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Apostila de latim I e II

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Prévia do material em texto

INTRODUÇÃO À LÍNGUA LATINA 
 PROF. Dr. CARLOS RENATO R. DE JESUS 
 
 
 
	
	
	
	
	
 
	
 NON SCHOLAE SED VITAE DISCIMVS 
	
	
	
	 	
	
	
	
	
	
	
	
 MANAUS-AM 
 MMXXI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nam omnium magnarum artium sicut arborum altitudo nos delectat, 
radices stirpesque non item (Cícero, Orator, 147) 
 
[“Com efeito, a grandeza de todas as grandes artes, assim como a das árvores, 
deleita-nos, mas o tronco e as raízes nem tanto.”] 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
© ATENÇÃO: Todos os direitos reservados. É vedada a reprodução total ou parcial e 
ainda qualquer alteração textual ou omissão de autoria desta apostila. 
 
 
Work in progress 
Versão de janeiro de 2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capa: 
Imagem: Cena de escola em Trier. Relevo romano tardio (séc. III d.C.). “O mestre e os alunos”. Dois deles 
desenrolam seus volumina (manuscritos; hoje, livros): o terceiro, à direita, traz a capsa, caixa de madeira que serve 
para conter e transportar livros e que contém o necessário para ler e escrever. Fonte: 
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/ensinoroma/index.htm 
 
 
Frase: Lucius Annaeus Seneca, Epistulae Morales ad Lucilium, 106, 12. 
Carlos Renato R. de Jesus 
 
 
Abreviaturas de autores e obras citados 
 
Af. Aforismo 
Ad Att. Ad Atticum 
Ad Fam. Ad Familiares 
A. F. Ânio Floro 
A. Gel. Aulo Gélio 
Apul. Lúcio Apuleio 
Arist. Aristóteles 
Broc. Brocardo jurídico 
Cat. Carm. Catulli Carmina 
C. R. Cornélio Rufo 
Cass. Cassiodoro 
Cat. Caio Valério Catulo 
Cés. Júlio César 
Cíc. Marco Túlio Cícero 
Claud. Claudiano 
Dion. Cat. Dionísio Catão 
Enn. Quinto Ênio 
Epig. Epigramas, de Marcial 
Epit. Epitáfio 
Eutr. Eutrópio 
Fab. Fabulae (Fábulas de Fedro) 
F. Bacon Francis Bacon 
Fed. Caio Júlio Fedro 
Front. Marcos Cornélio Frontão 
Graf. Grafite de Pompeia 
Greg. IX Papa Gregório IX 
Hor. Quinto Horácio Flaco 
Insc. Inscrição em paredes 
Inst. orat. Institutio oratoria 
Jer. São Jerônimo 
J. O. John Owens 
Juv. Juvenal 
Lin. Carlos Lineu 
Lív. Tito Lívio 
Lucr. Lucrécio 
Marc. Marco Valério Marcial 
Mat. São Mateus 
Nep. Cornélio Nepos 
Ov. Públio Ovídio Nasão 
P. Estác. Públio Papínio Estácio 
P. S. Publílio Siro 
Pet. Petrarca 
Petr. Caio Petrônio Árbitro 
Pl. Tito Mácio Plauto 
Plin. Vel. Plínio, o Velho 
Plin. Plínio, o Jovem 
Plut. Plutarco 
Prisc. Prisciano 
Prop. Sexto Aurélio Propércio 
P. Stat. Públio Papínio Estácio 
Q. C. Quinto Cúrcio 
Quint. Marco Fábio Quintiliano 
Ruf. Quinto Rufo 
S. Ago. Santo Agostinho 
S. Jer. São Jerônmo 
S. Just. São Justiniano 
Sal. Caio Salústio Crispo 
Sên. Lúcio Aneu Sêneca 
Suet. Suetônio 
Tác. Públio Cornélio Tácito 
T. Aq. Tomás de Aquino 
Ter. Públio Terêncio Afro 
Tib. Tibulo 
Var. Marco Terêncio Varrão 
Virg. Públio Virgílio Maro 
Vulg. Vulgata 
 
 
 
 
 
 
Abreviaturas de termos técnicos e diversos 
 
 
abl. ablativo 
acus. acusativo 
adap. adaptado(a) 
adj. adjetivo 
adv. advérbio 
ag. agente 
agp. agente da passiva 
arc. forma arcaica 
at. ativo 
card. cardinal 
cl. classe 
comp. comparativo/comparação 
cn complemento nominal 
conj. conjunção 
cons. consonantal 
dat. dativo 
defec. defectivo 
dem. demonstrativo 
dep. depoente 
deriv. derivado 
encl. enclítico(a) 
f. feminino 
fig. figurativo 
freq. frequentativo 
fut. futuro 
gen. genitivo 
gr. grego 
imper. imperativo 
imperf. imperfeito 
impess. impessoal 
indecl. indeclinável 
indef. indefinido 
inf. infinitivo 
interj. interjeição 
interrog. interrogativo 
intr. intransitivo 
irreg. irregular 
lit. literalmente 
loc. locução 
locat. locativo 
m. masculino 
mis. misto(a) 
mov. movimento 
m.q.perf. mais-que-perfeito 
n. neutro 
neg. negação/negativo 
nom. nominativo 
num. numeral 
od objeto direto 
oi objeto indireto 
part. particípio 
partic. partícula 
pass. passado 
passv. passivo 
perf. perfeito 
pess. pessoal 
pl. plural 
poss. possessivo 
prep. preposição 
pres. presente 
pret. pretérito 
pron. pronome 
ps predicativo do sujeito 
rad. radical 
rel. relativo 
semidep. semidepoente 
sg. singular 
sinc. síncope/sincopado 
subj. subjuntivo 
suf. sufixo 
suj. sujeito 
sup. superioridade 
superl. superlativo 
tr. transitivo 
v. verbo 
vi verbo intransitivo 
vl verbo de ligação 
voc. vocativo 
vtd verbo transitivo direto 
vti verbo transitivo indireto
 Sumário 
 
 
 
APRESENTAÇÃO....................................................................................................... 7 
 
1) O ENSINO E A IMPORTÂNCIA DO LATIM HOJE .............................................. 9 
1.1) O latim no curso de Letras ................................................................................10 
1.2) O latim no Direito .............................................................................................12 
1.3) O latim que a gente sabe ...................................................................................13 
2) BREVE HISTÓRICO DA LÍNGUA LATINA ........................................................16 
3) EVOLUÇÃO DO LATIM .......................................................................................18 
4) DO LATIM AO PORTUGUÊS ...............................................................................23 
5) SISTEMA GRÁFICO E FÔNICO ...........................................................................25 
5.1) O alfabeto .........................................................................................................25 
5.2) Pronúncia .........................................................................................................26 
5.3) Separação silábica ............................................................................................28 
5.4) Prosódia ...........................................................................................................29 
5.5) Acentuação .......................................................................................................31 
6) INTRODUÇÃO AO SISTEMA VERBAL ..............................................................33 
6.1) Tempos do infectum (ativo) ..............................................................................33 
6.2) O verbo sum (ser, estar, existir).........................................................................40 
7) MORFOSSINTAXE NOMINAL ............................................................................43 
7.1) Algumas questões iniciais .................................................................................44 
7.2) Como saber a que declinação pertence uma palavra? ........................................46 
7.3) A 1ª e a 2ª declinação .......................................................................................48 
7.4) Adjetivos de 1ª classe: ......................................................................................61 
7.5) A 3ª declinação .................................................................................................68 
8) SISTEMA VERBAL: tempos do infectum (continuação) .........................................76 
9) MORFOSSINTAXE NOMINAL (continuação) ......................................................83 
 6 
9.1) 4a e 5a declinações ............................................................................................83 
9.2) Adjetivos de 2a classe .......................................................................................90 
10) GRAUS DO ADJETIVO .......................................................................................96 
10.1) Formação do grau comparativo do adjetivo .....................................................97 
10.2) Formação do grau comparativo de superioridade ............................................98 
10.3) Grau superlativo do adjetivo .........................................................................102 
11) ADVÉRBIOS ...................................................................................................... 107 
11.1) Formação do advérbio de modo .................................................................... 107 
11.2) Grau comparativo de superioridade do advérbio de modo ............................ 109 
11.3) Grau superlativo de superioridade do advérbio de modo ............................... 110 
11.4) Outros advérbios ........................................................................................... 110 
BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................... 116 
APÊNDICE ............................................................................................................... 118 
1) Como encontrar um substantivo no dicionário?.................................................. 118 
2) Como traduzir? .................................................................................................. 119 
3) Quadro resumitivo dos adjetivos ........................................................................ 120 
4) Algumas preposições ......................................................................................... 121 
5) Quadro dos tempos do infectum ......................................................................... 124 
6) Quadro das declinações latinas .......................................................................... 125 
7) Palavras populares e eruditas derivadas do mesmo étimo .................................. 126 
8) Tabelas destacáveis ........................................................................................... 128 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Carlos Renato R. de Jesus 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Esta apostila é uma versão menor do curso “Introdução à Lingua Latina”, de 
minha autoria, cujo texto completo, em breve, será publicado em forma de livro. Servirá 
ao curso de Latim dos módulos iniciais e procurará atender a algumas especificidades do 
ensino de latim no Amazonas. Ocorre que durante os anos em que venho ensinando a 
disciplina em universidades públicas e particulares do nosso Estado, duas grandes 
dificuldades sempre emergiram com mais frequência: primeiro, a falta de material 
didático voltado para as especificidades das licenciaturas em Letras nas quais o latim é 
ensinado por, no máximo, três semestres; e, em segundo lugar, a compreensível hesitação 
do estudante em adquirir material disponível, visto que seria despendido um alto valor 
para um curso que nunca é completo, nem sequer, ao menos, básico. A proposta que agora 
se apresenta pretende preencher essas lacunas, visando, principal mas não 
exclusivamente, ao ensino do latim em cursos de Letras, no Estado do Amazonas. 
Tenciona durar 4 semestres, seguindo o curso linearmente; ou 5 semestres, se for 
acrescentado com mais profundidade o estudo da literatura e da história da civilização 
greco-romana, bem como as demais informações acerca da cultura clássica. 
Nunca houve dúvida a respeito da qualidade dos materiais didáticos disponíveis 
no mercado brasileiro, especialmente os mais recentes, dos quais cito o de José Amarante 
(UFBA), “Latinitas” (2014), além do método da professora Leni Ribeiro (UFES), “Latine 
Loqui” (2016), e a tradução feita por professores da Unicamp do método de Cambridge, 
o “Aprendendo Latim” (2008). Isso sem mencionar as diversas gramáticas e cursos 
elaborados por grandes professores e cultos estudiosos do latim durante sucessivos anos, 
que nunca deixaram de ser reeditados e comercializados. No caso dos métodos citados, 
trata-se de material voltado para cursos nos quais o latim ou é ensinado como primeira ou 
segunda habilitação nos cursos de Letras ou é como curso completo, em disciplinas que 
se estendem por até 8 semestres. Para essas situações, não há dúvida de que esses manuais 
são utilíssimos e mais do que pertinentes, haja vista sua indubitável qualidade. Quanto 
aos demais livros, gramáticas e compêndios, estes parecem atender a especificidades que, 
mesmo com com toda a sua relevância, até onde pude perceber, não dão conta das 
dificuldades mencionadas no início desta apresentação. Isso absolutamente não lhes retira 
o valor e enorme contribuição para os estudos clássicos no Brasil. Na verdade, muito nos 
utilizamos de suas preciosas lições, seja no que se refere às explicações e à estrutura dos 
conteúdos apresentados, seja na exemplificação mostrada a cada ponto e mesmo nos 
exercícios propostos. De uma forma ou de outra, este pequeno manual é tributário 
inequívoco dos grandes mestres do passado e do presente, de dentro e de fora do Brasil. 
Não se trata exatamente de um método. Semelhante a toda experiência que se 
pretende compartilhar, é apenas uma proposta que, como qualquer primeira incursão, 
implica limitações de ordem variada, seja com relação à extensão e profundidade dos 
conteúdos, seja quanto ao modo e organização dos assuntos estudados. Eu entendo que 
tais questões dependem do ponto de vista e da interpretação pessoal de cada professor. 
Portanto, não será preciso dizer que caberá aos mestres filtrar, desenvolver, ajustar, variar, 
escolher e acrescentar tópicos, exercícios e explicações, de acordo com seu entendimento 
da matéria e do processo de aprendizagem de seus alunos, de modo que este pequeno 
trabalho possa ser útil a todos. Críticas e sugestões são, pois, muito bem-vindas. 
Tendo em vista o princípio que norteou este manual, isto é, sua utilização 
específica para e por alunos dos cursos de Letras sem habilitação em latim, a dosagem da 
terminologia gramatical utilizada está um pouco acima do que normalmente se costuma 
apresentar nos cursos introdutórios e mesmo avançados de latim. A própria e intencional 
Introdução à Língua Latina 
 
