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33 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS Unidade II 5 PROTESTO DE TÍTULOS DE CRÉDITO O protesto é regulamentado pela Lei n. 9.492/1997, ou Lei de Protestos, e sua definição está no art. 1º. Nos termos desse dispositivo, será o protesto um ato formal e solene, que prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos que corroboram uma dívida. Produz juridicamente o efeito de dar publicidade da inadimplência ou do descumprimento. O protesto pode ser iniciado pelos motivos descritos no art. 21: • falta de pagamento; • falta de aceite; • falta de devolução. Há algumas etapas a serem transpostas para a realização e consolidação do protesto. Primeiramente, o título passará pela etapa do apontamento, para que o devedor seja notificado e possa efetuar o pagamento devido em prazo especificado. Depois dessa etapa, sem o adimplemento correspondente, haverá o registro ou lavratura do protesto. Cumpre dizer que, na letra do art. 202, inciso III, CC/2002, o protesto gera a interrupção da prescrição do título: Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar‑se‑á: [...] III – por protesto cambial (BRASIL, 2002). Para o devido esclarecimento, o parágrafo único do dispositivo anterior recorda que a prescrição interrompida recomeça a correr integralmente da data do ato que a interrompeu ou do último ato do processo para a interromper. Em todos os títulos de crédito, via de regra, o protesto poderá ser realizado em virtude da falta de pagamento no vencimento e, a depender do título, devido à falta de aceite pelo sacado. Nesse raciocínio, o art. 44 da LUG estabelece algumas diretrizes muito importantes quanto às condições que propiciam o protesto: 34 Unidade II Art. 44. A recusa do aceite ou de pagamento deve ser comprovada por um ato formal (protesto por falta de aceite ou falta de pagamento). O protesto por falta de aceite deve ser feito nos prazos fixados para a apresentação ao aceite. Se, no caso previsto na alínea 1ª do art. 24, a primeira apresentação da letra tiver sido feita no último dia do prazo, pode fazer‑se ainda o protesto no dia seguinte. O protesto por falta de pagamento de uma letra pagável em dia fixo ou a certo termo de data ou de vista deve ser feito num dos dois dias úteis seguintes àquele em que a letra é pagável. Se se trata de uma letra pagável à vista, o protesto deve ser feito nas condições indicadas na alínea precedente para o protesto por falta de aceite. O protesto por falta de aceite dispensa a apresentação a pagamento e o protesto por falta de pagamento. No caso de suspensão de pagamentos do sacado, quer seja aceitante, quer não, ou no caso de lhe ter sido promovida, sem resultado, execução dos bens, o portador da letra só pode exercer o seu direito de ação após apresentação da mesma ao sacado para pagamento e depois de feito o protesto. No caso de falência declarada do sacado, quer seja aceitante, quer não, bem como no caso de falência declarada do sacador de uma letra não aceitável, a apresentação da sentença da declaração de falência é suficiente para que o portador da letra possa exercer o seu direito de ação (BRASIL, 1966). Regra geral, o cartório competente para o protesto será o do local indicado para o aceite ou para o pagamento. A Lei de Protestos estabelece algumas peculiaridades para sanar questões como competência e domicílio. Nas letras domiciliadas, recomenda‑se o tabelionato do domicílio do sacado e o do local indicado, quando o protesto se der pela falta de pagamento. Há ainda o do local indicado pelo aceitante do pagamento, quando se tratar de aceite domiciliado. A finalidade do instituto do protesto é explicada nos seguintes dizeres, segundo Gomes: A existência de protesto de título em nome de determinada pessoa gera uma clara presunção de impontualidade, servindo como prova de sua constituição em mora, e pode acarretar inegáveis restrições na esfera creditícia àquele devedor cujo título seja protestado, além dos efeitos decorrentes da modalidade de protesto adotada (2018, p. 238). 35 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS 5.1 Procedimento aplicável ao protesto O protesto costuma ser esquematizado em três fases distintas: registro, intimação para o pagamento e, finalmente, lavratura. Há pensadores que mencionam duas etapas, mesclando o registro e a intimação como uma fase. Assim, Tomazette divide o procedimento de protesto em três fases: pedido, intimação e lavratura do protesto. Já Gomes descreve o procedimento de protesto em dois estágios: O protesto de um título, como regra geral, está sujeito a duas etapas. Primeiramente ocorre o apontamento do título para protesto, com a notificação do devedor a fim de que efetue o pagamento do título no prazo especificado. Decorrido o prazo sem o devido pagamento, ocorre então a lavratura (ou o registro) do protesto, com a sua efetivação perante os registros existentes no respectivo cartório de protestos. Assim, conforme o art. 12 da Lei n. 9.492/1997, o protesto deve ser lavrado dentro de três dias úteis contados do apontamento do título, devendo, no intercurso desse prazo, ser efetuada a intimação do devedor para que este proceda ao respectivo pagamento (2017, p. 238, grifo do original). O art. 22 da Lei de Protestos elenca os requisitos para a realização do registro do processo, que, como veremos, são muitos, demonstrando um razoável rigor acerca do expediente: • data e número de protocolização; • nome do apresentante e endereço; • reprodução ou transcrição do documento ou das indicações feitas pelo apresentante e declarações nele inseridas; • certidão das intimações feitas e das respostas eventualmente oferecidas; • Indicação dos intervenientes voluntários e das firmas por eles honradas; • A anuência do portador ao aceita por honra; • Nome, número do documento de identificação do devedor e endereço; • Data e assinatura do tabelião ou de seus substitutos ou escreventes autorizados. O art. 9º esclarece que não serão observadas prescrição ou caducidade: 36 Unidade II Art. 9º Todos os títulos e documentos de dívida protocolizados serão examinados em seus caracteres formais e terão curso se não apresentarem vícios, não cabendo ao Tabelião de Protesto investigar a ocorrência de prescrição ou caducidade. Parágrafo único. Qualquer irregularidade formal observada pelo Tabelião obstará o registro do protesto (BRASIL, 1997). Os termos dos protestos lavados decorrentes da falta de pagamento, aceite ou devolução serão registrados em um único livro, contendo anotações do tipo e do motivo do protesto (art. 23). No art. 24 da mesma lei, temos menção que o deferimento da concordata não impedirá o protesto. A concordada, entretanto, foi substituída pela recuperação judicial da Lei de Falências (Lei n. 11.101/2005), não existindo mais. Nesta nova norma para a falência e recuperação judicial de empresas, os protestos realizados poderão instruir como documentação ou prova para instaurar recuperação judicial ou a própria falência. Quanto à intimação, encontra‑se regulamentada pelos arts. 14 e 15 da Lei de Protestos. A sua realização é, a princípio, livre; os já mencionados dispositivos mencionam via correspondência (aviso de recebimento) e por intermédio de edital. Nos termos da lei, temos, portanto, as seguintes disposições: Art. 14. Protocolizado o título ou documento de dívida, o tabelião de protesto expedirá a intimação ao devedor, no endereço fornecido pelo apresentante do título ou documento, considerando‑se cumprida quando comprovada a sua entrega no mesmo endereço. § 1º A remessa da intimação poderá ser feita por portador do próprio tabelião, ou por qualquer outro meio, desde que o recebimento fique assegurado e comprovado através de protocolo, aviso de recepção (AR) ou documento equivalente. § 2º A intimação deverá conter nome e endereço do devedor, elementos de identificação do título ou documento de dívida, e prazo limite para cumprimento da obrigação notabelionato, bem como número do protocolo e valor a ser pago. Art. 15. A intimação será feita por edital se a pessoa indicada para aceitar ou pagar for desconhecida, sua localização incerta ou ignorada, for residente ou domiciliada fora da competência territorial do tabelionato, ou, ainda, ninguém se dispuser a receber a intimação no endereço fornecido pelo apresentante. § 1º O edital será afixado no tabelionato de protesto e publicado pela imprensa local onde houver jornal de circulação diária. 