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VICE-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO E CORPO DISCENTE COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA filologia românica Rio de Janeiro / 2008 Todos os direiTos reservados à Universidade CasTelo BranCo Conteudista Antonio Carlos Siqueira de Andrade UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO Todos os direitos reservados à Universidade Castelo Branco - UCB Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, armazenada ou transmitida de qualquer forma ou por quaisquer meios - eletrônico, mecânico, fotocópia ou gravação, sem autorização da Universidade Castelo Branco - UCB. Universidade Castelo Branco - UCB Avenida Santa Cruz, 1.631 Rio de Janeiro - RJ 21710-250 Tel. (21) 3216-7700 Fax (21) 2401-9696 www.castelobranco.br Un3f Universidade Castelo Branco Filologia Românica / Universidade Castelo Branco. – Rio de Janeiro: UCB, 2008. - 24 p.: il. ISBN 1. Ensino a Distância. 2. Título. CDD – 371.39 apresentação Prezado(a) Aluno(a): É com grande satisfação que o(a) recebemos como integrante do corpo discente de nossos cursos de gradu- ação, na certeza de estarmos contribuindo para sua formação acadêmica e, conseqüentemente, propiciando oportunidade para melhoria de seu desempenho profissional. Nossos funcionários e nosso corpo docente es- peram retribuir a sua escolha, reafirmando o compromisso desta Instituição com a qualidade, por meio de uma estrutura aberta e criativa, centrada nos princípios de melhoria contínua. Esperamos que este instrucional seja-lhe de grande ajuda e contribua para ampliar o horizonte do seu conhe- cimento teórico e para o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica. Seja bem-vindo(a)! Paulo Alcantara Gomes Reitor orientações para o auto-Estudo O presente instrucional está dividido em três unidades programáticas, cada uma com objetivos definidos e conteúdos selecionados criteriosamente pelos Professores Conteudistas para que os referidos objetivos sejam atingidos com êxito. Os conteúdos programáticos das unidades são apresentados sob a forma de leituras, tarefas e atividades com- plementares. As Unidades 1 e 2 correspondem aos conteúdos que serão avaliados em A1. Na A2 poderão ser objeto de avaliação os conteúdos das três unidades. Havendo a necessidade de uma avaliação extra (A3 ou A4), esta obrigatoriamente será composta por todo o conteúdo de todas as Unidades Programáticas. A carga horária do material instrucional para o auto-estudo que você está recebendo agora, juntamente com os horários destinados aos encontros com o Professor Orientador da disciplina, equivale a 30 horas-aula, que você administrará de acordo com a sua disponibilidade, respeitando-se, naturalmente, as datas dos encontros presenciais programados pelo Professor Orientador e as datas das avaliações do seu curso. Bons Estudos! Dicas para o auto-Estudo 1 - Você terá total autonomia para escolher a melhor hora para estudar. Porém, seja disciplinado. Procure reservar sempre os mesmos horários para o estudo. 2 - Organize seu ambiente de estudo. Reserve todo o material necessário. Evite interrupções. 3 - Não deixe para estudar na última hora. 4 - Não acumule dúvidas. Anote-as e entre em contato com seu monitor. 5 - Não pule etapas. 6 - Faça todas as tarefas propostas. 7 - Não falte aos encontros presenciais. Eles são importantes para o melhor aproveitamento da disciplina. 8 - Não relegue a um segundo plano as atividades complementares e a auto-avaliação. 9 - Não hesite em começar de novo. SUmÁrio Quadro-síntese do conteúdo programático ................................................................................................. 09 Contextualização da disciplina .................................................................................................................... 