo automático, como a troca de um 
termo pelo pronome, outros precisam ser planejados de forma 
estratégica, como o uso de conjunções. Mas, independentemente 
do recurso utilizado, o mais importante é lembrar que ideias 
bem articuladas são um grande diferencial para textos bem 
escritos.
b) Modalidade
Modalidade é um dos termos usados quando se avalia a 
adequação de um texto à norma culta. Por isso é importante 
conhecer as regras gramaticais da nossa língua e, mais do que 
isso, ter um vocabulário adequado ao gênero discursivo que está 
sendo escrito.
Mas o que seria um vocabulário adequado ao gênero discursivo? 
Para compreendermos esta questão podemos pensar, em 
primeiro lugar que, mesmo quando estamos conversando, a 
maneira como nos comunicamos com as pessoas pode variar. Se 
você está conversando em um grupo de amigos certamente usa 
14
um vocabulário diferente daquele que usa ao conversar com o 
diretor de sua escola ou com o chefe de uma grande empresa.
O mesmo ocorre quando estamos escrevendo. Sabemos, por 
exemplo, que ao escrever uma dissertação, não podemos usar 
linguagem informal ou coloquialismos. Por outro lado, isso é 
permitido quando você escreve um e-mail para um amigo ou um 
comentário em um blog.
E para saber qual é a linguagem mais adequada a um 
determinado gênero textual, é preciso conhecer suas 
características. Para isso, mais uma vez é importante ser um 
bom leitor e estar atento aos textos presentes em nosso dia a dia.
Como dissemos, além da escolha lexical, a adequação à norma 
culta também é avaliada nos vestibulares. E escrever 
corretamente independe do gênero textual. A menos que você 
esteja representando a fala de um personagem por meio do 
discurso direto em uma narrativa, não é permitido escrever com 
erros gramaticais ou com abreviações do internetês, por 
exemplo. Assim, mesmo que seja pedido no vestibular a redação 
de um e-mail ou de um comentário em blog, o melhor é mostrar 
para seu corretor que você domina a norma culta, redigindo seu 
texto nessa modalidade.
Quando falamos em adequação à norma culta, estamos nos 
referindo às regras que são ensinadas na aula de gramática, que 
envolvem a acentuação, a ortografia, a concordância e a 
regência (verbal e nominal). É importante estar atento a essas 
regras e aplicá-las corretamente, pois quanto maior a quantidade 
dos erros presentes em seu texto e a sua variedade, mais 
prejudicada estará sua nota.
Além disso, lembre-se de que a forma como você escreve e o 
vocabulário que seleciona para um texto é uma espécie de cartão 
de visita para seu leitor. Às vezes, um candidato tem boas ideias, 
15
mas estas não são compreendidas, pois sua escrita é precária ou 
confusa. Um texto bem escrito e sem erros faz com que o leitor 
veja seu texto com outros olhos e, inclusive, entenda melhor o 
que você quer lhe dizer.
Para perceber a importância de se escrever corretamente, veja 
abaixo, dois trechos de redações publicadas no site da Fuvest, 
onde você encontra alguns exemplos das melhores redações 
deste vestibular. Nesses trechos, podemos observar o cuidado 
dos candidatos tanto com a escolha do vocabulário mais 
apropriado a uma dissertação, quanto com a adequação às regras 
gramaticais:
Em ambos os textos, notamos que os candidatos têm um 
conjunto lexical bastante amplo, usando palavras como 
“efêmeras”, “cerne”, “perpetuavam”, “legado”, entre outras. No 
entanto, isso não significa que para ter uma boa nota no quesito 
modalidade seja necessário usar palavras difíceis. Aliás, evite 
usar palavras cujo significado você não conhece ou sobre o qual 
http://www.fuvest.br/vest2010/bestred/bestred.html
16
você tem dúvidas, pois usar uma palavra com seu significado 
errado pode trazer problemas de coerência para seu texto.
2.Olhando para o conteúdo do texto: coerência, 
conhecimento de mundo e coletânea
Como mostramos na seção anterior, para conseguir uma boa 
nota na redação é importante dominar os aspectos formais do 
texto, que envolvem a coesão e as regras gramaticais 
(modalidade). No entanto, dominar os aspectos formais não será 
suficiente se você não tiver um bom repertório (conhecimento 
de mundo) para discutir o tema proposto e se não for capaz de 
estabelecer relações coerentes entre as ideias que apresenta no 
texto. Além disso, não basta demonstrar suas habilidades de 
escrita, é preciso também demonstrar suas habilidades de leitura, 
sabendo, por exemplo, como utilizar a coletânea oferecida pela 
proposta de vestibular. Vejamos a seguir cada um desses 
aspectos, começando pela coerência. 
a) Coerência
Como já dissemos anteriormente, a coesão e a coerência são 
dois quesitos muito importantes na construção de um texto, pois 
ambos estão associados ao bom entendimento daquilo que se 
escreve. No entanto, enquanto a coesão está no plano das 
palavras, ou seja, é definida, por exemplo, pelo uso de 
conjunções que estabelecem relações entre o que se diz em um 
texto (trata-se da parte estrutural de um texto), a coerência 
encontra-se no plano das ideias, portanto, está relacionada ao 
conteúdo do texto.
Um texto pode ser incoerente ao apresentar ideias que não têm 
uma relação de sentido bem estabelecida e também ao 
apresentar ideias falsas ou mal organizadas. Além disso, as 
17
incoerências produzidas no texto podem prejudicar a sua 
compreensão, pois é exigido do leitor um esforço maior para 
tentar compreender as ideias que você discute.
Mais uma vez, a organização das ideias depende de um 
planejamento prévio, por isso sempre destacamos a importância 
do projeto de texto antes de iniciar suas redações.
Observe as frases abaixo, que nos mostram diferentes exemplos 
de incoerência:
1) Hoje está chovendo… Vou para o Japão.
Uma frase como essa, apesar de não apresentar problemas em 
sua estrutura, provavelmente causa estranhamento ao leitor. 
Afinal, qual é a relação entre estar chovendo e alguém decidir ir 
para o Japão? Nesse caso, temos uma frase cujas ideias não têm 
relação de sentido; logo, trata-se de uma frase incoerente.
2) 60% da turma não passou no vestibular… Ainda bem que faço 
parte dos outros 70%.
Neste segundo exemplo, a estrutura da frase também não 
apresenta problemas. No entanto, ela traz uma informação que 
não tem sentido, uma vez que não pode ser real. A informação 
em questão é o fato de que não é possível que o total de uma 
porcentagem seja de 130% ao invés de 100%, como já é 
estabelecido. Neste caso, dizemos que há um problema de 
coerência externa, o que pode prejudicar seu texto por trazer 
informações que não são verdadeiras.
 
