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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO GUARULHOS - SP SUMÁRIO 1 COMUNICAÇÃO ................................................................................................... 4 1.1 Processo de Comunicação ............................................................................... 4 2 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO ...................................................................... 5 2.1 Código e Mensagem ......................................................................................... 5 2.2 Canal de Comunicação..................................................................................... 5 2.3 Esquema da Comunicação ............................................................................... 6 2.4 As Funções da Linguagem ............................................................................... 6 3 TEXTO E TEXTUALIDADE ................................................................................... 9 3.1 Coesão ........................................................................................................... 12 3.2 Coerência ....................................................................................................... 14 4 AS SUPERESTRUTURAS TEXTUAIS ............................................................... 15 4.1 O Texto Descritivo .......................................................................................... 15 4.2 Características do Texto Descritivo ................................................................ 17 4.3 O Texto Narrativo ........................................................................................... 18 4.4 Características do Texto Narrativo ................................................................. 20 4.5 O Texto Dissertativo ....................................................................................... 21 4.6 Características da Dissertação ....................................................................... 22 4.7 Dissertação Expositiva.................................................................................... 22 4.8 Dissertação Argumentativa ............................................................................. 22 4.9 Organização do Texto Dissertativo ................................................................. 23 5 CONSTITUIÇÃO DO TEXTO .............................................................................. 27 5.1 Intertextualidade ............................................................................................. 28 5.2 Paródia ........................................................................................................... 29 5.3 Paráfrase ........................................................................................................ 33 5.4 Estilização ....................................................................................................... 37 5.5 Apropriação .................................................................................................... 38 6 O TEXTO ACADÊMICO...................................................................................... 40 6.1 Fichamento ..................................................................................................... 40 6.2 Resumo .......................................................................................................... 45 6.3 A Resenha ...................................................................................................... 47 6.4 Resenha Crítica .............................................................................................. 48 6.5 Resenha Descritiva ......................................................................................... 49 7 O TEXTO COMERCIAL ...................................................................................... 50 7.1 As Cartas Comerciais ..................................................................................... 50 8 E-MAILS .............................................................................................................. 53 8.1 Internet ............................................................................................................ 53 8.2 O E-mail Propriamente Dito ............................................................................ 53 8.3 E-mails Comerciais ......................................................................................... 55 8.4 E-mails Pessoais ............................................................................................ 56 9 QUALIDADES DO TEXTO .................................................................................. 57 9.1 Unidade .......................................................................................................... 57 9.2 Concisão ......................................................................................................... 58 9.3 Clareza ........................................................................................................... 58 9.4 Coerência ....................................................................................................... 59 9.5 Ênfase e Vigor ................................................................................................ 60 9.6 Elegância ........................................................................................................ 61 9.7 Objetividade .................................................................................................... 61 10 DOMÍNIO DA INFORMAÇÃO ............................................................................. 62 11 FERRAMENTAS DO REDATOR ........................................................................ 63 11.1 Gramáticas ..................................................................................................... 63 11.2 Dicionários ...................................................................................................... 64 11.3 Livros de Redação e Estilo ............................................................................. 64 11.4 Textos de Consulta da Área ........................................................................... 64 12 ESTILO E ESTÉTICA ......................................................................................... 64 12.1 Estilística e Eficácia Redacional ..................................................................... 65 12.2 Estilística Fraseológica ................................................................................... 65 13 ESTÉTICA .......................................................................................................... 67 13.1 Tipos de Estética (Estilos) utilizados .............................................................. 69 13.2 Correspondência Oficial .................................................................................. 69 13.3 Outros Documentos Considerados Oficiais .................................................... 74 13.4 Correspondência Empresarial ........................................................................ 77 13.5 Correspondências Particulares ....................................................................... 80 13.6 Relatórios ........................................................................................................ 80 14 NORMAS GERAIS PARA REDAÇÃO ................................................................ 80 15 REDAÇÃO OFICIAL E REDAÇÃO EMPRESARIAL ........................................... 81 15.1 Redação Oficial .............................................................................................. 82 15.2 Características Específicas ............................................................................. 83 15.3 Pronomes de Tratamento ...............................................................................84 15.4 Fechos para Comunicações Oficiais .............................................................. 84 15.5 Identificação do Signatário .............................................................................. 84 16 ORATÓRIA, RETÓRICA E ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÕES. .................. 85 16.1 Exercite sua fala com vocabulário e estruturas de frases distintas ................. 87 16.2 Grave uma apresentação sua e faça uma avaliação ...................................... 87 16.3 Planeje sua postura ........................................................................................ 88 16.4 Explique como se estivesse conversando com uma criança .......................... 88 16.5 Gestos e emoção falam mais que a voz ......................................................... 88 16.6 Faça um estudo do tema para transmitir bem os conhecimentos ................... 90 17 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ..................................................................................... 