11 UniDaDE i FILOLOGIA – CONCEITUAçãO 1.1 - Início dos estudos filológicos .............................................................................................................. 13 1.2 - O latim e a sua disseminação ............................................................................................................... 13 1.3 - Latim literário e latim vulgar .............................................................................................................. 14 UniDaDE ii CARACTERíSTICAS DO LATIm VULGAR 2.1 - No vocabulário ................................................................................................................................... 16 2.2 - Na fonética .......................................................................................................................................... 16 2.3 - Na morfologia ..................................................................................................................................... 17 2.4 - Na sintaxe ........................................................................................................................................... 17 UniDaDE iii FONTES DO LATIm VULGAR 3.1 - As línguas românicas .......................................................................................................................... 18 3.2 - Inscrições ............................................................................................................................................ 18 3.3 - Peregrinatio ad loca sancta ................................................................................................................. 19 3.4 - Glosas .................................................................................................................................................. 19 3.5 - Appendix Probi ................................................................................................................................... 20 Glossário ..................................................................................................................................................... 22 Gabarito ....................................................................................................................................................... 23 Referências bibliográficas ........................................................................................................................... 24 �Quadro-síntese do conteúdo programático UNIDADES DO PROGRAMA OBJETIVOS I. FILOLOGIA – CONCEITUAçãO 1.1 - Início dos estudos filológicos 1.2 - O latim e a sua disseminação 1.3 - Latim literário e latim vulgar • Conceituar Filologia; • Delimitar o campo de estudo da Filologia Româ- nica; • Definir latim literário e latim vulgar. II. CARACTERíSTICAS DO LATIm VULGAR 2.1 – No vocabulário 2.2 – Na fonética 2.3 – Na morfologia 2.4 – Na sintaxe • Apresentar a estrutura e o perfil gramatical da lín- gua. III. FONTES DO LATIm VULGAR 3.1 – As línguas românicas 3.2 – Inscrições 3.3 – Peregrinatio ad loca sancta 3.4 – Glosas 3.5 – Appendix Probi • Relacionar as principais fontes do latim vulgar. 11contextualização da Disciplina O conhecimento da língua portuguesa se assenta em dois pilares – o latim e a história interna e externa da língua. Do latim, a língua portuguesa herdou quase tudo – o léxico, a estrutura gramatical e é impossível entender a língua sem um mergulho diacrônico até o latim. Nossa língua, em suas várias fases – do período pré-histórico, da fase arcaica até assumir a feição atual – per- correu um longo caminho. A Filologia Românica é a ponte entre o latim e o português, porque aborda aquela fase de transição – não mais o latim, ainda não o português. É nessa fase – o romanço – que a língua começa a adquirir os contornos que vão resultar em uma língua diferente. A Filologia Românica, para os estudiosos, é o acesso de quem quer percorrer a história da língua nos dois sentidos – do latim ao português e do português ao latim, ou até as outras línguas neolatinas. 