3) Estudei muito, portanto, fui mal na prova.
Aqui, retomamos o exemplo da seção anterior em que tratamos 
da coesão para mostrar novamente que o uso de uma conjunção 
que não seja adequada também faz com que o texto não fique 
18
coerente. Afinal, é quaseimpossível alguém ir mal em uma 
prova por ter estudado muito.
4) A empresa resolveu extorquir seus clientes pelos danos causados.
Esta última frase nos mostra um exemplo em que o que está 
escrito provavelmente não é exatamente o que se queria dizer. 
Neste caso, o problema de coerência se deve ao uso inadequado 
de uma determinada palavra, o que mostra um desconhecimento 
do vocabulário por parte de quem escreve. Ou seja, a palavra 
“extorquir” significa “adquirir algo com ameaça ou violência”, o 
que faz com que a frase fique sem sentido ou, no mínimo, 
estranha. E o que provavelmente quem escreveu essa frase 
queria dizer era que “A empresa resolveu ressarcir seus 
clientes pelos danos causados”, ou seja, que a empresa irá 
“indenizar” seus clientes.
 
Esses exemplos nos mostram que a coerência é imprescindível 
para que as ideias de um texto sejam bem compreendidas pelos 
seus leitores. Eles nos mostram também que para um texto ser 
coerente é preciso demonstrar conhecimento de mundo (sobre o 
qual falaremos na próxima seção), além de estar atento a 
diversos detalhes, inclusive à escolha de vocabulário e 
conjunções adequadas.
Como já dissemos, uma outra forma de avaliar a coerência está 
relacionada à organização das ideias dentro de um texto. Se 
você tiver um projeto de texto bastante sólido e mostrar ao seu 
leitor que suas ideias estão bem relacionadas, certamente terá 
uma nota boa de coerência. É importante deixar evidente que 
seu texto tem uma espécie de fio condutor ao qual todas as 
ideias estão relacionadas. Sem um projeto e o fio condutor, é 
provável que a organização de suas ideias fique prejudicada.
Pense sempre que é preciso haver uma progressão das ideias 
que você apresenta no texto. Precisamos nos manter atentos para 
19
que a ordem em que as ideias aparecem no texto seja planejada e 
estratégica.
Para isso é importante que, a cada parágrafo, você aprofunde 
mais a ideia que está sendo apresentada e/ou discutida, 
acrescentando novas informações ou pontos de vista, por 
exemplo. Dessa forma, é possível evitar textos caóticos (em que 
os parágrafos estão desarticulados e tratam de temas diferentes, 
apenas comentando-os) ou textos circulares (em que cada 
parágrafo parece repetir sempre as mesmas ideias, ou seja, o 
texto não progride).
Para compreender a necessidade de estar atento à coerência ao 
escrever um texto, observe a redação abaixo, publicada pela 
Comvest como uma redação abaixo da média:
 
Ao longo da história, a saúde pública sempre foi um desafio, 
de um modo geral, para a política e nossos governantes 
bem como para a ciência. Ambos procuram trabalhar 
juntos visando uma população saudável através das 
polêmicas medidas preventivas. 
De acordo com a Constituição Federal de 1988, a saúde é 
direito de todos e dever do Estado, sendo assim, grande 
parte dos problemas da saúde pública exige a atuação deste 
que emprega tanto os mecanismos de persuação, como a 
informação, quanto os meios materiais, como a execução de 
serviços e as tradicionais medidas de polícia administrativa 
condicionando e limitando a liberdade individual. Porém, 
tal promoção da saúde pública encontra muitas dificuldades 
na história de nosso país quando consideramos o papel da 
sociedade e de cada indivíduo. 
Quando o Rio de Janeiro possuía 800 mil habitantes era 
uma cidade perigosa devido a diversos tipos de doenças. 
Naquela época as políticas de saneamento de Oswaldo Cruz 
cuja lei tornou obrigatória a vacinação, mexeu com muita 
gente gerando a famosa reação popular conhecida como 
http://www.comvest.unicamp.br/vest_anteriores/2009/download/comentadas/fase1.pdf
20
Revolta da Vacina. Tal revolta se distinguiu pelo trágico 
desencontro de boas intenções: as de Oswaldo Cruz e as da 
população. E, após 103 anos deste marco histórico, algumas 
tensões geradas por ações preventivas ainda persistem 
como no caso da dengue na qual o combate tem sido 
dificultado devido aos profissionais dos serviços de controle 
encontrarem imóveis fechados ou serem impedidos pelos 
proprietários de penetrarem nos recintos. 
Porém, atribuir ao doente a culpa dos males que o afligem é 
procedimento tradicional na história da humanidade, 
cabendo a ciência demonstrar que agentes causadores de 
muitas doenças são vírus e bactérias alheios às virtudes e 
fraquezas humanas. Em tais fraquezas, também podemos 
citar o controle de peso, tabagismo, ingestão de álcool, 
sedentarismo e hábitos alimentares terem um papel 
importante no bem-estar do indivíduo. 
Portanto, para que possamos ter um desenvolvimento cada 
vez mais crescente de nosso país visando a proteção da 
saúde da população, devemos estar conscientes e 
informados às promoções e prevenções do Estado através 
da medicina preventiva evitando assim que muitas pessoas 
venham a adoecer. 
 