37 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS § 2º Aquele que fornecer endereço incorreto, agindo de má‑fé, responderá por perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções civis, administrativas ou penais (BRASIL, 1997). Tomazette ressalta peculiaridade atinente à intimação realizada via correspondência: A princípio, tal intimação não precisa ser pessoal, sendo suficiente a entrega do aviso no endereço indicado (Lei n. 9.492/97 – art. 14). Todavia, para fins de pedido de falência, o STJ já se manifestou no sentido de que é essencial a identificação da pessoa que recebeu a intimação, afirmando que a gravidade de tal protesto exige uma certeza maior de que a intimação foi efetivamente realizada (STJ – Súmula 361) (2017, p. 219). Acerca do prazo, continua: A lei não estabelece o prazo que será dado ao intimado, mas define que o protesto deverá ser registrado em três dias úteis da protocolização do título ou documento de dívida (Lei n. 9.492/97 – art. 12). Na contagem desse prazo, exclui‑se o dia da protocolização e inclui‑se o do vencimento. No caso de a intimação ocorrer no último dia do prazo, ou depois desse prazo, o protesto poderá ser lavrado no primeiro dia útil seguinte. Essa é orientação do item 12.4.1 do Código de Normas da Corregedoria Geral de Justiça do TJPR e do item 12 do Provimento da Corregedoria Geral de Justiça do TJSP. Em qualquer caso, o prazo será definido na própria intimação. No âmbito do Distrito Federal, o Provimento Geral da Corregedoria do TJDFT estabelece que o prazo de três dias úteis será contado da ciência da intimação ou da publicação do edital (art. 321). No mesmo sentido, estão o art. 408 do Provimento da Corregedoria Geral do TJAP, o art. 741 da Consolidação Normativa Notarial e Registral do TJRS e o art. 23 do Código de Normas da Corregedoria Geral da Justiça do Estado de Santa Catarina. Embora pareça contrária à lei, é certo que a estipulação da contagem do prazo a partir da intimação é mais justa para o intimado, na medida em que lhe dá algum prazo para a tomada de medidas. Dentro desse prazo, ele poderá obter os recursos necessários para o pagamento, ou poderá obter a sustação do protesto judicialmente. Assim, afastar a contagem do prazo a partir da intimação pode até representar uma violação ao acesso à justiça (2017, p. 219‑220). Após realizada a intimação, não haverá lavratura do protesto se houver: • o pagamento; • aceitação do título; 38 Unidade II • devolução do título; • datação do aceite. Porém, se tais medidas não forem tomadas, o cartorário realizará a devida lavratura, consolidando então o protesto do título. Lembrete A concordata é um instituto já não existente mais no ordenamento jurídico brasileiro, sendo substituído pela recuperação judicial da Lei de Falências (lei nº 11.101/2005). Outrora mencionado o art. 9º da Lei de Protestos, devemos observar que, no tocante à caducidade ou prescrição, é possível que títulos prescritos ou caducados sejam apresentados a protesto, já que o cartorário não precisa observar tais condições. Observação O tabelião não é obrigado a observar a ocorrência da prescrição ou da caducidade. Considerando a efetivação da prescrição, desaparecerá a certeza, liquidez e exigibilidade da letra creditícia prescrita, tornando o direito de protesto inútil. Para esclarecer, torna‑se necessário lembrarmos do art. 783 do CC/2002: Art. 783. A execução para cobrança de crédito fundar‑se‑á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível. Saiba mais Para saber mais, leia: ABRÃO, C. H. Curso de direito comercial. Rio de Janeiro: Forense, 2017. AZEVEDO, S. N. O protesto de títulos e outros documentos de dívida: passo a passo, no dia a dia, em conformidade com o novo Código Civil brasileiro e a nova Consolidação Notarial e Registral. 2. ed. Porto Alegre: PUCRS, 2008. 39 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS 6 TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE 6.1 Letra de câmbio O art. 1º do Decreto n. 2.044/1908 define letra de câmbio como ordem de pagamento que possua os seguintes requisitos enumerados nos respectivos incisos do dispositivo mencionado: Art. 1º A letra de câmbio é uma ordem de pagamento e deve conter requisitos, lançados, por extenso, no contexto: I – A denominação “letra de câmbio” ou a denominação equivalente na língua em que for emitida. II – A soma de dinheiro a pagar e a espécie de moeda. III – O nome da pessoa que deve pagá‑la. Esta indicação pode ser inserida abaixo do contexto. IV – O nome da pessoa a quem deve ser paga. A letra pode ser ao portador e também pode ser emitida por ordem e conta de terceiro. O sacador pode designar‑se como tomador. V – A assinatura do próprio punho do sacador ou do mandatário especial. A assinatura deve ser firmada abaixo do contexto (BRASIL, 1908). Assim, a ordem de pagamento é emitida pelo sacador contra o sacado, que efetuará o pagamento ao beneficiário da quantia transcrita no título. Há, na dinâmica da circulação do título, três agentes: • sacador: titular de um direito cambial ou emitente do saque cambial; • sacado: quem se submete à obrigação cambiária; • beneficiário: o tomador. Gomes (2018) enumera as principais características da letra de câmbio do seguinte modo: a) a relação jurídica existente em uma letra de câmbio é nitidamente triangular, envolvendo obrigatoriamente três posições jurídicas distintas, a saber: sacador, sacado e beneficiário; b) tal relação, entretanto, não obstante necessitar das três posições referidas, pode conter a mesma pessoa, por exemplo, como sacador e beneficiário de uma letra de câmbio, conforme o art. 3º (Anexo I) da Lei Uniforme; 40 Unidade II c) é um título abstrato, pois a sua emissão não exige uma causa legal específica, não necessitando, assim, trazer expresso o motivo que lhe deu origem; d) no Brasil, a letra de câmbio somente pode ser emitida como título à ordem; e e) a despeito de não ser o principal pagador, uma vez efetuado o saque cambial, o sacador se vincula ao pagamento da letra de câmbio, conforme previsto no art. 9º (Anexo I) da Lei Uniforme. A LUG elencou os seguintes elementos para a composição de uma letra de câmbio: Art. 1º A letra contém: 1 – A palavra “letra” inserta no próprio texto do título é expressa na língua empregada para a redação desse título; 2 – O mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada; 3 – O nome daquele que deve pagar (sacado); 4 – A época do pagamento; 5 – A indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento; 6 – O nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga; 7 – A indicação da data em que, e do lugar onde a letra é passada; 8 – A assinatura de quem passa a letra (sacador). Art. 2º O escrito em que faltar algum dos requisitos indicados no artigo anterior não produzirá efeito como letra, salvo nos casos determinados nas alíneas seguintes: A letra em que se não indique a época do pagamento entende‑se pagável à vista. Na falta de indicação especial, a lugar designado ao lado do nome do sacado considera‑se como sendo o lugar do pagamento e, ao mesmo tempo, o lugar do domicílio do sacado. A letra sem indicação do lugar onde foi passada considera‑se como tendo‑o sido no lugar designado, ao lado do nome do sacador (BRASIL, 1966). Em face do art. 2º, o Supremo Tribunal Federal (STF) sumulou que o credor de boa‑fé poderá complementar a letra cambial antes da cobrança ou do protesto (Súmula 387). Na forma prevista no art. 21, a letra poderá 41 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOSser apresentada ao aceito do sacado, em seu domicílio, pelo portador ou pelo detentor, antes do vencimento. Poderá, ainda, o sacador estipular sua apresentação ao aceite com ou sem prazo fixado (art. 22). Cumpre salientar o mecanismo do “prazo de respiro”, que está previsto no art. 24, em que o sacado poderá pedir que lhe seja apresentada a letra em uma segunda oportunidade, que será o dia seguinte ao da primeira apresentação. Porém, a Lei n. 9.492/1997 determina em seu art. 21, § 5º, que não se poderá tirar protesto por falta de pagamento de letra de câmbio contra o sacado – não aceitante. Sendo previsto, indiretamente, na lei, a possibilidade de haver protesto contra letra de câmbio por falta de aceite. Acerca das formas de pagamento, a matéria é tratada no art. 33 da LUG: Art. 33. Uma letra pode ser sacada: – à vista; – a um certo termo de vista; – a um certo termo de data; Pagável num dia fixado. As letras, quer com vencimentos diferentes, quer com vencimentos sucessivos, são nulas (BRASIL, 1966). A LUG garante ao portador exercer seus direitos de cobrança em ação contra os endossantes, na forma do art. 43: Art. 43. O portador de uma letra pode exercer os seus direitos de ação contra os endossantes, sacador e outros coobrigados: No vencimento: Se o pagamento não foi efetuado. Mesmo antes do vencimento: 1 – Se houve recusa total ou parcial de aceite; 2 – Nos casos de falência do sacado, quer ele tenha aceite, quer não, de suspensão de pagamentos do mesmo, ainda que não constatada por sentença, ou de ter sido promovida, sem resultado, execução dos seus bens. 3 – Nos seus casos de falência do sacador de uma letra não aceitável (BRASIL, 1966). 42 Unidade II Tanto no Decreto n. 2.044/1908 quanto na LUG, é admitida a duplicata de uma letra de câmbio quando houver destruição ou retenção indevida do título original. Nesse sentido, o art. 16 da primeira norma traz os seguintes dispositivos: Art. 16. O sacador, sob pena de responder por perdas e interesses, é obrigado a dar, ao portador, as vias de letra que este reclamar antes do vencimento, diferençadas, no contexto, por números de ordem ou pela ressalva, das que se extraviaram. Na falta da diferenciação ou da ressalva, que torne inequívoca a unicidade da obrigação, cada exemplar valerá como letra distinta. § 1º O endossador e o avalista, sob pena de responderem por perdas e interesses, são obrigados a repetir, na duplicata, o endosso e o aval firmados no original. § 2º O sacado fica cambialmente obrigado por cada um dos exemplares em que firmar o aceite. § 3º O endossador de dois ou mais exemplares da mesma letra a pessoas diferentes e os sucessivos endossadores e avalistas ficam cambialmente obrigados. § 4º O detentor da letra expedida para o aceite é obrigado a entregá‑la ao legítimo portador da duplicata, sob pena de responder por perdas e interesses (BRASIL, 1908). Já na LUG, a duplicata da letra de câmbio é mencionada, a seguir, meramente como cópia, na “Seção IX – Da pluralidade de exemplares e das cópias”: Art. 67. O portador de uma letra tem um direito de tirar cópias dela. A cópia deve reproduzir exatamente o original, com os endossos e todas as outras menções que nela figurem. Deve mencionar onde acaba a cópia. A cópia pode ser endossada e avalizada da mesma maneira e produzindo os mesmos efeitos que o original. Art. 68. A cópia deve indicar a pessoa em cuja posse se encontra o título original. Essa é obrigada a remeter o dito título ao portador legítimo da cópia. Se se recusar a fazê‑lo, o portador só pode exercer o seu direito de ação contra as pessoas que tenham endossado ou avalizado a cópia, depois de ter feito constatar por um protesto que o original lhe não foi entregue a seu pedido. 