13UniDaDE i FIlOlOGIA - CONCEITUAÇÃO 1.1 - Início dos Estudos FilológicosA Filologia é o estudo científico de uma forma de língua atestada por documentos. Preocupa-se com a fixação fidedigna do texto, sua explicação e comen- tários que vão resgatar-lhe o significado. Sendo a Filologia uma ciência aplicada, procura, especificamente, fixar, interpretar e comentar tex- tos. Utiliza como ciências auxiliares a Arqueologia, a Paleografia, a Mitologia, a Numismática, a História, o Folclore e a métrica. melo (1981: 7) ensina que De posse de um manuscrito, o filólogo tem de saber de que época é a letra, deve interpretar e desfazer as abreviaturas, deve conhecer o esta- do da língua nos primeiros séculos, para, lendo o manuscrito, saber se se trata de um original, de uma cópia contemporânea ou de cópia poste- rior, se o copista foi fiel ou se inseriu modernis- mos no texto; deve conhecer a história, os usos e costumes, a cultura da época do manuscrito, para interpretar o texto, entender as alusões, as imagens etc. No caso de textos impressos, os tipos que foram utilizados na impressão, o papel, a tinta, o formato e as técnicas de editoração vão dar informações fun- damentais para identificar a autoria, a data e demais pistas necessárias à fixação de um texto. A autoria de um texto pode ser determinada, por exemplo, através de programas computacionais de Estatística Lingüística, que se utiliza de modelos matemáticos que vão determinar, a partir da freqüen- cia de uso de palavras ou expressões, construções sintáticas, se um texto é de determinado autor. Para Coutinho (1976: 17), “Filologia é a ciência que estuda a literatura de um povo ou de uma época e a língua que lhe serve de instrumento.” Ela nasceu, ainda segundo o autor, da necessidade que os povos antigos tinham de explicar os textos ar- caicos dos seus monumentos literários e religiosos. Na índia, ela surge com trabalhos destinados a ex- plicar os Vedas, os mais antigos poemas bramâni- cos. Na Grécia, a partir do século III a.C., iniciam-se os estudos de autores alexandrinos sobre a obra de Homero e de outros poetas líricos. Observa o autor outro propósito fundamental da Filologia: Qualquer estudo feito no sentido de reconstruir textos antigos de uma língua, corrigi-los quan- do errados, restituí-los à sua genuinidade quan- do interpolados, constitui trabalho da Filologia (Ibidem). 1.2 - O latim e a Sua Disseminação Roma foi fundada pelos latinos, tribo indo-germânica que invadiu a Itália na época da invasão da Europa. No Século III a.C., os latinos já dominavam toda a Itália, excetuando o vale do Rio Pó, região dominada pelos gauleses. À medida que iam estendendo o domínio pela Eu- ropa, apesar das diferenças étnicas, foi, aos poucos, unificando e assimilando diversos povos. mais tarde, estenderam os domínios para leste do mediterrâneo, na região conquistada por Alexandre, o Grande, e seus sucessores. As conquistas ocidentais eram seguidas da domi- nação política, cultural e lingüística. Já as orientais encontravam resistência à penetração cultural, pois a cultura grega predominava ainda, além de ser uma cultura mais pujante, e que exerceu influência nos pró- prios romanos, os dominadores. Assim, o Império Romano teve duas línguas oficiais – o latim e o grego. A influência grega acarretou mudanças considerá- veis na vida dos romanos, porquanto a educação, as letras e as ciências se moldaram a exemplo da civili- zação grega. 