 8 
ênfase na morfologia já releva o objetivo introdutório deste manual. Esperamos 
compensar essas tendências com os exercícios que acompanham cada lição, atendo-nos, 
tanto quanto possível, à tradução de frases e textos, se não inteiramente originais, ao 
menos com pouca adaptação dos escritos antigos. E uma vez que há poucos textos 
originais com o tom da simplicidade que esperaríamos para lições iniciais, obviamente 
utilizei vários textos não originais e outros bastante adaptados dos autores clássicos. A 
intenção é colocar o aluno desde cedo diante de estruturas maiores que a frase. Mas isso 
não exime esta proposta de exercícios estruturais, como sempre, conforme mencionado, 
com forte ênfase na terminologia gramatical. Com isso espera-se que o estudante, além 
de adentrar as estruturas básicas do latim, também possa rever questões de gramática da 
Língua Portuguesa. Mas não apenas gramática pura e simples. Espera-se ainda que 
informações filológicas, linguísticas e etimológicas proporcionadas pela contribuição 
decisiva e primordial do professor acompanhem seus estudos a cada lição. 
Toda esta proposta seguiu de perto as gramáticas e manuais de autores como 
Furlan (1993), Pimentel e Pena (1996), Cardinale e Calamaro (2009), Soares (1999), 
Napoleão (1985), Mosca (2012), entre tantos outros, dos quais nos valemos das 
informações gramaticais e de alguns exercícios. Acredito, não obstante, que um 
diferencial significativo deste manual seja sua opção em começar as lições gramaticais 
pelo sistema verbal, e nele aplicar considerável ênfase, ao invés de, como é de praxe, pelo 
sistema nominal (casos, declinações, etc.). Isso se deveu ao fato de decidirmos, desde o 
primeiro momento, já traduzir frases e textos variados e originais ou, ao menos, com 
poucas adaptações. O ato de lidar com estruturas latinas já desde os primeiros passos 
exigiu de nós, então, o posicionamento de oferecer ao estudante o conhecimento de 
estruturas verbais um pouco mais amplas, a fim de que pudéssemos, com isso, apresentar 
e propor textos para análise e tradução ainda nas primeiras lições. 
De modo algum pretendi esgotar todos os assuntos, mesmo os mais fundamentais, 
nestelivro. Reconheço que todos os pontos apresentados estão sob forma esquemática 
simples, sempre carentes de maior explicação e preenchimento acerca de detalhes e 
informações que podem complementar o assunto (como todo manual, diga-se). Não 
obstante, acredito firmemente que, ao final das lições, o aprendiz será capaz de, com a 
base oferecida, prosseguir, sozinho, sem maiores dificuldades no aprofundamento das 
estruturas linguísticas do latim. Poder-se-ia dizer, ainda, que há carência de maior 
detalhamento das fontes das frases e textos utilizados. Em qualquer caso, não quis fugir 
ao escopo do caráter introdutório deste opúsculo, que não parece combinar com uma 
exaustiva descrição de informações que, ademais, com uma boa gramática de apoio e com 
a ajuda do professor, serão devidamente deslindadas. Aliás, em última instância, deste 
último, o professor, muito dependerá a eficiência deste manual. 
 
Valete! 
 
Prof. Carlos Renato R. de Jesus 
 Manaus, janeiro de 2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
Carlos Renato R. de Jesus 
 
 9 
1) O ENSINO E A IMPORTÂNCIA DO LATIM HOJE 
 
 
 
A disciplina Latim não é mais obrigatória pelo MEC nos cursos de nível superior 
no Brasil há alguns anos. E, desde a década de 60, também já não consta no currículo do 
ensino médio nacional. Mesmo assim, e por isso mesmo, conhecer latim vem tornando-
se um importante diferencial para qualquer área de estudos humanísticos. 
Com efeito, não é nenhuma novidade que, no imaginário ocidental, as línguas e a 
cultura clássica sobrevivem vigorosa e amplamente. Seja em filmes, em nomes de 
produtos comerciais, em livros e até em cartoons, a presença da herança clássica é 
marcante e contínua. Nem sempre, é claro, o latim e o grego são vistos como algo positivo, 
como quer demonstrar a tira acima. Muitas vezes, o latim é retratado como algo 
extenuante, fastidioso e inútil, como uma “língua morta”, enfim. 
Em nossa visão, contudo, as línguas clássicas estão bem vivas nos falantes das 
línguas neolatinas. Seu estudo sério e disciplinado possibilita a criação de um elo que nos 
coloca em diálogo direto com o pensamento antigo, com as formulações dos grandes 
pensadores a respeito de Filosofia, Literatura, Mitologia, Arte e Cultura de um modo 
geral. Adentrar esse universo cultural significa acesso franqueado ao legado greco-
romano, que ainda hoje permeia e influencia o imaginário e o cotidiano, não apenas 
acadêmico, de nossa modernidade. Não é um saber “prático”, no sentido de que pode ser 
manipulado com frequência ou aplicado a situações cotidianas e de ensino, no caso das 
licenciaturas. É, antes de tudo, um conhecimento que navega na contramão de 
determinadas escolhas epistemológicas imediatistas e que se vincula a um 
posicionamento diferenciado ante o conhecimento humano. Optar pelo estudo laborioso 
das línguas clássicas é próprio de um espírito investigativo e instigante de alguém que se 
preocupa em ir a fundo em questões muitas vezes obliteradas pela velocidade com que as 
ciências avançam e novas teorias surgem; significa pausar toda informação e buscar as 
origens de tudo e compreender o estado atual e real das coisas. Em um mundo acelerado, 
com métodos e valores em constante renovação, os estudos clássicos apresentam-se com 
um esteio de perene conhecimento, o qual, muitas vezes, a modernidade apenas 
emoldurou em nova indumentária. É justamente por esse motivo que, hoje, nos grandes 
centros acadêmicos do Brasil, os estudos clássicos vêm efervescendo cada vez mais, com 
a proliferação de diversas pesquisas na área das línguas latina e grega. Em muitas 
Introdução à Língua Latina 
 
 10 
universidades, tais estudos são regulares e constantes, com ativa participação em eventos 
científicos, como as reuniões anuais da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da 
Ciência), os encontros bianuais da SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos), os 
seminários do GEL (Grupo de Estudos Linguísticos) e, mais recentemente, o “Encontro 
de Professores de Latim”, da ANPL (Associação Nacional de Professores de Latim), que 
ocorre desde 2010 em diversos Estados do Brasil, além de muitos outros eventos 
promovidos por instituições de renome de todo o território nacional. 
Um exemplo positivo e bastante sintomático vem da UNICAMP, onde a procura 
pelos cursos de línguas clássicas vem aumentando sistematicamente1. Ou seja, quando 
era de se esperar que o latim se esvaísse de vez do mundo acadêmico, ele ganha mais 
força e cada vez mais as diversas áreas do conhecimento voltam sua atenção para o 
universo antigo. 
 Além disso, embora em diversos países da Europa o latim e o grego estejam 
perdendo espaço nas universidades e nas escolas, a presença dos estudos clássicos nesses 
países ainda é muito forte e, inclusive, em lugares de origem não-latina, como a Finlânda, 
por exemplo, o latim segue firme como língua de estudo e pesquisa, desde a formação 
básica do aluno. No Brasil, em muitas universidades, já dispomos de graduação em 
Letras/Latim, como a UFPB, a UNESP, a UFJF, a UFRJ, a UFMG, a USP, a UFF, e a 
UFPR, nas quais a pesquisa e a procura pelas línguas antigas crescem continuamente. 
É importante lembrar, ainda, que, hoje em dia, com a popularização da internet, o 
acesso a publicações da área e a uma infinidade de textos antigos originais torna-se muito 
comum e facilitado. Muitas revistas e periódicos, todos muito recentes, parecem mostrar 
o interesse que os estudos clássicos vêm despertando na sociedade moderna, tanto no que 
tange à compreensão da riquíssima cultura greco-romana quanto às suas incessantes 
contribuições para os estudos humanísticos contemporâneos e para o universo cultural 
mais amplo que se manifesta no presente. 
 