43 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS Se o título original, em seguida ao último endosso feito antes de tirada a cópia, contiver a cláusula: “daqui em diante só é valido o endosso na cópia” ou qualquer outra fórmula equivalente, é nulo qualquer endosso assinado ulteriormente no original (BRASIL, 1966). Por fim, a LUG dispõe sobre o protesto da letra cambiária se dará por: • falta de aceite; • falta de pagamento; • falta de devolução. Lembrete Acabou sendo previsto, indiretamente, em nosso ordenamento jurídico, a possibilidade de haver protesto contra letra de câmbio por falta de aceite. 6.2 Nota promissória O conceito de nota promissória é muito simples: consiste na promessa de realização de pagamento, à vista ou a prazo, como o próprio nome pode sugerir. A LUG estabelece o seguinte rol de requisitos para compor a nota promissória: Art. 75. A nota promissória contém: 1 – Denominação “Nota Promissória” inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redação desse título; 2 – A promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada; 3 – A época do pagamento; 4 – A indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento; 5 – O nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga; 6 – A indicação da data em que e do lugar onde a nota promissória é passada; 7 – A assinatura de quem passa a nota promissória (subscritor) (BRASIL, 1966). Na forma do art. 77, serão aplicáveis às notas promissórias os dispositivos referentes às letras e os concernentes, desde que não sejam contrárias à natureza do título promissório, em especial os artigos 44 Unidade II sobre endosso, aval, vencimento pagamento, disposições sobre quantias a pagar, responsabilidades sobre a assinatura, direito de ação por falta de pagamento, pagamento por intervenção, cópias ou duplicatas, alterações, contagem de prazos e prescrição. Os agentes envolvidos na circulação da nota promissória serão dois, vejamos: o subscritor ou promitente‑devedor, aquele que se submete à promessa de pagamento; e o beneficiário ou promissário‑credor, aquele a quem a promessa se referirá. Acerca do protesto, aplicar‑se‑á o art. 44, mencionado na matéria sobre a letra de câmbio: Art. 44. A recusa de aceite ou de pagamento deve ser comprovada por um ato formal (protesto por falta de aceite ou falta de pagamento). O protesto por falta de aceite deve ser feito nos prazos fixados para a apresentação ao aceite. Se, no caso previsto na alínea 1 do artigo 24, a primeira apresentação da letra tiver sido feita no último dia do prazo, pode fazer‑se ainda o protesto no dia seguinte. O protesto por falta de pagamento de uma letra pagável em dia fixo ou a certo termo de data ou de vista deve ser feito num dos dois dias úteis seguintes àquele em que a letra é pagável. Se se trata de uma letra pagável à vista, o protesto deve ser feito nas condições indicadas na alínea precedente para o protesto por falta de aceite. O protesto por falta de aceite dispensa a apresentação a pagamento e o protesto por falta de pagamento. No caso de suspensão de pagamentos do sacado, quer seja aceitante, quer não, ou no caso de lhe ter sido promovida, sem resultado, execução dos bens, o portador da letra só pode exercer o seu direito de ação após apresentação da mesma ao sacado para pagamento e depois de feito o protesto. No caso de falência declarada do sacado, quer seja aceitante, quer não, bem como no caso de falência declarada do sacador de uma letra não aceitável, a apresentação da sentença de declaração de falência é suficiente para que o portador da letra possa exercer o seu direito de ação (BRASIL, 1966). 6.3 Cheque O cheque é o título de crédito mais popular e de maior circulação no Brasil, embora atualmente aparente estar em desuso. É regulado pela Lei n. 7.357/1985, chamada de Lei do Cheque. Trata‑se de uma ordem direta e incondicional de pagamento realizada pelo titular de conta‑corrente de instituição financeira, na qual o emitente tenha fundos disponíveis, como dinheiro em conta ou linha 45 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS de crédito, para que o banco sacado realize o pagamento do valor expresso no cheque a determinada pessoa (o beneficiário do título). Assim, os agentesenvolvidos na circulação desse título serão: o emitente (passador ou sacador), aquele que é titular da conta‑corrente; o sacado, que é o agente pagador e não devedor, como a instituição financeira; e o beneficiário, ou tomador, aquele a quem o cheque deve ser pago. A Lei do Cheque estabelece os seguintes requisitos, que compõem o título creditício: Art. 1º O cheque contém: I – a denominação “cheque” inscrita no contexto do título e expressa na língua em que este é redigido; II – a ordem incondicional de pagar quantia determinada; III – o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado); IV – a indicação do lugar de pagamento; V – a indicação da data e do lugar de emissão; VI – a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais. Parágrafo único – a assinatura do emitente ou a de seu mandatário com poderes especiais pode ser constituída, na forma de legislação específica, por chancela mecânica ou processo equivalente (BRASIL, 1985). Na literalidade do art. 32, o cheque deverá ser pago à vista. O dispositivo estabelece, ainda, que será pagável no dia da apresentação, mesmo que apresentado para pagamento antes do dia indicado para emissão. A contar da emissão, o cheque deverá ser apresentado para pagamento, no prazo de 30 (trinta) dias, no lugar onde houver de ser pago; ou 60 (sessenta) dias, quando emitido em outro lugar do país ou no exterior (art. 33). A condição principal para realização do pagamento consiste em haver fundos disponíveis na conta‑corrente do banco sacado, verificado no momento da apresentação do cheque para o pagamento: Art. 4º O emitente deve ter fundos disponíveis em poder do sacado e estar autorizado a sobre eles emitir cheque, em virtude de contrato expresso ou tácito. A infração desses preceitos não prejudica a validade do título como cheque. 46 Unidade II § 1º A existência de fundos disponíveis é verificada no momento da apresentação do cheque para pagamento. § 2º Consideram‑se fundos disponíveis: a) os créditos constantes de conta‑corrente bancária não subordinados a termo; b) o saldo exigível de conta‑corrente contratual; c) a soma proveniente de abertura de crédito. Mesmo durante o prazo de apresentação, o emitente e o portador poderão sustar o pagamento, manifestando ao sacado a oposição fundamentada em razões de direito (art. 36). Para ser protestado, o cheque deve apresentar as seguintes condições: • Inexistência de fundos, para ordens de pagamento à vista. O prazo do protesto é de 30 (trinta) dias; • conservação do direito de crédito contra os coobrigados, como o emitente o avalista. Nesse caso, o protesto será facultativo, podendo ser realizado dentro do prazo para a impetração de ação executiva. Na prática brasileira, foi distorcido o sentido do cheque, já que ele é uma ordem de pagamento direta e incondicional, não comportando subordinação a determinados eventos ou condições. Acontece que existe, informalmente, o denominado cheque pré‑datado, mesmo não tendo previsão na legislação. Posteriormente, também foi criada a forma de cheque pós‑datado. Em suma, são convenções realizadas entre emitentes e tomadores, tornando o título de créditos em títulos de promessa condicionada de pagamento, possuindo eficácia executiva extrajudicial. O STJ já determinou que o cheque pré‑datado apresentado antecipadamente caracterizará dano moral. Podemos elencar as seguintes modalidades de cheques: • cheque visado: aquele que a instituição financeira declara a existência de fundos no verso do título, a pedido do emitente ou portador; • cheque administrativo: emitido pelo banco contra si mesmo, em favor de um beneficiário identificado no título, conforme previsto no art. 9º, inciso III, da Lei do Cheque; • cheque de viagem: uma forma obsoleta do cheque administrativo. É assinado pelo beneficiário em pelo menos duas ocasiões: no momento da aquisição e no pagamento em estabelecimento do próprio sacado ou a ele credenciado. Justificava‑se em razão de trocas comerciais e viagens mundiais; 47 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS • cheque cruzado: o emitente ou o credor traçam duas linhas paralelas no anverso, com a finalidade de identificação do beneficiário da ordem de pagamento. Somente poderá ser pago pelo banco sacado ao banco cujo nome estiver entre os traços cruzados; • cheque para ser creditado em conta: o emitente ou o portador determinam a proibição do pagamento em dinheiro em espécie, somente podendo ser pago com crédito em conta‑corrente. 