Nessa redação, ainda que todos os parágrafos falem de saúde, 
eles não têm relação um com o outro, tanto que se alterarmos a 
ordem em que aparecem os três parágrafos do desenvolvimento, 
não haverá prejuízos no texto como um todo, pois uma ideia não 
está relacionada à outra. Esta é uma boa maneira de avaliar se 
seu texto está organizado de um modo em que as ideias 
progridem em direção à conclusão ou não. 
Logo, não se trata de um texto cujas ideias são progressivas, 
pois elas não seguem uma ordem pré-estabelecida e estratégica. 
Pelo contrário, em cada parágrafo há apenas um comentário 
sobre o que se dizia nos textos-base presentes na coletânea 
apresentada pela proposta. No segundo parágrafo, por exemplo, 
fala-se da Constituição de 1988 e da importância da saúde 
21
pública; já no terceiro, o candidato começa a falar sobre o Rio 
de Janeiro, sem mostrar relação entre essas duas ideias; o quarto 
parágrafo está ainda mais desarticulado, pois começa a dizer que 
os doentes não têm culpa das doenças que os afligem.
Este texto é um bom exemplo de redação sem coerência, pois, 
mesmo não havendo ideias contraditórias, problemas de coesão 
ou de veracidade das informações apresentadas, suas ideias não 
progridem ao longo do texto, fazendo com que o leitor não 
consiga compreender a relação entre elas. Pelo contrário, o texto 
se parece mais com uma lista de vários comentários aleatórios e 
desarticulados.
Para que isso não aconteça, lembre-se sempre de planejar quais 
ideias estarão no seu texto e de que forma elas serão associadas. 
Verifique se todas elas seguem uma mesma linha de raciocínio e 
se progridem ao longo do texto. Um texto coerente garante que 
seu leitor entenda corretamente o que você quer dizer.
Como dissemos anteriormente, a coerência do texto deve estar 
bem desenvolvida não apenas entre os seus elementos internos, 
mas também na sua relação com o mundo ou com seus fatos e 
acontecimentos. Dessa forma, ter conhecimento de mundo 
contribui para o estabelecimento de uma boa coerência externa 
do texto com os fatos/temas que ele discute. É isso que 
procuramos mostrar a seguir.
b) Conhecimento de Mundo 
Você certamente já ouviu algum professor de português falar 
sobre conhecimento de mundo. A princípio, pode parecer algo 
bastante óbvio e que se resume a ler jornal e ficar atualizado 
sobre os acontecimentos do nosso dia a dia. Isso é muito 
importante de fato, mas, na prática, o que é conhecimento de 
mundo e por que ele é tão importante na redação?
22
Sabemos que as propostas de redação sempre trazem uma 
questão central a ser debatida. Pode ser desde um tema 
filosófico, como a amizade ou o amor, até um tema político, 
como a corrupção ou os impostos. A verdade é que, por mais 
que se tente adivinhar, qualquer assunto pode ser tema de 
vestibular. 
E como você se prepara para isso? Muitos alunos ficam 
enlouquecidos com essa ideia, pois não tem como saber tudo 
sobre tudo. No entanto, háformas práticas de ampliar seu 
conhecimento de mundo para que você não seja “pego de 
surpresa” e esteja preparado para discutir os mais variados 
temas no vestibular.
Primeiramente, temos que salientar a importância das aulas de 
História e Geografia. Conhecer o passado histórico do mundo e 
suas nuances políticas e sociais é tão importante quanto ler 
jornal. Sem essa base histórica e geográfica não dá nem para 
começar a entender as manchetes estampadas nos jornais, 
quanto mais compreender as informações que suas notícias e 
reportagens discutem ou apresentam. Assim, estude essas 
matérias de forma inteligente, ligando pontos em comum e 
tentando relacionar os tópicos estudados com fatos atuais. 
Esse é um conhecimento de mundo com base sólida. Tendo essa 
base, você terá muito mais facilidade em entender o que dizem 
os jornais e outros meios de acesso à informação. E quanto 
maior o seu conhecimento de mundo, mais argumentos você terá 
para debater sobre qualquer que for o assunto abordado no tema 
da redação. Um conhecimento de mundo ampliado garante a 
você uma redação consistente, que não precisa recorrer a lugares 
comuns ou a clichês, pois permite que você tenha autonomia 
para pensar, interpretar e argumentar, não importando o assunto.
Como posso ampliar, então, o meu conhecimento de mundo? 
23
Infelizmente, nossa geração tem sérios problemas para produzir 
reflexões mais profundas. Isso se explica pelo fato de que, 
atualmente, as informações são difundidas de modo cada vez 
mais rápido, gerando um volume grande de informações a ser 
apreendido. Além disso, essa rapidez faz com que as 
informações sejam também cada vez mais “mastigadas”, ou 
seja, mais superficiais, impedindo assim que possamos 
compreendê-las em sua complexidade. Você precisa fugir disso! 
Portanto, se você é um vestibulando e está se esforçando para 
entrar em uma boa universidade, comece o quanto antes a 
estudar o mundo em que vive de forma profunda. Isso 
certamente o diferenciará dos outros concorrentes e lhe dará 
uma vantagem na hora de escrever sua redação.
Para isso, leia jornal, procure livros, conheça as guerras, as 
ações e correntes políticas, os conflitos, os assuntos polêmicos e 
as filosofias que há no mundo. Há algum tempo atrás, os 
estudantes não podiam contar com a internet para isso, mas hoje 
em dia a realidade é outra. Temos acesso a todo tipo de 
informação e, portanto, não há desculpas para não se informar.
Assim, para ampliar este conhecimento, por mais óbvio que 
pareça este conselho, entre em contato com o mundo em que 
você vive! Procure refletir e se questionar sobre aquilo que você 
lê e ouve nas diferentes mídias. É impossível escrever uma boa 
redação sem esse conhecimento, portanto, use todas as 
ferramentas de que dispõe para que você possa ampliá-lo e 
garantir um melhor preparo para o vestibular.
c) Coletânea: como utilizá-la? 
Como afirmamos acima, o uso da coletânea é um dos critérios 
avaliados na correção da redação de alguns vestibulares. Com 
esse critério, pode-se avaliar não apenas se o candidato escreve 
bem, mas também se ele é um bom leitor.
24
E o que é, afinal, a coletânea? A coletânea é o conjunto de textos 
apresentados na proposta de redação, que chamamos de textos-
base. Ou seja, são textos que têm alguma relação com o tema 
que deve ser discutido e que podem servir como ponto de 
partida para a reflexão do aluno e para a produção de seu texto.
Alguns vestibulares apresentam uma coletânea bastante vasta, 
com textos de diversos gêneros discursivos e que defendem 
diferentes pontos de vista sobre o tema em questão. Um bom 
exemplo desse tipo de coletânea pode ser observado nas provas 
da Unicamp realizadas antes da mudança no seu processo 
seletivo, realizada no vestibular de 2011. Veja, no site da 
Comvest, a prova do vestibular de 2008, em que a coletânea era 
composta de uma imagem e mais oito trechos de textos retirados 
de jornais, revistas e sites.
Neste caso, o uso da coletânea apresentada pela Unicamp era 
imprescindível, e as ideias contidas no texto do candidato 
deviam ser totalmente sustentadas pelos textos-base.
Outros vestibulares, por sua vez, podem apresentar um único 
texto na coletânea (como é o caso de algumas propostas do 
vestibular da PUC-Campinas), ou imagens e textos curtos, como 
é comum nos vestibulares da Fuvest. Veja como exemplo a 
prova do vestibular de 2009 da Fuvest, em que a coletânea era 
composta por uma imagem, uma definição retirada do dicionário 
e uma pequena reflexão sobre o sentido do termo “fronteira”.
 