92 4 1 COMUNICAÇÃO 1.1 Processo de Comunicação A comunicação pressupõe sempre a existência de dois polos: aquele que emite a informação e aquele que a recebe – emissor/receptor, locutor/ alocutário, ouvinte/leitor etc. O veículo utilizado para a comunicação pode fazer com que esses papéis sejam intercambiáveis ou não. No entanto, é importante frisarmos que, para que haja comunicação, deve haver, pelo menos, dois seres envolvidos, fazendo uso dos elementos da comunicação. Fonte: gumga.com.br 5 2 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO 2.1 Código e Mensagem O emissor e o receptor, como já foi dito, devem dispor do mesmo código, ou seja, do mesmo sistema de signos, a fim de que a informação possa ser recebida e decodificada pelo receptor. Essa informação decodificada, caro(a) aluno(a), é a mensagem. Riegel (1981, p. 22) assevera que: os signos do código remetem à realidade tal qual é percebida pelo emissor e pelo receptor. O aspecto específico dessa realidade, que é evocada por um signo do código, é o referente desse signo. O universo referencial, exterior ao código, compreende tudo aquilo que pode ser designado pelos signos e suas combinações: seres, coisas, estados, acontecimentos, ideias, etc. 2.2 Canal de Comunicação É necessário um meio físico para que a mensagem possa ser veiculada para o interlocutor, ao qual damos o nome de canal de comunicação. Constituem canais de comunicação o ar, um CD, um cabo, um telefone etc. Fonte: contabeis.com.br 6 2.3 Esquema da Comunicação A somatória desses elementos resulta no seguinte esquema, que apresenta os elementos indispensáveis para a comunicação: 2.4 As Funções da Linguagem A linguagem, de acordo com Jakobson (2001), tem toda a variedade de suas funções. Antes, porém, propõe que recordemos que o remetente envia uma mensagem a um destinatário. Para que possa ser transmitida, a mensagem requer um contexto (ou referente), apreensível pelo destinatário, e que seja verbal ou passível de verbalização, um código comum (parcial ou totalmente) a ambos – remetente e destinatário –, e, finalmente, um contato, ou seja, um canal físico por meio do qual possa ser veiculada. Cada um desses seis elementos encerra uma função da linguagem diferente, como vemos a seguir: 7 Apesar de serem seis elementos e, portanto, seis funções da linguagem, normalmente as mensagens comportam mais de uma função, havendo uma predominante, mas não exclusiva. Deve-se ressaltar que a estrutura da mensagem depende dessa função predominante. Assim, a função referencial (também chamada denotativa) está centrada no contexto (referente). Tudo o que se refere aos contextos situacionais ou textuais pertencem a esta função. Ex.: Prefeitura libera a pista expressa da Marginal Pinheiros (Folha de São Paulo, 16 de janeiro de 2007). Quando a mensagem está centrada no canal, falamos da função fática. Temos, nesse caso, tudo o que serve para, numa comunicação, estabelecer, manter ou encerrar o contato. Ex.: Alô, alô, responde... Responde... Já quando a mensagem prioriza o emissor, revelando sua personalidade, estamos à frente da função emotiva (ou expressiva). 8 Ex.: Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças. Entre eles considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. (Carlos Drummond de Andrade) A função poética é aquela em que a prioridade está na própria mensagem, colocando em destaque o lado palpável dos signos (JAKOBSON, 2001). Ex.: Vozes veladas, veludosas vozes, Volúpias dos violões, vozes veladas, Vagam nos velhos vórtices velozes Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas. (Cruz e Souza) Quando ocorre a orientação para o receptor (destinatário), temos a função conativa. Por isso, nessa função, é comum observamos o emprego de verbos no modo imperativo, vocativos e ponto de exclamação. Ex.: Assine uma TV a cabo agora e comece a pagar somente depois do Carnaval. Finalmente, quando é dada especial relevância ao código, estamos à frente da função metalinguística. Ex.: Quando falamos de funções da linguagem, queremos dizer, da possibilidade que tem a língua de dar, de acordo com a intenção do falante, especial destaque a determinados elementos da comunicação. Nesse caso, usamos a língua para explicar a própria língua. 9 3 TEXTO E TEXTUALIDADE Texto, etimologicamente, quer dizer tecido, ou seja, trata-se de uma trama na qual se devem enredar as palavras. Já a Linguística do Discurso procura estudar os textos como manifestações linguísticas produzidas por indivíduos concretos em situações concretas, sob determinadas condições de produção (KOCK, 1997), entendendo-os numa situação interacionista. Para que melhor possamos compreendê-los nessa perspectiva, analisemos as sequências a seguir: Para calar a boca: Rícino Pra lavar a roupa: Omo Para viagem longa: Jato Para difíceis contas: Calculadora Para o pneu na lona: Jacaré Para a pantalona: Nesga Para pular a onda: Litoral Para lápis ter ponta: Apontador Para o Pará e o Amazonas: Látex Para parar na pamplona: Assis Para trazer à tona: Homem - Rã Para a melhor azeitona: Ibéria Para o presente da noiva: Marzipã Para Adidas o Conga: Nacional Para o outono a folha: Exclusão Para embaixo da sombra: Guarda-Sol Para todas as coisas: Dicionário Para que fiquem prontas: Paciência Para dormir a fronha: Madrigal Para brincar na gangorra: Dois Para fazer uma toca: Bobs Para beber uma coca: Drops Para ferver uma sopa: Graus Para a luz lá na roça: 220 volts 10 Para vigias em ronda: Café Para limpar a lousa: Apagador Para o beijo da moça: Paladar Para uma voz muito rouca: Hortelã Para a cor roxa: Ataúde Para a galocha: Verlon Para ser moda: Melancia Para abrir a rosa: Temporada Para aumentar a vitrola: Sábado Para a cama de mola: Hóspede Para trancar bem a porta: Cadeado Para que serve a calota: Volkswagen Para quem não acorda: Balde Para a letra torta: Pauta Para parecer mais nova: Avon Para os dias de prova: Amnésia Pra estourar pipoca: Barulho Para quem se afoga: Isopor Para levar na escola: Condução Para os dias de folga: Namorado Para o automóvel que capota: Guincho Para fechar uma aposta: Paraninfo Para quem se comporta: Brinde Para a mulher que aborta: Repouso Para saber a resposta: Vide - o - Verso Para escolher a compota: Jundiaí Para a menina que engorda:Hipofagi Para a comida das orcas: Krill Para o telefone que toca Para a água lá na poça Para a mesa que vai ser posta P ara você o que você gosta diariamente (REIS, 1991). 11 Quando lemos esse texto, num primeiro momento, temos a impressão de que se trata de um amontoado de frases pouco significativas. Contudo, se a inserirmos em seu contexto, passamos a entendê-la como texto. Então, vamos lá: a sequência é uma composição de Nando Reis, gravada por Marisa Monte, intitulada Diariamente. O texto relata os fatos do cotidiano de uma pessoa que vive numa região urbana, possivelmente, na cidade de São Paulo. O mesmo ocorre com a seguinte sequência: Por que você é Flamengo? E meu pai Botafogo? O que significa “Impávido Colosso”? Por que os ossos doem? Enquanto a gente dorme? Por que os dentes caem? Por onde os filhos saem? Por que os dedos murcham? Quando estou no banho? Por que as ruas enchem? Quando está chovendo? Quanto é mil trilhões? Vezes infinito? Quem é Jesus Cristo? Onde estão meus primos? Well, well, well Gabriel? Well, well, well? Por que o fogo queima? Por que a lua é branca? Por que a Terra roda? Por que deitar agora? Por que as cobras matam? Por que o vidro embaça? Por que você se pinta? Por que o tempo passa? 12 Por que que a gente espirra? Por que as unhas crescem? Por que o sangue corre? Por que que a gente morre? Do qué é feita a nuvem? Do que é feita a neve? Como é que se escreve Reveillon? Well, well, well, Gabriel. (DUNGA; TOLLER, 2004). 3.1 Coesão Fávero (1999, p. 10) assim define coesão: “A coesão, manifestada no nível microtextual, refere- -se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, as palavras que ouvimos ou vemos, estão ligados entre si dentro de uma sequência.” Podemos dizer, portanto, que coesão é o nome com que designamos as estratégias de ligação utilizadas num texto para torná-lo todo, ou seja, o uso de elementos capazes de estabelecer elos, os quais podem “amarrar” elementos mencionados anteriormente no texto, ocorrendo, então, o que os estudiosos chamam de anáfora. Ex.: Fiz todos os exercícios indicados pela professora, mas minha amiga Carla não os fez (isto é, não fez os exercícios). Podem, também, “amarrar” elementos que serão ainda mencionados no texto, ocorrendo, então, a chamada catáfora. Ex.: Fui ao mercado e comprei todos os itens de que precisava, menos estes: arroz, batata e azeite. Bem utilizar esses elementos auxilia bastante na boa escritura de uma sequência, mas não é só isso. Vejamos, agora, outro elemento responsável pela textualidade, capaz de ajudar na produção textual. Vamos ver outros exemplos de textos coesos para você entender bem essa questão: 13 14 Veja: em ambos os textos, os elementos coesivos (grifados) foram adequadamente empregados A pontuação, os elementos referenciais, todos estão corroborando para que o texto adquira unidade. 