6.4 Duplicata Consiste em um título de crédito destinado a operações de compra e venda de mercadorias ou prestações de serviços com pagamento realizado à vista ou a prazo, representando o crédito originado na mercancia correspondente. Está normatizada pela Lei n. 5.474/1968, a Lei de Duplicatas. A sistemática do título cambiário se encontra no art. 1º, e os requisitos estão presentes no art. 2º, in verbis: Art. 1º Em todo o contrato de compra e venda mercantil entre partes domiciliadas no território brasileiro, com prazo não inferior a 30 (trinta) dias, contado da data da entrega ou despacho das mercadorias, o vendedor extrairá a respectiva fatura para apresentação ao comprador. § 1º A fatura discriminará as mercadorias vendidas ou, quando convier ao vendedor, indicará somente os números e valores das notas parciais expedidas por ocasião das vendas, despachos ou entregas das mercadorias. Art. 2º No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para circulação como efeito comercial, não sendo admitida qualquer outra espécie de título de crédito para documentar o saque do vendedor pela importância faturada ao comprador. § 1º A duplicata conterá: I – a denominação “duplicata”, a data de sua emissão e o número de ordem; II – o número da fatura; III – a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista; IV – o nome e domicílio do vendedor e do comprador; V – a importância a pagar, em algarismos e por extenso; VI – a praça de pagamento; 48 Unidade II VII – a cláusula à ordem; VIII – a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá‑la, a ser assinada pelo comprador, como aceite, cambial; IX – a assinatura do emitente. § 2º Uma só duplicata não pode corresponder a mais de uma fatura. § 3º Nos casos de venda para pagamento em parcelas, poderá ser emitida duplicata única, em que se discriminarão todas as prestações e seus vencimentos, ou série de duplicatas, uma para cada prestação distinguindo‑se a numeração a que se refere o item I do § 1º deste artigo, pelo acréscimo de letra do alfabeto, em sequência. As partes atuantes na circulação do título consistem no sacador ou emitente, e o sacado, a figura do cliente, aquele contra quem a ordem é emitida. Para emitir duplicatas, o sacador deverá manter e escriturar o livro de registro de duplicatas (art. 19). A relevância de tal título, que não passa de uma cópia de nota fiscal, consiste na relevância contábil do custo da mercadoria ou do produto – conta custo da mercadoria vendida (CMV) ou custo do serviço vendido (CSV) –, que determina o valor da conta mercadorias no ativo; faz parte da conta algébrica para determinar a receita obtida com venda e repercute, no fim, nas demonstrações de resultado do exercício, sendo oportuna sua subtração das vendas do exercício para se chegar ao lucro bruto do exercício. Assim, repercutirá posteriormente no cálculo da base de cálculo do imposto de renda de pessoa jurídica (IRPJ) e da contribuição social sobre o lucro líquido (CSLL). De acordo com o art. 13, a duplicata poderá ser levada a protesto nas seguintes hipóteses: • pela falta de aceite; • pela falta de devolução; • falta de pagamento; • o pagamento será efetuado no prazo de trinta dias de seu vencimento. De acordo com o § 3º do art. 889 do CC/2002, que prevê forma virtual de títulos de crédito, despertou na jurisprudência o entendimento de que a realização de protestos e a propositura de ação executivapossam ser fundamentadas sem a existência física da cártula cambial. Na forma do art. 22 da Lei de Duplicatas, o tabelião de protesto poderá conservar em seus arquivos a gravação eletrônica da imagem, cópia reprográfica ou micrográfica do título, dispensando a transcrição literal no registro e no instrumento, sendo, portanto, uma previsão legal para o título protestado virtual. 49 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS 6.4.1 Duplicata eletrônica A recente Lei n. 13.775/2018 dispôs sobre a duplicata na modalidade eletrônica. Observação A lei ora comentada foi publicada no Diário Oficial da União em 21 de dezembro de 2018, com vacatio legis de 120 dias após a sua publicação. Não houve alteração textual da Lei n. 5.474/1968, que dispõe sobre duplicatas. A nova legislação estabelece expressamente, para harmonizar a funcionalidade de ambas as normas e formas de escrituração e emissão, que às duplicatas eletrônicas serão aplicadas subsidiariamente as disposições da Lei de Duplicatas. Assim, de acordo com o art. 7º, a duplicata escritural expedida de forma eletrônica terá eficácia (natureza jurídica) de título executivo extrajudicial, sendo então cobrada em conformidade com a Lei de Duplicatas e com o CC/2002. A emissão da duplicata escritural poderá ser feita de forma eletrônica, por intermédio de lançamento em sistema eletrônico de escrituração gerido por entidades que realizem essas atividades, devidamente autorizadas por órgão ou entidade da administração pública federal direta ou indireta (art. 3º). Quando essa escritura se der por meio da Central Nacional de Registros de Títulos e Documentos, a escrituração será cabida ao oficial de registro do domicílio do emissor da duplicata (art. 3º, § 2º). Assim, lançamentos realizados de forma eletrônica substituirão o Livro de Registro de Duplicatas, da Lei n. 5.474/1968. A seguir, temos o art. 4º da nova lei, estabelecendo alguns requisitos para a escrituração da duplicata eletrônica: Art. 4º Deverá ocorrer no sistema eletrônico de que trata o art. 3º desta Lei, relativamente à duplicata emitida sob a forma escritural, a escrituração, no mínimo, dos seguintes aspectos: I – apresentação, aceite, devolução e formalização da prova do pagamento; II – controle e transferência da titularidade; III – prática de atos cambiais sob a forma escritural, tais como endosso e aval; IV – inclusão de indicações, informações ou de declarações referentes à operação com base na qual a duplicata foi emitida ou ao próprio título; e 50 Unidade II V – inclusão de informações a respeito de ônus e gravames constituídos sobre as duplicatas (BRASIL, 2018). O § 3º do referido artigo demanda, ainda, que o sistema eletrônico disponha de mecanismos que permitam ao sacador e ao sacado comprovarem, por quaisquer meios idôneos de prova admitidos em direito, a entrega e o recebimento das mercadorias ou prestação de serviços devidos. No art. 6º, é prevista uma forma específica de registro da escrituração eletrônica, quando for depositada nos moldes da Lei n. 12.810/2013, que trata de parcelamento de débitos com a Fazenda Nacional. 6.5 Cédulas de crédito rural Há uma terminologia genérica para esse tipo de título: cédulas creditícias rurais e títulos de crédito rural. Nessa área também temos as cédulas de crédito industrial ou comercial. Para todas essas formas, a letra está ligada ao financiamento da atividade produtiva. Nesse sentido, demanda que a pessoa física ou jurídica emitente deva ser agente dessa atividade econômica, em benefício da concedente do benefício. Para o caso das cédulas de crédito rural, sua circulação está normatizada pelo Decreto‑lei n. 167/1967. No art. 1º da norma, vemos que o financiamento da atividade rural será concedido pelos órgãos integrantes do sistema nacional de crédito rural. Temos também definições muito precisas e detalhadas do que vem a ser a letra cambiária rural. A começar pela definição mais detalhista proposta pelo art. 10: Art. 10. A cédula de crédito rural é título civil, líquido e certo, exigível pela soma dela constante ou do endosso, além dos juros, da comissão de fiscalização, se houver, e demais despesas que o credor fizer para segurança, regularidade e realização de seu direito creditório (BRASIL, 1967a). Consiste também em promessa de pagamento, possuindo algumas modalidades elencadas pelo art. 9º: Art. 9º A cédula de crédito rural é promessa de pagamento em dinheiro, sem ou com garantia real cedularmente constituída, sob as seguintes denominações e modalidades: I – Cédula Rural Pignoratícia. II – Cédula Rural Hipotecária. III – Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária. IV – Nota de Crédito Rural (BRASIL, 1967a). 51 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS Vemos que possui o caráter de fomentar atividades rurais, utilizando‑se de recursos cíveis como a hipoteca. Cumpre esclarecer que penhor e hipoteca são garantais reais (garantias sobre bens) disciplinadas pelo CC/2002. O CC/2002 brasileiro define penhor nos termos do art. 1.431: Art. 1.431. Constitui‑se o penhor pela transferência efetiva da posse que, em garantia do débito ao credor ou a quem o represente, faz o devedor, ou alguém por ele, de uma coisa móvel, suscetível de alienação. Parágrafo único. No penhor rural, industrial, mercantil e de veículos, as coisas empenhadas continuam em poder do devedor, que as deve guardar e conservar (BRASIL, 2002). Quanto à hipoteca, não há uma definição explícita como descrita anteriormente, mas a norma deixa entendido que se trata de uma forma mais complexa de garantia e aplicável sobre bens imóveis e recursos, inclusive sobre outros direitos reais, permitindo alienação do bem dado em garantia. Porém devemos nos ater a uma distinção fundamental entre as duas formas de garantia real, que diz respeito à possibilidade ou não da alienação do bem dado em garantia (art. 1.475, CC/2002). Sobre o penhor, podemos elencar as seguintes elucidações: Art. 15. Podem ser objeto, do penhor cedular, nas condições deste Decreto‑lei, os bens suscetíveis de penhor rural e de penhor mercantil. [...] Art. 17. Os bens apenhados continuam na posse imediata do emitente ou do terceiro prestante da garantia real, que responde por sua guarda e conservação como fiel depositário, seja pessoa física ou jurídica. Cuidando‑se do penhor constituído por terceiro, o emitente da cédula responderá solidariamente com o empenhador pela guarda e conservação dos bens apenhados. Art. 18. Antes da liquidação da cédula, não poderão os bens apenhados ser removidos das propriedades nela mencionadas, sob qualquer pretexto e para onde quer que seja, sem prévio consentimento escrito do credor (BRASIL, 1967a). Os principais dispositivos sobre a hipoteca estão a seguir, in verbis: Art. 21. São abrangidos pela hipoteca constituída as construções, respectivos terrenos, maquinismos, instalações e benfeitorias. 