Nestes vestibulares, a coletânea também serve como ponto de 
partida, mas se valoriza bastante aquilo que o aluno traz de 
contribuição pessoal, que chamamos de coletânea externa. Por 
isso a importância de demonstrar conhecimento de mundo  ao 
escrever uma redação.  
http://www.comvest.unicamp.br/vest2008/F1/provafase1.pdf
http://www.fuvest.br/vest2009/provas/2fase/por/por2f2009.pdf
25
Conhecendo a importância da coletânea em seu texto, é preciso 
saber também qual a maneira correta de usá-la, de forma que a 
utilização de ideias que não são suas não fique artificial ou 
prejudique sua redação.
Em primeiro lugar, então, é preciso ter em mente que, ao 
corrigir seu texto, o professor ou corretor vai lê-lo “a partir do 
zero”. Ou seja, ele vai se colocar no lugar de alguém que não 
sabe nada sobre o assunto, não sabe o que a proposta pedia e não 
conhece os textos-base apresentados pela coletânea. Assim, 
começar a falar de algo específico do tema antes de apresentá-lo 
ou simplesmente dizer que no texto da coletânea havia tal ideia 
são atitudes que devem ser evitadas, pois podem prejudicar 
muito sua redação.
Portanto, nunca se refira aos textos-base da seguinte forma: 
“como disse o autor do texto 1 da coletânea...”. Seu leitor não 
voltará à coletânea para ter certeza do que esse autor falou ou 
para verificar se as ideias dele realmente cabem em seu texto. 
Além disso, neste caso, você está fazendo uma referência direta 
à situação de prova, o que prejudica a autonomia do seu texto. 
Lembre-se, por mais que a redação no vestibular seja uma 
avaliação, ela é uma simulação de um contexto real de produção 
de um texto e, por isso, ele deve ser autônomo. 
Você pode sim usar a citação de um autor da coletânea, a não ser 
que a proposta deixe explícito que essa prática é proibida, mas 
essa referência deve ser feita de modo correto. Você deve dizer 
o nome do autor e de onde o trecho foi retirado, citando o nome 
da revista, jornal, livro ou site. Dessa forma, você utiliza a 
coletânea, mas sem fazer referência direta à situação de prova, 
preservando assim a autonomia do seu texto. 
No entanto, isso não significa que apenas “cortar e colar” um 
trecho da coletânea demonstra um bom uso deste recurso. A 
26
coletânea não pode aparecer em seu texto de forma artificial, ela 
deve ser usada de forma estratégica. Seu leitor precisa perceber 
que aquela ideia é essencial para seu texto e que ela contribui 
totalmente para a sustentação dos seus argumentos.
Atenção! Nunca faça de sua redação uma 
sequência de comentários sobre os textos da 
coletânea!
 
Outro ponto importante é que na coletânea não há argumentos 
prontos para seu texto. O que existem são ideias que podem 
servir de base para sua reflexão e de exemplos para os 
argumentos que quer defender. Por isso é importante articular o 
que é apresentado pela coletânea com seu conhecimento de 
mundo, sua experiência de vida e sua própria reflexão/senso 
crítico sobre o assunto.
Além disso, não é preciso usar todos os excertos que a proposta 
apresentar na coletânea. Procure selecionarapenas aqueles que 
podem servir para sua argumentação. Isso deve ser feito no 
momento em que você for elaborar seu projeto de texto.
E, por fim, o mais importante: procure sempre mostrar que você 
se apropriou das ideias da coletânea e que há integração e 
significação dos textos-base com o restante das suas ideias, 
demonstrando dinamismo entre elas. Dessa forma, ainda que 
você não domine totalmente o assunto abordado pela proposta, 
os textos-base contribuirão para uma redação completa, cujas 
ideias são bem sustentadas.
27
Capítulo 2 
Sobre os gêneros textuais
A nota de gênero textual em um vestibular está relacionada à 
adequação ao gênero solicitado pela proposta. Isso quer dizer 
que se a proposta pedir que se escreva uma dissertação, você 
deve escrever um texto com as características próprias desse 
gênero. Para isso, é importante que você conheça as principais 
características de cada gênero.
É claro que dificilmente uma pessoa escreve bem em todos os 
gêneros textuais, tanto que mesmo os grandes escritores acabam 
se atendo mais a um determinado gênero. No entanto, é 
importante que saibamos marcar nossa redação com 
características fixas de cada gênero.
Por exemplo, se for pedido para que você escreva um artigo de 
opinião que será publicado em uma seção de “Opinião do 
leitor”, é preciso destacar características desse gênero que o 
diferenciem de uma dissertação ou de uma crônica. Uma forma 
de diferenciar o artigo destes gêneros seria fazer alguma 
referência ao jornal, a alguma notícia publicada anteriormente 
ou à imagem de quem está escrevendo o artigo. Caso contrário, 
seu leitor e/ou corretor não saberão se você realmente conhece e 
domina aquele gênero.
Mais uma vez, percebemos que os vestibulares esperam que 
seus candidatos sejam também bons leitores, pois somente quem 
lê bastante conhece as características dos gêneros pedidos e sabe 
reproduzi-los. Portanto, esteja sempre atento aos textos que 
estão presentes em nosso cotidiano, observando o que eles têm 
em comum e quais suas características específicas. Muitos 
vestibulares não pedem mais apenas a dissertação em sua prova 
e é bastante provável que isso se torne cada vez mais comum. 
Nas seções a seguir, trabalharemos os principais gêneros 
discursivos para que você possa compreender cada um deles e 
28
perceber as características que os diferenciam. Mas antes 
trataremos um pouco da interlocução, um aspecto fundamental 
na construção de qualquer texto. 
1. Imagem do Interlocutor
Todo texto, independentemente do gênero a que pertence, tem 
um interlocutor, ou seja, alguém a quem o texto é dirigido. Em 
alguns casos, o interlocutor é mais geral, como, por exemplo, os 
leitores de uma revista ou de um jornal, ou ainda os alunos de 
uma escola em que um cartaz é publicado. Em outros 
momentos, há uma pessoa específica para quem se escreve, 
como quando estamos enviando uma carta pessoal, um convite 
ou um e-mail.
Por esse motivo, sempre que vamos escrever um texto, 
precisamos saber a quem ele deve ser dirigido, adequando, 
assim, a linguagem com a qual escrevemos, assim como as 
informações que pretendemos comunicar ou discutir. Se você 
comparar duas revistas diferentes, perceberá que a linguagem de 
cada uma é distinta, pois os leitores não são os mesmos. 
Observe os exemplos:
 
GRANDALHÃO DO BEM 
O leão marinho tem aparência de mau, mas é dócil 
e só fica bravo ao se sentir ameaçado 
 
Morador de áreas frias e rochosas, este mamífero parece 
estar sempre mal-humorado. Mas é só a cara feia mesmo! 
Os leões-marinhos não costumam atacar, a não ser quando 
notam algum perigo. Por isso, é melhor nunca mexer com 
eles! E se você acha que leão-marinho e foca são o mesmo 
bicho, está enganado! O jeito mais fácil de diferenciá-los é 
pelas orelhas: o leão-marinho tem orelhinhas, enquanto sua 
prima possui apenas um buraquinho para escutar. 
(Trecho extraído da Revista Recreio nº613, 08/12/11) 
29
 
LAGOAS CHEIAS DE VIDA 
Milhares de criaturas se apegam à rocha de uma 
tira fina de litoral chamada zona de entremarés 
A estrela-do-mar se coloca ao lado das criaturas mais 
espetaculares da variedade de formas de vida que habita as 
praias próximas à baía Bodega Bay. Grandes (às vezes com 
30 centímetros de diâmetro) e de cores obstinadas (algumas 
são cor de laranja, outras, roxas; ninguém sabe por que), as 
estrelas-do-mar geralmente se encontram em fissuras de 
rochas, largadas como um brinquedo deixado de lado. Mas, 
apesar de sua aparente letargia, a Pisaster ochraceus 
funciona como um dos principais predadores da zona de 
entremarés – o tigre da lagoa de maré – apesar de nem ter 
algo parecido com um cérebro. 
(Trecho extraído da Revista National Geographic, nº135 
junho/11) 
 