14 A queda do Império Romano, muito tempo depois, não conseguiu apagar as marcas da cultura romana, deixadas por séculos de dominação – a língua lati- na, as instituições políticas e jurídicas, as letras e as artes e outras manifestações da Antiguidade perma- neceram. Toda a transformação renascentista, no século XVI, tomou por base a cultura romana, e a própria cultura grega chegou via latim. No início da dominação romana, a língua ia se insta- lando: era a língua da escola, da Alta Administração e a língua das classes altas. Esse domínio, aos poucos, desceu para as classes menos favorecidas, ocasião em que a língua toma outro rumo. Nas províncias ocidentais, o latim apagou as línguas dos povos subjugados. São os países românicos, ou România, que englobava a Península Ibérica, França, parte da Bélgica, sul e oeste dos países alpinos, Itália e Romênia. 1.3 - latim literário e latim Vulgar O latim que está na base das línguas românicas é o latim falado. A expressão “latim vulgar”, utilizada para denomi- nar o latim falado, foi popularizada pelos eruditos, em oposição ao latim literário, embora o termo “vulgar” não seja uma unanimidade – muitos acham-no pre- conceituoso, incompleto e não condizente com a sua importância para o mundo ocidental. Os mais instruídos referiam-se a essa modalidade como uma fala rústica. Sendo uma língua falada, estava sujeita a modifica- ções, e a ausência da imprensa contribuía para isso. Após o advento da imprensa, as diferenças vão se cristalizando de forma desigual em cada região em que era falado. A implantação da língua latina teve como substrato as línguas dos povos dominados e de quem herdou hábitos articulatórios, processos sintáticos e morfoló- gicos, além de vocabulário referente ao seu universo local e a manutenção de termos que não tinham equi- valentes em latim. Diferenciação Espacial Enquanto o Império Romano se sustentava, a comu- nicação em latim entre as diversas regiões e provín- cias era mantida, e todos podiam se comunicar nessa língua geral. A partir do Século V, com a queda do Império, os países se isolam, a comunicação se torna escassa, cada povo segue um rumo ditado pelas suas peculia- ridades locais. Diferenciação Temporal A língua muda, como os homens e a sociedade mu- dam. Se a língua serve de veículo à transmissão do pensamento, à expressão do mundo exterior, ela não fica estática. Para um falante comum, as mudanças são impercep- tíveis porque, durante a sua existência, ele convive com estruturas sintáticas mais ou menos fixas e um vocabulário estável. Ele só percebe mudanças entre termos que surgem e desaparecem com certa rapidez, como é o caso das gírias. Um observador atento, por outro lado, pode perceber que, no de correr de sua vida, as formas de tratamento mudam: há 40 anos, uma mulher não se incomodaria de ser chamada de senhora, não importasse a sua ida- de. Hoje, até as sexagenárias podem se sentir insul- tadas. Antes cultuava-se o respeito aos mais velhos; hoje, a juventude, mesmo que à custa de intervenções cirúrgicas, vestimentas e atitudes. Nos anos 70, era comum nos textos impressos a gra- fia quota e quotidiano. Embora ainda dicionarizadas, hoje é mais freqüente cota e cotidiano. Há uma infinidade de termos insultosos ou obsce- nos sendo utilizados atualmente na mídia eletrônica, alguns até na mídia impressa, que é mais conserva- dora. Estamos falando de um período de tempo de poucas décadas. Imagine as transformações num espaço de tempo de centenas de anos, com mudanças culturais profundas. Não é difícil entender porque o latim se transformou em línguas distintas. Para Auerbach (1970: 52): Os sons, as formas, os significados da maioria das palavras permanecem inalterados no latim literário das épocas posteriores; somente a es- trutura da frase se alterou consideravelmente; ao passo que, no latim vulgar, a fonética, a morfo- logia, o emprego e o significado das palavras, a sintaxe ficaram inteiramente subvertidos. 15 Ainda, segundo o autor, as formas mais importan- tes do latim são: 1. Latim literário clássico – cujo apogeu vai de mais ou menos 100 a.C. até 100 d.C. e depois imita- do na Renascença. 