52 Unidade II Art. 22. Incorporam‑se na hipoteca constituída as máquinas, aparelhos, instalações e construções, adquiridos ou executados com o crédito, assim como quaisquer outras benfeitorias acrescidas aos imóveis na vigência da cédula, as quais, uma vez realizadas, não poderão ser retiradas, alteradas ou destruídas, sem o consentimento do credor, por escrito. [...] Art. 23. Podem ser objeto de hipoteca cedular imóveis rurais e urbanos. Art. 24. Aplicam‑se à hipoteca cedular os princípios da legislação ordinária sobre hipoteca no que não colidirem com o presente Decreto‑lei (BRASIL, 1967a). Lembrete A hipoteca permite a alienação do bem dado em garantia. Para a devida aplicação do financiamento, há normas muito específicas sobre prestação de contas e de orçamento da aplicação financeira: Art. 2º O emitente da cédula fica obrigado a aplicar o financiamento nos fins ajustados, devendo comprovar essa aplicação no prazo e na forma exigidos pela instituição financiadora (BRASIL, 1967a, grifo nosso). O Decreto‑lei dispõe, ainda, sobre a hipótese de parcelamento do crédito, incidência de juros edespesas com a fiscalização: Art. 3º A aplicação do financiamento poderá ajustar‑se em orçamento assinado pelo financiado e autenticado pelo financiador dele, devendo constar expressamente qualquer alteração que convencionarem. Parágrafo único. Na hipótese, far‑se‑á, na cédula, menção no orçamento, que a ela ficará vinculado. Art. 4º Quando for concedido financiamento para utilização parcelada, o financiador abrirá com o valor do financiamento contra vinculada à operação, que o financiado movimentará por meio de cheques, saques, recibos, ordens, cartas ou quaisquer outros documentos, na forma e tempo previstos na cédula ou no orçamento. Art. 5º Às importâncias fornecidas pelo financiador vencerão juros as taxas que o Conselho Monetário Nacional fixar e serão exigíveis em 30 de junho e 31 de dezembro ou no vencimento das prestações, se assim acordado entre 53 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS as partes; no vencimento do título e na liquidação, por outra forma que vier a ser determinada por aquele Conselho, podendo o financiador, nas datas previstas, capitalizar tais encargos na conta vinculada a operação. Parágrafo único. Em caso de mora, a taxa de juros constante da cédula será elevável de 1% (um por cento) ao ano. Art. 6º O financiado facultará ao financiador a mais ampla fiscalização da aplicação da quantia financiada, exibindo, inclusive, os elementos que lhe forem exigidos (BRASIL, 1967a). O art. 28 estabelece que o crédito rural tem privilégio especial sobre os bens discriminados no art. 1.563 do Código Civil. Porém, este Código Civil mencionado é o de 1916, não mais vigente. O dispositivo mencionado remete ao art. 759: Art. 759. O credor hipotecário e o pignoratício têm o direito de executar a coisa hipotecada, ou empenhada, e preferir, no pagamento, a outros credores, observada, quanto à hipoteca, a prioridade na inscrição (BRASIL, 1916). Vê‑se, portanto, que estabelecia a prioridade. Então, o art. 1.563 supria a especificação desse privilégio: • bens móveis do devedor, não sujeitos o direito real de outros; • imóveis não hipotecados; • saldo do preço dos bens sujeitos a penhor ou hipoteca, depois de pagos os respectivos credores; • o valor do seguro e da desapropriação. Na vigência do atual CC/2002, temos as seguintes disposições sobre privilégios creditícios: Art. 958. Os títulos legais de preferência são os privilégios e os direitos reais. Art. 959. Conservam seus respectivos direitos os credores, hipotecários ou privilegiados: I – sobre o preço do seguro da coisa gravada com hipoteca ou privilégio, ou sobre a indenização devida, havendo responsável pela perda ou danificação da coisa; II – sobre o valor da indenização, se a coisa obrigada a hipoteca ou privilégio for desapropriada. [...] 54 Unidade II Art. 961. O crédito real prefere ao pessoal de qualquer espécie; o crédito pessoal privilegiado, ao simples; e o privilégio especial, ao geral (BRASIL, 2002). Especial atenção ao último dispositivo, pois estabelece distinções de privilégios, como o pessoal, o simples, o especial e o geral. Privilégio pessoal e real referem‑se à natureza de determinado direito. Os que podem ser novidade seriam o especial e o geral. Para tanto, temos as seguintes disposições: Art. 963. O privilégio especial só compreende os bens sujeitos, por expressa disposição de lei, ao pagamento do crédito que ele favorece; e o geral, todos os bens não sujeitos a crédito real nem a privilégio especial. Art. 964. Têm privilégio especial: I – sobre a coisa arrecadada e liquidada, o credor de custas e despesas judiciais feitas com a arrecadação e liquidação; II – sobre a coisa salvada, o credor por despesas de salvamento; III – sobre a coisa beneficiada, o credor por benfeitorias necessárias ou úteis; IV – sobre os prédios rústicos ou urbanos, fábricas, oficinas, ou quaisquer outras construções, o credor de materiais, dinheiro, ou serviços para a sua edificação, reconstrução ou melhoramento; V – sobre os frutos agrícolas, o credor por sementes, instrumentos e serviços à cultura, ou à colheita; VI – sobre as alfaias e utensílios de uso doméstico, nos prédios rústicos ou urbanos, o credor de aluguéis, quanto às prestações do ano corrente e do anterior; VII – sobre os exemplares da obra existente na massa do editor, o autor dela, ou seus legítimos representantes, pelo crédito fundado contra aquele no contrato da edição; VIII – sobre o produto da colheita, para a qual houver concorrido com o seu trabalho, e precipuamente a quaisquer outros créditos, ainda que reais, o trabalhador agrícola, quanto à dívida dos seus salários. IX – sobre os produtos do abate, o credor por animais. (Incluído pela Lei n. 13.176, de 2015). 55 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS Art. 965. Goza de privilégio geral, na ordem seguinte, sobre os bens do devedor: I – o crédito por despesa de seu funeral, feito segundo a condição do morto e o costume do lugar; II – o crédito por custas judiciais, ou por despesas com a arrecadação e liquidação da massa; III – o crédito por despesas com o luto do cônjuge sobrevivo e dos filhos do devedor falecido, se foram moderadas; IV – o crédito por despesas com a doença de que faleceu o devedor, no semestre anterior à sua morte; V – o crédito pelos gastos necessários à mantença do devedor falecido e sua família, no trimestre anterior ao falecimento; VI – o crédito pelos impostos devidos à Fazenda Pública, no ano corrente e no anterior; VII – o crédito pelos salários dos empregados do serviço doméstico do devedor, nos seus derradeiros seis meses de vida; VIII – os demais créditos de privilégio geral (BRASIL, 2002). Por fim, como as cédulas creditícias rurais são documentos de dívida, poderão ser objeto de protesto pela falta de pagamento. 6.6 Letras de crédito à exportação Esses títulos de créditos são regidos primariamente pela Lei n. 6.313/1975, que possui poucos artigos e remete a matéria ao Decreto‑lei n. 413/1969, que dispõe sobre os títulos de crédito industrial. Podemos, então, perscrutar as remissões da primeira lei: Art. 1º As operações de financiamento à exportação ou à produção de bens para exportação, bem como às atividades de apoio e complementação integrantes e fundamentais da exportação, realizadas por instituições financeiras, poderão ser representadas por Cédula Crédito à Exportação e por Nota de Crédito à Exportação com características idênticas, respectivamente, à Cédula de Crédito Industrial e à Nota de Crédito Industrial, instituídas pelo Decreto‑lei n. 413, de 9 de janeiro de 1969. 56 Unidade II Parágrafo único. A Cédula de Crédito à Exportação e a Nota de Crédito à Exportação poderão ser emitidas por pessoas físicas e jurídicas, que se dediquem a qualquer das atividades referidas neste artigo. [...] Art. 3º Serão aplicáveis à Cédula de Crédito à Exportação, respectivamente, os dispositivos do Decreto‑lei número 413, de 9 de janeiro de 1969, referente à Cédula de Crédito Industrial e à Nota de Crédito Industrial. [...] Art. 5º A Cédula de Crédito à Exportação e a Nota de Crédito à Exportação obedecerão aos modelos anexos ao Decreto‑Lei n. 413, de 9 de janeiro de 1969, respeitada, porém, em cada caso, a respectiva denominação. Art. 6º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário (BRASIL, 1975). Nesse sentido, aplicar‑se‑ão analogamente as principais normas da letra de crédito industrial para as letras destinadas à atividade de exportação. A finalidade da circulação desse título consiste no fomento da atividade de exportação, de maneira direta, como também na cadeia produtiva de bens destinados à exportação. A definição legal da letra cambiária, portanto, serve para ambas as modalidades, ou ao menos como parâmetro: Art. 9º A cédula de crédito industrial e promessa de pagamento em dinheiro, com garantia real, cedularmente constituída. Art. 10. A cédula de crédito industrial é título líquido e certo, exigível pela soma dela constanteou do endosso, além dos juros, da comissão de fiscalização, se houver, e demais despesas que o credor fizer para segurança, regularidade e realização de seu direito creditório. [...] Art. 15. A nota de crédito industrial é promessa de pagamento em dinheiro, sem garantia real (BRASIL, 1975). A cédula poderá ser garantia por intermédio de penhor, alienação fiduciária e hipoteca (art. 19). Devemos observar que as normas mais atuais e gerais, como o próprio CC/2002, devem prevalecer no caso de anacronismo entre o Decreto‑lei e a ordem constitucional vigente. Porém, normas harmônicas e específicas ao caso tornam as normas gerais suplementares. A cédula creditícia valerá contra terceiros somente a partir da data de inscrição. Antes, obrigará apenas os signatários. 57 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS Será inscrita no cartório de registro de imóveis da circunscrição do local de situação dos bens objeto de penhor, alienação fiduciária ou no local onde estiver o imóvel hipotecado (art. 30). Essa inscrição poderá ser cancelada por meio de averbação, em livro próprio, decorrente de prova de quitação da cédula, a ser lançada no próprio título ou passada em documento em separado com força probatória; ou de ordem judicial (art. 39). Por fim, o art. 41 descreve um célere procedimento para a cobrança judicial da cártula, observando‑se, quando cabíveis, as disposições do CC/2002. 