Esses dois trechos foram retirados de revistas bem diferentes: o 
primeiro, da Recreio, voltada ao público infantil, e o segundo, 
da National Geographic, voltada ao público adulto. Apesar de o 
interlocutor não ficar explícito ao longo do texto, podemos 
perceber diferenças na forma como as reportagens são escritas: 
enquanto a primeira é mais informal, parecendo que o autor 
conversa com a criança que lê a revista; a segunda traz 
informações mais objetivas, com uma linguagem mais formal.
Nesses casos, o público leitor está bem marcado, uma vez que 
eles foram previamente determinados, de acordo com os 
objetivos de cada revista e podemos identificá-lo através da 
linguagem que as revistas empregam. Porém, quando você for 
escrever seus textos, nem sempre o interlocutor está 
estabelecido dessa forma, por isso, cabe a você deixar bem claro 
qual é o seu interlocutor, ou seja, a quem seu texto é dirigido. 
É evidente que você sabe que quem vai ler seu texto é seu 
professor ou o corretor do vestibular, mas na redação há uma 
simulação da realidade e você está sendo avaliado por isso. 
30
Portanto, dependendo do gênero pedido, é preciso dizer quem é 
seu interlocutor para mostrar domínio sobre o gênero em 
questão.
Na dissertação, por exemplo, você tem um interlocutor mais 
geral e, como você não deve falar diretamente com o leitor, ele 
não precisa ser marcado. Porém, há diversos outros gêneros em 
que o interlocutor deve aparecer e, inclusive, deve ser marcado 
em seu texto. Nesses casos, dizemos que é preciso criar uma 
imagem do interlocutor.
Para entender melhor este conceito, pensemos nas cartas, sejam 
elas pessoais ou argumentativas. Toda carta tem um emissor e 
um remetente, e estes devem estar claros quando você a escreve 
Ou seja, em toda carta deve estar explícito:
• Quem está enviando aquela carta e por que ele é o 
emissor;
• Quem está recebendo a carta e por que ele é o receptor;
• Por que aquela carta está sendo escrita.
Para criar essas imagens, seja de quem escreve ou de quem 
recebe a carta, você pode inventar características, como se 
estivesse mesmo criando um personagem. O mais importante é 
deixar claro que só aquela pessoa poderia escrever a carta, e só a 
outra poderia receber. Para exemplificar como as imagens 
devem ser criadas, observe a redação abaixo, publicada 
pela  Comvest (Unicamp) como uma redação acima da média. 
Nesta proposta, era preciso escrever uma carta ao Ministro da 
Saúde, justificando a manutenção de uma campanha promovida 
pelo Ministério da Saúde.
 
Campinas, 18 de novembro de 2007 
 
Prezado senhor Ministro da Saúde 
 
Escrevo-lhe com o objetivo de parabenizá-lo por sua 
http://www.comvest.unicamp.br/vest_anteriores/2009/download/comentadas/fase1.pdf
31
estratégia no controle da proliferação do vírus causador da 
AIDS, a partir do programa de redução de danos. Sou uma 
jovem estudante do Ensino Médio e, como tal, 
convivo diariamente com pessoas de minha faixa 
etária.Por estudar em um colégio particular, tanto eu 
quanto meus colegas dispomos de recursos financeiros 
suficientes para freqüentar as festas rotineiras, 
ocasionalmente comprando substâncias ilegais. Apesar de 
eu me posicionar contra esse tipo de atitude, 
preocupo-me com meus amigos que, ao priorizarem o 
“barato” e a diversão, esquecem-se das conseqüências letais 
que seus atos podem trazer para suas saúdes; 
principalmente ao lidarem com agulhas e substâncias 
injetáveis, propícios vetores de doenças como a AIDS. 
Exatamente por isso, concordo com a medida, autorizada 
pelo senhor, de distribuir seringas descartáveis ou mesmo 
drogas, de forma a controlar a proliferação do HIV. Além 
dos resultados bem-sucedidos, comprovados cientificamente, 
e de contar com países de primeiro mundo como aliados 
nesta causa, o Ministério da Saúde mostrou estar adequado 
ao princípio, ditado pela Constituição brasileira, de que o 
Estado deve ser o responsável por promover a Saúde. 
Ao adotar esta postura pragmática, o senhor 
mostrou não só estar ciente do problema que a 
saúde pública enfrenta, mas também mostrou estar 
aberto a discussões que preservem a saúde da 
população e, ao mesmo tempo, respeitem suas 
liberdades individuais. Além disso, ao adotar uma 
medida certamente “polêmica”, o Ministério está 
conseguindo atingir a meta de conscientizar e persuadir a 
sociedade, que se mostrasse interessada pela inovação da 
técnica utilizada. A discussão gerada é muito mais saudável 
que a negação da mesma, como noto entre meus colegas, que 
adotaram a política do governo, ao mesmo tempo que 
rejeitaram a postura puritana dos americanos. Ao 
aproximar-se da população, o senhor fez com que 
todos meditassem sobre o assunto, a fim de que 
possam chegar a um consenso para a solução do 
problema. 
Por isso, senhor Ministro, parabenizo-o por uma política que 
está dando bons resultados. Se meus colegas ainda não se 
desvincularam das drogas, ao menos têm a consciência do 
desafio que é o combate à AIDS, graças ao canal de 
32
comunicação aberto pelo governo. Isso demonstra um 
amadurecimento da sociedade diante da responsabilidade da 
mesma quanto à manutenção da saúde. Assim como a 
campanha de Oswaldo Cruz para a erradicação da varíola, 
no séc. XIX, o senhor mostra que sua campanha de 
erradicação da AIDS é vanguardista e eficaz. Em meu 
meio ela já foi aceita, portanto espero que seu sucesso atinja 
a todos e perdure. 
 
Atenciosamente, 
F.T.S. 
 
Nesta carta, a candidata deixou bastante explícito quem está 
escrevendo (nos três primeiros trechos destacados em negrito) e 
para quem está escrevendo (nos três últimos trechos destacados 
em negrito). Vale ressaltar aqui que, ainda que o interlocutor 
seja alguém conhecido, um ministro, é preciso descrever 
algumas de suas características ou ações, deixando claro por que 
a carta foi direcionada especificamente para ele e não para 
qualquer outra pessoa.
Saber criar a imagem do interlocutor faz com que você tenha 
uma boa nota de gênero textual, pois mostra a quem lê sua 
redação que você domina o gênero solicitado. Por isso, 
destacamos, mais uma vez, a importância de conhecer os 
diferentes gêneros. Considerando a importância deste 
conhecimento, falamos a seguir sobre algumas noções gerais 
acerca dos gêneros textuais, apresentando posteriormente alguns 
dos principais gêneros pedidos no vestibular. 
33
2. Características dos Gêneros Textuais
Bakhtin, um teórico da linguagem, em seu livro Estética da 
Criação verbal: os gêneros dos discursos, define os gêneros 
discursivos como:
Tipos relativamente estáveis de enunciados elaborados pelas 
diferentes esferas de utilização da língua (p.290).
 