3.2 Coerência E do que será que trata a noção de coerência? A coerência [...], manifestada em grande parte macro textualmente, refere-se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, os conceitos e as relações subjacentes ao texto de superfície, se unem numa configuração, de maneira reciprocamente acessível e relevante. Assim a coerência é o resultado de processos cognitivos operantes entre os usuários e não mero traço dos textos. (FÁVERO, 1999, p. 10). Então, a sequência a seguir constituirá texto para quem a entender como um classificado, concorda? Vários são os elementos responsáveis pela coerência. Kock e Travaglia (1990) apontam os seguintes: a) conhecimentos: linguístico, de mundo, partilhado, do mundo em que o texto se inscreve; b) inferências; c) fatores pragmáticos; d) situacionalidade; e) intencionalidade; f) aceitabilidade; 15 g) informatividade; h) focalização; i) intertextualidade; j) relevância. Resta-nos, ainda, especificar que os textos se organizam numa hierarquia de tipos de subtipos. Guimarães (2004) ensina que, se a intenção se volta fundamentalmente para as estruturas internas do texto, fica estabelecida uma tipologia de acordo com a forma de estruturação, sua superestrutura, ou o mundo em que o texto se inscreve. Os textos citados como exemplos de textos coesos também são exemplos de textos com coerência, porque têm sentido. Vamos ver um exemplo de um texto em que falta coerência: 4 AS SUPERESTRUTURAS TEXTUAIS 4.1 O Texto Descritivo Descrever é caracterizar com detalhes objetos, locais, pessoas e situações, apresentando as características deles percebidas por meio dos cinco sentidos. Como é através dos sentidos que estabelecemos contato com o mundo à nossa volta, podemos dizer que essa estrutura textual é a mais primeva, constituindo elementos vitais de nossa sensibilidade. “Visão, tato, audição, paladar, olfato são os sentidos com que percebemos as coisas do mundo que se traduzem em formas, cores, texturas, cheiros, sonoridades a serem descobertas.” (AMARAL; ANTÔNIO, 1991, p. 19). Observemos agora as seguintes sequências: 16 Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à rua: as pedras escaldavam, as vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes, as paredes tinham reverberações de prata polida; as folhas das árvores nem se mexiam; as carroças d’água passavam ruidosamente a todo o instante, abalando os prédios, e os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas arregaçadas, invadiam sem cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos não se encontrava viva alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos faziam as compras para o jantar ou andavam no ganho. (AZEVEDO, 1997). Fonte: www.pixabay.com.br Vejamos então, pormenorizadamente, o que compreende um texto descritivo. 17 4.2 Características do Texto Descritivo Leia o seguinte fragmento (1) da obra Iracema, de José de Alencar: Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. (ALENCAR, 1990). Agora, atente para o seguinte fragmento (2): Iracema saiu do banho; o aljôfar d’água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste. (ALENCAR, 1990). O primeiro fragmento é descritivo e o segundo, narrativo. Como identificar a descrição? O texto descritivo é predominantemente figurativo, ou seja, construído com termos essencialmente concretos, evocando uma figura, um efeito de realidade. “Os textos figurativos produzem um efeito de realidade e, por isso, representam o mundo, com seus seres, seus acontecimentos.” (PLATÃO; FIORIN, 1997, p. 89). No fragmento 1, temos como exemplos de termos concretos: a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando etc. Outra característica do texto descritivo é que ele não traz mudança de situação. É estático, representa o mundo num determinado momento, é recorte. Além disso, naquela instância em que se efetua a descrição, vários fatos simultâneos podem ser apresentados. Assim, Iracema, quando apreendida pelo narrador,apresentava simultaneamente as seguintes características: era virgem, tinha lábios de mel; seus cabelos eram mais negros que a asa da graúna e mais longos que o talhe de palmeira; seu sorriso era doce como o favo da jati; seu hálito era perfumado, era ainda mais rápida que a ema etc. Essas características coocorriam, estavam todas presentes na mesma instância, podendo, inclusive, ser invertidas no texto; por exemplo: seu sorriso era doce como o favo da jati; seu hálito era perfumado, era ainda mais rápida que a ema; era virgem, tinha lábios de mel; seus cabelos eram mais negros que a asa da graúna e mais longos que o talhe de palmeira... Isso porque não existe relação de anterioridade, nem de posterioridade no fragmento. 18 Para que se estabeleça a comparação, retomemos o segundo fragmento: Iracema saiu do banho; o aljôfar d’água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste. (ALENCAR, 1990). Esse é um fragmento narrativo, pois existe nele uma relação de anterioridade e posterioridade: primeiro a índia saiu do banho, depois se pôs a repousar. A inversão dos fatos prejudicaria a sequenciação do texto. Podemos perceber também, em ambos os textos, uma diferença no emprego dos tempos verbais: no primeiro, predomina o pretérito imperfeito e, no segundo, o pretérito perfeito. Como a simultaneidade é a característica do texto descritivo, os tempos verbais mais empregados são o presente do indicativo e o pretérito imperfeito do indicativo. Quanto à organização, podemos afirmar que se deve elaborar o texto descritivo espacialmente, isto é, os elementos devem ser descritos de baixo para cima, da esquerda para a direita, de dentro para fora etc., para que o leitor possa, paulatinamente, ir construindo a imagem daquilo que se está tratando. 4.3 O Texto Narrativo Parafraseando Humberto Eco (1985), no Pós- -escrito a O nome da rosa, destacamos: Afirma Eco (1985, p. 21): [...] para contar é necessário primeiramente construir um mundo, o mais mobiliado possível, até os últimos pormenores. Constrói-se um rio, duas margens, e na margem esquerda coloca-se um pescador, e se esse pescador possui um temperamento agressivo e uma folha penal pouco limpa, pronto: pode-se começar a escrever, traduzindo em palavras o que não pode deixar de acontecer 19 Essa citação de Eco, mesmo que indiretamente, permite-nos depreender que são cinco os elementos da narração: narrador, personagens, ações, tempo e espaço. Leia, agora, o texto a seguir, de Marina Colassanti: Observemos que, nesse texto, vislumbramos os seguintes elementos da narração: a) narrador: onisciente – de 3ª pessoa: “Jamais permitiria que seu marido fosse para o trabalho...”; 20 b) personagens: protagonista: a esposa – “Não dissessem os colegas que era esposa descuidada...”; antagonista: o marido – “Impecável transitava o marido pelo tempo”; c) ações: debruçada sobre a tábua; dava caça às dobras; d) tempo: jamais permitiria; um dia notou a mulher; muitos meses mais tarde; e) espaço: na sua casa, em uma determinada cidade. Além desses elementos, a narração apresenta, diferentemente da descrição, transformação. 4.4 Características do Texto Narrativo No texto Nunca descuidando do dever, podemos perceber, entre outras, as seguintes características: a) as camisas amassadas ficavam muito bem passadas: “[...] alcançava o ponto máximo de sua arte ao arrancar dos colarinhos liso brilho de celulóide.”; b) o marido foi adquirindo rugas no rosto: “[...] transitava o marido pelo tempo. Que, embora respeitando ternos e camisas, começou subrepticiamente a marcar seu avanço na pele e no rosto.” Mas a transformação mais significativa é a que não está explicitada, ou seja, ao perceber o rosto enrugado do marido, a esposa, como um autômato, tem a intenção de passá-lo: “Tendo finalmente certeza de que o homem dormia o mais pesado dos sonos, pegou um paninho úmido e, silenciosa, ligou o ferro.” Além disso, tanto quanto o texto descritivo, o narrativo é figurativo. Lembremo-nos de que esse tipo de texto é construído com palavras concretas, cuja função é representar o mundo. Por meio das figuras empregadas, podemos depreender o real sentido do texto. No caso de nunca descuidando do dever, figuras como: [...] Jamais permitiria que seu marido fosse para o trabalho com a roupa malpassada, não dissessem os colegas que era esposa descuidada. Debruçada sobre a tábua, com o olho vigilante, dava caça às dobras, desfazia pregas [...]. Permitindo-nos depreender, sublinearmente, uma crítica às mulheres que, nas décadas de 1960 e 1970, viviam apenas e tão somente para o lar, realizando robotizadamente as atividades domésticas. Além da figurativização, na narração, a 21 ordenação é temporal. O texto deve ter uma sequenciação para que o leitor possa acompanhar o desenrolar das ações. Assim, vejamos: Jamais permitiria que seu marido fosse para o trabalho com a roupa malpassada, não dissessem os colegas que era esposa descuidada. Debruçada sobre a tábua, com o olho vigilante, dava caça às dobras, desfazia pregas, aplainando punhos e peitos [...] um dia notou a mulher um leve afrouxar-se das pálpebras. Semanas depois percebeu que, no sorriso, franziam-se fundos os cantos dos olhos. [...] Mas foi só muitos meses mais tarde que a presença de duas fortes pregas descendo dos lados do nariz tornou-se inegável. Sem dizer nada, ela esperou a noite. Tendo finalmente certeza de que o homem dormia o mais pesado dos sonos, pegou um paninho úmido e, silenciosa, ligou o ferro. (Fonte: www.pensador.uol.com.br.) A ordenação temporal, nesse texto, ajuda o leitor a ir acompanhando as ações da esposa até o inesperado desfecho e, diferentemente do texto descritivo, a disposição dessas ações não pode ser alterada. Como a ordenação temporal é de extrema relevância no texto narrativo, os tempos verbais básicos são os do subsistema do passado: pretéritos perfeitos, mais que perfeito e imperfeito 4.5 O Texto Dissertativo Magalhães (1980, p. 7) assevera que a dissertação ocorre no plano das ideias, do conhecimento, das abstrações. Trata-se de um trabalho reflexivo que consiste, de maneira geral, em organizar as ideias numa linha de raciocínio. Assim, ensina o autor, “todas as vezes em que nos valemos da linguagem verbal para expor, defender ou contestar ideias, estaremos utilizando o chamado discurso dissertativo.” 