1.1) O latim no curso de Letras 
 
 
 
 
1 Cf.: http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/2765,1.shl 
Carlos Renato R. de Jesus 
 
 11 
 A tira acima deixa entrever uma determinada ideia a respeito do ensino do latim, 
compreendido como algo desvinculado da realidade linguística do estudante, como se 
fosse uma língua “de outro planeta”. Em contrapartida, os defensores de sua permanência 
nas escolas e universidades argumentam – na perspectiva de sua relevância na educação 
regular – que saber bem latim resulta em conhecer bem o português. Em nosso 
entendimento, tanto a primeira vertente como a segunda necessitam de, ao menos, uma 
complementação e contextualização. Se, por um lado, é preciso reconhecer que o latim é, 
em sua essência, uma “língua estrangeira” e que assim deve ser entendida, é necessário, 
do mesmo modo, reconhecer que seus laços históricos com o português muito contribuem 
para a compreensão em profundidade de vários aspectos gramaticais e etimológicos da 
língua portuguesa. E mesmo que nos apoiemos na premissa de que conhecer qualquer 
língua sempre pode auxiliar no aprendizado de um novo idioma, no caso do latim, parece-
nos que o caminho é de mão dupla: é preciso também que o estudante tenha o mínimo de 
domínio dos aspectos gramaticais do seu idioma materno, para que as questões 
linguísticas do latim sejam mais facilmente apreendidas. Com o tempo e com a prática, 
ambas as línguas se complementam em razão de seus sistemas em comum, resultando em 
esclarecimentos mais amplos a respeito das funcionalidades de uma e de outra, deixando, 
então, o português de ser objetivo último do ensino do latim, enquanto esvanece neste o 
estigma de “língua alienígena”. 
 
 
Fonte: http://em-outras-palavras.tumblr.com/page/2 
 
Seria, portanto, profundamente desejável que os cursos de Letras no Brasil 
mantivessem um estudo contínuo da língua latina (atualmente, como vimos, apenas 
algumas universidades têm curso completo em suas grades). E como na maioria dos 
cursos de graduação não são reservados mais que dois ou três períodos aos estudos de 
latim, pode-se, pelo menos, ter em vista os seguintes referenciais para o seu exercício no 
curso de Letras: 
a) O latim proporciona umaampla visão do funcionamento de diversas línguas 
modernas, porque, ao mesmo tempo em que mostra laços evidentes com nosso idioma 
pátrio, também possui um mecanismo (o sistema de casos) assaz diferente dos sistemas 
de muitas línguas modernas, especificamente as mais estudadas nas escolas do Brasil, 
como o inglês e o espanhol. Desse modo, o contato com o latim proporcionará ao 
estudante de Letras não apenas a oportunidade de perceber quão diversas e ricas podem 
ser as línguas, mas também a possibilidade de perceber o quanto as relações entre elas 
são, ao mesmo tempo, diversificadas e estreitas. 
b) De certo modo, o aluno será obrigado a conhecer mais e mais a gramática de 
sua própria língua, pois com o seguimento do curso, será necessário utilizar termos 
técnicos e conhecer a morfologia da língua portuguesa, bem como desenvolver a 
capacidade de reflexão sobre determinado fenômeno gramatical do português, a fim de 
avançar nos estudos do latim. 
Introdução à Língua Latina 
 
 12 
c) Um pouco relacionado com o item acima, está a necessidade de abstração em 
relação à língua de um modo geral. Isto é, será percebido que as reflexões sobre tal e qual 
língua dependem da capacidade de concentração e raciocínio que, afinal, qualquer 
profissional de Letras deve ter e que o estudo sério e dedicado do latim – assim como o 
de qualquer outra língua – pode desenvolver. 
d) Diversas questões de filologia, etimologia, gramática, linguística histórica, 
prosódia, fonética, fonologia, etc. podem ser inferidas ao longo dos estudos e aplicadas 
em futuras pesquisas. 
e) As noções básicas de tradução que se pretende adquirir ao longo do curso 
capacitam o aluno a traduzir sozinho sentenças e expressões muito comuns de serem 
encontradas em manuais de literatura, em determinadas obras literárias ou mesmo em 
citações encontradas em diversos livros, trabalhos, além de em dezenas de inscrições em 
igrejas, relógios, bandeiras, slogans, etc. 
f) Há também outras questões mais gerais: ao aluno que se propõe conhecer o 
idioma materno não faltarão temas relacionados à origem da Língua Portuguesa que só o 
conhecimento do latim ajudará a compreender. Nesse sentido, podemos considerar que o 
ideal, então, seria conhecer o latim vulgar, já que é daí que se originam as línguas 
neolatinas. Mas mesmo para o latim vulgar é necessário conhecer o latim clássico, de 
modo que a questão é a mesma: temos que passar pelo estudo do latim e todo o seu 
funcionamento para compreender que o português e o latim são, de fato, duas variedades 
de uma mesma língua. 
g) Uma última questão ainda pode ser considerada. Se quiséssemos ignorar 
completamente os evidentes avanços da Linguística – que já há tempos aproveita os 
estudos clássicos referentes à linguagem para ampliar os debates na área da fonologia e 
da morfologia, particularmente – ficaríamos com a extraordinária literatura dos antigos, 
a qual, por si só, já vale o esforço não só para apreciar esse riquíssimo acervo, mas 
também para percebermos que muito do que pensamos saber hoje já foi dito e discutido 
há, pelo menos, dois mil anos. 
1.2) O latim no Direito 
 
 
 
A enorme extensão do Império Romano, e sua consequente complexidade em 
termos de administração e gerência dos territórios mais longínquos, demandou um 
complexo sistema jurídico-administrativo que culminou num quadro de leis e 
jurisprudências que recrudesceram até mesmo com as invasões bárbaras e subsistiram, 
Carlos Renato R. de Jesus 
 
 13 
mutatis mutandis, até os nossos dias. 
De fato, diversas expressões latinas, particularmente os brocardos jurídicos, ainda 
hoje permeiam as demandas legais, de tal modo que os juristas as utilizam para 
abrilhantarem, enriquecerem, precisarem ou mesmo esclarecerem seus argumentos, 
máximas e princípios. (Observemos que a tira acima adverte para a demasia em seu uso). 
No que tange ao direito romano, apesar das suas imperfeições e das desigualdades 
que não se resolveu, sua evolução fomentou as bases jurisprudenciais do mundo ocidental 
com incrível influência. Os princípios de proteção à sociedade e ao cidadão encontram 
par na charta libertatum dos romanos: a igualdade civil, a tutela da liberdade, o respeito 
à autonomia individual são suas grandes características. Salvo a interdição de casamento 
entre patrícios e plebeus, ela não faz distinção entre uns e outros, nem mesmo em matéria 
de direito penal, como sucedia entre povos sujeitos a regime absoluto (Giordani, 1984). 
Segundo Giordani (1984), o espírito prático dos romanos orientou-se por uma 
filosofia simples e sólida que, oportunamente, os jurisconsultos souberam extrair das 
obras dos pensadores gregos e aplicar à realidade romana. Um simples olhar a um manual 
de Direito Romano revela-nos seu espírito: proteção do individuo, autonomia da família, 
prestígio e poder do pater familias, valorização da palavra empenhada, etc. As normas 
jurídicas romanas estavam, contudo, sob diversos aspectos, bem distantes da perfeição: 
admitiam a escravidão, não protegiam os desafortunados, não estabeleciam uma perfeita 
igualdade entre os seres humanos. Numa palavra, não reconheciam o direito do ser 
humano como tal. Mesmo assim, representou um progresso na ordem jurídica da 
humanidade, e, sobretudo, legou ao mundo que sobreviveu à queda do Império importante 
patrimônio que ainda está bem vivo. Ainda segundo o autor, o Direito Romano não 
merece nossa admiração somente por seu conteúdo. Devemos apreciá-lo, também, pela 
forma com que foi expresso, por sua linguagem. Esta é, com efeito, clara, simples, nítida, 
exata. Se tivéssemos herdado do Direito Romano apenas seus conceitos e suas nítidas 
classificações, isto já teria sido de um grande proveito para a clareza do pensamento. 
 
1.3) O latim que a gente sabe 
 
O latim continua presente em nossa língua de várias maneiras, especialmente no 
léxico que dele deriva, e é certo que muitas palavras se iluminam quando relacionadas 
com sua origem etimológica. Algumas, tidas como “curiosas”, logram interessantes 
surpresas ao ser explicada sua formação e origem, principalmente se surgem em ambiente 
moderno e interativo, como o Twitter, por exemplo. Vejamos, como ilustração, o texto 
do seguinte tweet: 
 
 
Introdução à Língua Latina 
 
 14 
A palavra em questão deriva da frase ne sutor ultra crepidam (no original, ne 
supra crepidam sutor iuducaret, isto é, “que o sapateiro não julgue nada acima da 
sandália”), que é mencionada por Plínio, o Velho (Naturalis historia XXXV, 10, 36), o 
qual, por sua vez, a atribui ao pintor grego Apeles em uma pitoresca situação. Apeles 
costumava expor seus quadros diante de sua loja, a fim de poder se beneficiar dos 
comentários e críticas dos transeuntes. Certa vez, um sapateiro criticou a forma como a 
sandália de um personagem de um dos quadros fora representada. Então, Apeles, na época 
considerado o maior pintor já existente, corrigiu o problema daquele quadro em 
particular. 
No dia seguinte, no entanto, o sapateiro, envaidecido porque sua crítica tinha sido 
aceita, começou a criticar também a representação do joelho do mesmo personagem. 
Nesse ponto, o artista se dirigiu a ele com a frase que se tornou proverbial. Hoje em dia, 
a sentença é usada no sentido da palavra destacada no tweet, transformada em neologismo 
da Língua Portuguesa. 
Há, ainda, centenas de palavras e expressões legitimamente latinas que são usadas 
até imperceptivelmente por muitos de nós no dia-a-dia. Da lista abaixo, retirada de 
Pimentel e Pena (1994), veja a que você conhece ou compreende o significado. O que 
você não conhecer procure pesquisar a respeito. Talvez você conclua que sabe muito mais 
latim do que pensa. 
 