Apesar de essa definição sobre os gêneros parecer um tanto 
quanto complicada, estes são bem simples de serem 
compreendidos, pelo fato de constituírem textos que já fazem 
parte do nosso cotidiano. Vemos em jornais impressos, por 
exemplo, textos como editoriais, artigos de opinião, reportagens, 
etc. Já nos blogs, há posts com crônicas, relatos de experiências 
de vida, além de comentários que os internautas escrevem sobre 
algum post que os interessam. Receita de bolo, currículo, carta 
de apresentação e carta de amor também são exemplos de 
gêneros textuais. Além dos gêneros escritos, elencados acima, 
temos também os gêneros orais, tais como a palestra, o discurso 
político, a apresentação das notícias em um telejornal, a 
entrevista, etc. Assim, observamos que os gêneros podem ser 
expressos tanto na forma oral quanto na forma escrita. 
Ainda que os diferentes gêneros tenham suas especificidades, 
eles têm uma característica comum: eles desempenham 
determinadas funções sociais, ou seja, têm propósitos 
específicos em nossa organização social. Além disso, há sempre 
uma regularidade em relação à estrutura e à linguagem que os 
caracterizam. Parece um pouco confuso, mas, para ficar mais 
claro, vamos analisar o texto abaixo:
 
Bolo sem Farinha 
Ingredientes 7 ovos, 7 colheres (sopa) de açúcar, 7 colheres 
(sopa) de chocolate em pó, 4 colheres (sopa) de óleo, 2 
colheres (sopa) de manteiga, 100 g de coco ralado seco e 1 
34
colher (sopa) de fermento em pó. 
 
Para a cobertura 1 copo de leite de coco ou água, 3 
colheres (sopa) de açúcar, 3 colheres (sopa) de chocolate em 
pó e 1 colher de sopa de amido de milho. 
 
Modo de preparo Bata no liquidificador os ovos, 7 colheres 
(sopa) de açúcar, 7 colheres (sopa) de chocolate em pó, 4 
colheres (sopa) de óleo e 2 colheres (sopa) de manteiga. 
Retire do liquidificador e misture 100 g de coco ralado seco e 
1 colher (sopa) de fermento em pó. Numa forma redonda (25 
cm x 4 cm) untada e forrada com papel-manteiga, despeje a 
mistura do bolo e leve ao forno a 180ºC por 40 min. 
 
Para a cobertura Leve ao fogo o leite de coco com o 
açúcar, o chocolate e o amido de milho, mexendo sempre até 
engrossar. Cubra o bolo com a calda. 
Como você já deve ter constatado, o texto acima é um exemplo 
do gênero texto instrucional, mais especificamente, receita 
culinária. Ele está estruturado da seguinte forma:
• A primeira parte do texto é organizada em tópicos, nos 
quais há a exposição dos ingredientes e as quantidades 
exatas destes para que o prato possa ser feito.
• A segunda parte é composta pelo modo de fazer, no qual 
há instruções que informam o modo de preparo dos 
ingredientes.
• Os verbos estão no imperativo.
• O propósito desse texto é ensinar a preparar um prato 
específico. Neste caso, o bolo de chocolate sem farinha.
• Geralmente, esse tipo de texto circula em livros e revistas 
de culinária ou em sites especializados. Há também 
algumas revistas e jornais que reservam um espaço para 
colocarem algumas receitas culinárias.
 
As características apontadas acima também são encontradas em 
35
outras receitas culinárias. Desse modo, podemos dizer que 
textos que apresentam características semelhantes quanto à 
estrutura, ao propósito e ao contexto de circulação fazem parte 
do mesmo gênero.
É importante, portanto, que você fique atento aos diversos 
gêneros que circulam no seu cotidiano. Preste atenção na 
estrutura, na linguagem utilizada, para que servem e onde são 
veiculados, pois você só poderá reproduzir um gênero se 
conhecer o seu modelo. Por exemplo: você não será capaz de 
escrever um ofício se não conhecer o modelo de um.
Além disso, você sempre deve estar atento ao propósito do texto 
para saber de qual gênero este texto realmente faz parte. Há 
alguns autores que utilizam a estrutura de um gênero, mas 
escrevem um texto cujo propósito corresponde a outro. Por 
exemplo, o texto Conveniência, escrito pelo autor Antônio 
Prata, segue a estrutura de uma oração, porém o texto é uma 
crônica, pois apresenta a função social deste gênero ao trazera 
reflexão do autor sobre uma questão.
 
O que define um gênero textual, portanto, é o seu propósito social, por 
assim dizer, e não a sua forma estrutural.
Fique atento também ao fato de que os gêneros textuais não são 
estáveis, pois eles podem mudar conforme a necessidade da 
sociedade (pode haver mudança na estrutura e/ou no contexto de 
circulação). Um exemplo interessante dessas mudanças é o e-
mail que circula na internet e é considerado o substituto 
eletrônico da carta. Nas seções seguintes, vamos analisar alguns 
gêneros para que você possa conhecê-los melhor e, 
consequentemente, se sentir seguro na hora de escrevê-los!
Para resumir o que falamos até aqui sobre os gêneros, 
apresentamos o seguinte quadro: 
http://blogdoantonioprata.blogspot.com/2008/01/convenincia.html
36
3. Alguns exemplos de gêneros textuais
Apresentaremos nesta seção alguns dos gêneros textuais que 
aparecem com frequência no vestibular, seja como um texto de 
apoio ou como o texto a ser desenvolvido. São eles: o relato, a 
notícia, o editorial, o artigo de opinião e a dissertação. 
Procuramos mostrar a especificidade de cada um deles, a partir 
de exemplos de textos, começando pelo relato. 
a) Relato
O relato é um gênero discursivo muito comum em nosso 
cotidiano. Provavelmente, você já deve ter relatado para seus 
amigos, conhecidos e parentes, como foi a sua viagem de férias 
ou como foi a festa de casamento do seu primo, por exemplo. 
Por ser um gênero muito comum em nosso dia-a-dia, 
dificilmente pensamos na sua estrutura formal e em sua função 
social na nossa sociedade. Assim, para conhecer melhor esse 
gênero, leia um relato localizado no 
site www.museudapessoa.com.br, que reproduzimos abaixo e a 
http://www.museudapessoa.com.br/
37
análise que fazemos dele em seguida: 
 