2. Latim literário da época do declínio da civili- zação antiga e da Idade média ou “baixo latim” ou “latim da Igreja”, porque era utilizado pela Igreja Católica. 3. Latim vulgar – latim falado de todas as épocas da língua latina e que resulta nas línguas neolatinas ou românicas. O Latim e a Igreja O latim serviu de língua da liturgia da Igrejaoci- dental, que também o utilizou como língua literária. Denominado “baixo latim”, era já bem diferente do latim literário. O baixo latim eclesiástico passa a servir não só à Igreja, à Filosofia e à Teologia da Idade Média, mas também a poesia européia se valeu desse latim, de onde tirou as rimas, a oposição sílaba tônica X síla- bas átonas. Com o passar do tempo, o baixo latim e o latim falado se distanciaram a ponto de não ser mais pos- sível o entendimento mútuo. A Igreja continuou a oficiar seus cultos em latim, mas os textos de divulgação religiosa e as pregações passaram a ser realizados em língua vulgar, isto é, nas línguas faladas pelos diversos povos românicos. A utilização do latim na modalidade escrita forçou a criação de um estilo mais cuidado, tanto na cons- trução, quanto na seleção vocabular, afinal a língua não estaria sendo usada em necessidades diárias mais simples, mas atendendo um objetivo mais elevado. Na tentativa de se aproximar do povo para a di- vulgação da fé cristã, a Igreja acabou por contribuir para a formação de um novo estilo literário, o trá- gico, não mais tendo personagens como reis, heróis da mitologia, mas personagens simples, como Jesus Cristo. 16 UniDaDE ii CARACTERíSTICAS DO lATIm VUlGAR 2.1 - No Vocabulário As características do latim vulgar se manifestam: Preferência por palavras compostas ou expres- sões perifrásticas: • depost (post) • jam magis (nunquam) Especialização de sentido de termos do latim clássico: • comparare (comprar) • paganus (pagão) Termos diferentes para expressar as mesmas idéias do latim clássico: • caballus (equus) • apprendere (discere) • jocus (ludus) • bucca (os) • focus (ignis) • casa (domus) • grandis (magnis) 2.2 - Na Fonética Redução de ditongos e hiatos a vogais simples: • orum (aurum) • quetus (quietus) • dodece (duodecim) • prendere (prehendere) Transformação ou queda de fonemas: • justitia (iustitia) • paor (pauor) Obscurecimento de sons finais: • es (est) • dece (decem) • pos (post) Tendência a evitar as proparoxítonas: • masclus (masculus) • caldus (calidus) • virdis (viridis) Transposição do acento tônico: • cathédra (cáthedra) • intégrum (íntegrum) • muliéris (mulíeris) Desnasalação ou queda do n dos grupos ns e nf: • asa (ansa) • iferi (inferi) Assimilações freqüentes: • isse (ipse) • pessicum (persicum) Prótese de um i nos grupos iniciais st, sp, sc: • istare (stare) • ispiritus (spiritus) • iscribere (scribere) Andrade (2000: 20) adverte para casos apresentados em gramáticas históricas como se fossem fenômenos ocorridos exclusivamente no passado. Não é o que ocorre. Uma língua herda características estruturais e certas tendências observadas nas línguas de onde se originaram. Observe: metátese: • semper (latim) > sempre (português); • primariu > primairo (latim) > primeiro (portu-> primairo (latim) > primeiro (portu- primairo (latim) > primeiro (portu-> primeiro (portu- primeiro (portu- guês) • satisfeito > sastifeito> sastifeito sastifeito • lagarto > largato> largato largato Redução de ditongos (monotongação): “...a pas- sagem do latim au para o português ou: thesauru >> tesouro, tauru > touro; auru > ouro; também a redu-> touro; auru > ouro; também a redu- touro; auru > ouro; também a redu-> ouro; também a redu- ouro; também a redu- ção a o já se verificava na ‘língua da plebe’, na época do Império, passando igualmente para o português: oric(u)la por aurícula > orelha” (Ibidem: 21).> orelha” (Ibidem: 21). orelha” (Ibidem: 21). Hoje observamos na fala: oro (ouro), toro (touro). 