22 Platão e Fiorin (1997, p. 252) afirmam que “dissertação é o tipo de texto que analisa interpreta, explica e avalia os dados da realidade” e relacionam algumas de suas características, revisadas a seguir. 4.6 Características da Dissertação a) É um texto temático, ou seja, discute um tema, operando, predominantemente, com termos abstratos; b) Mostra mudança de situação, tanto quanto a narração; c) Sua ordenação é lógica; d) O tempo básico empregado na dissertação é o presente do indicativo com valor atemporal, embora se admita o uso do pretérito perfeito e do futuro do presente. Importa esclarecer que há autores que inscrevem os textos dissertativos em dois tipos: expositivos e argumentativos, os quais veremos a seguir. 4.7 Dissertação Expositiva É aquela cujo propósito é discorrer sobre o assunto num sentido meramente informativo. Assim, pode-se dissertar sobre a pena de morte, a juventude brasileira etc., sem que haja posicionamento sobre o tema. A importância de Música Popular Brasileira A importância da Música Popular Brasileira no cenário de nossa cultura é inegável. Pode-se constatar que a MPB, além de sua relevância como manifestação estética tradutora de nossas múltiplas identidades culturais, apresenta- -se como uma das mais poderosas formas de preservaçãoda memória coletiva e como um espaço social privilegiado para as leituras e interpretações do Brasil. (ICCA, 2011) 4.8 Dissertação Argumentativa Diferentemente da anterior, na dissertação argumentativa revelam-se reflexões sobre o assunto, a fim de persuadir o receptor, acompanhando a linha de raciocínio 23 do que é exposto, a verificar se o raciocínio verbalizado é correto e, nesse sentido, passível ou não de aceitação. Uma escolha contra a mulher O aborto é frequentemente apresentado como um problema de ‘direito das mulheres’. É visto como algo desejável para as mulheres, e como um benefício ao qual elas deveriam ter tanto acesso quanto possível. Na verdade, ser ‘pró-vida’ é visto como sendo ‘contra os direitos da mulher’. Se você às vezes pensa desta forma, examine os fatos apresentados aqui. Verá que, na verdade, o aborto prejudica a mulher, ignora os seus direitos, e as abusa e degrada. Qualquer um que se preocupa com a mulher fará bem em conhecer estes fatos. Estudos de mulheres que fizeram aborto, (veja, por exemplo, o livro do Dr. David Reardon, Aborted Women, Silent No More), mostram que o aborto não é uma questão de dar à mulher uma ‘escolha’. É, tragicamente, uma situação em que as mulheres sentiram que não tinham NENHUMA ESCOLHA, sentiram que ninguém se importava com elas e com seu bebê, dando-lhes alternativa alguma a não ser o aborto. A mulher sente- se rejeitada, confusa, com medo, sozinha, incapaz de lidar com a gravidez - e, no meio disto tudo, a sociedade diz-lhe, ‘Nós eliminaremos o seu problema eliminando o seu bebê. Faça um aborto. É seguro, fácil, e uma solução legal’. O fato é que embora o aborto seja legal (nos Estados Unidos), ele NÃO é seguro e fácil, nem respeita a mulher. [...].” (CASTELÕES, 2002, grifo nosso). Podemos perceber, nesse texto, que, por exemplo, no trecho: “na verdade, o aborto prejudica a mulher, ignora os seus direitos, e as abusa e degrada” está expressa a opinião do autor e, para que ela seja mesmo aceita, passa ele a relacionar os motivos que o fazem pensar assim. Em ambos os tipos de dissertação, atente para a sua organização, que veremos a seguir. 4.9 Organização do Texto Dissertativo Como esse tipo de texto deve mostrar uma organização lógica, deve-se apresentar com bastante clareza: a) o assunto; b) a delimitação do assunto; c) o objetivo; d) o tópico frasal; e) o desenvolvimento; f) a conclusão. 24 Já falamos, anteriormente, que a dissertação é um texto temático, portanto, deve discutir um tema. Para que o autor do texto não se perca em informações redundantes ou desnecessárias, é importante que proceda à delimitação dele. Por exemplo: Dissertação Tema: NAMORO Possíveis delimitações do tema: ƒ Namoro na adolescência; ƒ Namoro na melhor idade; ƒ Namoro na escola. Escolhida uma delimitação, deve-se propor um objetivo, para que não ocorra fuga do tema. Se resolvêssemos escrever sobre namoro na escola, poderíamos estabelecer como objetivo, por exemplo, mostrar ao leitor que, como a escola é o espaço onde os jovens mais se encontram e se relacionam, é normal e saudável que ali comecem sua vida afetiva. O tópico frasal é aquele sobre o qual incide a essência da informação. Na delimitação anterior, poderíamos estabelecer como possível tópico- frasal: É na adolescência que se começa a conhecer o mundo, a fazer amigos, a descobrir as verdades e a escola é um dos ambientes mais propícios para isso. Então, nada mais comum que ocorram flertes, o “ficar” e até mesmo namoros nesse ambiente. Tendo em mente tanto a delimitação quanto os objetivos e o tópico frasal, cabe ao autor, então, elaborar seu texto dissertativo. Se o seu desejo for produzir um texto argumentativo, esses argumentos podem ser apresentados de diferentes maneiras. Seguindo Platão e Fiorin (1997), relacionamos três deles: a) argumento de autoridade: citam-se autores ou pessoas de prestígio que tenham reconhecido domínio sobre aquele saber. No caso da delimitação acima (namoro na escola), poderíamos citar, por exemplo, o psicanalista Içami Tiba, autor de várias obras que tratam da adolescência; b) argumento baseado no consenso: neste caso, valer-nos-íamos de opiniões já aceitas pela maioria da população. c) argumento baseado em provas concretas: poderíamos, no caso de nossa proposta, fazer uso de pesquisas que comprovassem que a maioria dos jovens namora na escola e que tal fato tem auxiliado seu desenvolvimento emocional. 25 Para que possamos entender melhor, leiamos Magalhães (1980, p. 16-17), que assim exemplifica o texto dissertativo: Muitas normas, antes apenas do âmbito da Moral, passaram ao campo do Direito pelo fato de o legislador, num momento dado, julgar conveniente atribuir-lhes força coercitiva, impondo uma sanção para sua desobediência. Assim, por exemplo, no passado era altamente meritório o fato de o patrão socorrer seu empregado acidentado. Mas a desobediência a essa regra de moral não provocava qualquer sanção por parte do Estado. Este, entretanto, observando a conveniência de se impor ao patrão a obrigação de socorrer seu serviçal infortunado, criou a norma de Direito, impondo como obrigação jurídica aquilo que não passava de mero dever moral. Outro exemplo: no passado agia com humanidade o patrão que, antes de despedir seu empregado, lhe dava um prazo para procurar nova colocação, e ao romper o contrato de trabalho lhe oferecia uma indenização pelos anos de serviços prestados. Talvez isso constituísse um dever moral ditado pela preocupação de justiça. Mas o descumprimento de tal dever não provocava qualquer sanção por parte do Estado. Parecendo ao legislador conveniente transformar tal preceito de Moral em regra de Direito, impõe ao patrão o dever de dar aviso prévio e de prestar indenização ao empregado despedido. O descumprimento de tal obrigação, hoje, provoca uma sanção por parte do Estado. A regra de Moral transformou-se em regra de Direito. Neste texto, temos, portanto: a) assunto: Direito; b) delimitação: Direito e moral; c) objetivo: mostrar que muitas normas morais se transformaram em normas jurídicas por razão de conveniência social; d) tópico frasal: “Muitas normas, antes apenas do âmbito da Moral, passaram ao campo do Direito pelo fato de o legislador, num momento dado, julgar conveniente atribuir-lhes força coercitiva, impondo uma sanção para sua desobediência”; e) desenvolvimento (argumentos baseados em provas concretas): 1. o socorro patronal obrigatório ao empregado acidentado; 2. a obrigação jurídica de dar aviso prévio e de prestar indenização ao empregado despedido; f) conclusão: “A regra de Moral transformou-se em regra de Direito.” Além disso, podemos perceber que o texto dissertativo tem algumas características que lhe são peculiares. Vejamos quais são. Primeiramente, como pudemos perceber, trata-se de um texto temático, ou seja, o nosso exemplo discute uma questão jurídica, operando, predominantemente, termos abstratos: 26 Muitas normas, antes apenas do âmbito da Moral, passaram ao campo do Direito pelo fato de o legislador, num momento dado, julgar conveniente atribuir-lhes força coercitiva, impondo uma sanção para sua desobediência. Assim, por exemplo, no passado era altamente meritório o fato de o patrão socorrer seu empregado acidentado. [...] (MAGALHÃES, 1980, p. 16-17, grifo nosso). Mostra, tanto quanto a narração, mudança de situação; neste texto, o autor aponta para fatos que passaram de atitudes morais para deveres impostos pelo Direito: [...] Este, entretanto, observando a conveniência de se impor ao patrão a obrigação de socorrer seu serviçal infortunado, criou a norma de Direito, impondo como obrigação jurídica aquilo que não passava de mero dever moral. [...] O descumprimento de tal obrigação, hoje, provoca uma sanção por parte do Estado. A regra de Moral transformou-se emregra de Direito. (MAGALHÃES, 1980, p. 16-17). Sua ordenação é lógica e, como já apontado, há no texto um tópico frasal, o desenvolvimento e a conclusão. Os tempos verbais empregados nessa dissertação são: pretéritos perfeito e imperfeito do indicativo, quando o autor remete o leitor ao passado, e presente, quando aponta para o resultado da ação pretérita: [...] Outro exemplo: no passado agia com humanidade o patrão que, antes de despedir seu empregado, lhe dava um prazo para procurar nova colocação, e ao romper o contrato de trabalho lhe oferecia uma indenização pelos anos de serviços prestados. Talvez isso constituísse um dever moral ditado pela preocupação de justiça. Mas o descumprimento de tal dever não provocava qualquer sanção por parte do Comunicação e Expressão Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 27 Estado. Parecendo ao legislador conveniente transformar tal preceito de Moral em regra de Direito, impõe ao patrão o dever de dar aviso prévio e de prestar indenização ao empregado despedido. O descumprimento de tal obrigação, hoje, provoca uma sanção por parte do Estado. A regra de Moral transformou-se em regra de Direito. (MAGALHÃES, 1980, p. 16- 17, grifo nosso). 