 
 
 
A posteriori 
A.m. / p. m. 
Ab absurdo 
Ab ovo 
Ad augusta per angusta 
Ad hoc 
Ad kalendas graecas 
Adenda 
Agenda 
Agnus Dei 
Alea iacta est 
Alias 
Alibi 
Alter ego 
Amanda 
Ars longa vita brevis 
Audentes fortuna iuvat 
Audio 
Aurea mediocritas 
Auri sacra fames 
Ave 
Ave, Caesar, moriturite 
salutant 
Bis 
Campus 
Carpe diem 
Cogito ergo sum 
Corpus 
Corpus Christi 
Curriculum vitae 
De facto 
Deficit 
Delenda est Carthago 
Deo gratias 
Deus ex machina 
Divide et impera 
Dixi 
Duplex 
Dura lex sed lex 
Ecce homo! 
Educando 
Errare humanum est 
Errata 
Etc. 
Ex cathedra 
Carlos Renato R. de Jesus 
 
 15 
Fac simile 
Fama volat 
Fiat lux! 
Forum 
Grosso modo 
Habeas corpus 
Habemus papam 
Habitat 
Hannibal ad portas 
Hic et nunc 
Homo erectus 
Homo sapiens 
Honoris causa 
Ibidem 
Idem 
In dubio pro reo 
In extremis 
In hoc signo vinces 
In medias res 
In memoriam 
In saecula saeculorum 
In vino veritas 
in vitro 
INRI 
Ite, missa est 
Item 
Lapsus calami 
Lapsus linguae 
Lapsus memoriae 
Legenda 
Libido 
Magister dixit 
Magna Charta 
Magnificat 
Mapa mundi 
Mea culpa 
Medice, cura te ipsum! 
Medium 
Memorandum 
Mens sana in corpore 
sano 
Modus faciendi 
Modus vivendi 
Mutatis mutandis 
N.B. 
Nec plus ultra 
Nihil obstat 
Nosce te ipsum 
O tempora, o mores! 
Omnibus 
Op. cit. (opere citato) 
Opus Dei 
Panem et circenses 
Pari passu 
Per aspera ad astra 
Per capita 
Persona non grata 
Post mortem 
Post scriptum 
Pro forma 
Quid pro quo 
Quo vadis? 
Quorum 
Requiem 
Res, non verba 
S.P.Q.R. 
Salve 
Sic 
Sine cura 
Sine die 
Sine qua non 
 
 
Statu quo 
Stricto sensu 
Sui generis 
Summa cum laude 
Superavit 
Tu quoque, Brute, fili 
mi! 
Turbo 
Vade mecum 
Vae victis! 
Verba dicendi 
Vide 
Video 
Virus 
Vox populi vox dei 
Vulgata 
Interim 
Ipso facto 
 
 
 
 
 
 
 
 
Antigo fórum romano 
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/562598178431516552/ 
 
Introdução à Língua Latina 
 
 16 
2) BREVE HISTÓRICO DA LÍNGUA LATINA 
 
 O latim era a língua falada no Lácio (Latium), região da Itália Central, onde, em 
meados do séc. VIII a.C., foi fundada a cidade de Roma. Havia um estreito parentesco 
entre o latim e outros dois idiomas falados antigamente na Península Itálica: o osco, língua 
dos samnitas (povo indoeuropeu seminômade que havitava o centro da península itálica 
nos idos so séc X a.C., aproximadamente); e o umbro, língua da Úmbria (Vmbria). 
 
 
Línguas faladas na Itália por volta do séc. VI a.C. 
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_itálicas 
 
A grande semelhança entre esses três idiomas fez supor a existência de uma língua 
única, hipotética, a qual teria se consubstanciado no chamado “tronco itálico” e que teria 
dado origem a estes e a outros idiomas. O confronto de raízes vocabulares existentes no 
latim com raízes de palavras pertencentes a algumas das antigas línguas faladas na Índia, 
na Pérsia, na Grécia, na Gália, na Germânia e em outras regiões, bem como certa 
semelhança entre as estruturas gramaticais de tais línguas, permitiram aos estudiosos 
formular a hipótese da existência de uma língua ainda mais antiga, que teria gerado esses 
idiomas. Deu-se o nome de “indo-europeu” a essa hipotética língua-mãe. 
Supõe-se que o indo-europeu tenha sido falado há mais de 20.000 anos por um 
povo que se dispersou, por razões até hoje desconhecidas, alguns milênios antes de Cristo, 
espalhando-se pela Europa e pela Ásia. 
A dispersão desse povo teria acarretado profundas modificações linguísticas no 
idioma, inicialmente uno. O indo-europeu dividiu-se, então, em numerosas línguas, cada 
uma das quais gerou posteriormente outros tantos idiomas, os quais foram reagrupados, 
pela proximidade linguística, em diferentes ramos: o já mencionado itálico, o helênico, o 
céltico, o germânico, o báltico, o eslavo, o indo-irânico e outros. Muitas dessas línguas 
acham-se hoje extintas ou mortas. As remanescentes são faladas em grande parte do 
mundo ocidental e em algumas regiões do Oriente. 
 
Carlos Renato R. de Jesus 
 
 17 
 
 
Árvore genealógica do indo-europeu 
Fonte: http://www.ancient.eu 
 
O latim é, portanto, uma língua indo-europeia, do ramo itálico, com parentesco 
osco-umbro e que, ainda, por questões de contato linguístico, recebeu influências etruscas 
e gregas, de cujos povos – por motivos diversos – recebeu significativas contribuições: 
léxico, estilos literários e artísticos, sistema jurídico, arquitetura, etc. Temos, com esses 
influxos, o latim arcaico em primeira instância e, depois, o latim fixado a partir do séc. I 
a.C. até seu esfacelamento a partir do séc. IV d.C.: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 No decorrer de sua história, os romanos utilizaram o substrato fonético e lexical 
herdado dos vizinhos e, posteriormente, quando conseguiram a hegemonia política sobre 
os demais povos da Itália, a língua de Roma conquistou o mundo impondo-se sobre todas 
as outras línguas dos povos submetidos (menos sobre o grego). 
Não obstante, quando as forças centrífugas (etnias) passam a prevalecer sobre as 
centrípetas (Império), aquelas enfraquecem a organização e o poder político-
administrativos de Roma, facilitando o surgimento das línguas neo-latinas ou românicas 
(Romeno, Italiano, Francês, Espanhol, Português, etc.). De qualquer forma, àquela altura, 
a Igreja já dava continuidade à tradição linguística do Império, pois tinha adotado como 
língua oficial o latim (o latim cristão), que permaneceu como língua cultural durante toda 
Idade Média, visto que recrudesceu como praticamente a única depositária da cultura 
europeia a partir do ocaso Antiguidade. Com o Humanismo, a cultura torna-se laica, e a 
Reforma quebra a unidade religiosa da Europa; as línguas românicas chegam à dignidade 
 OSCO GREGO (léxico erudito, literatura, artes) 
 
 
 LATIM 
 
UMBRO ETRUSCOS (leis, arquitetura, alfabeto) 
 
 
Introdução à Língua Latina 
 
 18 
literária, e, paralelamente, ao latim cristão e medieval, sobrepõe-se o latim humanístico, 
uma língua internacional duma elite de sábios que se inspirava nos modelos clássicos. 
Entretanto, pouco a pouco o latim vai se distanciando da vida cultural europeia e, por 
volta do séc. XVIII, já não é mais um instrumento de comunicação e torna-se uma língua 
cristalizada na liturgia e nos documentos da Igreja, na escola e na filosofia clássica. 
 
3) EVOLUÇÃO DO LATIM 
 
Durante longo período de tempo em que foi utilizado como língua viva, o latim 
sofreu, evidentemente, profundas transformações. Há grande diferença entre a língua dos 
primeiros escritos – encontrados no período pré-clássico da história cultural de Roma – e 
a dos textos dos tabeliães portugueses que, no século XII de nossa era, ainda se utilizavam 
do antigo idioma como língua de comunicação. Em suma, há sensível dessemelhança 
entre o latim das obras literárias do século I a.C. e as inscrições cristãs dos primeiros 
tempos. Por essa razão, costuma-se caracterizar o latim conforme a época e as 
circunstâncias em que foi usado (baseamo-nos na divisão feita pela profª. Dra. Zélia de 
Almeida Cardoso, em “Iniciação ao latim”, de 1993): 
Latim pré-histórico é a língua dos primeiros habitantes do Lácio, anterior ao 
aparecimento dos documentos escritos. Deve ter sido falado entre os séculos XI e VII ou 
VI a.C. 
Latim proto-histórico é o que aparece nos primeiros documentos da língua. São 
exemplos dessa fase as inscrições encontradas na fíbula de Preneste – uma fivela do séc. 
VII ou VI a.C. – e no vaso de Duenos , de fabricação um pouco mais recente, talvez no 
séc. IV a.C.. 
 
 Fíbula prenestina 
Fonte: https://www.classicult.it/tag/berlino/ 
 
 
Vaso de Duenos 
Fonte: https://www.romanoimpero.com 
 
Também chamado de latim arcaico, é a língua utilizada entre o séc. III a.C. e o 
início do séc. I a.C.. Manifesta-se em antigos textos literários – obras de Névio (270 - 201 
a. C.), Plauto (254 -184 a.C.), Ênio (239-169 a.C.), Catão (234 -149 a.C.) –, bem como 
em epitáfios e textos legais. Inicialmente pobre com vocabulário reduzido e estruturas 
morfossintáticas não rigorosamente determinadas, a língua tende, com o passar do tempo, 
a firmar-se, enriquecer-se e aperfeiçoar-se, graças,sobretudo, ao desenvolvimento da 
literatura e à influência da cultura helênica. 
Carlos Renato R. de Jesus 
 
 19 
Latim clássico é o que floresce a partir do segundo quartel do séc. I a.C., quando 
são compostas as grandes obras que marcaram os momentos mais importantes da prosa 
e da poesia latina: as obras de Cícero (106-43 a.C.),Virgílio (70-19 a.C.), Horácio (65-8 
a.C.), Tito Lívio (59 a.C. – 17 d.C.) e numerosas outras figuras de relevo. É uma língua 
cultivada, artística, profundamente diferente do que seria o latim falado mesmo pelas 
classes sociais mais cultas. O latim clássico se preservou graças à conservação de 
inúmeras obras literárias e é dessa modalidade linguística que puderam ser depreendidos 
os fenômenos gramaticais do idioma. 
 