Mundo dividido 
 Tivemos um período bastante difícil durante a Segunda 
Guerra Mundial. Os familiares do meu pai, por serem 
italianos do norte, eram muito alegres e gostavam de festas. 
Tudo era motivo para ser comemorado: um batizado, um 
aniversário… 
Com a 2ª Guerra, o Brasil era um dos países inimigos do Eixo. 
Os países que representavam o eixo: Itália, Alemanha e 
Japão. (...) 
 Os imigrantes italianos perderam muito de sua identidade 
com isso e suas famílias se afastaram não havendo mais 
aquela comunicação através do dialeto. Éramos mal vistos, 
porque havia suspeita que, se continuássemos com aquelas 
festividades, não era apenas para divertimento, mas para 
passar informações e isso era praticamente impossível. Não 
havia como comunicar com quem? Para quem? Por quê? 
(...) 
Houve fatos que marcaram muito essa época, porque as 
famílias italianas eram numerosas e muitas delas tiveram 
filhos convocados para a guerra. Alegavam que eles foram 
escolhidos porque eles tinham noção da língua italiana e eram 
preferidos, além dos alemães. Os noticiários sobre a guerra 
eram acompanhados pelo rádio, jornais ou revistas, sendo os 
únicos meios de comunicação disponíveis, mas não se sabia a 
data em que ocorriam os fatos porque até chegar ali através 
da imprensa demorava muito, 15 dias, um mês. 
A rádio local era a PRG4 e me lembro muito bem dos 
jornalistas, sendo um deles o professor Solon Borges dos Reis. 
Eu estava com 9 anos e tenho viva na memória a Segunda 
Guerra Mundial. Vivíamos traumatizados, assustados, 
apavorados mesmo. E quando terminou a guerra, ouvimos os 
fogos, quase toda a população foi para o centro da cidade 
para comemorar esse acontecimento. (...) 
(Para ler o texto na integra, acesse http://www.museudapessoa.net/
blogs/historiadodia/index.php?i=979) 
 
Vamos agora para a análise do texto:
http://www.museudapessoa.net/blogs/historiadodia/index.php?i=979
http://www.museudapessoa.net/blogs/historiadodia/index.php?i=979
http://www.museudapessoa.net/blogs/historiadodia/index.php?i=979
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Primeiramente, vamos falar do título, o qual pode fazer para da 
estrutura de um relato ou não. Por exemplo, se for um relato 
escrito para um blog, para um site ou para um livro, geralmente, 
há o título. Porém, se o for um relato oral ou a sua transcrição, o 
título é desnecessário. O relato que analisamos apresenta tílulo, 
pois faz parte de uma coletânea de várias histórias que compõem 
o museu da pessoa.
 Nesse relato, após o título, seguem a apresentação do assunto e 
contextualização dos fatos, presentes nos dois primeiros 
parágrafos. Contextualizar o assunto é muito importante na 
estrutura de um relato, pois sem ela o leitor poderá ficar perdido 
e não compreender do que se trata o relato de fato.
Após a apresentação e contextualização, o autor narra os fatos, 
retoma as lembranças da sua infância e as descreve para o leitor, 
enfatizando os impactos que os imigrantes italianos sofreram em 
virtude da Segunda Guerra Mundial. 
Após esta análise do texto, resumimos abaixo as características 
que definem o texto acima como um relato:
• A narração de um acontecimento que ocorreu no passado;
• A grande ocorrência de verbos no pretérito perfeito (em 
azul) e no pretérito imperfeito (em vermelho);
• A escrita em primeira pessoa do singular, já que se trata 
de um relato pessoal. Porém, pode-se relatar também 
fatos que ocorreram com outras pessoas e aí a 
predominância da pessoa verbal pode mudar.
 
Os verbos, no relato, geralmente estão no pretérito, já que este gênero 
textual tem como propósito narrar acontecimentos do passado. É muito 
importante que você preste atenção nos verbos que utilizará na hora de 
produzir um relato escrito, pois nele você não terá os artifícios que tem 
ao produzir um relato oral, como os gestos e as expressões faciais para 
que o seu interlocutor o compreenda.
39
E por falar em relato oral, veja um trecho do documentário 
Memórias de Cativeiro, que apresenta diversos relatos de netos 
de escravos que viveram no Brasil. Preste bastante atenção nesse 
vídeo, buscando ver as diferenças e semelhanças entre o relato 
oral e o relato escrito.
Outra questão importante é saber diferenciar o relato de outros 
gêneros semelhantes a ele, pois sendo o relato um gênero 
narrativo, ele pode ser confundido com outros gêneros como a 
crônica e o conto. Ainda que estes gêneros tenham semelhanças, 
diferentemente do relato, a crônica apresenta uma reflexão do 
autor sobre um assunto do cotidiano, enquanto o conto apresenta 
uma narrativa com enredo, trabalho com o tempo, espaço e 
clímax. Tanto em uma crônica, quanto em um conto, pode haver 
trechos de relatos de determinadas situações. Por exemplo, 
pode-se começar uma crônica relatando algum fato e depois 
construir uma reflexão sobre tal fato.
Dessa forma, para que o relato não seja confundido com estes 
gêneros, é necessário que o autor enfatize nesse tipo de texto 
suas experiências e lembranças, conforme pode-se perceber no 
texto apresentado acima e nos trechos do documentário que 
indicamos. Podemos observar bons exemplos de relato também 
no filme Narradores de Javé. Este filme mostra a luta da 
população de uma cidade para que esta não seja “engolida” pela 
construção de uma hidrelétrica. Para salvar a cidade, eles 
começam a escrever um livro reconstituindo as memórias do 
lugar, recuperadas por meio de relatos orais da população de 
Javé. 
Outro gênero que tem caráter narrativo e que pode ser 
confundido com o relato é a notícia. Vejamos na seção a seguir 
como se caracteriza este gênero para que possamos compreender 
as suas diferenças em relação ao relato. 
40
 
b) Notícia
A palavra notícia, segundo a versão online do dicionário 
Aurélio, significa:
“Informação, conhecimento; nota breve sobre um assunto; 
lembrança”.
 
Tendo como base essa definição e lembrando-se das notícias que 
já leu em jornais, revistas, sites ou viu em telejornais, você pode 
concluir que o propósito do gênero notícia éinformar as 
pessoas sobre os fatos que aconteceram ou estão acontecendo no 
mundo.
A notícia é veiculada principalmente em jornais, telejornais, 
noticiários de rádios e, atualmente, em sites como UOL Notícias 
e Portal G1, dentre outros. Quando você for escrever textos que 
estão compreendidos nesse gênero discursivo, é importante 
prestar atenção em que meio ele será publicado, pois, os 
diferentes meios de difusão de notícias demandam técnicas ou 
estratégias de escrita distintas. Por exemplo, no caso das notícias 
presentes nos sites informativos, observamos que elas são 
praticamente instantâneas, ou seja, são postadas no site quase 
que no mesmo momento em que o fato ocorre. Assim, as 
notícias nestes sites são mais curtas e não apresentam tantos 
detalhes quanto as que são veiculadas em revistas e jornais 
impressos, por exemplo, pois não há um espaço de tempo 
suficiente para que o jornalista possa apurar melhor os fatos e 
escrever um texto com mais detalhes dos acontecimentos.
Geralmente, a notícia não é escrita para um interlocutor 
específico, pois é direcionada para um público bem amplo. 
Porém, há determinadas seções, como a de Esportes e 
http://www.dicionariodoaurelio.com/
http://noticias.uol.com.br/
http://g1.globo.com/
41
Economia, por exemplo, que apresentam notícias voltadas a 
pessoas que se interessam por esse tipo de temática. Nestes 
casos, também são exigidas estratégias textuais distintas, como a 
escolha de um léxico próprio destes temas.
Observe abaixo um trecho de uma notícia:
Alemanha começa a celebrar queda do Muro 
de Berlim 
Com orações, música e pompa, a Alemanha deu início 
nesta manhã às celebrações do 20º aniversário da 
queda do Muro de Berlim, evento que desencadeou a 
reunificação do país em uma questão de poucos 
meses depois de décadas de separação. 
 (...) 
(Para ler o texto na íntegra, acesse http://internacional.estadao.com.br/
noticias/geral,alemanha-comeca-a-celebrar-queda-do-muro-de-berlim,
463384. Para compreender o que será falado a seguir é muito importante ler a 
notícia completa.) 
 