27 5 CONSTITUIÇÃO DO TEXTO Fonte: estudopratico.com.br Texto e Textualidade Como vimos, texto, etimologicamente, quer dizer tecido, ou seja, trata-se de uma trama na qual se devem enredar as palavras. Já a Linguística do Discurso procura estudar os textos como “manifestações linguísticas produzidas por indivíduos concretos em situações concretas, sob determinadas condições de produção” (KOCK, 1997, p. 11), entendendo-os numa situação interacionista. Para Val (1999, p. 3), texto (escrito ou falado) é a “unidade linguística comunicativa básica” utilizada pelos falantes de uma língua para se comunicar e será bem compreendido quando comportar três aspectos fundamentais: o pragmático (atuação informacional e comunicativa), o semântico-conceitual (relacionado à compreensão, à cognição, portanto, da coerência) e o formal (de sua organização, ou seja, de sua coesão). Por outro lado, discurso é mais abrangente e, de acordo com a Análise do Discurso de linha francesa, ele é entendido como o espaço em que emergem as significações (BRANDÃO, 2002). Mas, o que comporta essa significação? Primeiramente, temos de entender que o discurso de que tratamos se faz na e pela http://www.estudopratico.com.br/ 28 língua, ou seja, as significações serão observadas em sua formação discursiva, somada às suas condições de produção, norteadas pela sua formação ideológica. Dessa forma, a noção de discurso pode ser vista como múltipla e analisá-lo é, de acordo com Foucault (1990, p. 187), “fazer desaparecer e reaparecer as contradições é mostrar o jogo que jogam entre si; é manifestar como pode exprimi- las, dar- -lhes corpo, ou emprestar-lhes uma fugidia aparência.” Isso quer dizer que analisar um discurso é buscar esses elementos de dispersão, os diversos discursos que comporta, os textos que com ele dialogam. E há várias maneiras de os textos conversarem entre si e com os discursos, como veremos a seguir. 5.1 Intertextualidade De acordo com Kristeva (1974, p. 64) “todo texto se constrói como um mosaico de citações. Todo texto é absorção e transformação de um outro texto”, ou seja, como fala Bakhtin (1988), nenhum discurso é neutro, mas sempre formado por outros que lhe foram anteriores no tempo, pois é produzido por um sujeito descentrado, assumindo diferentes vozes sociais, que o tornam um sujeito histórico e ideológico. Fonte: escolakids.uol.com.br http://www.escolakids.uol.com.br/ 29 Fiorin (2003, p. 32) ensina que “a intertextualidade é o processo de incorporação de um texto em outro, seja para reproduzir o sentido incorporado, seja para transformá-lo.” Já Brandão (2002, p. 76) aponta dois tipos de intertextualidade: uma interna, na qual um “discurso se define por sua relação com o discurso do mesmo campo, podendo divergir ou apresentar enunciados semanticamente vizinhos aos que autoriza sua formação discursiva”; e uma externa, “na qual o discurso define uma certa relação com outros campos” Kock (1986) também aponta a possibilidade de se observar a intertextualidade de duas maneiras: em sentido amplo, que ocorre implicitamente, ou seja, a identificação dos textos em diálogo é conseguida por meio de atenta observação por parte do leitor, porque o novo texto mantém alguns aspectos, tanto formais quanto de sentido, dos originais; em sentido estrito, que pode aparecer tanto implicitamente – por meio da divulgação de sua ideologia e retórica – quanto explicitamente – por meio da revelação direta do texto do qual se origina. Paulino, Walty e Cury (1997) indicam oito possibilidades de a intertextualidade se revelar, isto é, por meio de epígrafe, citação, referência, alusão, paráfrase, paródia, pastiche e tradução. Esses autores entendem a sociedade como uma grande rede intertextual e dão ao espaço cultural um lugar de relevância, pois cada produção dialoga necessariamente com outras. Fiorin (2003) e Sant’Anna (1988) apontam diferentes maneiras de a intertextualidade ocorrer. O primeiro identifica três processos: a citação, a alusão e a estilização; o segundo, quatro: a paródia, a paráfrase, a estilização e a apropriação. Como é a proposta de Sant’Anna que mais atende aos nossos propósitos, estudá-la- emos pormenorizadamente a seguir. 5.2 Paródia Fávero (2003, p. 49) vai à etimologia para conceituar o termo: “Paródia significa canto paralelo (de para = ao lado de e ode = canto), incorporando a ideia de uma canção, cantada ao lado de outra, como uma espécie de contracanto.” Sant’Anna (1988) completa, asseverando que ela tem uma função catártica, funcionando como contraponto com os momentos de muita dramaticidade. Além disso, a paródia faz uma reapresentação daquilo que havia sido recalcado, sendo uma nova e diferente 30 maneira de ler o convencional, ou seja, é um processo de liberação do discurso, uma tomada de consciência crítica. Parodia-se um texto para negá-lo, já que a linguagem, nesse tipo de produção, é dupla: as vozes que dialogam nos dois discursos se cruzam tanto horizontal (produtor x receptor) quanto verticalmente (texto x contexto) (FÁVERO, 1999). Temos, em nossa literatura, muitos exemplos de paródia. Jô Soares, na época de cassação do então presidente Fernando Collor de Melo, utilizando-se da mesma estrutura da nossa Canção do exílio, escreveu: Fonte: alunosonline.uol.com.br 31 32 Recordemo-nos do original, de Gonçalves Dias: O dialogismo entre os textos é inquestionável, revelando, também, a característica primordial da paródia: temos aqui cantos paralelos aos de Gonçalves Dias, mas, ao mesmo tempo em que fazem com que nossa memória textual retome o 33 original, seu lado humorístico faz com que eles nunca se encontrem, como imagens invertidas num espelho (SANT’ANNA, 1988). Num texto acadêmico, podemos fazer uso da paródia quando, especialmente, partindo de um texto original, inauguramos outro paradigma, uma evolução do primeiro, numa oposição, numa crítica tecida com humor e ironia, expondo sua contra ideologia Ex.: (1) Texto fonte: Salários têm melhores reajustes em 10 anos Balanço divulgado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) mostra que, em 2005, 72% dos reajustes salariais foram maiores do que a inflação, melhor desempenho já constatado. Fonte: Adaptado de www.pt.org.br (2) Texto derivado: Eles conseguem fazer com que seus salários tenham melhores reajustes em 10 anos. Balanço divulgado pelo Dieese (Departamento de Infâmias, Enrolação e Embuste Sem Escrúpulos) mostra que, em 2005, 72% dos reajustessalariais dos políticos foram maiores do que a inflação, maior roubalheira e sem-vergonhice já constatada. Como se pode perceber, embora os dois textos mantenham um diálogo entre si, a paródia subverte o sentido do primeiro, retoma-o para o negar, para o ironizar, caminhando ao seu lado como se fosse sua imagem invertida. Diferente é a paráfrase, como veremos a seguir. 5.3 Paráfrase Sant’Anna (1988) afirma que o termo ‘para- -phrasis’ (que já no grego significava continuidade ou repetição de uma sentença) pode ser considerado, grosso modo, uma reafirmação, por meio de outras palavras, do mesmo sentido de uma obra escrita, ou seja, pode-se considerar a paráfrase a tradução ou a transcrição de um texto primitivo. Nesse sentido, Derrida (2002) ensina que o tradutor deve resgatar, absolver, resolver o texto original e quando “cria” é como um pintor que “copia” seu “modelo”. Por sua vez, Benjamin (1996, p. 108) diz que “a natureza engendra semelhanças”, bastando, para entender isso, pensar-se na mímica. http://www.pt.org.br/ 34 Portanto, diferentemente da paródia, a paráfrase é a frase paralela, ou seja, uma releitura do original. Se, na primeira, temos a ruptura, a crítica sutil; na segunda, ficamos à frente de uma releitura, de uma reprodução. Para que possamos compreendê-la melhor, tomemos como exemplo a mesma Canção do exílio e vamos ver algumas paráfrases elaboradas a partir dela: 35 36 André (1988) assevera que muitas são as formas como utilizamos a paráfrase no texto acadêmico: a) podemos reproduzir, com outras palavras, o mesmo pensamento do texto, seguindo a ordem do discurso original; b) podemos reproduzir o texto, com outras palavras, mas buscando esclarecer, para os leitores de outro nível (nesse caso, portanto, motivado pelos objetivos), vocábulos ou expressões que julgamos importante elucidar; c) podemos, ao reproduzir o texto, ampliar as informações sobre ele, seu autor, a obra, o estilo etc., na medida em que essas informações sejam cabíveis e relevantes para sua melhor compreensão; d) podemos, finalmente, fazer um decalque, ou seja, seguindo a estrutura do texto original, substituir a ideia inicial por outra que com ela esteja associada. Assim, podem ser produzidos diversos tipos de textos acadêmicos, como fichamentos, resumos e resenhas de textos, como veremos adiante. Vamos agora para outra forma como pode se dar a intertextualidade. 