17 2.3 – Na morfologia Redução das cinco declinações do latim clás- sico a três, devido à confusão da 5ª declinação com a 1ª, e da 4ª, com a 2ª. Redução dos casos – vocativo com o nomina- tivo; genitivo, dativo e ablativo, já desneces- sários por causa do emprego das preposições com o acusativo. Tendência a tornar masculinos os nomes neutros quando no singular: • vinus (vinum) • fatus (fatum) Troca das formas sintéticas pelas analíticas (comparativo e superlativo): • plus ou magis certus (certior) • multum justus (justilissimus) Uso do demonstrativo ille, illa e do numeral unus, una como artigos: • ille homo • illa domus • unum templum Substituição do futuro perfeito do indicati- vo por uma perífrase: • Amare habeo (amabo) 2.4 – Na Sintaxe Construções analíticas: • Credo quod terra est rotunda por Credo terram esse rotundam. Emprego de preposições no lugar dos casos: • Líber de Petri (Petri liber) Ordem direta. 18 UniDaDE iii FONTES DO lATIm VUlGAR 3.1 - As línguas Românicas O estudo de uma língua falada na Antiguidade é muito difícil de se realizar. As fontes são raras, di- ferentemente da língua literária. Além disso, não era considerada digna de estudo. A melhor fonte de estudo do Latim Vulgar é o es- tudo comparativo entre as línguas românicas, o que apresentam em comum quanto à evolução fonética, morfológica, sintática e lexical. As comédias do poeta Plauto, por volta de 200 a.C. são uma fonte importante, porque trazem diá- logos da língua falada na época; as Cartas de Cíce- ro; um romance de Petrônio em que se retratam as falas de novos ricos, cheia de vulgarismos. Escavações em Pompéia, a cidade soterrada por erupção do Vesúvio em 64 d.C. revelaram fragmentos do latim vulgar usado então. Em textos sobre medicina, veterinária, arquitetura e agricultura também são encontrados termos e expres- sões da língua corrente, pois seus autores não tinham educação literária que os habilitassem a escrever no latim culto. No decorrer da decadência da civilização romana, as fontes do latim vulgar se tornam mais numerosas porque os escritores da época já não tinham formação literária. Algumas fontes provêm da Igreja através de tradu- ções latinas da Bíblia, em outros textos religiosos e nas lápides funerárias. As obras relacionadas a seguir contêm vasto ma- terial para estudo: • Appendix Probi (séc. III) • Opus agriculturae (séc. IV) • De medicina pecorum (séc. IV) • Peregrinatio ad loca sancta (séc. IV) • Mulomedicina Chironis (séc. V) • Regula Monachorum (séc. VI) • Obras de Gregório de Tours (séc. VI) • Obras de Isidoro de Sevilha (séc. VII) • Glosas 3.2 - Inscrições De acordo com Coutinho (1976: 35), as inscrições oficiais e aquelas concebidas por pessoas cultas não têm o mesmo valor daquelas criadas e executadas por pessoas humildes. As inscrições que se seguem foram encontradas na Península Ibérica e constam do Corpus Inscrip- tiorum Latinarum (Berlim: 1863 – 1943) e foram extraídas de Coutinho (Ibidem: 36 e seguintes). d.m. (1) Valerius Taurus miles cortis (2) VII pre- torie (3), centurio evocatus, qui visit (4) annis XXXXVII, remisit filios duos gemnos (5) pisinus (6) anucus (7) et mesero (8) VIII. Conpare (9) sua vist (4) bene. Nationatu (10) Panonius. Uxsor (11) fecit bene merent (12). (1) diis manibus (2) cohortis (3) praetoriae (4) vixit (5) geminos (6) pisinnos (pusillos) (7) annuculos (8) mensum (mesero, analogia com dierum?) (9) compare (10) nationatu (contaminação de natione com natu?) (11) uxsor (hiperurbanismo) (12) merenti Tradução Aos deuses manes. Valério Tauro, soldado da sé- tima coorte pretoriana, elevado a centurião, que viveu quarenta e sete anos, e deixou dois filhos gê- meos, crianças de um ano e oito meses. Viveu bem com a sua companheira. Era natural da Panônia. A esposa fez-lhe merecidamente (este epitáfio). Hoc (1) tetolo (2) fecet (3) Muntana (4) conius (5) sua Mauricio, qui (6) visit (7) com (8) elo (9) annus (10) dodece (11) et portavit annos quarranta (12). Trasit (13) die VIII KL. (14) Iunias. (1) Hunc (2) titulum (3) fecit 1� (4) montana (5) conjux (6) quae (7) vixit (8) cum (9) illo (10) annos (11) duodecim (12) quadraginta (13) Transit (14) Kalendas Tradução Este epitáfio fez para Maurício a sua esposa Montana, que viveu em sua companhia doze anos,e tinha ele quarenta. Morreu no dia oita- vo antes das calendas de junho (25 de maio). As tabuinhas execratórias também são inte- ressantes. Trata-se de inscrições em placas de chumbo, bronze, estanho, mármore ou terracota e trazem fórmulas mágicas de encantamento ou de maldição, como a que se segue: Tábua Execratória Te rogo que infernales partes (1) tenes, com- mendo tibi Iulia (2) Faustilla (3), Marii filia (4), ut eam celerius abducas et ibi in numerum ti abias (5). (1) infernales partes-inferos (2) Iuliam (3) Faustillam (4) filiam (5) hábeas (subentende-se defunctorum) Tradução A ti, que dominas as regiões infernais, peço e encomendo Júlia Faustila, filha de Mário, para que a leves mais rapidamente e a conserves aí no número (dos mortos). O texto a seguir é do latim vulgar hispânico. A sua autora, a monja Egéria, natural da Penínsu- la Ibérica, relata uma peregrinação a Jerusalém, no século IV d.C., entre 381 e 388. Revela-se a pouca instrução da freira, a sua pouca familiaridade com o texto escrito. Esse exemplo traz repetições, o emprego do demons- trativo ipse no lugar do artigo, a preferência pelo adjetivo grandis (em vez de magis, do la- tim literário). 3.3 - Peregrinatio ad loca Sancta In eo ergo loco est nunc ecclesia non grandis, quoniam et ipse locus, id est summitas montis, non satis grandis est; quae tamen ecclesia ha- bet de se gratiam grandem. Cum ergo, iubente Deo, persubissemus in ipsa summitate, et pe- rueenissemus ad hostium ipsius ecclesiae, ecce et occurrit presbyter ueniens de monasterio suo, qui ipsi ecclesiae deputabatur, senex integer et monachus a prima uita, et ut hic dicunt ascitis, et quid plura?qualis dignus est esse in eo loco. Tradução Nesse lugar há, pois, agora uma igreja não gran- de, porque também o mesmo lugar, isto é, o cimo do monte não é muito grande; contudo, a qual igreja tem por si grande renome. Como, pois, ordenando Deus, subíssemos a esse cimo e chegássemos à porta da igreja, eis que corre ao nosso encontro um presbítero vindo do seu mosteiro, que estava à testa da mesma igreja, velho virtuoso e monge desde cedo, como aqui dizem ascitis, e que mais? O qual é digno de estar nesse lugar. 3.4 - Glosas As glosas integram o conjunto de fontes para o conhecimento do latim vulgar. São elas relações de sinônimos para que pudessem acompanhar os textos escritos. Ao lado das palavras encontradas nos textos, havia um sinônimo ou termo equivalente mais fami- liar. Essa palavras “traduziam” os termos desconheci- dos para o povo menos instruído. 1- pulchra: bella 2- mares: masculi 3- optimum: valde bonum 4- anus: vetulae 5- semel: uma vice 6- favillam: scintillam 7- femur: coxa 8- sevit: seminavit 9- emit: comparavit 10- flare: suflare 11- bellantes: pugnantes 12- crura: tibia 13- onager: asinus selvaticus 14- iecore: ficato 15- canere: cantare 16- fletus: planctus 17- abeam (abeo): vadam 18- catulus: catellus 20 19- fórum: mercatus 20- hiems: ibernus 21- rostrum: beccus 22- res: causa 23- litus: ripa 24- pueros: infantes 25- novacula: rasorium 26- exciderat: taliaverat 27- grex: pecunia 28- segetes: messes 29- tugurium: cavanna 30- nent: filant 31- rupem: petram 32- ita: sic. 3 speculum non speclum 4 masculus non masclus 7 vernaculus non vernaclus 8 articulus non articlus 10 angulus non anglus 22 aquaeductus non aquiductus 25 formica non furmica 26 musivum non museum 37 equus non ecus 53 calida non calda 58 umbilicus non imbilicus Gramáticos, para preservar o estilo puro, re- lacionavam palavras da linguagem correta e, ao lado, as formas a serem evitadas. Estas são fontes valiosas para o conhecimento do latim falado. O documento mais importante é o Appendix Probi, organizado em Roma por um gramático anônimo. A obra ilustra o falar do povo na ca- pital do Império, no séc. III d.C. São 227 termos “corretos” ao lado de seus equivalentes “incor- retos”. Transcrevemos aqueles que são encon- trados com mais freqüência na nossa língua. 