Observando esse texto, podemos dizer que ele tem um caráter 
objetivo, pelo fato de apresentar os fatos de forma clara (no 
caso, a comemoração dos 20 anos da queda do Muro de Berlim), 
e por não expressar a opinião do jornalista. Fique atento a 
essa característica, pois, caso você escreva uma notícia com a 
sua opinião explícita, você estará descaracterizando o gênero.
 
Cuidado: nunca explicite a sua opinião quando 
precisar escrever uma notícia no vestibular.
 
A finalidade desse gênero do discurso é, portanto, 
informar, de modo preciso e imparcial, os fatos de 
http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,alemanha-comeca-a-celebrar-queda-do-muro-de-berlim,463384
http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,alemanha-comeca-a-celebrar-queda-do-muro-de-berlim,463384
http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,alemanha-comeca-a-celebrar-queda-do-muro-de-berlim,463384
http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,alemanha-comeca-a-celebrar-queda-do-muro-de-berlim,463384
42
interesse público.
Devido a essa finalidade, o texto de uma notícia deve conter 
informações que permitam ao leitor saber do que ela trata, tais 
como: sobre quem a notícia está falando, onde e quando ocorreu 
o fato que ela descreve e também como ocorreu e o porquê 
(sempre que for possível conhecer as razões do fato ocorrido). 
Quanto mais completa uma notícia, maior é o seu efeito de 
representação fiel da ocorrência de um fato, ou seja, maior é o 
seu efeito de veracidade. A notícia que acabamos de ler nos 
permite responder essas questões, como podemos perceber 
abaixo:
 
O quê? 
A notícia diz respeito às comemorações do 20º aniversário da 
queda do Muro de Berlim.
Quando? 
A comemoração ocorreu no dia 9 de novembro de 2009, ou seja, 
no dia do 20º aniversário da Queda do Muro de Berlim.
Quem? 
Essa notícia não é sobre uma pessoa, mas sim sobre um evento: 
a comemoração dos 20 anos da queda do Muro de Berlim.
Como? 
Fez parte da comemoração uma celebração religiosa, shows, 
concertos.
Por quê? 
Esta comemoração homenageia o evento que desencadeou a 
unificação da Alemanha dividida pela Segunda Guerra Mundial.
Pense nessas perguntas quando for escrever um projeto de 
texto para redações do gênero discursivo notícia.
43
 
 
Até o momento, apresentamos alguns aspectos que caracterizam 
o gênero notícia. Cabe agora mostrarmos como este gênero se 
estrutura. Sobre isso, não há segredo, pois a estrutura textual da 
notícia é bem simples. Ela se inicia pelo título, ou melhor, pela 
manchete, que deve não apenas sintetizar o assunto tratado na 
notícia, mas, principalmente, chamar atenção do público.
Em seguida, no primeiro parágrafo, deve-se expor as 
informações básicas que servem para contextualizar o leitor 
sobre o acontecimento, respondendo às seguintes perguntas: 
• O que está sendo noticiado?
• Sobre quem é a notícia?
• Quando o fato noticiado ocorreu?
 
Este primeiro parágrafo é conhecido no meio jornalístico como 
lide (do inglês “lead”). A partir dessas informações básicas, deve 
haver um desenvolvimento do texto, por meio do qual o leitor 
pode acompanhar o desenrolar das informações apresentadas no 
lide, o que lhe dá a possibilidade de responder às seguintes 
perguntas:
• Como ocorreu o fato noticiado?
• Por que ele ocorreu?
 
Essa técnica de apresentar as informações básicas no início e 
depois ir desenvolvendo-as é conhecida, pelos profissionais do 
meio jornalístico, como Pirâmide Invertida. Para que você 
possa compreender melhor essa estrutura, veja, abaixo, a análise 
estrutural de uma notícia: 
Londres vigia as ilhas Malvinas com máquina 
de guerra e irrita a Argentina 
44
Tensão com argentinos se eleva, mas britânicos 
dizem que apenas protegem os ilhéus 
A Marinha britânica iniciou sexta-feira o exercício de 
troca de guarda nas Ilhas Faklands/Malvinas. Sai a 
veterana fragata Montrose, ficam um super 
destróier, novo em folha e, na esteira, o acirramento 
das relações bilaterais entre Buenos Aires – que 
acusa a Grã-Bretanha de militarizar o arquipélago – 
e Londres, que se limita a dizer que trata da 
segurança territorial dos 2.300 habitantes civis, os 
kelpers, e de seus carneiros, cerca de 40.100 deles. 
Na manifestação da chancelaria, nem uma só 
palavra sobre os 8,3 bilhões de barris de petróleo, o 
tamanho da reserva que os ingleses garantem ter 
descoberto na área. Ou sobre os nódulos 
polimetálicos, uma espécie de jazida de minerais 
estratégicos que haveria ali, no subsolo oceânico. 
(...) 
A bordo do Dauntless, o sofisticado destróier que 
passa a liderar a ação militar dissuasiva na área, 
tudo normal: o ambiente climatizado é mantido em 
18 graus. (...) 
Um time das forças especiais, de tamanho e 
especialidade não revelados, é mantido em Mount 
Pleasant sob alerta médio – ou seja, os homens 
moram na base e devem estar prontos para ação em 
40 minutos depois do acionamento. 
(...) O núcleo militar foi criado em 1982, pela então 
primeira-ministra Margaret Thatcher, três dias 
depois do fim da guerra entre britânicos e argentinos 
pela posse das ilhas. O conflito deixou o saldo 
negativo mais de 900 mortos. 
 
(GODOY Roberto, O Estado de São Paulo, 11 de fevereiro de 2012. Para ler a notícia 
45
na íntegra, acesse http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,londres-
vigia-as-ilhas-malvinas-com-maquina-de-guerra-e-irrita-a-argentina,
834591,0.htm. Para compreender o que será tratado a seguir é importante que o 
texto lido na íntegra.
Após ler a notícia, vamos analisar a sua estrutura. O gênero 
textual notícia sempre se inicia com a manchete, cuja função é 
destacar o fato a ser noticiado. Logo abaixo da notícia, há uma 
frase que resume o assunto do texto,

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