37 5.4 Estilização A palavra ‘estilização’ deriva de estilo que, de acordo com Houaiss (2001, p. 1254) significa “o modo pelo qual um indivíduo usa os recursos da língua para expressar, verbalmente ou por escrito, pensamentos, sentimentos, ou para fazer declarações, pronunciamentos etc.” Então, Sant’Anna (1988) define estilização como uma forma de tomar aquele estilo de outrem, estabelecendo um desvio tolerável e produzindo um meio do caminho entre a paródia e a paráfrase. Já para Fiorin (2003), a estilização é a reprodução do conjunto dos procedimentos do ‘discurso de outrem’, isto é, do estilo de outrem. Estilos devem ser entendidos aqui como o conjunto das recorrências formais tanto no plano da expressão quanto no plano do conteúdo (manifestado, é claro) que produzem um efeito de sentido de individualização. Esclarece, ainda, Fiorin que a estilização pode ser polêmica ou contratual. Entendemos que a estilização, em sentido estrito, pode ser uma forma de alusão, já que, ao citar, temos uma menção ao discurso de outrem, de maneira indireta, ou seja, por meio da utilização do estilo do texto de origem. Vamos ver, agora, a estilização que Murilo Mendes elaborou a partir da Canção de Exílio de Gonçalves Dias: 38 Quais elementos, no texto acima, nos indicam tratar-se de uma estilização? Ao aludir ao texto de Gonçalves Dias, o autor manteve, em vários momentos, a mesma construção sintática do texto de origem. Ex.: sujeito + verbo transitivo direto + objeto direto (oração principal): Minha terra tem palmeiras Minha terra tem macieiras da Califórnia. Oração subordinada adjetiva: Onde canta o sabiá Onde cantam gaturamos de Veneza. Além disso, é mantido o presente do indicativo e, quanto ao léxico, observamos que o texto de Murilo Mendes insere o cotidiano no esquema da nostalgia e que o efeito poético de distanciamento do modelo que obtém não elide, contudo, a reverência – irônica é verdade – à matriz da saudade nacional, tornando-se, ao mesmo tempo, polêmico e contratual. 5.5 Apropriação Sant’Anna (1988) ensina que essa forma de intertexto é bastante recente na crítica literária e chegou à Literatura por meio das Artes Plásticas, especialmente pelas experiências dadaístas. Também conhecida como assemplage (reunião, agrupamento), é muito próxima da colagem, ou seja, trata-se da reunião de materiais diversos para a composição de algo. Embora recente seu estudo, essa técnica é, de acordo com o autor, antiquíssima, pois usa de um artifício muito conhecido na elaboração artística: o deslocamento, que, por meio do desvio, provoca um estranhamento. A apropriação pode ser de dois tipos: a) de primeiro grau: quando é o próprio objeto que entra em cena; 39 b) de segundo grau: quando ele é representado, traduzido para outro código. O chargista e humorista Caulus fez o sabiá voar dos versos saudosistas para a denúncia ecológica, no grafismo leve e tocante do exílio de sua própria palmeira: Em outras palavras, o artista apropriou-se do original e o transpôs para outro código, fazendo surgir, como disse Maserani (1995) um novo texto. Nesse sentido, podemos dizer que, ao fazer uso da apropriação, “o artista está querendo desarrumar, inverter, interromper a normalidade cotidiana e chamar a atenção para alguma coisa.” (SANT’ANNA, 1988, p. 45). José Paulo Paes, no melhor estilo do sintetismo antidiscursivo das grandes vanguardas modernistas, fez o resumo da poesia, despojando-a de acessórios: 40 6 O TEXTO ACADÊMICO 6.1 Fichamento Observe: Para que fichemos qualquer obra, é necessária, antes de tudo, uma leitura atenta daquilo que se deseja fichar. Ruiz (1980, p. 70) aconselha: 41 Então, para que façamos um bom fichamento, é preciso seguir algumas etapas: a) ler atentamente uma primeira vez o texto na íntegra, grifando as palavras desconhecidas e procurando-as no dicionário; b) ler uma segunda vez, munidos com lápis, para sublinhar os trechos mais importantes. Andrade e Henriques (1992) informam que é importante sublinhar um texto, para: a) assimilá-lo melhor; b) memorizá-lo; c) preparar uma revisão rápida do assunto; d) aplicar em citações; e) resumir, esquematizar ou fichar. De acordo com esses autores, a técnica de sublinhar compreende, depois das leituras sugeridas: a) identificação da ideia-núcleo de cada parágrafo; b) indicação, com uma linha vertical colocada à margem, dos tópicos mais importantes; c) colocação de um ponto de interrogação à margem do texto, para indicar casos de discordância e passagens obscuras; d) leitura do que foi sublinhado para ver se há sentido; e) reconstrução do texto, tomando os trechos sublinhados como base Os autores também recomendam que: [...] há de se sublinhar o estritamente necessário, evitando-se argumentações, exemplificações, citações etc. (ANDRADE; HENRIQUES, 1992). 42 Depois desse primeiro passo, procede-se, então, ao fichamento. Hoje, com a facilidade do computador, podemos utilizar uma pasta especialmente aberta para salvar esse tipo de documento. Quem não dispõe desse recurso, deve usar fichas, vendidas em papelaria em três formatos: 7,5 x 12,5; 10,5 x 15,5 e 12,5 x 20,5. A de tamanho médio, no nosso ponto de vista, é a ideal, porque cabe numa caixa de sapatos, por exemplo, se a quisermos arquivar. Devemos utilizar uma ficha (ouuma página de computador) para cada tópico ou assunto, cuidadosamente anotado. Deve- se, também, evitar escrever no verso das fichas, por uma questão de praticidade. A estrutura da ficha deve ser a seguinte: a) cabeçalho, com a identificação do assunto (título geral, título específico, número do título etc.); b) indicação da fonte da qual se extrai o fichamento, de acordo com as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT); c) corpo da ficha, compreendendo anotações ou comentários. 43 2. de citação: a que contém a transcrição fiel de trechos ou frases da obra consultada, normalmente, aquelas grifadas como as mais importantes na instância da leitura. Na citação, deve-se observar: a) o uso de aspas; b) a referência da página da qual foi retirada a citação; c) o uso de [...] para marcar que o trecho foi recortado. 44 3. de resumo: É a que contém uma paráfrase do trecho lido. O resumo pode ser apresentado como esboço ou como sumário: a) como esboço: apresenta a mesma estrutura do texto citado, com as palavras- chave, títulos e subtítulos, procedendo-se a um resumo dele; b) como sumário: topicalizam-se os itens julgados mais relevantes. Exemplos: 45 6.2 Resumo Resumir um texto ensina a relacionar as ideias, entender com clareza o assunto e perceber o sentido próprio do figurado que os vocábulos podem adquirir numa produção textual. Para se realizar um resumo, seguem-se os mesmos passos do fichamento, isto é, antes de tudo: 46 a) ler atentamente uma primeira vez o texto na íntegra, grifando as palavras desconhecidas e procurando-as no dicionário; b) ler uma segunda vez, munidos com lápis, para sublinhar os trechos mais importantes. E mais: c) ficar atento para as palavras de ligação que organizam de forma lógica o raciocínio, tais como: assim sendo, além do mais, pois, em decorrência etc.; e as que modificam os ficar atento enunciados: mais que tudo, não, nunca etc. Quando temos de resumir um texto, por exemplo, o ideal é que o façamos por partes, ou seja, que elaboremos o resumo de cada capítulo. O bom resumo deve, de acordo com André (1988, p. 106), “conservar os traços do estilo do texto original, como por exemplo, nível de linguagem, ironia, humor, vivacidade, etc.” Por outro lado, não devemos opinar ou criticar: o procedimento é de resumo e não de resenha ou de interpretação. Quanto à extensão, normalmente esta é estabelecida por quem o faz ou por quem o solicita, dependendo dos objetivos visados, mas, normalmente, um bom resumo contém de 10 a 15 por cento do texto original. Exemplo de resumo: Vamos agora, proceder ao resumo, seguindo as etapas especificadas: 47 1. Leitura atenta e a técnica de sublinhar as palavras-chave: A finalidade da escola é educar e ensinar. Ensinar é ministrar conhecimento e experiências. “A educação é ação formadora da personalidade humana, que faculta ao indivíduo alcançar, com sua atividade, a meta de sua vida”. A educação e o ensino devem ter um escopo: formar integralmente o homem (no espírito e no corpo) a fim de que consiga, na luta de todos os dias, viver feliz e satisfeito por saber que trilha o melhor caminho com os melhores recursos, dentro do bem-estar da comunidade. Embora a função específica da escola seja ensinar, cumpre-lhe também, e por lei, educar. A escola que não educa é perniciosa. 2. Resumo por parágrafos: 1º a finalidade da escola é educar: auxiliar o indivíduo a alcançar seus objetivos; e ensinar: ministrar conhecimento e experiências; 2º a educação e o ensino: formar integralmente o homem; 3º embora a função da escola seja, antes de tudo, ensinar, tem também (por lei), de educar. A escola que assim não age é perniciosa. 