6.7 Warrants Acerca desse título em específico, encontraremos uma situação muito singular. Sua utilidade gira em torno do depósito de mercadorias, permitindo gestão de materiais e negociações de produtos em condições mais vantajosas para os agentes econômicos envolvidos. Nesse sentido, utilizando‑se de títulos de garantia para armazenamento de produtos e mercadorias, muitas empresas puderam reduzir custos de estoque próprios. Os armazéns cumprem obrigações legais para sua prestação de serviços, necessitando inclusive de inscrição em junta comercial, conforme Decreto n. 1.102/1903, que dispõe de regras para o estabelecimento de armazéns gerais. Pela natureza de seu serviço, o armazém mantém mercadorias por determinado período e se obriga a restituí‑las. Com o intuito de provar o recebimento das mercadorias, é emitido um recibo com descrições e detalhes dos produtos. O titular das mercadorias poderá optar por títulos especiais, como o conhecimento de depósito e o warrant, também regrados pelo decreto anterior. Tais títulos garantem proteção patrimonial aos bens estocados, não podendo sofrer penhora, sequestro ou outras medidas que afetem titularidade ou propriedade delas. Observação Embora sejam títulos distintos, são funcionalmente emitidos em conjunto, podendo ser separados após o primeiro endosso. O conhecimento de depósito representa as mercadorias depositadas. A transferência do título acarretará, assim, a transferência das mercadorias. O warrant, no entanto, é o instrumento de penhor sobre as mercadorias depositadas. Permite que sejam dadas em garantia. O art. 15 do decreto estipula os requisitos para ambos os títulos: Art. 15. Os armazéns gerais emitirão, quando lhes for pedido pelo depositante, dois títulos unidos, mas separáveis à vontade, denominados “conhecimento de depósito” e “warrant”. 58 Unidade II § 1º Cada um destes títulos deve ser à ordem e conter, além de sua designação particular: 1º a denominação da empresa do armazém geral e sua sede; 2º o nome, profissão e domicílio do depositante ou de terceiro por este indicado; 3º O lugar e o prazo do depósito, facultado aos interessados acordarem, entre si, na transferência posterior das mesmas mercadorias de um para outro armazém da emitente ainda que se encontrem em localidade diversa da em que foi feito o depósito inicial. Em tais casos, far‑se‑ão, nos conhecimentos warrants respectivos, as seguintes anotações: a) local para onde se transferirá a mercadoria em depósito; b) para os fins do art. 26, parágrafo 2º, às despesas decorrentes da transferência, inclusive as de seguro por todos os riscos. 4º A natureza e quantidade das mercadorias em depósito, designadas pelos nomes mais usados no comércio, seu peso, o estado dos envoltórios e todas as marcas e indicações próprias para estabelecerem a sua identidade, ressalvadas as peculiaridades das mercadorias depositada a granel. 5º a qualidade da mercadoria tratando‑se daquelas a que se refere o art. 12; 6º a indicação do segurador da mercadoria e o valor do seguro (art. 16). 7º a declaração dos impostos e direitos fiscais, dos encargos e despesas a que a mercadoria está sujeita, e do dia em que começaram a correr as armazenagens (art. 26, § 2º); 8º a data da emissão dos títulos e assinatura do empresário ou pessoa devidamente habilitada por este. § 2º Os referidos serão extraídos de um livro de talão, o qual conterá todas as declarações acima mencionadas, e número de ordem correspondente. No verso do respectivo talão, o depositante, ou terceiro, por este autorizado, passará recibo dos títulos. Se a empresa, a pedido do depositante, os expedir pelo correio, mencionará esta circunstância e o número e data do certificado do registro postal. Anotar‑se‑ão também no verso do talão as ocorrências que se derem com os títulos dele extraídos, como substituição, restituição, perda, roubo etc. 59 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS § 3º Os armazéns gerais são responsáveis para com terceiros pelas irregularidades e inexatidões encontradas nos títulos que emitirem relativamente à quantidade, natureza e peso da mercadoria. A circulação de ambos se dá por meio do endosso, já que são títulos à ordem. As características do endosso se assemelham às da letra de câmbio. O primeiro endosso do warrant serve para separar os títulos, representando também uma promessa de pagamento – penhor das mercadorias depositadas; os seguintes constituem mera transferência de crédito, para a garantia de pagamento. Tomazette, porém, menciona algumas peculiaridades do endosso referente ao warrant: Feito o primeiro endosso do warrant, os títulos são separados, restando o conhecimento de depósito nas mãos do primeiro endossante do warrant. O titular do conhecimento de depósito também poderá endossá‑lo sozinho. Nesse caso, o endosso do conhecimento de depósito separado do warrant transfere a propriedade das mercadorias, mas uma propriedade gravada com ônus (penhor). A situação do endossatário do conhecimento de depósito é a mesma de qualquer comprador de um imóvel hipotecado, vale dizer, adquire a propriedade da coisa com o ônus de solver a dívida garantida, até o limite do valor do bem adquirido. Em sentido contrário, Vivante afirma que o endosso do conhecimento transfere também a obrigação de pagar o título. A nosso ver, porém, a lei não obriga o endossatário do conhecimento de depósito a pagar pessoalmente a dívida constante do warrant. Contudo, nada impede que as partes convencionem que o endossatário do conhecimento assuma a dívida do warrant e, nesse caso, ele costuma abater do valor pago pelas mercadorias, o valor da dívida. Não havendo convenção nesse sentido, a eventual responsabilidade do titular do conhecimento decorre da propriedade dos bens dados em garantia, não representando uma obrigação pessoalmente assumida de pagar a dívida (2017, p. 461). O portador do warrant tem o direito de receber o crédito, cujo principal devedor é o primeiro endossante do título. Não conseguindo o adimplemento da obrigação, o portador do warrant estará em posse dos direitos reais de garantia sobre as mercadorias depositadas. Não sendo realizado o pagamento do valor constante do warrant, não poderá retirar as mercadorias, pois prejudicaria a garantia assegurada àquele que porta o warrant. Porém, é possível que o portador do conhecimento de depósito, pagando o valor do warrant junto ao armazém, consiga retirar as mercadorias. Pode‑se discutir se ele realizou alguma forma de garantia, mas já é entendido doutrinariamente que se trata de antecipação do valor a ser recebido peloportador do warrant (TOMAZETTE, 2017). 60 Unidade II Quanto ao conhecimento de depósito, o portador poderá retirar as mercadorias caso o warrant tenha sido pago. Caso haja o extravio de alguns dos títulos, deveremos nos basear na seguinte forma de publicação do ocorrido e demais procedimentos a seguir: Art. 27. Aquele que perder o título avisará ao armazém geral e anunciará o fato durante três dias, pelo jornal de maior circulação da sede daquele armazém. § 1º Se se tratar do conhecimento de depósito e correspondente “warrant”, ou só do primeiro, o interessado poderá obter duplicata ou a entrega das mercadorias, garantindo o direito do portador do “warrant”, se este foi negociado, ou do saldo à sua disposição se a mercadoria foi vendida, observando‑se o processo do § 2º, que correrá perante o juiz do comércio em cuja jurisdição se achar o armazém geral. § 2º O interessado requererá a notificação do armazém geral para não entregar sem ordem judicial a mercadoria ou saldo disponível no caso de ser ou de ter sido ela vendida, na conformidade dos arts. 10, § 4º, e 23, § 1º, justificará sumariamente a sua propriedade. O requerimento deve ser instruído com um exemplar do jornal em que for anunciada a perda e com a cópia fiel do talão do título perdido, fornecida pelo armazém geral e por este autenticada. O armazém geral terá ciência do dia e da hora da justificação e para esta, se o “warrant” foi negociado, e ainda não voltou ao armazém geral, será citado o endossatário desse título, cujo nome devia constar do correspondente conhecimento do depósito perdido (art. 19, 2ª parte). O juiz, na sentença que julgar procedente a justificação, mandará publicar editais com 30 dias para reclamações. Estes editais produzirão todas as declarações constantes do talão do título perdido e serão publicados no “Diário Oficial” e no jornal onde o interessado anunciou a referida perda e afixados na porta do armazém e na sala de vendas públicas. Não havendo reclamação, o juiz expedirá mandado conforme o requerido ao armazém geral ou depositário, sendo ordenada a duplicata, dela constará esta circunstância. Se, porém, aparecer reclamação, o juiz marcará o prazo de dez dias para prova, e, findo estes, arrazoando o embargante e o embargado em cinco dias cada um, julgará afinal com apelação sem efeito suspensivo. 61 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS Estes prazos serão improrrogáveis e fatais e correrão em cartório, independente[mente] de lançamento em audiência. § 3º No caso de perda do “warrant”, o interessado que provar a sua propriedade tem o direito de receber a importância do crédito garantido. Observar‑se‑á o mesmo processo do § 2º, com as seguintes modificações: a) Para a justificação sumária, serão citados o primeiro endossador e outros que forem conhecidos. O armazém será avisado do dia e hora da justificação e notificado judicialmente da perda do título. b) O mandado judicial de pagamento será expedido contra o primeiro endossador ou contra quem tiver em consignação ou depósito a importância correspondente à dívida do “warrant”. O referido mandado, se a dívida não está vencida, será apresentado àquele primeiro endossador no dia do vencimento, sendo aplicável a disposição do art. 23 no caso de não pagamento. § 4º Cessa a responsabilidade do armazém geral e do devedor quando, em virtude de ordem judicial, emitir duplicata ou entregar a mercadoria ou saldo em seu poder ou pagar a dívida. O prejudicado terá ação somente contra quem indevidamente dispôs da mercadoria ou embolsou a quantia. § 5º O que fica disposto sobre a perda do título aplica‑se aos casos de roubo, furto, extravio ou destruição. A título de curiosidade, há variações do conhecimento de depósito e do warrant para atividades agropecuárias, conforme Decreto n. 3.855/2001, Lei n. 9.973/2000 e, principalmente, pela Lei n. 11.076/2004. Na forma desta última norma, a definição para o warrant agropecuário consiste em: Art. 1º Ficam instituídos o Certificado de Depósito Agropecuário ‑ CDA e o Warrant Agropecuário – WA. [...] § 2º O WA é título de crédito representativo de promessa de pagamento em dinheiro que confere direito de penhor sobre o CDA correspondente, assim como sobre o produto nele descrito. 