 
Maquete da cidade de Roma 
Fonte: http://historiadomundo.uol.com.br/romana/civilizacao-romana.htm 
 
Latim vulgar é o nome comumente atribuído à variedade ou variedades do latim 
falado pelo povo, nas regiões próximas a Roma. Não é posterior ao latim clássico, como 
se pode erroneamente inferir. Como variedade oral, esteve sujeita a alterações 
determinadas por diversos fatores: épocas, delimitações geográficas, influências 
estrangeiras, nível cultural dos falantes, etc. Nunca foi uniforme e, embora sejam 
pouquíssimas as fontes de que dispomos para seu conhecimento e para sua comprovação 
como modalidade escrita, de acordo com autores como Väänänen (1982), Basseto (2005) 
e Neto (1967), podemos citar, entre elas: 
a) os gramáticos latinos: muitos foram os gramáticos ou os eruditos do idoma que 
procuravam “denunciar” a pronúncia ou formas erradas assim julgadas por eles. Ente 
eles podemos citar Ápio Cláudio (séc. II a.C.), Varrão (116-27 a.C.), Cícero (106-43 
a.C.), Quintiliano (35-95 d.C.), Donato (séc. IV d.C.) e Prisciano (séc. V d.C.). 
Particularmente interessante é um texto possivelmente da era cristã, erroneamente 
atribuído a Probo (séc. I d. C.), o Appendix Probi, que relaciona e corrige 227 palavras 
e expressões que estariam sendo corrompidas pelo uso comum. 
b) os glossários latinos: trata-se de comentários ou vocabulários rudimentares de palavras 
e construções, feitos por copistas sobre os textos clássicos que pudessem causar 
alguma dificuldade ao leitor do tempo corrente. 
c) as inscrições latinas: epitáfios, grafites, fórmulas cabalísticas etc. Destaque para as 
inscrições de Pompeia e Herculano, cidades do sul da Itália, soterradas pela erupção 
do Vesúvio, em 79 d.C.. 
Introdução à Língua Latina 
 
 20 
d) os autores latinos arcaicos, clássicos e pós-clássicos: é detectado um estilo mais 
relaxado e coloquial em alguns autores, com a intenção de maior expressividade 
popular (no caso de Plauto e Terêncio, comediógrafos da antiguidade romana) e de 
motivos estilísticos (como algumas poesias de Catulo e Horácio no período clássico). 
Cícero, epistológrafo, também usa de mais coloquialidade nas suas cartas. Por fim, 
também encontramos mais exemplos de latim vulgar nos textos de Petrônio 
(Satyricon) e de alguns outros autores. 
e) os tratados técnicos: destaca-se Catão (séc. II a.C.) possuidor de uma escrita mais 
próxima do que seria o latim vulgar. Sua obra, De agri cultura, é desprovida dos 
rigores gramaticais da erudição latina e forjada com diversos elementos populares. 
f) as histórias e crônicas: obras que, a partir do séc. VI, surgem sem pretensão literária, 
carregadas de vulgarismos e reminiscências clássicas. 
g) as leis, diplomas, cartas e formulários: são documentos, especialmente dos visigodos, 
que apresentam uma mescla de elementos populares e reminiscências literárias. As 
vantagens desse tipo de texto é que são desprovidos das correções e corrupções que 
alteram os textos literários. 
h) os autores cristãos: destaque para a vetus latina, na era cristã evidentemente, que era 
uma espécie de versão popular da Bíblia. 
Em última análise, a reconstituição do latim vulgar através do estudo comparativo 
das línguas românicas é também forte elemento que revela as principais transformações 
do latim falado, como a passagem do ritmo quantitativo para o ritmo acentuativo, o quase 
abandono das declinações, a perda de certas formas do sistema verbal, etc. 
Latim pós-clássico é o que se encontra nas obras literárias compostas entre os 
séculos II e V de nossa era. Embora ainda sejam textos de grande valor, a língua começa 
a perder as características linguísticas do período anterior. Diminui a distância entre a 
língua literária e a língua falada e já se prenuncia forte dialetação da qual se originariam 
as línguas românicas. 
 
 
 
Com as invasões dos povos bárbaros e o esfacelamento do Império Romano, o 
latim perdeu a sua unidade como língua, gerando inúmeros falares locais que se 
desenvolveriam em numerosos idiomas. As classes cultas, entretanto, procuraram, ainda, 
por muito tempo, manter o uso do latim. Os tabeliães utilizaram-no até o século XII em 
documentos oficiais, muito embora nesses textos a língua já se mostre bastante 
modificada. A igreja fez do latim a sua língua oficial, sendo tal idioma obrigatório até 
1961, tanto na redação de documentos eclesiásticos quanto na realização de cultos e 
cerimônias religiosas. A ciência, por sua vez, até o início do século XX, viu no latim uma 
espécie de linguagem universal, e nesta foram escritos inúmeros tratados filosóficos, 
Carlos Renato R. de Jesus 
 
 21 
científicos e acadêmicos. Podemos falar, portanto, ao lado das duas formas antes 
mencionadas, num latim de tabeliães ou latim bárbaro, num latim eclesiástico e, 
finalmente, num latim científico. Essas modalidades apresentam cada uma suas 
características e sua especificidade. 
 
 
Mapa do império romano (séc. II d.C.) 
Fonte: https://www.theapricity.com/forum/archive/index.php/t-47034.html 
 
Por fim, podemos dizer que o “latim de hoje” sobrevive nas próprias línguas 
românicas, irmanadas pelo tronco comum que as une e as consubstancia sob o legado 
lexical latino. Para citar alguns exemplos: 
 
Do latim Português Espanhol Francês Romeno Italiano 
oculus olho ojo oeil ochiu occhio 
stella estrela estrela étoile stea stella 
magister mestre maestro maître maestru maestro 
signum sinal signo signe signal segno 
nox, noctis noite noche nuit noapt notte 
amicus amigo amigo ami amic amico 
populus povo pueblo peuple popor popolo 
templum templo templo temple templu tempio 
locus lugar lugar lieu loc luogo 
primus primeiro primero premier prime primo 
octo oito ocho huit opt otto 
 
Além disso, muitas outras palavras do português se “iluminam” quando 
confrontadas com sua raiz etimológica, ora esclarecendo o significado original da palavra, 
ora surpreendendo-nos com a mudança de sentido que, muitas vezes, as palavras sofrem 
ao longo do tempo, por motivos diversos. 
 
Menda: defeito emendar, emenda, mendigo, mendaz 
Fraus, fraudis: fraude fraude, defraudar, fraudulento 
Candere: estar aceso cândido, candelabro, candidato 
Munus, muneris: presente, tarefa município, imune (it. comune) 
Introdução à Língua Latina 
 
 22 
Ius, iuris: direito jurar, jurado, conjurar, jurispridência 
Senex: velho senil, senador, senado 
Precis: oração prece, precário, pregar 
Vir: homem viril, virilidade, virtude 
Signifer: estandarte significar, significante 
Frangere: quebrar fragmentar, frangalhos, fractal 
Riualis: que está de um dos 
dois lados de um riacho 
rival, rivalidade 
 
Que palavras, em português, derivam dos seguintes vocábulos latino? 
 
• curare (cuidar, tratar de): ____________________________________________ 
• Iungo (reunir, juntar): ______________________________________________ 
• Signum (sinal): ___________________________________________________ 
• Caput, capitis (cabeça): _____________________________________________ 
• Via (caminho): ____________________________________________________ 
• Pater (pai): _______________________________________________________ 
Mapa genealógico das línguas românicas: 
 
 
Robert A. Hall, Jr., External Historyof Language Change. 
Nova Iorque-Londres-Amesterdão, American Elsevier Publishing Company, Inc., 1974 
Disponível em: http://cvc.instituto-camoes.pt/tempolingua/04.html 
Carlos Renato R. de Jesus 
 
 23 
4) DO LATIM AO PORTUGUÊS 
 
 
 
Milhares de palavras do português possuem raiz latina. Isso é fato. No entanto, o 
processo de transformação de uma língua para outra, do latim para o português, deu-se 
de maneira complexa e lenta. As causas são diversas e controversas, mas, sem dúvida, a 
gradativa influência linguística dos povos conquistados com a expansão do império, 
ocasionando contatos, empréstimos e variações, certamente foi determinante. Há ainda a 
já brevemente discutida questão do latim vulgar, que englobava as variedades 
linguísticas de toda aquela região do Lácio e que recrudesceu mesmo depois da queda do 
Império. No que se refere às línguas neolatinas, é unânime entre os filólogos o fato de 
que o português, assim como as demais, provieram, essencialmente, dos assim chamados 
“romances”, um certo tipo de língua que funcionou como interponto entre o latim vulgar 
e as línguas vernáculas atuais. Evidentemente, o latim vulgar, embora apresentando suas 
próprias estruturas linguísticas, está diretamente relacionado ao latim clássico, pois este 
se tratava de uma vertente que tinha como representação escrita “normativa” o latim 
clássico. 
No entanto, para a formação da língua portuguesa, entraram em jogo muitos outros 
fatores, os quais explicam a convivência de formas variadas de uma mesma origem latina. 
Como dissemos antes, após o Renascimento europeu, muitos intelectuais passaram a 
escrever suas obras em latim, além de em sua própria língua vernácula, de modo que o 
latim passou a ser uma espécie de língua universal, franca. Tais autores foram numerosos: 
Dante (1265-1321), Petrarca (1304-1374), Boccaccio (1313-1375), Thomas More (1478-
1535), Roger Bacon (1241-1294), Francis Bacon (1561-1626), etc. Desse convívio entre 
o latim e as línguas nativas de cada país, ocorreu uma assídua inserção de palavra eruditas 
– vindas do latim escrito – nas línguas daqueles escritores, muitas das quais sofreram 
apenas adaptações na sua parte final, para que tivessem aspecto vernáculo: são as palavras 
cultas ou eruditas. 
Veja uma ligeira amostra de palavras de língua portuguesa. À esquerda, 
encontram-se as palavras eruditas cognatas das palavras de origem popular, que estão à 
direita: 
 
• alienar ~ alheio 
• audição, auditivo ~ ouvir 
• celeste ~ céu 
• crucificar ~ cruz 
Introdução à Língua Latina 
 
 24 
• decapitar ~ cabeça 
• doloroso ~ dor 
• eclesiástico ~ igreja 
• equitativo ~ igual 
• impulso ~ puxar 
• insular ~ ilha 
• lácteo ~ leite 
• legenda ~ ler 
• lúcido ~ luz 
• magistério ~ mestre 
• manuscrito ~ mão 
• noctívago ~ noite 
• plenilúnio ~ cheio e lua 
• potência ~ poder 
• prejudicial ~ prejuízo 
• previdência ~ prever 
• proclamar ~ chamar 
• proponente ~ pôr 
• putrefacto ~ podre e feito 
• racional ~ razão 
• regenerar ~ gerar 
• ruptura ~ roto 
• sagitário ~ seta 
• saliente ~ sair 
• sedentário ~ sentar 
• tenebroso ~ trevas 
• voluntário ~ vontade 
 
Ainda segundo Kury (1989), muitas dessas palavras eruditas têm a mesma origem 
de outras que já haviam entrado na língua por via oral, pela boca do povo. Por isso, nossa 
língua às vezes possui dois ou mais representantes advindos de um mesmo étimo latino, 
alguns mantendo a forma erudita – do latim escrito –, outros sofrendo alterações fonéticas, 
devido ao seu uso e contato com as camadas mais populares do ambiente em que foram 
usados. Convém observar, desde agora, que essas formas divergentes dificilmente têm o 
mesmo significado: geralmente há também especialização de sentido em algumas delas. 
É interessante observar também que algumas palavras de origem culta se tornaram, com 
o tempo, mais usadas que as suas correspondentes de origem popular. É o caso, por 
exemplo, de incrédulo (origem culta), hoje mais conhecida que incréu (origem popular), 
ambas provindas do latim incredulu; limite (erudita) e linde (popular); operário (erudita) 
e obreiro (popular); entre muitas outras (cf. a lista elaborada por Kury (1989), no 
apêndice). 
Uma terceira via são outras línguas, quase sempre neolatinas, que receberam certas 
palavras do latim e que o português tomou de empréstimo. Algumas delas também 
passaram diretamente do latim para o português, e constituem igualmente formas 
divergentes. 
Veja alguns exemplos, também retirados de Kury (1989): 
 