3.5 - Appendix Probi 76 ansa non asa 83 auris non oricla 84 camera non cammara 111 oculus non oclus 112 aqua non acqua 130 tabula non tabla 174 rivus non rius 201 viridis non virdis 219 numquam non numqua 220 noviscum non noscum 221 vobiscum non voscum Atividades 1) Associe os comentários abaixo ao item e número correspondente das Glosas. 2) Transcreva o termo que deu origem aos comentários do exercício anterior. Note que a maior parte está na coluna esquerda (lado da língua culta) e por isso são mais raras também entre nós. Atentar para esses detalhes facilita a depreensão de muitos termos que, às vezes, pensamos desconhecer. 3) Faça uma tradução atualizada da Peregrinatio ad loca sancta (inclua o título). 4) O léxico português originado do latim percorreu dois caminhos: o de palavras que entraram pelo latim literário (via erudita) e o de palavras que chegaram pelo latim vulgar. Exemplifique com palavras do português ao lado das palavras do Appendix Probi, como no modelo: masculus > másculo, masculino / masclus > macho a) ( ) Antigamente se dizia pul- quérrima para alguma coisa muito bonita. f) ( ) Inscrições rupestres são raras. b) ( ) Ave canora é aquela que tem um canto bonito. g) ( ) Existe gado caprino, bovino, suíno e asinino. c) ( ) A veia femural percorre toda a perna. h) ( ) Armas de fogo são material bélico. d) ( ) Puericultura é um termo que se refere a cuidados in- fantis. i) ( ) A navalha é um instrumento cortan- te. e) ( ) Razor, em inglês, é lâmina. Vernaculus > Articulus > Articlus > Calida > Umbilicus > Imbilicus > Auris > Oricla > Tabula > Tabla > Viridis > Virdis > 21 Se você: 1) concluiu o estudo deste guia; 2) participou dos encontros; 3) fez contato com seu tutor; 4) realizou as atividades previstas; Então, você está preparado para as avaliações. Parabéns! 22 Glossário Calendas – o primeiro dia de cada mês romano, na Antiguidade. Fixação – estabelecimento da versão original do texto. Vulgarismos – termos utilizados na língua corrente, popular. 23 Gabarito Unidade III 1. a) (1) b) (15) c) (7) d) (24) e) (25) f) (31) g) (13) h) (11) i) (25) 2. (1) pulchra (15) canere (7) femur (24) pueros (25) rasorium (31) rupem (13) asinus (11) bellantes (25) novacula 4. Vernaculus: vernáculo, vernácula Articulus: artigo, articular, articulado Articlus: artelho Calida: cálida, cálido Umbilicus: umbigo Imbilicus: imbigo (pop.) Auris: auricular Oricla: orelha Tabula: tabuleiro, tabuleta Tabla: tablado Viridis: verídico Virdis: verdade 24 Referências Bibliográficas ANDRADE, Antonio Carlos S. Gramática histórica: o passado no presente. In: Cadernos de língua portuguesa: UERJ, 2000. AUERBACH, Erich. Introdução aos estudos literários. São Paulo: Cultrix, 1970. COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976. LAUSBERG, Heinrich. Linguística românica. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1974. mELO, Gladstone Chaves de. Iniciação à filologia e à lingüística portuguesa. Rio de Janeiro: Ao Livro Téc- nico, 1981. SILVA NETO, Serafim da. História do latim vulgar. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1977. ______. História da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Presença/mEC, 1979. SPINA, Segismundo. Introdução à ecdótica. São Paulo: Cultrix/USP, 1977. WILLIAmS, Edwin. Do latim ao português. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1986.
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