3. Redação final: A finalidade da escola é educar, ou seja, auxiliar o indivíduo a alcançar seus objetivos; e ensinar, isto é, ministrar conhecimentos e experiências. A educação e o ensino devem formar integralmente o homem. Embora a função da escola seja, antes de tudo, ensinar, tem ela também, e por lei, de educar. A escola que assim não age é perniciosa. Quem desejar, pode colocar introduções no resumo: No texto A escola e sua finalidade, de Hildebrando A. André, publicado no livro Curso de redação, o autor discute a finalidade da escola. Nele, o autor afirma que... 6.3 A Resenha Várias são as definições dadas a essa atividade: “É uma síntese geral, informativa e avaliativa sobre livros, capítulos, artigos das mais diferentes áreas do conhecimento e que serve, por conseguinte, para orientar as opções e o interesse do leitor [...].” (BARROS; LEHFELD, 2000, p. 22); “[...] é uma descrição minuciosa que compreende certo número de fatos: é a apresentação do conteúdo de uma obra. Consiste na leitura, no resumo, na crítica e na formulação de um conceito de valor do livro feitos pelo resenhista.” (LAKATOS; MARCONI, 1992, p. 89); “[...] é uma síntese 48 ou um comentário dos livros publicados feitos em revistas especializadas das várias áreas da ciência, das artes e da filosofia.” (SEVERINO, 2001, p. 131). Entre as citadas, depreendemos em comum o fato de esse tipo de trabalho tratar- se de uma síntese, ou resumo avaliativo, não importando o nome que se dê a ela: resenha crítica (que nos parece redundante), resenha descritiva ou, simplesmente, resenha. Saiba, prezado(a) aluno(a), que saber fazer uma boa resenha é bastante importante na vida acadêmica, pois é através dela que se tem o primeiro contato com um livro, um texto, um filme etc. Uma resenha bem elaborada pode fazer o leitor comprar uma determinada obra ou assistir a um filme específico. Severino (2001) informa que há dois tipos de resenha: a informativa, aquela que apenas expõe o conteúdo do texto; e a crítica, aquela por meio da qual manifestamos nosso critério de valor. Já mencionamos alhures que, em vista do que foi conceituado relativamente ao termo, julgamos ser a resenha eminentemente crítica, podendo, isso sim, somar-se uma descrição, resultando a resenha descritiva. Vamos ver uma de cada vez. 6.4 Resenha Crítica Como também já mencionamos, não julgamos ser necessário o uso de crítica à resenha, pois lhe cabe por definição esse papel, chamemo-la simplesmente resenha. Então, vejamos. Sua organização é lógica: começa-se com um cabeçalho, no qual são transcritos os dados bibliográficos da obra; segue-se um parágrafo com uma breve informação sobre o autor do texto; na sequência, deve-se introduzir o texto, com um parágrafo que sintetize a obra, escrito de forma bastante objetiva e contendo seus pontos principais e forma de organização. Nos parágrafos subsequentes, far-se-á uma síntese de cada capítulo da obra (ou parágrafo do texto), parte por parte, destacando- se “o assunto, os objetivos, a ideia central, os principais passos do raciocínio do autor.” (SEVERINO, 2001, p. 132). O texto deve ser finalizado com um comentário crítico elaborado pelo resenhista, contendo os aspectos positivos e negativos do objeto resenhado. Também é possível que, durante a apresentação da síntese, já se façam comentários críticos. Como o objetivo da resenha é apontar, de maneira direta e cortês, o assunto discutido no texto, como assunto, forma de abordagem, teoria, profundidade teórica etc., mostrando qualidades e falhas de informação, não se deve tecer comentários sobre o autor do texto. Para um estudante de curso superior, a 49 elaboração de resenhas favorece uma melhor compreensão da matéria e é um exercício de síntese de muito valor, por isso, exercite-se!!! 6.5 Resenha Descritiva Além do já visto, na resenha descritiva, deve-se somar um parágrafo descritivo da obra, informando, por exemplo: a) editora; b) número de edição; c) páginas; d) se obra traduzida, o nome dos tradutores; e) organização. Requisitos básicospara se resenhar para a elaboração de um texto valoroso, deve-se: a) ter conhecimento da obra; b) ter poder de síntese; c) imprimir um olhar crítico sobre ele; d) manter-se fiel ao pensamento do autor. 50 7 O TEXTO COMERCIAL Fonte: formacaolinguasc.blogspot.com.br 7.1 As Cartas Comerciais Apesar do grande desenvolvimento tecnológico que temos assistido recentemente, a carta comercial continua sendo um importante veículo de comunicação entre empresas. A carta surtirá grande efeito a quem se dirigir, se ela, sem desprezar os seus aspectos imediatistas, for vazada em linguagem precisa e adequada, dotada de ritmo frasal, isenta dos bolorentos lugares- comuns, criativa, distante de estereótipos ou dos modelos pré-fabricados, dispostas suas frases de modo tal que o clímax da mensagem se coloque dentro do ângulo de visão do leitor. (MARTINS DE BARROS, 1977, p. 17). Uma carta comercial estará bem escrita, se: a) não for verborrágica; b) não for rastejante; c) não for vazada em vocabulário difícil ou frases arrevesadas; d) não estiver em linguagem descuidada; e) não estiver com aspecto descuidado http://www.formacaolinguasc.blogspot.com.br/ 51 Martins de Barros (1977, p. 25) ensina que “o bom redator de empresa tem de fixar esses aspectos [...] Uma carta bem escrita, bem apresentada, inovada, não é só testemunho de finesse, mas (também e sobretudo) um extraordinário agente de fixação da imagem da empresa emissora.” A composição da Carta Comercial São as seguintes as partes que compõem, normalmente, uma carta comercial: a) data; b) destinatário (completo: nome, endereço, CEP, cidade, estado); c) evocação; d) assunto; e) despedida; f) assinatura. Exemplo: 52 53 8 E-MAILS Fonte: focusmarketing.com.br 8.1 Internet Lembrando: quando falamos em internet, estamos nos referindo à maior rede de computadores do mundo. Melhor, não só uma rede, de uma das redes, a responsável pela troca de mensagens, aulas virtuais, comércio, informações diversas etc. Para que possamos acessá-la, são necessários os provedores, isto é, o meio que permite a comunicação entre computadores do mundo todo. Entre eles, há os gratuitos (iG, Yahoo etc.) e os pagos (UOL, Globo, Terra etc.). Entra-se na rede por meio de login e senha, sendo que cada usuário cria os seus. Entre os serviços oferecidos por esses provedores, há o correio eletrônico (electronic-mail e-mail). 8.2 O E-mail Propriamente Dito O e-mail é um texto que une características tanto do escrito quanto do oral. Como texto escrito, pode apresentar as seguintes características: ser descontextualizado; 54 autônomo; explícito; condensado; planejado; preciso; normatizado; completo. Devido à rapidez com que ocorre a comunicação, pode apresentar, em algumas circunstâncias, as seguintes características do texto oral: ser contextualizado; dependente; implícito redundante; não planejado; impreciso; não normatizado; fragmentado. Então, como dissemos, embora pareça um texto oral, trata-se de um texto escrito, ou seja, há sempre nele a possibilidade de planejamento e de refazimento. Devemos nos lembrar sempre de que, como qualquer texto, traça a imagem de quem o produz, portanto, ao escrever e-mails, garanta: ƒ que o interlocutor entenda a mensagem da maneira como você deseja; ƒ evite uso não convencional de abreviaturas; ƒ evite uso de letras maiúsculas, a não ser que deseje expressar gritos. Atente para: a) que tipo de e-mail estou passando? b) para quem o estou enviando? 55 c) que variante linguística utilizar? Veja um exemplo de e-mail pessoal de difícil leitura (embora emissor e receptor conheçam o assunto de que estão tratando, a falta de acentos e a não utilização de pontuação, dificulta a decodificação da mensagem): E aiii Nana ohhh aki ta o trabalho antes que eu me esqueça sinceramente não manda pra aquelas folgadas hahahah ok?1 tão folgando muito agora em relação ao outro folgado coloca o nome dele so mais desta vez mas nem fala deixa ele pq ele viu qdo eu e o Thiago estavamos fazendo ok?! e vai ficar chato pro meu lado pq ele até disse que tava no trabalho lembra que ele até ia digitar mas a gente que não confia entao hahaha entao os integrantes do grupo sao eu vc thi, lu, roger, e o mansa as demais tem o jorge q e bobao e faz pra elas!!!! hahaha ok?! bjokas se cuida T+ vê se melhora ta?! 8.3 E-mails Comerciais Ao escrever esse tipo de e-mail, deve-se atentar para as seguintes questões: ƒ quem sou eu (qual posição ocupo na empresa)? ƒ quem é meu interlocutor (qual posição ocupada por ele)? ƒ que tipo de correspondência esse e-mail veiculará (carta, relatório, informativo etc.)? Sempre, nesse caso, deverá se primar pela: ƒ formalidade; ƒ correção gramatical; ƒ padrão culto; ƒ seguir o modelo do gênero específico (ou seja, as propriedades do relatório, da carta, do informativo etc.). Por exemplo, se se tratar de uma carta comercial, o e-mail terá as mesmas partes de que ela se compõe: evocação, desenvolvimento, conclusão e assinatura. 56 Para garantir o envio e a recepção do e-mail, é sempre prudente salvar uma cópia em Itens Enviados, pedir Confirmação de Leitura e mandar cópias a quem de direito. 8.4 E-mails Pessoais Ao escrevermos e-mails pessoais, devemos nos lembrar sempre de que, por mais amigos que sejamos do destinatário, as palavras são frias, por isso, podem ser mal compreendidas. Cuidado, então, ao escrever; o texto sempre traça nossa imagem, como já dissemos anteriormente, assim, usar uma linguagem clara, com correção gramatical e abreviações convencionais, é o mais prudente. A formatação agora não é tão rígida. Exemplo de troca de correspondência entre dois amigos: 57 1 9 QUALIDADES DO TEXTO Um texto de qualidade é aquele bem estruturado. Com relação aos detalhes, quando se fala em qualidades do texto, são necessárias: clareza, concisão e coerência. Mas será que todos os textos bons são claros, concisos e coerentes? Dois textos, um literário e outro técnico, podem ser considerados ótimos, sem, contudo, haver qualquer ponto em comum entre eles. Então, é preciso alargar o leque das qualidades textuais para chegarmos às características universais da boa redação. Os requisitos mencionados a seguir foram tirados de vários autores, procurando dar uma ideia bastante ampla do que se espera de um texto de qualidade. 