LATIM PORTUGUÊS LÍNGUA INTERMEDIÁRIA PORTUGUÊS 
anellu 
aramine 
caput 
facticiu 
homine 
lumine 
media 
 
minuta 
opera 
planu 
sanguine 
solu 
tenore 
impulsare 
elo 
arame 
cabo 
feitiço 
homem 
lume 
média 
 
miúda 
obra 
chão 
sangue 
só 
teor 
empuxar 
provençal: anel 
castelhano: alambre; alambrado 
francês: chef 
francês: fetiche 
castelhano: hombre – derivado: hombridad 
castelhano: lumbre – derivado: deslumbrar 
inglês: media (pronunciado mídia), mídia no 
sentido de “meios de comunicação” 
francês: minute 
italiano: opera 
castelhano: llano 
castelhano: sangre – derivado: sangrar 
italiano: solo 
italiano: tenore 
castelhano: empujar 
anel 
alambrado 
chefe 
fetiche 
hombridade 
deslumbrar, vislumbrar 
mídia 
 
(a) minuta 
ópera 
lhano 
sangrar 
solo (termo musical) 
tenor 
empurrar 
Carlos Renato R. de Jesus 
 
 25 
5) SISTEMA GRÁFICO E FÔNICO 
5.1) O alfabeto 
 
O alfabeto latino vem do etrusco, o qual está baseado num alfabeto grego não 
jônico, herdado pelos gregos dos fenícios que por sua vez aprenderam dos egípcios. 
Consta de 21 letras (A B C D E F G H I K L M N O P Q R S T V X ) mais 2 (Y e Z), 
estas introduzidas no 1º século antes de Cristo para os nomes de origem grega, perfazendo 
desta maneira um total de 23 letras. 
No período clássico (81 a.C. - 12 d.C.), duas letras tinham, cada uma, duplo valor 
de vogal e consoante: u e i. Ocorre que os latinos tinham um só sinal gráfico para o som 
de /w/ e /u/2, que era o grafema <u>, minúsculo, e <V> maiúsculo; e, do mesmo modo, 
apenas um grafema, <i> e <I>, para os fonemas /i/ e /j/. 
Por isso, na Renascença (séc. XVI), um humanista chamado Pierre de la Ramée 
(1515-1572), acrescentou ao alfabeto latino mais duas letras: <j> (e o equivalente 
maiúsculo <J>) e <U>. 
 O <j> veio a representar a letra <i>, quando esta tinha valor da semiconsoante /j/, 
ou seja, quando ocorria antes de vogal. 
O sinal <U> surgiu para representar, em maiúsculo, a letra <u>, quando esta 
possuía valor da vogal /u/, isto é, quando aparecia depois de consoante. Com isso, a letra 
<V>, maiúscula, e <v>, minúscula, passaram a representar apenas a forma consonantal 
/w/, isto é, sempre antes de vogal. 
Essas novas letras foram necessárias porque havia certa confusão no emprego de 
apenas um sinal gráfico para dois valores fonéticos. Por exemplo, os romanos escreviam 
LVDVS (em vez de LUDUS) e quando usavam letras minúsculas, escreviam “ludus” com 
<u>. E ainda VVLPES (em vez de VULPES), mas “uulpes”, em minúsculas. O 
procedimento é o mesmo no caso de IVSTITIA (em vez de JUSTITIA). 
Por isso, dependendo da edição, alguns textos optam pela grafia clássica em vez 
da medieval, o que pode causar certa dificuldade ao se procurar uma palavra no 
dicionário, quando ela for grafada com J ou I e V ou U. Dessa forma, quando você não 
conseguir encontrar uma palavra que contenha a letra j, tente procurá-la com i. O mesmo 
vale para v e u. 
As letras <Y> e <Z> foram acrescentadas no 1º século a.C. para resolver o 
problema de transição de palavras gregas (λύρα,‘lýra’, e ζέφυρος, ‘zéphyros’, por 
exemplo) 
Os romanos usavam somente as maiúsculas e não conheciam os sinais de 
interrupção nem os sinais diacríticos (acento, trema, apóstrofo, hífen, etc.). As letras 
minúsculas só aparecem por volta do final da República. Segue o alfabeto e a respectiva 
pronúncia e valores fonéticos:2 Valor dos sinais: < > letra (grafema); / / fonema; [ ] fone. 
Introdução à Língua Latina 
 
 26 
5.2) Pronúncia 
É impossível determinar com exatidão qual a pronúncia da língua latina no tempo 
dos romanos, mas costuma-se, hoje, dividir em três tipos de pronúncia, invocadas sob 
contexto e finalidades especificas. 
a) ROMANA – usada principalmente na Itália e no Vaticano, constituindo-se, por isso, 
na pronúncia oficial da Igreja Católica (pronuncia-se, observadas algumas exceções, 
como se fosse italiano). É também chamada de ‘pronúncia eclesiástica’. 
b) TRADICIONAL – foi muito comum nas escolas de Portugal e do Brasil. Pronuncia-
se, observadas algumas particularidades, como se fosse a língua materna de cada país em 
que a língua é estudada. 
c) RECONSTITUÍDA (CLÁSSICA) – usada no meio acadêmico, com base nas 
inferências de filólogos e pesquisadores clássicos, esforça-se para imitar a pronúncia 
usada pelas pessoas cultas de Roma na época de Cícero (séc. I a.C). Adotaremos essa 
pronúncia. 
Confira a síntese a seguir de pronúncia, baseada em Soares (1999). Observe que todas 
as vogais e consoantes são sempre pronunciadas, não importando a posição que ocupem 
na palavra. Nos ditongos, cada vogal conserva o som que lhe é próprio: ae pronuncia-se 
“ái” e oe pronuncia-se “ói” ou “ôi”: aedes, caelum, Troiae, poenicum, etc. 
 
• O dígrafo <ch> pronuncia-se como “k” com leve aspiração, ou seja /kh/: Achiles, 
Achiues, chorus. 
• <X> pronuncia-se /ks/: rex, uxor, xenium, Xerxes. 
• <TH> pronuncia-se /t/, com leve aspiração, como o “th” do inglês: theatrum, 
labyrinthus, Thebae. 
• <RH> e <r> pronuncia-se como a vibrante do italiano /r/: Rhenus, rhetorica, Rhea, 
rex, arbor, flor, asper. 
• Em <qu> e <gu> o “u” é sempre pronunciado /kw/: Quintus, arguit, neque, quaero. 
• <T> e <d> pronunciam-se sempre como oclusiva dental, /t/ e /d/, não palatizadas, 
como em “tesouro” e “dado”: nationes, otium, otii; gladium, dies, aedes. 
• Pronunciam-se as consoantes duplas: Sallio, offero, Atticus. 
• <H> é levemente aspirada, isto é, uma glotal /h/: homines, mihi, nihil, honos. 
• <J> quando aparece, pronuncia-se como “i”, isto é, semiconsoante /j/: jactus, janua, 
ejus. 
• <PH> pronuncia-se “p” com leve aspiração, isto é /ph/: Philosophia, phoedere, 
Phaedrus. 
• <S> é sempre sibilante surda, como em “sapo”, em qualquer posição, mesmo no 
final: aster, opus, patris, priusque. 
• <C> tem sempre som de oclusiva gutural surda /k/, como em “casa”: Cicero, Caesar, 
Marcellus, dulcis. 
• <G> é sempre oclusiva gutural sonora, como em “gato”: regina, ager, piger. 
• <L> é sempre pronunciada como líquida, não palatizada, mesmo no meio ou no final 
Carlos Renato R. de Jesus 
 
 27 
da palavra, como em “lata”: locus, mel, Hannibal, alter, Alba. 
• Não existe o som de /v/ como em “vela”. A letra <V> (maiúscula) e sua 
correspondente minúscula <u>, quando em posição não vocálica, são pronunciadas 
como aproximante /w/, isto é, como semiconsoante, com leve labialização: uocis, 
auis, auete, Valerius, ueritas, aluus, uulpes, uis. 
• <Y> é pronunciado com arredondamento, como o “u” francês: lyra, Tytere, physis. 
• <M> e <n> devem ser claramente pronunciadas mesmo no meio ou no final da 
palavra: amplexus, carmen, semen, quem, quam. 
• <Z>, em início de palavra, pronuncia-se como o z /zd/ (zdeta) grego: Zeus, Zenon. 
Obs.: Devemos pronunciar com clareza as sílabas finais. Evite o som nasal. 
 
 Prática de pronúncia: texto para leitura 
 
ENEIDA (I, vv. 1-23), de Virgílio 
Arma uirumque cano, Troiae qui primus ab oris 
Italiam fato profugus Lauiniaque uenit 
litora, multum ille et terris iactatus et alto 
ui superum, saeuae memore Iunonis ob iram, 
multa quoque et bello passus, dum conderet urbem 
inferretque deos Latio; genus unde Latinum 
Albanique patres atque altae moenia Romae. 
Musa, mihi causas memora, quo numine laeso 
quidue dolens regina deum tot uoluere casus 
insignem pietate uirum, tot adire labores 
impulerit. Tantaene animis caelestibus irae? 
Vrbs antiqua fuit (Tyrii tenuere coloni) 
Carthago, Italiam contra Tiberinaque longe 
ostia, diues opum studiisque asperrima belli, 
quam Iuno fertur terris magis omnibus unam 
posthabita coluisse Samo. Hic illius arma, 
hic currus fuit; Hoc regnum dea gentibus esse, 
si qua fata sinant, iam tum tenditque fouetque. 
Progeniem sed enim Troiano a sanguine duci 
audierat Tyrias olim quae uerteret arces; 
hinc populum late regem belloque superbum 
uenturum excidio Libyae; sic uoluere Parcas. 
Canto as lutas e o herói3 que, forçado pelo destino 
a fugir do solo pátrio, partiu das praias de Troia e 
chegou primeiro a Lavínio, no litoral da Itália. 
Muito o maltrataram, em terra e mar, as forças 
celestes, por causa do ódio da impiedosa Juno. 
Muito também sofreu na guerra, enquanto 
edificava a cidade e introduzia no Lácio os deuses 
de Troia: essa é a origem do povo latino, de 
nossos ancestrais albanos e da altiva e 
inexpugnável Roma. 
Dize-me, ó musa, por que a amargurada rainha 
dos deuses4, contrariada em seus desejos, foi 
levada a desencadear tantas desgraças sobre um 
varão de insignes virtudes, submetendo-o a tantos 
trabalhos e provações? Há tanta cólera assim no 
coração dos deuses? 
Cartago foi uma antiga cidade, colônia dos 
fenícios de Tiro, situada muito distante da Itália e 
da foz do Tibre, rica e duramente adestrada na 
arte da guerra. Dizem que Juno preferia Cartago a 
qualquer outro lugar do mundo, até mesmo a 
Samos5. Ali estavam as suas armas, ali o seu 
carro. O grande desejo e empenho da deusa eram 
ver Cartago, se o destino permitisse, tornar-se a 
sede do Império e a capital do mundo. Juno, 
porém, estava preocupada porque ouvira dizer 
que, algum dia, um descendente da raça troiana 
haveria de destruir a cidade de Cartago e que 
agora deveria chegar, para a ruína da África, um 
povo conquistador e valoroso na guerra: era o que 
vaticinavam as Parcas6. 
(Tradução de Domingos P. Cegalla) 
 