62 Unidade II § 3º O CDA e o WA são títulos unidos, emitidos simultaneamente pelo depositário, a pedido do depositante, podendo ser transmitidos unidos ou separadamente, mediante endosso. § 4º O CDA e o WA são títulos executivos extrajudiciais (BRASIL, 2004). 6.8 Debêntures Debêntures se assemelham às ações pela finalidade de captação de recursos para a composição do capital social de uma sociedade, conferindo ao seu titular direito de crédito contra a sociedade. A principal norma disciplinadora desse tipo de título creditício é a Lei n. 6.404/1976, especificadamente pelos arts. 52 a 74. Na forma do art. 54, § 2º, o debenturista poderá optar pelo recebimento do pagamento do principal e acessórios à época do vencimento, amortização ou resgate, sendo em moeda ou bens avaliados na forma do art. 8º. A deliberação sobre emissão das debêntures deverá observar o disposto no art. 59, sendo de competência privativa da assembleia geral: Art. 59. A deliberação sobre emissão de debêntures é da competência privativa da assembleia‑geral, que deverá fixar, observado o que a respeito dispuser o estatuto: I – o valor da emissão ou os critérios de determinação do seu limite, e a sua divisão em séries, se for o caso; II – o número e o valor nominal das debêntures; III – as garantias reais ou a garantia flutuante, se houver; IV – as condições da correção monetária, se houver; V – a conversibilidade ou não em ações e as condições a serem observadas na conversão; VI – a época e as condições de vencimento, amortização ou resgate; VII – a época e as condições do pagamento dos juros, da participação nos lucros e do prêmio de reembolso, se houver; VIII – o modo de subscrição ou colocação, e o tipo das debêntures (BRASIL, 1976). 63 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS A emissão de debêntures deverá atender também especificações constantes do art. 62: Art. 62. Nenhuma emissão de debêntures será feita sem que tenham sido satisfeitos os seguintes requisitos: I – arquivamento, no registro do comércio, e publicação da ata da assembleia‑geral, ou do conselho de administração, que deliberou sobre a emissão; II – inscrição da escritura de emissão no registro do comércio; III – constituição das garantias reais, se for o caso (BRASIL, 1976). É possível, ainda, que as debêntures sejam convertidas em ações, nos moldes constantes na escrituração de sua emissão. Ao debenturista, também é assegurada a reunião em assembleia para deliberar sobre matéria do interesse dos debenturistas: Art. 71. Os titulares de debêntures da mesma emissão ou série podem, a qualquer tempo, reunir‑se em assembleia a fim de deliberar sobre matéria de interesse da comunhão dos debenturistas. § 1º A assembleia de debenturistas pode ser convocada pelo agente fiduciário, pela companhia emissora, por debenturistas que representem 10% (dez por cento), no mínimo, dos títulos em circulação, e pela Comissão de Valores Mobiliários. § 2º Aplica‑se à assembleia de debenturistas, no que couber, o disposto nesta Lei sobre a assembleia‑geral de acionistas. § 3º A assembleia se instalará, em primeira convocação, com a presença de debenturistas que representem metade, no mínimo, das debêntures em circulação, e, em segunda convocação, com qualquer número. § 4º O agente fiduciário deverá comparecer à assembleia e prestar aos debenturistas as informações que lhe forem solicitadas. § 5º A escritura de emissão estabelecerá a maioria necessária, que não será inferior à metade das debêntures em circulação, para aprovar modificação nas condições das debêntures. § 6º Nas deliberações da assembleia, a cada debênture caberá um voto (BRASIL, 1976). 64 Unidade II 7 OUTRAS ESPÉCIES DE TÍTULOS DE CRÉDITO Em outras normas esparsas,encontramos modalidades distintas de título de crédito, inclusive, vinculada a determinadas finalidades. Os títulos já mencionados são os títulos próprios, pois encontram normas gerais e próprias. No sentido contrário, teremos os títulos impróprios, que podem consistir em características de títulos destinadas a outras finalidades na circulação de crédito e comércio, ou também junções dos títulos próprios. Resumindo o conteúdo da doutrina, podemos citar como exemplos de outros títulos de créditos: • conhecimento de depósito; • conhecimento de frete; • cédulas de hipoteca ou imobiliárias; • certificado de depósito bancário; • letras financeiras. Devemos observar que o nome dado como “nota”, “letra” ou “título” são expressões sinônimas. 7.1 Notas de crédito para atividades econômicas Essas letras creditícias referem‑se às atividades rurais, industriais, à exportação e às comerciais em geral. Possuem características uníssonas entre elas, razão que não requer maiores aprofundamentos. Quadro 3 Notas de crédito e suas respectivas normas Atividade correspondente Normas aplicáveis Rural Decreto‑lei n. 167/1967 Industrial Decreto‑lei n. 413/1969 Exportação Lei n. 6.313/1975 Comercial Lei n. 6.840/1980 A Lei n. 6.313/1975 menciona disposições sobre o Decreto‑lei n. 413/1969, aplicável às notas cambiárias industriais, porém alguns desses dispositivos foram revogados pela Lei n. 8.522/1992. Na doutrina de Gomes e Coelho, por exemplo, alguns dos títulos impróprios são classificados em distintas categorias, tais como títulos representativos, títulos de financiamento, títulos de investimento e títulos de crédito eletrônicos. 65 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS 7.2 Títulos públicos Similarmente às empresas, que vão à sociedade buscar recursos para empregar em suas atividades econômicas por meio da emissão de títulos, o Poder Público pode utilizar de recursos similares por meio dos denominados títulos públicos. A Lei n. 4.320/1964, que estatui normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos estados, dos municípios e do Distrito Federal, preconiza que na modalidade de operações de créditos, que constituirão as receitas de capital da União, há a possibilidade de emissão de títulos públicos. Na esfera federal, tais títulos serão emitidos pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central do Brasil. Visando ao esclarecimento do teor comentado, vamos nos ater aos conceitos mais pertinentes trazidos pela norma sobre as modalidades de receitas. Segundo o art. 11, § 1º, as receitas correntes são constituídas pelas receitas tributária, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em despesas correntes. Podemos resumir que são as receitas empregadas na manutenção da atividade estatal e dos serviços públicos ofertados à população. Quanto às receitas de capital, podemos compreendê‑las como as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; também da conversão em bens e direito, em espécie; dos recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a atender as despesas de capital e o superávit do orçamento corrente (BRASIL, 1964, art. 11, § 2º). Simplesmente, podemos entender como o investimento e as operações financeiras destinadas a gerar ganho, tal qual como realizados na seara privada, porém, tendo destinação pública e se submetendo a maiores mandos legais. Em contrapartida, a norma também traz as definições próprias das despesas às quais deverão ser destinados os recursos classificados em receitas correntes e receitas de capital. As despesas correntes são divididas em despesas de custeio e transferências correntes. Já as despesas de capital estarão organizadas em investimentos, inversões financeiras e transferências de capital. Assim, dentro das modalidades de despesas correntes, as despesas de custeio serão as dotações para manutenção de serviços anteriormente criados, inclusive as destinadas ao atendimento de obras de conservação e adaptação de bens imóveis (BRASIL, 1964, art. 12, § 1º). Por transferências correntes, entende‑se como as dotações para despesas que não correspondam a contraprestação direta em bens ou serviços; e para contribuições e subvenções destinadas à manutenção de outras entidades de direito público ou privado (BRASIL, 1964, art. 12, § 2º). Agora, quanto às despesas de capital, os investimentos serão as dotações para planejamento e execução de obras, de aquisição de imóveis necessários, de programas especiais de trabalho, aquisição de instalações, equipamentos e material permanente e constituição ou aumento do capital de empresas que não sejam de caráter comercial ou financeiro (BRASIL, 1964, art. 12, § 4º). 66 Unidade II As inversões financeiras estão esquematizadas em um rol pela própria Lei Geral Orçamentária, divididas como dotações para aquisição de imóveis ou de bens de capital já em utilização (BRASIL, 1964, art. 12, § 5º, inciso I), para aquisição de títulos representativos do capital de empresas ou entidades de qualquer espécie, já constituídas, quando a operação não importe aumento de capital (BRASIL, 1964, art. 12, § 5º, inciso II) e para constituição ou aumento do capital de entidades ou empresas que visem a objetivos comerciais ou financeiros, inclusive operações bancárias ou de seguros (BRASIL, 1964, art. 12, § 5º, inciso III). Por fim, serão denominadas transferências de capital as dotações para investimentos ou inversões financeiras que outras pessoas de direito público ou privado devam realizar, não importando haver contraprestação direta por meio de bens ou serviços – constituindo auxílios ou contribuições – e as dotações destinadas a amortizar a dívida pública (BRASIL, 1964, art. 12, § 6º) Com base em todas essas explicações acerca da Lei Geral Orçamentária, poderemos então concluir que a emissão de títulos públicos corresponderá às operações de crédito. 