9.1 Unidade Do ponto de vista da unidade, o texto deve apresentar uma ideia e um objetivo único a alcançar. Ela pode ser desenvolvida através de definições, apresentação de exemplos, pormenores, comparações e contrastes, provas, ou pela apresentação de 1 Texto Extraído: MOLINA, Márcia Antonia Guedes. Comunicação e Expressão. Disponível: http://www.cliografia.com/wp-content/uploads/2015/02/apostila-comunica%C3%A7%C3%A3o-e- express%C3%A3o.pdf.Acesso: 06/03/2019 às 15:43h. http://www.cliografia.com/wp-content/uploads/2015/02/apostila-comunica%C3%A7%C3%A3o-e-express%C3%A3o.pdf.Acesso http://www.cliografia.com/wp-content/uploads/2015/02/apostila-comunica%C3%A7%C3%A3o-e-express%C3%A3o.pdf.Acesso 58 causas e consequências. 4.2 Adequação Para alguns autores, a adequação é a regra primordial a ser buscada pelo redator. É ela que vai orientar quando utilizar as outras qualidades do texto, de modo a atingir os objetivos que a mensagem propõe. Se, por exemplo, você vai tratar de um assunto desagradável com um cliente, a escolha de expressões que suavizem o significado do que é preciso informar será melhor aceita que uma frase “nua e crua”. 9.2 Concisão Dizemos que um texto é conciso quando ele é breve,resumido, sucinto. Entre um texto longo e cheio de detalhes e outro conciso, destinatários com pouco tempo disponível preferirão os últimos, obviamente. Em vista disso, sempre que for possível, é melhor ir direto ao assunto e não ficar dando voltas intermináveis para dizer o que realmente importa. 9.3 Clareza No mundo repleto de informações em que vivemos, nem sempre é fácil apresentar nossos argumentos de forma clara. Antes de mais nada, é preciso estar consciente de que nem sempre o que é claro para você será claro para o seu destinatário, porque as pessoas não encaram as situações pelo mesmo ângulo. Da mesma forma que a concisão, a clareza é antes de tudo uma questão de atitude. É preciso querer ser claro. É preciso “entrar na pele” do outro, sentir como ele sente, ver como ele vê. Se formos capazes disso, conseguiremos uma comunicação eficaz. O segredo é raciocinar como o destinatário: se ele for uma criança, raciocine como uma criança; se ele for um adolescente, a mesma coisa. Se ele for um cliente, ponha-se no lugar dele! Sempre é bom observar algumas regras práticas: Escolha bem as palavras. Evite demonstrar erudição, utilizando termos tirados direto do dicionário. Além disso, convém afastar-se dos estrangeirismos, das palavras de sentido ambíguo, vago e dos termos técnicos fora do conhecimento do seu leitor. [Erudição - instrução vasta e variada, adquirida sobre tudo pela leitura.] 59 Evite o uso de adjetivos e advérbios (quando usados com valor qualificativos), termos que afetam a precisão da frase, já que podem refletir um julgamento pessoal a respeito dos fatos, objetos ou pessoas. Utilize o método de desenvolver passo a passo o seu raciocínio para que o leitor possa assimilar cada etapa. Nestes casos é preferível abrir mão da concisão em benefício da clareza para atingir o objetivo desejado Ligue adequadamente as ideias para não correr o risco de apresentar as informações como peças independentes. As palavras de ligação (conjunções, advérbios) são instrumentos eficazes para isso. Opte pela linguagem acessível para a maioria dos leitores. O redator habilidoso é aquele capaz de dizer coisas profundas de modo fácil, e não coisas fáceis e simples de modo complicado. 9.4 Coerência Quando se diz que uma pessoa é incoerente, quer dizer que ela fala uma coisa e faz outra. Este é o exemplo mais comum. No texto escrito, incoerência consiste em um texto confuso, contraditório ou sem um sequenciamento apropriado de ideias. Há vários pontos em que o texto precisa apresentar coerência: Coerência interna do texto, o mesmo de evitar contradições flagrantes, como é o caso do funcionário que diz que não está buscando outro emprego, mas se aparecer uma oferta vantajosa... O certo seria dizer que, no caso de aparecer uma oferta vantajosa, ele pensaria em mudar de emprego. Coerência com a realidade, de modo a transmitir a informação que realmente conta. É como o caso da pequena empresa que divulga entre seus clientes uma capacidade de produção que ela não está aparelhada para suportar. Coitados daqueles que acreditarem e coitados daqueles que mentirem... Coerência com a realidade, de modo a transmitir a informação que realmente conta. É como o caso da pequena empresa que divulga entre seus clientes uma capacidade de produção que ela não está aparelhada para suportar. Coitados daqueles que acreditarem e coitados daqueles que mentirem... 60 Uniformidade de tratamento. A credibilidade do redator será afetada se ele se propõe a falar, por exemplo, das regiões do Brasil e só trata de algumas delas. É preciso dar pesos iguais aos fatos de igual relevância. Por outro lado, se o leitor se propõe a tratar de um assunto polêmico, ele deve apresentar os prós e os contras, ajudando o leitor a formar o seu próprio julgamento sobre a questão. Uniformidade de tratamento. A credibilidade do redator será afetada se ele se propõe a falar, por exemplo, das regiões do Brasil e só trata de algumas delas. É preciso dar pesos iguais aos fatos de igual relevância. Por outro lado, se o leitor se propõe a tratar de um assunto polêmico, ele deve apresentar os prós e os contras, ajudando o leitor a formar o seu próprio julgamento sobre a questão. Fundamento das conclusões. Se você apresenta uma conclusão, em que se baseia? Em dados concretos ou na sua própria impressão pessoal? Não é coerente formular conclusões baseando-se em premissas não apresentadas ou falsas, e em informações que o leitor desconhece. Fatos e opiniões. Apresentar um fato é informar sobre algo que realmente aconteceu, cuja descrição esteja coerente com a realidade. Apresentar uma opinião é interpretar os fatos da nossa maneira, segundo as nossas impressões. Misturar as duas coisas pode levar o leitor a uma impressão ambígua quanto ao que é fato e ao que é opinião. Podemos apresentar nossas opiniões sem, contudo, deixar de apresentar os fatos. O segredo é informar o leitor qual é o fato (acontecimento) e qual é a nossa opinião sobre ele. 9.5 Ênfase e Vigor Por ênfase entende-se a capacidade que um tópico textual tem de sobressair-se entre vários, de forma a atingir os objetivos do redator. Vigor é a capacidade do texto de atrair e captar a atenção do leitor, provocar nele o que se pretende. Vejamos algumas regras práticas para prender a atenção do leitor: Por ênfase entende-se a capacidade que um tópico textual tem de sobressair-se entre vários, de forma a atingir os objetivos do redator. Vigor é a capacidade do texto de atrair e captar a atenção do leitor, provocar nele o que se pretende. Vejamos algumas regras práticas para prender a atenção do leitor: 61 Direcionar o assunto ao interesse do leitor. Como todos os seres humanos são dotados de necessidades e desejos básicos – afeto, segurança, bem-estar físico etc., – um bom texto é aquele capaz de associar o assunto a um destes interesses do leitor, aumentando muito a probabilidade de envolvê-lo. Dialogar com o leitor. Não é muito mais envolvente ler um texto que parece ter sido escrito para nós? Se o leitor se sente parte do texto, sentirá também necessidade de reagir a isso, respondendo, opinando, refletindo. Dialogar com o leitor. Não é muito mais envolvente ler um texto que parece ter sido escrito para nós? Se o leitor se sente parte do texto, sentirá também necessidade de reagir a isso, respondendo, opinando, refletindo. 9.6 Elegância Um texto elegante não é aquele construído com palavras difíceis ou lances geniais de criatividade. Um texto elegante é o que não é desagradável. Evite o sensacionalismo, as piadas de mau gosto, o sarcasmo, o tratamento desrespeitoso contra membros de um grupo social qualquer, estereótipos preconceituosos etc. Fuja das gírias, dos trocadilhos pobres e das conclusões óbvias. Repare se a sequência das palavras utilizadas não produz aquele som desagradável, chamado de cacófato, tais como: a boca dela, a fé de Paulo, eu vi ela etc., ou ecos, tais como: Meu patrão ganha um dinheirão vendendo sabão. 9.7 Objetividade Como o nosso interesse é tratar de técnicas redacionais voltadas para a produção de documentos empresariais, essas qualidades são particularmente exigidas em textos técnicos, jornalísticos, científicos, nos relatórios, ou em quaisquer outros, em que o redator deva expressar-se sem projetar suas opiniões pessoais. Você já deve estar sentindo falta de uma qualidade fundamental, não é? É isso mesmo, a tão indispensável correção gramatical. Sem ela qualquer texto estaria comprometido, descartado. É por isso que vamos dedicar toda a lição 4 aos pontos gramaticais mais necessários para a prática da redação, seja ela literária ou técnica. Concluindo o nosso estudo sobre as qualidades do texto, uma certeza deve ficar: texto 62 de qualidade é aquele que cumpre bem a sua missão. Trocando em miúdos, o destinatário
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