3 Herói. Eneias. Segundo a lenda, depois da queda de Troia, Eneias veio com um grupo de troianos para a 
Itália. Esses troianos, mesclando-se com os autóctones, deram origem ao povo latino. O povoado de Lavínio 
estava situado perto da foz do Tibre, onde Eneias aportou. 
4 A rainha dos deuses. Juno. Ela queria que Cartago, e não Roma, se tornasse a capital do mundo. 
5 Samos. Ilha do mar Egeu, onde Juno tinha um templo e era venerada. 
6 Parcas. Deusas do destino. Segundo a mitologia, teciam, enrolavam e também cortavam o fio da vida dos 
homens. 
Introdução à Língua Latina 
 
 28 
5.3) Separação silábica 
 
É importante saber separar em sílabas as palavras para, além de pronunciá-las 
melhor, determinar mais facilmente quando a sílaba é longa ou breve. Basicamente, 
separam-se as sílabas como fazemos com as palavras da língua portuguesa, observando 
apenas algumas. 
 
Particularidades: 
 
5.3.1) Não se separam os ditongos: ae, oe, au, eu (às vezes, ai e oi, em palavras 
arcaizantes). Mas, atenção, quando ae e oe não formam ditongo, algumas edições de 
textos latinos fazem recair sobre o e um trema, marcando a diérese. Essa marcação, 
contudo, é mais frequente na tradição escolástica, isto é, romana. Ex.: aër (ar), poëta 
(poeta). 
 
5.3.2) Quando duas ou mais consoantes estiverem entre duas vogais, a primeira pertence 
à sílaba anterior, e as demais, à seguinte. Ex.: im-ber (chuva), ag-men (marcha), cas-tus 
(casto), con-sul (cônsul), pig-nus (penhor). 
 
Contudo, se o grupo consonantal é constituído por uma oclusiva (p, b; t, d; c, g) ou f 
seguidas de líquida (r, l), as consoantes vão todas para a sílaba seguinte. Ex.: pa-tres 
(pais), du-plex (dobro), res-plen-de-re (brilhar), dis-ci-pli-na (disciplina), A-fri-ca 
(África). 
 
OBS. 1: Há certa omissão (e até divergência) entre as gramáticas latinas 
quanto à regra que acabamos de explicitar. Algumas optam pelo 
procedimento de não separar encontros consonantais que possam formar 
palavraslatinas (sc, scr, sp, st, str, etc.). Porém, ficamos com a opção da 
maioria dos autores, especialmente dos mais recentes, como Fucecchi & 
Graverini (2009), de quem seguimos o posicionamento aqui adotado. 
 
OBS. 2: Nos casos das palavras compostas, prevalece a divisão a partir da 
etimologia (cf. item 5.3.4, abaixo). Assim: re-sto, in-stau-ro, ob-li-no, ha-ru-
spex, lec-ti-ster-ni-um. 
 
5.3.3) Letras iguais, sílabas diferentes: bel-lum (guerra), Grac-chus (Graco). 
 
5.3.4) As palavras compostas, dividem-se pelos componentes: post-ea, praeter- eo, dis-
tri-bu-e-re. Evidentemente, para este caso, só conhecendo um pouco mais a língua. Veja 
mais exemplos: ob-ligare (ob-li-ga-re), sub-actus (sub-ac-tus), sub-eo (sub-e-o). 
E ainda: ob-lectatio, in-cendere, prae-ficio, ad-eo, prae-fectura, circum-ire, sub-ornare, 
ad-haeresco, in-eptus, in-explicabilis, post-meridianus, prod-e-o. 
 
5.3.5) A letra i, diante de vogal, isto é, quando for semiconsoante /j/, não formará sílaba 
sozinha. Exemplo: Iunonis (Iu-no-nis, e não *I-u-no-nis); iam (monossílabo, e não 
dissílabo: *i-am), iudex (iu-dex, e não *i-u-dex); mas Italiam (I-ta-li-am), pois aí o i é 
pronunciado e usado simplesmente como vogal. O mesmo vale para a letra u, quando for 
semiconsoante /w/. Exemplo: auis (a-uis, e não *a-u-is), auete (a-ue-te, e não *a-u-e-te), 
iuuare (iu-ua-re, e não *i-u-uare nem *iu-u-are). 
 
Carlos Renato R. de Jesus 
 
 29 
5.3.6) Os encontros gu e qu nunca se separam. Constituem articulatoriamente um único 
fonema (/gw/ e /kw/, labiovelares) não incidindo sobre o u, por exemplo, nenhum 
elemento prosódico, isto é, ele não pode ser considerado uma vogal nem longa nem breve 
(cf. adiante). Do mesmo modo, e pelo mesmo motivo, ficam sempre na mesma sílaba: 
lin-gua (língua), lo-quor (eu falo), un-guo, co-quo (eu cozinho), quo-que (também), pin-
gues-co (engordar). 
 
OBS.: Contudo, por razões métricas, exclusivamente no ambiente da poesia, portanto, é 
possível que o u, em posição consonântica, valha como vogal. É o caso de ré-li-quus e 
re-lí-cŭ-us e de sil-ua e si-lŭ-a, etc. Nos demais casos, o u é vocálico: e-xí-gŭ-us e e-xi-
gú-ĭ-tas, etc. Além disso, quando o grupo gu + vogal é precedido de n, é inseparável: in-
guen, ín-gui-nis, etc. 
 
Separe em sílabas: 
 
donatio (doação): __________________ 
scriptus (escrito): __________________ 
rosae (rosas): _____________________ 
magnus (grande): __________________ 
somnus (sono): ____________________ 
Australia (Austrália): _______________ 
quaestio (pergunta): ________________ 
fungus (cogumelo): _________________ 
rector (condutor):__________________ 
aeuum (tempo) : ___________________ 
omnis (todo):______________________ 
optio (opção):_______________________ 
praecurro (ultrapassar):_______________ 
inuentio (invenção): _________________ 
nouem (nove): ______________________ 
uehemens (veemente):________________ 
laqueus (laço): _____________________ 
causticus (caústico): _________________ 
poenalis (penal): ____________________ 
uitium (vício): ______________________ 
diuitiarum (das riquezas): _____________ 
actio (ação): _______________________ 
 
5.4) Prosódia 
 
 Prosódia é uma palavra de origem grega que significa “acento”, “modulação da 
voz” (πρός + ᾠδή, de onde ad + cantum > ac +cantum > accentum > acento). Prosódia é 
a parte da gramática que ensina a conhecer a quantidade ou acento das sílabas nas palavras 
em relação à arte de pronunciar corretamente a poesia, no caso do latim e do grego. Estava 
vinculada, portanto, exclusivamente às técnicas e ao ritmo poético. O som das vogais 
(soantes) apresenta dois aspectos: a quantidade e a intensidade. A intensidade envolve 
mais propriamente a proeminência da sílaba (diríamos, em português, sílabas ‘tônica’ e 
‘átona’), e a quantidade é a duração (tempo despendido na pronuncia da vogal) que todas 
as vogais (assim como as consoantes) podem apresentar, isto é, podem ser longas ( – ) ou 
breves (  ). Mas como linguagem consiste na combinação/articulação de sons, a 
quantidade das vogais não deve ser considerada em si mesma, mas na sílaba, resultando, 
assim, numa quantidade silábica. 
 
Desta maneira: 
Introdução à Língua Latina 
 
 30 
Quantidade: sílaba longa ( – ) mácron → amīcus (amigo) 
 (duração) sílaba breve (  ) braquia → mulĭer (mulher) 
 
Intensidade: sílaba tônica e sílaba átona 
 
 A menor unidade de tempo despendido para a pronúncia da sílaba era chamada de 
mora (µ). Uma sílaba longa apresenta o dobro de tempo de uma silaba breve, ou seja, 
enquanto uma sílaba breve apresenta uma mora, a sílaba longa apresenta duas moras. Esse 
fato era bem conhecido já na Antiguidade, conforme atesta Quintiliano: longam esse 
duorum temporum, breuem unius etiam pueri sciunt (“até mesmo as crianças sabem que 
a sílaba longa tem dois tempos, e a breve, apenas um” – Inst. orat. 9, 4, 47). 
 
Assim: 
 
 → uma mora (µ) 
 ou – → duas moras (µµ) 
 → uma sílaba longa equivale a duas breves (µµ) 
 
Quantidade: Variação que a vogal pode ter quanto à duração do tempo despendido em 
sua pronúncia. Aprenderemos, por enquanto, apenas algumas regras prosódicas para 
identificar se a sílaba é longa ou breve. Isso facilitará na leitura posterior, relativamente 
correta de textos não marcados. 
Em latim, as vogais são breves ou longas por natureza e por posição: 
 
São longas: 
 
¨ Por natureza: quando contêm ditongo (ae/ai, oe/oi, au, eu). Ex.: cāedo (caio), 
pōena (pena), āudio (ouço), sēu (ou). 
 
¨ Por posição: quando a vogal é seguida de duas ou mais consoantes ou de X, Z e I 
(/j/). Ex.: hōstis (inimigo), cārmen (canto), nōx (noite), gāza (tesouro), Trōia 
(Troia). 
 
Serão breves por posição se: 
 
¨ uma vogal estiver antes de outra vogal, mesmo que haja um h entre elas. Ex.: pŭer 
(menino), omnĭa (tudo), trăho (arrasto). 
 
OBS. 1: Há, evidentemente, mais regras de quantidade silábica. Por enquanto, veremos 
apenas essas três acima. 
A quantidade silábica é muito importante: 
a) como sinal distintivo de diferentes valores morfológicos: 
rosā – ablativo de “rosa” ¹ rosă – nominativo de “rosa” 
lĕgit – presente (lê) ¹ lēgit – pret. perfeito (leu) 
pōpulus – o povo ¹ pŏpulus – uma espécie de árvore 
mālum – o mal ¹ mălum – maçã 
b) e, sobretudo, por constituir o fundamento do ritmo e da métrica da poesia e da prosa. 
 