7.2.1 Títulos públicos emitidos pela União O Poder Público Federal também emite títulos de valores mobiliários, negociáveis, com o intuito de abarcar suas expectativas orçamentárias e empreender seus planos de governo. Iremos exemplificar alguns deles e abordar curiosidades acerca de sua emissão. Regra geral, os títulos emitidos pelo Banco Central do Brasil (BCB ou Bacen) e pelo Tesouro Nacional se sujeitarão à taxa do sistema especial de liquidação e custódia (Selic). A Circular n. 3.587/2012 do Banco Central define em seu art. 1º a Selic como o sistema que se destina à custódia de títulos escriturais emitidos pelo Tesouro Nacional – ao registro e à liquidação de operações com esses títulos. Alguns outros serão negociados e custodiados pela Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos Privados (Cetip), atualmente conhecida por B3. Uma das peculiaridades dos títulos públicos é que são negociados não em bolsas de valores, mas por intermédio do mercado de balcão, por meio de instituições autorizadas. Nesse modelo, são negociados diversos títulos, como: • ações; • debêntures; • bônus, direitos e recibos de subscrição; • quotas de fundo fechados de investimento, de fundos imobiliários e de fundos de investimento em direitos creditórios; • índices de carteira de ações. 67 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS De maneira singular, a Secretaria do Tesouro instituiu o denominado tesouro direto, um modo de fomentar o investidor a adquirir títulos públicos, com operações simplificadas, realizadas diretamente pela internet. Dentre os títulos oferecidos pelo tesouro direto há: • LTN: tesouro prefixado. • NTN‑F: tesouro prefixado com juros semestrais. • LFT: tesouro Selic. • NTNT‑B principal: tesouro IPCA+. • TNT‑B: tesouro IPCA+ com juros semestrais. Aqui vemos um novo índice, o índice de preços ao consumidor (IPCA), mensurado mensalmentepelo IBGE. Observação O Tesouro Direto é um canal simplificado para investimentos, e não uma forma ou gênero de título público. A título de esclarecimento, elencamos a seguir alguns dos principais títulos públicos negociados pelo governo federal: Quadro 4 Títulos públicos Título Sigla Negociação e custódia Letra do Tesouro Nacional LTN Selic Nota do tesouro financeiro NTN Selic Letra financeira do Tesouro LFT Selic Letra do Banco Central LBC Selic Nota do Banco Central NBC Selic Bônus do Banco Central BBC Selic Títulos da dívida agrária TDA Cetip / B3 Certificado da dívida agrária CDP Cetip / B3 Certificado do Tesouro Nacional CTN Cetip / B3 Certificado financeiro do Tesouro CFT Cetip / B3 68 Unidade II 8 ASPECTOS GERAIS DOS TÍTULOS ELETRÔNICOS Diante do dinamismo e modernização da tecnologia, por meio de internet em alta velocidade, digitalização dos processos judiciais e facilidade de acesso a gadgets diversos, tornou‑se óbvio que tais aspectos atingiriam o mercado e a circulação de valores e créditos. Abrão sinaliza a aceitação jurisprudencial da temática pelas cortes superiores do país: O Superior Tribunal de Justiça, Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, aos 18 de fevereiro de 2014, no Agravo Regimental no Agravo em Recurso Especial n. 250.853‑SP oportunizou a viabilidade das duplicatas mercantis virtuais, por meio magnético ou de gravação eletrônica de dados, com amparo na Lei do Protesto, Diploma n. 9.492/97, assinalando‑se assim que essa modalidade representada pelo protesto, baseado no boleto bancário, é válida, desde que acompanhado do aceite ou da entrega de mercadoria (2017, p. 326). Dando seguimento, o autor menciona o seguinte caso: Sinalizou igualmente o Superior Tribunal de Justiça, relatora Ministra Nancy Andrighi, Recurso Especial n. 1.024.691 – PR, datado de 22 de março de 2011, ser perfeitamente possível o processo de duplicata virtual ou eletrônica por intermédio dos boletos de cobrança bancários. Reforça o pensamento da validade e a eficácia dos boletos bancários, devidamente acompanhados dos instrumentos de protestos por indicação e comprovante de entrega da mercadoria ou prestação de serviços (2017, p. 326). Esse julgado possui detalhamentos interessantes, dignos, portanto, de serem mencionados in verbis: EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. DIVERGÊNCIA DEMONSTRADA. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. DUPLICATA VIRTUAL. PROTESTO POR INDICAÇÃO. BOLETO BANCÁRIO ACOMPANHADO DO INSTRUMENTO DE PROTESTO, DAS NOTAS FISCAIS E RESPECTIVOS COMPROVANTES DE ENTREGA DAS MERCADORIAS. EXECUTIVIDADE RECONHECIDA. 1. Os acórdãos confrontados, em face de mesma situação fática, apresentam solução jurídica diversa para a questão da exequibilidade da duplicata virtual, com base em boleto bancário, acompanhado do instrumento de protesto por indicação e das notas fiscais e respectivos comprovantes de entrega de mercadorias, o que enseja o conhecimento dos embargos de divergência. 2. Embora a norma do art. 13, § 1º, da Lei 5.474/68 permita o protesto por indicação nas hipóteses em que houver a retenção da duplicata enviada para aceite, o alcance desse dispositivo deve ser ampliado para harmonizar‑se 69 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS também com o instituto da duplicata virtual, conforme previsão constante dos arts. 8º e 22 da Lei 9.492/97. 3. A indicação a protesto das duplicatas mercantis por meio magnético ou de gravação eletrônica de dados encontra amparo no artigo 8º, parágrafo único, da Lei 9.492/97. O art. 22 do mesmo Diploma Legal, a seu turno, dispensa a transcrição literal do título quando o Tabelião de Protesto mantém em arquivo gravação eletrônica da imagem, cópia reprográfica ou micrográfica do título ou documento da dívida. 4. Quanto à possibilidade de protesto por indicação da duplicata virtual, deve‑se considerar que o que o art. 13, § 1º, da Lei 5.474/68 admite, essencialmente, é o protesto da duplicata com dispensa de sua apresentação física, mediante simples indicação de seus elementos ao cartório de protesto. Daí, é possível chegar‑se à conclusão de que é admissível não somente o protesto por indicação na hipótese de retenção do título pelo devedor, quando encaminhado para aceite, como expressamente previsto no referido artigo, mas também na de duplicata virtual amparada em documento suficiente. 5. Reforça o entendimento acima a norma do § 2º do art. 15 da Lei 5.474/68, que cuida de executividade da duplicata não aceita e não devolvida pelo devedor, isto é, ausente o documento físico, autorizando sua cobrança judicial pelo processo executivo quando esta haja sido protestada mediante indicação do credor, esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e recebimento da mercadoria e o sacado não tenha recusado o aceite pelos motivos constantes dos arts. 7º e 8º da Lei. 6. No caso dos autos, foi efetuado o protesto por indicação, estando o instrumento acompanhado das notas fiscais referentes às mercadorias comercializadas e dos comprovantes de entrega e recebimento das mercadorias devidamente assinados, não havendo manifestação do devedor à vista do documento de cobrança, ficando atendidas, suficientemente, as exigências legais para se reconhecer a executividade das duplicatas protestadas por indicação. 7. O protesto de duplicata virtual por indicação apoiada em apresentação do boleto, das notas fiscais referentes às mercadorias comercializadas e dos comprovantes de entrega e recebimento das mercadorias devidamente assinados não descuida das garantias devidas ao sacado e ao sacador. 8. Embargos de divergência conhecidos e desprovidos. 70 Unidade II (STJ, EREsp n. 1.024.691/PR, Rel. Min. Raul Araújo, j. 22‑8‑2012, DJe, 29‑10‑2012). O CC/2002 sabiamente dispôs a possibilidade da emissão de títulos cambiários por meio computacional: Art. 889. Deve o título de crédito conter a data da emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente. [...] § 3º O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo (BRASIL, 2002, grifo nosso). A questão principal a ser traçada, e despertadora de polêmicas, seria a adequação dos títulos de crédito essencialmente eletrônicos aos princípios, características ou atributos construídos para os títulos de créditos tradicionais. A necessidade dessa discussão se dá em virtude da produção de efeitos, dos expedientes e da responsabilização dos agentes envolvidos na transmissão da cártula. Encontramos dificuldades, por exemplo, em conciliar o princípio da cartularidade com os documentos eletrônicos. Recentemente, foi promulgada a Lei n. 13.775/2018, que dispõe sobre a duplicata na modalidade eletrônica, publicada no Diário Oficial da União em 21 de dezembro de 2018, com vacatio legis de 120 dias após a sua publicação. Nesse sentido, a nova lei especifica: Art. 4º [...] § 3º O sistema eletrônico de escrituração de que trata o caput deste artigo disporá de mecanismos que permitam ao sacador e ao sacado comprovarem, por quaisquer meios de prova admitidos em direito, a entrega e o recebimento das mercadorias ou a prestação do serviço, devendo a apresentação das provas ser efetuada em meio eletrônico. § 4º Os endossantes e avalistas indicados pelo apresentante ou credor como garantidores do cumprimento da obrigação constarão como tal dos extratos de que trata o art. 6º desta Lei (BRASIL, 2018, grifo nosso). 71 PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS A emissão da forma eletrônica de duplicatas se dará por meio de lançamento em sistema eletrônico (art. 3º), substituindo os lançamentos constantes do Livro de Registro de Duplicatas da Lei n. 5.474/1968. Vê‑se, portanto, a sinalização cada vez mais crescente para a regularização e adequação dos meios judiciais e comerciais aos usos dos títulos de natureza eletrônica. Exemplo de aplicação Estamos iniciando
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