Carlos Renato R. de Jesus 
 
 31 
5.5) Acentuação 
 
A quantidade é importante também porque regula a posição do acento latino. 
Desde o período clássico, prevaleceu o que viria a ser chamado de “regra da penúltima”, 
isto é, a propensão a acentuar apenas a penúltima ou a antepenúltima sílaba dos vocábulos 
latinos. Essa parece ter sido a regra seguida por muito tempo, mesmo após o período 
clássico, uma vez que também o gramático Donato (séc. IV d.C.) assim se posicionava a 
respeito: 
 
In trisyllabis et tetrasyllabis et deinceps, si paenultima correpta fuerit, 
acuemus antepaenultimam, ut Tullius, Hostilius; si paenultima (...) longa 
fuerit, ipsa acuetur. (Ars Grammatica, GLK 1, 4, p. 371) 
 
Nos trissílabos, tetrassílabos ou demais tipos de vocábulos, se a 
penúltima for breve, acentuaremos a antepenúltima, como Tullius e 
Hostilius; se a penúltima (...) for longa, a mesma será acentuada. 
 
Assim, nenhuma palavra latina tem o acento na última sílaba; nas polissilábicas, 
o acento nunca vai além da antepenúltima sílaba. 
 
Ex: cón-fi-cit, con-fé-cit, uí-ta, uí-ue-re. 
 
Em outras palavras, em latim, só existem palavras paroxítonas ou proparoxítonas. 
 
Nas polissílabas o acento cai: 
 
a) Na penúltima se esta for longa por natureza ou por posição. 
 
Ex.: a-du-lḗ-scens, a-du-le-scḗn-tis, o-ra-ti-ṓ-nes. 
 
b) Na antepenúltima, se a penúltima for breve. 
 
Ex.: cla-mó-rĭ-bus, a-du-le-scén-tĭ-bus, mú-sĭ-ca, ui-o-lén-tĭ-a. 
 
 Como se pode ver, o que determina o acento tônico em latim é a quantidade da 
penúltima em palavras plurissilábicas. Entretanto, não é o fato de ser longa ou breve que 
faz umasílaba ser tônica ou átona. Uma sílaba pode ser breve e ainda assim ser tônica. 
 
Ex.: I-tắ-lĭ-am, bḗl-lum, etc. 
 
*** 
 
 
EXERCÍCIO 
 
1) Separe em sílabas: 
 
a) cognosco (co+gnosco): ____________ 
b) domesticus: ______________________ 
c) patria: __________________________ 
d) prouinciae: ______________________ 
Introdução à Língua Latina 
 
 32 
e) laudo: __________________________ 
f) abigo (ab+igo): ___________________ 
g) uenio: __________________________ 
h) subduco (sub+duco):_______________ 
i) poena: __________________________ 
j) aequitas: ________________________ 
k) sanctus: _________________________ 
l) praefectus (prae+fectus):____________ 
m) patientia: _______________________ 
n) aethereus: _______________________ 
o) aequalis: ________________________ 
p) sanctior: ________________________ 
q) quatiunt: ________________________ 
r) istius: __________________________ 
s) atticus: _________________________ 
t) factio: __________________________ 
u) uitium: _________________________ 
v) oratio: __________________________ 
w) laetitia: _________________________ 
x) petieram: ________________________ 
y) pyrrhides: _______________________ 
z) grauitas: ________________________ 
2) Com base na quantidade da penúltima sílaba, classifique as palavras abaixo quanto à 
posição do acento tônico: 
 
a) bestiŏla: ________________________ 
b) orīgo: __________________________ 
c) examĭnis: _______________________ 
d) transfŭga: ______________________ 
e) cupīdo: _______________________ 
f) collabōro: _____________________ 
g) facilĭtas: ______________________ 
h) signĭfer: _______________________ 
i) dilĭgens: ________________________ 
j) sententiae: ______________________ 
k) uectīgal: ________________________ 
l) accīdo: _________________________ 
m) arbĭter: _________________________ 
n) parens: _________________________ 
o) tutīus: __________________________ 
p) extraho: ________________________ 
q) gratuītus: _______________________ 
r) tribūnal: ________________________ 
s) indulgēre: _____________________ 
t) astronomia: ____________________ 
u) facultas: _______________________ 
v) intellectus: _____________________ 
w) astrologia: _____________________ 
x) palaestra: _______________________ 
y) amoenus: ______________________ 
z) praefectus: _____________________ 
 
 
 
Carlos Renato R. de Jesus 
 
 33 
3) No texto latino a seguir, separe em sílabas, marque as sílabas longas e breves (quando possível) 
e classifique as palavras com mais de duas sílabas quanto à posição da sílaba tônica: 
 
Catulli carmen LI 
 
Ille mi par esse deo uidetur, 
ille, si fas est, superare diuos, 
qui sedens aduersus identidem te 
spectat et audit 
 
dulce ridentem, misero quod omnis 
eripit sensus mihi: nam simul te, 
Lesbia, aspexi, nihil est super mi 
uocis in ore, 
 
lingua sed torpet, tenuis sub artus 
flamma demanat, sonitu suopte 
tintinant aures, gemina et teguntur 
lumina nocte. 
 
Otium, Catulle, tibi molestum est: 
otio exsultas nimiumque gestis: 
otium et reges prius et beatas 
perdidit urbes. 
 
Poema 51 de Catulo 
 
Aquele me parece semelhante a um Deus, 
ele, se é permitido, parece-me superar os deuses, 
quando está sentado à tua frente 
observando e ouvindo, sem cessar, 
 
o teu doce riso, que a mim, miserável, 
arrebata todos os sentidos: porque logo que te vi, 
Lésbia, nada me restou 
para dizer 
 
mas a língua retrai-se, uma leve chama 
alastra debaixo do corpo, com seu próprio som 
retinem os ouvidos e por uma dupla noite 
são cobertos os olhos. 
 
O ócio, Catulo, é-te prejudicial: 
com o ócio regozijas e exultas demasiado, 
o ócio outrora arruinou reis 
e prósperas cidades. 
 
*** 
 
 
6) INTRODUÇÃO AO SISTEMA VERBAL 
 
6.1) Tempos do infectum (ativo) 
 
 Os verbos constituem a categoria mais complexa da língua. Neste primeiro 
momento, você vai aprender apenas alguns elementos da estrutura verbal do latim, os 
chamados tempos do infectum (“não feito”, “inacabado”). Os verbos latinos apresentam 
muitas semelhanças com os do português, com tempos e modos também presentes em 
nossa língua. 
 De imediato é preciso saber que existem 4 conjugações, que assim se apresentam 
na maioria dos dicionários: 
 
 1o 2o 3o 4o 5o 
 Amo, as, āre, aui, atum. “Amar” → 1ª conjugação (C1) 
 Deleo, es, ēre, eui, etum. “Destruir” → 2ª conjugação (C2) 
 Mitto, is, ĕre, misi, missum. “Enviar” → 3ª conjugação (C3) 
 Audio, is, īre, iui, itum. “Ouvir” → 4ª conjgação (C4) 
Introdução à Língua Latina 
 
 34 
Pela ordem, então, temos as seguintes formas7: 
 
1o: p1 idpr (primeira pessoa do singular do presente do indicativo). 
2o: p2 idpr (desinência da segunda pessoa do singular do presente do indicativo). 
3º: ifpr (infinitivo presente) – é pelo infinitivo que se determina à qual conjugação o verbo 
pertence. Atente para as diferenças entre a C2 e a C3. 
4o: p1 idpt2 (primeira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo). 
5º: sp (supino) – trata-se de uma forma nominal ausente no português, que será estudada 
posteriormente. 
 
 
 
Para conjugar qualquer verbo nos tempos e modos latinos, basta acrescentar ao 
radical as desinências correspondentes. Esse radical estará na maioria dos dicionários 
registrado como nos exemplos da página anterior. Veja que para conjugar os verbos você 
terá que partir do radical do presente do indicativo, o qual aparece na primeira posição 
das formas registradas no dicionário. Assim, se você quiser conjugar, por exemplo, o 
verbo amo (amar), pegue o radical am- e acrescente as desinências dos tempos verbais 
pertinentes. 
Compare com o português: 
 
Pessoa verbal 
 ↓ 
Presente do indicativo 
Português Latim 
P1 am + Ø - o = amo am + Ø - ō = amo 
P2 am + a - s = amas am + ā - s = amas 
P3 am + a - Ø = ama am + a - t = amat 
P4 am + a - mos = amamos am + ā - mus = amamus 
P5 am + a - is = amais am + ā - tis = amatis 
P6 am + a - m = amam am + a - nt = amant 
 
Evidentemente, a conjugação dos verbos obedecerá ao critério das formas 
específicas dos tempos e modos de cada paradigma. Vamos começar, por enquanto, 
apenas com alguns tempos do infectum. Abaixo, o paradigma de conjugação dos tempos 
do presente do indicativo (idpr), do pretérito imperfeito do indicativo (idpt1) e do 
imperativo presente (ippr), e ainda o infinitivo presente (ifpr). 
 
 
 
 
7 As abreviaturas utilizadas para identificar as formas e pessoas verbais neste manual são aquelas propostas 
por Normelio Zanotto em Estrutura morfológica da língua portuguesa. 6ª ed. Caxias do Sul: Ibral, 2013. 
Nas ocorrências em que a nomenclatura latina não corresponde às abreviaturas utilizadas por Zanotto (como 
é o caso de algumas formas nominais latinas, por exemplo), criamos novas abreviações, à maneira da 
referida proposta. 
O quadro das desinências número-pessoais e modo-temporais 
de todas as formas verbais latinas estão em uma tabela no 
apêndide deste manual. É muito importante que você a saiba 
utilizar para fazer a correta morfologia dos verbos do latim. 
 
Carlos Renato R. de Jesus 
 
 
35 
Modo e tempo C1 C2 C3 (consonantal) C4 
Idpr 
(amo, destruo, 
leio, ouço) 
am - ō 
am - ā - s 
am - a - t 
am - ā - mus 
am - ā - tis 
am - a – nt 
del - ĕ - ō 
del - ē - s 
del - e - t 
del - ē - mus 
del - ē - tis 
del - e - nt 
leg - ō 
leg - i - s 
leg - i - t 
leg - ĭ - mus 
leg - ĭ - tis 
leg - u - nt 
aud - ĭ - ō 
aud - ī - s 
aud - i - t 
aud - ī - mus 
aud - ī - tis 
aud - ĭ - u - nt 
Idpt1 
(amava, 
destruía, lia, 
ouvia) 
 
am - ā - ba - m 
am - ā - ba - s 
am - ā - ba - t 
am - ā - bā - mus 
am - ā - bā - tis 
am - ā - ba – nt 
del - ē - ba - m 
del - ē - ba - s 
del - ē - ba - t 
del - ē - bā - mus 
del - ē - bā - tis 
del - ē - ba - nt 
leg - ē - ba - m 
leg - ē - ba - s 
leg - ē - ba - t

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